domingo, 4 de agosto de 2024

Urbanização e problemas urbanos

 A urbanização nos séculos XX e XXI 

A urbanização intensificou-se a partir de 1950, principalmente em decorrência do crescimento populacional mundial, da industrialização em vários países – fato que atraiu populações do campo para as cidades em busca de emprego – e também em virtude de vários problemas nas zonas rurais que provocaram êxodos para as cidades.

Entretanto, com o crescimento populacional, problemas que afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas se agravaram: destinação inadequada do lixo, congestionamento do tráfego de veículos, falta de emprego, transporte público precário e sobrecarregado, poluição atmosférica e hídrica em rios que banham as cidades, redes de abastecimento de água e de esgoto insuficientes, pequena quantidade de escolas e hospitais para atender a população etc. A urbanização acelerada provocou também a ocupação desordenada no espaço urbano, por exemplo, com a localização de indústrias causadoras da poluição ambiental, incluindo sonora, ao lado de residências. Outro resultado grave foi a formação de bairros sem infraestrutura urbana necessária – redes de água e de esgoto, energia elétrica, pavimentação de ruas, coleta de lixo, escolas etc. –, além da expansão de moradias precárias em favelas, principalmente em países em que grande parte da população vive em condição de pobreza – no Brasil, em 2021, mais de 17 milhões de pessoas viviam em favelas. 

▪ As moradias precárias 

Embora um grande número de pessoas no mundo viva em moradias precárias, ninguém gosta de morar em habitações sem conforto e higiene, sem redes de abastecimento de água e esgoto, sem espaço suficiente para dormir, cozinhar, fazer refeições, tomar banho, reunir-se etc. 

É importante compreender as moradias precárias como forma de sobrevivência social, ou seja, não tendo onde morar em condições dignas ou apropriadas, a população de baixa renda constrói moradias em espaços fragilizados ou de risco – encostas de morros, margens de rios e córregos –, em terrenos baldios (terreno não aproveitado) e até mesmo sob viadutos e pontes. Compreendemos, assim, que há razões sociais, econômicas e políticas que levam o ser humano a morar nessas condições. Entre as razões políticas está a falta de investimento suficiente do poder público – os governos – no desenvolvimento de ações de prevenção e de medidas para retirar essa população da situação em que se encontra.

▪ A organização do espaço urbano 

Para ordenar a ocupação e o uso do espaço urbano por residências, estabelecimentos comerciais, indústrias, escritórios, parques públicos etc., os poderes Executivo e Legislativo do município, geralmente com participação de seus moradores, têm procurado criar um conjunto de princípios e regras que orientam a ação humana no espaço da cidade. No Brasil, esses princípios e leis recebem o nome de Plano Diretor, cuja elaboração está prevista na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Cidade (Lei no 10257/2001). É fundamental que haja a participação da população ao longo das etapas de elaboração do Plano Diretor, cujo objetivo é orientar as ações do poder público a fim de promover a ordenação dos espaços do município, a urbanização e a sustentabilidade, garantindo o direito à cidade e à cidadania de forma mais justa e a qualidade de vida à população local, tornando possível o desenvolvimento das funções sociais urbanas em sua plenitude, bem como de cada propriedade em particular.

Aterramento marítimo 

Em algumas cidades do mundo, em virtude de limitações impostas pelo meio físico – relevo montanhoso, rede hidrográfica e solo –, para a cidade crescer e ganhar espaço para acomodar suas construções, entre elas indústrias, vias de tráfego, parques públicos etc., as administrações das cidades – prefeituras, no caso do Brasil – usam técnicas de engenharia que possibilitam ocupar terras inundadas por pântanos ou mares. Isso ocorre principalmente naquelas muito povoadas, localizadas junto ao mar e com restrições de território para se expandir, construindo-se o aterramento marítimo ou aterro marítimo. Trata-se de um processo de depositar areia ou terra em áreas ocupadas pela água do mar, com uso de tecnologia, transformando-as em terras emersas para a agropecuária e para construções residenciais, comerciais, industriais e, até mesmo, para aeroportos, como é o caso do Aeroporto Haneda, no Japão.

O recurso do aterro marítimo para ampliar o espaço urbano e as áreas de agricultura tornou-se uma prática realizada por vários países, incluindo o Brasil. Ele foi implantado nos Países Baixos, Emirados Árabes, Coreia do Sul, Cingapura, Nova Zelândia, China, Estados Unidos e outros. No Brasil, destaca-se o Aterro do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro, que permitiu ampliar consideravelmente a faixa de terra litorânea, facilitando a implantação de vias de circulação de veículos e dificultando a invasão das águas do mar por ocasião das ressacas. É nesse aterro que se situa o Parque do Flamengo, importante área de lazer ao ar livre.

Problemas urbanos 

Em maior ou menor intensidade, as cidades brasileiras, como também as de muitos outros países, enfrentam vários problemas. Entre eles, os de saneamento básico, violência, condições precárias de moradia, má qualidade dos transportes urbanos, congestionamentos de trânsito, poluição atmosférica, sonora, dos rios e de aquíferos, serviços públicos deficientes – limpeza urbana, conservação de vias públicas, falta de escolas e hospitais –, além de outros. Todos esses problemas precisam ser resolvidos, pois comprometem a qualidade de vida dos moradores e geram inseguranças, como é o caso, principalmente, da violência urbana. Quanto ao saneamento básico ou ambiental, está estritamente relacionado à saúde da população. A sua falta ou cobertura incompleta é responsável pela ocorrência de várias doenças: febre tifoide, cólera, leptospirose, disenteria bacteriana etc.


Indústria e impactos ambientais

A necessidade cada vez maior de matérias-primas minerais, vegetais e animais, decorrente das revoluções industriais, do crescimento da população mundial e do modo de vida com base na sociedade de consumo (ou do desperdício), intensificou a exploração dos recursos naturais. Esse processo, que já dura cerca de 250 anos, causou profundas alterações no meio ambiente. Se, por um lado, a industrialização proporcionou inúmeros benefícios, por outro, causou e ainda causa, geralmente, danos ambientais.

Exploração dos recursos naturais e desmatamento 

Para atender ao crescimento populacional e ao intenso consumo e desperdício de produtos, principalmente pelas sociedades dos países desenvolvidos e classes abastadas dos países menos desenvolvidos, tem havido grande exploração de recursos naturais (para a fabricação desses produtos), com ameaça de esgotamento de alguns deles. Tomando como exemplo o desmatamento, observamos que ele tem ocorrido não somente pela expansão da agropecuária, mas também pela atividade industrial. Muitas indústrias, por exemplo, ainda empregam o carvão vegetal como fonte de energia. Entretanto, algumas empresas siderúrgicas exploram florestas plantadas para a produção de carvão vegetal, minimizando o desmatamento.

Mudanças climáticas

Não são apenas os automóveis, os caminhões e as queimadas os fatores responsáveis pela emissão de gases capazes de provocar alterações climáticas. O uso de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural) em atividades industriais e as usinas termelétricas, por exemplo, também colaboram para a emissão de gases de efeito estufa, poluindo a atmosfera.

▪ Poluição do solo e das águas

A atividade industrial pode gerar diversos detritos. Ao escoar com a água da chuva, esses detritos podem se infiltrar no solo e provocar a contaminação de lençóis de água subterrâneos; se são transportados pelas enxurradas, acabam poluindo rios, lagos e mares. Em alguns casos, há indústrias que despejam os resíduos diretamente em córregos ou rios, o que é proibido pela legislação ambiental em muitos países.

▪ Poluição sonora

O ruído provocado por máquinas de algumas indústrias pode incomodar os moradores vizinhos. Quando o barulho ou a poluição sonora ultrapassa determinado limite, é capaz de provocar danos ao aparelho auditivo, distúrbios nervosos e insônia.

ONGs e meio ambiente

A partir dos anos 1960 e 1970, a degradação ambiental passou a preocupar um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo. Com isso, surgiram movimentos sociais em prol do meio ambiente – os chamados movimentos ambientalistas. Muitos desses movimentos deram origem a organizações não governamentais (ONGs), das quais várias pessoas participam voluntariamente em defesa do meio ambiente. Hoje, existem ONGs que lutam por muitas outras causas: justiça social, igualdade de gênero, combate à pobreza, cuidados de saúde a vítimas de crise humanitária, respeito aos direitos humanos, direitos dos portadores de necessidades especiais, entre outras. Entre as ONGs que lutam pela defesa do meio ambiente destaca-se o Greenpeace (do inglês green, verde; e peace, paz), com atuação em muitos países. Quando o meio ambiente é agredido ou ameaçado pela ação inadequada de empresas (sejam elas industriais, sejam comerciais ou de serviços), os ativistas dessas ONGs protestam publicamente para que a população tome conhecimento dos desastres ambientais que podem ocorrer. Além disso, essas organizações pressionam os órgãos públicos, como o Ministério do Meio Ambiente, no caso do Brasil, e outras entidades governamentais, para que tomem providências, movendo, até mesmo, ações na justiça contra os agressores.
Graças às pressões das ONGs, leis têm sido elaboradas para a defesa do meio ambiente, visando à proteção de matas, rios, oceanos, mares e da atmosfera, estabelecendo, por exemplo, regras sobre a destinação adequada do lixo. No entanto, mesmo com medidas desse tipo, muito ainda precisa ser feito para evitar os impactos ambientais, a começar pela atitude individual. O respeito ao meio ambiente e os esforços para não destruí-lo devem ser um compromisso de todos para que as gerações futuras recebam um planeta saudável e reconheçam nas nossas atitudes um exemplo do que devem continuar fazendo.

Indústria: transformações sociais e econômicas

As mudanças na sociedade e na paisagem

As revoluções industriais provocaram grandes transformações nas sociedades, nos espaços geográficos e nas paisagens da Terra. Agora, você vai conhecer algumas dessas transformações.

▪ Formação de novas classes sociais

O nascimento da indústria moderna deu origem a duas classes sociais distintas: a burguesia industrial, proprietária das indústrias, que passou a competir com a burguesia comercial pelo poder político e econômico; e o proletariado ou operariado, formado por trabalhadores assalariados.

▪ Fortalecimento do trabalho assalariado e do capitalismo

Na manufatura, por exemplo, o oficial era um trabalhador assalariado, mas o aprendiz recebia, como pagamento pelo seu trabalho, apenas alimentação, vestuário e alojamento na casa do mestre de ofício. Com a Revolução Industrial, as relações assalariadas de trabalho se generalizaram e fortaleceram o capitalismo.

▪ Intensa urbanização

Urbanização é o processo em que o crescimento numérico da população urbana é maior que o da população rural. Nos países em que ocorreram as revoluções industriais, houve um grande processo de urbanização. Isso aconteceu porque, geralmente, as indústrias se instalam em cidades e, dessa forma, atraem populações em busca de emprego, provenientes das zonas rurais e de outras cidades. Devemos considerar também que, em alguns casos, a implantação de indústrias fora das cidades ocorre por causa da necessidade de proximidade de matérias-primas (minério de ferro e outras), fonte de energia (por exemplo, carvão mineral) e vias de transporte (rios e ferrovias). Além disso, a implantação de indústrias na zona rural deu origem à formação de novas cidades. E a mão de obra dessas indústrias recém- -implantadas provinha do próprio campo, pois as precárias condições de vida do camponês o levavam a se transformar em operário com a esperança de ter vida melhor.

Divisão social do trabalho

Com a industrialização e a consequente urbanização, a divisão social do trabalho tornou-se mais diversificada, mais complexa. Algumas pessoas passaram a trabalhar nos sistemas de abastecimento de água, na construção de redes de esgoto, na coleta de lixo, nos transportes urbanos, na pavimentação de ruas; outras, no comércio, nos bancos, em hospitais e escolas, por exemplo. Além disso, na própria indústria, a divisão do trabalho se acentuou. Cada operário tornou-se responsável por parte do processo de fabricação de um produto, com o objetivo de elevar a produção e, com isso, gerar maiores lucros para a indústria.

▪ Alterações na paisagem urbana

A industrialização alterou o espaço geográfico e a paisagem urbana. O crescimento das cidades provocou desmatamento, ocupação de vales fluviais, desvios e canalização de rios. Foram construídas edificações industriais (galpões e fábricas), estações ferroviárias, surgiram bairros nobres e operários, centros comerciais etc. Algumas ruas foram abertas e outras foram alargadas para permitir a passagem de automóveis, bondes e outros meios de transporte, alterando profundamente a paisagem urbana que existia até então. Durante a Primeira Revolução Industrial – aproximadamente entre 1750 e 1840, na Europa –, as condições higiênicas das cidades eram deploráveis: faltavam redes de água e esgoto, coleta de lixo, as moradias de operários eram geralmente pequenas e insalubres e a sujeira nas ruas de terra e lama favorecia a ocorrência de surtos de cólera.
Essas condições urbanas passaram a atingir os mais ricos e impulsionaram a aprovação de leis sanitárias na segunda metade do século XIX. Iniciou-se, então, a implantação de redes de água e esgoto, a coleta de lixo, a pavimentação de ruas, entre outras melhorias urbanas. O crescimento dos bairros centrais das cidades, que concentravam o comércio e grande circulação de pessoas, carruagens e, depois, automóveis e caminhões, resultou no deslocamento das residências de famílias ricas para bairros periféricos construídos para tal fim, com infraestrutura de água, esgoto etc.

▪ As cidades e a interação humana com a natureza

Com a intensa urbanização e a diversificação da divisão social do trabalho, a interação humana com a natureza alterou-se profundamente. Se antes o ser humano se relacionava diretamente com ela, obtendo da terra o seu sustento, a vida urbana o levou a uma nova situação, marcada por certo distanciamento em relação à natureza, por mudanças nos hábitos e no modo de vida. Em verdade, campo e cidade se complementam: o campo fornece alimentos e matérias-primas; e as cidades oferecem serviços – saúde, comércio, bancos etc. –, além de serem, geralmente, local da instalação de indústrias, que fabricam as mercadorias de que tanto os habitantes do campo como os das cidades necessitam.

▪ Capitalismo e cidade

Com a consolidação do sistema capitalista por meio das revoluções industriais, o espaço geográfico das cidades – formado por lotes, casas etc. – foi transformado em mercadoria de compra e venda. Pessoas ou famílias que não possuíam recursos financeiros suficientes para comprar ou alugar melhores parcelas do espaço urbano para morar passaram a buscar casas precárias ou em áreas periféricas das cidades, onde havia pouca infraestrutura urbana. Como resultado, muitas cidades observaram um grande crescimento de suas manchas urbanas. Até os dias atuais, a influência do valor da terra sobre a ocupação do espaço urbano pode ser percebida. De modo geral, as áreas mais centrais das cidades são mais valorizadas, pois há coleta regular de lixo, redes de água e esgoto, rede elétrica e iluminação e equipamentos de lazer, como praças, parques, cinemas e teatros. Enquanto isso, nas áreas menos valorizadas das cidades, como periferias e áreas de risco, os serviços e a infraestrutura urbana são insuficientes e não atendem satisfatoriamente à população.

▪ Concentração do poder econômico, financeiro e político

Desde o fim do século XIX, com a Segunda Revolução Industrial, formaram-se grandes e poderosas empresas industriais, comerciais e financeiras (bancos) nos países que primeiramente se industrializaram. Ao longo do século XX, outras importantes empresas se desenvolveram. Muitas delas montaram filiais em diferentes países, incluindo o Brasil. Essas empresas, que têm a sede (matriz) em um país e operam em outros, recebem o nome de transnacionais ou multinacionais. Com muito poder e recursos econômicos, tecnologia e conhecimento científico, elas exercem forte influência econômica e política no mundo.

sábado, 3 de agosto de 2024

Do artesanato à indústria moderna

O artesanato

O artesanato, desenvolvido nos núcleos familiares, é a forma mais antiga de transformação dos recursos naturais em objetos para satisfazer as necessidades humanas. Inicialmente, destinava-se a abastecer a própria família, com a fabricação de panelas, jarros, canecas, roupas, instrumentos de trabalho, entre outros objetos. Com o passar do tempo, porém, permitiu que as famílias trocassem entre si os utensílios excedentes de sua produção. Com o crescimento da população urbana e, consequentemente, o aumento da procura por produtos ou objetos, o artesanato familiar tornou-se insuficiente. Diante disso, ao longo do século XIV, em algumas cidades europeias começaram a surgir oficinas de artesãos, que deram origem à manufatura.

A manufatura

Diante da procura crescente por mercadorias do artesanato, alguns artesãos decidiram expandir o negócio, contratando oficiais e aprendizes de ofício (sapateiros, alfaiates, ferreiros, entre outros). Assim, a nova forma de produzir mercadorias deixou de ser individual e passou a ser executada por várias pessoas contratadas, assumindo, a partir de então, a feição de empresa – a manufatura. A comercialização dos produtos, realizada pelos comerciantes, tornou-se intensa e rentável, levando ao rápido crescimento das manufaturas na Europa. Isso permitiu que muitos proprietários investissem na criação e no desenvolvimento de novas e avançadas técnicas de produção, capazes de aumentar ainda mais a oferta de produtos e o lucro. Desse processo surgiu a indústria.

A indústria

Dá-se o nome de indústria ao conjunto de atividades produtivas que transformam matérias-primas em mercadorias para uso ou consumo tanto doméstico como em todas as atividades econômicas, até mesmo em outras indústrias.

Da indústria moderna – que teve início no século XVIII – até os dias atuais, o desenvolvimento tecnológico foi tão intenso que desencadeou as chamadas “revoluções industriais”.

Primeira Revolução Industrial

Com o investimento em novas técnicas de produção, muitas invenções começaram a surgir por volta de 1750, principalmente na Inglaterra (atual Reino Unido) e, posteriormente, nos países que hoje conhecemos como França, Alemanha, Rússia, Bélgica, Itália, Japão e Estados Unidos. A invenção de máquinas possibilitou ao trabalhador produzir uma quantidade maior de mercadorias em menor tempo, comparando-se à produção da manufatura. Nasceu, assim, a indústria moderna, na qual a produção passou da manufatura para a maquinofatura. Segunda Revolução Industrial Entre as principais invenções desse período, que se estende da primeira metade do século XIX até meados do século XX, destacam-se a locomotiva a vapor; o motor de combustão interna, que permitiu o aparecimento do automóvel; o telefone; o rádio; o cinema; a televisão. Nesse período, também ocorreram a descoberta e o aproveitamento de novas fontes de energia, como o petróleo. Tudo isso revolucionou a produção industrial, os transportes e as comunicações.

Terceira Revolução Industrial

Para alguns estudiosos, a Terceira Revolução Industrial ou Revolução Científica e Tecnológica teve início quando a ciência descobriu a possibilidade de explorar a energia nuclear do átomo. Para outros, caracterizou-se pelas grandes conquistas da eletrônica, no início dos anos 1970, que permitiram os avanços da informática e de novas técnicas de produção, incluindo o uso de robôs (robótica). É importante lembrar que o processo de industrialização não se desenvolveu de forma semelhante em todos os países e espaços geográficos e que essa desigualdade ainda é observada atualmente.

Quarta Revolução Industrial

Nessa fase, as indústrias caracterizam-se por empregar elevado nível de automação obtido por meio de uma combinação de recursos tecnológicos, por exemplo, a inteligência artificial, a robótica avançada, a conectividade entre equipamentos e dispositivos (internet das coisas), as redes informacionais, entre outros. Desse modo, a produção industrial torna-se mais autônoma, ágil e competitiva. Da mesma forma que o processo de industrialização não ocorreu de maneira semelhante em todos os países do mundo, o mesmo vem acontecendo com a Indústria 4.0. Países como Alemanha, Finlândia, Estados Unidos e Israel estão na dianteira desse tipo de indústria. Essa fase da revolução industrial exige mão de obra altamente especializada e qualificada. E aí está o desafio: ou os países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos superam esse obstáculo ou ficarão na rabeira do desenvolvimento científico-tecnológico e dependentes dos centros mais avançados. Percebe-se, assim, a importância de investimentos nos setores de educação e pesquisas científico-tecnológicas para a formação de profissionais tecnicamente cada vez mais capacitados para o trabalho nesse tipo de indústria.

Tipos de indústria

▪ Classificação de acordo com o destino da produção

Com base no destino dos bens produzidos, as indústrias se classificam em: indústrias de bens de consumo, indústrias de bens intermediários e indústrias de bens de produção. As indústrias de bens de consumo produzem para consumo ou uso pela população. Abrangem:

Indústria de bens de consumo não duráveis: produz bens usados ou consumidos apenas uma vez ou por pouco tempo, como calçados, roupas, alimentos etc.

Indústria de bens de consumo duráveis: produz bens usados por um período relativamente longo, como móveis, eletrodomésticos, computadores, automóveis etc. 
As indústrias de bens intermediários produzem matérias-primas para outros segmentos industriais. É o caso da indústria de extração e transformação de minérios, que produz matéria-prima para as indústrias automobilísticas e químicas, por exemplo. 
As indústrias de bens de produção, também chamadas de base ou de bens de capital, produzem máquinas e equipamentos destinados a outras indústrias, como as de máquinas têxteis, as de motores e, até mesmo, as usinas de energia elétrica etc.

Classificação de acordo com a tecnologia empregada

Em relação à tecnologia que empregam, distinguem-se dois tipos de indústria: a tradicional ou de trabalho intensivo e a moderna ou de tecnologia avançada.

Nas indústrias tradicionais, empregam-se tecnologias antigas e mão de obra numerosa. Esse tipo de indústria é encontrado em vários ramos (bebida, metalurgia, confecção etc.) e em empresas que, por diversas razões, não investiram na modernização.

Nas indústrias modernas, os progressos científicos e tecnológicos são intensamente aplicados à produção industrial. A mão de obra é altamente especializada, com produção e produtividade elevadas, destacando-se as indústrias de informática, de telecomunicação, aeroespacial e automobilística com o uso de robôs.

Trabalho humano e produtos 

Um produto é o resultado da atividade humana, física ou mental, isto é, o que fazemos, criamos ou construímos por meio de nosso trabalho. 
Para que algo seja um produto, no sentido econômico do termo, é necessário que as pessoas atribuam valor a ele e o comprem para uso ou consumo. Podemos afirmar, portanto, que consumo é o uso de um bem ou serviço por uma pessoa ou por uma empresa. Assim, o objetivo da produção humana é fornecer produtos ou serviços ao mercado de consumo. Conheça alguns exemplos de produtos a seguir. 
Quando o ser humano prepara a terra, planta e colhe vegetais, obtém como resultado produtos agrícolas: cana-de-açúcar, milho, arroz, feijão, soja etc. Assim, dizemos que os produtos agrícolas são o resultado da atividade humana, ou seja, do trabalho do ser humano na agricultura. 
 Os operários que participam da produção de um automóvel trabalham em diferentes tipos de indústria que fornecem produtos para as montadoras de automóveis. O automóvel é, então, um produto resultante do trabalho humano em diferentes indústrias.
O poeta também realiza um trabalho. O resultado de seu trabalho são os poemas; eles são o produto do trabalho intelectual do poeta. No entanto, esse trabalho só se torna um produto de valor econômico quando, por exemplo, os poemas são publicados em livros, que são distribuídos às livrarias para consumo dos leitores.

A pecuária no Brasil

A agropecuária brasileira exerce um papel importante para a economia nacional, gerando riquezas ao país por meio da comercialização no mercado interno e, principalmente, externo. Apesar da considerável produção associada a suínos (porcos), equinos (cavalos), ovinos (ovelhas e carneiros) e caprinos (bodes e cabras), os dois principais destaques nacionais na pecuária vêm do rebanho bovino (bois e vacas) e galináceo (galinhas e galos).
O Brasil no mercado internacional de carnes O Brasil é o segundo maior produtor e exportador de carnes do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Com o crescimento do consumo mundial de carne e a valorização desse produto no mercado internacional, os criadores são incentivados a aumentar a produção, resultando em transformações do uso da terra. Atualmente, cerca de um quarto da produção brasileira de carnes se destina à exportação. De acordo com o Atlas da Complexidade Econômica, em 2018, o Brasil foi responsável por 10,72% do fornecimento do produto para o mercado internacional.
O Brasil, em 2020, foi detentor do segundo maior rebanho bovino do mundo, atrás apenas da Índia – onde a criação de gado não é voltada para fins comerciais por questões religiosas. Segundo o IBGE, em 2020 o Brasil detinha o maior rebanho bovino comercial do mundo, com cerca de 218 milhões de cabeças, e era o segundo maior exportador de carne desse segmento do planeta, atrás dos Estados Unidos. Entre 2000 e 2020, os valores de exportação de todas as carnes produzidas no Brasil somaram US$ 265 bilhões.
Segundo o IBGE, em 2020, no Brasil, a relação entre o número de habitantes e o número de cabeças de gado bovino foi de quase 1 para 1, ou seja, havia aproximadamente uma cabeça de gado bovino para cada habitante (em 2020, a população brasileira foi estimada em cerca de 213 milhões de habitantes e o rebanho bovino foi de pouco mais de 218 milhões de cabeças). 

Tipos de produção 

A pecuária pode ser realizada de duas formas. 
Na pecuária extensiva os animais são criados soltos e se alimentam de pastagens naturais ou plantadas em áreas amplas. Entre as formações vegetais nativas no Brasil, o Pantanal e os Campos, na região Sul, são aproveitados como pastagens naturais para a alimentação do gado, principalmente bovino. No Pantanal, o gado precisa ser conduzido para locais mais altos nos períodos mais chuvosos, quando ocorre a cheia na região. 
Na pecuária intensiva, os animais vivem confinados em pequenas áreas, onde são alimentados com ração. Entre os recursos utilizados para acelerar o crescimento dos animais e aumentar a produtividade, estão a seleção genética e o uso de hormônios e suplementos na alimentação. Além disso, esse sistema exige a participação de profissionais especializados, como médicos-veterinários que acompanham a engorda dos animais. 
O uso de pastagens também pode ser associado ao confinamento dos animais. Nesses casos, o sistema de produção é classificado como semi-intensivo
No Brasil, aves e gado bovino e suíno formam os maiores rebanhos, sendo suas carnes um dos principais produtos de exportação. Além disso, a atividade pecuária é realizada para a obtenção de couro, lã, leite e ovos, entre outros produtos.
No Brasil, a pecuária bovina de corte, ou seja, destinada à produção de carne, é realizada predominantemente segundo o sistema extensivo e semiextensivo, com o objetivo de abastecer os mercados interno e externo. Esse sistema é praticado principalmente em grandes propriedades, nas Grandes Regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Na Grande Região Norte, a expansão da pecuária tem sido responsável por grandes desmatamentos da Floresta Amazônica, como já assinalamos. A pecuária intensiva é amplamente praticada nas Grandes Regiões Sudeste e Sul, onde o preço da terra é mais elevado, e visa, sobretudo, à produção de leite.

Principais rebanhos 

De acordo com o IBGE, em 2020, havia no país mais de 218 milhões de cabeças de gado bovino, que inclui bois, vacas e touros. A produção animal também possui importantes destaques na criação de aves, suínos, caprinos e ovinos. 

Bovinos 

Com rebanhos presentes em todo o território nacional, os estados da região Centro-Oeste merecem destaque. O gado leiteiro predomina no Pará, em Minas Gerais, em Goiás e nos estados da região Sul. Além de se destacar na criação de gado bovino, o Brasil possuía, em 2020, o terceiro rebanho mundial de gado suíno, superado apenas pela China e pelos Estados Unidos. A maior criação e produção de suínos é realizada de forma intensiva, principalmente nos estados de Santa Catarina, do Paraná e do Rio Grande do Sul.

Aves 

A produção comercial de aves e ovos tem maior destaque nos estados das regiões Sul e Sudeste. Em 2017, o Paraná respondia por 24,4% da produção nacional de aves, enquanto São Paulo concentrava um terço da produção de ovos do país.
Quanto à produção de carne de aves (galináceos, codornas, avestruzes, perus, etc.), o Brasil é o maior exportador, com 4,3 milhões de toneladas por ano (20,9%), tendo rendido ao setor US$ 6,6 bilhões em 2020. A avicultura de galináceos, em granjas, ocupa posição de destaque no Brasil por abastecer os mercados interno e externo.

Suínos 

A criação de suínos para produção de carne é realizada principalmente nos estados da região Sul, com maior parte da produção nacional, e em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro consomem parte relevante da produção de carne de aves e suínos realizada no oeste de Santa Catarina e Paraná. Em território nacional, o transporte desses produtos é realizado em ferrovias e rodovias. A produção exportada é escoada principalmente pelos portos de Paranaguá (PR) e Itajaí (SC).

Ovinos 

Os ovinos (ovelhas e carneiros) são animais de médio porte criados principalmente para a produção de carne e lã. Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Ceará e Piauí são os principais produtores no país. Juntos esses estados dão conta de 73% do rebanho nacional. 

Caprinos 

A região Nordeste tem destaque na produção de ovinos e caprinos (cabras e bodes). Segundo o Censo agropecuário de 2017, cerca de 93% do efetivo de ovinos está em estados nordestinos, sendo 28,9% na Bahia, 22,4% no Piauí, 17,1% em Pernambuco e 10,7% no Ceará. A carne, o leite de cabra e o couro desses animais são aproveitados comercialmente.

 Bubalinos 

O termo “bubalino” se refere aos búfalos, animais de grande porte presentes principalmente nos estados do Pará e Amapá. Os búfalos são usados no transporte de carga e pessoas e na produção de leite e queijo. Introduzidos no Brasil no século XIX, foram domesticados e atualmente fazem parte da cultura e do turismo regional da ilha de Marajó, no Pará.

Desafios e perspectivas comerciais 

Como vimos, a pecuária está presente em todas as unidades federativas. A distribuição da produção exige a integração dos principais centros produtores e consumidores, que ocorre principalmente por meio de rodovias. Sua expansão resultou em maior complexidade da atividade, que hoje incorpora grandes abatedouros, centros industriais de processamento de carne e frigoríficos, formando uma extensa cadeia produtiva. O avanço da pecuária sobre áreas da Floresta Amazônica, causando desmatamento, e o rigor dos mercados consumidores internacionais têm motivado a criação de certificados que atestem a origem da carne, com o objetivo de garantir que a produção siga padrões sanitários adequados, sem gerar graves impactos ao meio ambiente.
Apesar da importância econômica gerada pelo setor pecuarista, muitos impactos ambientais são gerados em decorrência da criação de animais em grande escala. No caso da bovinocultura, é comum que haja a necessidade da retirada da vegetação original de determinada localidade para abertura ou ampliação das pastagens. Outro impacto ambiental é a intensificação do efeito estufa. O gado é responsável por 15,4% das emissões dos gases de efeito estufa, gerados pela eructação (arroto) e pela decomposição dos dejetos (esterco), além de outros fatores.

Pecuária orgânica 

O aumento da produção pecuária foi acompanhado por preocupações quanto às condições de vida dos animais. A busca por maior produtividade, muitas vezes, resulta em processos de criação inadequados, como confinamento excessivo, criadouros lotados e uso intensivo de hormônios e medicamentos. Como alternativa, formas de produção identificadas como orgânicas vêm se desenvolvendo, nas quais se evitam o estresse dos animais e o uso de substâncias artificiais no trato do rebanho e no cultivo das pastagens. De modo geral, esses produtos chegam aos consumidores com maioes custos, tornando-se inacessíveis às parcelas mais pobres da população. 
Na produção orgânica, são consideradas ainda as condições de vida e a atividade dos trabalhadores rurais. Segundo a Embrapa, existem algumas características importantes na pecuária orgânica, entre elas garantir que todos que vivam na propriedade tenham boa qualidade de vida; conservar a biodiversidade; prezar o bem-estar animal; garantir acesso à água e a alimentos adequados; controlar os procedimentos realizados no rebanho e garantir ambientes adequados do ponto de vista de lotação e sombreamento.

A pecuária

A pecuária é fundamental para a humanidade. Ela consiste em uma atividade econômica que envolve a criação e a comercialização de animais para a produção de alimentos (carne, ovos, leite, mel, etc.) e de produtos não alimentares (lã, couro, pele, penas, etc.), para o transporte de cargas ou para fins recreativos (passeio a cavalo e vaquejada, por exemplo). Alguns animais, como o boi, o cavalo e o porco, também fornecem fertilizantes orgânicos (naturais), que auxiliam no desenvolvimento do solo e, consequentemente, na melhor evolução das plantas. 

As formas de criação de gado

A pecuária reúne as atividades relacionadas à criação de gado para fins domésticos ou comerciais. Distinguem-se, pelo menos, duas formas principais de criação de gado: o pastoreio, que compreende o nomadismo pastoril e a transumância; e a pecuária de sistema extensivo, semiextensivo ou intensivo.

O pastoreio 

O pastoreio é um modo de vida que se baseia na exploração de pastagens naturais, onde a criação de animais é realizada em áreas sem uso de cercas e sem controle da alimentação. Há dois modos de pastoreio: o nomadismo pastoril e a transumância.

O nomadismo pastoril 

O nomadismo é o modo de vida em que um grupo humano se desloca de um lugar para outro para manter sua subsistência. No caso do nomadismo pastoril, o grupo humano desloca-se com seu rebanho em busca de pastagens para os animais. É esse o caso de alguns grupos de lapões, povo que vive no extremo norte da Europa (Suécia, Noruega, Finlândia e Rússia), e do povo nenets – da etnia samoieda –, que habita o norte da Rússia. Esses grupos praticam o pastoreio nômade da rena.

A transumância 

O modo de pastoreio que se caracteriza pelo deslocamento periódico de rebanhos de acordo com o clima chama-se transumância. Em geral, esse deslocamento ocorre entre pastagens em regiões montanhosas e pastagens em planícies – no verão, as montanhas tornam-se uma alternativa às planícies, atingidas pela seca, e, no inverno, as planícies constituem melhor área para criação, enquanto as montanhas ficam cobertas pela neve. Na transumância, apenas os pastores se deslocam com o rebanho. As famílias permanecem em suas casas, dedicando-se à pequena agricultura. No nomadismo pastoril, visto anteriormente, todo o grupo humano se desloca com o rebanho.
A prática dessas modalidades de pastoreio tem sido cada vez mais rara em razão do avanço das atividades econômicas modernas, como a indústria e a mineração. Ao chegar a regiões de pastoreio, essas atividades acabam empregando a população, que, aos poucos, tem abandonado as pastagens.

A pecuária 

A pecuária abrange a criação de animais de grande porte – como bois (bovinos), cavalos (equinos), búfalos (bufalinos), mulas e burros (muares) e asininos (jumentos ou jegues, como são chamados no Nordeste do Brasil) – e animais de pequeno porte – como porcos (suínos), ovelhas (ovinos), cabras (caprinos), aves (avícolas) e abelhas (apícolas). Vamos estudar mais detalhadamente os sistemas de criação do gado bovino por sua importância no fornecimento de alimentos (carne, leite e derivados) e de matérias-primas para uso industrial. Conheça a seguir cada um desses sistemas.

Os sistemas de criação da pecuária 

Quanto ao sistema de criação de animais, há, basicamente, três tipos convencionais: extensivo, intensivo e semiextensivo
A pecuária extensiva é praticada, em geral, em regiões de baixa densidade demográfica e com grande disponibilidade de terras. O rebanho é criado solto no campo e se alimenta principalmente de pastagens (naturais, cultivadas ou mistas). Os animais destinam-se aos abatedouros para a produção de carne e há aproveitamento do leite das fêmeas. 
A pecuária semiextensiva é uma prática em que se associam as pastagens e o confinamento para a engorda dos animais. Confinado nos períodos de estiagem, o rebanho se destina, geralmente, a abastecer o mercado de carne. Quando a terra é um fator de produção de alto preço, pratica-se a pecuária intensiva. Nesse sistema, empregam-se técnicas modernas para aumentar a produtividade mediante, por exemplo, a seleção de raças, o fornecimento de forragens e rações que possam melhorar a alimentação do rebanho e a concentração do maior número possível de animais por unidade de área. Esse sistema é aplicado, principalmente, na criação de gado leiteiro, em que os animais ficam estabulados, isto é, confinados em estábulos.


Brasil: espaço agrícola e o uso de terras

A agricultura é a prática de cultivar o solo para a produção de vegetais, uma das atividades responsáveis pela produção de alimentos e de matérias-primas para muitas indústrias.
A palavra agricultura vem do termo latim agricultūra, que significa “cultivo do solo”. Essa atividade, que se desenvolveu ao longo da história da humanidade, mais especificamente cerca de 10 mil anos antes da era cristã, traz um conjunto de técnicas utilizadas para trabalhar o solo e cultivar plantas. É por meio da agricultura que obtemos a maior parte dos alimentos (frutas, cereais, verduras, legumes, etc.) e dos tecidos (a fibra utilizada na produção de muitos tecidos origina-se do algodoeiro, por exemplo.
Para que seja possível o pleno desenvolvimento de atividades agrícolas, uma combinação de fatores naturais deve ser considerada. O clima é colocado como um dos fatores naturais importantes para a agricultura. Assim como acontece com a maioria das espécies animais, que têm ambientes climáticos próprios para o desenvolvimento, as plantas também se estabelecem melhor onde as condições de temperatura, insolação, umidade e volume médio de chuvas são apropriadas para cada espécie. A condição de fertilidade do solo influencia diretamente na produtividade agrícola e na escolha da cultura a ser praticada. Para que seja realizada uma análise correta do solo, profissionais como o técnico agrícola e o engenheiro agrônomo são fundamentais. Essa análise indicará o grau de fertilidade do solo e quais intervenções (manejo) serão necessárias para um plantio produtivo. 
Já o relevo pode influenciar na atividade agrícola de várias formas. Em terrenos mais acidentados, a lavagem dos nutrientes do solo pela força de escoamento da água (lixiviação) pode reduzir a fertilidade. As técnicas de terraceamento e curvas de nível amenizam esse fenômeno. Relevos acentuados também podem dificultar o emprego de máquinas na lavoura, reduzindo o ritmo de preparo do solo e da colheita.

Os fatores e os sistemas de produção na agricultura 

Além das condições naturais, existem outros fatores que influenciam a prática agrícola. Para a agricultura, devemos considerar três fatores de produção: a terra, o trabalho e o capital. 
• A terra é a área de solo onde são cultivadas as plantas. Pode ser de grande, média ou pequena extensão. 
• O trabalho é a atividade humana aplicada à produção e varia de acordo com a forma de organização das atividades em determinado momento e local. A qualidade do trabalho depende, ainda, do conhecimento técnico da mão de obra empregada. 
• O capital abrange, além do dinheiro investido, os instrumentos de produção: foices, arados de tração animal, tratores, colheitadeiras, semeadeiras, adubadeiras, fertilizantes, agrotóxicos etc. Quando, numa unidade agrícola, a terra é o principal fator de produção, e não o capital, dizemos que se trata de um sistema agrícola de produção extensiva ou agricultura extensiva. Esse tipo de produção se caracteriza pelo uso de técnicas tradicionais e apresenta, geralmente, baixa produtividade por unidade de área cultivada. Entretanto, quando o principal fator de produção é o capital, dizemos que se trata de um sistema agrícola de produção intensiva ou agricultura intensiva, caracterizado por intenso uso de máquinas e implementos agrícolas, adubos, equipamentos para irrigação, sementes e mudas selecionadas etc., além de elevada produtividade.

O uso da terra pela agropecuária 

O uso da terra corresponde à forma como o espaço geográfico é aproveitado pelas sociedades humanas. Podemos distinguir, por exemplo, o uso urbano – com casas, edifícios, ruas, avenidas, indústrias, comércios, escritórios, viadutos etc. –, o uso rural – por agricultura, criação de gado, silvicultura etc. –, o uso de áreas de vegetação natural – por extrativismo vegetal, animal etc. –, além do uso de áreas de mineração e outros.
Considerando o tipo de produção, as técnicas utilizadas e o destino dos produtos, a agricultura pode se diferenciar entre si das maneiras a seguir. 
Agricultura tradicional: as técnicas empregadas são tradicionais ou rudimentares, com a utilização de instrumentos manuais como o arado e a enxada. Esse modo de produção faz pouco uso de equipamentos mecânicos, agrotóxicos e fertilizantes. Por ser bastante artesanal, em muitos casos, apresentam baixa produtividade e menor impacto ambiental.
Agricultura moderna: as técnicas são modernas, utilizando sistemas de irrigação e maquinário especializado, como arado mecânico e colheitadeiras. Esse modo de produção utiliza pouca mão de obra, além de fertilizantes, sementes melhoradas, entre outros produtos tecnologicamente mais avançados.
Agricultura comercial: os produtos são destinados ao comércio nacional e internacional, por isso são produzidos em grande quantidade, além de utilizar técnicas mais modernas de produção que aumentam a produtividade. 
Agricultura familiar: os produtos são destinados ao consumo das famílias produtoras, e parte é comercializada pelos agricultores em feiras livres ou estabelecimentos comerciais mais próximos. De modo geral, a agricultura familiar faz uso de técnicas tradicionais de cultivo e é responsável pela maior parte da alimentação da população brasileira.

Brasil: o espaço agrário 

Se observássemos um mapa do uso da terra no Brasil por volta de 1950, veríamos que ele seria muito diferente do mapa dos dias atuais, como o representado nesta página. Até 1950, não havia ocorrido a expansão da fronteira agropecuária para o interior do território brasileiro. A partir dos anos 1950, a agropecuária expandiu-se no interior do Brasil e formaram-se grandes fazendas de agricultura e pecuária. Isso ocorreu por meio de grandes desmatamentos e queimadas do Cerrado e da Floresta Amazônica, processo que se mantém nos dias atuais. Somam-se a isso conflitos, muitas vezes com a ocorrência de mortes, entre alguns fazendeiros e grupos indígenas, populações ribeirinhas e outros protagonistas sociais que foram expulsos de suas terras. Em virtude de o território brasileiro estender-se na direção norte-sul, desde as áreas de baixa latitude até as de média latitude, e apresentar variações regionais de precipitação (chuva), são cultivadas no país plantas de clima tropical – como café, cana-de-açúcar, cacau e amendoim – e de clima temperado – aveia, trigo, centeio, maçã, pera etc. Na geografia agrícola do Brasil, podemos reconhecer culturas especializadas e grandes culturas comerciais.

Culturas especializadas 

As culturas especializadas são aquelas que, condicionadas principalmente pelo clima e solo, encontram em certas áreas do território a possibilidade de obter maior produção e produtividade (dendê, coco, caju, pera, palmito, pimenta-do-reino, juta, batata etc.). As culturas especializadas são importantes tanto do ponto de vista social como do econômico, pois são realizadas, geralmente, com base no trabalho familiar. Representam, assim, fonte de rendimento para famílias de pequenos proprietários de terra e pequenos arrendatários.

Grandes culturas comerciais 

 Ao contrário das culturas especializadas, as grandes culturas comerciais (café, cana-de-açúcar, arroz, feijão, laranja, soja, algodão, milho etc.) ocorrem em vastas áreas, nas diversas regiões do Brasil, demonstrando o enorme potencial agrícola do país. Nas últimas quatro décadas, as culturas comerciais se modernizaram. Sua elevada produtividade decorre do uso de tecnologia e técnicas agrícolas avançadas (seleção de sementes e mudas, correção e adubação do solo, mecanização, assistência agronômica etc.). Como consequência, o Brasil ocupou, em 2021, posições de destaque no mercado mundial: é maior produtor de café, cana-de-açúcar, cítricos e soja. Para manter a alta produtividade, essas culturas empregam agrotóxicos em larga escala. Se, por um lado, essas substâncias combatem insetos, fungos e outros seres que prejudicam as plantações, por outro, o uso excessivo contamina o solo, as águas e o ar e mata outros seres vivos, podendo também intoxicar o trabalhador rural, caso as aplique sem proteção adequada.
Custos ambientais e sociais das atividades agropecuárias 
O desempenho alcançado pelo Brasil em algumas culturas comerciais veio acompanhado, em muitos casos, por um elevado custo ambiental. O avanço da cultura da soja em direção à Amazônia, por exemplo, além da pecuária bovina e da exploração madeireira, tem sido causa de desmatamento na Floresta Amazônica. Enquanto a soja se expande pelo norte do estado de Mato Grosso, a pecuária bovina avança também pelo norte desse estado e pelo sul e sudoeste do Pará. No caso da cana-de-açúcar, vários estudos apontam problemas sociais e ambientais relacionados à produção de açúcar e álcool no país. Entre os impactos ambientais gerados pelo setor sucroalcooleiro estão a emissão de poluentes, que ameaça os recursos hídricos, a qualidade do ar e a biodiversidade, e o cultivo em áreas de preservação ambiental por parte de alguns produtores. Um dos problemas sociais do setor sucroalcooleiro refere-se às precárias condições de trabalho e à má remuneração de grande parte dos trabalhadores rurais, em diversas regiões brasileiras. 
O avanço da cultura da cana-de-açúcar também resulta, em alguns casos, em ameaças às comunidades indígenas. Isso porque a crescente demanda de matéria-prima pelas usinas de açúcar, etanol e biodiesel tem estimulado a expansão das áreas de cultivo, incluindo as terras indígenas em processo de reconhecimento pelo governo brasileiro. A lentidão do reconhecimento de terras indígenas contribui para a ocorrência de violentos conflitos entre indígenas e produtores rurais. O trabalho análogo ao de escravo é outro problema presente no campo brasileiro. Em 2021, segundo a Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério do Trabalho e Previdência do Brasil, foram libertadas dessa condição um total de 1015 pessoas em vários ramos de atividades, incluindo agricultura e pecuária. 

A questão da terra no Brasil 

Desde a chegada dos portugueses às terras que viriam a ser o Brasil, o acesso à propriedade da terra para cultivar ou criar gado foi muito desigual entre a população. De início, o rei de Portugal era o dono das terras e as doava a quem tivesse prestado relevantes serviços à Coroa portuguesa. Foram doadas, assim, grandes extensões de terras para o cultivo e a criação de gado, as chamadas sesmarias. Apesar de o regime de sesmarias ter sido interrompido em 1820, a grande propriedade rural foi mantida, pois seus proprietários, com forte influência política, conseguiram aprovar leis que garantiram os seus privilégios de acesso à terra. Essa é a raiz histórica da implantação de extensas propriedades rurais, chamadas latifúndios, que ainda existem no Brasil. Há que se distinguir, porém, os latifúndios improdutivos – que pouco ou nada produzem –, encontrados principalmente nas Grandes Regiões Nordeste e Norte, dos latifúndios produtivos. Estes são explorados pelas grandes culturas comerciais e pela pecuária moderna e estão integrados ao agronegócio.

▪ Concentração fundiária 

Existe no Brasil uma concentração fundiária (do latim fundus, fundi, fazenda), ou seja, a concentração de terras nas mãos de poucos proprietários rurais. É uma característica histórica da agropecuária brasileira. Observe no gráfico como se distribuíam os estabelecimentos agropecuários segundo os grupos de áreas em 2017. Pode-se dizer que, no Brasil, muita gente tem pouca terra para cultivar e pouca gente possui muita terra. Trata-se da segunda maior concentração fundiária do mundo, só perdendo para o Paraguai.

Movimentos dos trabalhadores rurais 

Diante da dificuldade histórica de acesso à terra por parte de milhões de trabalhadores rurais, surgiram movimentos sociais que reivindicam a reforma agrária. Esses movimentos sociais, entre os quais se destaca o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fundado em 1984, realizam acampamentos na beira de estradas, ocupação de terras improdutivas, passeatas, protestos etc. com a finalidade de pressionar os governos. Como resultado, assentamentos rurais têm sido realizados. Mas, para que as famílias assentadas tenham condições de trabalhar a terra, elas necessitam de crédito, assistência agronômica, estradas para o escoamento da produção, rede de energia elétrica, além de outras condições básicas. Como na maioria desses assentamentos várias dessas condições não foram implantadas, muitas famílias não obtiveram sucesso no trato da terra.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...