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A Era Napoleônica

Depois de dez anos de revolução (1789-1799), a sociedade francesa encontrava-se arrasada pelas disputas internas e pelas guerras externas. Napoleão conquistou a confiança da burguesia em virtude de seus êxitos militares e, em 1802, um plebiscito concedeu a Napoleão o título de cônsul vitalício. Dois anos depois, outra consulta popular o transformou em imperador dos franceses. Napoleão Bonaparte foi conduzido ao poder por meio de um golpe de Estado articulado por políticos ligados aos interesses burgueses.

A ação dos golpistas foi facilitada pela situação da França naquele momento histórico: o governo do Diretório era corrupto e dava provas de incompetência administrativa; a crise econômica, a inflação e a ameaça externa, persistentes, geravam um clima de grande instabilidade política. Além disso, a maioria dos franceses – abalada por dez anos de revolução – desejava um governo capaz de estabelecer a ordem e a paz.

De sua parte, a burguesia ansiava por um regime autoritário, com força suficiente para impedir a reconquista do poder pelos jacobinos.
Os políticos burgueses julgaram, então, que um general jovem, popular e ambicioso era o homem certo para liderar uma ação contra o desmoralizado Diretório. Por isso, no final de 1799, eles próprios deram autorização para que Napoleão Bonaparte invadisse a sala de sessões da Assembleia acompanhado de seus soldados e concretizasse o golpe conhecido com o 18 Brumário.
Durante o período em que exerceu o poder (1799-1814), o governo de Napoleão adotou medidas para recuperar a economia e as instituições do Estado. Incentivou a industrialização, criou o primeiro banco nacional francês e promoveu obras públicas, como a construção de estradas, a fim de gerar empregos.

O governo de Napoleão

Podemos dividir o Período Napoleônico em três fases: o Consulado (1799-1804), o Império (1804-1815) e os Cem Dias (1815).

O Consulado (1799-1804)

Logo após a sua ascensão ao poder. Napoleão ordenou que votasse, às pressas, uma nova Constituição, através da qual se instituiu um novo regime: o Consulado.
De acordo com essa Constituição, a nação devia ser chefiada por três cônsules, designados por um período de dez anos. De fato, o poder passou às mãos do primeiro-cônsul, Napoleão Bonaparte. Cabia a ele nomear ministros e parte dos parlamentares, propor leis, dirigir o exército, declarar a guerra e firmar a paz. Seus poderes equivaliam, portanto, aos de um ditador.
Buscando soluções para os sérios problemas econômicos em que a França se via mergulhada, o primeiro-cônsul tomou uma série de importantes medidas:
- confirmou a distribuição de terras decretada por Robespierre, que transformou milhões de camponeses em pequenos proprietários;
- criou o Banco da França (1800);
- ativou a industrialização francesa, criando a Sociedade de Fomento à Indústria Nacional e aumentando as taxas alfandegárias sobre os artigos importados;
- racionalizou o sistema de cobranças de impostos;
- utilizou o dinheiro arrecadado para dar início à construção de importantes obras públicas como estradas, pontes e drenagem de pântanos.
O Consulado adotou também uma nova política religiosa. Assinou com a Igreja uma Concordata (1801) que reconhecia o catolicismo como a religião da maioria dos franceses e admitia a liderança espiritual do papa sobre o clero da França. Em compensação, o papa reconhecia o confisco dos bens da Igreja e o direito de Napoleão nomear os bispos.
No plano externo, o Consulado enfrentou e venceu uma outra coligação estrangeira contra a França e assinou acordos de paz com a Áustria, a Rússia e a poderosa Inglaterra (1802).
Nesse período, foi elaborado o Código Civil, conhecido como Código Napoleônico. Esse documento possuía cerca de dois mil artigos, dos quais oitocentos regulamentavam e garantiam a propriedade privada e apenas 7 referiam-se ao trabalhador.
A revitalização da economia francesa, a eficiência da nova administração e o estabelecimento da paz entre a França e seus tradicionais inimigos externos deram um grande prestígio a Napoleão Bonaparte.
Valendo-se de sua crescente popularidade, Napoleão aumentou enormemente seus poderes. Por meio de um plebiscito realizado em 1802, tornou-se cônsul vitalício, com direito a indicar seu sucessor. Dois anos depois, com um novo plebiscito (precedido de intensa propaganda governamental), foi aclamado imperador dos franceses por cerca de 4 milhões de eleitores (80% do total).

O Império (1804-1815)

Nesse período, Napoleão Bonaparte pôs em prática uma política expansionista, que culminou com a dominação de praticamente toda a Europa. O imperialismo napoleônico objetivou, em essência, possibilitar à burguesia francesa os mercados consumidores de que necessitava para decolar o comércio e, principalmente, a indústria francesa.

Portanto, podemos salientar que o período imperial napoleônico foi marcado por uma série de conflitos diplomáticos e guerras que envolveram a maior parte dos países europeus, em geral, contra a Inglaterra, que, embora estivesse fundamentada em um regime de caráter liberal-burguês, via na França uma grande concorrente continental aos seus produtos industrializados. Os demais países, que organizaram várias coligações contra o império napoleônico, eram monarquias absolutistas temerosas dos reflexos mais gerais da Revolução Francesa e dos ideais iluministas. Dessa maneira, por fatores de ordem econômica ou política, Napoleão Bonaparte estava rodeado de adversários.
O primeiro confronto das forças napoleônicas deu-se contra a terceira coligação, formada no ano de 1805 pela Inglaterra, Rússia e Áustria. Contando com o apoio da Espanha, arquiinimiga britânica, a marinha francesa tentou invadir a Inglaterra. Contudo, foi detida na Batalha de Trafalgar pelo legendário Almirante Nelson.
Nesse mesmo ano, Napoleão e seus exércitos demonstraram o poderio terrestre francês ao vencerem os exércitos da Áustria, Rússia e da Prússia na Batalha de Austerlitz. Napoleão Bonaparte, após essa vitória, extingue o Sacro Império Romano-Germânico, criando em seu lugar a Confederação do Reno, que permaneceu sob a tutela da França.
No ano de 1806, Napoleão voltou a vencer a Prússia na Batalha de Lena, e os russos foram derrotados em Friedland.

Era Napoleônica e Congresso de Viena

Seguindo sua política de dominar a Europa e promover o isolamento da Inglaterra, após invadir Berlim, assinou o tratado que decretou o Bloqueio Continental, em que proibia aos países europeus o comércio com os ingleses no continente, agora dominado pela França.
No ano de 1807, com o intuito de consolidar seus interesses na península Ibérica, realizou com a Espanha o Tratado de Fontainebleau e promoveu a invasão de Portugal, o que resultou na vinda da família real para o Brasil. No ano seguinte, invadiu a Espanha, onde a resistência popular crescia contra o imperialismo napoleônico.
Em 1809, Napoleão consolidou seus interesses na península Itálica ao promover a anexação dos Estados Pontifícios. De 1810 a 1812, o poderio francês na Europa era indiscutível. Em 1812, foi iniciada a campanha da Rússia. Nesse mesmo período, os espanhóis reafirmaram sua resistência e soberania com revoltas de cunho popular que resultaram em vitórias sobre os franceses. 
A campanha da Rússia, na qual Napoleão se defrontou não só com forças lideradas por Kutzov, mas também, com uma vigorosa reação popular e um inverno rigoroso, resultou num grande fracasso militar e moral para Napoleão e seus exércitos.
Retirada da armada de Napoleão
A partir do ano de 1813, os inimigos de Napoleão buscaram a ofensiva. Na Batalha de Leipzig, a coligação de exércitos da Áustria, da Prússia e da Rússia derrotaram as forças francesas.
No início de 1814, liderados pelo czar Alexandre I, os exércitos coligados invadiram a França, chegando a Paris ao final de março do referido ano.
Napoleão Bonaparte foi obrigado a abdicar, sendo levado para o exílio na pequena ilha de Elba, no Mediterrâneo. Os Bourbon, na pessoa de Luís XVIII, com o auxílio das tropas coligadas, foram reconduzidos ao trono francês.

Os Cem Dias (1815)

Contudo, não foi muito prolongado o exílio de Napoleão Bonaparte. Após conseguir fugir de Elba, desembarcou na França e tomou o poder com o apoio de seus fiéis seguidores.
Sob a liderança da Inglaterra, a Prússia, a Áustria e a Rússia formaram uma nova coligação. Comandadas pelo General Wellington, derrotaram as tropas napoleônicas em definitivo na Batalha de Waterloo, na Bélgica. Napoleão foi feito prisioneiro e deportado para a ilha de Santa Helena, onde veio a falecer em 1821. Com isso, apoiado nos exércitos coligados e no Congresso de Viena, Luís XVIII teve seu poder restaurado.

O Congresso de Viena

Logo em seguida à primeira derrota de Napoleão Bonaparte, as monarquias europeias, representadas por seus ministros, reuniram-se no Congresso de Viena (1814-1815), com a finalidade principal de estabelecer a paz e a reorganização de um novo mapa político da Europa, cujas fronteiras haviam sido bastante alteradas com as conquistas napoleônicas.
O Congresso de Viena
Os conflitos de interesses e as disputas entre os representantes das nações vencedoras facilitaram o trabalho do ministro francês, Talleyrand. Segundo o princípio da legitimidade, as nações européias voltariam aos limites geográficos anteriores à Revolução Francesa, como também seriam restauradas as mesmas dinastias do Antigo Regime.
Dessa forma, Talleyrand, com sua diplomacia, livrou a França de duas ameaças: o retalhamento e a perda de territórios e a ocupação por exércitos coligados.
Por iniciativa do czar Alexandre I, a Rússia, a Áustria e a Prússia firmaram um tratado de ajuda mútua e contra-revolucionário conhecido como Santa Aliança. Posteriormente, esse organismo teve a adesão de outras nações europeias.
O representante austríaco, príncipe Metternich, defendeu o direito de intervenção. De acordo com esse princípio, a Santa Aliança teria o direito de intervir nos países onde ocorressem revoluções de caráter liberal e movimentos coloniais de emancipação política. Com isso, a Santa Aliança constitui-se numa instituição mantenedora do absolutismo na Europa, numa época de grande expansão dos ideais de liberdade e independência (Doutrina Monroe).


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