sábado, 14 de maio de 2022

Primeiros governadores da Paraíba

 1 – João Tavares (1585-1588)

Martim Leitão ao deixar a Paraíba após a sua conquista e fundação. Deixou aqui como capitão-mor, João Tavares, sendo este o nosso primeiro governador.

Foi fundado por João Tavares o primeiro engenho – o Engenho Real – às margens do Tibiri, e o forte de São Sebastião, construído por Martim Leitão para a proteção do engenho.

Os jesuítas ficaram responsáveis pela catequização dos índios. Eles ainda fundaram um Centro de Catequese e em Passeio Geral edificaram a capela São Gonçalo.

O governo de João Tavares foi demasiadamente auxiliado por Duarte Gomes da Silveira, natural de Olinda. Silveira foi um senhor de engenho e uma grande figura da Capitania da Paraíba durante mais de 50 anos. Rico, ajudou financeiramente na ascensão da cidade. Em sua residência atualmente se encontra o Colégio Nossa Senhora das Neves.

Apesar de ter se esforçado muito para o progresso da capitania, João Tavares foi posto para fora em 1588, devido à política do Rei.

 2 – Frutuoso Barbosa (1588-1591)

      Devido à grande insistência perante a corte e por defender alguns direitos, Frutuoso Barbosa foi, em 1588, nomeado o novo capitão-mor da capitania da Paraíba, auxiliado por D. Pedro Cueva, ao qual foi encarregado de controlar a parte militar da capitania.

Neste mesmo período, chegaram alguns frades franciscanos, que fundaram várias aldeias e por não serem tão rigorosos no ensino religioso como os jesuítas, entraram em desentendimento com esses últimos. Esse desentendimento prejudicou o governo de Barbosa, pois se aproveitando de alguns descuidos, os índios Potiguaras invadiram propriedades. Vieram em auxílio de Barbosa o capitão-mor de Itamaracá, com João Tavares, Piragibe e seus índios.

No caminho, João Tavares faleceu de um mal súbito. Quando o restante do grupo chegou a Paraíba, desalojou e prendeu os Potiguaras.

Com o objetivo de evitar a entrada dos franceses, Barbosa ordenou a construção de uma fortaleza em Cabedelo. Piragibe iniciou a construção do forte com os Tabajaras, porém, devido à interferência dos jesuítas, as obras foram concluídas pelos franciscanos e seus homens.

Em homenagem a Felipe II, da Espanha, Barbosa mudou o nome da cidade de Nossa  Senhora das Neves para Filipéia de Nossa Senhora das Neves.

Devido às infinitas lutas entre o capitão Pedro Cueva e os Potiguaras e os desentendimentos com os jesuítas, houve a saída de Cueva e a decisão  de Barbosa de encerrar o seu governo.

 3 – André de Albuquerque Maranhão (1591-1592)

André de Albuquerque governou apenas por um ano. Nele, expulsou os Potiguaras e realizou algumas fortificações. Entre elas a construção do forte de Inhobin para defender alguns engenhos próximos a este rio.

Ainda nesse governo os Potiguaras incendiaram o forte de Cabedelo. O governo de Albuquerque se finalizou em 1592.

4 – Feliciano Coelho de Carvalho (1592-1600)

Somam-se os fatos importantes, durante o governo de Feliciano Coelho Carvalho:

a)     Ofensiva contra os índios: No ataque, o capitão-mor foi mais de uma vez a serra de Capaoba, movendo guerra aos Potiguaras e seus; na cautela, repensou o ponto fraco que cercavam a defesa da cidade de Filipéia transferindo a aldeia de Braço de Peixe, da Ilha do Bispo, para a várzea do Paraíba, dividindo-a em duas partes.

b)    Definitiva expulsão dos franceses: Em 1595 deu-se a interferência de um fato político europeu, que ativaria a exploração francesa sobre o Nordeste brasileiro: foi o começo de uma guerra entre Espanha e França. O principal efeito para a Capitania Real  da Paraíba aconteceu quando uma Armada francesa, composta de 13 naus e conduzindo cerca de 350 homens, atacou o Forte de Santa Catarina, em 1597, defendido por apenas 20 homens, a fortificação agiu heroicamente, expulsando o invasor. Essa vitória tem muito significado histórico, pois marca a definitiva expulsão dos franceses da Paraíba, permitindo a ação integradora da Capitania, no conjunto do litoral brasileiro.

c)     Auxílio à conquista do Rio Grande do Norte:  A expedição marítima que passou pela Paraíba em direção ao Rio Grande do Norte, em fins de 1597, objetivando conquistá-la, contou com a participação do capitão-mor; na primeira tentativa de ajuda, Feliciano não conseguiu fazer muito, pois os membros da expedição foram acometidos de uma epidemia de varíola, obrigando-os a retornarem à cidade de Filipéia. Assim que o mal foi afastado, Feliciano Coelho de Carvalho organizou nova expedição armada, chegando ao Rio Grande do Norte exatamente quando aquela Capitania se encontrava em plena dificuldade, diante das suspeitas de que  haveria abandono das instalações já começadas, se o reforço paraibano não tivesse chegado a tempo. Em 6 de janeiro de 1598, fundava-se o Forte dos Reis Magos.

d)     Acordo de paz com os Potiguaras: Aconteceu em 1599, depois de vários entendimentos que procuraram solucionar o problema comum à Paraíba e ao Rio Grande do Norte. No dia 11 de junho o acordo foi celebrado solenemente, com a presença das maiores autoridades do Nordeste, na época. Pelos Potiguaras, falou o índio Pau-Seco, representando o cacique Zorobabé, acompanhado por cerca de 50 guerreiros; em nome dos Tabajaras compareceram o cacique Braço de Peixe e seus filhos Pedra Verde e Braço Preto; Feliciano Coelho de Carvalho, juntamente com a população branca e mestiça da Paraíba, comandou a solenidade, ao lado das pessoas mais importantes das capitanias de Itamaracá, Pernambuco e Rio Grande do Norte, que haviam sido especialmente convidadas.

A paz com os Potiguaras e sua consequente submissão teve grande importância para o desenvolvimento da Capitania Real da Paraíba e os motivos de tão esperado      acontecimento estão relacionados a os seguintes fatos:

-       Rompimento forçado da aliança dos Potiguaras com os franceses, resultante de sua expulsão da Paraíba, em 1597, assegurado pela heróica ação dos que defendiam o Forte de Santa Catarina. Perder os franceses como amigos, significou para os índios, perder armas, navios, pólvora e incentivos;

-       As guerras movidas por Martim Leitão, João Tavares, Pero Lopes e Feliciano Coelho de Carvalho, causou significativas baixas no número de guerreiros Potiguaras, provocando também imigrações em massa, para o Norte.

-       A fundação do Forte dos Reis Magos, no Rio Grande do Norte, significou uma grande ameaça aos índios rebeldes, reforçando a defesa e o ataque dos colonizadores, aliados em suas tarefas de povoar e produzir;

-       A epidemia de varíola que alcançou os Potiguaras, em 1597, devastou grande quantidade de índios, indefesos ao “vírus” da alarmante doença. 

A Paraíba teve 11 governadores entre os anos de 1585 a 1634, até cair nas mãos dos holandeses. Seguiu o seu ritmo de progresso com a lavoura do açúcar e, juntamente com Pernambuco e Bahia, tornou-se o maior centro comercial do mundo ocidental, atraindo assim a cobiça dos invasores flamengos.

A relação dos governadores da Paraíba no período que vai da conquista ao domínio holandês, nem sempre a nomeação importava em posse do cargo, muitas das vezes ficavam aguardando a vacância para exercer as suas funções, porque os providos no cargo só o deixavam quando recebiam ordens para isso, e que foram os seguintes:

de 1585 a 1588 = João Tavares
de 1588 a 1591 = Frutuoso Barbosa
de 1591 a 1592 = André de Albuquerque
de 1592 a 1600 = Feliciano Coelho de Carvalho
de 1600 a 1603 = Francisco de Souza Pereira
de 1603 a 1605 = André de Albuquerque
de 1605 a 1608 = João de Barros de Correia
de 1608 a 1612 = Francisco Coelho de Carvalho
de 1612 a 1616 = João Rabelo de Lima
de 1616 a 1620 = Francisco Nunes Marinho de Sá
de 1620 a 1623 = João de Brito Corrêa
de 1623 a 1627 = Afonso de França
de 1627 a 1634 = Antônio de Albuquerque



A Presença Holandesa na Paraíba

Portugal desde 1580 estava sob domínio espanhol, e consequentemente, o Brasil. A instalação da empresa açucareira no Brasil contou com a participação holandesa, desde o financiamento das instalações até a comercialização no mercado europeu. Assim, quando Felipe II proibiu a manutenção dessas relações comerciais, tirou dos holandeses uma grande fonte de lucros, levando-os a reagirem com a invasão ao Nordeste brasileiro. Para isso, os holandeses organizaram uma Companhia – a Companhia das Índias Ocidentais –, e decidiram invadir a capital, em 1624. Prenderam o Governador Geral e o enviaram para a Holanda.

Não conseguiram, no entanto, governar a região. Sob o comando de D. Marcos Teixeira, as forças brasileiras mataram vários chefes batavos, enfraquecendo as tropas holandesas. Em maio de 1625, eles foram expulsos da Bahia pela esquadra de Fradique Toledo Osório. 

As invasões holandesas atingem também a Paraíba e através de ataques contínuos a Cabedelo, onde a resistência foi muito acentuada, tentam se fixar em nossas terras, porém só concretizando em 1634, quando desembarcam ao norte da foz do Jaguaribe e conseguiram vitória sobre as tropas do governador paraibano Antônio de Albuquerque Maranhão e partindo para dominar Cabedelo, onde tiveram êxito.

Em dezembro de 1634 os holandeses entraram na cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves e passaram a administra-las até 1645.

A preocupação inicial dos holandeses consistiu em manter defesas, para estabilizar a conquista, e atrair a simpatia dos habitantes da Paraíba, cuja capital teve a denominação mudada para Frederica. A Fortaleza de Santa Catarina, no Cabedelo, foi rebatizada como Margareth.

Alguns dos nossos moradores pressentindo a derrota e não querendo se submeter aos inimigos, retiraram-se da Capitania. Porém antes da retirada, queimavam os canaviais e inutilizavam os engenhos. André Vital de Negreiros foi o primeiro a tocar fogo no engenho do seu pai e muitos seguiram-lhe o exemplo.

Para impedir possível rebelião, os holandeses tanto fortificaram a Igreja de São Francisco e o convento de Santo Antônio, a cujas portas instalaram entrincheiramentos e bateria, quanto ocuparam a inacabada Igreja de São Bento, na Rua Nova. Quando os religiosos franciscanos tentaram desobedecer às ordens dos novos senhores, foram expulsos da Capitania.   

Nova organização política, social e econômica

Os holandeses reconheceram a desvantagem de ver a terra desamparada, engenhos abandonados, outros danificados. Então se prestaram a fazer com os moradores uma espécie de pacto. Duarte Gomes da Silveira foi um dos primeiros a se apresentar ao inimigo e serviu de mediador entre os moradores e os invasores. Não traindo os seus, mas para não entregar de tudo o que lhes custara tanto trabalho.

O primeiro governador da província holandesa da Paraíba e Rio Grande do Norte foi Servaes Carpentier que em nome do Príncipe de Orange, dos Estados Gerais e da Companhia fez aos paraibanos, em ata de 13 de janeiro de 1635, as seguintes promessas: ofereceram anistia, liberdade de consciência e de culto católico, manutenção do regime de propriedade, proteção aos negócios e observâncias das leis portuguesas nas pendências aos naturais da terra.

Tais recomendações surtiram efeito, daí porque não foram poucos os que aderiram aos invasores. O padre jesuíta Manoel Morais abjurou a fé católica e embarcou para a Holanda, onde se fez calvinista e casou.

No plano administrativo, conservou-se parte da antiga administração, subordinada, porém, ao diretor geral, função inicialmente ocupada pelo conselheiro Servaes Carpentier. Funcionários denominados escabinos e escoltetos encarregou-se de administra a justiça e cobrar impostos.

No plano econômico-social, os holandeses mantiveram a escravidão. Com esse objetivo, ocuparam, preliminarmente, a província portuguesa de angola, na África, principal fonte de fornecimento de cativos. Introduzindo aperfeiçoamentos técnicos como moendas metálicas, no lugar das antigas, feitas de madeira, ofereceram empréstimos aos proprietários de engenhos. A maior parte destes, liderados por Duarte Gomes da Silveira aceitou a oferta.

A principal colaboração recebida pelos holandeses proveio dos índios Potiguaras enquadrados pelos caciques Pedro Poti e Paraupaba. Em troca, os holandeses chegaram a realizar assembleia de índios para a qual os principais do Ceará e Pernambuco enviaram representantes à vila de Itapessirica, em Pernambuco. 

A Resistência anti-holandesa

O controle holandês sobre a Paraíba durou apenas vinte anos, de 1634 a 1654, e nunca se fez total. Isso porque, desde cedo, os que não o aceitaram partiram para a luta armada que assolou a várzea do Paraíba. Nesta os flamengos nunca conseguiram firmar-se.

Já em 1636, o segundo diretor geral Ippo Eyssens, tido como arbitrário, foi morto numa emboscada, quando assistia a farinhada no engenho Santo Antônio. O principal responsável foi o capitão Francisco Rabello, o Rabellinho. Reagindo, os holandeses procuraram apresentar combate no Tibiri, que foi evitado pelos luso-brasileiros que pretendia retrair-se e recorrer a ataques rápidos e de surpresa. Era a guerrilha. Por conta desta os holandeses nunca se sentiram seguro na Paraíba, salvo durante algum tempo na Capital e, mais tarde, no interior da Fortaleza de Santa Catarina. A repressão holandesa caracterizou-se pela brutalidade. Alguns engenhos e propriedades foram confiscados. A pena capital foi igualmente aplicada, e, em 1645, o diretor geral Paul Linge, responsável por enforcamentos, mandou arrastar pela cidade o corpo de condenado que morrera na prisão.

A tensão somente aliviou entre 1638 e 1644, durante a administração dos diretores Elias Hercman e Gisberth Wirth. Por essa época, chegou ao Brasil o conde Maurício de Nassau, que se instalou no Recife, com artistas, cientistas, e estudiosos do melhor nível.

Emancipados da Espanha, em 1640, os portugueses encontravam-se com as finanças abaladas, de modo que alguns conselheiros do rei, com o padre Antônio Vieira, o maior sábio do mundo luso da época, elaboraram documento que propunha a preservação de todo Norte pelos holandeses que se absteriam de invadir o restante do Brasil e as possessões lusas no Oriente.

Esse documento ganhou a denominação de papel forte, tão convincente pareciam suas razões. Na Paraíba, os proprietários e altos funcionários, beneficiários da invasão flamenga, concordaram com os termos.

Não foi esse, porém, o caso do jovem André Vital de Negreiros. Paraibano, filho de proprietários portugueses, participou da campanha anti-holandesa de 1624, na Bahia , onde ficou por algum tempo. Em 1630, encontrava-se em Olinda, quando os flamengos dominaram a cidade. Novamente na Paraíba, entre 1634 e 1636, nunca pactuou com invasor que o respeitava.

De 1636 a 1644 permaneceu em Portugal onde, em vão, tentou mobilizar os espíritos em prol da resistência. Sem conseguir o intento, retornou ao Brasil, desembarcando na praia pernambucana de Tamandaré, acima da qual, em Santo Antônio do Cabo, fez junção com as tropas pernambucanas de João Fernandes Vieira. A luta doravante, iria travar-se em campo aberto, e, nela, Vidal de Negreiros revelaria dons de estrategista. Participante das duas batalhas dos Montes Guararapes, figurou entre os chefes que receberam a rendição holandesa, na Campina da Taborda. Anteriormente, não hesitara em atear fogo aos canaviais do próprio pai, na Paraíba. 

A Capitania da Paraíba na época da invasão holandesa

Na época da invasão holandesa, a população era dividida em dois grupos: os homens livres (holandeses, portugueses e brasileiros) e os escravos (de procedência brasileira ou africana). A mistura de raças não era bem vista pelo governo holandês, portanto, durante vinte e quatro anos de domínio holandês no Brasil, sabe-se de raras uniões entre holandeses e nativos, sendo consideradas uma exceção.

Ao contrário do que ocorreu em Pernambuco a presença dos holandeses não trouxe muitas vantagens à Paraíba. Houve apenas algum aumento na produção de açúcar, mas de caráter temporário, pois, com a volta de Meurício de Nassau para Holanda (1644), a capitania da Paraíba entrou em completa desordem.

A Capitania da Paraíba de 1635 a 1645 teve como administradores alguns governadores holandeses:

-       Servaes Carpentier: Também governou o Rio Grande do Norte, e sua residência oficial foi no Convento São Francisco de onde para execução do seu intento, expulsaram os franciscanos que lá moravam. O Convento de São Francisco, além de ser a residência oficial do governo holandês, servia também para abrigo dos mercadores neerlandeses em ocasiões necessárias, servindo também de quartel, para os soldados da guarnição que serviam na cidade.

- Ippo Elyssens: Foi um administrador violento e desonesto. Apoderou-se dos melhores engenhos da capitania. Foi morto quando assistia a uma farinhada no povoado do Espírito Santo.

-   Elias Herckman: Governador holandês importante, que governou por cinco anos. Bastante estimado pela população, pelo modo distinto como tratava os moradores, como pela capacidade administrativa demonstrada. Era homem de sensibilidade, poeta, escritor.

- Sebastian Von Hogoveen: Governaria no lugar de Elias Heckman, mas morreu antes de assumir o cargo.

-    Daniel Aberti: Substituto do anterior.

-   Gisbert De Withtambém considerado um dos melhores da província, razão pela qual foi feito um abaixo-assinado pedindo sua permanência, quando do término de seu mandato. Trabalhador incansável, não descuidou dos interesses da comunidade. Mesmo assim, o Alto Conselho holandês, designou outro para substituí-lo: Paulo de Linge.

- Paulo de Linge: Foi derrotado pelos “Libertadores da Insurreição”, e retirou-se para Cabedelo.

Restauração

O Brasil comemorou festivamente, em 1640 a restauração do trono português, livre agora do jugo espanhol. Os representantes da Holanda participaram também das alegrias, visto que eram inimigos da Espanha. Mas os nativistas almejavam a liberdade. Nunca os paraibanos aceitaram o domínio holandês  e quase não se consideravam filhos de colonos, pois tinham Portugal como pátria mãe.

A dominação holandesa de 1634 a 1645, na Paraíba, foi vista e sentida como uma imposição a que obedeciam constrangidos, mas não aceitavam. Ao assumir o lugar do Conde Maurício de Nassau, a Companhia holandesa impôs uma política contrária a que foi proposta por Nassau, confiscando fazendas e engenhos, perseguindo católicos e judeus, aumentando impostos.

Insatisfeito com a "virada holandesa", o senhor de engenho, João Fernandes Vieira, parte para a luta armada comandando seu exército de libertação. O negro Henrique Dias ofereceu-se como voluntário para lutar contra os holandeses, tendo recrutado um grande número de negros alforriados, oriundos dos engenhos conquistados pelos invasores.. O índio Potí, batizado católico em 1614 com o nome de Filipe Camarão, à frente dos guerreiros de sua tribo organizou ações de guerrilha que se revelaram essenciais para conter o avanço dos invasores. 

André Vidal de Negreiros, paraibano, filho de proprietários portugueses,  fez se chefe da Guerra de Libertação Nacional (Insurreição Pernambucana). Na Paraíba, a insurreição contra os flamengos propagou-se com tanta rapidez que, em 1645, o capitão Lopo Curado Garro, autor de relação das pugnas contra os holandeses no Nordeste, já dominava a região do Tibiri. Daí suas colunas ingressaram, nesse mesmo ano, na capital, de onde os holandeses se retiraram para a Fortaleza de Santa Catarina. Nos últimos nove anos de permanência na Paraíba, limitaram-se ao controle dessa fortificação. Após 20 ano de domínio os holandeses foram expulsos da Paraíba em 1654. 

Considerado um dos maiores Paraibanos de todos os tempos Vidal de Negreiros fez-se indiscutível chefe da Guerra de Libertação Nacional que a insurreição contra os holandeses representou. Sua carreira foi uma sucessão de êxitos. Escolhidos para levar a Portugal os resultados da insurreição contra os holandeses, foi nomeado governador dos estados do Maranhão e Grão-Pará, que constituíam territórios independentes do restante do Brasil. Em 1662, designaram-no governador de Angola, onde fortificou a capital, Luanda. Ao falecer, em 1680, seus restos mortais foram transladados para a Igreja dos Prazeres, nos montes Guararapes.

 Cultura e contribuições holandesas

O capítulo das invasões holandesa na Paraíba não deve ser  encarado apenas do ponto de vista militar. Bem mais importante fez-se a contribuição cultural dos invasores – e cultura é o que fica. Nesses termos, os flamengos contribuíram para o conhecimento da terra.

Tal deveu-se, em primeiro lugar, aos relatórios que produziram.

O primeiro, de autoria do conselheiro Servaes Carpentier, revela caráter ecológico, ao recomendar as áreas mais adequadas ao plantio da cana-de-açúcar, fumo e mandioca, além de criação de gado. Entusiasmado com a fertilidade da terra, Carpentier deteve-se, longamente, sobre as árvores, frutos e animais que nela se encontravam.

Descrição das Capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Parahyba e Rio Grande do Norte intitula-se o relatório assinado por Adriaen Verdonck, que teve um fim trágico. Segundo esse autor, a Paraíba, dispunha, em 1630, de dezoito a dezenove engenhos responsáveis por cento e cinquenta mil arrobas anuais que significavam seiscentas a setecentas caixas de açúcar, embarcadas nos navios. Contudo, havia pouco, movimento de negócios na capital.

Em matéria de produção açucareira, o melhor documento de origem holandesa é o minucioso Relatório sobre as Capitanias Conquistadas no Brasil pelos Holandeses, datado de 1639, e de autoria de Adriaen Van Der Dussen. De portos, rios, cidades, freguesias, aldeias, escravos, pau-brasil e madeiras, fortificações, religião e abastecimento ocupa-se Dussen cujo texto detalha os vinte engenhos existentes na Paraíba, com as respectivas tarefas e lavradores.

O mais completo relatório sobre a Paraíba proveniente do domínio holandês, é a Descrição geral da Capitania da Paraíba, de Elias Herckman, objeto, em 1982, de duas edições, ambas em João Pessoa. Geógrafo, poeta e cartógrafo, Herckman que na condição de Diretor da Companhia das Índias Ocidentais, governou a Paraíba de 1636 a 1639, elaborou documento verdadeiramente modelar. A primeira parte é dedicada a capital, a segunda aos engenhos do vale do Paraíba e a terceira aos costumes dos índios Tapuias. Geografia Urbana, Economia e antropologia combinam-se, dessa forma, harmoniosamente.


A anexação da Paraíba a Pernambuco

A crise do século XVIII e a anexação à Pernambuco

Na Paraíba, a criação da Capitania Real ocorreu em 1574. Em 1694, se tornou independente. Entretanto, em janeiro de 1756, a capitania da Paraíba foi anexada à de Pernambuco, por ordem do Marquês de Pombal.
A recuperação econômica da capitania da Paraíba após a guerra holandesa, encontrou dificuldades não apenas internas, em função da decadência em que ficou a própria capitania, mas também externas relacionadas com a depressão da economia europeia do século XVII.
O período entre 1756-1799, de anexação da capitania da Paraíba à de Pernambuco, corresponde a uma fase de expansão da economia europeia, cuja tendência não é acompanhada por Portugal. Esse país enfrenta uma das maiores crises econômicas de sua história, reflexo da queda da produção brasileira.

A dependência em relação a Pernambuco

O papel histórico que Pernambuco desempenhou, como centro da conquista portuguesa e da expansão demográfica do nordeste na segunda metade do século XVI, determinou, em parte, a sua situação de ascendência sobre as capitanias reais conquistadas, como foi o caso da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Durante todo o período colonial, o Recife foi o mais importante centro comercial desta área, contando com o porto mais bem equipado, com boas condições de armazenagem e centralizando as casas exportadoras dos comerciantes portugueses, detentores do monopólio comercial na colônia.
A conquista do litoral da Paraíba – procedentes dos núcleos de Olinda e Igarassu – só logrou sucesso a partir de 1585, com a fundação da cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves e com a instalação do primeiro engenho de açúcar.
Nos anos seguintes a produção açucareira se desenvolveu, sendo que já nas primeiras décadas do século XVIII estavam instalados mais de vinte engenhos. A produção era escoada pelo porto de Pernambuco, devido às facilidades de embarque, apesar da Paraíba contar então com o Porto em Cabedelo, o de Jacumã e o da Baía da Traição.
È preciso lembrar que a paraíba, como todo o Brasil, era colônia de Portugal. Dessa forma, era explorada duplamente: pela metrópole e pelos comerciantes de recife.

Situação da Paraíba após a guerra contra os holandeses

Com a invasão holandesa (1634-1645), a estrutura produtiva da capitania foi praticamente arrasada, abrindo um longo período de crise que culminaria com a anexação a Pernambuco.
A guerra contra os holandeses devastou a capitania. Os moradores na medida em que se retirava para Pernambuco queimavam suas fazendas, engenhos e canaviais.
Após a expulsão dos holandeses a capitania enfrentou inúmeras dificuldades para se recuperar. A situação da produção e do comércio era desanimadora. A população se queixava da ausência de navios no porto da Paraíba (provavelmente devido à sua baixa produção) e, ao mesmo tempo temendo os prejuízos de não conseguirem embarcar a sua produção, acabaram por envia-la para Pernambuco.
Na primeira metade do século XVIII o açúcar enfrenta novas dificuldades com um longo período de seca, falta de escravos e as pragas, o que leva a maior parte dos a ficar de “fogo morto” ou funcionando em precárias condições. Acrescente-se a isso o fato de apesar de sua condição de capitania real, a Paraíba nunca ter recebido qualquer estimulo de desenvolvimento por parte da Coroa portuguesa.
A recuperação da capitania era de responsabilidade do governo da metrópole, o qual, ao se omitir, transferiu ao governo de Pernambuco problema que não lhe dizia respeito, tentando assim, livrar-se dos encargos e responsabilidades que a desejada recuperação impunha.
O marquês de pombal, ministro durante todo o reinado de dom José (1755-1777), foi o responsável pelas mudanças necessárias para que Portugal superasse a crise em que mergulhara.

Monopólio, Companhia de Comércio e perda da autonomia

Essa situação consumou-se na Paraíba da segunda metade do século XVIII, e face do regime de monopólio e da Inquisição. O primeiro implicou no funcionamento de companhia de Comércio, inspiradas no modelo holandês. Tendo como consequência a perda de autonomia da capitania entre 1756-1799. Já a Inquisição relacionou-se com a expulsão dos Jesuítas. Foram ambos decisões modernizadoras e autoritárias do Marquês de Pombal, compreendendo o atraso do Reino, em relação a outros países como Inglaterra, de quem Portugal se tornara dependente, e Holanda.
Em 1756, como parte da política pombalina de contenção de gastos e concentração de recursos e, atendendo os interesses da burguesia comercial portuguesa instalada em Recife, a Coroa determinou a anexação da Paraíba a Pernambuco, que perdurou até 1799. A situação paraibana agravou-se ainda mais com a criação da companhia de comércio de Pernambuco e da Paraíba (1759) que visava explorar mais racional as riquezas dessas áreas.
Nesse sentido, a Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba, deveria monopolizar todo o comércio com a Paraíba. Esse somente poderia ser exercido pela companhia que se obrigava, no caso paraibano, a adquirir a produção de açúcar, couros, madeira, algodão e peles, comprometendo-se em contrapartida, abastecer a capitania de vinhos, azeite, manteiga, tecidos, queijos e bacalhau (denominados “do reino”).
Mas as reclamações começaram a se registrar. A companhia falhava na remessa de artigos essenciais. Com a escassez das mercadorias o preço destas aumentava. Além disso, a companhia cobrava juros elevados e os nossos moradores bem depressa foram se endividando. Como consequência, a produção açucareira entrou em colapso, arrastando consigo o comércio. Este somente poderia desenvolver-se por Pernambuco, daí porque, até a extinção da Companhia de Comércio, em 1777, não havia, na Paraíba, uma só casa de comércio para custear carregamento, adiantamento de despesas e custeio de navios. Os senhores de engenho experimentavam dificuldades porque os implementos de que necessitavam – tachos, moendas, alambiques e ferramentas – eram fornecidos a preços elevadíssimos. A companhia também falhava no fornecimento de escravos.
Por outro lado, o governo da capitania de Pernambuco, que centralizava as decisões nas esferas administrativa, militar e financeira, não tinha interesse, ou não conseguiu, porque aquela também estava passando por um período de crise, sendo impossível assim remediar a situação da economia paraibana.
A concentração das rendas da capitania da Paraíba em mãos de Pernambuco prejudicava o bom andamento dos negócios da capitania subordinada, pois Pernambuco retinha esse dinheiro sem sequer mandar anualmente a remessa para pagamento da infantaria, a que estava obrigado a atender. Por esse motivo, ficava o capitão-mor da Paraíba sem poder fazer o menor benefício na capitania, em função da centralização das rendas. O fato de se pedir para Pernambuco remeter dinheiro à Paraíba não significava um favor, como bem dissera a rainha D. Maria I, mas algo que por direito pertencia à Paraíba e, no entanto, ficava esse dinheiro retido.

O resgate da autonomia

Em 1777, com a morte de dom José I e a aclamação de sua filha dona Maria I, Pombal foi imediatamente substituído por Martinho de Castro e Melo. Este comandou a chamada viradeira – mudanças políticas e econômicas que tentaram alterar os rumos tomados pela administração pombalina. Assim, ainda em 1777, foi extinta a Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba.
Convenceu-se a rainha D. Maria I de que a subordinação não melhorara a capitania, antes contribuía para o seu declínio. Ciente de que a dependência não convinha aos interesses da Paraíba, resolveu D. Maria desanexar a capitania da de Pernambuco, pela Carta Regia de 17 de Janeiro de 1799, mas só foi consumada muito depois, porque a Paraíba permaneceu ligada a Pernambuco nas questões relativas à defesa, e às finanças até pelo menos 1808.
Mesmo com o fim da anexação, a situação da Paraíba era muito difícil, com uma constante oscilação nos níveis da produção (em especial, de cana e de algodão), o aumento dos preços dos alimentos, a estagnação do comércio e a falta de assistência do Estado.
Os navios não frequentavam o porto por falta de carga, muitos engenhos estavam de “fogo morto” e a maior parte dos proprietários de terra e mesmo dos comerciantes locais compravam seus suprimentos em recife, onde hipotecavam suas futuras produções.
Consolidou-se assim na Paraíba a submissão do espaço açucareiro e também algodoeiro (cujos proprietários, em especial do sertão estabeleciam vínculos comerciais diretamente com a capital pernambucana), aos interesses do capital comercial sediado em Recife.
Restaurada a autonomia da capitania da Paraíba, não se pode afirmar que o seu desenvolvimento foi rápido. Ainda enfrentou dificuldades. A sua receita, no início do século XIX, mostra aumento razoável em comparação as receitas entre 1756 e 1798. Não somente receitas, mais também rendas, consequência do aumento de sua produção.


Bandeirantes e os Oliveira Ledo, na Conquista do Sertão

  Verificam-se, então, duas grandes linhas de penetração do sertão paraibano. Uma, longitudinal, isto é, do sul para o norte, partiu do Rio São Francisco e, através de afluente deste, penetrou a Paraíba, através da fronteira de Pernambuco. Percorreram-na bandeirantes paulistas, baianos e pernambucanos.

     A essa corrente incorporou-se o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho que após esmagar o Quilombo dos Palmares, marchou sobre a Paraíba para fazer o mesmo com os índios da Confederação dos Cariris.

     Os bandeirantes, todavia, não ocuparam a terra, no sentido de faze-la render, economicamente. Apenas a devassaram, sufocando, onde foi o caso, a resistência indígena.A ocupação produtiva, isto é, a colonização do sertão da Paraíba, coube, além dos colonos que seguiram os bandeirantes, à família Oliveira Ledo e os sesmeiros articulados a estes desbravadores. Esses dois últimos ingressaram nos sertões da Paraíba, latitudinalmente, isto é, no sentido horizontal, de leste para oeste, com a maioria operando por conta própria e alguns sob o patrocínio do governo. Os responsáveis por expedições denominadas entradas tornaram-se conhecidos como entradistas.

     Os Oliveira Ledo, situados na origem de tantos municípios paraibanos, a partir de Campina Grande, e região do Cariri, tanto levaram para o interior seus cabedais como se responsabilizaram por entradas. O patriarca do grupo, Antônio de Oliveira Ledo, estabeleceu vias de penetração sertanejas, através de duas direções:

. A primeira, partindo da missão de Boqueirão, pelo curso do Paraíba até o Rio Taperoá, afluente daquele, cruzou o pequeno Rio Farinha e subindo o curso do Espinharas, nas vizinhanças de Patos, lançou-se para o nordeste, a fim de através do Rio Piranhas, alcançar a região do atual município de Brejo do Cruz e penetrou o Rio Grande do Norte, cuja zona do Seridó pertencia, então, a jurisdição da Paraíba.

. A segunda via de penetração de Antônio de Oliveira Ledo desviou-se para o sul, desde boqueirão, a fim de, pelas nascentes do Rio Paraíba, ingressar em território Pernambucano, onde chegando ao Pajeú, encontrou os colonos da Casa da Torre que por ali subiam, rumo ao alto sertão da Paraíba e ao Ceará.

     Dois outros Oliveira Ledo, Custódio, irmão de Antônio, e Constantino, filho de Custódio, também participaram da conquista do sertão da Paraíba. Quem, todavia, exerceu essa função com maior veemência foi outro filho de Custódio e sobrinho de Antônio, Teodósio de Oliveira Ledo.

     A penetração de Teodósio partiu do aldeamento Cariri, de Pilar, no sentido noroeste, e, virando para o sul, alcançou o Rio Taperoá. Seguindo em frente, atravessou o planalto da Borborema até Pau Ferrado, sobre o Rio Piancó, de onde inflectindo para nordeste, alcançou, no vale do Rio do Peixe, a localidade Jardim, atual Sousa. Descrevendo longo círculo, penetrou o Seridó norte-rio-grandense pela serra de Luiz Gomes e, desviando-se para o sul, alcançou a confluência do Rio Piancó com o Piranhas onde, em 1698, fundou o arraial de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó.

     Esse povoado, do qual deriva a atual cidade de Pombal, constituiu o principal centro de irradiação de povoamento que compreendem não apenas o sertão da Paraíba,  mas territórios do Rio grande do Norte e Ceará.

     Assim podemos observar que Teodósio de Oliveira Ledo consolidou a Conquista do Sertão.

  5 – A resistência indígena – a Guerra dos Bárbaros

      A presença de entradistas e bandeirantes, pelo sertão da Paraíba, dispunha de outra motivação, além de espalhar o gado pelos campos do criatório. Tratava-se de prear índios, reduzidos ao cativeiro para a vendagem no litoral. Entradistas e bandeirantes como Teodósio de Oliveira Ledo, Domingos Jorge Velho, Domingos Afonso Sertão e Bernardo Vieira de Melo encontravam-se, confessadamente, comprometidos com essa empreitada.

     Fosse por isso, por defenderem suas terras ou porque recebessem estímulos dos franceses, ativos na embocadura do Rio Açu, no caso o Piranhas, que muda de nome, no Rio Grande Do Norte, os índios decidiram reagir. Essa reação, que gerou a chamada Guerra do Bárbaros, vigentes nos sertões nordestinos, de 1680 a 1730, recebeu igualmente a denominação de Confederação dos Cariris. Uma vez mais, fazia-se o tema da História da Paraíba. Só que não foram os Cariris responsáveis por esse procedimento, mais os Tarairiús.

     Três fases experimentou a Guerra dos Bárbaros. A primeira rebentou na região norte-rio-grandense do Açu, onde os indígenas se apresentaram com armas de fogo e munições contrabandeadas pelos franceses. A segunda de maior duração, teve lugar na Paraíba, ao longo de toda povoação de Bom Sucesso do Piancó. Expulsos da área, os índios refugiaram-se no Ceará, onde ocorreu a derradeira fase da guerra dos Bárbaros.

     A crueldade com que essa foi travada fez-se tão acentuada que, a certa altura, as autoridades lisboetas dirigiram-se ao governador da Paraíba pedindo explicações sobre o que aí acontecia. Aldeias inteiras estavam sendo incendiadas e seus habitantes massacrados, sem constituir exceção mulheres e crianças. Quanto aos adultos que se recusavam à escravidão eram passados pelo fio da espada.

     Na violência empregada contra os índios destacou-se Teodósio de Oliveira Ledo, cujas milícias desempenharam o papel de polícia de segurança da época. Em 1710, como rebentasse em Pernambuco a chamada Guerra dos Mascates, os senhores de engenhos de Olinda e os comerciantes “mascates” do Recife, o governador paraibano João de Maia Gama, partidário dos últimos, deslocou Teodósio  para guarnecer a fronteira do litoral paraibano com Pernambuco. Outro caudilho sertanejo, Luiz Soares, encarregou-se de proteger o lado oposto, na Fronteira com o Rio Grande do Norte.

Os mais implacáveis sertanistas acudiram as regiões do Piranhas e Piancó durante as batalhas do alto sertão da Paraíba. um deles, o coronel Manoel de Araújo, deslocou-se com gado e cento e cinqüenta homens bem armados, de fazendas do Rio São Francisco para a zona ocupadas pelos índios Coremas, que eram cariris. A rápida submissão destes ofereceu aos conquistadores que pelejavam mais acima, retaguarda que decidiu a sorte das armas. Só então os Tarairiús foram subjugados. A ocupação do sertão da Paraíba fez-se sangrenta e nele, escaramuças estenderam-se até 1750.

 6 – O Povoamento do Sertão

      Com os índios pacificados e dominados, os sertanistas puderam continuar a fundar as suas fazendas de gado, que se tornaria mais tarde núcleo de povoação.

     A princípio criando o gado para abastecer as regiões vizinhas, depois as feiras, as pousadas foram progredindo a ponto de irem se tornando em povoamento, vilas e hoje cidades.

     De acordo com o historiador Irinêo Joffily, a sequência bandeira-curral-fazenda-arraial responsabilizou-se pela formação da sociedade sertaneja na Paraíba.

     De fato, como os bandeirantes, percorrendo o curso dos rios, se deslocassem com seu gado seguia-se, inevitavelmente, a concentração deste em currais, campos cercados dotados de rústicas habitações, geralmente de pau-a-pique. Tratava-se das primitivas fazendas, localizadas em datas de terra dotadas de capelas que lhes legitimavam a posse. Se a de Nossa Senhora do Rosário representa, entre 1701 e 1721, no arraial do Piranhas, embrião da futura vila e cidade de Pombal, as capelas de cabaceiras em 1730, Jardim do Rio do Peixe (Sousa), Piancó em 1748, Patos em 1772, Catolé do Rocha e Santa Luzia em 1773 e Monteiro em 1800, significaram o elemento gerador dessas cidades.

     Outro elemento formador dos arraiais que se converteram com o tempo, em povoados, vilas e cidades, foram os sítios. Na qualidade de “maior figura patriarcal do sertão da Paraíba”, o capitão-mor José Gomes de Sá possuía fazendas arrendadas à Casa da Torre, como Acauã e Riachão, atuais distritos da região de Sousa. A cidade de Conceição fez-se, originalmente, data de terra pertencente a Pedro Monteiro, no vale do Piancó, em cujos sertões, fazendas como São Gonçalo, Lagoa Tapada e Santo Antônio (atual Piancó), também originaram sedes de distritos e municípios da Paraíba.

     A disputa pela terra gerou, no sertão, sociedade violenta que se prolongou no cangaço e lutas de famílias, até bem pouco visíveis em municípios como Catolé do Rocha, Teixeira, Misericórdia (atual Itaporanga) e Piancó.

     O povoamento da região ficou a cargo dos colonos que eram mamelucos, resultantes de cruzamento do branco com o índio, mais amplo que o cafuzo, proveniente da mistura do índio com o negro e também aí encontrado.


Conquista para o Interior da Paraíba

Os primeiros momentos da interiorização

Durante o século XVI e início do século XVII, a ocupação do território paraibano, assim como em todo o Brasil, concentrou-se predominantemente no litoral. As terras do sertão continuaram despovoadas, quando Teodósio Ledo recebeu a incumbência do governador da Paraíba para fundar o arraial do Piancó. Com sua chegada ali, não demoraram os campos da região sertaneja a se povoar com rebanhos de gados.

Depois da invasão holandesa foi que começou a intensificar-se a conquista para o interior, pelas Missões de catequeseentradas e bandeiras. De uma maneira geral as causas para as entradas no Brasil foram as seguintes:

- busca de metais preciosos (ouro e prata);

- captura de índios para vende-los como escravos, uma vez que o negro se tornava uma peça muito cara;

o espírito aventureiro de alguns portugueses que se sentiam atraídos pelo desconhecido e certos de que seriam recompensados;

- a possibilidade de obter sesmarias (terras não ocupadas que o rei concedia a quem quisesse desbravá-las e povoá-las à sua custa);

-  o desenvolvimento da criação de gado.

Na Paraíba essas três últimas causas foram responsáveis pelo desbravamento do seu interior sendo a criação do gado a principal. O gado chegou à paraíba representando um novo elemento econômico para a região. Bois, cavalos, cabras foram ocupando os currais das sesmarias e fizeram do sertão conhecida "civilização do couro".

No sertão prevaleceu a colonização portuguesa de forma natural, ou seja, sem fins lucrativos como ocorria no litoral, e sim, a instalação de famílias livres e pobres que trabalhavam em torno da lavoura de subsistência fornecendo feijão, milho, mandioca, carne de aves, para a alimentação nos engenhos.

Os portugueses enxergaram futuro enriquecido com a criação de gado e com a escravização de indígena, o que levou a investirem e ocuparem cada vez mais regiões do sertão paraibano, expulsando e escravizando diversas aldeias Tarairiús. No interior, algumas tribos uniram-se para formar uma frente  resistência desses contra as investidas dos colonos portugueses.

A resistência indígena - a Guerra dos Bárbaros

A presença de entradistas e bandeirantes, pelo sertão da Paraíba, dispunha de outra motivação, além de expandir a criação de gado pelos campos. Tratava-se de capturar índios, reduzidos ao cativeiro, para vendê-los no litoral.

Os índios decidiram reagir para defender seu território. Essa reação, gerou a chamada Guerra dos Bárbaros, vigente nos sertões nordestinos, de 1680 a 1730, recebeu igualmente a denominação de Confederação dos Cariris

A Guerra dos Bárbaros se desenrolou em várias etapas. A primeira rebentou na região norte-rio-grandense do Açú, onde os indígenas se apresentaram com armas de fogo e munições contrabandeadas pelos franceses. A Segunda de maior duração, teve lugar na Paraíba, ao longo de toda povoação de Bom Sucesso do Piancó. Expulsos da área, os índios refugiaram-se no Ceará, onde ocorreu a derradeira fase da Guerra dos Bárbaros.

As Missões de Catequese

Uma das bases da sociedade sertaneja foi, também a Igreja Católica que construindo capelas e exaltando seus santos conduziu toda a moralidade das vilas do interior.

As missões de catequese foram as primeiras formas de conquista do interior da Paraíba. Os missionários pregavam o cristianismo nas suas missões, alfabetizavam e ensinavam ofícios aos índios e construíam colégios para os colonos.

Em 1670 foi fundada por padre Martim de Nantes a Missão do Pilar. Esta missão deu origem à vila do Pilar.

Avançaram ainda mais os padres missionários pelas margens do rio Ingá. Chegaram em fim a um planalto com uma campina verde e um clima agradável. Organizaram neste local um segundo aldeamento de índios Cariris a quem deu o nome de Campina Grande.

Do ponto de vista da conquista do sertão da Paraíba, empreendida entre 1670 e 1730, as aldeias indígenas mais importantes foram aquelas dos Cariris, às margens do Paraíba, em Pilar e Boqueirão.

Descrita pelo missionário Martim de Nantes, que sobre elas produziu importante Relação, essas missões funcionaram como bases, a partir das quais os Oliveira Ledo alcançou o sertão. 

Francisco Dias D’Ávila e a Casa da Torre

 A famosa Casa da Torre tinha sede na Bahia. Seu proprietário – o coronel Francisco Dias D’Ávila – estabeleceu, de início, os seus currais na Bahia. Suas fazendas espalharam-se  em torno dos rios São Francisco e Parnaíba. Recebiam sesmaria e iam distribuindo gado pelos sertões do  Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Era, como se vê, imenso território, a origem do sistema latifundiário que marcaria o sertão nordestino. Para adquirir suas imensas propriedades gastara apenas papel e tinta em requerimentos de sesmaria. Ao falecer, em 1695, legou o patrimônio da Casa da Torre à sua esposa, dona Leonor Pereira Marinho – como colonos, foreiros daquele potentado. Esses colonos eram arrendatários da Casa da Torre, já então sesmeira do vale do Piancó, Piranhas de Cima e Rio do Peixe. Só na ribeira desses rios, as propriedades de Dias D’Ávila ascendiam a vinte e oito.

Quando Antônio de Oliveira Ledo, cuja sesmaria se localizava atrás da de Vidal de negreiros, no vale do Paraíba, chegou a missão indígena Cariri de boqueirão, na serra do Carnoió, no curso médio daquele rio, em 1670, o Sertão da Capitania já se encontrava parcialmente ocupado pela Casa da Torre. Nesse sentido, a presença desta nos sertões paraibanos dataria de 1663. Os senhores da Torre foram os pioneiros na parte ocidental da nossa Capitania. Mas não se fixaram nessa região. Arrendaram ou doaram suas terras nas ribeiras dos rios Piancó, Peixe e Piranhas de Cima.

Não havia nenhum interesse da parte de Teodósio em descobrir terras. Tudo ali já havia sido descoberto pelos seus ancestrais e pela notável Casa da Torre. Teodósio levara para o sertão a sua própria família e muitas outras ali chegaram com as quais fundaram a povoação do Bom Sucesso, situada às margens do Piancó.


As ordens religiosas, os mosteiros e as igrejas na Capitania da Paraíba

 1 – Os Jesuítas

Foram os jesuítas os primeiros missionários que chegaram à capitania da Paraíba, acompanhando todas as suas lutas de colonização. Vieram desde as primeiras expedições de conquista.

Chegaram primeiro dois padres, Simão Travassos e Jerônimo Machado; depois vieram outros, entre os quais, Francisco Fernandes, Manuel Correia e Baltasar Lopes. O visitador da Companhia, Cristóvão de Gouvêa, mandou que o padre Jerônimo Machado relatasse todas as lutas da Paraíba, escrevendo-as no “Sumário das Armadas”.

Sabe-se que em 1591 já havia residência dos padres jesuítas nesta Capitania, em são Gonçalo Era o local de moradia deles.

Ao mando de Frutuoso Barbosa, os jesuítas se puseram a construir um colégio na Filipéia. Porém, devido a desavenças com os franciscanos, que não usavam métodos de educação tão rígidos como os jesuítas, a idéia foi interrompida.

Aproveitando esses desentendimentos, o rei que andava descontente com os jesuítas pelo fato de estes não permitirem a escravização dos índios, culpou os jesuítas pela rivalidade com os franciscanos e expulsou-os da capitania. Cento e quinze anos depois, os jesuítas voltaram a Paraíba fundando um colégio onde ensinavam latim, filosofia e letras. Passando algum tempo, fundaram um Seminário junto à igreja de Nossa Senhora da Conceição. Atualmente essa área corresponde ao jardim do Palácio do Governo.

Em 1728, os jesuítas foram novamente expulsos. Em 1773, o Ouvidor-Geral passou a residir no seminário onde moravam os jesuítas, com a permissão do Papa Clemente XIV.

 2 – Os Franciscanos

Atendendo a Frutuoso Barbosa, chegaram os padres franciscanos, com o objetivo de catequizar os índios.

O Frei Antônio do Campo Maior chegou com o objetivo de fundar o primeiro convento da capitania. Seu trabalho se concentrou em várias aldeias, o que o tornou importante.

No governo de Feliciano Coelho, começaram alguns desentendimentos, pois os franciscanos, assim como os jesuítas, não escravizavam os índios. Ocorreu que depois de certos desentendimentos entre os franciscanos, Feliciano e o governador geral; Feliciano acabou se acomodando junto aos frades.

A igreja e o convento dos franciscanos foram construídos em um sítio muito grande, onde atualmente se encontra a praça São Francisco.

 3 – Os Beneditinos

O superior dos beneditinos tinha interesse em fundar um convento na Capitania da Paraíba.

O governador da capitania recebeu o abade e conversou com o mesmo sobre a tal fundação. Resolveu doar um sítio, que seria a ordem do superior geral dos beneditinos.

A condição imposta pelo governador era que o convento fosse construído em até dois anos. O mosteiro não foi construído em dois anos, mesmo assim, Feliciano manteve a doação do sítio.

A igreja de São Bento se encontra atualmente na Rua Nova, onde ainda há um cata-vento em lâmina, construído em 1753.

 4 – Os missionários carmelitas

Os carmelitas vieram à Paraíba a pedido do cardeal D. Henrique. Quando chegaram à Paraíba o Brasil estava sob domínio espanhol. Os carmelitas chegaram fundaram um convento e iniciaram trabalhos missionários.

O convento de Nossa Senhora do Carmo deve ter sido construído na Paraíba em 1591, com a sua igreja. Ele foi todo edificado em pedra. Era um edifício simples de um só andar.

A história dos carmelitas aqui na Paraíba é incompleta, uma vez que vários documentos históricos foram perdidos nas invasões holandesas.

Em 1763, Frei Manuel de santa Teresa restaurou o convento, mas logo este foi demolido para servir de residência ao primeiro bispo da Paraíba, D. Adauto de Miranda Henriques.

 5 – O prestígio da Igreja e o Tribunal do Santo Ofício

    A Igreja naquela época dispunha de enorme prestígio. Habitualmente a obtenção de sesmarias era acompanhada do levantamento de capelas, pelos sesmeiros, como símbolo da posse da terra. No interior das casas grandes e fazendas não faltava o oratório, para o terço em família, sendo que também se rezava as refeições. Nas vilas e cidades, as missas faziam-se obrigatórias e o sino das igrejas regulava a vida das habitantes. As eleições eram paroquiais e, cedo, as famílias da classe dominante adquiriram o costume de converter um dos filhos em padre.

Ressalte-se que o clero regular, de franciscanos, jesuítas, beneditinos e carmelitas, dispunha de propriedades, engenhos e escravos, na sede da capitania e fora dela, com o que participava da ocupação da terra.

Com o clero secular chegou à Paraíba, em 1595, a terrível Inquisição cujo Tribunal do Santo Ofício perseguia os acusados de práticas diferentes das permitidas pela Igreja católica e, principalmente, os judeus. Instalada pelo visitador Heitor Furtado  de Mendonça, a primeira visitação do Santo Ofício fez-se tão rigorosa que alcançou o vigário da freguesia de N. S. das Neves. Acusado de ascendência árabe e práticas judaizantes, o padre João Vaz de Salem, homem rico e influente, teve seus bens confiscados. Vários desses reverteriam à ordem beneditina. 

Análise Social; Igrejas


Duarte Coelho Pereira fundou uma nova Lusitânia, composta apenas por nobres. Alguns nobres de Pernambuco se refugiaram para a Paraíba, antes que ocorresse alguma invasão holandesa. Ao chegarem, fizeram seus engenhos, onde viviam com muito luxo, desfrutando de tudo.   Ocorre que nem toda a população vivia tão bem como a nobreza, uma vez que haviam mulheres e moças analfabetas, que só faziam os afazeres domésticos   Havia também outras classes sociais, compostas por comerciantes e aventureiros, que enriqueciam rapidamente, faziam parte da burguesia, querendo chegar a fazer parte da nobreza.   Os integrantes da máquina administrativa constituíam outra classe. Eles eram considerados os homens bons, viviam uniformizados.   O fator mais importante para a sociedade foi a Igreja, devido à sua maneira de catequizar o povo.

     As principais igrejas da época colonial foram as seguintes:

-       A Matriz de Nossa Senhora das Neves;

-       A Igreja da Misericórdia;

-       A Igreja das Mercês;

-       A igreja de N. S. do Rosário dos Pretos;

-       A Capela de N. S. da Mãe dos Homens;

-       A Igreja do Bom Jesus do Martírio 

   Povoados, Vilas, Cidades e seus Padroeiros

Quase todas as povoações, vilas e cidades nasceram ao redor de uma capela que o fervor religioso erigia em homenagem a uma das muitas entidades celestiais cujo santo ou santa de sua invocação passava a padroeiro do lugar com a criação da vila. As santas eram as na escolha dos oragos que predominavam o nome de nossa senhora na variedade de sua nomenclatura hagiológica, e inúmeras freguesias consagraram Nossa Senhora da Conceição como padroeira que foram Areia, Campina Grande, Jacoca, Gurinhém, Ingá, Itabaiana, Araruna, Cabeceiras, Taperoá e Misericórdia e apenas cinco freguesias invocaram nomes de santos que foram Santo Antônio para Painço, São Sebastião para Piauí, São José para São José dos Piranhas, São Miguel para Baia da Tradição e São Paulo para Mamanguape, e as festas de padroeiras davam vida ao lugar pois as musicas, foguetórios, novenas e procissão de encerramento.


Geografia da Paraíba

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