quinta-feira, 25 de julho de 2024

O INTERESSE GEOPOLÍTICO NO AFEGANISTÃO

O Afeganistão é detentor de riquezas minerais significativas e localização estratégica privilegiada, porém, é um país pouco desenvolvido. Por essas razões, foi alvo de diversas invasões e ocupações estrangeiras ao longo da história (inclusive da União Soviética, entre 1979 e 1989).
O Afeganistão tem uma história colonial distinta das outras regiões asiáticas. Durante o imperialismo do fim do século XIX, o país chegou a ser invadido por tropas britânicas, mas não foi efetivamente colonizado, pois era um “Estado-tampão” que separava o Império Russo e domínios coloniais do Império Britânico. Se por um lado o país evitou, assim, a exploração colonial, por outro teve seu desenvolvimento econômico muito reduzido.

Durante o século XX, o Afeganistão foi um país independente, mas que passou por diversas mudanças de regimes e golpes de estado. Em 1978, no contexto da Guerra Fria, partidos de orientação comunista apoiados pela União Soviética tomaram o poder no país, o que também deu início à insurgência de grupos armados oposicionistas. Em 1979, tropas soviéticas invadiram o Afeganistão, dando início a uma ocupação que duraria até 1989. Durante esse período, o exército soviético lutou contra os mujahidins, combatentes islâmicos que foram apoiados por diversos países, sobretudo pelos Estados Unidos. A guerra vitimou aproximadamente 15 mil soviéticos e, estima-se, mais de 1 milhão de afegãos.
Após a retirada das tropas soviéticas, o Afeganistão mergulhou em uma guerra civil que resultou na tomada do poder pelo grupo extremista islâmico Talibã, uma das principais facções do conflito e que recebeu forte apoio do serviço secreto paquistanês.
Após o atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, o governo estadunidense atribuiu o ataque à rede terrorista internacional Al-Qaeda, liderada por Osama Bin Laden, cuja base estava instalada no Afeganistão. Após a organização ter se recusado a cumprir a exigência do Conselho de Segurança da ONU de entregar Osama Bin Laden, os Estados Unidos deram início à invasão do Afeganistão, em 2002. 
Uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos invadiu o Afeganistão, no contexto da guerra contra o terrorismo internacional, derrubou o governo talibã e iniciou uma ocupação militar do país que duraria quase 20 anos. 
Na época, o Afeganistão estava sob domínio do Taleban, que havia implantado um regime repressivo sobretudo às mulheres, entre 1996 e 2001. Após a invasão, os Estados Unidos estabeleceram um novo governo e instalaram novas bases militares estadunidenses no Oriente Médio.
A partir de 2011, as tropas internacionais começaram a se retirar gradualmente do país e o ambiente de segurança se deteriorou ainda mais com a escalada de ataques de grupos insurgentes.
Em 2020, os Estados Unidos firmaram um acordo com o Talibã para a retirada de suas tropas do Afeganistão. Em contrapartida, o grupo afegão se comprometeu a cortar laços com o grupo terrorista Al-Qaeda. No ano de 2021, o último soldado estadunidense deixou o solo afegão. No entanto, o governo afegão, reconhecido internacionalmente, não possuía força militar para contrapor os insurgentes talibãs, e a retirada estadunidense ocorreu às pressas em meio aos rápidos avanços militares do grupo fundamentalista. 
A comunidade internacional criticou duramente a forma como se deu a retirada das tropas, que ficou marcada por tumultos, com milhares de afegãos que haviam colaborado com a presença estadunidense tentando escapar do país por medo de represálias por parte do Talibã. A guerra deixou um saldo de aproximadamente 176 mil mortos, sendo 46 mil civis e 3,5 mil integrantes da coalizão internacional.
Com a retirada do exército dos Estados Unidos do Afeganistão, o Talibã derrubou rapidamente o governo e retomou o controle central do país. Agora no poder, o grupo tem adotado medidas restritivas em relação à liberdade das mulheres e imposto uma interpretação mais estrita da lei islâmica a toda a população. Embora tenha tomado o controle do país, o Talibã tem sido contestado interna e externamente. O grupo vem sofrendo críticas por parte de outros países e de organismos internacionais por não respeitar os direitos humanos. Além disso, dentro de seu próprio território, o atual governo sofre contestação de outras organizações que buscam tomar o poder, como, por exemplo, o Estado Islâmico.

A GUERRA CIVIL SÍRIA

A disputa territorial entre Síria e Turquia sempre foi uma questão geopolítica importante no Oriente Médio. Depois da Primeira Guerra Mundial, a Turquia reivindicava o território de Alexandreta (atual província turca de Hatay). No entanto, a França, que administrava a região, manteve esse território sob domínio sírio. 
Em 1939, quando uma decisão política indicou que Hatay deveria pertencer aos turcos, foi a vez de os sírios não aceitarem, apesar de essa província ser habitada majoritariamente por turcos. As relações entre os países se deterioraram quando o presidente sírio Hafez al-Assad (pai do atual ditador Bashar al-Assad) apoiou o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) em sua causa, ou seja, a busca pela independência contra a Turquia.
Em 2011 teve início um conflito na Síria, originado nas revoluções da Primavera Árabe, nome dado ao período em que a população de algumas nações árabes se revoltou contra os governos de seus países, há anos no poder.
Os protestos na Síria foram contidos violentamente pelo governo de Bashar al-Assad e resultaram numa guerra civil. Bashar al-Assad representa uma etnia minoritária e de elite na Síria, a alauíta (setor do xiismo), enquanto a maioria da população (sunita) não se vê representada pelo governo.

Como reação às manifestações populares durante a Primavera Árabe, o ditador Bashar al-Assad, da Síria, iniciou violenta repressão armada, resultando em centenas de mortes. A repressão aos grupos políticos oposicionistas rapidamente evoluiu para uma sangrenta guerra civil, que opôs o exército nacional sírio contra diversas facções, como o Exército Livre Sírio, fundamentalistas islâmicos, curdos, entre outros.
Após um acordo entre Estados Unidos e Rússia, o governo de Bashar al-Assad, para evitar a intervenção internacional, comprometeu-se a assinar um tratado e permitir que o arsenal químico sírio fosse destruído. O governo sírio foi acusado de ter usado armas químicas contra seus opositores em 2013.
Enquanto os rebeldes afirmavam tentar acabar com a ditadura e implantar a democracia, o governo alegava defender o país de terroristas.
Um dos principais agravantes dentro do conflito sírio é a atuação do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que, inicialmente, lutava a favor dos opositores de Bashar al-Assad. O EI chegou a controlar efetivamente áreas do território sírio e, após a tomada de Raqqa, escolheu a cidade como capital de seu autoproclamado califado em 2014. A partir de 2016, o exército nacional sírio (apoiado pela Rússia) e outros grupos beligerantes realizaram ofensivas contra o grupo e reduziram amplamente o seu poder no país.
Há grande interesse geopolítico internacional na Síria, e potências estrangeiras como Estados Unidos, países europeus, Rússia, Turquia e Irã realizam intervenções militares no território do país.
Os russos e os iranianos apoiam o ditador sírio Bashar Al-Assad e lutam ao lado das forças governamentais. Os russos foram responsáveis por uma intensa campanha de bombardeios aéreos a grupos contrários ao governo, a qual foi marcada, sobretudo, pela destruição da cidade de Alepo, na época controlada pelos rebeldes.
Os Estados Unidos e países europeus, como Reino Unido e França, apoiam diversos grupos de oposição ao governo sírio, como as Forças Democráticas Sírias (FDS) e as forças curdas. Além disso, a imposição estadunidense se faz presente por meio bombardeios que têm como alvo instalações do governo, grupos radicais islâmicos e milícias apoiadas pelo Irã.
Em meio aos interesses externos, turcos e curdos travam disputas na faixa norte do território sírio, enquanto grupos terroristas como Estado Islâmico e Al-Qaeda tentam sobreviver ao novo arranjo territorial produzido pela guerra.
A Guerra Civil Síria já vitimou aproximadamente 500 mil pessoas desde o seu início em 2011, além de obrigar que mais de 5 milhões de pessoas deixassem as suas casas. As ações de tropas do governo sírio, de rebeldes e das potências estrangeiras não raro vitimam civis, o que contribui para o alto número de mortos e feridos no conflito.

CONFLITOS NA TURQUIA: TURCOS E CURDOS

País marcado por conflitos e disputas territoriais, a Turquia tem como uma de suas principais questões geopolíticas o conflito territorial com os curdos, povo que ocupa sobretudo áreas no oeste do país. Os curdos também ocupam áreas nos territórios de outros países, como Iraque, Irã, Síria, Geórgia e Armênia.

O povo curdo reivindica a criação de um país autônomo – o Curdistão – para a preservação de sua identidade cultural, prometido pelos britânicos desde o período colonial da região. No entanto, especialmente por ocupar uma área estratégica de nascentes de rios e reservas petrolíferas, sua autonomia é negada. Os curdos formam o quarto maior grupo étnico do Oriente Médio.

A luta pela autonomia do povo curdo começou a ser travada a partir da década de 1980, com a atuação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), e tem como objetivo formar o Estado curdo e abrigar sua população, que se mantém dispersa e reprimida por toda a região. O PKK já realizou ações armadas e ataques à bomba contra forças de segurança turcas, motivo pelo qual é considerado uma organização terrorista pelo país.

Outro problema enfrentado pela Turquia e que afeta diretamente os curdos se refere à disponibilidade hídrica e energética. Para solucioná-lo, o governo turco deu início ao projeto da Grande Anatólia, cujo objetivo é construir 22 represas e 19 usinas hidrelétricas ao longo dos rios Tigre e Eufrates. Além disso, o projeto também prevê a melhoria da infraestrutura urbana e rural em toda a área contemplada. No entanto, esse projeto prevê o alagamento de áreas do país ocupadas pelos curdos, que seriam obrigados a deixar suas terras. Outras críticas ao projeto vieram de países vizinhos, como Síria e Iraque, que protestaram por entenderem que ficariam privados de água. Já os sauditas e os israelenses apoiaram o projeto de construção do grande sistema, que inclui um duto que ligará as barragens do sudeste da Turquia a Israel e a Riad.

Além disso, a Turquia é um dos principais destinos de refugiados provenientes de países que passam por guerra civis e instabilidade política na região, como é o caso da Síria e do Iraque. A guerra civil na Síria, iniciada em 2011, é o principal fator de expulsão de pessoas na região e aproximadamente 3,5 milhões de sírios se encontravam refugiados no território

turco em 2021. O governo turco está diretamente envolvido no conflito e frequentemente facilita que os refugiados sírios abandonem seu território em direção aos países europeus como forma de exercer pressão geopolítica sobre a União Europeia.

O governo turco é criticado pela comunidade internacional por violar os direitos humanos por meio de ações que reprimem a liberdade de expressão e a democracia, atuando de forma autoritária em episódios que envolveram a prisão de jornalistas críticos ao governo, a repressão de movimentos LGBTQIAPN+ e a prisão de refugiados sírios pela polícia secreta turca, que os entrega ao país de origem.

Os curdos também foram fortemente reprimidos no Iraque, durante o governo de Saddam Hussein (1979-2003). Com a deposição de Saddam Hussein após a invasão estadunidense, havia a esperança de que os curdos se fixassem pacificamente nos territórios ao norte do país. A partir de 2006, o Iraque chegou a ter dois presidentes, que participaram da guerrilha curda durante o governo do antigo ditador. Receosa de que o fortalecimento curdo poderia atingir também seu território, a Turquia passou a atacar a região curda no Iraque.


A ÍNDIA E O PAQUISTÃO

Segundo dados do Banco Mundial, em 2020, a população da Índia era de aproximadamente 1,4 bilhão de habitantes, o que corresponde a cerca de um sexto da população mundial. O país apresenta mais de 20 idiomas, originados, em parte, da influência linguística dos colonizadores (inglês e francês). A cultura indiana é marcada pela religião hindu, tradição presente há 4 mil anos.

O processo de independência da Índia – a chamada Partilha da Índia – deu origem a dois países: Índia e Paquistão. O Paquistão, por sua vez, tinha seu território separado em duas partes: Oriental e Ocidental, a leste e a oeste da Índia.
Desde 1947, três guerras já ocorreram entre Índia e Paquistão por causa da região da Caxemira, que tem grande relevância estratégica, pois apresenta terras altamente férteis, compõe o eixo de ligação norte-sul e abriga nascentes de rios importantes, como o Indo, que corre em direção à Índia. Esses conflitos geram grande preocupação mundial, já que os países envolvidos possuem arsenal nuclear. Com o fim do domínio britânico, Índia e Paquistão retomaram a disputa pela
Caxemira, uma região com maioria muçulmana, mas que está sob o domínio indiano.
Atualmente, movimentos separatistas da Caxemira, como a Frente de Libertação de Jammu e Caxemira, com a interferência do Paquistão, lutam pela independência da região em relação à Índia. A maioria dos habitantes da Caxemira é muçulmana (predominante no Paquistão), perfil que destoa da maioria da população hinduísta que vive na Índia.
Além do Paquistão e da Índia, a China também participa da disputa pelo território da Caxemira. Com um histórico anterior de conflitos armados, a ameaça de confronto na região é constante. Na década de 1970, as constantes divergências entre duas das áreas que compunham o Paquistão provocaram a divisão deste em dois países independentes: Paquistão e Bangladesh. Foi nesse período que a Índia e o Paquistão retomaram a disputa pela Caxemira.

A QUESTÃO DO TIBETE

Além dos movimentos separatistas na Europa, merecem destaque também os movimentos separatistas presentes na Ásia, em especial o que ocorre no Tibete, que foi uma jurisdição chinesa por mais de 700 anos. A região é localizada em uma das áreas mais altas do mundo e abriga importantes afluentes e nascentes de rios asiáticos, por isso foi historicamente muito disputada.
O Tibete, província localizada ao norte da Cordilheira do Himalaia, no oeste da China, era um país soberano até 1950. Ao anexar o território tibetano, o governo da China, liderado por Mao-Tsé-Tung, que já o considerava uma área estratégica, incentivou a migração chinesa para a região. A China ampliou, então, suas fronteiras, aproximando-se da Índia. A região é rica em urânio, matéria-prima essencial para o funcionamento de usinas nucleares.

No século VII, o Tibete foi anexado ao império chinês, o que ia contra os interesses dos dalai-lama, a liderança política e espiritual do país. No século XVIII, a região também foi alvo de interesses colonialistas britânicos, tendo em vista que, nesse contexto, o Reino Unido buscava estabelecer novos entrepostos comerciais.

Em 1912, o 13° dalai-lama declarou a independência do Tibete. No entanto, a independência tibetana nunca foi legitimada no cenário internacional. Em 1951, um ano após a fundação da República Popular da China, o governo chinês decidiu reincorporar o Tibete ao seu território. Desde esse período, a população tibetana reivindica a sua independência.
Em 1951 foi firmado o Acordo dos 17 Pontos, pelo qual China e Tibete se comprometiam a encontrar uma solução democrática para o conflito. Contudo, a China seguia pressionando os membros do governo tibetano. Desde então, os tibetanos se tornaram prisioneiros na própria terra e um povo sem pátria. O tibetano não é chinês, não fala a língua chinesa e não aceita o domínio chinês.
Desde a década de 1960, o Tibete é considerado uma região autônoma, mas a autonomia ainda é questionada pela China, que não abre mão do controle do território. Uma das razões são as já mencionadas riquezas minerais do subsolo do Tibete. A população tibetana considera a administração pelo governo chinês uma ocupação militar ilegítima. 
Nas últimas décadas, foram realizadas uma série de tentativas de negociação para que a autonomia do Tibete fosse reconhecida, assim como suas tradições religiosas budistas, seu idioma e suas práticas culturais. Em 1995, uma criança considerada o número dois na hierarquia político-religiosa do budismo tibetano foi presa pelo governo chinês e nunca mais foi vista.

A situação se agravou a partir de 1998, quando Dalai-lama e outros tibetanos foram para o exílio na Índia; desde então, buscam apoio internacional para o reconhecimento da soberania do território tibetano. Há diversas ações e discursos de repúdio ao domínio chinês na comunidade internacional. No entanto, até então essas ações não levaram à consolidação de medidas práticas pela emancipação do território.
A China é muito criticada, principalmente entre os países ocidentais, por manter o Tibete como província. O atual Dalai-lama, Tenzin Gyatso, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1989, é amplamente respeitado. Contudo, não vive no Tibete por determinação do governo chinês.
Em 2021, a anexação do Tibete ao território chinês completou 50 anos. Em discursos comemorativos, o Partido Comunista Chinês destacou a necessidade de ensinar o idioma chinês nas escolas e de coibir outras práticas culturais tibetanas, justificando essa opressão cultural em função do desenvolvimento econômico da região nas últimas décadas. No entanto, a população tibetana e alguns países consideraram essa prática extremamente violenta.

Conflito entre Rússia e Ucrânia

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia, iniciado em 2022, tem origem na formação histórica desses países e na disputa por territórios economicamente estratégicos. 
Entre os principais motivos para a invasão da Ucrânia pela Rússia (em fevereiro de 2022), estão:
- Conflitos separatistas no leste da Ucrânia (com maioria da população de ascendência russa) — nas províncias de Donetsk e Luhansk, reconhecidas como independentes por Putin.
- Aproximação da Ucrânia com o Ocidente — a possibilidade do país fazer parte da Otan e da União Europeia.
Ao longo dos séculos, a Ucrânia fez parte de impérios, sofreu inúmeras invasões, foi incorporada pelos russos e pelos soviéticos, se tornou independente, mas nunca resolveu por completo sua relação com a Rússia.
A queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria provocaram a diminuição da influência da URSS e a consolidação da hegemonia estadunidense. Por meio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), os Estados Unidos aumentaram sua influência política e cultural em diversos lugares.

Nesse contexto, muitos países do leste europeu conquistaram sua independência, como a Ucrânia, em 1991. No entanto, o país continuou sob a influência da Rússia, que considera o território estratégico, tendo em vista o acesso ao Mar Negro e os oleodutos e os gasodutos que passam pela região.

A Rússia aumentou sua influência no cenário internacional a partir da década de 2000, quando Vladimir Putin assumiu a presidência do país. Ele tem como uma das estratégias de ascensão econômica do país as parcerias comerciais com os países ex-membros da URSS e a China – o último atualmente se configura como principal parceiro econômico da região – além do domínio do Mar Negro e da produção de gás natural para abastecer o continente europeu.

Em 2014, o ex-presidente da Ucrânia, o líder pró-russo Viktor Yanukovych, foi deposto após uma série de protestos. Isso levou a Rússia a buscar o aumento do controle sobre a região da Crimeia, território ucraniano. Com a independência da Ucrânia em 1991, a Rússia ficou com o controle de uma base naval na região, sede da Frota do Mar Negro.

Nesse mesmo ano, com 95,5% de aprovação dos eleitores da Crimeia, a região foi anexada ao território russo, em um referendo que foi considerado ilegal pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido por ter sido realizado sem a presença de observadores internacionais. Desde então, as relações geopolíticas entre a Ucrânia e a Rússia ficaram mais tensionadas. Com a anexação da Crimeia, a região tem sido um ponto de disputa geopolítica entre a Rússia, a Ucrânia, países europeus e os Estados Unidos.
A região de Donbass tem minorias que pedem a separação da Ucrânia e anexação à Rússia e, por isso, é considerada outra zona de conflito. O argumento é que a formação cultural, econômica, social e política estão mais próximas à Rússia. Após a anexação da Crimeia, os movimentos separatistas se intensificaram na região de Donbass, exigindo autonomia política. Esses movimentos tiveram apoio militar da Rússia e foram fortemente reprimidos pelo governo ucraniano.

A região de Donbass

A partir de 2014, a Ucrânia passou a vivenciar um período de profunda crise econômica, social e política. Entre os motivos que contribuíram para essa instabilidade, no final de 2013, por pressões da Rússia, o governo do então presidente ucraniano Viktor Yanukovych recusou assinar um acordo de livre-comércio com a União Europeia – possibilidade que, caso fosse concretizada, a afastaria da influência russa –, optando pela assinatura de um tratado de assistência econômica oferecido pela Rússia no qual, inclusive, era proposta a redução de 30% no preço do gás russo fornecido à Ucrânia.
Tal desistência foi o estopim para que se intensificassem as manifestações contrárias ao governo do presidente Yanukovych em várias regiões da Ucrânia, e provocou, sobretudo na porção ocidental do país, a sua destituição, a realização de novas eleições e o estabelecimento de um novo governo, que contava com o apoio das potências ocidentais e, ao mesmo tempo, prometia afastamento da influência russa.
Os desdobramentos desse episódio foram graves para a Ucrânia, pois a deposição do governo pró-Rússia não foi bem recebida em todo o país, ocasionando o fortalecimento de movimentos separatistas em sua porção leste. Especificamente, isso ocorreu nas regiões de Donetsk e Lugansk, que abrangem cerca de um terço da região de Donbass, densamente povoada – com cerca de 6 a 7 milhões de habitantes –, e que é considerada o coração industrial da Ucrânia por concentrar metalúrgicas, termelétricas e empresas de extração de carvão mineral. De 2014 a 2021, nas duas regiões, ocorreram acirramento de tensões e embates militares entre as forças militares ucranianas – com o apoio dos Estados Unidos e de outros países – e os separatistas – com o apoio da Rússia –, resultando em mais de 14 mil pessoas vitimadas pelos conflitos. Nesse período, vários acordos firmados entre Rússia e Ucrânia (Acordos de Minsk I e II), com a participação de outros países, não foram capazes de colocar um fim à guerra civil.
As relações entre Rússia e Ucrânia se deterioraram ainda mais em 2019, com a eleição de Volodymyr Zelensky à presidência da Ucrânia, que sempre declarou a intenção de se alinhar à Europa.
Em 2022, o governo da Ucrânia anunciou a sua intenção de ingressar na OTAN como estratégia para se desvincular da influência russa. A Ucrânia anunciou, também, uma abertura em um dos canais fluviais mais importantes geopoliticamente para o Leste Europeu, além de abrir espaço para uma aproximação da influência estadunidense.
A presença militar da OTAN no leste da Europa ameaça a influência russa na região, o que provocou o descontentamento do presidente Vladimir Putin. Em fevereiro de 2022, o governo russo reconheceu formalmente a independência das zonas separatistas das autoproclamadas repúblicas populares de Lugansk e Donetsk e as tropas russas cruzaram a fronteira, levando a uma enorme crise diplomática internacional.

A invasão militar da Ucrânia

E apoiando-se na justificativa de que elas estavam sob a ameaça de uma invasão militar da Ucrânia e que um genocídio estaria ocorrendo contra a população civil russa, ele determinou a ofensiva militar contra a Ucrânia em larga escala, em 24 de fevereiro daquele ano, considerando esses territórios como seu principal objetivo militar.
Diante da ofensiva militar russa, Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e muitos outros países condenaram a decisão unilateral do governo russo e providenciaram de imediato sanções econômicas à Rússia. 
Assim que o conflito teve início, graves sanções foram aplicadas à Rússia, entre as quais se destacam o congelamento de bens do presidente Putin, membros do governo e empresários; restrições ao acesso da Rússia aos mercados e serviços financeiros e de capitais da União Europeia; fechamento do espaço aéreo e dos portos da União Europeia a aeronaves e navios russos; suspensão das importações de petróleo e carvão provenientes da Rússia; proibição da exportação de bens e tecnologias para a produção de petróleo e de realização de novos investimentos no setor energético russo.
O estabelecimento dessas sanções foi a maneira encontrada pelas potências ocidentais de evitar um confronto direto com a Rússia, o que certamente levaria a uma guerra de proporções sem precedentes, inclusive com a utilização de armas nucleares.
Tal situação, segundo analistas internacionais, poderia levar a reviver o ambiente de Guerra Fria, quando ainda existia a União Soviética e sua disputa com os Estados Unidos e seus aliados por áreas de influência no mundo. Na verdade, essa questão em andamento trata-se novamente de disputa geopolítica: a Rússia não quer perder a sua área de influência sobre a Ucrânia e não aceita que ela faça parte da Otan – que é entendida pelo governo russo como uma ameaça às suas fronteiras –, nem que seja integrante da União Europeia, fatos, esses, desejados pelos Estados Unidos e por muitos países da Europa.
Na opinião de vários especialistas, no entanto, esses e outros conflitos em que a Rússia tem se envolvido na região mostram claramente o projeto político e estratégico implementado pelo presidente Vladimir Putin, que, há vários anos, governa a Rússia. Esse projeto consiste em reincorporar ao território russo parte dos territórios que, no passado, formavam a antiga União Soviética.

Essas sanções levaram a economia russa a uma profunda recessão. Mas o conflito entre os dois países causou impactos no mundo todo, percebidos rapidamente. São eles:
- Crise alimentar. Em 2021, a Ucrânia produzia 15% do milho e 12% do trigo comercializados no mundo. Com a guerra, o país não pode exportar o que já havia produzido e as novas safras foram reduzidas. Como resultado, os preços dos grãos e de alimentos básicos aumentaram, levando milhões de pessoas à insegurança alimentar.
- Crise energética. Em 2021, a Rússia era um dos líderes mundiais na exportação de gás natural, petróleo e carvão. A União Europeia, que importou 45% da produção de gás e 25% de petróleo, começou a estudar possibilidades para reduzir a dependência da Rússia. O embargo ao petróleo russo fez com que os preços da commodity disparassem, aumentando o preço dos combustíveis em muitos países.

A invasão russa no território ucraniano provocou intensos conflitos armados. De acordo com a Armed Conflict Location & Event Data Project (Acled), até julho de 2022 mais de 10 mil pessoas já haviam morrido em decorrência do conflito. E, segundo o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o número de pessoas que fugiram da Ucrânia para escapar da invasão da Rússia passou de 6 milhões, o que configura a pior crise de refugiados na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

OS MOVIMENTOS SEPARATISTAS

Os movimentos separatistas estão relacionados às ações de um povo em busca da sua independência, muitas vezes decorrentes de conflitos históricos atrelados aos processos de colonização.
Na Europa, como em várias partes do mundo, existem povos que nutrem o sentimento nacionalista, que os move a conquistar a independência política e territorial do Estado ao qual estão subjugados. Muitos deles são reprimidos, controlados e dominados pelo Estado e, em alguns casos, movimentos separatistas são formados. Muitos desses movimentos acabam recorrendo à violência para conquistar seus objetivos.
Esses movimentos reivindicam, por meio de protestos e referendos, a garantia de manutenção da sua nacionalidade e tradições culturais.
Assim, esses grupos lutam por novas delimitações territoriais que respeitem seus princípios identitários, pelo fim da opressão contra sua cultura, pela manutenção das tradições, pela garantia da diversidade linguística, entre outras questões.

A Eurásia é marcada por conflitos e disputas territoriais, em geral motivados pelas demandas de autodeterminação de minoriais étnicas e culturais, como é o caso da Catalunha e da Caxemira. Alguns conflitos ocorrem pelo embate direto entre os povos, o que pode levar a guerras e a mudanças territoriais; outros envolvem embates políticos devido à intervenção ou à instalação de bases militares nos territórios. Há também casos em que as tensões são motivadas ou agravadas por questões econômicas e estratégicas, como o acesso a recursos naturais e a disputa por maior influência no comércio internacional.
Catalães, bascos, galegos, andaluzes e espanhóis travam disputas geopolíticas, culturais e linguísticas existentes desde o governo de Felipe IV, em 1632. Nesse período, os reinos de Castela e de Aragão se uniram, constituindo parte das bases do Estado-nação espanhol moderno e centralizado. O mesmo caso se dá com os corsos em relação à França e os escoceses em relação ao Reino Unido.
O sentimento de pertencimento a uma nação distinta e a contestação contra a gerência dos espanhóis nos problemas regionais ampliam os movimentos autonomistas e separatistas na Espanha. Bascos e catalães constituem 25% da população espanhola e concentram-se nas duas regiões industriais mais importantes da Espanha.
A luta pelas reivindicações separatistas agravou-se durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). A ditadura do general Francisco Franco instituiu diversas proibições às manifestações culturais dessas nações, como à língua, aos símbolos (presentes na bandeira), às tradições e aos costumes. Por 25 anos, Franco reprimiu as diversas formas de representação cultural de bascos, catalães e castelhanos.
Nas disputas geopolíticas desses povos, o que fica presente nas reivindicações linguísticas, culturais, religiosas e econômicas é a superação da opressão e da repressão vivenciadas por séculos. Seus idiomas eram vistos como dialetos, sendo excluídos das funções oficiais e inferiorizados.
Após a morte do ditador, em 1975, e uma nova carta constitucional, o povo catalão voltou a reivindicar seus direitos.
Vejamos as características principais de alguns conflitos e de algumas regiões da Europa em que minorias étnicas e nacionais ou outros grupos buscaram ou buscam a soberania ou a independência de diferentes formas e por diversas razões (religiosas, étnicas, territoriais, nacionalistas, etc.).

Separatismo na Espanha

A Espanha é um país muito diversificado. Esse aspecto pode ser constatado na luta de alguns grupos pela separação e por maior autonomia. 

País Basco

O povo basco reivindica a independência em relação à Espanha e o reconhecimento de um novo país – o País Basco. Com população composta de mais de 2 milhões de pessoas, ele ocupa parte do território norte da Espanha e mais uma porção sudoeste do território francês. Embora, em sua maioria, os bascos estejam fixados em território espanhol, eles falam uma língua própria, a língua basca, ou euskera, e, em sua maioria, não desejam pertencer à Espanha. Há mais de 40 anos lutam por sua autonomia política.
Na ditadura de Francisco Franco, na Espanha, que durou de 1939 a 1975, a língua basca foi proibida. Em 1959, foi fundado o grupo Euskadi Ta Askatasuna (ETA – “Pátria Basca e Liberdade”), movimento cuja finalidade é manter a língua, os costumes e as tradições culturais bascas na região. A partir de 1966, o ETA iniciou manifestações violentas para alcançar seus objetivos.
Apenas em 2011 integrantes do ETA anunciaram o cessar-fogo. Desde então, eles vêm obtendo maior êxito nas negociações com o governo espanhol pela independência da região.

Catalunha

Localizada no nordeste da Espanha, a Catalunha – anexada pelo país há 300 anos – é uma comunidade autônoma que, desde a década de 1970, está passando por um forte renascimento cultural. O idioma catalão vem ganhando maior impulso, e a cidade de Barcelona, capital da Catalunha, passou a ser considerada um dos mais importantes centros culturais da Europa.
Com o fortalecimento financeiro e a grande influência na economia nacional, essa região tem buscado autonomia com bastante relevância, embora o governo federal tenha conseguido impedir campanhas e referendos sobre o assunto.
Os cortes em serviços básicos determinados pelo governo para conter os efeitos da crise econômica enfrentada pelo país nos últimos anos fizeram aflorar o sentimento de independência tanto na Catalunha quanto no País Basco.
Em 2014 foi realizada uma votação não oficial, espécie de consulta informal, em que a separação foi aprovada por 80% dos eleitores. 
Em 2017, os separatistas organizaram um referendo para que a população pudesse votar a favor ou contra o processo de independência da região. De acordo com o governo local, 90% dos votantes queriam que a Catalunha se tornasse um Estado soberano. No entanto, o governo espanhol não reconheceu o resultado do referendo e as tratativas para o processo de independência não avançaram.
O governo da Espanha não reconheceu a consulta por não concordar com a soberania da Catalunha.

Reino Unido: a questão irlandesa e a Escócia

A Irlanda do Norte (Ulster) integra o Reino Unido. Por esse motivo, as decisõespolíticas (como a escolha de lideranças locais) são tomadas em Londres. Já a República da Irlanda (Eire) é independente do Reino Unido desde 1922.
Os católicos da Irlanda do Norte lutam há pelo menos 30 anos pela unificação com a República da Irlanda, opondo-se aos protestantes, que são a maioria e querem permanecer subordinados ao Reino Unido.
A partir da década de 1970, o Exército Republicano Irlandês (IRA, sigla em inglês de Irish Republican Army) promoveu diversos atos terroristas contra alvos ingleses com o objetivo de fazer pressão pela independência da Irlanda do Norte e sua posterior unificação com a República da Irlanda.
Em 1990, cessaram os atos violentos, e o IRA abandonou a luta armada, destruindo todo o seu arsenal; no entanto, mantém sua luta por meios políticos, mesmo existindo grupos dissidentes em ação.
Outra questão que envolve o Reino Unido são os movimentos para a independência da Escócia. Em 2014, esse sentimento foi reforçado, movido pelo desejo de maior autonomia política e pela devolução, pelo Reino Unido, de poderes ao Parlamento escocês.
Assim, foi realizado um referendo para que a população decidisse pela independência do país em relação ao Reino Unido. A rejeição foi de 55,3% dos votos.

Caxemira

A Índia e o Paquistão são países com um passado colonial comum, já que ambos foram dominados pela Inglaterra. O histórico de rivalidades, desentendimentos e guerras que os caracterizam hoje é também motivado pelas diferenças religiosas.
A formação do território indiano provocou conflitos entre os adeptos do hinduísmo e os do islamismo. Da época da independência até hoje, o problema persiste entre a Índia (hindu) e o Paquistão (islâmico). Uma área na Índia que concentra muita tensão e onde há conflitos permanentes é a Província da Caxemira, no norte do país. Embora esteja situada na Índia de maioria hindu, a Caxemira tem população islâmica, motivo pelo qual parte de sua população deseja separar-se da Índia e se integrar ao Paquistão. 
A Caxemira abriga a nascente de quatro dos cinco rios do Paquistão; por isso, é uma região em que o controle da água é bastante disputado. Na província, há conflitos armados entre grupos extremistas e o exército indiano, que reprime qualquer manifestação de independência. Esses grupos já promoveram vários atentados terroristas contra alvos hindus, no campo e nas grandes cidades.
A Índia e o Paquistão têm bombas nucleares, consequência da inimizade histórica e das relações políticas tensas. Ambos os países são muito criticados no meio internacional por gastarem importantes recursos em armamentos e investirem pouco na área social, como saúde, educação, saneamento básico etc.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...