Os deslocamentos populacionais – ou movimentos migratórios – ocorrem desde o aparecimento da espécie humana na Terra.
Vinculadas às necessidades de cada grupo, as migrações são fenômenos causados por fatores de repulsão, que forçam as pessoas a deixar suas terras, e por fatores de atração, que atraem as pessoas que migram para um novo lugar.
A IMIGRAÇÃO INCENTIVADA AO BRASIL
Migração, de maneira geral, é o fenômeno que ocorre quando uma pessoa deixa seu lugar de origem para viver em outro país, estado ou município. Quando deixa seu país de origem, ela é considerada emigrante. Quando essa pessoa chega ao novo país, torna-se imigrante.
Entre as décadas de 1880 e 1930, houve um grande movimento migratório internacional em direção à América e, consequentemente, ao Brasil. O movimento pode ser dividido em três momentos: no primeiro, entre 1880 e 1900, predomina a chegada de imigrantes italianos,
alemães, espanhóis e portugueses; o segundo, entre 1910 e 1920, marca a entrada de uma matriz mais diversificada, com japoneses, poloneses, sírios, libaneses; e, no terceiro, nas décadas de 1920 e 1930, japoneses continuam chegando ao Brasil, bem como chineses, eslavos, armênios, entre outros.
Os imigrantes chegaram ao Brasil pela imigração incentivada ou subsidiada e foram direcionados para o trabalho nas indústrias e nas plantações de café e algodão. O governo brasileiro arcava com os custos da viagem e fornecia hospedagem para os imigrantes recém-chegados, sobretudo europeus, até que conseguissem emprego ou terras.
A imigração incentivada ocorreu entre 1889 e 1927, quando a política de subsídios cessou e o fluxo de imigrantes que vinham ao país diminuiu. Tais mudanças sociais no Brasil não foram aleatórias. O novo quadro social foi formado pelas decisões políticas tomadas desde a segunda metade do século XIX, iniciadas com o fim do tráfico de escravizados pela Lei Eusébio de Queirós (1850) e com a instauração, 14 dias depois, da Lei de Terras (1850), que regularizava a propriedade privada, favorecendo os latifundiários e dificultando o acesso a novas terras, sobretudo para escravizados alforriados.
Mesmo com a Lei do Ventre Livre (1871), que considerava livres filhos de negras escravizadas nascidos a partir da data da lei, e a Lei Áurea (1888), que aboliu a escravidão, a população preta e parda brasileira, que constituía maioria do povo, viu-se impedida de trabalhar, sustentar-se e viver com dignidade, já que os empregos nas lavouras de café e nas fábricas eram destinados aos novos imigrantes.
As migrações internacionais para o Brasil entre os séculos XIX e XX criaram um novo cenário socioeconômico no país. Analise o gráfico do IBGE sobre a evolução populacional por cor no país entre 1872 e 1991 e a tabela elaborada pelos sociólogos Roger Bastide (1898-1974) e Florestan Fernandes (1920-1995), presente no livro Brancos e negros em São Paulo.
AS IMIGRAÇÕES PARA O BRASIL
Conforme estudado, o Brasil recebeu um grande contingente
de pessoas de outros países – os imigrantes. Assim, a população brasileira formou-se por povos de diferentes origens, portanto convém ressaltar que os imigrantes foram parte importante desse processo.
Especialmente a partir da metade do século XIX até as primeiras décadas do século XX, muitas pessoas foram atraídas para o Brasil para trabalhar como lavradoras, operárias, comerciantes e artesãs. Elas trouxeram elementos de suas culturas ao nosso país, ao mesmo tempo que incorporaram elementos da cultura brasileira à sua vida cotidiana.
É possível perceber essas mudanças de diversas maneiras: nos hábitos alimentares, nas artes, na arquitetura das paisagens brasileiras urbanas e rurais e até mesmo na linguagem.
Os principais fluxos de imigração para o Brasil
Os portugueses
Os portugueses que chegaram ao país após a independência se estabeleceram, sobretudo, nas cidades, dedicando-se principalmente aos trabalhos urbanos. Parte deles também se dedicou ao trabalho agrícola, mas em número menor que o dos demais grupos. Os portugueses são historicamente o grupo de imigrantes europeus mais numeroso no Brasil, já que o fluxo migratório se estabeleceu ainda na época da colonização.
Os italianos
A maioria dos imigrantes italianos se fixou nas fazendas de café de São Paulo para trabalhar nas lavouras. Eles também se tornaram a principal mão de obra das fábricas que surgiam nas cidades do Sudeste, e alguns se dedicaram ao comércio. Por terem atuado como operários ou, posteriormente, como proprietários das indústrias paulistas, tiveram grande importância no processo de industrialização do país. Muitos deles também se dirigiram a outros estados brasileiros, principalmente do Sudeste e do Sul.
Os espanhóis
Os imigrantes espanhóis se instalaram principalmente em áreas rurais, como trabalhadores nas grandes fazendas ou como pequenos proprietários.
Alguns se estabeleceram nas cidades do interior, em especial nas pequenas. Realizavam atividades artesanais, manufatureiras (nas fábricas), comerciais e ferroviárias.
Os alemães
Os alemães começaram a chegar ao Brasil no início do século XIX e ocuparam, primeiramente, as colônias do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. No fim desse século e no início do século XX, chegaram em grandes grupos e se dirigiram sobretudo para os estados do sul do país. As dificuldades econômicas e políticas na Alemanha foram os principais motivos para a vinda dessas pessoas ao Brasil.
Os japoneses
Os japoneses começaram a chegar ao Brasil em 1908. A vinda desses imigrantes foi motivada por interesses brasileiros e nipônicos: o Brasil precisava de mão de obra para as lavouras de café e o Japão buscava na emigração uma solução para as tensões sociais do país, causadas por seu alto índice demográfico. Muitos imigrantes japoneses formaram colônias, principalmente em São Paulo e no Paraná.
Os novos fluxos de imigração para o Brasil
No Censo de 2010, foram contabilizadas pouco menos de 600 mil pessoas de origem estrangeira vivendo no Brasil. Esses imigrantes correspondem, portanto, a cerca de 0,3% da população do país, que ainda recebe muitos imigrantes europeus. No entanto, atualmente, os fluxos migratórios de países latino-americanos e da China são significativos.
OS BRASILEIROS NO EXTERIOR
A história da formação do Brasil teve períodos de maior e de menor chegada de imigrantes. Na segunda metade do século XX, os fluxos migratórios internacionais diminuíram bastante: o número de imigrantes chegou a ser igual ao de brasileiros que deixaram o país.
Por isso, os estudiosos afirmam que o saldo migratório – a diferença entre o fluxo de emigrantes e imigrantes de uma localidade – do país foi praticamente nulo nesse período.
Desde a década de 1980, milhares de brasileiros têm deixado o país para
trabalhar no exterior em busca de novas oportunidades, devido ao aprofundamento das desigualdades sociais, ao aumento do desemprego e às crises
econômicas pelas quais o Brasil tem passado.
Na década de 1980, houve uma grande saída de pessoas do Brasil em direção, principalmente, aos Estados Unidos, ao Japão e a alguns países europeus. As estimativas de emigração de brasileiros para outros países indicam que cerca de 2,3 milhões de brasileiros deixaram o Brasil nas décadas de 1980 e 1990 (cerca de 80% na década de 1980).
Em 2020, o governo brasileiro estimava que pouco mais de 4 milhões de brasileiros viviam no exterior, um número muito superior ao de estrangeiros que se estabeleceram no Brasil, que atualmente está na casa de 1,3 milhão de pessoas. Se a saída de brasileiros seguir nesse ritmo, podemos nos tornar um país de emigração.
A crise econômica e política iniciada nos anos de 2010 fez com que o número de emigrantes brasileiros aumentasse ainda mais. Esses fatores levaram muitas pessoas a emigrar em direção aos países ricos
do Hemisfério Norte, sobretudo para Estados Unidos, Japão, Canadá e vários
países da União Europeia, como Portugal, Espanha e Inglaterra.
A fuga de cérebros
A exportação, ou fuga de cérebros, é um fenômeno atual no Brasil que tem aumentado o número de emigrantes do país. Em razão das poucas ofertas de emprego e da falta de valorização profissional, jovens doutores e pesquisadores têm migrado para países que ofereçam remuneração, estrutura e oportunidades para realizar suas pesquisas em instituições renomadas.
Nos últimos anos, segundo dados da Receita Federal, grande parte das saídas definitivas é de jovens pesquisadores. As áreas de tecnologia e medicina são as que mais sofrem com a fuga deles, uma vez que os estudos podem ser realizados em qualquer lugar.
Com o congelamento das verbas para o financiamento de pesquisas e a falta de reajustes em bolsas de estudo por parte das agências de fomento nos últimos anos, esses jovens têm saído cada vez mais cedo do país. Diversas universidades estrangeiras oferecem programas de estudos e pesquisa para pesquisadores brasileiros, como é o caso da Tulane University, que tem um programa específico para esses estudantes.
A consequência disso para o Brasil é a redução de pessoas qualificadas no país para realizar pesquisas científicas e contribuir com avanços tecnológicos.
OS REFUGIADOS
Entre os migrantes internacionais, há um grande número de pessoas fugindo de conflitos armados e de perseguições por motivos diversos – origem étnica, prática religiosa, orientação sexual ou posicionamento político-ideológico – em seu país de origem. Uma convenção internacional, criada em 1951 e apoiada por diversos países, protege essas pessoas, oferecendo-lhes refúgio em países estrangeiros.
Desse modo, milhões de pessoas buscam refúgio em países estrangeiros. Em muitos casos, são improvisados campos de refugiados nos países vizinhos, nos quais a população tem acesso à ajuda humanitária, como alimentação e moradia provisória.
É o caso dos imigrantes venezuelanos, que vêm sendo acolhidos no Brasil e em outros países nos últimos anos. A Venezuela passa por uma grave crise econômica, que envolve
embates políticos e sanções econômicas no mercado internacional. Soma-se a esse quadro o interesse de grandes empresas transnacionais petrolíferas nas reservas de petróleo do país. Em decorrência de toda essa situação, a população venezuelana tem procurado proteção e abrigo nos países vizinhos.
Grupos de imigrantes recentes
Haitianos
O Haiti é um dos países com piores indicadores sociais do mundo, marcado pela instabilidade
política e a extrema pobreza da população. Em
janeiro de 2010, um terremoto de elevada magnitude atingiu o país e a situação agravou-se. Mais
de 200 mil pessoas morreram. Um ano após o
terremoto, aproximadamente 1 milhão de pessoas
ainda se abrigavam em tendas, sobrevivendo em
condições precárias. Esse contexto de desolação e
miséria fez uma grande parcela de haitianos deixar
o país. Muitos escolheram o Brasil como destino,
iniciando uma onda migratória.
Em 2000, não havia registros oficiais de
haitianos no território brasileiro. Entre 2011 e 2020,
foi registrada a entrada de mais de 149 mil haitianos
no país. É o grupo de imigrantes mais numeroso
desse período.
Bolivianos
Os bolivianos representam a maior comunidade latino-americana no Brasil,
formada a partir dos anos 1950. A partir da década de 1980, iniciou-se um novo
fluxo, com jovens de ambos os gêneros, geralmente solteiros e das áreas rurais da
Bolívia, atraídos pelas oportunidades de trabalho, principalmente na cidade de São
Paulo. Grande parte deles é contratada por oficinas de costura e, geralmente, é submetida a condições precárias de moradia e de
trabalho. O salário acaba reduzido por causa das
altas dívidas a que são obrigados a contrair com
o agenciador (pessoa que recruta o trabalhador
na Bolívia) e o empregador, para pagar o uso de
máquinas de costura e o aluguel, por exemplo.
Entre 2011 e 2020, foram registradas mais de
55 mil entradas de imigrantes bolivianos no Brasil.
Sírios
Os primeiros grupos de imigrantes
sírios entraram no Brasil no final do século
XIX, estabelecendo-se principalmente
na cidade de São Paulo. Muitos vieram
fugindo de perseguições religiosas e buscando trabalho, em geral no comércio.
No século XXI, os grupos de sírios
que começaram a chegar ao Brasil apresentavam a condição de refugiados. Em
2011, iniciou-se um conflito na Síria que
forçou mais da metade da população a
deixar o país e a se espalhar por diferentes
lugares no mundo. No Brasil, o principal
destino dos sírios é São Paulo, por causa,
principalmente, da comunidade síria já
instalada na cidade, que se organiza para
receber e ajudar os recém-chegados.
Venezuelanos
Estima-se que, entre 2014 e 2020,
mais de 5 milhões de pessoas deixaram
a Venezuela, em razão da grave crise
econômica, política e social que afeta
o país. Muitos imigrantes chegaram ao
Brasil relatando as más condições de
vida, como o aumento da violência e
da pobreza e a grande dificuldade em
adquirir produtos de necessidade básica.
Em 2020, havia, no Brasil, mais de
172 mil imigrantes venezuelanos, constituindo o maior grupo nesse ano. A
entrada desses imigrantes ocorre principalmente pelo estado de Roraima. Na
capital, Boa Vista, muitos acabam se
submetendo a condições precárias de
trabalho e de moradia.
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