sexta-feira, 9 de agosto de 2024

A industrialização no Brasil

A indústria reúne matéria-prima, máquinas e trabalho humano; ela transforma a matéria-prima em produtos elaborados, que serão consumidos pela sociedade. A atividade industrial ocorre especialmente nos espaços urbanos e está atrelada a outros setores da economia, como a agropecuária e os serviços.

Da proibição às primeiras indústrias 

Em 1785, enquanto a industrialização era acelerada na Inglaterra, a rainha de Portugal, Maria I, proibiu a existência de fábricas e manufaturas no Brasil. No documento em que determinou a proibição, ela alegava que a atividade industrial ocuparia a escassa mão de obra disponível, o que prejudicaria a agricultura e a mineração – atividades rentáveis para a metrópole. Apenas tecidos simples de algodão poderiam ser fabricados na colônia, usados para ensacar produtos agrícolas e para o vestuário de pessoas pobres, escravizadas ou indígenas. A proibição foi anulada em 1808, com a chegada da família real. A medida, porém, não foi suficiente para impulsionar a industrialização. Ao longo do século XIX, foram criadas indústrias dos setores têxtil, alimentício, metalúrgico, químico, de vestuário, móveis e transportes, mas grande parte dos produtos industrializados continuava a ser importada. Em 1889, o país possuía 903 estabelecimentos industriais – número que seria ampliado para 3 120 e 13 336 entre 1907 e 1920. O avanço da indústria nas primeiras décadas do século XX foi impulsionado pela formação de um mercado interno. 

 A atividade cafeeira e a industrialização

pós o declínio da mineração, o café se tornou um dos mais importantes produtos de exportação do Brasil, ultrapassando o açúcar. O crescente consumo da bebida na Europa e nos Estados Unidos estimulou a produção do grão no país. O cultivo em larga escala de café teve início no Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século XIX. A atividade se expandiu pela região do Vale do Paraíba, em São Paulo, chegando ao norte do Paraná em meados do século XX. O café foi cultivado também no Espírito Santo e na porção leste de Minas Gerais.
O fim do tráfico de africanos escravizados (1850) e a abolição da escravatura (1888) foram fatores que motivaram a transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado. Essa mudança foi fundamental para aumentar a circulação de dinheiro e criar um mercado de consumo mais amplo para os produtos industrializados. 
Parte dos imigrantes europeus que chegavam ao Brasil para trabalhar nas lavouras de café também possuía experiência na indústria. Assim, além de compor o contingente de mão de obra da atividade agricultora, muitos desses trabalhadores foram incorporados como operários nas indústrias, que começavam a crescer no país.
Gradativamente, a atividade cafeeira estimulou o crescimento de atividades complementares para a exportação desse produto, como a implantação de ferrovias, de serviços bancários, a geração e o abastecimento de energia elétrica para a iluminação pública e a movimentação de máquinas de beneficiamento dos grãos. Desenvolveu-se, então, uma rede de cidades e de relações econômicas que constituíram um ambiente propício ao crescimento da produção industrial.

O contexto internacional 

Em 1929, uma crise na bolsa de valores de Nova York deu início a um período de recessão econômica internacional, reduzindo as exportações do café brasileiro. Os cafeicultores, então, passaram a investir em outros cultivos e na indústria. O envolvimento de países europeus e dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) também impactou a economia brasileira, reduzindo a oferta de produtos industrializados no mercado. Assim, o setor industrial nacional buscou suprir as demandas do mercado interno, processo chamado de substituição de importações.

O papel do Estado 

Durante os governos de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), foram criadas indústrias de base com o objetivo de fornecer matérias-primas para outras indústrias e diversificar a produção. São exemplos a Companhia Vale do Rio Doce, com foco na mineração de ferro, e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), produtora de aço. 
Na presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961), o governo federal aumentou os impostos para importação de bens de consumo e incentivou a produção industrial no território nacional. Foi a partir desse período que importantes indústrias automobilísticas estrangeiras passaram a produzir na região do ABCD paulista (municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema). Bolsa de valores: instituição onde são negociados títulos e ações. As ações correspondem a uma parcela de uma empresa cuja propriedade é compartilhada por um conjunto de pessoas. Os títulos são documentos que representam o empréstimo de um bem ou valor e podem ser emitidos por governos ou empresas privadas para arrecadar investimentos financeiros. 
As empresas foram obrigadas a produzir com uma quantidade mínima de peças brasileiras. Isso estimulou a indústria nacional de autopeças e integrou as empresas nacionais e multinacionais no setor automobilístico. Entre as décadas de 1960 e 1980, o Estado também estimulou a industrialização, investindo na geração de energia elétrica e na ampliação da rede rodoviária no país.

Características da industrialização brasileira 

Por ter se consolidado ao longo do século XX, a industrialização do território brasileiro foi classificada como uma industrialização tardia, em comparação aos países industrializados antigos, como Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos e Japão. O número de indústrias aumentou de 43 250 em 1939 para 209 617 em 1980. Em 2019, havia 306 mil estabelecimentos industriais no país. Apesar do crescimento, a indústria brasileira é dependente de tecnologia e maquinário importado até os dias atuais, principalmente nos setores produtivos que envolvem alta tecnologia. 
O processo de industrialização foi impulsionado pela instalação de fábricas de empresas estrangeiras no Brasil. Isso ocorreu principalmente após a Segunda Guerra Mundial, quando os avanços tecnológicos nas comunicações e nos transportes, somados às oportunidades de comercialização local e aos custos de produção mais baixos, incentivaram empresas a transferir etapas produtivas para outros países. Devido à atuação em diversos países, essas empresas são chamadas multinacionais.

Fases da industrialização no Brasil

A atividade industrial no Brasil começou no século XIX. Inicialmente desenvolveram-se indústrias de tecelagem que faziam sacos para embalar matérias-primas que eram exportadas. Depois, ainda no século XIX, empresários brasileiros e imigrantes italianos começaram a instalar indústrias, empregando o conhecimento que traziam consigo.
Foi somente a partir do século XIX, com a expansão da economia cafeeira na Região Sudeste, que teve início a primeira fase industrial do país. Fatores determinantes para isso foram a capitalização dos empreendedores nacionais (com dinheiro proveniente das vendas de café), a institucionalização do trabalho assalariado, a mão de obra imigrante, o aumento do mercado consumidor urbano, entre outros. Por muito tempo, os bens de consumo duráveis e os bens de produção, como máquinas e equipamentos pesados, eram importados.
Foi, porém, a partir da década de 1940, com a construção da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ), que a industrialização do país ganhou impulso. Durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), ocorreu uma mudança significativa na estrutura industrial brasileira. A atividade industrial intensificou-se com a implantação de indústrias de base (siderurgia, metalurgia, mecânica, indústria de cimento etc.). Isso reduziu as importações e estimulou a produção nacional de bens de consumo duráveis. Nessa segunda fase da industrialização brasileira, a indústria tornou-se um importante setor da economia, superando o setor agrícola.
No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) iniciou-se a terceira fase da industrialização brasileira, com o uso de capital externo e o desenvolvimento da indústria de bens de consumo duráveis. Com a entrada de capital estrangeiro, empresas multinacionais ingressaram no país. Nessa fase, foram feitos muitos investimentos e empréstimos a instituições financeiras para manter o ritmo de crescimento econômico nacional, o que gerou grande endividamento.
Na década de 1950 muitas montadoras de carros se instalaram no Brasil. Com elas, surgiu um polo muito importante de produção industrial no país: o ABCD, abrangendo os municípios paulistas de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema. 
O ABCD, além de abrigar montadoras de carros, se tornou sede de muitas outras indústrias de peças utilizadas na montagem de automóveis.
Outro polo industrial importante desenvolveu-se em Minas Gerais, na região que ficou conhecida como Quadrilátero Ferrífero. Empresas estatais e privadas exploram jazidas de minério de ferro.
No Rio Grande do Sul também se encontra um importante polo industrial. Nos municípios de Caxias do Sul e São Leopoldo instalaram-se indústrias metalúrgicas que depois passaram a fabricar máquinas.
A partir da década de 1990, houve um novo processo de distribuição espacial das indústrias pelo Brasil. Os estados do Paraná, de Goiás, do Rio Grande do Sul, de Pernambuco e da Bahia receberam fábricas de transnacionais montadoras de carros e passaram a se destacar na produção automobilística. Já o Ceará passou a abrigar um importante polo de produção de calçados que, além de atender ao mercado interno, exporta para o mundo.
Na década de 1990, o país expandiu as atividades comerciais. Essa fase ficou marcada pela entrada de vários produtos estrangeiros (computadores, automóveis, eletrodomésticos, entre outros). Empresas estatais foram privatizadas, ou seja, deixaram de ser propriedades do governo e passaram a ser empresas privadas. A partir dessa década, o país ingressou na quarta fase industrial, marcada pela globalização e abertura econômica, pelo desenvolvimento de tecnologias de telecomunicações, informática, robótica, engenharia genética e transporte.
O setor industrial brasileiro está concentrado nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e também em áreas da Região Sul e do litoral nordestino. Embora a indústria esteja concentrada em algumas áreas, nas últimas décadas muitas fábricas se deslocaram para o interior do país, em busca de mão de obra mais barata e de incentivos fiscais de governos estaduais ou prefeituras. Essa mudança na distribuição espacial das indústrias marca nova fase de desconcentração industrial. A desconcentração da produção tem modificado expressivamente os fluxos migratórios, por causa da demanda de trabalhadores. A concentração industrial no Centro-Sul é um importante elemento para avaliar as desigualdades socioeconômicas entre as regiões brasileiras. A descentralização industrial, ainda que insuficiente, foi importante para o desenvolvimento técnico e produtivo de outros municípios e estados do país.

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