A modernização agrícola no Brasil
O desempenho atual do Brasil na produção e exportação de gêneros agropecuários se deve ao processo de modernização, com a incorporação de maquinários e de conteúdos de ciência e tecnologia nas mais diversas atividades e insumos.
As mudanças significativas registradas na produção rural fazem parte do processo de modernização da agricultura. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) teve um importante papel para a formação desse cenário, por
meio de investimentos em ciência e tecnologia que aumentaram significativamente a produtividade brasileira, através do desenvolvimento de sementes resistentes a pragas, uso de agrotóxicos e de máquinas agrícolas, por exemplo. A
modernização da agricultura resultou em mudanças no espaço de produção agrícola e nas relações de trabalho
Em 2020, o país apresentou a quarta maior produção agropecuária e foi o segundo maior exportador de grãos do mundo – 19% do volume total exportado. Além disso, ocupava a terceira posição em produção de frutas, a primeira posição em produção de açúcar e café e o maior rebanho bovino comercial do mundo.
Artefatos mecânicos com mais tecnologia como semeadeiras, colheitadeiras e tratores, entre outros, foram introduzidos no campo brasileiro em meados do século XX. De início, a maioria das máquinas agrícolas concentrava-se nos estados das regiões Sul e Sudeste, com destaque para Rio Grande do Sul e São Paulo. Além dos estados dessas duas regiões, Goiás e Bahia também apresentavam um número de máquinas agrícolas superior ao dos demais estados de suas regiões.
Essas novas tecnologias aplicadas à produção rural provocaram muitas alterações na forma que o trabalho é realizado. Em algumas fazendas produtoras de laranja, no interior de São Paulo, por exemplo, há máquinas importadas dos Estados Unidos que em uma hora colhem os frutos de cem pés de laranja. Imagine o quanto esse equipamento reduziu o tempo para realizar esse trabalho e a quantidade de empregos que deixaram de existir no espaço rural.
A agricultura de precisão, com intenso uso de tecnologia, fertilizantes e irrigação artificiais, uso de GPS e imagens de satélites, maquinários altamente especializados e profissionais qualificados na área, concentra-se na produção de alguns gêneros agrícolas e em algumas áreas do território brasileiro. Destacam-se a soja, o milho, a cana-de-açúcar, a laranja, o café, o algodão, ou seja, produtos priorizados pela agricultura comercial de exportação.
Os avanços técnicos não se limitam às tecnologias de imagens e de maquinário. Também estão associados a mais precisão sobre as condições climáticas, conhecimento do solo e da química e da biologia envolvidos na fertilização das plantas e criação de animais, assim como criação de sementes, vacinas, inseminação artificial, seleção de espécies e também transgênicos. E são responsáveis tanto por aumentar a produtividade quanto por ampliar o uso da terra por tornar produtivas áreas que naturalmente não são.
Já em 1950, os adubos de origem animal e vegetal deram lugar aos de origem mineral em todo o Brasil, sendo mais utilizados a partir de então. Nos anos 1970, o uso de fertilizantes ainda era concentrado nas regiões Sul e Sudeste, sendo a adubação química maior que a orgânica. Data dessa época a entrada de muitas empresas globais que atuam no ramo da agroalimentação. A busca por grande produtividade levou a um aumento da monocultura para exportação praticada em grandes propriedades, mecanizada e submetida ao mercado internacional de preços. Além disso, maior produtividade pode implicar um aumento na degradação dos solos e dos recursos hídricos, que ficam mais escassos, poluídos ou com cursos assoreados.
O aumento da produção, da compra e do consumo de fertilizantes e defensivos agrícolas (ou agrotóxicos) foi bastante elevado a partir da década de 1990, resultado da modernização da agricultura.
Porém, o processo de modernização da agricultura ocorreu de maneira desigual
no território brasileiro e variou de acordo com o produto cultivado, seja uma cultura permanente, aquela que não precisa ser plantada novamente após a colheita
e produz por alguns anos, seja uma cultura temporária, que precisa ser plantada
novamente após a colheita.
Atualmente, a mecanização da produção agropecuária está difundida por praticamente todo o país, porém, em boa parte, limitados aos estabelecimentos onde se pratica a agricultura comercial para exportação e inseridas no agronegócio do qual faz parte o complexo agroindustrial – empresas produtoras de sementes, fertilizantes, agrotóxicos, máquinas e equipamentos agrícolas, serviços especializados, laboratórios, transporte, financiamento e industrialização da produção.
A revolução verde e o campo brasileiro
Com o aumento da população, cresceu a demanda por produtos agrícolas. Somado a
isso, ganhou força a partir da década de 1960 uma nova lógica de produção que ficou conhecida como revolução verde. Seu objetivo era aumentar a produtividade agrícola por
meio da modernização técnica e científica. No campo brasileiro, foram incorporadas inovações tecnológicas nas mais diversas áreas: produção de sementes, maquinários, aplicação
de conhecimentos e técnicas para análise e preparação do solo e uso constante de insumos.
Toda a infraestrutura de circulação da produção agropecuária no país foi ampliada. Houve a construção de estradas, a integração entre diferentes tipos de transporte (rodoviário,
ferroviário e hidroviário), a construção de armazéns e silos para estocagem de grãos.
A formação da agroindústria
Nas décadas de 1970 e 1980, buscando melhor posição no comércio
internacional, complexos agroindustriais começaram a ser instalados no
Brasil. Neles, os gêneros agropecuários são beneficiados ou transformados com o uso de máquinas, por isso são, geralmente, instalados em locais próximos às fazendas, no campo.
Um exemplo importante é o complexo agroindustrial da soja, que tem
grande relevância até os dias atuais; ele é estruturado de modo a atender
às necessidades do mercado interno e internacional, com a produção de
grãos, farelo e óleos, utilizados na fabricação de ração para gado, em indústrias alimentícias e em usinas de biocombustíveis.
No complexo agroindustrial ligado à cana-de-açúcar, além da industrialização e ampliação da produção de açúcar, houve a criação, pelo
governo brasileiro, do Programa Proálcool, em 1975, para a produção nacional do combustível etanol. Atualmente, o bagaço da cana também é
aproveitado para a geração de energia elétrica.
A incorporação da agricultura de precisão e da biotecnologia
Nos anos 1990 e 2000, a modernização agrícola incorporou novos
avanços tecnológicos, com equipamentos ligados ao Sistema de Posicionamento Global (GPS) e a Sistemas de Informação Geográfica (SIG).
Essas tecnologias permitem o mapeamento e a melhoria no gerenciamento da produção, com base em dados sobre as condições do solo e
da lavoura obtidos via satélite e por sensores.
Avanços da biotecnologia também foram incorporados nesse período,
como mapeamentos genéticos de variedades de plantas para o desenvolvimento de sementes, controle de pragas e compostos químicos usados como pesticidas.
O avanço da fronteira agrícola
As áreas em que a vegetação nativa é substituída por pastagens ou
cultivos são chamadas de fronteira agrícola.
No Brasil, a modernização do campo e a expansão da fronteira agrícola
foram dois processos complementares. A incorporação de novas áreas
agrícolas trouxe desafios para a produção, pelas especificidades de cada
ambiente na preparação do solo e na manutenção dos variados cultivos.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), fundada em 1973, teve fundamental importância na expansão e modernização
agrícola nacional ao desenvolver pesquisas científicas e técnicas para o
enriquecimento do solo do Cerrado e a modificação genética da soja,
que se tornou um dos principais itens agrícolas do campo brasileiro.
Desde os anos 1970, vastas áreas de Cerrado foram desmatadas para
o desenvolvimento da agropecuária. A fronteira agrícola tem avançado,
ainda, em direção aos estados da região Norte, além do Maranhão, de Tocantins, do Piauí e do oeste da Bahia.
Um imenso arco do desmatamento foi formado, desde o Acre, passando por Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Nessa faixa, com 256 municípios, está concentrado 75% do desmatamento da Floresta Amazônia.