Os deslocamentos de população que ocorrem no interior dos territórios nacionais são chamados de migrações internas. No Brasil, o número de migrantes internos compõe uma parcela significativa da população.
OS PRIMEIROS GRANDES FLUXOS DE MIGRAÇÃO
Os fluxos de migração ocorrem desde o período colonial, ao longo do qual a população se deslocou pelo território de acordo com as atividades econômicas desenvolvidas em cada região. Ao decorrer da história do Brasil, alguns fluxos tiveram destaque no desenvolvimento da economia do país, como o da mineração, em Minas Gerais; o do café, em São Paulo; e o da borracha, na Amazônia.
A mineração em Minas Gerais
Quando ouro e diamantes foram descobertos na região do atual estado de Minas Gerais, no fim do século XVII e em todo o período de intensa extração mineral naquela localidade, no século XVIII, houve grande deslocamento de pessoas para o local, inclusive de pessoas escravizadas que trabalhavam nos decadentes engenhos de açúcar do Nordeste.
O café e a imigração
Ao longo do século XIX, as lavouras de café ocuparam áreas do Rio de Janeiro, de São Paulo, do sul de Minas Gerais, de parte do Espírito Santo e do Paraná, e atraíram mão de obra estrangeira. Quando a imigração externa diminuiu, migrantes vindos de outras partes de Minas Gerais e de estados da atual Região Nordeste deslocaram-se para essas áreas.
A borracha na Amazônia
No fim do século XIX, a exploração da borracha na Amazônia, associada à crescente demanda da indústria automobilística estadunidense para confecção de pneus, atraiu milhares de trabalhadores dos estados da atual Região Nordeste, que buscavam melhores condições de vida. A Região Amazônica passou de 337 mil habitantes (excluindo-se os indígenas) em 1872 para cerca de 1,1 milhão em 1906.
Até 1912, quando a produção brasileira de borracha chegou ao seu ponto máximo (42 mil toneladas por ano), a Região Amazônica recebeu, aproximadamente, 500 mil nordestinos, com destaque para os cearenses, que ficaram conhecidos como “soldados da borracha”.
OS FLUXOS RECENTES DE MIGRAÇÃO
Já estudamos os fluxos migratórios históricos do final do século XIX e do início do século XX. Agora, vamos abordar os movimentos migratórios mais recentes do nosso país.
As décadas de 1950 a 1970 O período entre as décadas de 1950 e 1970 foi marcado por uma intensificação das migrações internas. Os governos brasileiros da época elaboraram políticas de incentivo à industrialização do país e grandes programas de construção de obras públicas. A industrialização do Centro-Sul atraiu os principais fluxos migratórios para as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Dos estados da atual Região Nordeste, partiram muitas pessoas também para a Região Norte, pois começava o período de grandes intervenções na Amazônia, com a construção de obras de infraestrutura e a exploração de recursos do subsolo.
Um grande volume de pessoas que se deslocaram dos estados nordestinos em direção a diversas regiões do país, sobretudo para o Sudeste, principalmente para o estado de São Paulo. O Nordeste foi a grande área expulsora de pessoas nesse período.
Entre 1956 e 1960, ocorreu um fluxo migratório para o Brasil central por causa da construção de Brasília (DF) e das estradas Belém-Brasília e Cuiabá-Santarém.
Do Sul do país também se formou um fluxo de migração em direção à fronteira agrícola do sudoeste amazônico, em especial para os chamados projetos de colonização em Rondônia.
As décadas de 1970 a 1990
A migração de nordestinos para as metrópoles da Região Sudeste e para a Região Norte do país seguiu pelas décadas de 1970 e 1980. Os migrantes também se dirigiram a outros estados cuja economia apresentava forte dinamismo.
Na década de 1970, intensificou-se o fluxo migratório do Sul para o Centro-Oeste e para o Norte. Esses migrantes se estabeleceram em médias e grandes propriedades, tendo sido responsáveis pela forte expansão das atividades agrícolas sobre as áreas de vegetação preservada da Amazônia na chamada fronteira agrícola brasileira.
Essas regiões também atraíram pessoas de outras partes do país, formando pequenos fluxos migratórios de diversas origens. Parte da população que migrou para a Região Norte foi atraída pelos empregos nas obras de infraestrutura, como a Rodovia Transamazônica, pela mineração no Pará, pelos projetos de ocupação do governo federal – que prometiam o acesso à terra e o incentivo à produção agrícola – e pela criação de incentivos federais para a instalação de indústrias na região.
As décadas de 1990 e 2000
Ocorreram diversas mudanças nos fluxos migratórios na década de 1990. Diversos deslocamentos, antes intensos, perderam força, como aqueles feitos por sulistas em direção à
Amazônia.
O Sudeste ainda era a área que mais recebia migrantes; no entanto, São Paulo, mesmo atraindo muitas pessoas, começou a perder população para o interior e para a Região Nordeste do Brasil, em um fenômeno chamado migração de retorno – nome dado ao fenômeno da volta de migrantes a seus locais de origem.
Esta foi a grande novidade nos fluxos migratórios a partir dos anos 2000: as metrópoles perderam população para cidades médias.
AS CONDIÇÕES DE VIDA DOS MIGRANTES E A DISCRIMINAÇÃO
Nos períodos de crescimento da economia em um local, cresce também a oferta de trabalho, o que atrai pessoas. Em geral, os trabalhadores que migram para outro município, estado ou país aceitam exercer funções diferentes das que exerciam em seu lugar de origem. Em muitos casos, conseguem ganhar melhores salários ocupando postos de trabalho que exigem poucas qualificações profissionais, como realizar tarefas fisicamente exigentes, que podem ser aprendidas em um período curto.
Em grande parte do mundo, existem comunidades de migrantes que enfrentam condições de vida mais difíceis do que as dos demais moradores. No Brasil, é muito recente a formação de fluxos migratórios de trabalhadores qualificados – até então a quase totalidade dos migrantes internos possuía pouca qualificação profissional. Assim, em todas as regiões do país, são evidentes as dificuldades socioeconômicas enfrentadas pelas famílias migrantes.
Aqueles que migram em busca de postos de trabalho criados em período de crescimento enfrentam outra dificuldade: a intolerância, que ganha força em momentos de crise e recessão. Aqueles que antes eram necessários para incrementar o desenvolvimento econômico deixam de ser bem-vindos e passam a ser objeto de discriminação e ações xenófobas.
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