Os fósseis brasileiros
Sambaquis são volumosos
montes de conchas e esqueletos de peixes, associados a objetos de pedra, às
vezes com mais de
Utensílios
primitivos
também foram encontrados em diversos pontos do litoral e do interior do Brasil:
pontas de flechas, machados e outros instrumentos, além de potes de barro,
alguns decorados e usados como urna para os mortos, dentro dos quais foram achados
esqueletos.
Pinturas
rupestres,
compostas de desenhos de figuras humanas e de animais, cenas de caça e pesca,
foram encontradas nas paredes de grutas e cavernas e em lajes de pedras em
lugares abertos. São famosas as pinturas rupestres de cavernas
Embora, para efeitos de estudo, a Pré-história tenha terminado com o surgimento da escrita, no Brasil e em alguns outros pontos no mundo, muitos grupos indígenas têm até hoje condições primitivas de vida, semelhantes às do período paleolítico.
No século XV,
época das grandes navegações, conquistadores e exploradores portugueses e
espanhóis aproveitaram-se das condições primitivas dos indígenas americanos
para dominá-los com facilidade. Possuidores de técnicas e armas mais
eficientes, os europeus subjugaram a América (incluindo o Brasil), sujeitando-a
nos séculos seguintes a uma intensa exploração econômica e ligando-a
definitivamente à história europeia.
Ainda hoje é
comum considerarmos os índios como os europeus os enxergavam: gente
incivilizada, selvagem, primitiva, atrasada, ignorante, bárbara.
Ainda há muitas
perguntas sem respostas sobre essa longa história dos povos indígenas anterior
à chegada dos portugueses. Os indígenas não conheciam a escrita e, para
sabermos como viviam, que mudanças ocorreram entre eles, quais eram suas
ideias, possuímos apenas uma forma de documento: a cultura material. Isto é, o
que sobrou de suas casas, os enfeites que usavam, as ferramentas de trabalho,
as armas, os restos de comidas e as fogueiras, as pinturas ou sinais que
deixaram nas paredes de cavernas, os mortos que enterraram.
Muitos povos
diferentes
Os portugueses tiveram menor contato com
os povos que habitavam o interior. Esses povos eram chamados pelos portugueses
de tapuias.
Apesar dessas denominações, é importante
destacar que a população nativa encontrada pelos portugueses estava organizada
em diversos povos, com culturas muito diferentes. Cada grupo tinha, por
exemplo, a sua língua, a sua crença, o seu modo de trabalho e a sua organização
familiar.
As diferenças existentes entre os povos indígenas daquela época podem ser percebidas até os dias de hoje. Para isso, basta observar os descendentes desses povos que conseguiram sobreviver à colonização portuguesa e aos séculos de exploração.
Os povos indígenas do Brasil
Hoje, para estudar as populações
indígenas, é comum agrupá-las conforme as semelhanças existentes entre suas
línguas. Isso permite reunir povos com características culturais comuns. Assim,
são classificados quatro troncos linguísticos principais: o tupi, o jê,
o aruaque e o karib. Existem ainda muitas línguas, como a dos
tucanos e a dos ianomâmis, que não foram classificados nesses troncos.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil
em 1500, os homens que habitavam as terras brasileiras se agrupavam em várias
nações ou tribos. As principais eram:
- tupi-guarani: espalhava-se
por quase todo o litoral atlântico e várias áreas do interior;
- gê ou tapuia: ocupava o
Planalto Central Brasileiro;
- nuaruaque: ocupava parte
da Bacia amazônica até os Andes;
- caraíba: ocupava o
norte da Bacia Amazônica.
Finalmente entre os anos 4000 a. C. e
3000 a. C., o homem do Brasil descobriu a agricultura, depois de praticar uma
economia baseada na caça e na coleta de alimentos durante mais de 40 mil anos.
Com a agricultura, várias comunidades
primitivas do Brasil passaram a se organizar de forma semelhante às comunidades
primitivas do período Neolítico na África, Ásia e Europa.
Os meios de produção que os homens
dispunham – a terra cultivável, os campos, os rios – pertenciam a todos.
Apesar de toda essa diversidade, existem
elementos culturais semelhantes, como a organização em tribos.
Uma tribo é um grupo de famílias que fazem sua aldeia numa mesma área, falam a mesma língua, tem os mesmos costumes e um sentimento de união entre si.
Trabalho e família
A maior parte dos povos indígenas vive
da coleta de frutos da floresta (cacau, maracujá, jabuticaba, araçá, etc.), da
agricultura (mandioca, milho, batata-doce, abóbora, amendoim, etc.).
Geralmente, as roças pertencentes a toda
a tribo, e alimentos colhidos são distribuídos entre todos. Enquanto esperam a
colheita, os índios fazem objetos de cerâmica e utensílios para o trabalho.
Cada índio costuma ter seus próprios instrumentos de trabalho, bem como seu
arco e suas flechas.
Cada tribo tem seu jeito de distribuir
as tarefas entre seus membros. Há trabalhos que são feitos pelas mulheres e
outros são feitos geralmente pelos homens. As mulheres geralmente fazem as
seguintes tarefas: o trabalho agrícola, desde o plantio até a colheita; a
coleta dos frutos da floresta; a fabricação de farinha; a comida e os demais
serviços domésticos; o cuidado das crianças. Os homens fazem o trabalho mais
pesado: a derrubada do mato e a preparação da terra; a caça e a pesca; a
fabricação de canoas; a construção das casas. Além disso, são tarefas
masculinas as expedições guerreiras; a proteção das mulheres, crianças e
velhos.
Os casamentos quase sempre são
realizados entre os membros da mesma tribo. Algumas tribos permitem apenas a monogamia,
isto é, o casamento de um homem com uma só mulher e de apenas uma mulher com
apenas um homem; já em outras sociedades indígenas, a poligamia – um homem
casado com várias mulheres – ou a poliandria – uma mulher casada com
vários homens – também são permitidas.
Os pais não castigavam os filhos, pois
havia entre irmão um forte laço de amor e respeito. As meninas brincavam e
ajudavam as mães nos afazeres domésticos e no cuidado com os irmãos menores. Os
meninos, com seus arcos e flechas, caçavam pequenos animais, imitando os mais
velhos.
Quando os meninos atingiam a puberdade, iam para a Casa Sagrada era um local eminentemente masculino e as mulheres estavam proibidas de ali entrar.
Guerreiros e artistas
A guerra era uma atividade sagrada,
necessária e desejada. Os homens faziam guerras por vingança, para garantir a
superioridade masculina na comunidade e para conquistar terras férteis e campos
onde a caça era mais abundante.
Os índios também eram extraordinários artistas. Sua capacidade artística se reflete na música, na dança, na confecção de redes, esteiras e cestos com desenhos de singela beleza, na cerâmica, na pintura do corpo para festas, para rituais religiosos e guerreiros.
Os povos da floresta
Há cerca de 6 mil anos a imensa área
ocupada hoje pelo Brasil começou a ganhar sua conformação atual: a grande
floresta tropical amazônica do Norte, os campos do sul, o cerrado do
Centro-Oeste, a mata Atlântica cobrindo o litoral. Durante milênios, os humanos
desenvolveram uma série de recursos para enfrentar esse novo meio ambiente.
Sempre agrupados em pequenas famílias,
vivendo da caça de pequenos animais e da coleta de tudo o que fosse comestível,
povos diferentes criaram culturas específicas em cada área do atual território
brasileiro. Mudavam sempre de lugar quando a caça ou os frutos silvestres
acabavam. É o que se chama de vida nômade ou nomadismo. Como estavam sempre se
mudando, carregavam poucos objetos – apenas o essencial para sobreviver.
Nas florestas do Sul, por exemplo,
surgiram povos que os arqueólogos denominam umbus. Não se sabe que
língua falavam nem se formavam um único povo. Entre eles havia os que habitavam
as cavernas e os que moravam a céu aberto. Nos vestígios que deixaram foram
encontrados instrumento de pedra fabricados com muito cuidado. Inventaram a
boleadeira (arma de caça) e o arco e a flecha, que difundiram entre os povos da
região.
Os povos que moravam nas florestas
subtropicais do Sudeste, chamados humaitás, desconheciam o arco e a
flecha (ou, pelo menos, a flecha com ponta de pedra). Gostavam das matas
próximas aos rios e colhiam pinhão (fruto do pinheiro) e moluscos (animais com
conchas) de água doce. Os humaitás não eram tão hábeis como os umbus na
fabricação de instrumentos de pedra, mas usavam uma espécie de faca feita desse
material, parecida com um bumerangue.
Na região central do território que atualmente corresponde ao Brasil, os primeiros habitantes viviam sobretudo em cavernas ou sob abrigos de rochas. Também se sabe pouco sobre eles; é muito provável que durante milênios tenha havido diversas migrações, o surgimento e o desparecimento de línguas e de uma série de outras mudanças. Em quase todas as cavernas que habitaram, contudo, deixaram pinturas nas paredes, cuja função e significado nem sempre conseguimos entender.
Os povos das águas
Com a elevação do nível do mar, há cerca
de 6 mil anos, o litoral que se estende do atual estado do Espírito Santo ao
Rio Grande do Sul passou a ser ocupado por povos que se alimentavam de frutos
do mar. Embora também caçassem pequenos animais (macacos, antas, gambás,
tartarugas, por exemplo) e coletassem frutos silvestres, esses povos comiam
principalmente peixes e moluscos (ostras, mexilhões, berbigões, etc.). Como
essa fonte de alimentos nunca se esgotava, permaneciam no mesmo lugar, perto da
praia e, de preferência, próximo a algum rio.
As conchas dos moluscos eram abertas no
fogo e abandonadas no local, acumulando-se ao longo do tempo. O consumo era tão
grande que as conchas acabaram formando pequenas montanhas chamadas sambaquis
-, onde esses povos erguiam suas cabanas e enterravam seus mortos. Destruído recentemente,
o sambaqui de Garopaba, em Santa Catarina, media trinta metros de comprimento e
cem metros de largura.
Para produzir seus instrumentos, os
povos dos sambaquis lascavam as pedras com uma espécie de formão e as
esfregavam até deixa-las lisas e regulares. A maioria de seus objetos, porém,
era constituída de ossos. Com esse material faziam até mesmo uma espécie de
panela, além de enfeites agulhas e anzóis.
É possível que os sambaquis tenham sido
habitados por populações numerosas, que cresceram durante quase 5 mil anos. Entretanto,
quando os portugueses chegaram, elas estavam desaparecendo, derrotados por
povos que sabiam cultivar a terra.
Os povos da terra
A agricultura apareceu há
aproximadamente 4 mil anos nas terras do que viria a ser o Brasil. Essa mudança
foi muito importante porque, para se alimentarem, cultivando a terra, os seres
humanos deixaram de depender do que encontrara na natureza. Derrubando florestas,
plantando raízes e sementes e esperando o momento propício de colher, as
populações das aldeias melhoraram sua alimentação. Como consequência, não
precisavam mais mudar constantemente de lugar e se tornaram mais numerosas.
O cultivo da terra já era conhecido por
civilizações de agricultores da cordilheira dos Andes (América do Sul) e da
América Central. Talvez tenham sido elas, por meio de algum contato com povos daqui
que introduziram a agricultura no que viria a ser o território brasileiro. É provável
que as primeiras plantas cultivadas aqui tenham vindo de fora: milho, algodão,
tabaco e feijão.
Os primeiros agricultores das terras
brasileiras desenvolveram também o cultivo de plantas de que se extraiam
corantes, plantas medicinais e palmeiras. Mas seu principal alimento e
descoberta foi a mandioca. Os índios descobriram até mesmo como extrair o
veneno da espécie venenosa dessa raiz.
A cerâmica apareceu aqui há cerca de 4
mil anos. Feitos de argila cozida no fogo, os objetos cerâmicos serviam para
transportar água ou guardar alimento. Alguns eram usados para cozinhar vegetais
cultivados na agricultura. Vasos foram encontrados em sambaquis do Pará.
Acredita-se que possam ter entre 4 mil e 5 mil anos de idade – possivelmente uma
das mais antigas peças de cerâmica da América.
Mas os agricultores evitaram ocupar a
densa floresta tropical. Os restos arqueológicos encontrados demonstram que
permaneceram nas margens do rio Amazonas e de seus afluentes. Embora pouco
estudados, é possível observar pelas peças de cerâmicas o grau de complexidade
e sofisticações desses povos.
Ao longo dos rios Tapajós e Trombetas
foram encontradas peças daquilo que os arqueólogos chamam tradição
inciso-ponteada. O povo que produzia essas obras tinha seu centro onde atualmente
se encontra Santarém. É possível que tenham vivido há 2 mil anos, talvez menos.
Para chegar a formas tão complexas, é provável
que houvesse artesãos especializados em cerâmica, fato que indica a existência de
uma sociedade organizada, na qual existiam pessoas que, além da agricultura,
desenvolviam tarefas específicas.
Entretanto, foi na ilha de Marajó que se
desenvolveu as mais complexas civilizações amazônicas. Os primeiros povos a
habitá-la, chamados ananatubas pelos arqueólogos, chegaram aí há cerca
de 3500 anos. Vivendo em regiões entre mata e as praias, construíram casas
isoladas em que moravam de cem a 150 pessoas. Além de agricultores, foram
também ceramistas e fabricavam potes, pratos e objetos decorados com linhas e
pontos, de que restaram apenas fragmentos.
Há aproximadamente 1 800 anos, porém,
surgiu a chamada civilização marajoara, ainda pouco estudada. Sabe-se
que a maior parte de sua população se concentrava nas margens dos rios ao redor
do lago Arari. Os marajoaras erguiam suas casas sobre morros chamados tesos,
construídos por eles mesmos ao longo das margens dos rios. Era uma forma de se
protegerem das inundações. Alguns desses morros chegaram a medir mais de
duzentos metros de comprimento.
Entretanto, trata-se de uma suposição
que precisa ser comprovada por achados nos tesos. Os principais vestígios
deixados pelos marajoaras são objetos de cerâmica, decorados com complexidade impressionante.
Quando os portugueses chegaram, essa misteriosa civilização, ainda hoje tão
desconhecida, já estava desaparecendo. Mas é muito provável que tenha
influenciado povos de outras regiões.