Com a globalização, difundiu-se um novo modo de vida. Tecnologias – como microcomputador, televisão a cabo, internet e telefone celular – geraram novos padrões de comportamento. Embora a tecnologia digital só tenha se massificado no século XXI, muitos jovens têm dificuldades em imaginar a vida sem esses aparelhos, pois nasceram na era digital. Nesse contexto, formou-se a noção de inclusão digital, que se torna, cada vez mais, condição para o exercício da cidadania.
Atualmente, agências como a ONU monitoram a inclusão digital em diferentes países. Se, por um lado, a cultura virtual permite conexão fácil com quem está distante; por outro, por vezes distancia pessoas que estão próximas. É fácil encontrar um casal à mesa em um restaurante sem conversar, acessando a internet pelo celular. A conexão virtual também pode gerar ansiedade e dificuldade de concentração. Na pandemia de covid-19, a internet foi ao mesmo tempo fator de integração, trabalho e entretenimento e de muita angústia, sobretudo no setor educacional, com muitas aulas on-line e tarefas que desgastaram estudantes, professores e familiares.
Informação e poder
A internet democratizou o acesso à informação. Se alguém quer consultar informações sobre um tema, por exemplo, encontra várias fontes, em que são expressos diferentes pontos de vista. A internet, contudo, envolve outros fatores. A informação representa, ao mesmo tempo, dinheiro e poder. Os sites que você visita são registrados e usados por empresas para produzir publicidade direcionada. Falsários e golpistas utilizam dados pessoais para cometer diferentes crimes.
A internet também serve para espionar pessoas. Em 2013, um ex-analista da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, Edward Snowden, divulgou um vasto esquema de espionagem do governo estadunidense. Os alvos da vigilância estatal incluíam cidadãos do país, empresas grandes e pequenas e governos de outros países. A revelação de Snowden causou mal-estar diplomático entre os Estados Unidos e outras nações, como a Alemanha e o próprio Brasil, visto que a Petrobras esteve entre as empresas espionadas.
Em 2018 ocorreu outro escândalo mundial envolvendo a quebra de privacidade de dados, quando a empresa que administra a maior rede social virtual do mundo foi acusada de vazar informações de seus usuários para influenciar campanhas eleitorais e votações importantes em diversos países (incluindo Reino Unido, Estados Unidos e Brasil). No mesmo período, diversas redes sociais já vinham sofrendo pesadas críticas por serem veículos para fácil difusão de boatos e notícias falsas.
Nos anos seguintes, as chamadas fake news se tornaram um problema particularmente grave durante a pandemia de covid-19, na medida em que confundiam a população com a difusão de informações sem base científica a respeito das medidas de proteção sanitária, dos possíveis tratamentos contra a doença e mesmo atacavam os esforços públicos em favor da vacinação.
Ativismo on-line e movimentos sociais no Brasil
A expansão do uso da internet por meio de smartphones não ampliou apenas a circulação de fake news. Os movimentos sociais também se articularam e passaram a usar esse espaço para mobilizar pessoas e ampliar
o debate público sobre temas urgentes. O uso das redes possibilita uma estratégia
de atuação que tem como características a participação autônoma e a ocupação das
ruas e dos espaços virtuais.
Nos últimos anos, a luta das mulheres pela igualdade, por exemplo, vem ganhando
espaço sobretudo com o ativismo on-line. Esse processo vem se desenvolvendo desde
a década de 2000, quando plataformas e redes sociais passaram a ser utilizadas como
espaços de denúncia e também de organização dos movimentos feministas e de
demandas legais, como os abaixo-assinados organizados virtualmente.
A força dessas
mídias pôde ser sentida na criação de canais de comunicação como o Blogueiras Feministas, em 2010, e o Blogueiras Negras, em 2012.
A internet também tem sido uma forte aliada dos grupos LGBTQIA+ para o reconhecimento de seus direitos. Contribuiu, por exemplo, para o financiamento coletivo de projetos como a Casa 1, na cidade de São Paulo (SP), um centro de acolhida,
assistência social e centro cultural voltado para o público LGBTQIA+.
Apesar desses avanços, permanecem ainda muitos desafios. De acordo com o
Atlas da Violência publicado em 2021, em 2019 a taxa de mortalidade de mulheres negras era 65,8% superior à de mulheres não negras. Isso revela um aumento
de 17,3% em relação aos dados de 2009, apontando a vulnerabilidade desse segmento da sociedade.
Além disso, destaca-se a violência contra praticantes de religiões, principalmente, de matrizes africanas. O Comitê de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR)
do Rio de Janeiro (RJ), por exemplo, informou que em 2019 foram registrados
201 ataques a locais de prática de religiões afro-brasileiras na cidade, o dobro do
número registrado no ano anterior.
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