sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Organização da produção agrícola

No espaço rural ocorre a produção não só de alimentos, mas também de outros itens necessários à vida em sociedade, como matérias-primas (para tecidos e papel, por exemplo) e fontes de energia (como a cana-de-açúcar usada na produção de etanol). O preparo da terra para o cultivo modifica o espaço rural, que está organizado, basicamente, em duas formas: a agricultura familiar e a agropecuária industrializada.

A agricultura familiar

A maior parte da produção de alimentos no mundo vem da agricultura familiar, incluindo no Brasil. A produção é destinada, principalmente, ao abastecimento do mercado interno. São pequenos proprietários que podem empregar máquinas e insumos agrícolas e, em algumas etapas do processo produtivo, como o preparo do terreno e a colheita, contratam mão de obra temporária.
Em unidades produtivas no espaço rural classificadas como minifúndios é realizada a agricultura familiar, que é caracterizada pela produção para o consumo da própria família. Quando ocorre uma produção excedente, ela é comercializada.

A agropecuária industrializada

Com o avanço da tecnologia, espigas de milho imunes a ataques de algumas pragas, vacas capazes de multiplicar a produção de leite e porcos com mais carne e menos gordura tornaram-se possíveis.
Esses são alguns produtos da biotecnologia, desenvolvidos por grandes grupos empresariais que investem na produção agropecuária. Nesse sistema, chamado de sistema agropecuário industrializado, passou-se a programar o destino da produção a partir do momento em que as inovações tecnológicas, como sementes e matrizes para criação de animais, saem dos laboratórios.
Tamanho e peso-padrão tornaram-se palavras-chave para os produtores de frangos, ovos e frutas, por exemplo. A produção agropecuária ficou semelhante a uma fábrica. Através do melhoramento genético as frutas passaram a atender a algumas exigências do consumidor, como uva e melancia sem sementes.
O uso de novas tecnologias tem permitido a expansão dessa atividade para áreas que não eram usadas na agricultura. O espaço rural chegou ao deserto, onde a produção agrícola é alcançada com o uso equilibrado da água, emprego de estufas, irrigação subterrânea e modernos filtros.
Nas estufas a temperatura é controlada automaticamente, garantindo um ambiente adequado para a produção de tomates, pepinos e pimentões.
Os filtros são utilizados para reter fertilizantes químicos contidos em excesso na água, que é drenada dos canais de irrigação das lavouras de legumes e verduras.
As máquinas agrícolas são usadas em diversas etapas da produção. Elas podem preparar o solo para o cultivo, semeá-lo e colher a safra, dependendo da espécie cultivada e do terreno. Por isso, esse sistema agrícola também é chamado de agricultura mecanizada.

Impactos da agricultura industrializada

Em muitos lugares do mundo, é forte a presença da agricultura industrializada, o que na prática resulta em mais produção por área cultivada. Mas o custo desse sistema é elevado, devido ao investimento em biotecnologia, máquinas agrícolas e agrotóxicos.
Os agrotóxicos são aplicados para proteger os cultivos de organismos prejudiciais ao desenvolvimento das plantas. Eles funcionam também como um veneno que mata outras espécies que possam concorrer com as plantas. Parte dos produtos químicos utilizados na agricultura moderna penetra nos solos e pode contaminar a água depositada no subsolo.
A agricultura mecanizada também gera impactos sociais e ambientais. No primeiro caso, ocorre o aumento do desemprego no campo, já que as máquinas substituem muitos trabalhadores rurais, além do uso intensivo de agrotóxicos, que causam doenças em trabalhadores e, se usados sem cuidados, nos consumidores dos produtos.
Os problemas ambientais são muitos, como a perda da biodiversidade pelo desmatamento. Também ocorre a compactação do solo, resultado da presença constante de pesadas máquinas. A erosão também está associada ao uso intensivo do solo, em especial em áreas sujeitas a fortes chuvas, como ocorre em grande parte do Brasil. O transporte de solo pela água, além de retirar seus nutrientes, dificulta o uso de máquinas agrícolas.

Agricultura orgânica, urbana e agroflorestal 

No Brasil existe um movimento que cresce nos últimos anos envolvendo a produção agrícola. Trata-se dos agricultores orgânicos, que buscam se opor ao uso de agrotóxicos e à compra de sementes de empresas multinacionais. Eles usam sementes crioulas, que são resultado da seleção de anos de práticas agrícolas de pequenos agricultores. 
Parte desses agricultores cultiva as sementes ou as compra de outros agricultores que as reproduzem sem uso de intermediários ou de insumos químicos. Em geral, eles estão organizados em movimentos sociais, como o Movimento dos Pequenos Agricultores, que busca reunir agricultores empenhados em manter as práticas tradicionais no campo de modo a resgatar a identidade cultural de seus integrantes. 
Já a agricultura urbana também pode ser entendida como um movimento alternativo de produção agrícola. Ela consiste em cultivar em áreas propícias à agricultura em cidades, como terrenos sem uso, e áreas livres em habitações e condomínios, por meio de hortas comunitárias. O objetivo é oferecer comida saudável à população local. Ela diminui os custos de transporte dos alimentos, que são cultivados em pequena escala sem uso de agrotóxicos e com sementes crioulas.
O sistema agroflorestal (SAF) ou agrofloresta é formado pela introdução de espécies para fins agrícolas em áreas naturais ou em áreas degradadas. Neste último caso, o replantio de árvores é feito associado à plantação de café e banana, por exemplo. Os sistemas agroflorestais diminuem a perda de solo por erosão, evitam a compactação do solo (que costuma ocorrer pelo trânsito de máquinas pesadas) e ainda mantêm a biodiversidade, já que, diferente da monocultura, produzem várias plantas ao mesmo tempo. Outra vantagem é a possibilidade de controle de pragas de modo natural. Um inseto ou lagarta que surge na plantação pode ser fonte de alimento de pássaros, atraídos pela cobertura vegetal. Por fim, a maior presença de árvores garante maior acúmulo de água das chuvas (que penetra mais lentamente no solo) e temperaturas mais amenas. 

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