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Cultura no Segundo Reinado

Na segunda metade do século XIX, as manifestações culturais mantêm as influências europeias, principalmente a francesa, mas cresce a presença de temas nacionais.

O imaginário de nação

No século XIX, o governo e uma geração de intelectuais ajudaram a construir a identidade e o imaginário nacional. Historiadores, escritores, pintores, militares, músicos, professores, médicos e sacerdotes participaram dessa construção nacionalista. Para consolidar o Brasil como uma nação, era necessário que os brasileiros se reconhecessem como membros de uma sociedade unida por laços culturais.

No plano artístico, a construção do imaginário nacional se expressou, sobretudo, pelo Romantismo. Esse movimento envolveu a literatura, a música, a pintura, a escultura etc.

Entre as características do Romantismo, podemos destacar:

• nacionalismo – valorização das culturas populares e eruditas do país, das belas paisagens geográficas, da história e de seus heróis;

• liberdade de expressão – valorização da originalidade dos artistas, da imaginação criativa, da personalidade individual, dos sonhos e dos ideais.

Na literatura, os autores ligados ao Romantismo exaltavam, entre outros aspectos, a natureza exuberante e os indígenas como símbolos da nação. Apesar de serem exaltados nas artes, os povos originários continuaram excluídos da sociedade nacional no século XIX. Além disso, a imagem romântica idealizada sobre eles ajudou a consolidar preconceitos e estereótipos que repercutem até os dias atuais.

Literatura

O romantismo é marcante na literatura até o final do século XIX, quando cede lugar para o realismo. A prosa de ficção romântica se alterna entre o nacionalismo indigenista e o relato de costumes tipicamente brasileiros. José de Alencar representa bem essas duas tendências, com destaque para Lucíola, Iracema e O guarani. Na poesia, o maior expoente é Gonçalves Dias, autor de I-Juca Pirama e Os timbiras. Surgem também os poetas estudantes, com uma produção marcada pelo pessimismo e pelo sentimentalismo extremo, como Álvares de Azevedo em A noite da taverna e Macário. No realismo, a descrição objetiva da realidade e das ações dos personagens substitui a visão romântica. Aluísio Azevedo é um dos mais completos autores do período, com suas obras O mulato, Casa de pensão e O cortiço. A estética antirromântica se expressa na poesia pelo parnasianismo, com ênfase no formalismo da métrica, do ritmo e da rima. Seu maior representante é Olavo Bilac.

Artistas românticos

No século XIX, entre os autores românticos brasileiros, destacaram-se escritores e poetas como o maranhense Gonçalves Dias, o paulista Álvares de Azevedo, o baiano Castro Alves e o cearense José de Alencar. Este último escreveu três romances importantes com temáticas indianistas: O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874). Os três romances retratam os povos originários como heróis e representantes da identidade nacional brasileira.
Os romances de José de Alencar serviram de inspiração para músicos como o compositor Carlos Gomes, autor da ópera O Guarani, que estreou no Rio de Janeiro em 2 de dezembro de 1870, em homenagem ao aniversário do imperador. Uma obra de José de Alencar também inspirou a pintura Iracema (1881), de José Maria de Medeiros, que retrata a protagonista do romance como uma mulher indígena bela e serena.

Crítica social

O maior representante da crítica social na literatura é Machado de Assis. Seus romances Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memórias póstumas de Brás Cubas, ou os contos, como O alienista, refletem de maneira sutil, irônica e mordaz as transformações sociais e a crise de valores dos últimos tempos do Império. Junto com outros intelectuais, Machado de Assis funda a Academia Brasileira de Letras, em 1876, da qual é o primeiro presidente. Na poesia, destaca-se Castro Alves, que, por sua dedicação à causa abolicionista, é um dos primeiros representantes da arte engajada no Brasil.

Teatro e música

O ator João Caetano funda no Rio de Janeiro a primeira companhia nacional de teatro. Em suas performances, procura substituir o estilo rígido da apresentação clássica por uma nova naturalidade e liberdade de interpretação. A música popular também se diversifica no período. Surgem o samba e a marcha, tocados por grupos de "chorões", conjuntos compostos por flauta, violão e cavaquinho, presença indispensável nos saraus das populações urbanas de baixa renda.

Artes plásticas

Nas artes plásticas, os românticos brasileiros buscavam inspiração no trabalho dos europeus e produziam obras com temas nacionais, como a natureza, os indígenas e os fatos históricos do país. Entre os pintores, destacaram-se o catarinense Victor Meirelles, o paraibano Pedro Américo, o carioca Estêvão Roberto da Silva e o italiano, mas que vivia no Brasil, Eliseu Visconti.
Victor Meirelles foi um artista protegido pelo imperador dom Pedro II. Ele se destacou, por exemplo, pela obra A primeira missa do Brasil (1860). Esse quadro representa o nascimento do país como um momento de união e de fé.
Estêvão Roberto da Silva era negro, livre e filho de pais africanos. Na década de 1880, ele passou a trabalhar como professor no Rio de Janeiro, atuando no Liceu de Artes e Ofícios da Academia Imperial. Mas sua obra ainda é pouco conhecida pela maioria dos brasileiros.

Cultura popular

O Romantismo brasileiro exaltava os valores da cultura popular, mas os distorcia em função dos ideais românticos. Ao longo do século XIX, a cultura popular continuou vibrante nas festas, na produção de alimentos, no artesanato, nas danças, nas trovas poéticas e nos lundus, choros e maxixes. Ela marcou profundamente a identidade do país, mas ficava à margem dos salões frequentados pelas elites, que se consideravam “a boa sociedade”.
A capoeira é um exemplo de manifestação da cultura popular que envolve brincadeira, dança e luta. Foi desenvolvida há mais de 200 anos por pessoas de origem africana, escravizados e libertos, em cidades como Salvador, Recife e Rio de Janeiro.
No século XIX, o governo considerava as rodas de capoeira uma ameaça à ordem pública e os capoeiristas eram tratados como desordeiros. No entanto, para muitos escravizados e libertos, a capoeira era uma forma de superar as dificuldades do dia a dia.
Por meio dessa prática, eles criavam laços de solidariedade e enfrentavam as violências do regime escravista. Durante o império e no início da república, essa manifestação cultural sofreu repressão das autoridades, até ser enquadrada como crime em 1890. Porém, a capoeira resistiu e foi reconhecida como esporte a partir de 1930.
A capoeira tornou-se um dos símbolos da identidade brasileira e atualmente conta com aproximadamente 10 milhões de praticantes em vários países do mundo. Desde 2014, ela é considerada patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

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