Os primeiros movimentos de afirmação da identidade africana ocorreram no fim do século XIX. Em 1897, o advogado trinitino Henry Sylvester Williams fundou a Associação Africana, que organizou a Primeira Conferência Pan-Africana ocorrida em Londres, três anos depois. Os participantes da conferência produziram o documento Comunicado às nações do mundo, no qual reivindicaram que os líderes europeus se posicionassem a favor da luta contra o racismo e garantissem a soberania das colônias na África. Ao longo das primeiras décadas do século XX, o pan-africanismo se fortaleceu, estimulando o diálogo entre intelectuais negros, como o professor estadunidense Burghardt Du Bois e o deputado senegalês Blaise Diagne. Juntos, eles organizaram o Primeiro Congresso Pan-Africano, ocorrido em Paris, em 1919. Os participantes desse congresso defenderam a emancipação gradual das colônias africanas, a ampliação dos direitos civis dos negros estadunidenses e incentivaram os descendentes de africanos a retornar à África.
Em 1934, em Paris, os poetas Aimé Césaire (nascido na Martinica) e Léopold Sédar Senghor (originário do Senegal) lançaram as bases de um movimento literário e político de resgate e revalorização das raízes africanas enfraquecidas após séculos de escravidão e imposição dos valores ocidentais. Os integrantes do movimento nomeado negritude buscavam despertar nos afrodescendentes a consciência de uma identidade comum e reconstruir o orgulho africano. Assim, o sistema colonial na África passou a ser progressivamente contestado, com base na afirmação da negritude positiva e do ideal de união dos povos africanos.
Pan-africanismo
O pan-africanismo é um movimento cujas raízes ideológicas, do final do século XIX, culminaram em movimentos políticos inicialmente nos
Estados Unidos e na região do Caribe, a partir das reivindicações de
intelectuais, profissionais liberais e estudantes negros. Para eles, o continente africano deveria ser compreendido como sua pátria, da qual eles
foram destituídos.
Os primeiros ativistas pan-africanos defendiam a união dos povos
africanos da África (aqueles que nasceram e vivem no continente) e da
diáspora negra (aqueles que foram escravizados e sujeitados à migração forçada e seus descendentes fora do continente africano). A emancipação deveria ser construída com base em uma luta conjunta contra
o colonialismo na África e contra o racismo nos Estados Unidos e no
mundo, como nos explica Nei Lopes (1942-), escritor e pesquisador das
culturas africanas e afro-brasileiras.
Após a realização dos primeiros congressos pan-africanos, o movimento se consolidou em torno da luta de William Edward Burghardt
Du Bois (1868-1963), sociólogo e historiador estadunidense. As conferências de Du Bois contribuíram para conscientizar coletivos de negros
tanto em diáspora (fora do continente africano) como aqueles que viviam em países da África. Em conjunto com ideias de outros pensadores
e pensadoras negros, suas conferências trouxeram diversos argumentos que, posteriormente, ajudaram a mobilizar os processos de independência dos países africanos.
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o Congresso Pan-Africano, realizado na
cidade inglesa de Manchester, em 1945, contribuiu diretamente para a formação de grupos nacionalistas africanos que lideraram o
processo de independência por intermédio
da atuação de líderes como o queniano Jomo
Kenyatta (1894-1978) e o guineano Sékou Touré
(1868-1963). Nos anos 1960, o pensamento
pan-africano passou então a orientar a noção
de África livre, sem interferências externas, o
que acabou por reforçar as identidades políticas dos novos países.
Negritude
O movimento negritude foi uma corrente cultural relacionada ao pan-africanismo que se difundiu principalmente na África colonial francesa.
Esse movimento literário e intelectual questionava, por exemplo, a noção
de identidade e o destino dos povos que sofreram com a dominação
colonial racista. A ideia de negritude surgiu entre os estudantes negros
das colônias francesas da África e da América que estudavam em Paris.
A negritude defende que os africanos e seus descendentes devem tomar consciência de sua identidade negra africana, de sua repressão pelo
racismo e pela dominação colonial e do patrimônio cultural comum que
as pessoas de ascendência africana possuem. Nesse sentido, os escritores desse movimento literário procuravam em suas obras estabelecer pontos de contato e laços entre os negros da Europa, da África e da
América. Esses intelectuais, além de valorizar a cultura africana tradicional, combatiam o eurocentrismo, que era resultado
do colonialismo europeu e da educação
ocidental tradicional.
Os valores do movimento negritude
eram transmitidos na publicação do jornal
L’Étudiant noir (“O estudante negro”, em
tradução do francês), fundado em Paris
no ano de 1934 e que tinha como editores
Aimé Césaire (1913-2008), nativo da Martinica, Léon-Gontran Damas (1912-1978),
da Guiana Francesa, e Léopold Sédar
Senghor (1906-2001), do Senegal.
Após a Segunda Guerra Mundial, a ideia
de negritude começa a ganhar atenção
com o aparecimento de outras publicações que promoviam o conceito. O movimento também foi importante ao convencer os jovens africanos a não procurar uma
assimilação cultural com as metrópoles
europeias. Na década de 1960, depois que
a maioriadas colônias francesas conseguiu
se emancipar, o movimento negritude começou a perder força e inclusive passou
a ser criticado pela geração de escritores
negros pós-coloniais.
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