domingo, 24 de setembro de 2023

A Independência dos Estados Unidos

As Treze Colônias pertencentes à Grã-Bretanha tinham considerável autonomia em relação à metrópole. No entanto, essa situação começou a mudar na segunda metade do século XVIII. Com a Revolução Industrial em curso provocou amplas mudanças no sistema produtivo, sendo necessários o envio de mais matérias-primas para as indústrias britânicas e a ampliação do mercado consumidor para seus produtos.

Na perspectiva britânica, seguindo os princípios da política mercantilista, suas colônias americanas podiam atender a essas necessidades. Para que isso ocorresse, porém, era preciso reduzir a autonomia das colônias e subordiná-las aos interesses econômicos metropolitanos.

A Independência dos Estados Unidos destrói a unidade do sistema colonial, colaborando decisivamente para a derrocada do Antigo Regime. As 13 colônias, estabelecidas a partir do século XVII no território norte-americano, contam, nas últimas décadas do século XVIII, com mais de 2 milhões de colonizadores. No centro – Pensilvânia, Nova York, Nova Jersey e Delaware – e no norte – Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island e Connecticut – europeus exilados por motivos políticos ou religiosos vivem em pequenas e médias propriedades. Embora a Inglaterra proíba o estabelecimento de manufaturas nas colônias, a incipiente indústria do centro-norte não é incomodada pelas autoridades, pois não compete com o comércio da metrópole. No sul – Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia – predomina a grande propriedade rural, ocupada pela monocultura dirigida à exportação e tocada pela mão-de-obra escrava, com pouco espaço para o trabalho livre. Os nortistas, no entanto, atravessam as fronteiras e concorrem com o comércio metropolitano, levando a Inglaterra a endurecer a política com as colônias.


Influência da Guerra dos Sete Anos 

Travada de 1756 a 1763 entre a Inglaterra e a França e vencida pelos ingleses, transfere para a Coroa britânica a maioria das possessões francesas, incluindo as terras situadas na América, a oeste das 13 colônias. Como os colonos norte-americanos não haviam contribuído para o esforço militar inglês, o Parlamento decide cobrar deles os custos da guerra, aumentando as taxas e reforçando os direitos da Coroa no continente.

Para compensar as perdas financeiras, o Parlamento britânico elaborou leis que visavam criar novos impostos nas Treze Colônias. A imposição desses tributos não era apenas uma forma de captar recursos rapidamente; com eles, a coroa também pretendia frear as atividades manufatureiras nas colônias e, assim, ampliar o mercado para os produtos britânicos. Os impostos foram usados ainda para custear e manter um exército regular na América.

A questão das terras indígenas

Com a vitória na Guerra dos Sete Anos, a Grã-Bretanha expandiu seu território colonial na América do Norte até o Vale do Rio Mississípi. O objetivo era ocupar as áreas recém conquistadas da França e avançar em direção ao oeste. Vários povos indígenas que viviam na região, porém, uniram-se contra as investidas coloniais utilizando táticas de guerrilha. Para combater as forças indígenas, os colonos empregaram todos os recursos, até mesmo a distribuição de objetos infectados para espalhar doenças entre os nativos.
Mesmo com a derrota dos indígenas, a coroa britânica não permitiu o acesso de colonos às terras dos nativos situadas entre os Apalaches e o Mississípi. Com essa proibição, a metrópole pretendia assegurar o controle do comércio de peles na região.
A restrição ao avanço dos colonos para as terras do oeste, somada aos novos impostos, provocou o aumento da tensão entre as Treze Colônias e o governo metropolitano.

Novos impostos ingleses 

Para recuperar as perdas financeiras causadas pela Guerra dos Sete Anos e aumentar o controle sobre suas colônias, o governo britânico criou diversos impostos, que geraram muito descontentamento entre os colonos. São cobrados para cobrir as despesas com uma força militar de 10 mil homens deslocada para a América pelos ingleses. O Parlamento aprova, em 1764, a Lei do Açúcar (Sugar Act) e, em 1765, a Lei do Selo (Stamp Act).
- Lei do Açúcar – também conhecida como Lei da Receita, por meio da qual estabeleceu tarifas alfandegárias para a importação de açúcar, vinho, café e produtos têxteis e de luxo, bem como limitou as exportações de madeira. 
Proíbe a importação de rum estrangeiro e taxa a importação de carregamentos de açúcar procedentes de qualquer lugar que não das Antilhas britânicas. Com essa lei, a metrópole procurou ainda controlar as importações de melaço.
- Lei do Melaço – a coroa britânica já havia tentado impor altos impostos sobre o produto, caso fosse adquirido fora de suas possessões. Contudo, essa lei nunca foi cumprida porque a Grã-Bretanha não conseguia controlar o comércio feito pelas colônias.
- Lei do Selo – Institui a cobrança de impostos sobre documentos, determinando que todos os impressos (livros, jornais, documentos oficiais, certidões, cartazes etc.) deveriam conter um selo real para comprovar que sua circulação havia sido autorizada.
As leis do Açúcar e do Selo são revogadas por pressões dos colonos e dos comerciantes ingleses. Os colonos reagiram com violência, destruindo agências postais, e muitos comerciantes britânicos protestaram, pois os conflitos provocados pela lei atrapalhavam seus negócios. Pressionado, o Parlamento suspendeu a lei no ano seguinte.
- Lei dos Alojamentos – É aprovada em 1765 e exige dos colonos norte-americanos o pagamento pelos alojamentos e alimentação das tropas inglesas.
- Lei do Chá (Tea Act) – É o estopim da crise entre a colônia e a metrópole, pois dá o monopólio do comércio do chá à Companhia das Índias Orientais, depositária dos interesses de diversos políticos ingleses. Com a nova legislação, a Companhia transporta o chá diretamente das Índias para a América, prejudicando os intermediários residentes na colônia.
O governo britânico pretendia, com essa medida, fortalecer a companhia, que enfrentava dificuldades em seus negócios no Oriente. Além disso, visava articular os dois lados do império colonial britânico, que se estendia do Oceano Índico ao Atlântico.
Festa do chá em Boston – Nome pelo qual é conhecida a destruição, em 1773, de três centenas de caixas de chá retiradas dos navios ingleses, no porto de Boston. Disfarçados de indígenas, colonos invadiram navios britânicos ancorados no porto de Boston, capital da colônia de Massachusetts, e despejaram no mar toda a carga de chá.
- Leis Intoleráveis – O nome designa as leis promulgadas pelo Parlamento, em 1774, em represália à revolta da Festa do chá, com o objetivo de conter o clima de insubordinação. 
O porto de Boston foi ocupado e fechado até que os colonos ressarcissem o valor da mercadoria destruída à Companhia Britânica das Índias Orientais. A colônia de Massachusetts foi tomada por tropas metropolitanas, e sua assembleia, fechada.
As demais colônias tiveram de se submeter ao controle militar britânico.
Decretou-se também que os participantes do ataque aos navios seriam julgados por tribunais britânicos, e não pelas cortes coloniais. Mais do que a disputa pelo abastecimento de chá, estava em jogo o domínio britânico na região.
As Leis Intoleráveis provocam a convocação do Primeiro Congresso Continental de Filadélfia (1774), não separatista, cujos participantes pedem ao rei e ao Parlamento a revogação da legislação autoritária como forma de concretizar a igualdade de direitos dos colonos.

O processo de independência (1776-1783)

O processo da Independência tem importante antecedente em setembro de 1774, quando as Leis Intoleráveis determinaram a convocação do Primeiro Congresso Continental de Filadélfia, de caráter não separatista: as principais resoluções do evento foram a desobediência às Leis Intoleráveis, a igualdade de direitos entre os habitantes das colônias e o direito de rebelião.
Em 1775, um conflito em Lexington provocou a morte de alguns colonos e eles passaram a organizar-se militarmente.
O rei declarou os americanos em rebeldia e os colonos passaram à revolta aberta. Um panfleto de Tom Paine, Bom Senso, exortava à luta por liberdade. Em 1776, a Virgínia tomou a iniciativa e declarou-se independente, com uma explícita Declaração dos Direitos do Homem. O Segundo Congresso de Filadélfia, reunido desde 1775, já manifestava caráter separatista. George Washington, da Virgínia, foi nomeado comandante das tropas americanas e encarregou uma comissão, liderada por Thomas Jefferson, de redigir a Declaração da Independência. No documento, defendia-se também o direito dos indivíduos à vida e à liberdade, assim como o de resistir contra a tirania e contra qualquer governo que desrespeitasse esses direitos. Em 4 de julho de 1776, reunidos na Filadélfia, delegados de todos os territórios promulgaram o documento, com mudanças introduzidas por Benjamin Franklin e Samuel Adams.
A Declaração de Independência foi apenas o início da luta pela emancipação. A guerra contra as forças metropolitanas estendeu-se por mais oito anos. No combate aos britânicos, os colonos receberam, após 1777, auxílio militar de franceses, holandeses e espanhóis.
A Guerra da Independência começa em março de 1775: os americanos tomam Boston. Tinham força de vontade, mas interesses divergentes e falta de organização. Das colônias do Sul, só a Virgínia agia com decisão. Os canadenses permaneceram fiéis à Inglaterra. Os voluntários do exército, alistados por um ano, volta e meia abandonavam a luta para cuidar de seus afazeres. Os oficiais, geralmente estrangeiros, não estavam envolvidos no conflito. Vencidos em Nova York e Filadélfia (1777), os colonos ganharam novo ânimo ao ganhar a batalha de Saratoga.
A intervenção francesa foi decisiva. Os franceses estavam afinados com os ideais de liberdade do movimento, estimulados pela propaganda feita por Franklin e motivados pela intenção de golpear a Inglaterra, que lhes havia imposto pesadas perdas em 1763. Assinaram um tratado, transferindo dinheiro aos americanos e buscando a aliança dos espanhóis contra os ingleses. Com a ajuda marítima francesa, a guerra ampliou-se para o Caribe e as Índias. Em 1779, La Fayette conseguiu a liberação de 7 500 franceses comandados pelo general Rochambeau. Em 1781, sitiado em Yorktown, o exército inglês capitulou.
-Declaração de Independência – É redigida por uma comissão de cinco membros liderados por Thomas Jefferson. O documento, com mudanças introduzidas por Benjamin Franklin e Samuel Adams, é promulgado em 4 de julho de 1776, na Filadélfia, por delegados de todos os territórios. A Declaração de Independência dos Estados Unidos é inspirada nos ideais do Iluminismo e defende a liberdade individual e o respeito aos direitos fundamentais do ser humano.
Somente em 1783, com a assinatura do Tratado de Paris, a independência dos Estados Unidos da América foi reconhecida pelo governo britânico, com fronteiras nos Grandes Lagos e no Mississipi. A França recuperou Santa Lúcia e Tobago nas Antilhas e seus estabelecimentos no Senegal. A Espanha recebeu a ilha de Minorca e a região da Flórida.

Da Confederação à constituição

Durante a guerra contra a Grã-Bretanha, os treze estados se organizaram em torno de um governo. Essa união foi estabelecida por meio dos Artigos da Confederação, que teriam validade até que a constituição do país fosse elaborada. O documento, aprovado em 1777, assegurava a autonomia dos estados e atribuía ao Congresso os principais poderes do governo central.
O governo, durante o período da Confederação, teve muita dificuldade para unificar as ex-colônias, que foram fundadas e se desenvolveram de maneira autônoma. Algumas delas relutaram em abrir mão de sua liberdade e chegaram a criar moedas e milícias próprias.
A redação da constituição foi concluída somente em setembro de 1787. Nela foi adotado o modelo federativo, que, embora submetesse os estados ao poder do governo federal, garantia a eles autonomia administrativa, legislativa e de organização militar. O texto constitucional também estabeleceu a divisão do Estado em três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O Poder Executivo era exercido pelo presidente da república,
o Legislativo foi dividido em duas câmaras (Senado e Câmara dos Representantes), que se reuniam para compor o Congresso, e o Judiciário era conduzido pela Suprema Corte.
A Constituição dos Estados Unidos foi elaborada com o propósito de afirmar e proteger os direitos dos cidadãos estadunidenses. No entanto, a noção de cidadania no século XVIII era bastante diferente da que temos hoje. A palavra “cidadão” referia-se aos indivíduos do sexo masculino livres, brancos e que atuavam politicamente na sociedade.
Alguns estados, como Massachusetts, exigiam ainda um mínimo de renda ou de propriedades para a pessoa participar da vida política. A constituição redigida no final do século XVIII
continua em vigor, tendo sido acrescidas a ela, até o momento, 27 emendas. O primeiro conjunto de emendas foi introduzido em 1789 e ficou conhecido como Bill of Rights (Carta de Direitos). Ele assegurou a liberdade de expressão, de imprensa, de crença, de reunião em espaços públicos e de protesto contra o governo. No entanto, mulheres só conquistaram o direito ao voto nos Estados Unidos em 1920 e os negros, apesar de terem esse direito estabelecido pela 15a emenda desde 1870, foram frequentemente impedidos de votar até 1965, quando uma lei federal proibiu a existência de qualquer dispositivo de discriminação racial no processo eleitoral.

Construindo a nação

A união entre as antigas colônias britânicas durante as lutas de independência mostrou-se temporária. Isso aconteceu, principalmente, porque os estados do norte e do sul tinham interesses diferentes e muitas vezes conflitantes, resultado das condições particulares de colonização das duas regiões.
Desse modo, a união promovida pela guerra de independência não foi suficiente para criar o sentimento de identidade nacional entre os habitantes das ex-colônias, ou seja, a ideia de que eles pertenciam a uma nação.
As tensões se tornaram crescentes, e o debate político parecia incapaz de superar as diferenças. Às tensões políticas somaram-se os problemas econômicos. As batalhas pela independência deixaram o país devastado, com inflação e dívidas enormes. Aqueles que lutaram pela independência saíram da guerra sem nenhuma recompensa, a não ser títulos de propriedade de terras indígenas no oeste do país.
Outro fator importante a ser lembrado é que a independência dos Estados Unidos não garantiu o fim da escravidão nem incluiu os indígenas como cidadãos no novo Estado.
No entanto, do ponto de vista político, a independência foi revolucionária. Com ela, nasceu a democracia moderna, fundada nos ideais do Iluminismo. A experiência estadunidense serviria de exemplo de vitória da soberania popular sobre o jugo metropolitano, especialmente para o restante das colônias na América.

Revolução Industrial

A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra, integra o conjunto das “Revoluções Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime, na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa, que sob influência dos princípios iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para Contemporânea.

Momentos da Revolução Industrial

A Revolução Industrial transformou profundamente a natureza e as sociedades. De modo geral, as oficinas dos artesãos perderam espaço para as fábricas. As ferramentas simples foram trocadas por máquinas. Em vez das tradicionais fontes de energia – como água, vento e força muscular –, passou-se a utilizar o carvão e, posteriormente, a eletricidade.

A Europa agrária foi se tornando industrializada, com cidades cada vez mais populosas. Talvez em nenhuma outra época o conhecimento tecnológico tenha gerado tanta riqueza.

O processo de industrialização é longo e costuma ser dividido em, pelo menos, três grandes momentos. A Primeira Revolução Industrial foi um processo que se concentrou na Grã-Bretanha, entre os séculos XVIII e XIX. O maior destaque desse período foi a invenção das máquinas a vapor e o desenvolvimento da fábrica de tecidos de lã e de algodão.

A Segunda Revolução Industrial difundiu-se, entre os séculos XIX e XX, por países como França, Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão. Entre as principais inovações desse momento, destacam-se a locomotiva e o navio a vapor. Além disso, posteriormente, foram criados, por exemplo, a lâmpada elétrica, o automóvel, o avião, o telefone, o rádio e o cinema.
A Terceira Revolução Industrial é um termo utilizado para afirmar que a industrialização está em pleno andamento. Desde meados do século XX, houve um grande salto em inovações tecnológicas, com o desenvolvimento da informática, da microeletrônica, da robótica e da engenharia genética.

Em seu sentido mais pragmático, a Revolução Industrial significou a substituição da ferramenta pela máquina, e contribuiu para consolidar o capitalismo como modo de produção dominante. Esse momento revolucionário, de passagem da energia humana para motriz, é o ponto culminante de uma evolução tecnológica, social, e econômica, que vinha se processando na Europa desde a Baixa Idade Média.

Formas de produção

Nos centros urbanos da Europa, a produção econômica vinha principalmente do artesanato e da manufatura. Essa situação mudou depois da Revolução Industrial.
O artesanato foi a forma de produção característica da Baixa Idade Média, durante o renascimento urbano e comercial, sendo representado por uma produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão), possuía os meios de produção ( era o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalhava com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento final; ou seja não havia divisão do trabalho ou especialização. 
No artesanato, os produtos são feitos manualmente, com o auxílio de ferramentas e em pequena escala. O artesão trabalha em casa ou em sua oficina, onde controla as fases da produção e administra seu tempo. Para produzir uma cadeira, por exemplo, um carpinteiro corta as tábuas de madeira, molda o encosto, o assento e os pés, encaixa essas partes e dá o acabamento final (polimento, pintura etc.).
É importante lembrarmos que nesse período a produção artesanal estava sob controle das corporações de ofício, assim como o comércio também se encontrava sob controle de associações, limitando o desenvolvimento da produção. Com a expansão marítima e a conquista de mercados na América, África e Ásia, cresceu a demanda por artigos da Europa.
Para dar conta dessa procura, comerciantes europeus organizaram grandes oficinas chamadas manufaturas, onde cada trabalhador executava uma parte da produção, que se somava às partes dos outros companheiros de profissão. Essa divisão do trabalho, com produção em série, aumentava a produtividade.
A manufatura, que predominou ao longo da Idade Moderna, resultando da ampliação do mercado consumidor com o desenvolvimento do comércio monetário. Nesse momento, já ocorre um aumento na produtividade do trabalho, devido a divisão social da produção, onde cada trabalhador realizava uma etapa na confecção de um produto. No caso da confecção de sapatos, um trabalhador projetava os modelos, outro preparava o couro, um terceiro recortava e assim por diante, até o acabamento final do produto. A ampliação do mercado consumidor relaciona-se diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção ao oriente como em direção à América, permanecendo o lucro nas mãos dos grandes mercadores. 
Outra característica desse período foi a interferência do capitalista no processo produtivo, passando a comprar a matéria prima e a determinar o ritmo de produção, uma vez que controlava os principais mercados consumidores.
Nesse momento, os produtos manufaturados já representavam cerca de 50% das exportações britânicas. A partir da Revolução Industrial, a produção ficou ainda mais rápida e eficiente com o desenvolvimento de máquinas e a implantação de fábricas, também chamadas maquinofaturas, nas quais a produção se multiplicou, pois, ao operar as máquinas, o trabalhador se especializava na mesma tarefa.
A maquinofatura é a forma mais elaborada de produção industrial. Nessa etapa, as máquinas substituem várias ferramentas, bem como o trabalho de grande quantidade dos operários. A maquinofatura, ou produção mecanizada, iniciou-se com a Revolução Industrial.
Porém, esse operário especializado perdia a visão de conjunto do processo produtivo. A especialização do trabalho levou a uma fragmentação do saber e do fazer.
Apesar dessas alterações nas formas predominantes de produção, o artesanato e as manufaturas continuam a existir até nossos dias. Com a concorrência dos produtos industrializados, os artesãos, por exemplo, encontraram um novo espaço no mercado, voltando-se para a confecção de produtos mais exclusivos e personalizados.

O PIONEIRISMO DA INGLATERRA

A Inglaterra industrializou-se cerca de um século antes de outras nações, por possuir uma série de condições históricas favoráveis dentre as quais, destacaram-se: a grande quantidade de capital acumulado durante a fase do mercantilismo; o vasto império colonial consumidor e fornecedor de matérias- primas , especialmente o algodão; a mudança na organização fundiária, com a aprovação dos cercamentos (enclausures) responsável por um grande êxodo no campo, e consequentemente pela disponibilidade de mão-de-obra abundante e barata nas cidades.
Pioneirismo britânico
Uma série de condições favoreceu o início da Revolução Industrial na Grã-Bretanha, entre elas:
• estabilidade social – a partir da Revolução Gloriosa (1688-1689), o desenvolvimento econômico passou a ser um dos principais objetivos do governo e da burguesia. Em 1694, foi fundado o Banco da Inglaterra, que disponibilizou créditos para financiar novas iniciativas econômicas;
• concentração de riquezas – entre os séculos XVI e XVIII, os britânicos acumularam capital por meio do tráfico de escravizados e da exploração de suas colônias. Além disso, lucraram com o comércio de produtos manufaturados enviados para América, África e Ásia;
• abundância de mão de obra – a população das cidades cresceu devido à migração de camponeses para áreas urbanas. As terras de uso comum onde os camponeses produziam seu sustento foram cercadas e transformadas em propriedades privadas, voltadas para produção de lã e outras mercadorias. Esse processo, chamado cercamento, começou nos séculos anteriores e, aos poucos, se intensificou;
• disponibilidade de recursos naturais – existiam ricas jazidas de ferro e de carvão mineral na Grã-Bretanha, que possibilitaram o desenvolvimento industrial. Outros países contavam apenas com o carvão vegetal, obtido da madeira;
• ética protestante – o puritanismo britânico, derivado do calvinismo, estimulava o trabalho árduo e disciplinado como um dever do cristão. Essa concepção religiosa não condenava a acumulação de riquezas. Lucrar, trabalhar e rezar eram valores fundamentais do puritanismo.

Inovações tecnológicas

Os seres humanos sempre utilizaram sua inteligência e criatividade para modificar o mundo à sua volta. Isso lhes permitiu inventar coisas extraordinárias, como a roda e o barco a vela. No entanto, a partir do século XVIII, as inovações tecnológicas deram um salto, tornando-se cada vez mais eficientes. A seguir, destacamos alguns dos marcos dessas inovações tecnológicas. 
O tear mecânico foi inventado em 1785, sendo utilizado na fabricação de tecidos de lã e de algodão. Usava-se, sobretudo, a lã produzida na Grã-Bretanha e o algodão produzido nas colônias britânicas da América e da Ásia.
A máquina a vapor, aperfeiçoada por James Watt em 1765, teve várias finalidades, mas ganhou destaque no século XIX, quando foi aplicada a meios de transporte como a locomotiva e o navio a vapor. 
A locomotiva a vapor foi, talvez, o maior avanço no transporte terrestre desde a construção das estradas romanas. Pelas locomotivas, circulavam pessoas, alimentos, cartas, jornais e grande diversidade de produtos, como roupas e livros. As viagens tornaram-se mais rápidas e os trens chegavam às estações em horários previstos. O percurso entre as cidades de Londres (na Grã-Bretanha) e Glasgow (na Escócia), que levava doze dias a cavalo no século XVIII, passou a ser feito em dois dias de trem. O inventor da primeira locomotiva a vapor foi o engenheiro britânico George Stephenson, em 1714.
O navio a vapor transformou profundamente o transporte marítimo. A partir dessa invenção, foi possível navegar sem ventos e por caminhos difíceis, como os estreitos marítimos. Com a construção do Canal de Suez, em 1869, ligando o Mar Mediterrâneo ao Oceano Índico, os navios a vapor reduziram pela metade a distância entre a Índia e a Europa. O inventor do primeiro barco a vapor bem-sucedido foi o engenheiro estadunidense Robert Fulton, em 1807.

As primeiras máquinas

Ao longo da Revolução Industrial, foram inventadas máquinas que não dependiam do esforço do trabalhador para funcionar. O que as diferenciava de outras ferramentas era a presença de um motor. Esse dispositivo aumentava a velocidade e a força aplicadas a determinada operação. Dessa forma, o emprego das máquinas na produção de objetos proporcionou lucro e produtividade em proporções desconhecidas até então.
As primeiras máquinas desenvolvidas eram voltadas à produção têxtil, setor em que as manufaturas inglesas eram mais fortes e controlavam um vasto mercado. Em 1735, John Kay criou a lançadeira volante. Três décadas depois, em 1764, James Hargreaves inventou a spinning jenny, que possibilitava a um só artesão fiar 80 fios ao mesmo tempo. Cinco anos depois, a waterframe, invenção atribuída a Richard Arkwright, movida pela força da água, foi projetada.
Entretanto, a waterframe precisava ser colocada próximo de um rio e era muito grande e cara para que um artesão a tivesse em casa. Por isso, ela só podia ser instalada em grandes espaços, ou seja, nas fábricas, o que demandava a concentração dos trabalhadores no local. Andrew Ure, um dos
principais defensores do sistema de fábrica, resumiu, em um livro publicado em 1835, a modificação do ritmo e da forma de trabalho que o novo sistema exigia.
Os inventos de Kay, Hargreaves e Arkwright foram importantes para o processo de industrialização. O acontecimento decisivo, porém, ocorreu na segunda metade dos anos 1760, quando James Watt aperfeiçoou a máquina a vapor, conseguindo controlar a força expansiva do vapor liberado pela água e usá-la para girar rodas.
Essa inovação completou um longo período de esforços científicos para aproveitar o aumento do volume da água em ebulição. A máquina a vapor passou a ser utilizada para movimentar as pesadas máquinas da indústria têxtil e para retirar a água que inundava as minas de carvão e de ferro.

Fontes de energia e comunicação

A partir, sobretudo, de meados do século XIX, a industrialização se expandiu por outros países. Esse período
foi marcado pelo desenvolvimento de novos materiais e fontes de energia.
O aço, por exemplo, passou a ser utilizado no lugar do ferro na produção de ferramentas, máquinas, trilhos de trem, edifícios e pontes. A energia elétrica foi utilizada em vez do carvão para fornecer iluminação e movimentar máquinas industriais, trens e bondes.
O petróleo e seus derivados, como a gasolina e o diesel, tornaram-se os principais combustíveis dos novos meios
de transporte.
Nos meios de comunicação, podemos destacar a invenção
do telégrafo e do telefone.
O telégrafo (do grego, tele = longe + grafia = escrita) foi outra invenção extraordinária, que facilitou a comunicação.
Esse aparelho, capaz de enviar mensagens codificadas por meio de fios, foi inventado por Samuel Morse (1791-1872) por volta de 1832. Morse também inventou um código (Código Morse) que foi o grande marco desse sistema. Além da via terrestre, foram instalados cabos submarinos de telégrafo.
No final do século XIX, uma mensagem telegráfica podia ser transmitida mundo afora em cerca de 24 horas.
O telefone (do grego tele = longe + fone = som) foi inventado,
em 1876, por Alexandre Graham Bell (1847-1922) nos Estados Unidos. Não demorou muito para que fossem instaladas linhas telefônicas de longa distância nos Estados
Unidos e em outras regiões do mundo.

Impactos da industrialização

As revoluções industriais provocaram transformações no
mundo do trabalho, na contagem do tempo, no meio ambiente
e na dinâmica de circulação de pessoas, mercadorias
e culturas.

Trabalho nas fábricas

Nesse período, surgiram duas classes sociais: a burguesia industrial (patrões) e o proletariado (operários). De modo geral, os burgueses eram donos das matérias-primas, das máquinas e das fábricas. Já os proletários vendiam sua força
de trabalho em troca de um salário.
Em geral, as fábricas tinham instalações insalubres, onde os  operários eram submetidos a uma disciplina rigorosa e a uma intensa fiscalização. Frequentemente, sofriam maus-tratos, que incluíam desde ameaças até agressões físicas.
As tarefas dos operários tinham horários definidos e a vida deles passou a ser controlada pela “tirania do relógio”. O atraso no trabalho era punido com redução salarial, embora quase nenhum operário ganhasse o suficiente para comprar um relógio pessoal.
O salário era tão baixo que o operário precisava cumprir longas jornadas diárias, de até 15 horas, para sobreviver.
Mesmo assim, muitos operários e suas famílias passavam por grandes dificuldades, como falta de alimentos, e viviam em condições precárias.
Em diversos casos, diferentes famílias moravam em um mesmo cômodo para dividir os gastos com o aluguel.

Trabalho feminino e infantil

Desde os tempos mais antigos, mulheres e crianças trabalhavam na agricultura, na criação de animais e no artesanato. No entanto, com a Revolução Industrial, elas passaram a cumprir longas jornadas de trabalho, recebendo salários bem mais baixos que os dos homens.
As mulheres, além de trabalharem nas fábricas, cuidavam da casa e dos filhos. É a chamada dupla ou tripla jornada de trabalho, uma injustiça que ainda permanece em várias regiões do mundo.
As crianças trabalhavam em condições semelhantes às dos adultos, o que provocava sérios danos à saúde, como dores no corpo e doenças crônicas (bronquites e alergias). Elas também não tinham acesso à educação. Atualmente, no Brasil, a exploração do trabalho infantil é considerada crime e o acesso à educação é um direito de todas as crianças.

Movimentos operários

No início da industrialização, não havia direitos trabalhistas para regular as condições de trabalho. A maioria dos contratos eram verbais e podiam ser encerrados a qualquer instante pela livre vontade do patrão.
Às vezes, impunham-se contratos verbais vitalícios, que equivaliam a uma servidão disfarçada. Havia, então, motivos de sobra para que os operários organizassem movimentos de resistência. Em 1791, por exemplo, operários anônimos incendiaram a primeira fábrica londrina a usar energia a vapor, que foi chamada de “moinho satânico”. Entre 1811 e 1812, outros operários destruíram máquinas fabris por considerá-las culpadas pela opressão. Esse movimento, conhecido como ludismo, foi severamente reprimido pelo governo britânico.
Apesar da repressão, os movimentos operários seguiram em busca de ideais. Assim, nasceram os primeiros sindicatos, associações de empregados que lutavam por melhores condições de trabalho.
Em 1824, no Reino Unido, entrou em vigor uma lei que permitiu a existência dos primeiros sindicatos. Em 1834 foi fundada por Robert Owen a União Nacional dos Sindicatos, que reuniu meio milhão de trabalhadores. Após anos de lutas, os operários britânicos conquistaram direitos trabalhistas, como a redução das jornadas de trabalho e a proibição do trabalho infantil.

No ritmo do relógio

Antes da Revolução Industrial, o tempo era basicamente contado em função das estações do ano, das atividades agrícolas, das festas populares e das celebrações religiosas. Essa contagem estava associada a fenômenos da natureza (chuvas e secas, calor e frio, o dia e a noite).
Com a Revolução Industrial, os trabalhadores, cumprindo as exigências da empresa, foram obrigados a se adaptar ao ritmo do relógio, que conta o tempo em horas e minutos. Difundiram-se, então, frases como “Tempo é dinheiro” e “Não perca tempo”. Tais expressões estavam ligadas ao funcionamento das fábricas, iluminadas pela energia elétrica, onde os trabalhadores se revezavam em turnos diurnos e noturnos. Com isso, os relógios mecânicos tornaram-se símbolos desse tempo que a indústria impôs aos trabalhadores.
Nos dias atuais, as relações das pessoas com o tempo também foram impactadas pelas tecnologias de comunicação, que trouxeram uma instantaneidade na troca de informações. Essa instantaneidade contribui, por exemplo, para dinamizar a economia. Hoje, é possível conversar por videoconferência com pessoas de diferentes países ao mesmo tempo, sem sair de casa. No entanto, essa rapidez nas comunicações também provoca problemas, como o aumento de casos de ansiedade, hiperatividade, depressão e insônia.
Vivemos numa “aldeia global”, conectados via internet em nossas “cabanas digitais” por meio de smartphones e computadores. Com a pandemia de covid-19, muitas pessoas passaram a trabalhar em casa (home office) usando aplicativos de mensagens, teleconferência e acesso remoto.

Devastação ambiental e sustentabilidade

Nas sociedades industriais, o carvão mineral (a partir de 1760) e os derivados de petróleo (a partir do século XIX) tornaram-se importantes fontes de energia. A queima desses combustíveis, no entanto, libera substâncias tóxicas que contaminam o ar, o solo e as águas.
Até meados do século XX, na maioria dos países industrializados, não era obrigatório o uso de filtros nas chaminés das fábricas e nos escapamentos dos automóveis, tampouco havia tratamento adequado de esgoto nas cidades.
A poluição impactou a vida de milhares de pessoas, causando doenças e mortes decorrentes, por exemplo, de problemas respiratórios. A maioria das pessoas não tinha consciência de que os recursos naturais são limitados e de que as ações humanas causam fortes impactos no meio ambiente. Atualmente, isso está mudando.
A preservação do meio ambiente é uma das principais questões do mundo contemporâneo. Cada vez mais, cidadãos e instituições preocupam-se com ecologia e desenvolvimento sustentável. É urgente a conscientização de que os recursos naturais podem acabar e de que o meio ambiente não suporta um crescimento econômico irresponsável. Assim, multiplicam-se iniciativas que visam à redução da produção de resíduos, ao uso responsável da água, à implantação de fontes de energia limpa, entre outras.

População e urbanização

Outro efeito marcante da Revolução Industrial foi o crescimento da população urbana. Isso ocorreu devido a três condições principais:
• migrações de pessoas do campo para a cidade, atraídas pela possibilidade de conseguir empregos e melhores condições de vida;
• melhorias nos padrões de saúde com a descoberta da vacina contra a varíola, da anestesia com éter, do bacilo causador da tuberculose (e de formas de combatê-lo) e da necessidade de assepsia nos procedimentos médicos;
• maior oferta de alimentos, devido à modernização agrícola, com a adoção de novos arados, debulhadoras e ceifadeiras.
Calcula-se que, em 1801, existiam apenas 23 cidades europeias com mais de 100 mil habitantes. Em 1900, já eram 135 cidades. No final do século XIX já havia 19 cidades com mais de meio milhão de moradores na Europa.

DESDOBRAMENTOS SOCIAIS

A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, com enormes concentrações urbanas. A produção em larga escala e dividida em etapas irá distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores irá dominar apenas uma etapa da produção. Na esfera social, o principal desdobramento da revolução foi o surgimento do proletariado urbano (classe operária), como classe social definida. Vivendo em condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia e submetido a salários irrisórios com longas jornadas de trabalho, a operariado nascente era facilmente explorado, devido também, à inexistência de leis trabalhistas.
O desenvolvimento das ferrovias irá absorver grande parte da mão-de-obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres a e crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas.
Mulheres e crianças nas fábricas
O agravamento dos problemas sócio-econômicos com o desemprego e a fome, foram acompanhados de outros problemas, como a prostituição e o alcoolismo. Os trabalhadores reagiam das mais diferentes formas, destacando-se o movimento “ludista” (o nome vem de Ned Ludlan), caracterizado pela destruição das máquinas por operários, e o movimento “cartista”, organizado pela “Associação dos Operários”, que exigia melhores condições de trabalho e o fim do voto censitário.
Destaca-se ainda a formação de associações denominadas “trade-unions”, que evoluíram lentamente em suas reivindicações, originando os primeiros sindicatos modernos.
O divórcio entre capital e trabalho resultante da Revolução Industrial, é representado socialmente pela polarização entre burguesia e proletariado. Esse antagonismo define a luta de classes típica do capitalismo, consolidando esse sistema no contexto da crise do Antigo Regime

A Era Napoleônica

Depois de dez anos de revolução (1789-1799), a sociedade francesa encontrava-se arrasada pelas disputas internas e pelas guerras externas. Napoleão conquistou a confiança da burguesia em virtude de seus êxitos militares e, em 1802, um plebiscito concedeu a Napoleão o título de cônsul vitalício. Dois anos depois, outra consulta popular o transformou em imperador dos franceses. Napoleão Bonaparte foi conduzido ao poder por meio de um golpe de Estado articulado por políticos ligados aos interesses burgueses.

A ação dos golpistas foi facilitada pela situação da França naquele momento histórico: o governo do Diretório era corrupto e dava provas de incompetência administrativa; a crise econômica, a inflação e a ameaça externa, persistentes, geravam um clima de grande instabilidade política. Além disso, a maioria dos franceses – abalada por dez anos de revolução – desejava um governo capaz de estabelecer a ordem e a paz.

De sua parte, a burguesia ansiava por um regime autoritário, com força suficiente para impedir a reconquista do poder pelos jacobinos.
Os políticos burgueses julgaram, então, que um general jovem, popular e ambicioso era o homem certo para liderar uma ação contra o desmoralizado Diretório. Por isso, no final de 1799, eles próprios deram autorização para que Napoleão Bonaparte invadisse a sala de sessões da Assembleia acompanhado de seus soldados e concretizasse o golpe conhecido com o 18 Brumário.
Durante o período em que exerceu o poder (1799-1814), o governo de Napoleão adotou medidas para recuperar a economia e as instituições do Estado. Incentivou a industrialização, criou o primeiro banco nacional francês e promoveu obras públicas, como a construção de estradas, a fim de gerar empregos.

O governo de Napoleão

Podemos dividir o Período Napoleônico em três fases: o Consulado (1799-1804), o Império (1804-1815) e os Cem Dias (1815).

O Consulado (1799-1804)

Logo após a sua ascensão ao poder. Napoleão ordenou que votasse, às pressas, uma nova Constituição, através da qual se instituiu um novo regime: o Consulado.
De acordo com essa Constituição, a nação devia ser chefiada por três cônsules, designados por um período de dez anos. De fato, o poder passou às mãos do primeiro-cônsul, Napoleão Bonaparte. Cabia a ele nomear ministros e parte dos parlamentares, propor leis, dirigir o exército, declarar a guerra e firmar a paz. Seus poderes equivaliam, portanto, aos de um ditador.
Buscando soluções para os sérios problemas econômicos em que a França se via mergulhada, o primeiro-cônsul tomou uma série de importantes medidas:
- confirmou a distribuição de terras decretada por Robespierre, que transformou milhões de camponeses em pequenos proprietários;
- criou o Banco da França (1800);
- ativou a industrialização francesa, criando a Sociedade de Fomento à Indústria Nacional e aumentando as taxas alfandegárias sobre os artigos importados;
- racionalizou o sistema de cobranças de impostos;
- utilizou o dinheiro arrecadado para dar início à construção de importantes obras públicas como estradas, pontes e drenagem de pântanos.
O Consulado adotou também uma nova política religiosa. Assinou com a Igreja uma Concordata (1801) que reconhecia o catolicismo como a religião da maioria dos franceses e admitia a liderança espiritual do papa sobre o clero da França. Em compensação, o papa reconhecia o confisco dos bens da Igreja e o direito de Napoleão nomear os bispos.
No plano externo, o Consulado enfrentou e venceu uma outra coligação estrangeira contra a França e assinou acordos de paz com a Áustria, a Rússia e a poderosa Inglaterra (1802).
Nesse período, foi elaborado o Código Civil, conhecido como Código Napoleônico. Esse documento possuía cerca de dois mil artigos, dos quais oitocentos regulamentavam e garantiam a propriedade privada e apenas 7 referiam-se ao trabalhador.
A revitalização da economia francesa, a eficiência da nova administração e o estabelecimento da paz entre a França e seus tradicionais inimigos externos deram um grande prestígio a Napoleão Bonaparte.
Valendo-se de sua crescente popularidade, Napoleão aumentou enormemente seus poderes. Por meio de um plebiscito realizado em 1802, tornou-se cônsul vitalício, com direito a indicar seu sucessor. Dois anos depois, com um novo plebiscito (precedido de intensa propaganda governamental), foi aclamado imperador dos franceses por cerca de 4 milhões de eleitores (80% do total).

O Império (1804-1815)

Nesse período, Napoleão Bonaparte pôs em prática uma política expansionista, que culminou com a dominação de praticamente toda a Europa. O imperialismo napoleônico objetivou, em essência, possibilitar à burguesia francesa os mercados consumidores de que necessitava para decolar o comércio e, principalmente, a indústria francesa.

Portanto, podemos salientar que o período imperial napoleônico foi marcado por uma série de conflitos diplomáticos e guerras que envolveram a maior parte dos países europeus, em geral, contra a Inglaterra, que, embora estivesse fundamentada em um regime de caráter liberal-burguês, via na França uma grande concorrente continental aos seus produtos industrializados. Os demais países, que organizaram várias coligações contra o império napoleônico, eram monarquias absolutistas temerosas dos reflexos mais gerais da Revolução Francesa e dos ideais iluministas. Dessa maneira, por fatores de ordem econômica ou política, Napoleão Bonaparte estava rodeado de adversários.
O primeiro confronto das forças napoleônicas deu-se contra a terceira coligação, formada no ano de 1805 pela Inglaterra, Rússia e Áustria. Contando com o apoio da Espanha, arquiinimiga britânica, a marinha francesa tentou invadir a Inglaterra. Contudo, foi detida na Batalha de Trafalgar pelo legendário Almirante Nelson.
Nesse mesmo ano, Napoleão e seus exércitos demonstraram o poderio terrestre francês ao vencerem os exércitos da Áustria, Rússia e da Prússia na Batalha de Austerlitz. Napoleão Bonaparte, após essa vitória, extingue o Sacro Império Romano-Germânico, criando em seu lugar a Confederação do Reno, que permaneceu sob a tutela da França.
No ano de 1806, Napoleão voltou a vencer a Prússia na Batalha de Lena, e os russos foram derrotados em Friedland.

Era Napoleônica e Congresso de Viena

Seguindo sua política de dominar a Europa e promover o isolamento da Inglaterra, após invadir Berlim, assinou o tratado que decretou o Bloqueio Continental, em que proibia aos países europeus o comércio com os ingleses no continente, agora dominado pela França.
No ano de 1807, com o intuito de consolidar seus interesses na península Ibérica, realizou com a Espanha o Tratado de Fontainebleau e promoveu a invasão de Portugal, o que resultou na vinda da família real para o Brasil. No ano seguinte, invadiu a Espanha, onde a resistência popular crescia contra o imperialismo napoleônico.
Em 1809, Napoleão consolidou seus interesses na península Itálica ao promover a anexação dos Estados Pontifícios. De 1810 a 1812, o poderio francês na Europa era indiscutível. Em 1812, foi iniciada a campanha da Rússia. Nesse mesmo período, os espanhóis reafirmaram sua resistência e soberania com revoltas de cunho popular que resultaram em vitórias sobre os franceses. 
A campanha da Rússia, na qual Napoleão se defrontou não só com forças lideradas por Kutzov, mas também, com uma vigorosa reação popular e um inverno rigoroso, resultou num grande fracasso militar e moral para Napoleão e seus exércitos.
Retirada da armada de Napoleão
A partir do ano de 1813, os inimigos de Napoleão buscaram a ofensiva. Na Batalha de Leipzig, a coligação de exércitos da Áustria, da Prússia e da Rússia derrotaram as forças francesas.
No início de 1814, liderados pelo czar Alexandre I, os exércitos coligados invadiram a França, chegando a Paris ao final de março do referido ano.
Napoleão Bonaparte foi obrigado a abdicar, sendo levado para o exílio na pequena ilha de Elba, no Mediterrâneo. Os Bourbon, na pessoa de Luís XVIII, com o auxílio das tropas coligadas, foram reconduzidos ao trono francês.

Os Cem Dias (1815)

Contudo, não foi muito prolongado o exílio de Napoleão Bonaparte. Após conseguir fugir de Elba, desembarcou na França e tomou o poder com o apoio de seus fiéis seguidores.
Sob a liderança da Inglaterra, a Prússia, a Áustria e a Rússia formaram uma nova coligação. Comandadas pelo General Wellington, derrotaram as tropas napoleônicas em definitivo na Batalha de Waterloo, na Bélgica. Napoleão foi feito prisioneiro e deportado para a ilha de Santa Helena, onde veio a falecer em 1821. Com isso, apoiado nos exércitos coligados e no Congresso de Viena, Luís XVIII teve seu poder restaurado.

O Congresso de Viena

Logo em seguida à primeira derrota de Napoleão Bonaparte, as monarquias europeias, representadas por seus ministros, reuniram-se no Congresso de Viena (1814-1815), com a finalidade principal de estabelecer a paz e a reorganização de um novo mapa político da Europa, cujas fronteiras haviam sido bastante alteradas com as conquistas napoleônicas.
O Congresso de Viena
Os conflitos de interesses e as disputas entre os representantes das nações vencedoras facilitaram o trabalho do ministro francês, Talleyrand. Segundo o princípio da legitimidade, as nações européias voltariam aos limites geográficos anteriores à Revolução Francesa, como também seriam restauradas as mesmas dinastias do Antigo Regime.
Dessa forma, Talleyrand, com sua diplomacia, livrou a França de duas ameaças: o retalhamento e a perda de territórios e a ocupação por exércitos coligados.
Por iniciativa do czar Alexandre I, a Rússia, a Áustria e a Prússia firmaram um tratado de ajuda mútua e contra-revolucionário conhecido como Santa Aliança. Posteriormente, esse organismo teve a adesão de outras nações europeias.
O representante austríaco, príncipe Metternich, defendeu o direito de intervenção. De acordo com esse princípio, a Santa Aliança teria o direito de intervir nos países onde ocorressem revoluções de caráter liberal e movimentos coloniais de emancipação política. Com isso, a Santa Aliança constitui-se numa instituição mantenedora do absolutismo na Europa, numa época de grande expansão dos ideais de liberdade e independência (Doutrina Monroe).


A Revolução Francesa

O Antigo Regime – ordem social que garantia os privilégios do clero e da nobreza – foi sendo abalado e destruído lentamente por uma série de fatores, como as revoluções burguesas na Inglaterra, o Iluminismo, a Revolução Industrial e a Independência dos Estados Unidos da América.
Mas o fator que aboliu de vez o Antigo Regime foi a Revolução Francesa (1789-1799), uma profunda transformação sócio-política ocorrida no final do século XVIII que continua repercutindo ainda hoje em todo o Ocidente.
O principal lema da Revolução Francesa era “liberdade, igualdade e fraternidade”. Por sua enorme influência, a Revolução Francesa tem sido usada como marco do fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea. Embora não tenha sido a primeira revolução burguesa ocorrida na Europa, foi, com certeza, a mais importante.

1. Situação social, política e econômica da França pré-revolucionária

a) Sociedade

A França pré-revolucionária era um país essencialmente agrícola. O clero e a nobreza possuíam enormes privilégios e o rei governava de modo absolutista, prestando contas de seus atos somente a Deus.
O primeiro estado era formado por cerca de 120 mil pessoas, todas do clero da Igreja Católica – cardeais, bispos, abades, sacerdotes e monges. O Primeiro Estado estava dividido em alto e baixo clero.
O alto clero – cardeal, bispos, arcebispos e abades – era constituído por indivíduos de famílias nobres. Acumulava riquezas por meio de suas numerosas propriedades e da cobrança do dízimo, um imposto que recaía sobre as colheitas de todas as propriedades rurais do reino.
O baixo clero – padres, frades e monges – era formado por indivíduos vindos de famílias pobres. Recebia apenas uma porcentagem mínima das rendas da Igreja, sendo obrigado a levar uma vida bastante modesta.
A Igreja desfrutava de muitos privilégios, possuía 20% das terras e recebia o dízimo dos fiéis. Além disso, os membros do clero não pagavam impostos, eram isentos do serviço militar e tinham direito a julgamento em tribunal próprio.
O segundo estado abarcava cerca de 400 mil pessoas. Parte era composta pelos representantes da chamada nobreza de sangue, ou seja, os grandes proprietários de terras que detinham títulos de nobreza, herdados de seus antepassados:
duques, marqueses, condes, viscondes e barões.
O Segundo Estado também apresentava uma divisão interna. Dividia-se em nobreza cortesã, nobreza provincial e nobreza de toga. A nobreza cortesã vivia nas proximidades do Palácio de Versalhes entre caçadas, festas e torneios de esgrima, e era sustentada pelas pensões e privilégios que recebia do rei.
A nobreza de toga era formada por ricos burgueses que compravam títulos de nobreza. Ocupava altos cargos administrativos e políticos, que também tinham sido comprados.
O Terceiro Estado era composto por grupos sociais bastante distintos: camponeses, trabalhadores urbanos, pequena, média e alta burguesia. Os camponeses constituíam a maioria da população francesa. Quase todos eram livres, mas havia também os servos, que estavam presos à terra e às antigas obrigações feudais, como a corveia (prestação de serviços gratuitos ao senhor) e a banalidade (pagamento pelo uso de moinhos e fornos do senhor). Todos os camponeses deviam uma série de obrigações e impostos ao rei e à Igreja. Geralmente moravam e se alimentavam muito mal. Tinham, portanto, motivos de sobra para se rebelarem contra o Antigo Regime.
Os trabalhadores urbanos também estavam submetidos a péssimas condições de vida e trabalho. Eram operários, artesãos ou empregados domésticos. Havia também um grande número de desempregados.
Essa parte mais pobre da população urbana da França do século XVIII era conhecida como sans-culotte. Os culotes eram calções masculinos justos que iam da cintura até os joelhos, usados pelos nobres. Os trabalhadores, ao contrário, vestiam calças compridas, largas, feitas de pano grosseiro. Daí a expressão sans-culotte, ou seja, sem culote. Os sans-culotte tiveram papel fundamental na revolução, na qual formaram a ala mais radical.
A pequena burguesia era representada por pequenos comerciantes e artesãos independentes; a média burguesia, por profissionais liberais (médicos, professores, advogados) e donos de lojas; a alta burguesia, por banqueiros e grandes empresários.
O clero e a nobreza concentravam terras, poder político e privilégios, dos quais o mais importante era o de não pagar impostos.
A crítica por meio de charges foi comum na França do século XVIII, época em que o país experimentou profundas mudanças políticas e sociais, que culminaram na chamada Revolução Francesa (1789-1799).
O Terceiro Estado
O Terceiro Estado, por sua vez, pagava todos os impostos e sustentava o rei, o clero e a nobreza. Isso explica por que, apesar de sua formação heterogênea, o Terceiro Estado uniu-se para lutar contra os privilégios do clero e da nobreza.

b) Economia

A principal atividade econômica na França daquela época ainda era a agricultura: cerca de 80% da população vivia e trabalhava no meio rural. Apesar disso, e de novas técnicas agrícolas implementadas durante a segunda metade do século XVIII, boa parte da população passava fome. Isso acontecia porque os pesados impostos empobreciam o povo.
Essa difícil situação agravava-se ainda mais quando ocorriam secas prolongadas ou inundações. Como na década de 1780 tais fenômenos foram frequentes, ocorreram várias crises de abastecimento. Por causa disso, o preço dos alimentos disparou, levando a maioria da população ao desespero.
A atividade comercial também enfrentava dificuldades. Uma delas era a existência dos direitos de passagem, impostos que os nobres cobravam sobre a circulação de mercadorias em suas terras.
A indústria, por sua vez, vinha sendo prejudicada pelas regulamentações mercantilistas impostas pelo governo, pela pobreza da população e pelo tratado que a França assinou com a Inglaterra em 1786. Por esse acordo, os tecidos ingleses ganharam o direito de entrar na França sem ter de pagar impostos, passando a concorrer diretamente com as manufaturas francesas e causando a falência de muitas delas.

c) A vida política

A crise econômica tornou-se mais aguda no reinado de Luís XVI. Apesar disso, o rei continuou a ter gastos fabulosos, tanto para manter o luxo de sua corte, quanto para custear a participação da França em conflitos como, por exemplo, a guerra de independência dos Estados Unidos.
Gastando mais do que arrecadava, impondo o mais rigoroso absolutismo e governando de acordo com a teoria do direito divino dos reis, Luís XVI desagradava enormemente os membros do Terceiro Estado.
As críticas mais duras eram feitas por integrantes da burguesia que, com base nas ideias iluministas, passaram a exigir o fim do absolutismo, dos privilégios do clero e da nobreza e da interferência do Estado na economia. Em nome da modernização da França, a burguesia desfraldou, então, a bandeira do liberalismo econômico e da igualdade de todos perante a lei.

2. Processo revolucionário

O longo processo revolucionário francês (1789-1799) foi complexo e contraditório. Para melhor entendê-lo, os historiadores costumam dividi-lo em diferentes fases. Não havendo um consenso entre os historiadores sobre essa divisão, adotaremos aqui a seguinte:

· Revolta Aristocrática;
· Assembleia Nacional Constituinte;
· Monarquia Constitucional;
· Convenção Nacional;
· Governo do Diretório.

Revolta Aristocrática
O tiro saiu pela culatra

Para solucionar a grave crise econômica da França, o rei Luís XVI viu-se obrigado a criar novos tributos para o terceiro estado, ou a acabar com a isenção tributária do primeiro e segundo estados.
Sentindo seus privilégios tradicionais ameaçados, a nobreza e o clero se revoltaram, em 1787, e pressionaram o rei para que convocasse a Assembleia dos Estados Gerais. 
Assembleia dos Estados Gerais
Os Estados Gerais eram uma assembleia formada pelos representantes dos três estados ou ordens em que também se dividia a sociedade francesa.
O objetivo era obrigar o terceiro estado a assumir os tributos. Contavam para isso com o próprio sistema tradicional de votação da Assembleia. A votação era feita por grupo, ou seja, cada “ordem social” tinha direito a apenas um voto, independentemente do número de representantes. Assim, clero e nobreza, unidos, teriam sempre dois votos contra apenas um voto do terceiro estado.
Em maio de 1789 os Estados Gerais se reuniram no Palácio de Versalhes. Ao tomar conhecimento de que a votação dos projetos seria feita como de costume – ou seja, cada ordem teria direito a um voto –, os deputados burgueses protestaram: afinal isso garantiria a vitória do Primeiro e do Segundo Estado, que, unidos, defenderiam privilégios e interesses comuns.
Terminada a sessão, os membros do Terceiro Estado propuseram aos deputados dos outros dois que todos se reunissem em assembleia, na qual cada indivíduo teria direito a um voto. Como a proposta foi recusada, os deputados do Terceiro Estado, com apoio de alguns membros do baixo clero e da nobreza, declararam-se em Assembleia Nacional e juraram permanecer reunidos até que ficasse pronta a constituição.
Estava iniciada a revolução.

Assembleia Constituinte: a revolução nas ruas

Em 9 de julho de 1789, reuniu-se a Assembleia Nacional Constituinte, encarregada de elaborar uma Constituição para a França.
Preocupado com seu futuro político, o rei Luís XVI tentou organizar tropas para reprimir as manifestações burguesas e populares, mas não obteve sucesso.
No dia 14 de julho de 1789, a massa urbana de Paris tomou a Bastilha, na prisão política que simbolizava o autoritarismo e as arbitrariedades cometidas pelo governo. A destruição da Bastilha foi um marco da explosão popular.
Depois dela, a agitação espalhou-se por toda a França.
No meio rural, os camponeses sublevaram-se e ocuparam castelos e outras propriedades senhoriais, assassinando nobres, invadindo cartórios e destruindo títulos de propriedade.
Temerosa de que a revolução camponesa se espalhasse e atingisse suas propriedades, a burguesia propôs o fim dos direitos feudais, que foram extintos em agosto de 1789.
Alguns dias depois, a Assembleia Nacional Constituinte aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Esse documento assegurava ao cidadão o direito de se rebelar contra os abusos do governo, o direito à liberdade, à igualdade perante a lei e à defesa da propriedade.
Entretanto, apesar dos avanços políticos, a situação financeira do país continuava crítica. A fim de contornar esse problema, no final de 1789, a Assembleia autorizou o Estado a confiscar os bens do clero francês e a colocá-los à venda. Em meados do ano seguinte, foi aprovada a Constituição Geral do Clero. Por esse documento, ficava estabelecido que os bispos e os párocos passariam a ser eleitos pelos mesmos eleitores que elegiam os deputados.

Monarquia Constitucional: o domínio da burguesia

Em 14 de setembro de 1791, foi finalmente aprovada a primeira Constituição francesa, pela qual a França adotava como forma de governo a monarquia constitucional. Tendo por base as idéias de Montesquieu, estabeleceram-se três poderes: Poder Executivo, exercido pelo rei; o Poder Legislativo, exercido por uma assembleia formada por deputados eleitos; e o Poder Judiciário, exercido por um conjunto de juízes, também eleitos.
O texto constitucional limitava os poderes do rei, assegurava o fim dos privilégios do clero e da nobreza e estabelecia o voto censitário. Ou seja, somente aquele que possuísse uma certa riqueza poderia votar ou ser votado. A instabilidade na França era quase total. A massa pobre, embora tivesse participado do processo revolucionário, continuava profundamente descontente. A mudança do regime político (de monarquia absolutista para monarquia constitucional), legitimada pela Constituição de 1791, não alterara sua miserável condição de vida. Suas reivindicações não tinham sido totalmente atendidas e a constituição não lhes dera sequer o direito de votar, pois estabelecia o voto censitário, ou seja, só podiam votar aqueles que tivessem uma renda anual predeterminada.
Além de não satisfazer as camadas populares, o novo regime desagradou também ao rei. Inconformado com a nova situação, Luís XVI passou a fazer contatos e alianças dentro e fora do país a fim de obter apoio militar para seu projeto de restabelecer o Antigo Regime.
No exterior, Luís XVI conseguiu, inicialmente, dois poderosos aliados: os monarcas da Áustria e da Prússia que, contando com a ajuda dos emigrados franceses, declararam-se dispostos a intervir militarmente nos assuntos internos da França.
Reagindo à ameaça externa, a França declarou guerra à Áustria. As forças austro-prussianas responderam invadindo a França e, logo nos primeiros combates, impuseram várias derrotas aos franceses. A derrota da França para os exércitos coligados da Áustria e da Prússia, que pretendiam aniquilar o movimento revolucionário francês, gerou novas manifestações populares. A população de Paris – notadamente os sans-culottes, integrantes do setor urbano mais pobre do Terceiro Estado – invadiu o Palácio das Tulherias em agosto de 1792 e prendeu o rei, que, no ano anterior, tentara fugir da França.

Convenção Nacional: girondinos, jacobinos e planície

No período da nova Assembleia – chamada Convenção Nacional – três facções partidárias disputavam a liderança:

· girondinos – representantes da alta burguesia, como banqueiros e grandes propriedades; sentava-se à direita na Assembleia;
· planície ou pântano – oportunistas e corruptos, os membros desse partido também eram da alta burguesia; sentavam-se no centro da Assembleia;
· jacobinos ou montanheses – representantes da média e da pequena burguesia e também das classes populares, formavam o Partido da Montanha; sentavam-se à esquerda na Assembleia.
Da posição em que girondinos e jacobinos se sentavam na Assembleia derivaram as expressões direita e esquerda, quando relacionadas a posições políticas conservadoras (direita) e posições políticas defensoras de reformas sociais (esquerda).
Os jacobinos, apoiados nos sans-culottes, conseguiram a condenação do rei por traição aos ideais revolucionários. Em janeiro de 1793, Luís XVI foi guilhotinado.
Com o crescimento de seu prestígio junto às camadas populares, o partido jacobino acabou com a liderança política dos girondinos e assumiu o governo do país.
A execução do rei e, meses depois, da de sua esposa, Maria Antonieta, provocaram fortes reações externas e internas. A Inglaterra, juntamente com outras grandes potências europeias, formou a primeira coligação militar contra a França revolucionária. Internamente ocorreram revoltas monarquistas, sobretudo na região de Vendéia.
Para fazer frente aos perigos externos e internos, os jacobinos criaram três órgãos especiais, cujo objetivo era garantir a continuidade da Revolução. Eram eles:

· o Comitê de Segurança Nacional, encarregado de descobrir e prender as pessoas suspeitas de traição;
· o Tribunal Revolucionário, encarregados de julgar os suspeitos que, geralmente eram condenados à morte.
· o Comitê de Salvação Pública, que decidia sobre política externa e interna e controlava o exército. Desempenhou um papel fundamental nesse período.

Liderados por Robespierre, o Comitê de Salvação Pública pôs em prática uma série de medidas populares, tais como:

- abolição da escravidão nas colônias;
- tabelamento do preço dos gêneros de primeira necessidade;
- distribuição das propriedades dos nobres emigrados entre milhares de camponeses;
- introdução do ensino primário gratuito e obrigatório;
- leis de assistência aos indigentes, desvalidos e velhos;
- aumento dos impostos sobre as grandes fortunas;
- voto universal.

Em reação à queda e à morte de vários girondinos, uma jovem girondina assassinou Marat, líder dos sans-culottes. Após a morte de Marat, os jacobinos iniciaram um período de perseguições e assassinatos, conhecido como Período do Terror (1793-1794), liderado pelo jacobino Robespierre.
O Período do Terror caracterizou-se pela extrema violência, embora tenha sido uma fase de importantes reformas sociais: abolição da prisão por dívidas; educação pública gratuita; aumento dos salários.
O radicalismo de Robespierre levou-o a condenar à morte vários membros da própria Convenção e líderes populares que discordavam de algumas de suas posições.
A morte de robespierre
Perdendo o apoio da massa parisiense, devido à morte de alguns de seus líderes, Robespierre foi derrubado do poder pelos girondinos, preso e guilhotinado.

Governo do Diretório: a ascensão de Napoleão

Em 1795, os novos donos do poder dissolveram a convenção e votaram uma nova Constituição, que delegava o Poder Executivo a um Diretório composto por cinco membros.
Corruptos e ladrões em sua maioria e responsável pela instabilidade política, os membros do Diretório também se mostraram incapazes de solucionar os problemas nacionais e, por isso, acabaram perdendo a credibilidade popular.
No final do período, a França estava abalada por dificuldades econômicas, violências internas e guerras externas, pois enfrentara várias coligações militares europeias que pretendiam restabelecer o absolutismo na França e impedir a difusão dos ideais revolucionários franceses nos demais países da Europa.
Dentre os países que formaram coligações militares contra a Revolução Francesa, destacou-se a Inglaterra. Embora os ingleses já tivessem consolidado seu regime político liberal, tentavam barrar o avanço capitalista na França, temendo que esse país se tornasse seu concorrente nos mercados consumidores mundiais.
Em 1799 a alta burguesia francesa aliou-se ao general Napoleão Bonaparte e, juntos, derrubaram o Diretório.
Para a burguesia golpista de 1799, Napoleão era o homem que, através de um governo forte e de uma liderança política, podia promover o desenvolvimento da produção capitalista na França, recuperar a ordem e a estabilidade do país e proteger a riqueza da burguesia nacional, salvando-a dos perigos das manifestações populares e jacobinas.

Despotismo esclarecido

No fim do século XVIII, na Europa, estabeleceu-se um tipo de governo que ficou conhecido como despotismo esclarecido. Déspota é sinônimo de indivíduo autoritário, tirano; esclarecido designa o indivíduo que tem conhecimento das coisas. Dessa forma, o despotismo esclarecido caracterizou-se pela combinação do absolutismo real com algumas ideias iluministas.

Os déspotas esclarecidos mantinham o poder centralizado, mas adotavam medidas que modernizavam a administração, como o incentivo à educação pública, o controle das finanças e a redução do poder da Igreja.

As ideias racionalistas e iluministas influenciam alguns governantes absolutistas, que pretendem governar segundo a razão e o interesse do povo, sem abandonar, porém, o poder absoluto. Os mais célebres são: Frederico II, da Prússia; Catarina II, da Rússia; o marquês de Pombal, ministro português; e Carlos III, da Espanha. Eles realizam reformas que ampliam a educação, garantem a liberdade de culto, estimulam a economia, fortalecem a igualdade civil, uniformizam a administração pública, introduzem a separação dos poderes judicial e executivo, mas mantêm a servidão da gleba e a autocracia, aguçando as contradições sociais e políticas.

Governo de Frederico II, da Prússia – Acontece de 1740 a 1786. Influenciado principalmente pelas ideias de Voltaire, permite liberdade de culto aos prussianos e torna obrigatório o ensino básico. Acaba com a tortura aos criminosos e organiza novo código legal. Permite a liberdade de expressão e estimula a construção e o desenvolvimento da indústria. Apesar dessas mudanças, a Prússia mantém o regime feudal.

Governo de Catarina II, da Rússia – No poder de 1759 a 1796 e, apesar de manter contato com muitos filósofos do Iluminismo, muda muito pouco a estrutura social e econômica da Rússia. Constrói escolas e hospitais e estimula a influência da cultura francesa na vida cultural do país. Autoriza a liberdade de culto e submete a Igreja ortodoxa ao Estado. A situação dos servos, porém, só piora, principalmente quando os proprietários conseguem ter o direito de condená-los à morte.
Porém, a burguesia russa no século XVIII era inexpressiva. Assim, em um país essencialmente agrário e feudal, as medidas modernizadoras de Catarina II foram pouco eficientes.

Governo de José II, da Áustria – Pode ser considerado o padrão de déspota esclarecido. Governa de 1780 a 1790 e nesse período aboliu a servidão, concedeu liberdade de culto, estabeleceu a igualdade de todos perante a lei e admitiu não católicos nos postos de trabalho da administração pública.
Promove a igualdade de todos perante a lei e às tarifas e reorganiza a estrutura de organização do Império. Introduz o serviço militar obrigatório e moderniza o Exército.

O despotismo esclarecido em Portugal

No século XVIII, mesmo sendo um grande império colonial, Portugal tinha uma economia muito dependente de suas colônias. Carente de indústrias, o reino português dependia das importações de manufaturados britânicos.
Além disso, o peso da Igreja Católica sobre a moral, os costumes e o ensino era um dos mais fortes em toda a Europa. O Iluminismo chegou a Portugal por meio de Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro marquês de Pombal. Ele assumiu o cargo de secretário de Estado em meio a uma forte crise econômica, agravada pela destruição de Lisboa por um violento terremoto, seguido de um tsunami, em novembro de 1755. Rapidamente, Pombal organizou a distribuição de alimentos e a construção de abrigos para as vítimas da catástrofe. Além disso, encomendou projetos de reconstrução da cidade. Cerca de um ano depois do início das
obras, em 1758, Lisboa estava quase completamente reconstruída. Fortalece o monopólio comercial e equilibra a balança comercial portuguesa.
Pela competência demonstrada na condução da tarefa, Pombal conquistou a confiança do rei D. José I, concentrou vários poderes e iniciou um programa de reformas no governo. Suas medidas de caráter iluminista, racionalizando o uso dos recursos do Estado, não foram tomadas para combater o absolutismo português, mas para fortalecê-lo e tornar o Estado mais eficiente.
A fim de promover o enriquecimento de Portugal, Pombal estimulou a indústria, o comércio e a agricultura. Além disso, combateu o clero, particularmente os jesuítas, por entender que eles interferiam demais nos negócios do reino. Por ordem de Pombal, os jesuítas foram expulsos de Portugal e de todas as possessões ultramarinas portuguesas.
Regulamenta o salário dos camponeses e o tamanho das propriedades rurais. Contestado por praticamente toda a nobreza e pelas elites coloniais é obrigado a se demitir com a morte de dom José I, em 1777.


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