quinta-feira, 25 de julho de 2024

Conflitos no Cáucaso

Azerbaijão, Geórgia e Armênia formam a região conhecida como Cáucaso, localizada entre os mares Cáspio e Negro.
No Cáucaso vivem, aproximadamente, 100 grupos étnicos, com cultura e línguas próprias.
Além dos países independentes – Geórgia, Armênia e Azerbaijão –, há repúblicas e regiões autônomas pertencentes à Rússia. A diversidade étnica e a importância econômica do Cáucaso, que é rico em minérios e petróleo, são fatores que ajudam a explicar a ocorrência de conflitos na região.
A região de Karabakh é disputada por Armênia e Azerbaijão desde o início do século XX. Em 1994, após um período de guerra, um acordo foi assinado entre as partes. Porém, os conflitos recomeçaram em 2020 e a situação na região ainda é bastante instável. A Armênia, cuja maioria da população é cristã, é apoiada pela Rússia. O Azerbaijão, por sua vez, tem maioria da população muçulmana e é apoiado pela Turquia.
Na Geórgia, os maiores conflitos e movimentos separatistas ocorrem na Ossétia do Sul e na Abcásia. Em 1990, logo que a Geórgia declarou sua independência da União Soviética, a Ossétia do Sul e a Abcásia também declararam independência da Geórgia, que não aceitou a decisão. A tensão aumentou quando a Rússia passou a defender a autonomia da Ossétia do Sul.

A  Chechênia

O fim da URSS não significou o fim das tensões na região: após a queda do socialismo, ocorreram diversos conflitos  entre a Rússia e os países vizinhos. A região do Cáucaso está localizada entre os mares Negro e Cáspio e é palco de um dos conflitos mais relevantes que envolvem a Rússia e a província da Chechênia, de maioria muçulmana.

O movimento separatista checheno iniciou-se em 1859, quando o território foi anexado pelo Império Russo. Em 1991, após o enfraquecimento da União Soviética e o começo da independência das ex-repúblicas soviéticas, intensificou-se a luta armada por meio de organizações terroristas.

O conflito mais recente entre Rússia e Chechênia ocorreu em 1994, quando o exército russo invadiu a província e entrou em conflito armado com os separatistas chechenos, resultando em um saldo de aproximadamente 100 mil mortos.

Derrotados, os rebeldes separatistas intensificaram as ações terroristas contra o governo russo. Em 2002, por exemplo, invadiram um teatro em Moscou e fizeram mais de 700 reféns; após reação do Exército russo, cerca de 50 rebeldes e 150 reféns foram mortos.
O governo russo não tem interesse em aceitar a independência da Chechênia. Se isso ocorrer, abrirá um precedente para que outras regiões do sul do país reivindiquem a separação, entre elas Daguestão, Inguchétia, Abecásia e Ossétia do Sul. Não somente o fator econômico pesa, mas também o político. Na região, há reservas de petróleo e de gás natural e, por ela, passam oleodutos vindos do Azerbaijão.
A exemplo da Chechênia, o Daguestão e a Inguchétia também
reivindicam a independência da Rússia e aspiram formar repúblicas islâmicas. A Rússia mantém forte controle militar nessas áreas, a fim de conter a ação dos rebeldes separatistas.

Conflitos na Crimeia

Atualmente, uma das questões geopolíticas mais relevantes que envolvem a Rússia é o conflito com a Ucrânia pela posse da Península da Crimeia. A região já pertenceu à Rússia e foi anexada pela Ucrânia, em 1954, como presente do então líder soviético Nikita Khrushchov, que era de origem ucraniana.
Diferentemente do resto da Ucrânia, a maioria da população da Crimeia é de origem russa. A história desse conflito começou em novembro de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, desistiu de assinar um acordo de livre-comércio com a União Europeia, dando prioridade a acordos com a Rússia. Isso gerou protestos populares, repressão militar violenta do governo e o afastamento do presidente (no ano seguinte) pelo Parlamento do país. Ao convocar novas eleições, as tensões separatistas do leste do país, de maioria russa, tornaram-se mais acirradas.
Na Crimeia, o Parlamento local foi tomado por um comando pró-Rússia, que nomeou um novo premiê e aprovou a independência e posterior anexação à Rússia. O governo foi considerado ilegítimo pela Ucrânia, que pediu às forças internacionais que não o reconhecessem. Com as tensões, o Parlamento russo aprovou o envio de tropas à Crimeia.
Os Estados Unidos e outros países ocidentais posicionaram-se a favor da Ucrânia, impondo sanções e exigindo que a Rússia retirasse imediatamente seu contingente militar da região.
Mesmo com oposição da ONU, foi realizado um referendo popular na Crimeia, que, com 96% dos votos, decidiu pela separação da Ucrânia e anexação à Rússia. Atualmente, a Rússia administra a península, e a Ucrânia continua a afirmar seu direito sobre a Crimeia.
A questão central desse conflito é o desejo da Rússia de retomar sua influência na Europa, evitando o avanço do Ocidente até zonas próximas de suas fronteiras. Isso porque, com o fim da Guerra Fria e a desintegração da União Soviética, a Rússia perdeu grande parte de seu poder de influência mundial. A Crimeia é uma região de grande importância estratégica: tem acesso ao Mar Negro (único porto de águas quentes da Rússia, que leva ao Mediterrâneo) e um dos solos mais férteis do mundo.
Mais recentemente, em fevereiro de 2022, iniciou-se um conflito entre Rússia e Ucrânia que já causou danos aos dois países, com inúmeras mortes de ambos os lados.

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO

A reestruturação das relações de produção e de circulação da economia no sistema financeiro impactaram fortemente o mundo do trabalho. A passagem do regime de produção fordista para o de acumulação flexível, a partir da década de 1970, promoveu a maximização de receitas e lucros de bancos, associados a ganhos cada vez maiores das empresas responsáveis pela produção de bens de consumo duráveis e não duráveis.

Nesse cenário, houve a intensificação dos regimes de trabalhos terceirizados e precarizados, uma alternativa do capital para a diminuição dos custos de produção com a mão de obra. Esses regimes de trabalho são caracterizados pelo pagamento por horas trabalhadas, a ausência de vínculos trabalhistas e a redução dos salários. Também há flexibilização ou mesmo desestruturação dos direitos trabalhistas, como férias, 13° salário e licença médica.
Apesar da história de luta dos trabalhadores pela conquista de seus direitos, o trabalho informal sempre foi uma realidade, em maior ou menor escala, dependendo da região e do período histórico.
O desenvolvimento das tecnologias de comunicação e a ampliação do acesso à internet, aliados às mudanças na economia mundial e ao desemprego, contribuíram para o surgimento de uma nova face da precarização do trabalho, a uberização. O termo faz referência ao nome de uma das maiores empresas do mundo de aplicativos de transporte privado de passageiros e entrega de refeições e mercadorias.

No entanto, a precarização e a terceirização do trabalho não ocorrem de forma homogênea, tendo em vista que atinge mais intensamente os países em desenvolvimento, que apresentam legislações trabalhistas mais flexíveis e mão de obra mais barata justamente para atrair empresas multinacionais para seus territórios.
A principal linha da produção industrial das megacorporações europeias e estadunidenses, o Sudeste Asiático, concentra as maiores taxas de precariedade das condições de trabalho, pois uma parcela considerável da população trabalhadora exerce sua função recebendo baixos salários e dedicando extensas jornadas em locais muitas vezes desprovidos de infraestrutura de higiene e segurança. A América Latina também tem sofrido com a precarização do trabalho. De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre 2020 e 2021, houve um aumento de 80% no número de trabalhadores informais na região.
Por não possuírem vínculos empregatícios, os trabalhadores autônomos não têm acesso a direitos trabalhistas básicos, como salário-mínimo, férias e repouso semanal remunerados, seguro-desemprego, jornada de trabalho de oito horas por dia, aposentadoria, entre outros.
Em algumas situações, o trabalhador deve usar recursos próprios para arcar com custos relacionados ao serviço prestado: manutenção dos veículos e combustível, compra ou aluguel do carro, moto ou bicicleta, mensalidade do plano de celular para receber as chamadas nos aplicativos etc.
Durante a pandemia de covid-19, a vulnerabilidade dos trabalhadores autônomos foi agravada. Enquanto parcelas da população estavam em isolamento social, pois suas condições de trabalho permitiam, os trabalhadores dos aplicativos continuaram nas ruas para garantir seu sustento, expostos à contaminação pelo vírus com pouco ou sem nenhum respaldo para cuidar da saúde.
A partir de 2020, a pandemia causada pelo coronavírus e a crise econômica e sanitária instensificaram as mudanças do mundo do trabalho. Nesse período, houve um aumento das taxas de desemprego e da precarização do trabalho, tendo em vista que muitas atividades sofreram limitação, como medida de segurança para conter a propagação do vírus. Com isso, muitos trabalhadores sofreram a perda ou a diminuição de sua renda durante a pandemia.
Além disso, ocorreram mudanças nas rotinas de trabalho, que passaram a ocorrer de forma remota ou híbrida em muitas profissões. Esses trabalhos exigem o acesso à internet e às tecnologias digitais, o que ainda não é uma realidade para muitos grupos sociais. Diante desse cenário, pode-se afirmar que as desigualdades no mercado de trabalho se intensificaram durante a pandemia.

OS CONFLITOS E OS NÔMADES GLOBAIS

Os conflitos armados são catastróficos para os países envolvidos e costumam afetar também os países vizinhos. Dentre esses problemas, podemos citar a violência, a fome, a inflação, a destruição de residências e infraestruturas diversas e a disseminação de doenças.

Todos esses problemas fazem com que muitas pessoas se arrisquem tentando fugir desse contexto e busquem melhores condições de vida em outros lugares. Os imigrantes tiveram um papel muito importante no processo de ocupação do território europeu e de sua formação econômica e social. Alguns governos europeus procuram tornar as restrições aos imigrantes menos rígidas em razão da oferta de mão de obra cada vez mais reduzida e da baixa natalidade das populações de seus países. 
Os imigrantes tendem a buscar na Europa destinos com idiomas próximos de seus países de origem. Além disso, os países mais ricos também costumam atrair mais imigrantes que buscam uma vida melhor. Apesar disso, parte dos imigrantes que se fixam na Europa é submetida à baixa remuneração, tem pouco acesso à rede de proteção social e de serviços públicos e enfrenta situações de exclusão habitacional, com condições de moradia e infraestrutura de serviços públicos inferiores à média das cidades onde se encontram.
Apesar de os países europeus precisarem da mão de obra oferecida por muitos imigrantes, têm crescido na Europa movimentos de grupos extremistas que propagam um discurso anti-imigração.
Embora muitos cidadãos europeus apoiem a garantia de direitos aos migrantes, parte da população europeia teme que pessoas vindas de outros países ameacem seus postos de trabalho.
Em países centrais da Europa, esse temor aos estrangeiros fundamenta discursos alarmistas e preconceituosos, que desconsideram a localização periférica de outros países europeus, onde o fenômeno migratório é ainda mais intenso.
Em geral, os países que recebem mais migrantes localizam-se no entorno da região em crise e têm menos recursos para abrigar essa população. 

O CONFLITO ENTRE CHINA E TAIWAN

A ilha de Taiwan está estrategicamente localizada entre o Mar da China Oriental e o Mar da China Meridional e sempre foi um ponto de interesse de potências europeias e asiáticas. Nos séculos XVI e XVII, espanhóis, neerlandeses e chineses exerceram domínio sobre a ilha, que era habitada por uma população local. No século XIX, a ilha caiu sob domínio japonês e só após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) voltou a pertencer a China.
Após o fim da Guerra Civil Chinesa em 1949, o exército nacionalista derrotado deixou o continente e se refugiou na ilha de Taiwan, onde foi proclamada a República da China.
Na China continental, o vitorioso Exército de Libertação Popular, de ideologia comunista, proclamou a República Popular da China. Desde então, os dois países se consideram
a única China e qualquer país que mantiver relações diplomáticas oficiais com um não pode ter com o outro. Até 1971, a República da China (Taiwan) era o país reconhecido na ONU como o legítimo representante chinês quando a Assembleia Geral da ONU reconheceu a República Popular da China como a representante oficial na organização.
Por conta da importância econômica e de seu grande mercado consumidor, a maior parte dos países hoje reconhece a República Popular da China como a única China, no entanto, muitos deles mantêm relações com Taiwan por meios não oficiais.
Atualmente, a República Popular da China exerce forte pressão diplomática sobre qualquer país que tente estabelecer relações oficiais com Taiwan, uma vez que considera o território uma província rebelde e busca sua unificação com o continente. Historicamente, a ilha recebeu muitos chineses que fugiram do país após a Revolução Comunista de 1949.
Apesar do recente processo de aproximação entre China e Taiwan, muito em função das relações comerciais, o governo chinês já ameaçou invadir a ilha diversas vezes.
Mesmo com o não reconhecimento oficial da comunidade internacional, Taiwan é, na prática, um país soberano, possui governo próprio, eleições e forças armadas. 
Em 2020, em uma lista divulgada pela revista The Economist, Taiwan ocupava o 11º lugar no ranking de índice de democracia, a mais alta posição dentre os países do Leste da Ásia.
Essa situação gera uma grande tensão no estreito de Taiwan, que separa os dois países, o que inclusive desperta interesse e preocupação de outras potências, como os Estados Unidos.
A ilha de Taiwan é o território que, estrategicamente, pode bloquear a expansão chinesa para o oceano Pacífico. A partir dali, é possível monitorar os fluxos de embarcações chinesas ao norte e ao sul do território. Esse é um dos motivos pelos quais os Estados Unidos apoiam Taiwan.
Os Estados Unidos mantêm diversas bases e instalações militares na região, além de terem firmado alianças militares e estratégicas com países que também buscam conter a influência chinesa no Pacífico. Com a Austrália e o Reino Unido, os Estados Unidos firmaram a aliança militar Aukus, e com Austrália, Índia e Japão, estabeleceram o Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad). A China vê com grande preocupação essa crescente influência estadunidense na região e os movimentos de países vizinhos para isolá-la.
Em 2022, as tensões envolvendo China, Taiwan e, consequentemente, Estados Unidos aumentaram com a visita da presidente da Câmara dos Deputados estadunidense, Nancy Pelosi, a Taiwan. A visita foi considerada pelo governo chinês como uma ameaça a seu território e, como forma de retaliação ao acontecimento, a China anunciou uma série de medidas econômicas contra a ilha e os Estados Unidos, além de realizar exercícios militares com munição real que simulavam um bloqueio naval à Taiwan.

O INTERESSE GEOPOLÍTICO NO AFEGANISTÃO

O Afeganistão é detentor de riquezas minerais significativas e localização estratégica privilegiada, porém, é um país pouco desenvolvido. Por essas razões, foi alvo de diversas invasões e ocupações estrangeiras ao longo da história (inclusive da União Soviética, entre 1979 e 1989).
O Afeganistão tem uma história colonial distinta das outras regiões asiáticas. Durante o imperialismo do fim do século XIX, o país chegou a ser invadido por tropas britânicas, mas não foi efetivamente colonizado, pois era um “Estado-tampão” que separava o Império Russo e domínios coloniais do Império Britânico. Se por um lado o país evitou, assim, a exploração colonial, por outro teve seu desenvolvimento econômico muito reduzido.

Durante o século XX, o Afeganistão foi um país independente, mas que passou por diversas mudanças de regimes e golpes de estado. Em 1978, no contexto da Guerra Fria, partidos de orientação comunista apoiados pela União Soviética tomaram o poder no país, o que também deu início à insurgência de grupos armados oposicionistas. Em 1979, tropas soviéticas invadiram o Afeganistão, dando início a uma ocupação que duraria até 1989. Durante esse período, o exército soviético lutou contra os mujahidins, combatentes islâmicos que foram apoiados por diversos países, sobretudo pelos Estados Unidos. A guerra vitimou aproximadamente 15 mil soviéticos e, estima-se, mais de 1 milhão de afegãos.
Após a retirada das tropas soviéticas, o Afeganistão mergulhou em uma guerra civil que resultou na tomada do poder pelo grupo extremista islâmico Talibã, uma das principais facções do conflito e que recebeu forte apoio do serviço secreto paquistanês.
Após o atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, o governo estadunidense atribuiu o ataque à rede terrorista internacional Al-Qaeda, liderada por Osama Bin Laden, cuja base estava instalada no Afeganistão. Após a organização ter se recusado a cumprir a exigência do Conselho de Segurança da ONU de entregar Osama Bin Laden, os Estados Unidos deram início à invasão do Afeganistão, em 2002. 
Uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos invadiu o Afeganistão, no contexto da guerra contra o terrorismo internacional, derrubou o governo talibã e iniciou uma ocupação militar do país que duraria quase 20 anos. 
Na época, o Afeganistão estava sob domínio do Taleban, que havia implantado um regime repressivo sobretudo às mulheres, entre 1996 e 2001. Após a invasão, os Estados Unidos estabeleceram um novo governo e instalaram novas bases militares estadunidenses no Oriente Médio.
A partir de 2011, as tropas internacionais começaram a se retirar gradualmente do país e o ambiente de segurança se deteriorou ainda mais com a escalada de ataques de grupos insurgentes.
Em 2020, os Estados Unidos firmaram um acordo com o Talibã para a retirada de suas tropas do Afeganistão. Em contrapartida, o grupo afegão se comprometeu a cortar laços com o grupo terrorista Al-Qaeda. No ano de 2021, o último soldado estadunidense deixou o solo afegão. No entanto, o governo afegão, reconhecido internacionalmente, não possuía força militar para contrapor os insurgentes talibãs, e a retirada estadunidense ocorreu às pressas em meio aos rápidos avanços militares do grupo fundamentalista. 
A comunidade internacional criticou duramente a forma como se deu a retirada das tropas, que ficou marcada por tumultos, com milhares de afegãos que haviam colaborado com a presença estadunidense tentando escapar do país por medo de represálias por parte do Talibã. A guerra deixou um saldo de aproximadamente 176 mil mortos, sendo 46 mil civis e 3,5 mil integrantes da coalizão internacional.
Com a retirada do exército dos Estados Unidos do Afeganistão, o Talibã derrubou rapidamente o governo e retomou o controle central do país. Agora no poder, o grupo tem adotado medidas restritivas em relação à liberdade das mulheres e imposto uma interpretação mais estrita da lei islâmica a toda a população. Embora tenha tomado o controle do país, o Talibã tem sido contestado interna e externamente. O grupo vem sofrendo críticas por parte de outros países e de organismos internacionais por não respeitar os direitos humanos. Além disso, dentro de seu próprio território, o atual governo sofre contestação de outras organizações que buscam tomar o poder, como, por exemplo, o Estado Islâmico.

A GUERRA CIVIL SÍRIA

A disputa territorial entre Síria e Turquia sempre foi uma questão geopolítica importante no Oriente Médio. Depois da Primeira Guerra Mundial, a Turquia reivindicava o território de Alexandreta (atual província turca de Hatay). No entanto, a França, que administrava a região, manteve esse território sob domínio sírio. 
Em 1939, quando uma decisão política indicou que Hatay deveria pertencer aos turcos, foi a vez de os sírios não aceitarem, apesar de essa província ser habitada majoritariamente por turcos. As relações entre os países se deterioraram quando o presidente sírio Hafez al-Assad (pai do atual ditador Bashar al-Assad) apoiou o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) em sua causa, ou seja, a busca pela independência contra a Turquia.
Em 2011 teve início um conflito na Síria, originado nas revoluções da Primavera Árabe, nome dado ao período em que a população de algumas nações árabes se revoltou contra os governos de seus países, há anos no poder.
Os protestos na Síria foram contidos violentamente pelo governo de Bashar al-Assad e resultaram numa guerra civil. Bashar al-Assad representa uma etnia minoritária e de elite na Síria, a alauíta (setor do xiismo), enquanto a maioria da população (sunita) não se vê representada pelo governo.

Como reação às manifestações populares durante a Primavera Árabe, o ditador Bashar al-Assad, da Síria, iniciou violenta repressão armada, resultando em centenas de mortes. A repressão aos grupos políticos oposicionistas rapidamente evoluiu para uma sangrenta guerra civil, que opôs o exército nacional sírio contra diversas facções, como o Exército Livre Sírio, fundamentalistas islâmicos, curdos, entre outros.
Após um acordo entre Estados Unidos e Rússia, o governo de Bashar al-Assad, para evitar a intervenção internacional, comprometeu-se a assinar um tratado e permitir que o arsenal químico sírio fosse destruído. O governo sírio foi acusado de ter usado armas químicas contra seus opositores em 2013.
Enquanto os rebeldes afirmavam tentar acabar com a ditadura e implantar a democracia, o governo alegava defender o país de terroristas.
Um dos principais agravantes dentro do conflito sírio é a atuação do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que, inicialmente, lutava a favor dos opositores de Bashar al-Assad. O EI chegou a controlar efetivamente áreas do território sírio e, após a tomada de Raqqa, escolheu a cidade como capital de seu autoproclamado califado em 2014. A partir de 2016, o exército nacional sírio (apoiado pela Rússia) e outros grupos beligerantes realizaram ofensivas contra o grupo e reduziram amplamente o seu poder no país.
Há grande interesse geopolítico internacional na Síria, e potências estrangeiras como Estados Unidos, países europeus, Rússia, Turquia e Irã realizam intervenções militares no território do país.
Os russos e os iranianos apoiam o ditador sírio Bashar Al-Assad e lutam ao lado das forças governamentais. Os russos foram responsáveis por uma intensa campanha de bombardeios aéreos a grupos contrários ao governo, a qual foi marcada, sobretudo, pela destruição da cidade de Alepo, na época controlada pelos rebeldes.
Os Estados Unidos e países europeus, como Reino Unido e França, apoiam diversos grupos de oposição ao governo sírio, como as Forças Democráticas Sírias (FDS) e as forças curdas. Além disso, a imposição estadunidense se faz presente por meio bombardeios que têm como alvo instalações do governo, grupos radicais islâmicos e milícias apoiadas pelo Irã.
Em meio aos interesses externos, turcos e curdos travam disputas na faixa norte do território sírio, enquanto grupos terroristas como Estado Islâmico e Al-Qaeda tentam sobreviver ao novo arranjo territorial produzido pela guerra.
A Guerra Civil Síria já vitimou aproximadamente 500 mil pessoas desde o seu início em 2011, além de obrigar que mais de 5 milhões de pessoas deixassem as suas casas. As ações de tropas do governo sírio, de rebeldes e das potências estrangeiras não raro vitimam civis, o que contribui para o alto número de mortos e feridos no conflito.

CONFLITOS NA TURQUIA: TURCOS E CURDOS

País marcado por conflitos e disputas territoriais, a Turquia tem como uma de suas principais questões geopolíticas o conflito territorial com os curdos, povo que ocupa sobretudo áreas no oeste do país. Os curdos também ocupam áreas nos territórios de outros países, como Iraque, Irã, Síria, Geórgia e Armênia.

O povo curdo reivindica a criação de um país autônomo – o Curdistão – para a preservação de sua identidade cultural, prometido pelos britânicos desde o período colonial da região. No entanto, especialmente por ocupar uma área estratégica de nascentes de rios e reservas petrolíferas, sua autonomia é negada. Os curdos formam o quarto maior grupo étnico do Oriente Médio.

A luta pela autonomia do povo curdo começou a ser travada a partir da década de 1980, com a atuação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), e tem como objetivo formar o Estado curdo e abrigar sua população, que se mantém dispersa e reprimida por toda a região. O PKK já realizou ações armadas e ataques à bomba contra forças de segurança turcas, motivo pelo qual é considerado uma organização terrorista pelo país.

Outro problema enfrentado pela Turquia e que afeta diretamente os curdos se refere à disponibilidade hídrica e energética. Para solucioná-lo, o governo turco deu início ao projeto da Grande Anatólia, cujo objetivo é construir 22 represas e 19 usinas hidrelétricas ao longo dos rios Tigre e Eufrates. Além disso, o projeto também prevê a melhoria da infraestrutura urbana e rural em toda a área contemplada. No entanto, esse projeto prevê o alagamento de áreas do país ocupadas pelos curdos, que seriam obrigados a deixar suas terras. Outras críticas ao projeto vieram de países vizinhos, como Síria e Iraque, que protestaram por entenderem que ficariam privados de água. Já os sauditas e os israelenses apoiaram o projeto de construção do grande sistema, que inclui um duto que ligará as barragens do sudeste da Turquia a Israel e a Riad.

Além disso, a Turquia é um dos principais destinos de refugiados provenientes de países que passam por guerra civis e instabilidade política na região, como é o caso da Síria e do Iraque. A guerra civil na Síria, iniciada em 2011, é o principal fator de expulsão de pessoas na região e aproximadamente 3,5 milhões de sírios se encontravam refugiados no território

turco em 2021. O governo turco está diretamente envolvido no conflito e frequentemente facilita que os refugiados sírios abandonem seu território em direção aos países europeus como forma de exercer pressão geopolítica sobre a União Europeia.

O governo turco é criticado pela comunidade internacional por violar os direitos humanos por meio de ações que reprimem a liberdade de expressão e a democracia, atuando de forma autoritária em episódios que envolveram a prisão de jornalistas críticos ao governo, a repressão de movimentos LGBTQIAPN+ e a prisão de refugiados sírios pela polícia secreta turca, que os entrega ao país de origem.

Os curdos também foram fortemente reprimidos no Iraque, durante o governo de Saddam Hussein (1979-2003). Com a deposição de Saddam Hussein após a invasão estadunidense, havia a esperança de que os curdos se fixassem pacificamente nos territórios ao norte do país. A partir de 2006, o Iraque chegou a ter dois presidentes, que participaram da guerrilha curda durante o governo do antigo ditador. Receosa de que o fortalecimento curdo poderia atingir também seu território, a Turquia passou a atacar a região curda no Iraque.


Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...