quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Confederação do Equador

A Confederação do Equador foi uma reação mais intensa ao fechamento da Assembleia Constituinte, à censura à imprensa, à imposição da Constituição de 1824 e à instituição do Poder Moderador. O movimento ocorreu em Pernambuco e nas províncias vizinhas.

Havia vários motivos para o descontentamento nas províncias. A situação econômica de Pernambuco não se alterara desde 1817. A produção de açúcar continuava em crise, com preços baixos no exterior e impostos internos que os fazendeiros consideravam muito altos. 

Pequenos comerciantes, militares de baixa patente, mestiços, negros livres e escravizados viviam na pobreza. Já a elite da região preocupava-se com a queda nas exportações e com o aumento da cobrança de impostos. Por um momento, esses grupos sociais uniram-se contra as atitudes autoritárias do imperador.

A Carta de 1824, que reduziu ainda mais o poder dos latifundiários do Nordeste no Rio de Janeiro dificultou a defesa dos interesses de fazendeiros e líderes políticos da região. Por isso, as ideias republicanas e federalistas – isto é, de uma república formada por estados mais autônomos em relação ao governo central –, que vinham desde 1817, ganharam força em Pernambuco em 1824.
Nessa época, pessoas influentes como Frei Caneca (1779- -1825) e Cipriano Barata (1762-1838) defendiam a criação de uma república em que as províncias tivessem autonomia. Frei Caneca, que havia participado da Revolução de 1817, voltou a defender ideias republicanas no jornal.
As ideias dos revoltosos eram divulgadas no jornal Typhis Pernambucano, editado por Frei Caneca. A palavra “Typhis” é uma referência mitológica a um piloto de um navio grego.
No jornal pernambucano, Frei Caneca dizia que o navio da pátria estava em perigo e que os pernambucanos precisavam escolher um novo piloto para enfrentar as tempestades.
O frade convoca o povo à luta contra a ordem política imposta pela corte do Rio. Dizia que a Constituição era “contrária à liberdade, independência e direitos do Brasil” e que ela promovia a desunião das províncias, tornando-as “todas dependentes do Governo Executivo” o Poder Moderador, segundo Caneca era “a chave mestra da opressão da nação brasileira”.
No dia 13 de dezembro de 1823, os deputados pernambucanos, cearenses e paraibanos que retornavam da extinta Assembleia Constituinte lançaram em Recife um manifesto contra a atitude do imperador. Os representantes das câmaras municipais de Recife e Olinda já haviam escrito a dom Pedro, condenando o fechamento da Constituinte e ameaçando resistir às ordens do monarca.
O mestiço Pedro Pedroso organizou brigadas populares para combater o governo e os proprietários rurais. Em 1823, à frente das brigadas, ele conseguiu derrubar o governo de Pernambuco e tomar o poder. Houve, porém, forte reação das tropas que apoiavam o governo e Pedro Pedroso foi preso e conduzido ao Rio de Janeiro.
O presidente da província voltou ao governo, mas, diante da reação popular, renunciou no final de 1823. As câmaras municipais pernambucanas elegeram Manuel de Carvalho Pais de Andrade presidente da província. Revolucionário de 1817, Manuel de Carvalho foi recusado pelo imperador, que em 23 de fevereiro de 1824 mandou substituí-lo por Pais Barreto.
Em resposta, as câmaras de Pernambuco escreveram ao imperador, insistindo para que ele aceitasse o presidente que ela haviam escolhido. Enquanto isso, Pais Barreto conseguiu o apoio de dois batalhões e prendeu o presidente provincial eleito. Em seguida, uma tropa formada por civis e militares libertou Manuel de Carvalho e reconduziu-o ao governo pernambucano.

Revolta e repressão

A revolta começou quando dom Pedro I contrariou políticos locais e nomeou um novo presidente para Pernambuco. Em resposta, as câmaras de Pernambuco escreveram ao imperador, insistindo para que ele aceitasse o presidente que ela haviam escolhido. Enquanto isso, Pais Barreto conseguiu o apoio de dois batalhões e prendeu o presidente provincial eleito. Em seguida, uma tropa formada por civis e militares libertou Manuel de Carvalho e reconduziu-o ao governo pernambucano.
Liderados por Manuel Pais de Andrade, antigo presidente da província e revolucionário em 1817, os revoltosos pretendiam formar uma república federalista, respeitando a autonomia de cada província. De Pernambuco, a revolta expandiu-se para Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí e Alagoas.
Alguns líderes da Confederação do Equador defendiam o fim do tráfico negreiro e a igualdade entre os cidadãos. No entanto, essas propostas provocaram medo nos proprietários de terras, que, temendo uma revolta popular, retiraram o apoio ao movimento. Com isso, os revoltosos não conseguiram enfrentar as forças do governo imperial.
No final de março de 1824, dois navios de guerra chegaram a Recife para forçar a posse do presidente provincial indicado por dom Pedro I. Pais Barreto, não conseguindo assumir o controle da província , concentrou-se com seus aliados em Barra Grande, em Pernambuco.
Uma ameaça de invasão de tropas estrangeiras levou os navios militares de volta ao Rio de Janeiro em 11 de junho. A Câmara Municipal de Olinda já havia recusado formalmente a constituição imposta pelo imperador.
Livre dos navios de guerra, Manuel de Carvalho levou ao extremo a oposição das lideranças pernambucanas ao governo imperial. No dia 2 de julho de 1824, ele proclamou a Confederação do Equador, numa tentativa de separar a província do recém-formado Império do Brasil.
A Confederação durou pouco, mas o suficiente para sabermos que se pretendia organizar um país republicano e federalista composto por províncias do Nordeste. Não foi difícil conseguir a adesão dessas províncias, pois havia forças políticas na região que se sentiam igualmente prejudicadas pela política do imperador.
Manoel de Carvalho convocou para 17 de agosto de 1824 a Assembleia Constituinte da Confederação do Equador. Carvalho vivera nos Estados Unidos em 1817, quando fora exilado. Apesar de o modelo político norte-americano exercer forte influência sobre sua concepção de governo, ele estabeleceu um projeto de Constituição inspirado na carta magna a Colômbia.
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí aderiram à confederação. Uma pequena esquadra foi enviada a Barra Grande para impedir que Pais Barreto reagisse.
A ajuda do governo imperial veio logo e forçou a retirada dos barcos confederados. Além disso, os fazendeiros que participavam do movimento não gostaram da ideia defendida por Manoel de Carvalho de extinguir o tráfico de escravo no porto de Recife. Descontentes, os proprietários passaram a apoiar as milícias imperiais e as tropas organizadas pelos latifundiários liderados por País Barreto.
Outro fator que desuniu a Confederação foram as revoltas populares. Para enfrentar os ataques do governo imperial, os confederados precisavam de soldados, que obviamente vinham do povo. Desde 1821, havia em Pernambuco batalhões compostos por homens livres – negros, mulatos, militares inferiores, brancos pobres – que combatiam não somente os portugueses, como também os latifundiários da província.
Em fevereiro de 1823, esses batalhões chegaram a sair pelas ruas de Recife chamando a população a repetir o que os negros haviam feito no Haiti. Quando aderiram ao movimento dos confederados, esperavam acabar com a diferenciação racial e com os privilégios que faziam dos fazendeiros os únicos donos do poder e da riqueza.
Os fazendeiros pernambucanos temiam que revoltas desse tipo se repetisse e que os líderes confederados perdessem o controle sobre o povo. O próprio Manoel de Carvalho já não podia controlar as brigadas populares e acabou abandonando a guerra. A derrota da última força da confederação desanimou frei Caneca e alguns membros separatistas que haviam escapado de Recife para unir-se às tropas do Ceará. Presos numa fazenda, foram levados à capital pernambucana, onde foram julgados por um tribunal militar.
Recife foi finalmente retomada pelas tropas imperiais em 17 de setembro de 1824. Carvalho conseguiu escapar abrigando-se no navio inglês Tweed e fugindo para a Inglaterra.
A resistência dos confederados prosseguiu no Ceará até novembro, quando o presidente da província, Tristão de Alencar Araripe, morreu num combate em Santa Rosa. O comandante das armas cearenses, José Pereira Filgueiras, foi preso.
Atacados por terra e mar, os rebeldes foram derrotados. Diversos líderes foram presos e condenados à morte (como Frei Caneca) e outros fugiram (como Pais de Andrade). Como parte da repressão à Confederação do Equador, a província de Pernambuco foi desmembrada: toda a área a oeste do Rio São Francisco foi anexada à Bahia.


REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA (1817)

Em 1817, uma nova revolta aconteceu, dessa vez em Pernambuco. O movimento foi chamado de Insurreição ou Revolução Pernambucana.

Essa revolução teve várias motivações, como o aumento dos impostos para sustentar a corte portuguesa no Rio de Janeiro, os prejuízos à agricultura e a fome causados pela seca, a queda no preço do açúcar e do algodão (importantes mercadorias pernambucanas) e a concorrência de produtos das Antilhas e dos Estados Unidos.

O movimento pernambucano contou com a participação de setores da elite econômica e das camadas populares, incluindo negros, mestiços e brancos pobres. A presença popular inquietava os líderes da revolta. Apesar das divergências de interesses, todos concordavam em proclamar uma república na região.

O mau desempenho da indústria açucareira no início do século XIX mergulha Pernambuco em um período de instabilidade. Distantes do centro do poder, a presença da corte no Brasil traduz-se apenas em aumento de impostos e faz crescer a insatisfação popular contra os portugueses. Em 1817 estoura uma revolta: de um lado, proprietários rurais, clero e comerciantes brasileiros, de outro, militares e comerciantes portugueses vinculados ao grande comércio de importação e exportação.

Com a vinda de Dom João em 1808, o Brasil passou por profundas modificações. Por isso, na época da Revolução Pernambucana a situação do Brasil era bem diferente da que vivia o país, quando eclodiram os movimentos revolucionários anteriores a esse.

Os principais fatores da Revolução de 1817 em Pernambuco foram:
- a independência das colônias espanholas da América do Sul;
- a independência dos Estados Unidos;
- as ideias de liberdade que vinham se propagando desde o século anterior em todo o Brasil;
- a ação das sociedades secretas, que pretendiam a libertação da colônia;
- o desenvolvimento da cultura em Pernambuco, por influência do Seminário de Olinda.

Governo revolucionário

A insurreição eclodiu quando um comerciante português denunciou os planos do movimento ao governador de Pernambuco, que acabou por enviar forças militares para reprimir os envolvidos, mas os revoltosos venceram e, em seguida, prenderam o governador.
Os revoltosos tomaram o poder em Pernambuco e o movimento expandiu-se para o Ceará, a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Em Recife, foi formado um governo provisório que extinguiu impostos e elaborou uma Constituição que garantia liberdade religiosa e de imprensa. Contudo, a escravidão foi mantida. Para não contrariar os senhores de engenho, os revoltosos diziam que a escravidão seria abolida de modo lento e gradual.
Os rebeldes organizam o primeiro governo brasileiro independente, baseado na representação de classes, e proclamam a República. Enviam emissários aos Estados Unidos, Inglaterra e região platina para pedir o reconhecimento do novo governo. Procuram articular o movimento na Bahia, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba, mas recebem adesões apenas nesta última.

A questão da escravidão

O governo revolucionário compromete-se a garantir os direitos individuais, as liberdades de imprensa, culto e opinião, mas divide-se na questão da escravidão. Comerciantes, como Domingos José Martins, defendem a abolição. Os representantes do setor agrícola, como Francisco de Paula, se opõem, temendo a repetição dos massacres de brancos ocorridos no Haiti. A divergência impede a participação dos combatentes negros e de suas lideranças, como o capitão mulato Pedro Pedroso. Divididos e isolados do resto da colônia, os revoltosos não resistem por muito tempo.
O governo revolucionário pernambucano durou pouco mais de dois meses. O governo de dom João VI mandou tropas, armas e navios para combater a Revolução Pernambucana. Portos foram bloqueados e navios pernambucanos, confiscados. Após governarem por 75 dias, os revoltosos se renderam em maio de 1817 e seus líderes foram condenados à morte.
Alguns historiadores avaliam que a Revolução Pernambucana foi o único movimento anterior à independência do Brasil que ultrapassou a fase de conspiração.

Relações Internacionais no Segundo Reinado

Durante o segundo reinado, o Brasil mantém sua dependência econômica em relação à Inglaterra. Os dois países enfrentam vários conflitos diplomáticos e têm interesses divergentes na questão da escravidão, mas a política externa brasileira é de alinhamento praticamente automático com a dos ingleses. São eles que financiam as guerras em que o país se envolve no período – contra o Uruguai, a Argentina e o Paraguai.
Os industriais norte-americanos cobiçam participar do mercado brasileiro, mas não conseguem quebrar a hegemonia inglesa. Sem poder competir abertamente, passam a atuar contra os interesses ingleses. Fazem, inclusive, a intermediação do tráfico negreiro, atividade que tem a participação dos embaixadores dos Estados Unidos no Brasil.
O Brasil, após a emancipação política, caminhara no sentido de erguer um Estado soberano, capaz de fazer parte do "conjunto de nações civilizadas" do qual a Inglaterra e a França eram exemplos significativos. Em meados do século XIX, com a Monarquia já consolidada e com um Executivo forte, responsável pela garantia da ordem política e social, o Estado brasileiro sentia-se diferente dos demais Estados da América Latina, que após a emancipação haviam se transformado em Repúblicas.
D. Pedro II investirá na construção desta imagem "civilizada" do país no exterior. É com esta intenção que, desde 1862, o Brasil participa das exposições universais realizadas em cidades como Londres, Paris, Viena, Amsterdã entre outras. O Imperador chegava a cuidar pessoalmente do que seria exibido como o "melhor" do país, nestas ocasiões. Este esforço tinha o objetivo de veicular a ideia de um Brasil moderno e cosmopolita, em substituição à imagem de ser um país "distante, agrícola e apoiado na força do trabalho escravo." Assim, o Império, entendia-se "civilizado", em contraste com os demais Estados americanos que, por terem adotado a República, revelavam a "barbárie", "a anarquia", o "caudilhismo".

Os "Negócios do Prata"

As diferenças políticas do Império com seus vizinhos na América Latina haviam gerado desentendimentos anteriores ao governo pessoal de D. Pedro II. Durante os governos regenciais, em 1837, ocorrera um incidente com o Presidente do Uruguai, Manuel Oribe. Este, invocando o Tratado de Santo Ildefonso (1777), pretendia aumentar o território uruguaio. A questão, tratada no campo diplomático, foi contornada.
Os chamados "negócios do Prata" ocupariam, durante o Governo de D. Pedro II, as atenções da diplomacia do Brasil, constituindo-se, inclusive, no principal objetivo da política internacional do Império. Inúmeros ministros, como o Visconde de Sepetiba (Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho), o Marquês do Paraná (Honório Hermeto Carneiro Leão) e o Visconde do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos), utilizando muitas vezes as "sutilezas diplomáticas", no dizer do historiador J. A. Soares de Souza, buscavam o entendimento entre os envolvidos. O Prata foi uma "escola política" para grande parte da elite do Império. Entretanto, atuar naquele campo não era uma tarefa fácil. As negociações esbarravam ora nas intervenções inglesas, ora nas questões comerciais dos Estados com interesses específicos etc, de modo que as crises se sucediam gerando um constante clima de tensão nas fronteiras meridionais. Até a metade do século XIX as intervenções do Império, na região do Prata, tinham ocorrido apenas no âmbito diplomático.

Ações Militares na Região do Prata no Século XIX

A partir de 1851 as ações na região do Prata passaram a ser militares. Em maio de 1851 Oribe tomou o poder no Uruguai com o apoio de Juan Manuel Rosas, governador da Província de Buenos Aires que, depois de violenta guerra civil, conseguira submeter as outras províncias à hegemonia de Buenos Aires. Rosas ambicionava reconstituir o antigo Vice-Reinado do Prata, que uniria a República das Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina) ao Uruguai e ao Paraguai. A política de Rosas visava o controle do estuário platino, o que incluía o porto de Montevidéu, que fora bloqueado. Este cerco prejudicava o acesso a Mato Grosso e às outras províncias do sul do Império.
Por outro lado sabia-se que os Governos da França e da Inglaterra não aprovavam que esta fronteira estratégica, ampla e importante econômica e politicamente, ficasse sob o controle de um único país.
O Ministro Pedro de Araújo Lima, Marquês de Olinda, insistia em continuar negociando com Rosas, em nome do Brasil. O impasse diplomático determinou uma crise ministerial com a substituição de Araújo Lima pelo Ministro da Justiça, Eusébio de Queirós.
Com a fronteira do Rio Grande do Sul ameaçada, as tropas do Brasil, comandadas por Luís Alves de Lima e Silva - o futuro Duque de Caxias - e com o apoio das forças contrárias a Oribe e a Rosas, entraram em confronto, em 1851, com Rosas.
O equilíbrio da região do Prata, mesmo após a capitulação de Rosas, em fevereiro de 1852, prosseguiria precário. Desde 1863 uma guerra civil dividia o Uruguai entre os adeptos do Partido Colorado, do General Venâncio Flores, e os do Partido Blanco, chefiados por Atanásio Aguirre que, então, ocupava a presidência do país. Flores contava com o apoio dos Governos do Brasil e da Argentina, que temiam a política nacionalista dos blancos. Por outro lado, Aguirre chegara ao poder com o apoio de Solano López, Presidente do Paraguai, aproximação que teria, inclusive, favorecido a união da Argentina com o Brasil no apoio ao colorado Flores.
O Governo do Brasil, atendendo aos interesses dos estancieiros gaúchos, fez inúmeros reclamações contra as violações de fronteiras que ocorriam, não sendo atendido por Aguirre. Com a ruptura das negociações, em 21 de julho de 1864, D. Pedro II deu ordem ao Conselheiro José Antônio Saraiva que enviasse um ultimato ao presidente uruguaio. As relações diplomáticas foram rompidas e a guerra foi declarada.
As forças brasileiras, comandadas pelo General João Manuel Mena Barreto e pelo Almirante Tamandaré (Joaquim Marques Lisboa), cercaram Montevidéu, derrotando as tropas de Aguirre em fevereiro de 1865.
No governo de Venâncio Flores, que assumiu após o término do conflito, as questões diplomáticas com o Império do Brasil foram solucionadas, sendo assinado um tratado de paz. Isto, entretanto, não colocaria um ponto final nos atritos com países platinos. Outro conflito explodiria com um novo inimigo, gerando a desastrosa Guerra do Paraguai que, apesar da vitória final, traria mais efeitos negativos que positivos para a monarquia no Brasil.

A Guerra do Paraguai

Nos anos 60 do século XIX uma nova crise na região do Prata se transformaria no em longo e sangrento conflito conhecido como a Guerra do Paraguai. Este episódio durante algum tempo, foi entendido pelo lado brasileiro como uma luta realizada contra o ditador Solano López e seus planos expansionistas. Mais adiante, na década de 1960, segundo a versão de historiadores como o argentino León Pomer, a razão da guerra seria relacionada aos interesses ingleses, que viam com desagrado a crescente autonomia paraguaia. Assim, havia uma emergente necessidade, por parte do Governo inglês, de desarticular o Paraguai, mantendo o controle econômico sobre a América Latina.
Recentemente a historiografia passou a concentrar-se mais atentamente na situação de cada país envolvido no conflito, bem com nas relações que mantinham entre si sem, entretanto, negar a significativa influência do capitalismo inglês, naquela época, na América Latina. De acordo com esta linha historiográfica, formara-se uma zona de disputas e discórdias em torno dos rios Paraguai e Uruguai que remonta à época das Américas portuguesa e espanhola. As tensões prosseguiram com outros contornos no decorrer do tempo. Com o término da dominação espanhola, no início do século XIX, surgiram na região do vice-reinado do Prata, após muitas lutas, o Uruguai, o Paraguai, a Bolívia e a Argentina.
Neste período coexistiram na Argentina correntes políticas divergentes. Uma delas era composta pelos comerciantes de Buenos Aires, que defendiam um Estado centralizado e unitário, pois, pelo porto de Buenos Aires, controlariam o comércio exterior e, conseqüentemente, as rendas dos tributos sobre as importações. A outra corrente era federalista, sendo composta pelos grandes proprietários rurais, pequenos industriais e um grupo de comerciantes mais voltados para o mercado interno. Defendiam, através do Estado descentralizado, que suas rendas não fossem submetidas aos tributos estabelecidos pela burguesia comercial de Buenos Aires.
O Uruguai, por sua vez, nascera em 1828, após conflitos que envolveram o Brasil, em uma área onde os ingleses tinham diversos interesses financeiros e comerciais. Disputando o poder político uruguaio formaram-se duas facções: os blancos, grupo composto por proprietários rurais, e os colorados, ligados aos comerciantes, simpatizantes das idéias liberais.
Quanto à Província do Paraguai, desde 1810, recusava-se a submeter-se à burguesia formada pelos comerciantes do porto de Buenos Aires. Sua independência seria definida quando da designação para a Presidência de Carlos Antonio López, em 1842. Aos poucos o Paraguai procurava crescer vinculando-se ao mercado externo. Buscando romper o isolamento do país, Carlos Antonio López instalou linhas telegráficas, construiu estradas de ferro, modernizou a esquadra, estabeleceu fábricas de tecidos, papel, tinta e pólvora. Por volta de 1862, seu filho Francisco Solano López ascendeu ao poder, procurando novas alternativas para prosseguir no desenvolvimento do Paraguai.
O Governo imperial do Brasil via com preocupação alguns aspectos deste quadro político traçado por seus vizinhos da América Latina. Temia, por exemplo, que a Argentina, transformada em uma República forte, fosse capaz de causar problemas junto à "inquieta" Província do Rio Grande do Sul. Por outro lado, quanto ao Uruguai, a preocupação relacionava-se às medidas de repressão ao contrabando na fronteira, já que muitos gaúchos, criadores de gado, tinham interesses econômicos naquele país. O Governo do Brasil chegou, inclusive, a promover acordos secretos com os colorados com os quais tinha interesses comuns. Comentava-se que alguns "acertos" teriam sido intermediados por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, proprietário de um banco no Uruguai.
Com o Paraguai, o Brasil volta e meia via-se envolvido em atritos e desentendimentos. Algumas divergências relacionavam-se às questões de fronteira e à vontade do Brasil em garantir o acesso a Mato Grosso pelo Rio Paraguai. Uma viagem, por terra, do Rio de Janeiro até Mato Grosso demorava, em média, quatro meses e meio. Já a ligação fluvial cobria o percurso em menos tempo.
No início da década de 60 do século XIX, uma sucessão de fatos definiria algumas posições e acirraria antigas rivalidades. Em 1863 o Governo imperial, após inúmeros incidentes que envolveram a atuação do embaixador inglês e a ação da Marinha inglesa fundeada no Rio de Janeiro que apreendera embarcações brasileiras, rompeu relações diplomáticas com a Inglaterra. Isto distanciou a posição brasileira dos interesses ingleses gerando um clima de "exaltação patriótica", no dizer de Bóris Fausto. Na Argentina reunificada, Bartolomeu Mitre era eleito Presidente. A política assumida pelo novo governante argentino que agradou ao Gabinete do Brasil, conduzido neste momento pelos liberais, incluía a aproximação com os colorados uruguaios e, também, a defesa da livre navegação nos rios da bacia do Prata. Solano López, por sua vez, aliou-se aos blancos, então no poder no Uruguai, e aos adversários de Mitre na Argentina.
Segundo a historiadora Lilia Moritz Schwarcz (...) "o cenário da guerra estava montado e só faltava o estopim" que surge em setembro de 1864 quando uma esquadra comandada pelo Almirante Tamandaré é enviada ao Uruguai, onde os blancos estavam no poder, para averiguar supostas violências praticadas contra brasileiros que lá moravam.

A Invasão do Uruguai e o Início da Guerra do Paraguai

Entre ultimatos e pedidos de punição ocorreu uma temporária invasão do Uruguai. É provável que López tenha entendido esta ação militar brasileira como sinal de expansionismo em marcha que, logo alcançaria o Paraguai. Em 10 de novembro, por ordem das autoridades paraguaias, mesmo antes do rompimento diplomático com o Brasil, foi aprisionado o navio do Império Marquês de Olinda, que subia o Rio Paraguai na direção de Mato Grosso. O conflito logo se deflagrou. A 23 de dezembro de 1864 as tropas paraguaias lançaram, com sucesso, uma ofensiva contra Mato Grosso. Em abril de 1865, mesmo sem consentimento, as forças de López avançam pelo território argentino visando atacar o Rio Grande do Sul e o Uruguai. Comentava-se que Solano López talvez imaginasse que a vitória obtida no ataque a Mato Grosso levaria o Brasil a acertar um acordo com o Paraguai que, contando com o apoio dos blancos uruguaios e das províncias argentinas opositoras a Mitre, se transformaria, então, em uma força importante no jogo político do continente. Entretanto os fatos seguintes não realizariam o desejo de López: o suporte argentino, tão esperado, não se concretizou, e no Uruguai o poder fora ocupado pelo colorado Venâncio Flores com o auxílio do Brasil.
No dia 1º de maio de 1865 era assinado o Tratado secreto da Tríplice Aliança pelos governos da Argentina, do Brasil e do Uruguai, sendo o comando das forças aliadas entregue ao Presidente argentino Mitre. Constava no Tratado a determinação, entre outros itens, de que a paz só seria negociada após a deposição de López. O Paraguai também era sentenciado, por ter sido a nação agressora, a pagar os altos custos decorrentes do conflito. Os aliados, considerando a vantagem numérica militar em relação ao inimigo, tinham como expectativa que o conflito não se alongaria muito. O próprio Imperador, transformado no "senhor da guerra", no dizer da historiadora Lília Moritz Schwarcz, escreveria do cenário do conflito, para onde se deslocara sem ouvir objeções do seu Gabinete, em 7 de julho de 1865: "A guerra vai bem e espero que pouco durará." Esta postura se opunha à imagem de um monarca civil avesso "à mais rudimentar experiência da guerra", e geraria inúmeros comentários. Dizia-se que D. Pedro II assumira a condição de "voluntário número um" até porque, nas imagens oficiais daquela época, aparecia sempre vestido para combate. O otimismo quanto à duração do conflito alcançava o plano econômico, pois os aliados contabilizavam lucros obtidos no comércio exterior, além do fato de a guerra envolver grandes negócios, que incluíam armas, víveres etc.
O Exército imperial constituíra-se inicialmente apenas com o efetivo oriundo das milícias da Guarda Nacional de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Mais adiante utilizaria o recrutamento. Este, no primeiro ano, quando a guerra era vista como uma "cruzada patriótica", era realizado voluntariamente. O Major Cristiano Pletz, considerado herói da Guerra do Paraguai, registrou em suas Memórias:

(...) "O Governo do Império, dispondo senão de uns 10 ou 12 mil homens do Exército, convidou o povo brasileiro a se apresentar voluntariamente para defesa da Pátria (...)

(...) Na vérpera da partida (...) jovens e senhoritas (...) jogavam flores. - Alegre... triste baile de despedida (...).

(...) Seguimos (...) para o quartel do Campo de Santana (...) achava-se em organização o 2º Batalhão de Voluntários sob o comando do Tenente-Coronel Manuel Deodoro da Fonsecsa (...)."

Logo o recrutamento tornou-se compulsório. A imprensa na Corte publicava nota no Opinião Liberal, a 13 de dezembro de 1867: "Foi resolvido em Conselho de Ministros a desapropriação de 30.000 escravos para formarem um novo exército libertador do Paraguai. (...) Com tal exército, espera o governo salvar a honra do país e desagravá-lo das ofensas recebidas."Tal forma de recrutamento envolvia diretamente a propriedade servil. Apesar de bem pagas, estas desapropriações traziam inconvenientes pois era difícil, muitas vezes quase impossível, substituir a mão - de - obra. Por outro lado, bem mais grave para a estrutura econômica do Império era o que o historiador Nelson Werneck Sodré considerava "estímulo implícito que o processo conferia à extinção do escravismo", e que ficaria visível e evidente após o encerramento do conflito.

A Ação de Caxias na Guerra do Paraguai

A euforia geral dos aliados (Argentina, Brasil e Uruguai) quanto às possibilidades de um rápido conflito entraria em choque direto com a resistência das forças inimigas. López organizara o Paraguai, militarizando-o fortemente, ao contrário do que se supunha. De todos os lados as imagens da guerra eram de privações, de milhares de mortes em combate ou por doenças, como a epidemia de cólera que dizimou os combatentes em Mato Grosso. O Império, na continuidade do conflito, perdia os aliados, ficando praticamente sozinho. Nestas condições, aquela guerra, que começara como um grande ato de patriotismo, se via cercada de cada vez maior impopularidade. Alguns órgãos da imprensa, mesmo no início do embate, criticaram a participação do Brasil. Em São Paulo, a folha ilustrada O Diabo Coxo, publicada por Ângelo Agostini, oferecia na edição de 27 de agosto de 1865: "Ao venturoso mortal que descobrir a predileção e notar o entusiasmo popular pela atual guerra do Brasil contra o Paraguai: um par de olhos de lince."
No Exército brasileiro, internamente, surgiam as discórdias. Em outubro de 1866, o Partido Conservador, na oposição, responsabilizava o Partido Liberal, no poder, pelos rumos incertos tomados pelo conflito. É neste contexto que o General Luís Alves de Lima e Silva, que também era Senador pelo Partido Conservador, assume, muito prestigiado, o comando das tropas do Império. Na frente de batalha no Paraguai a situação do Exército era complexa. A tropa estava desanimada contando com um efetivo insuficiente e despreparado. Rareava a apresentação de voluntários, o que fez com que se intensificasse o recrutamento obrigatório. Críticas ferozes se avolumavam na imprensa, que chegou a classificar a guerra como "açougue do Paraguai." A maioria recrutada era negra. Segundo a historiadora Lília Moritz Schwarcz, esta mudança na coloração do Exército fez com que os jornais paraguaios passassem a, ironicamente, chamar os soldados brasileiros de "los macaquitos", apelido que depois se estendeu aos Generais, ao Imperador e à Imperatriz. Esta denominação pejorativa talvez explique o motivo que levou D. Pedro II a mover uma perseguição implacável a Solano López.
Lima e Silva, futuro duque de Caxias, depois de um longo período de preparação e reorganização do Exército, reiniciou as manobras militares. Entre as inúmeras batalhas destacou-se a ofensiva à fortaleza de Humaitá, no Paraguai, que capitulou em agosto de 1868. Ao se iniciar 1869 as tropas do Império entraram em Assunção sem encontrar resistência. Caxias deu a guerra por encerrada, embora não tivesse conseguido capturar ou matar López. Apesar de não ser o desejo do Imperador, retirou-se do comando. Retornando à Corte, não foi recebido com festejos. Entretanto, conferiu-lhe D. Pedro II - certamente enfatizando a importância, naquele momento de tanta oposição, daqueles que lideravam a Guerra do Paraguai - o Grão-Colar da Ordem de D. Pedro I, honraria que ninguém havia ainda recebido, e o mais alto grau nobiliárquico do Império: o título de duque, aliás, o único que existiu no Brasil. D. Pedro II entendia (...) "ser preciso o quanto antes livrar o Paraguai da presença de López" e distanciar sua imagem internacional dos caudilhos sul-americanos.

Os Momentos finais da Guerra do Paraguai

O Imperador entregou o comando ao Conde d'Eu, que passou a chefiar as tropas a partir de 22 de março de 1869. O novo comandante, casado com Isabel - princesa - herdeira do trono brasileiro -, não tinha problemas nem com o Partido Conservador nem com o Partido Liberal, até porque a "guerra já se tornara apartidária", segundo Lília Moritz Schwarcz. Esta mesma historiadora considera que o Conde transforma-se numa espécie de capitão do mato atrás de López, chefiando um exército mestiçado de cerca de 26 mil homens cansados e desmotivados. Mesmo assim, sucessivos confrontos sangrentos resultam em muitas baixas e prisões de adolescentes e crianças que se haviam transformado em soldados paraguaios. A desolação, em meio a saques e matança, expressava-se neste verso popular:

Revoltas no Segundo Reinado

A reação conservadora que ocorre na primeira década do reinado de dom Pedro II estimula o surgimento de movimentos de oposição liberal. Conflitos explodem em vários pontos do país. Alguns evoluem para lutas armadas, como a Revolução Liberal, em São Paulo, e a Rebelião Praieira, em Pernambuco. No final do Império, crescem os levantes de caráter popular urbano, as rebeliões e fugas de escravos e o movimento republicano.

· Revolução liberal

Em São Paulo, a oposição à legislação conservadora do governo central evolui para uma rebelião armada. A revolução liberal, como fica conhecida, eclode na capital em 17 de maio de 1842. É liderada por Rafael Tobias de Aguiar, aclamado presidente da Província. Os rebeldes conseguem o apoio do padre Diogo Feijó e da população de algumas vilas, entre elas Itapetininga, Itu, Porto Feliz e Capivari. Tentam avançar sobre a capital e são derrotados pelo Exército, sob o comando de Luís Alves de Lima e Silva, o barão de Caxias. Padre Feijó é preso em Sorocaba, em 21 de junho, mas Tobias de Aguiar consegue escapar. Os liberais mineiros também rebelam-se. No final de julho, Caxias chega a Minas e vence os liberais num violento combate travado em Santa Luzia, dia 20 de agosto. Os principais chefes são presos e, em março de 1844, anistiados pelo imperador.

· Rebelião praieira

As lutas de caráter político, nascidas no período regencial, começariam a se esgotar com o fim da Farroupilha em 1845. Entretanto este ciclo de movimentos provinciais só seria encerrado quando a Revolta Praieira foi sufocada.
A partir de 1840 dois partidos políticos revezam-se no poder: liberais e conservadores. Vitoriosos nas eleições do ano de 1841, os liberais voltaram ao Governo. Entretanto, permaneceram por pouco tempo. Foram sucedidos pelos conservadores que mantiveram-se no poder de 1841 a 1844. Após novas eleições os liberais retornaram formando, novamente, o Ministério. Tomaram várias medidas entre elas: adoção do protecionismo alfandegário por meio da Tarifa Alves Branco (1844); reforma para elevar o censo eleitoral diminuindo o número de eleitores (1846); criação do cargo de presidente do Conselho de Ministros (1847). Esta última facilitaria a prática parlamentarista, contribuindo para o poder do Ministério e, conseqüentemente, da autoridade do Governo do Estado imperial.
Em 1848, a saída dos liberais do Governo provocaria a eclosão da Praieira na Província de Pernambuco. Aquele ano foi agitado por uma série de fatos ocorridos na Europa que influenciaram os acontecimentos no Brasil. A Revolução de Fevereiro na França, trouxera perspectivas de uma vida melhor, vista como a "primavera dos povos". O político e jornalista José Tomás Nabuco de Araújo registrara que "a proclamação da república na França havia agitado o nosso mundo político em suas profundezas". Este ano marcante assinalara o encontro de idéias liberais com as ideias socialistas - de autores franceses como Proudhon, Fourier e do inglês Owen.
Em 1848, a Rebelião Praieira é deflagrada sob o comando do capitão de artilharia Pedro Ivo Veloso da Silveira. Começa em Olinda e espalha-se rapidamente por toda a Zona da Mata pernambucana. Em janeiro de 1849, os praieiros lançam o Manifesto ao Mundo, síntese de seu programa revolucionário: voto livre e universal, plena liberdade de imprensa, trabalho como garantia de vida para o cidadão brasileiro, efetiva independência dos poderes constituídos e a extinção do poder moderador. Conseguem a adesão da população urbana pobre, de pequenos arrendatários, boiadeiros, mascates e negros libertos. Chegam a congregar cerca de 2 mil combatentes. A luta prolonga-se por mais de um ano. São derrotados em março de 1852.
Para os historiadores, com a derrota da Rebelião Praieira desaparecem os últimos resquícios do liberalismo radical e democrático surgido durante o processo de independência. Seu fim facilita a política de conciliação entre liberais e conservadores, característica do segundo reinado.

Levantes populares

Os últimos anos do Império são sacudidos por vários levantes das populações urbanas pobres. A carestia de vida é o principal motivo dessas revoltas. Também multiplicam-se pelo país manifestações populares e comícios em favor da abolição da escravatura, e da República.

· Quebra-Quilos

O Brasil adere oficialmente ao Sistema Métrico em 1862, mas, em todo o país, permanecem em uso os sistemas tradicionais de medidas. Em 1874 a tentativa de adotar os padrões do sistema métrico provoca uma revolta popular violenta na Paraíba, conhecida como Quebra-Quilos. Para as autoridades da época, o movimento é insuflado pelo clero, em briga com o governo. A rebelião é contida, vários revoltosos são presos, inclusive padres.

· Revolta do Vintém

Em 1880, a população pobre do Rio de Janeiro se rebela contra o aumento das passagens dos bondes, ainda puxados por burros e trens. A chamada Revolta do Vintém explode dia 1º de janeiro. A polícia tenta contê-la e os manifestantes respondem quebrando bondes, arrancando trilhos e virando os veículos. A revolta só pára com a intervenção do Exército, que abre fogo contra a multidão e mata várias pessoas.

Decadência do Império no Brasil

 As transformações socioeconômicas da segunda metade do século XIX apressam o fim da monarquia. Federalistas, abolicionistas e positivistas se opõem ao excesso de centralização de poder e convergem para a solução republicana. O desgaste aumenta quando o imperador perde o apoio da Igreja e do Exército. A adesão da família real à abolição mina as relações com os fazendeiros.

Questão religiosa

No final do Império, um incidente de pouca relevância acaba tomando uma dimensão inesperada: o padre Almeida Martins é suspenso pelo bispo do Rio de Janeiro por ter participado de uma solenidade maçônica. Na época, católicos e maçons convivem sem problema na cena política brasileira. Contrariando essa tradição, os bispos de Olinda, Gonçalves de Oliveira, e do Pará, Macedo Costa, proíbem a participação de maçons em confrarias e irmandades católicas. Dom Pedro II interfere e manda suspender a medida. Os bispos mantêm suas posições e, em 1874, são presos e condenados a trabalhos forçados. Recebem a solidariedade dos demais bispos e do Vaticano. Mais tarde são anistiados, mas a Igreja não perdoa dom Pedro e retira-lhe o apoio.

Oposição republicana

Ideias republicanas aparecem no Brasil desde o período colonial. Estão presentes em movimentos como a Inconfidência Mineira, de 1789, ou na Revolução Pernambucana, de 1817. Após a independência, ressurgem na Confederação do Equador, de 1824, na Guerra dos Farrapos, de 1835 a 1845, e nos vários levantes liberais e populares. Voltam à cena nos anos 60, bancadas principalmente por setores do Partido Liberal.

Manifesto republicano

Em dezembro de 1870 surge no Rio de Janeiro o jornal A República, que publica o Manifesto Republicano, texto de referência para os republicanos brasileiros. Defende o federalismo em oposição ao unitarismo do Império, prega o fim da união Estado-Igreja e do Senado vitalício. Essas idéias ganham força em Províncias importantes, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, onde são formados partidos republicanos regionais, uma novidade frente aos partidos até então constituídos, de caráter nacional.

Fundação do PRP

João Tibiriçá Piratininga e José Vasconcelos de Almeida Prado, ricos fazendeiros da região de Itu, em São Paulo, e adeptos do liberal-republicanismo, dão início ao processo de organização do Partido Republicano Paulista. Convocam a Convenção de Itu, em 18 de abril de 1873, com 133 convencionais – 78 fazendeiros, 12 negociantes, 10 advogados, 8 médicos e 25 de outras profissões – e fundam o PRP, em 1º de julho, num congresso de delegados eleitos em 29 municípios. Dominado pelos grandes cafeicultores do oeste paulista, o PRP não se define sobre a abolição da escravatura até 1887.

Oposição nas cidades

A oposição ao regime se estende aos industriais de São Paulo e do Rio de Janeiro e às classes médias urbanas. Os industriais querem reduzir as importações, reivindicação que não tem acolhida no Parlamento, dominado pela aristocracia agrária. As camadas médias urbanas reivindicam maior representação social. Exigem o fim do sistema eleitoral indireto e censitário que, nas eleições de 1876, permite que apenas 0,25 da população tenha direito ao voto.

Reforma eleitoral

Parte das reivindicações da população urbana é atendida pela Lei Saraiva, elaborada por Rui Barbosa em 9 de janeiro de 1881, que reforma a legislação eleitoral. Estabelece as eleições diretas, a elegibilidade para os não-católicos e escravos libertos. Mas mantém a exigência de renda anual superior a 200 mil-réis para a qualificação dos eleitores.

Aristocracia agrária dividida

Os republicanos se beneficiam das divergências profundas dentro da aristocracia agrária. Os representantes da lavoura açucareira e da cafeicultura tradicional do vale do Paraíba são maioria no Parlamento, mas já não têm poder econômico para garantir seu domínio político. Os representantes do progressista oeste paulista organizados no PRP são minoria, mas detêm o poder econômico. Com ideais liberais e republicanos tornam-se líderes das camadas urbanas que começam a rejeitar o Império.

Clubes e imprensa republicana

O crescimento do movimento republicano é rápido. Em 1889 existem 273 clubes e 77 publicações republicanas espalhados por todo o país. Entre elas, destacam-se os jornais: A República, no Rio de Janeiro; A Federação, no Rio Grande do Sul, A Província de S. Paulo, atual O Estado de S. Paulo, e O Radical Paulistano, na capital paulista.

Históricos e revolucionários

Os republicanos históricos, ou evolucionistas, são liderados pelo político e jornalista Quintino Bocaiúva. Contam com o apoio de um setor da aristocracia agrária do oeste paulista e esperam alcançar a República através de várias reformas paulatinas. Os revolucionários, ligados às camadas médias urbanas, são liderados pelo também jornalista Antônio da Silva Jardim. Admitem lançar mão da luta armada para derrubar o Império.

Oposição militar

Desde a Guerra do Paraguai as relações dos militares com o poder civil não são boas. O Exército transforma-se numa instituição organizada e coesa. O contato com os Exércitos da Argentina e do Uruguai, países republicanos, e a adesão de muitos oficiais à doutrina positivista, os leva a lutar pela República.

Positivismo no Exército

Depois da Guerra do Paraguai, o positivismo, doutrina elaborada pelo filósofo francês Augusto Comte (1798-1857), encontra forte eco no Exército. Segundo o positivismo, o desenvolvimento da humanidade ocorre em três estágios: o estágio teológico ou fictício; o estágio metafísico ou abstrato e o terceiro, o estágio científico ou positivo. Para atingir o estágio positivo, as sociedades modernas deveriam se organizar em bases científicas e conciliar a ordem e o progresso, mesmo que para isso fosse preciso usar a violência, como na Revolução Francesa. Os militares brasileiros identificam o estágio positivo com os ideais republicanos. Vários oficiais sentem-se encarregados de uma "missão salvadora": organizar uma espécie de "ditadura republicana", único caminho para corrigir os vícios da organização política e social do país.

Ordem e progresso

O lema "ordem e progresso" da atual bandeira brasileira expressa os ideais positivistas elaborados por Augusto Comte: "Nenhuma ordem legítima poderá daqui em diante estabelecer-se e, principalmente, durar, se não for plenamente compatível com o progresso. Nenhum grande progresso poderá se realizar eficazmente se não tender em última análise para a evidente consolidação da ordem".

Questão militar

Em 1875 o Parlamento aprova o Regulamento Disciplinar do Exército, que proíbe os militares de manifestar publicamente suas divergências e posições políticas. Em 1884, a punição do capitão Antônio de Sena Madureira por apoiar publicamente o fim da escravatura detona o enfrentamento entre os militares e o governo. Uma segunda punição pelo mesmo motivo ao oficial Ernesto Augusto da Cunha Matos agrava a crise. Manifestações políticas de militares eclodem por todo o país, apesar das tentativas do governo de sufocá-las. Em fevereiro de 1887, mais de 200 oficiais se reúnem no Rio de Janeiro com o marechal Deodoro da Fonseca, herói da Guerra do Paraguai e figura de grande prestígio, para exigir o fim das punições. O governo cede, mas não consegue apaziguar os militares.

Crise final

O próprio governo colabora para a adesão do marechal Deodoro à conspiração ao nomear o visconde de Ouro Preto para organizar um novo gabinete, em junho de 1889. Ouro Preto propõe algumas reformas liberais: democratização do voto, diminuição dos poderes do Conselho de Estado, implantação do federalismo com maior autonomia para as Províncias e medidas de estímulo ao desenvolvimento econômico. Mas também tenta restaurar a disciplina no Exército e reorganizar a Guarda Nacional – medidas entendidas como interferência pelos militares. Deodoro adere primeiro à conspiração para derrubar Ouro Preto. No início de novembro de 1889, ele e o almirante Eduardo Wandenkolk também aderem ao movimento republicano e à conspiração contra o Império, já em curso.

Atentado

Em 15 de julho de 1889 dom Pedro II sofre um atentado na saída do Teatro Santana. Ouve-se um grito de "Viva a República" e um tiro é disparado quando o monarca e a imperatriz já estão em sua carruagem. O autor do atentado, Adriano do Vale, um português de 20 anos, não tem qualquer ligação com os republicanos ou com os militares que combatem o governo. Dom Pedro II não dá importância ao fato e perdoa o agressor.

Proclamação da República

O golpe militar para derrubar o governo é preparado para 20 de novembro. O governo organiza-se para combater o movimento. Temendo uma possível repressão, os rebeldes antecipam a data para o dia 15. Com algumas tropas sob sua liderança, Deodoro cerca o edifício, consegue a adesão de Floriano Peixoto, chefe da guarnição que defende o ministério, e prende todo o gabinete. Dom Pedro II, que se encontra em Petrópolis, tenta contornar a situação: nomeia um novo ministro, Gaspar Martins, velho inimigo do marechal Deodoro. A escolha acirra ainda mais os ânimos dos militares. Na tarde do dia 15, a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, em sessão presidida por José do Patrocínio, declara o fim da monarquia e proclama a República. Dois dias depois a família real embarca para Portugal, em sigilo.

Cultura no Segundo Reinado

Na segunda metade do século XIX, as manifestações culturais mantêm as influências europeias, principalmente a francesa, mas cresce a presença de temas nacionais.

O imaginário de nação

No século XIX, o governo e uma geração de intelectuais ajudaram a construir a identidade e o imaginário nacional. Historiadores, escritores, pintores, militares, músicos, professores, médicos e sacerdotes participaram dessa construção nacionalista. Para consolidar o Brasil como uma nação, era necessário que os brasileiros se reconhecessem como membros de uma sociedade unida por laços culturais.

No plano artístico, a construção do imaginário nacional se expressou, sobretudo, pelo Romantismo. Esse movimento envolveu a literatura, a música, a pintura, a escultura etc.

Entre as características do Romantismo, podemos destacar:

• nacionalismo – valorização das culturas populares e eruditas do país, das belas paisagens geográficas, da história e de seus heróis;

• liberdade de expressão – valorização da originalidade dos artistas, da imaginação criativa, da personalidade individual, dos sonhos e dos ideais.

Na literatura, os autores ligados ao Romantismo exaltavam, entre outros aspectos, a natureza exuberante e os indígenas como símbolos da nação. Apesar de serem exaltados nas artes, os povos originários continuaram excluídos da sociedade nacional no século XIX. Além disso, a imagem romântica idealizada sobre eles ajudou a consolidar preconceitos e estereótipos que repercutem até os dias atuais.

Literatura

O romantismo é marcante na literatura até o final do século XIX, quando cede lugar para o realismo. A prosa de ficção romântica se alterna entre o nacionalismo indigenista e o relato de costumes tipicamente brasileiros. José de Alencar representa bem essas duas tendências, com destaque para Lucíola, Iracema e O guarani. Na poesia, o maior expoente é Gonçalves Dias, autor de I-Juca Pirama e Os timbiras. Surgem também os poetas estudantes, com uma produção marcada pelo pessimismo e pelo sentimentalismo extremo, como Álvares de Azevedo em A noite da taverna e Macário. No realismo, a descrição objetiva da realidade e das ações dos personagens substitui a visão romântica. Aluísio Azevedo é um dos mais completos autores do período, com suas obras O mulato, Casa de pensão e O cortiço. A estética antirromântica se expressa na poesia pelo parnasianismo, com ênfase no formalismo da métrica, do ritmo e da rima. Seu maior representante é Olavo Bilac.

Artistas românticos

No século XIX, entre os autores românticos brasileiros, destacaram-se escritores e poetas como o maranhense Gonçalves Dias, o paulista Álvares de Azevedo, o baiano Castro Alves e o cearense José de Alencar. Este último escreveu três romances importantes com temáticas indianistas: O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874). Os três romances retratam os povos originários como heróis e representantes da identidade nacional brasileira.
Os romances de José de Alencar serviram de inspiração para músicos como o compositor Carlos Gomes, autor da ópera O Guarani, que estreou no Rio de Janeiro em 2 de dezembro de 1870, em homenagem ao aniversário do imperador. Uma obra de José de Alencar também inspirou a pintura Iracema (1881), de José Maria de Medeiros, que retrata a protagonista do romance como uma mulher indígena bela e serena.

Crítica social

O maior representante da crítica social na literatura é Machado de Assis. Seus romances Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memórias póstumas de Brás Cubas, ou os contos, como O alienista, refletem de maneira sutil, irônica e mordaz as transformações sociais e a crise de valores dos últimos tempos do Império. Junto com outros intelectuais, Machado de Assis funda a Academia Brasileira de Letras, em 1876, da qual é o primeiro presidente. Na poesia, destaca-se Castro Alves, que, por sua dedicação à causa abolicionista, é um dos primeiros representantes da arte engajada no Brasil.

Teatro e música

O ator João Caetano funda no Rio de Janeiro a primeira companhia nacional de teatro. Em suas performances, procura substituir o estilo rígido da apresentação clássica por uma nova naturalidade e liberdade de interpretação. A música popular também se diversifica no período. Surgem o samba e a marcha, tocados por grupos de "chorões", conjuntos compostos por flauta, violão e cavaquinho, presença indispensável nos saraus das populações urbanas de baixa renda.

Artes plásticas

Nas artes plásticas, os românticos brasileiros buscavam inspiração no trabalho dos europeus e produziam obras com temas nacionais, como a natureza, os indígenas e os fatos históricos do país. Entre os pintores, destacaram-se o catarinense Victor Meirelles, o paraibano Pedro Américo, o carioca Estêvão Roberto da Silva e o italiano, mas que vivia no Brasil, Eliseu Visconti.
Victor Meirelles foi um artista protegido pelo imperador dom Pedro II. Ele se destacou, por exemplo, pela obra A primeira missa do Brasil (1860). Esse quadro representa o nascimento do país como um momento de união e de fé.
Estêvão Roberto da Silva era negro, livre e filho de pais africanos. Na década de 1880, ele passou a trabalhar como professor no Rio de Janeiro, atuando no Liceu de Artes e Ofícios da Academia Imperial. Mas sua obra ainda é pouco conhecida pela maioria dos brasileiros.

Cultura popular

O Romantismo brasileiro exaltava os valores da cultura popular, mas os distorcia em função dos ideais românticos. Ao longo do século XIX, a cultura popular continuou vibrante nas festas, na produção de alimentos, no artesanato, nas danças, nas trovas poéticas e nos lundus, choros e maxixes. Ela marcou profundamente a identidade do país, mas ficava à margem dos salões frequentados pelas elites, que se consideravam “a boa sociedade”.
A capoeira é um exemplo de manifestação da cultura popular que envolve brincadeira, dança e luta. Foi desenvolvida há mais de 200 anos por pessoas de origem africana, escravizados e libertos, em cidades como Salvador, Recife e Rio de Janeiro.
No século XIX, o governo considerava as rodas de capoeira uma ameaça à ordem pública e os capoeiristas eram tratados como desordeiros. No entanto, para muitos escravizados e libertos, a capoeira era uma forma de superar as dificuldades do dia a dia.
Por meio dessa prática, eles criavam laços de solidariedade e enfrentavam as violências do regime escravista. Durante o império e no início da república, essa manifestação cultural sofreu repressão das autoridades, até ser enquadrada como crime em 1890. Porém, a capoeira resistiu e foi reconhecida como esporte a partir de 1930.
A capoeira tornou-se um dos símbolos da identidade brasileira e atualmente conta com aproximadamente 10 milhões de praticantes em vários países do mundo. Desde 2014, ela é considerada patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Economia no Segundo Reinado

A partir da metade do século XIX, a economia brasileira entra num período de prosperidade e diversificação de atividades. O café torna-se a base da economia do país e a indústria começa a se desenvolver. Outros produtos agrícolas também ganham destaque na pauta de exportações brasileiras.

Diversificação agrícola

O cacau, produzido na Bahia, a borracha, explorada na bacia do rio Amazonas, e o algodão, cultivado em larga escala no Maranhão, Pernambuco e Ceará, passam a ser produtos expressivos na economia brasileira. Em 1860 o algodão chega a ser o segundo produto de exportação nacional. A expansão de sua cultura, nesse período, é conseqüência da Guerra de Secessão norte-americana (1861-1865), que desorganiza a produção algodoeira dos Estados Unidos. A pecuária, embora voltada para o mercado interno, é a mais importante atividade econômica na região centro-sul. Também é responsável pela efetiva ocupação e povoamento do chamado Triângulo Mineiro e sul do Mato Grosso.

Economia cafeeira

Seguindo os caminhos percorridos anteriormente pela cana-de-açúcar, o café atinge o oeste paulista (de Campinas a Ribeirão Preto) em meados do século XIX. Nessa região de terra roxa, desenvolve-se de maneira extraordinária, superando em pouco tempo a produção das áreas tradicionais do vale do Paraíba. Na década de 1860, o porto de Santos torna-se o primeiro centro portuário de exportação do país. As fazendas do Vale do Paraíba, primeiro centro cafeeiro da região Sudeste, não têm mais do que 50 mil pés de café. As do oeste paulista, por sua vez, chegam aos 600 mil ou 800 mil cafeeiros. Nos últimos anos do século XIX, tornam-se empresas modernas e mecanizadas – utilizam equipamentos aperfeiçoados, como ventiladores, despolpadores e separadores de grãos. Em conseqüência, surgem várias tarefas especializadas em seu interior, aumenta a divisão do trabalho e a produtividade.

A Expansão Cafeeira para o Oeste Paulista

A extinção do tráfico negreiro coincidiria com a alta do preço do café junto aos mercados externos. Deficitário durante o período que vai de 1840 a 1844, o comércio deste produto ganharia outro impulso a partir de 1845.
Em torno de 1850, no Vale do Paraíba, a economia cafeeira encontrara um destino lucrativo. Em trajetória ascendente, o café alcançara o auge. Sobressaíam-se as cidades de Cantagalo e Vassouras, esta considerada a capital do café na parte fluminense do Vale. Na região paulista destacavam-se Areias e Bananal, e na chamada Zona da Mata Mineira, Cataguases, Juiz de Fora, Leopoldina, Carangola e Muriaé.
Entretanto, a economia cafeeira da região do Vale do Paraíba - controlada pelos históricos "barões do café" e que chegara a deter 78% da produção nacional - entra em declínio a partir das duas décadas finais do século XIX. Terras esgotadas, erodidas, a escassez de mão-de-obra escrava, a dificuldade na incorporação de novas áreas, entre outras razões, explicam tal declínio. Se por um lado isto ocorria naquela região, por outro o café entrava em expansão em uma nova área chamada de Oeste Paulista. Localizada no interior de São Paulo, abrangia a área de Campinas a Rio Claro, São Carlos, Araraquara, Catanduva. Alcançava, também, a região de Campinas para Piraçununga, Casa Branca e Ribeirão Preto, onde os fazendeiros substituíam as lavouras de cana-de-açúcar, em queda de preço, pelo café em expressiva ascensão.

O Oeste Paulista

Inúmeros fatores proporcionaram o crescimento acentuado do setor cafeeiro no Oeste Paulista. Existia grande disponibilidade de terras pouco exploradas, especialmente na região do Rio Paraná, na divisa com Mato Grosso. Esta região de planalto possuía um terreno com inclinações suaves, adequado à prática agrícola. Além do clima temperado favorável, ali se encontrava a terra roxa, de alta produtividade. O nome da terra foi dado pelos imigrantes italianos, que chamavam de "rossa" (vermelha), em sua língua natal, daí roxa. A existência de excedente de capital, oriundo dos negócios da exportação do açúcar e do algodão, também contribuiu muito para o crescimento do Novo Oeste, já que o investimento cafeeiro inicial foi realizado, em grande parte, sem empréstimos. Deste capital também vieram as máquinas de beneficiamento, como o despolpador, que promoveu uma verdadeira revolução na técnica de descascamento dos grãos.
Em 1868 surgiria a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, empresa financiada com capitais dos fazendeiros do Novo Oeste. A construção das linhas férreas vinculava-se ao êxito da empresa cafeeira, já que o porto do Rio de Janeiro, que escoava a produção, era distante. Assim, surgiram várias estradas de ferro, como a que ligava Campinas a Jundiaí, obra da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (a "Paulista"), sem qualquer financiamento do Estado imperial ou de empresas estrangeiras. Sertão adentro, acompanhando o café, iam sendo criadas cada vez mais ferrovias como a Sorocabana (1871), a Mogiana e a Ituana (1872).
Outras condições externas vieram facilitar o crescimento da região do Novo Oeste Paulista. Uma praga destruiu os extensos cafezais do Ceilão, então possessão inglesa. Os Estados Unidos da América, por sua vez, suprimiram as taxas de importação do café. Isto ocorrera porque, após a Independência (1776), os americanos substituíram o chá, importado da Inglaterra, pelo café. Como o Haiti, principal fornecedor, estava em guerra para libertar-se do domínio espanhol, os americanos passaram a comprar café do Brasil.

Os Fazendeiros do Oeste Paulista

Politicamente, a situação configurava-se com os fazendeiros do Oeste paulista fazendo escolhas diversas das que haviam feito os fazendeiros do Vale do Paraíba. A área cafeeira do Vale, que precedeu a do Oeste Paulista, assentava-se no sistema escravista. Quando ocorreu a extinção do tráfico aqueles fazendeiros, que davam sustentação ao Estado imperial, foram dele se afastando gradualmente. Esta separação se completaria com a Abolição, em 1888. Quanto aos fazendeiros do Novo Oeste paulista, após as opções políticas e econômicas que fizeram, especialmente aprovando a Lei dos Sexagenários, caminharam pelo apoio ao movimento republicano e o abandono do trabalho escravo.
Este grupo de proprietários, em função dos aspectos físicos e sociais que o cercavam, era federalista, pois entendia que a centralização política imperial entrava em choque com os seus interesses. O federalismo permitia a descentralização político-administrativa, pela qual cada Província daria rumo às suas questões. Estes paulistas eram mais federalistas que republicanos, mas, de qualquer forma, preferiam ser federalistas na República.
Por outro lado, perceberam que como a alternativa do escravo desaparecia, era preciso dar uma solução para o problema. A utilização do imigrante respondia à questão, apesar de até o início de 1880 não ter sido suficiente, em números, a entrada de trabalhadores de que a produção cafeeira necessitava. Isto explicava porque a mão-de-obra escrava, até a Abolição, permaneceu sendo utilizada nas fazendas do Novo Oeste paulista. Em 1887, segundo dados citados pelo historiador Bóris Fausto, São Paulo contava com 107.329 escravos, apenas superado pelo Rio de Janeiro (162.421) e Minas Gerais (191.952).
As transformações naquela região paulista aconteceram, aos poucos, nas últimas décadas do século XIX. A acumulação de excedentes, oriunda da produção cafeeira, com o tempo entrelaçara-se a outras atividades, como, por exemplo, comércio, bancos e ferrovias. Esta diversificação da economia acarretou a formação de núcleos urbanos no interior, entre os quais: Jaú (1858), Ribeirão Preto (1870), Barretos (1874), São José do Rio Preto (1879) e Bauru (1880). Estas cidades tornaram-se centros de produção industrial e de consumo consolidados a partir de 1880, ano que marca o início da "grande imigração".

Indústria e serviços

As atividades industriais, pouco significativas nos primeiros decênios do século XIX, começam a crescer junto com a economia cafeeira, na segunda metade do século XIX. Enquanto de 1841 a 1845 apenas uma patente industrial é expedida, entre 1851 e 1855 esse número sobe para 40. Na década seguinte, são fundadas 62 empresas industriais; 14 bancos; 3 caixas econômicas; 20 companhias de navegação a vapor; 23 companhias de seguro; 4 companhias de colonização; 3 de transportes urbanos; 2 companhias de gás e construídas 8 estradas de ferro. Surgem grandes empreendedores no país, como Irineu Evangelista de Souza, o visconde de Mauá.

Impulso à industrialização

Em 1844 é criada a tarifa Alves Branco, que aumenta as taxas aduaneiras sobre 3 mil artigos manufaturados importados. Seu objetivo é melhorar a balança comercial brasileira, mas acaba impulsionando a substituição de importações e a instalação de inúmeras fábricas no país. Com o fim do tráfico negreiro, os capitais empregados no comércio de escravos também impulsionam a industrialização.
Em 1874 as estatísticas registram a existência de 175 fábricas no país. Dez anos depois, elas já são mais de 600. Concentram-se em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul e empregam mais de 20 mil operários. O capital vem geralmente do setor agrário: vários fazendeiros diversificam seus negócios e transformam-se em capitães de indústria.

Instalação de indústrias

A instalação de indústrias no Brasil foi estimulada por uma série de condições. Entre elas, destacam-se:
• os investimentos feitos pelos produtores de café;
• a Tarifa Alves Branco (1844), que aumentava o preço dos produtos importados, levando os consumidores a procurar mercadorias nacionais.
Na década de 1880, o país contava com 600 indústrias, concentradas no sudeste, onde trabalhavam quase 55 mil operários nos setores têxtil, alimentício, metalúrgico, de móveis e de vestuário. No entanto, as atividades econômicas mais importantes no país ainda eram aquelas ligadas à agricultura de exportação.
Em áreas como a Amazônia e o nordeste e em províncias como Mato Grosso e Goiás, a agricultura, o extrativismo vegetal e a criação de gado eram as principais atividades econômicas.

Os "Melhoramentos Materiais" e O Barão de Mauá

Nos anos 50 do século XIX a interação de diversos fatores resultará em uma fase de melhoramentos materiais no Império do Brasil.
Nesta época crescera a popularidade do Imperador D. Pedro II em meio às medidas que tentavam mudar a fisionomia do país. Por onde passava, o Imperador era cercado de forma calorosa - em clara demonstração de "visibilidade da realeza", conforme afirma a historiadora Lília Moritz Schwarcz -, reinando em um país que, então, caminhava para o que se considerava modernidade.
A extinção do tráfico negreiro, seguida, no mesmo ano de 1850, pela promulgação da Lei de Terras, a centralização da Guarda Nacional e a aprovação do primeiro Código Comercial viabilizaram algumas mudanças importantes.
O Código Comercial, que definia e regulamentava os tipos de companhias que poderiam se instalar no Brasil, e a Lei de Terras tinham como ponto de referência a extinção do tráfico. Esta traria como conseqüência uma grande quantidade de recursos, antes utilizados na comercialização da mão-de-obra escrava africana. Quase que da noite para o dia, abriram-se outras oportunidades de negócios lucrativos.
Neste período, como efeito da Tarifa Alves Branco, de 1844, os produtos importados tiveram um aumento nas suas taxas. Assim, a arrecadação imperial, obtida sobre os produtos vindos do exterior, cresceu significativamente. Também, com o encarecimento das importações, produtos como velas, sabão e tecidos começaram a ser produzidos no Império.
Investiu-se muito na estrutura do país. Bancos, caixas econômicas, companhias de seguro, empresas industriais, companhias de colonização foram se instalando, especialmente na Corte e em algumas cidades mais desenvolvidas. A "boa sociedade" vivenciou admirada as mudanças que iam ocorrendo.
Irineu Evangelista de Souza

Nesse contexto de profundas transformações, possibilitadas especialmente pelo uso da energia a vapor, projetou-se Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, responsável por promover mudanças que causaram forte impacto no Brasil.

Na Inglaterra, em 1840, aos 27 anos, o futuro Barão de Mauá teve os primeiros contatos com as grandes mudanças técnicas que ocorriam na Europa. Isto incluía estabelecimentos de fundição de ferro, fábricas e grandes lojas.
Voltando ao Brasil, desejando colocar em prática o que havia visto, utilizou, como financiamento, recursos que antes eram usados na compra de escravos. Por outro lado, Irineu Evangelista acreditava que a formação de sociedades por ações poderia acelerar o desenvolvimento econômico do Brasil. Assim, buscando novas fontes de recursos, associou-se a capitalistas ingleses.
Reunindo condições favoráveis, montou fundição de ferro e bronze, serralherias, estaleiros, companhias de bonde e de iluminação, introduziu o telégrafo submarino (fazendo contato com a Europa), criou o Banco Mauá McGregor &Cia. (com filiais na Inglaterra, França, Estados Unidos da América, Argentina e Uruguai) e ferrovias.
A alta nos preços do café no mercado internacional, a partir de 1845, proporcionaria um aumento nas vendas em torno de 23%, entre 1850 e 1851. A construção de ferrovias tornou-se uma necessidade para conduzir, até os portos principais do Império, as mercadorias de exportação. Em Pernambuco, visando escoar a safra do açúcar, surgiram empresas inglesas como a Recife-São Francisco, cuja construção iniciou-se em 1855. Também no Centro-Sul, Mauá fez investimentos em estradas de ferro, sendo responsável pelos 14 quilômetros de uma linha entre o porto de Mauá, na Baía de Guanabara, e a estação de Fragoso, na raiz da serra da Estrela (Petrópolis). Pretendia ir mais além, unindo o Rio de Janeiro ao Vale do Paraíba e depois a Minas, em um projeto que interligava os transportes marítimo, ferroviário e rodoviário que, entretanto, não se concretizou. A década de 50 ficou conhecida, por tudo isso, como a "era da estrada de ferro", empreendimento que simbolizava naquele contexto, segundo Lilia Moritz Schwarcz, "o avanço e o progresso das nações".
Das empresas de Mauá, como a de fundição, saíam desde canos de ferro, pregos, sinos, até navios e produtos diversos. Por outro lado, as mudanças que se processaram na chamada "era Mauá", como a iluminação a gás, o sistema de esgotos, além da construção de ferrovias, retiraram os escravos das tarefas antes realizadas por eles nas cidades, onde perderam a "utilidade". Os melhoramentos materiais promovidos por Irineu Evangelista de Souza poupavam a mão-de-obra, que agora fazia-se mais necessária e cara na lavoura, após a extinção do tráfico negreiro.

A Crise nas Empresas Mauá

Nos anos 60 do século XIX as empresas Mauá começaram a viver uma fase crítica, acrescida da pressão estrangeira que nem sempre via com simpatia a atuação do Barão.
O Governo imperial, por outro lado, coagido pelos inúmeros empréstimos contraídos junto ao Governo inglês, aprovou a Tarifa Silva Ferraz que reduziu as taxas de importação sobre máquinas, ferramentas e ferragens. Isto, é claro, foi um golpe para a Fundição Mauá. Muitos comentavam que a aliança com os ingleses sobrevivera enquanto os empreendimentos de Mauá se limitaram a serviços urbanos, transportes e comunicações. Com o choque de interesses, dizia-se, surgiram atos de sabotagem às empresas Mauá. Incêndios nos estaleiros localizados na região da Ponta da Areia, na Baía de Guanabara, ocorrem sem motivo aparente. Projetos de caldeiras, guindastes e tubos sofrem danos sem se que identifiquem suspeitos ou culpados.
Comentava-se que a visão emancipacionista de Mauá, bem como a sua posição contrária à Guerra do Paraguai, pontos polêmicos na época, desagradavam a muitos. O Barão escreveria em sua autobiografia:

"Quanto ao trabalho ressoam ainda aos meus ouvidos (porque sou velho) as palavras de um grande homem de Estado (...): o finado Bernardo Pereira de Vasconcelos, pronunciadas em pleno Senado, (...) 'A civilização vem da África !
Essas palavras levantaram sussurro (...) no entanto (...) o grande político e profundo pensador soltara uma proposição figurada (...) que queria dizer que a única fonte ou mercado de trabalho que o Brasil tinha até então conhecido era o braço africano, que desses braços (...) vinha a produção que, convertida em riqueza, determinava (...) a civilização da nossa pátria.
Não sou suspeito: então, agora e sempre, ambiciono ver desaparecer o elemento escravo da organização social do meu país."
Naquele momento de crise, o Barão de Mauá - em cujo brasão figurava uma locomotiva e um navio a vapor além de quatro lampiões - não contou com o auxílio do Governo imperial. Não resistindo à força do capital estrangeiro, atingido pelas crises financeiras das décadas de 60 e 70, Mauá acabou falindo em 1875. Muitos dos seus empreendimentos passaram para o controle dos ingleses e dos norte-americanos, vendidos por preços mínimos.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...