Verificam-se, então, duas grandes linhas de penetração do sertão paraibano. Uma, longitudinal, isto é, do sul para o norte, partiu do Rio São Francisco e, através de afluente deste, penetrou a Paraíba, através da fronteira de Pernambuco. Percorreram-na bandeirantes paulistas, baianos e pernambucanos.
A essa corrente incorporou-se o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho que após esmagar o Quilombo dos Palmares, marchou sobre a Paraíba para fazer o mesmo com os índios da Confederação dos Cariris.
Os
bandeirantes, todavia, não ocuparam a terra, no sentido de faze-la
render, economicamente. Apenas a devassaram, sufocando, onde foi o caso,
a resistência indígena.A ocupação produtiva, isto é, a colonização do sertão da Paraíba, coube,
além dos colonos que seguiram os bandeirantes, à família Oliveira Ledo e
os sesmeiros articulados a estes desbravadores. Esses dois últimos
ingressaram nos sertões da Paraíba, latitudinalmente, isto
é, no sentido horizontal, de leste para oeste, com a maioria operando
por conta própria e alguns sob o patrocínio do governo. Os responsáveis
por expedições denominadas entradas tornaram-se conhecidos como entradistas.
Os Oliveira Ledo,
situados na origem de tantos municípios paraibanos, a partir de Campina
Grande, e região do Cariri, tanto levaram para o interior seus cabedais
como se responsabilizaram por entradas. O patriarca do grupo, Antônio de Oliveira Ledo, estabeleceu vias de penetração sertanejas, através de duas direções:
.
A primeira, partindo da missão de Boqueirão, pelo curso do Paraíba até o
Rio Taperoá, afluente daquele, cruzou o pequeno Rio Farinha e subindo o
curso do Espinharas, nas vizinhanças de Patos, lançou-se para o
nordeste, a fim de através do Rio Piranhas, alcançar a região do atual
município de Brejo do Cruz e penetrou o Rio Grande do Norte, cuja zona
do Seridó pertencia, então, a jurisdição da Paraíba.
.
A segunda via de penetração de Antônio de Oliveira Ledo desviou-se para
o sul, desde boqueirão, a fim de, pelas nascentes do Rio Paraíba,
ingressar
Dois outros Oliveira Ledo, Custódio, irmão de Antônio, e Constantino,
filho de Custódio, também participaram da conquista do sertão da
Paraíba. Quem, todavia, exerceu essa função com maior veemência foi
outro filho de Custódio e sobrinho de Antônio, Teodósio de Oliveira
Ledo.
A
penetração de Teodósio partiu do aldeamento Cariri, de Pilar, no
sentido noroeste, e, virando para o sul, alcançou o Rio Taperoá.
Seguindo em frente, atravessou o planalto da Borborema até Pau Ferrado,
sobre o Rio Piancó, de onde inflectindo para nordeste, alcançou, no vale
do Rio do Peixe, a localidade Jardim, atual Sousa. Descrevendo longo
círculo, penetrou o Seridó norte-rio-grandense pela serra de Luiz Gomes
e, desviando-se para o sul, alcançou a confluência do Rio Piancó com o
Piranhas onde, em 1698, fundou o arraial de Nossa Senhora do Bom Sucesso
do Piancó.
Esse
povoado, do qual deriva a atual cidade de Pombal, constituiu o
principal centro de irradiação de povoamento que compreendem não apenas o
sertão da Paraíba, mas territórios do Rio grande do Norte e Ceará.
Assim podemos observar que Teodósio de Oliveira Ledo consolidou a Conquista do Sertão.
5 – A resistência indígena – a Guerra dos Bárbaros
A presença de entradistas e bandeirantes, pelo sertão da Paraíba, dispunha de outra motivação, além de espalhar o gado pelos campos do criatório. Tratava-se de prear índios, reduzidos ao cativeiro para a vendagem no litoral. Entradistas e bandeirantes como Teodósio de Oliveira Ledo, Domingos Jorge Velho, Domingos Afonso Sertão e Bernardo Vieira de Melo encontravam-se, confessadamente, comprometidos com essa empreitada.
Fosse
por isso, por defenderem suas terras ou porque recebessem estímulos dos
franceses, ativos na embocadura do Rio Açu, no caso o Piranhas, que
muda de nome, no Rio Grande Do Norte, os índios decidiram reagir. Essa
reação, que gerou a chamada Guerra do Bárbaros, vigentes nos sertões nordestinos, de
Três
fases experimentou a Guerra dos Bárbaros. A primeira rebentou na região
norte-rio-grandense do Açu, onde os indígenas se apresentaram com armas
de fogo e munições contrabandeadas pelos franceses. A segunda de maior
duração, teve lugar na Paraíba, ao longo de toda povoação de Bom Sucesso
do Piancó. Expulsos da área, os índios refugiaram-se no Ceará, onde
ocorreu a derradeira fase da guerra dos Bárbaros.
A
crueldade com que essa foi travada fez-se tão acentuada que, a certa
altura, as autoridades lisboetas dirigiram-se ao governador da Paraíba
pedindo explicações sobre o que aí acontecia. Aldeias inteiras estavam
sendo incendiadas e seus habitantes massacrados, sem constituir exceção
mulheres e crianças. Quanto aos adultos que se recusavam à escravidão
eram passados pelo fio da espada.
Na
violência empregada contra os índios destacou-se Teodósio de Oliveira
Ledo, cujas milícias desempenharam o papel de polícia de segurança da
época. Em 1710, como rebentasse em Pernambuco a chamada Guerra dos Mascates, os senhores de engenhos de Olinda e os comerciantes “mascates” do Recife, o governador paraibano João de Maia Gama, partidário dos últimos, deslocou Teodósio para
guarnecer a fronteira do litoral paraibano com Pernambuco. Outro
caudilho sertanejo, Luiz Soares, encarregou-se de proteger o lado
oposto, na Fronteira com o Rio Grande do Norte.
Os mais implacáveis sertanistas acudiram as regiões do Piranhas e Piancó durante as batalhas do alto sertão da Paraíba. um deles, o coronel Manoel de Araújo, deslocou-se com gado e cento e cinqüenta homens bem armados, de fazendas do Rio São Francisco para a zona ocupadas pelos índios Coremas, que eram cariris. A rápida submissão destes ofereceu aos conquistadores que pelejavam mais acima, retaguarda que decidiu a sorte das armas. Só então os Tarairiús foram subjugados. A ocupação do sertão da Paraíba fez-se sangrenta e nele, escaramuças estenderam-se até 1750.
6 – O Povoamento do Sertão
Com os índios pacificados e dominados, os sertanistas puderam continuar a fundar as suas fazendas de gado, que se tornaria mais tarde núcleo de povoação.
A
princípio criando o gado para abastecer as regiões vizinhas, depois as
feiras, as pousadas foram progredindo a ponto de irem se tornando em
povoamento, vilas e hoje cidades.
De acordo com o historiador Irinêo Joffily, a sequência bandeira-curral-fazenda-arraial responsabilizou-se pela formação da sociedade sertaneja na Paraíba.
De
fato, como os bandeirantes, percorrendo o curso dos rios, se
deslocassem com seu gado seguia-se, inevitavelmente, a concentração
deste em currais, campos cercados dotados de rústicas habitações,
geralmente de pau-a-pique. Tratava-se das primitivas fazendas,
localizadas em datas de terra dotadas de capelas que lhes legitimavam a
posse. Se a de Nossa Senhora do Rosário representa, entre 1701 e 1721,
no arraial do Piranhas, embrião da futura vila e cidade de Pombal, as
capelas de cabaceiras em 1730, Jardim do Rio do Peixe (Sousa), Piancó em
1748, Patos em 1772, Catolé do Rocha e Santa Luzia em 1773 e Monteiro
em 1800, significaram o elemento gerador dessas cidades.
Outro elemento formador dos arraiais que se converteram com o tempo, em povoados, vilas e cidades, foram os sítios.
Na qualidade de “maior figura patriarcal do sertão da Paraíba”, o
capitão-mor José Gomes de Sá possuía fazendas arrendadas à Casa da
Torre, como Acauã e Riachão, atuais distritos da região de Sousa. A
cidade de Conceição fez-se, originalmente, data de terra pertencente a
Pedro Monteiro, no vale do Piancó, em cujos sertões, fazendas como São
Gonçalo, Lagoa Tapada e Santo Antônio (atual Piancó), também originaram
sedes de distritos e municípios da Paraíba.
A
disputa pela terra gerou, no sertão, sociedade violenta que se
prolongou no cangaço e lutas de famílias, até bem pouco visíveis em
municípios como Catolé do Rocha, Teixeira, Misericórdia (atual
Itaporanga) e Piancó.
O povoamento da região ficou a cargo dos colonos que eram mamelucos, resultantes de cruzamento do branco com o índio, mais amplo que o cafuzo, proveniente da mistura do índio com o negro e também aí encontrado.
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