domingo, 24 de setembro de 2023

Congresso de Viena

A derrota de Napoleão na famosa batalha de Waterloo, em junho de 1815, representou uma "pá de cal" nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade que desde a Revolução Francesa ecoavam por toda a Europa. De fato, desde a derrota francesa nos campos nevados da Rússia, em 1812, representantes do Antigo Regime vislumbravam condições para tocar adiante um movimento restaurador, consolidado com o chamado Congresso de Viena.

Com o propósito de restaurar o Antigo Regime e combater os ideais de liberalismo e nacionalismo que se instalaram nas nações europeias no rastro deixado por Napoleão, reuniram-se em Viena os principais representantes do conservadorismo político, dentre os quais o czar Alexandre I da Rússia, o príncipe Hardenberg da Prússia, o ministro Talleyrand da França, o príncipe Metternich da Áustria e o Lorde Castlereagh, representando os interesses ingleses sobre o continente.

Três princípios básicos guiaram as negociações travadas entre monarcas e diplomatas reunidos no Congresso: 1) a restauração do Antigo Regime e do absolutismo; 2) o reconhecimento da legitimidade das dinastias depostas pela política expansionista de Napoleão Bonaparte; e 3) o restabelecimento do equilíbrio político militar entre as nações europeias, promovendo a preservação da paz.

Os reis de volta ao trono

O princípio da legitimidade garantiu o retorno ao trono de algumas das antigas dinastias europeias, como os Bourbon em Nápoles, Espanha e França, a dinastia de Orange na Holanda, os Bragança em Portugal, os Saboia no Piemonte, além do restabelecimento do papa nos Estados Pontifícios. Além disso, uma vasta política de compensações territoriais buscou redesenhar o mapa da Europa, redefinindo as fronteiras estabelecidas pelas guerras napoleônicas.
Pelas intervenções de Talleyrand, a França - que saíra derrotada com a queda de Napoleão - garantiu sua integridade territorial, restaurando suas fronteiras de antes de 1792. A Inglaterra garantiu sua supremacia naval, com possessões no além-mar (como as ilhas de Malta e Ceilão), além de consolidar seus interesses econômicos, com o fim da política de Bloqueio Continental. A Prússia praticamente dobrou sua extensão territorial, incorporando partes da Saxônia, da Pomerânia e da Polônia, assim como a Rússia, que garantiu a anexação da Finlândia, da Bessarábia e de parte da Polônia.

A Santa Aliança

Além disso, no âmbito do Congresso de Viena gestou-se um pacto militar, batizado de Santa Aliança, pelo qual as nações envolvidas comprometiam-se a reprimir movimentos sediciosos que colocassem em xeque os propósitos da política restauradora. Graças a esse pacto, diversos movimentos liberais foram reprimidos, como em Nápoles e na Espanha em 1822, ou o movimento de cunho nacionalista, que buscava a unificação da Alemanha em 1821.
O pacto militar começou a ruir a partir da saída da Inglaterra, contrária aos propósitos de envio de tropas para a América Latina, com o propósito de reprimir os diversos levantes emancipacionistas que ameaçavam o colonialismo. Interessados na expansão comercial e em garantir novos mercados aos seus produtos industrializados, os ingleses desaprovavam a presença militar nas colônias americanas, postando-se contra a política intervencionista da Santa Aliança.

Doutrina Monroe: "A América para os americanos"

Além disso, em 1823 os Estados Unidos proclamaram a Doutrina Monroe, declarando que as conjunturas políticas relativas ao continente americano deveriam ser resolvidas internamente. Assim, sob o princípio da "América para os americanos", abriram franca oposição aos propósitos restauradores da Santa Aliança, iniciando uma relação de forte influência política sobre o continente.
Por fim, uma nova onda de revoluções liberais na Europa representou um duro golpe no pacto restaurador, uma vez que abriram as portas da independência política de países subjugados por outras potências (tal como ocorreu entre Grécia e Turquia em 1828), e substituíram o absolutismo por parlamentos constitucionais. Na França, por exemplo, a Revolução Liberal de 1830 marcou o fim da dinastia dos Bourbon, com a ascensão de Luís Felipe de Orleans, que ficaria conhecido como o "rei dos banqueiros", marcando o início de uma monarquia liberal e burguesa.

Capitalismo, Socialismo e Liberalismo

 CAPITALISMO

O CAPITALISMO tem seu início na Europa. Suas características aparecem desde a baixa idade média (do século XI ao XV) com a transferência do centro da vida econômica social e política dos feudos para a cidade. O feudalismo passava por uma grave crise decorrente da catástrofe demográfica causada pela Peste Negra que dizimou 40% da população europeia e pela fome que assolava o povo. Já com o comércio reativado pelas Cruzadas(do século XI ao XII), a Europa passou por um intenso desenvolvimento urbano e comercial e, consequentemente, as relações de produção capitalistas se multiplicaram, minando as bases do feudalismo. Na Idade Moderna, os reis expandem seu poderio econômico e político através do mercantilismo e do absolutismo. Dentre os defensores deste temos os filósofos Jean Bodin ("os reis tinham o direito de impor leis aos súditos sem o consentimento deles"), Jacques Bossuet ("o rei está no trono por vontade de Deus") e Niccòlo Machiavelli("a unidade política é fundamental para a grandeza de uma nação").
Com o absolutismo e com o mercantilismo o Estado passava a controlar a economia e a buscar colônias para adquirir metais(metalismo) através da exploração. Isso para garantir o enriquecimento da metrópole. Esse enriquecimento favorece a burguesia - classe que detém os meios de produção - que passa a contestar o poder do rei, resultando na crise do sistema absolutista. E com as revoluções burguesas, como a Revolução Francesa e a Revolução Inglesa, estava garantido o triunfo do capitalismo.
A partir da segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial, inicia-se um processo ininterrupto de produção coletiva em massa, geração de lucro e acúmulo de capital. Na Europa Ocidental, a burguesia assume o controle econômico e político. As sociedades vão superando os tradicionais critérios da aristocracia (principalmente a do privilégio de nascimento) e a força do capital se impõe. Surgem as primeiras teorias econômicas: a fisiocracia e o liberalismo. Na Inglaterra, o escocês Adam Smith (1723-1790), percursor do liberalismo econômico, publica Uma Investigação sobre Naturezas e Causas da Riqueza das Nações, em que defende a livre iniciativa e a não interferência do Estado na economia.
Deste ponto, para a atual realidade econômica, pequenas mudanças estruturais ocorreram em nosso fúnebre sistema capitalista.

SOCIALISMO UTÓPICO

Já no início do século XIX o avanço do ideário liberal produzia crises e lançava os trabalhadores à miséria com a exploração de seu trabalho e precárias condições de vida. Descorrer sobre a excessiva carga horária de trabalho, uso de mão de obra infantil e condições de vida insalubres seria cair em lugar comum. Parto do pressuposto que isso já é claro.
Apesar de a Revolução Francesa ter consagrado o lema liberdade, igualdade e fraternidade, tinha-se claro que igualdade não existia numa sociedade tão dividida entre ricos e pobres. A liberdade que existia era a de mercado, com o burguês livre para explorar o trabalhador. Depois disso fraternidade entre as classes sociais seria piada. Movidas por essa decepção frente à Revolução Francesa e opondo-se à essa realidade, ao pensamento dominante e à estrutura da sociedade surgem questionamentos e questionadores. Uma corrente questionadora é a do socialismo utópico.
Utopia é o título de um livro do inglês Thomas Morus. Escrito em 1516 descreve uma sociedade ideal que possibilita igualdade e justiça para todos. Esse título passou a designar todo pensamento que defendesse a igualdade social, mas sem apontarclaramente o caminho para se chegar à ela. Assim, não chegou a constituir uma doutrina, pois o que os utópico pregavam eram modelos idealizados.
Apesar da inovação de pensamento e da percepção crítica dos socialistas utópicos, eles pecaram ao não aterem-se objetivamente ao modo de transformar a sociedade. Bolaram modelos sociais prontos espetaculares, porém como chegaríamos à eles? Acreditar que através da bondade do Estado ou das elites dominantes ou ainda por ações sem organização com atentados, como alguns propuseram, desconsiderando-se a participação efetiva da classe trabalhadora, é ingenuidade.
Assim, há o enorme valor dos socialistas utópicos, porém deixaram lacunas que o socialismo científico sobrepondo-se ao utópico viria a suprir.

Abaixo as ideias de alguns pensadores do socialismo utópico.

Claude Saint-Simon (1760 - 1825) Socialista utópico francês, era um liberal avançado e revolucionário educado por D'Alembert com uma formação racionalista. Lançou uma idéia muito interessante: suponha que um dia o ferreiro, o pedreiro, o operário, o agricultor, enfim, todos os trabalhadores, parassem de trabalhar de repente. Pense no que aconteceria. O caos. Os ricos não teriam o que vestir, comer, beber. Estaria provada a importância dos operários. Agora imagine se todos os patrões, os donos dos bancos, das fábricas deixassem de existir. O que aconteceria? Os operários continuariam trabalhando normalmente. Porém não haveria mais ninguém para sugar e explorar seu árduo trabalho. Que maravilha, hein? A sociedade idealizada por Saint-Simon era a seguinte: não haveria mais os ociosos (militares, clero, nobreza, ...) nem a exploração do homem pelo próprio homem. Essa sociedade seria dividida em três classes - os sábios, os proprietários e os que não tinham posses - e seria governada por um conselho de sábios e artistas. Essas ideias estão em seu livro Cartas de um Habitante de Genebra. Em outro livro, O Novo Cristianismo, defendia uma religiosidade diferente do protestantismo e do cristianismo. Ela, somada à racionalidade humana, poderia resultar num mundo industrialista e justo.

Charles Fourier (1772 - 1837) 

Socialista utópico francês, filho de comerciantes, absorveu algumas ideias de Rousseau: o homem nasce puro e bom, a sociedade e as instituições o corrompem. Fourier propôs uma sociedade baseada nas falanges e falanstérios, fazendas coletivas agroindustriais, onde todos desempenhariam suas tarefas em proveito da comunidade. Nessa sociedade criar-se-ia a falange, com até dois mil homens que trabalhariam para um fundo comum. A divisão das riquezas produzidas seria feita considerando-se a quantidade e qualidade do trabalho de cada indivíduo. Cada falange possuiria seu edifício comum, o falanstério, que abrigaria todos os membros e onde seriam instalados os bens coletivos da comunidade (cozinha, biblioteca, ...). Fourier alegava que os falanstérios superariam as desarmonias capitalistas, mas nunca conseguiu financiar seu projeto.

Louis Blanc (1811 - 1882) 

Outro socialista utópico francês. Teve importante participação na Revolução de 1848, quando suas ideias foram colocadas em prática devido a associação entre liberais e socialistas, na tentativa de derrubar a monarquia. Eis elas: seriam criadas associações profissionais de trabalhadores de um mesmo ramo de produção, as Oficinas Nacionais, financiadas pelo Estado. O lucro seria dividido entre o Estado, os associados e para fins assistenciais. Enfim, como líder do proletariado, exigia que o Estado se apoderasse do sistema econômico para garantir trabalho e justiça para todos. Porém, os liberais e os socialistas romperam e o Estado fechou as Oficinas Nacionais, começou a perseguir os socialistas (também onde já se viu proteger o proletariado) e anulou todas as reformas feitas em benefício da classe operária.

Pierre-Joseph Proudhon (1809 - 1865) 

Precursor do anarquismo. Defendia a diminuição da ação governamental capitalista e religiosa e a liquidação do Estado. Queria uma sociedade de pequenos produtores livres e iguais, onde os trabalhadores fariam uso do financiamento dos bancos de trocas, sem juros, para comprar os meios de produção. Em seu livro O que é a Propriedade, afirmava que a propriedade privada era um roubo. Com certeza. Divergia em alguns pontos políticos e econômicos com Karl Marx, alimentando várias discussões entre eles.

Robert Owen (1773 - 1858) 

Socialista utópico inglês, casou-se com uma mulher muito rica e se tornou dono de várias indústrias, e nelas aplicou suas ideias. Diminuiu a jornada diária de trabalho para dez horas, salários aumentados, seus funcionários tinham creches e escolas para seus filhos, além de hospitais. Suas indústrias tornaram-se um modelo de legislação social e seus lucros não pararam de crescer. Feliz e satisfeito com esse resultados começou a defender a criação de uma sociedade comunista com o fim da propriedade privada. Mas essas ideias e atitudes de Owen não estavam agradando a aristocracia inglesa, que o baniu da Grã-Bretanha. Foi para os Estados Unidos e fundou a cidade de New Harmony. Porém quando regressou à Inglaterra suas cooperativas estavam falidas. Owen observou de perto as condições desumanas dos trabalhadores e revoltou-se contra as perspectivas vindas com o progresso. Acreditava ser impossível formar-se um ser humano superior num sistema egoísta e explorador.

SOCIALISMO CIENTIFICO

A Origem

O Socialismo Científico foi desenvolvido no século XIX por Karl Marx e Friedrich Engels. Recebe também, por motivos óbvios, a denominação de Socialismo Marxista. Ele rompe com o Socialismo Utópico por apresentar uma análise crítica da realidade política e econômica, da evolução da história, das sociedades e do capitalismo. Marx e Engels enaltecem os utópico pelo seu pioneirismo, porém defendem uma ação mais prática e direta contra o capitalismo através da organização da revolucionária classe proletária. Para a formulação de suas teorias Marx sofreu influência de Hegel e dos socialista utópicos.

Infraestrutura e superestrutura

Segundo Marx a infraestrutura, modo como tratava a base econômica da sociedade, determina a superestrutura que é dividida em ideológica (ideias políticas, religiosas, morais, filosóficas) e política (Estado, polícia, exército, leis, tribunais). Portanto a visão que temos do mundo e a nossa psicologia são reflexo da base econômica de nossa sociedade. As idéias que surgiram ao longo da história se explicam pelas sociedades nas quais seus mentores estava inseridos. Elas são oriundas das necessidades das classes sociais daquele tempo.

Dialética

A dialética se opõe à metafísica e ao idealismo por completo. Engels e Marx "pegam o 'núcleo racional' de Hegel, mas rejeitam a sua parte idealista imprimindo-lhe um caráter científico moderno".
O modo dialético de pensamento pondera que nenhum fenômeno será compreendido se analisado isoladamente e independente dos outros. Eles são processos e não coisas perfeitas e acabadas; estão em constante movimento, transformação, desenvolvimento e renovação e não em estagnação e imutabilidade. O mundo não pode ser entendido como um conjunto de coisas pré-fabricadas, mas sim como um complexo de processos. Estes estão em três fases: tese, antítese e síntese. Pela contradição da duas primeira (tese e antítese) surge a terceira (negação da negação) que representa um estágio superior. Esta, por sua vez, tornar-se-á uma nova tese e será negada, surgindo um nova síntese e assim por diante. É importante lembrar que a antítese não é a destruição da tese, pois se assim fosse não haveria progresso.
O processo de desenvolvimento resultante com a anterior acumulação de mudanças quantitativas, apresenta evidentes mudanças qualitativas. Assim, vemos que o desenvolvimento não segue um movimento circular, mas sim progressivo e ascendente, indo do inferior ao superior.

Luta de classes

A história do homem é a história da luta de classes. Para Marx a evolução histórica se dá pelo antagonismo irreconciliável entre as classes sociais de cada sociedade. Foi assim na escravista (senhores de escravos - escravos), na feudalista (senhores feudais - servos) e assim é na capitalista (burguesia - proletariado). Entre as classes de cada sociedade há uma luta constante por interesses opostos, eclodindo em guerras civis declaradas ou não. Na sociedade capitalista, a qual Marx e Engels analisaram mais intrinsecamente, a divisão social decorreu da apropriação dos meios de produção por um grupo de pessoas (burgueses) e outro grupo expropriado possuindo apenas seu corpo e capacidade de trabalho (proletários). Estes são, portanto, obrigados a trabalhar para o burguês. Os trabalhadores são economicamente explorados e os patrões obtém o lucro através da mais-valia.

Alienação

O capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seus meios de produção (suas terras, ferramentas, máquinas, etc). Estes passaram a pertencer à classe dominante, a burguesia. Desse modo, para poder sobreviver, o trabalhador é obrigado a alugar sua força de trabalho à classe burguesa, recebendo um salário por esse aluguel. Como há mais pessoas que empregos, ocasionando excesso de procura, o proletário tem de aceitar, pela sua força de trabalho, um valor estabelecido pelo seu patrão. Caso negue, achando que é pouco, uma exploração, o patrão estala os dedos e milhares de outros aparecem em busca do emprego. Portanto é aceitar ou morrer de fome. Com a alienação nega-se ao trabalhador o poder de discutir as políticas trabalhistas, além de serem excluídos das decisões gerenciais.

Mais-Valia

Suponha que o operário leve 2h para fabricar um par de sapatos. Nesse período produz o suficiente para pagar o seu trabalho. Porém, ele permanece mais tempo na fábrica, produzindo mais de um par de sapatos e recebendo o equivalente à confecção de apenas um. Numa jornada de 8 horas, por exemplo, são produzidos 4 pares. O custo de cada par continua o mesmo, assim como o salário do proletário. Com isso ele trabalha 6h de graça, reduzindo o custo e aumentando o lucro do patrão. Esse valor a mais é apropriado pelo capitalista e constitui o que Marx chama de Mais-Valia Absoluta. Além de o operário permanecer mais tempo na fábrica o patrão pode aumentar a produtividade com a aplicação de tecnologia. Com isso o operário produz mais, porém seu salário não aumenta. Surge a Mais-Valia Relativa.

Materialismo histórico

Para Marx a raiz de uma sociedade é a forma como a produção social de bens está organizada. Esta engloba as forças produtivas e as relações de produção.
As forças produtivas são a terra, as técnicas de produção, os instrumentos de trabalho, as matérias-primas e o maquinário. Enfim, as forças que contribuem para o desenvolvimento da produção.
As relações de produção são os modos de organização entre os homens para a realização da produção. As atuais são capitalistas, mas como exemplo podemos citar também as escravistas e as cooperativas.
No processo de criação de bens estabelece-se uma relação entre as pessoas. Os capitalistas, donos dos meios de produção (máquinas, ferramentas, etc.), e o proletariado, que possui apenas sua força de trabalho, estabelecem entre si a relação social de trabalho. A maneira como as forças produtivas se organizam e se desenvolvem dentro dessa relação de trabalho Marx chama de modo de produção. O estudo deste é fundamental para a compreensão do funcionamento de uma sociedade. A partir do momento que as relações de produção começam a obstaculizar o desenvolvimento das forças produtivas cria-se condições para uma revolução social que geraria novas relações sociais de produção liberando as forças produtivas para o desenvolvimento da produção.

O último estágio

Marx afirma que a história segue certas leis imutáveis à medida que avança de um estágio a outro. Cada estágio caracteriza-se por lutas que conduzem a um estágio superior de desenvolvimento, sendo o comunismo o último e mais alto. A chave para a compreensão dos estágios do desenvolvimento é a relação entre as diferentes classes de indivíduos na produção de bens. Afirmava que o dono da riqueza é a classe dirigente porque usa o poder econômico e político para impor sua vontade ao povo jamais abrindo mão do poder por livre e espontânea vontade e que, assim, a luta e a revolução são inevitáveis.
Para Marx, com o desenvolvimento do capitalismo, as classes intermediárias da sociedade vão desaparecendo e a estrutura de classes vai polarizando-se cada vez mais. A alienação e a miséria aumentam progressivamente. Com o auxílio dos partidos dos trabalhadores o proletariado vai tornando-se cada vez mais consciente de sua luta e de sua existência como classe revolucionária. Portanto esses partidos não teriam o papel de apenas ganhar votos e satisfazer interesses pessoais, mas sim de educar e alertar os trabalhadores.
A perspectiva internacional tomará maior importância, em detrimento do nacionalismo exacerbado. Mais cedo ou mais tarde a revolução proletária terá êxito, com as condições objetivas e a disposição subjetiva coincidindo. Com as sucessivas crises econômicas do capitalismo suas crises vão se agravando e aproximando-o da crise final.
A sociedade pós-capitalista não foi inteiramente definida por Marx. Dizia ele que tal discussão seria idealista e irrealista. Ponderou apenas que após a revolução instalar-se-ia uma ditadura do proletariado. As empresas, fábricas, minas, terras passariam para o controle do povo trabalhador, e não para o Estado, como muitos pensam e como líderes pseudocomunistas fizeram. A propriedade capitalista extinguir-se-ia. A produção não seria destinado ao mercado, mas sim voltada para atender às necessidades da população. O socialismo, como essa fase é denominada, deve ser profundamente democrático. O Estado iria naturalmente dissolvendo-se. Porém Marx ressalta: "trazendo as marcas de nascimento da velha sociedade, a sociedade recém-nascida será limitada, sob muitos aspectos, pelos legados da velha sociedade capitalista."
Após o socialismo uma fase superior se desenvolveria: o comunismo. O Estado desapareceria definitivamente, pois seu único papel é manter o proletariado passivo e perpetuar sua exploração. A distinção de classes também deixaria de existir, todos seriam socialmente iguais e homens não mais subordinar-se-iam a homens. A sociedade seria baseada no bem coletivo dos meios de produção, com todas as pessoas sendo absolutamente livres e finalmente podendo viver pacificamente e com prosperidade

Liberalismo

Doutrina política e econômica surgida na Europa, na Idade Moderna. Na política coloca o direito do indivíduo de seguir a própria determinação, dentro dos limites impostos pelas normas definidas, como fundamento das relações sociais. Por conseguinte, defende as liberdades individuais frente ao poder do Estado e prevê oportunidades iguais para todos.
Na economia defende a não intervenção do Estado por acreditar que a dinâmica de produção, distribuição e consumo de bens é regida por leis que já fazem parte do processo – como a lei da oferta e da procura – que estabelecem o equilíbrio.
O liberalismo econômico nem sempre se identifica com o liberalismo político. Na política, ganha diferentes conotações em cada país, sendo identificado como de esquerda, de centro ou de direita, conforme as combinações de ideologias locais.
Seu desenvolvimento nos séculos XVIII e XIX está associado ao crescimento da classe média. Desafiando o Estado monarquista, aristocrático e religioso, os liberais lutam para implantar governos separado do clero e da monarquia, parlamentares e constitucionais. Mais tarde, liberais de alguns países, como do Reino Unido, aceitaram a intervenção estatal para superar injustiças sociais ou mesmo formas de protecionismo econômico, enfrentando a oposição de não-liberais.
A combinação de liberalismo e dirigismo estatal na economia torna-se responsável, entre 1950 e 1980, pelo surgimento das sociedades de consumo e bem-estar social (Welfare States). Nos anos 80, a crise econômica e os novos parâmetros estabelecidos pela revolução tecnológica colocam em jogo as políticas de benefício social dos países desenvolvidos. A resposta a essa nova realidade surgiu nos Estados Unidos e na Inglaterra na forma de neoliberalismo.
Liberalismo econômico – Seu principal teórico é o economista escocês Adam Smith, autor de O Ensaio Sobre a Riqueza das Nações, obra básica da economia. Ataca a intervenção estatal e propõe uma economia dirigida pelo jogo livre da oferta e da procura, o laissez-faire (deixai fazer, em francês). Para Adam Smith a verdadeira riqueza das nações está no trabalho, que deve ser dirigido pela livre iniciativa dos empreendedores. O liberalismo econômico recebe, posteriormente, a colaboração do sociólogo e economista inglês Thomas Robert Malthus (1766-1834) e do economista inglês David Ricardo (1772-1823)

A Independência dos Estados Unidos

As Treze Colônias pertencentes à Grã-Bretanha tinham considerável autonomia em relação à metrópole. No entanto, essa situação começou a mudar na segunda metade do século XVIII. Com a Revolução Industrial em curso provocou amplas mudanças no sistema produtivo, sendo necessários o envio de mais matérias-primas para as indústrias britânicas e a ampliação do mercado consumidor para seus produtos.

Na perspectiva britânica, seguindo os princípios da política mercantilista, suas colônias americanas podiam atender a essas necessidades. Para que isso ocorresse, porém, era preciso reduzir a autonomia das colônias e subordiná-las aos interesses econômicos metropolitanos.

A Independência dos Estados Unidos destrói a unidade do sistema colonial, colaborando decisivamente para a derrocada do Antigo Regime. As 13 colônias, estabelecidas a partir do século XVII no território norte-americano, contam, nas últimas décadas do século XVIII, com mais de 2 milhões de colonizadores. No centro – Pensilvânia, Nova York, Nova Jersey e Delaware – e no norte – Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island e Connecticut – europeus exilados por motivos políticos ou religiosos vivem em pequenas e médias propriedades. Embora a Inglaterra proíba o estabelecimento de manufaturas nas colônias, a incipiente indústria do centro-norte não é incomodada pelas autoridades, pois não compete com o comércio da metrópole. No sul – Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia – predomina a grande propriedade rural, ocupada pela monocultura dirigida à exportação e tocada pela mão-de-obra escrava, com pouco espaço para o trabalho livre. Os nortistas, no entanto, atravessam as fronteiras e concorrem com o comércio metropolitano, levando a Inglaterra a endurecer a política com as colônias.


Influência da Guerra dos Sete Anos 

Travada de 1756 a 1763 entre a Inglaterra e a França e vencida pelos ingleses, transfere para a Coroa britânica a maioria das possessões francesas, incluindo as terras situadas na América, a oeste das 13 colônias. Como os colonos norte-americanos não haviam contribuído para o esforço militar inglês, o Parlamento decide cobrar deles os custos da guerra, aumentando as taxas e reforçando os direitos da Coroa no continente.

Para compensar as perdas financeiras, o Parlamento britânico elaborou leis que visavam criar novos impostos nas Treze Colônias. A imposição desses tributos não era apenas uma forma de captar recursos rapidamente; com eles, a coroa também pretendia frear as atividades manufatureiras nas colônias e, assim, ampliar o mercado para os produtos britânicos. Os impostos foram usados ainda para custear e manter um exército regular na América.

A questão das terras indígenas

Com a vitória na Guerra dos Sete Anos, a Grã-Bretanha expandiu seu território colonial na América do Norte até o Vale do Rio Mississípi. O objetivo era ocupar as áreas recém conquistadas da França e avançar em direção ao oeste. Vários povos indígenas que viviam na região, porém, uniram-se contra as investidas coloniais utilizando táticas de guerrilha. Para combater as forças indígenas, os colonos empregaram todos os recursos, até mesmo a distribuição de objetos infectados para espalhar doenças entre os nativos.
Mesmo com a derrota dos indígenas, a coroa britânica não permitiu o acesso de colonos às terras dos nativos situadas entre os Apalaches e o Mississípi. Com essa proibição, a metrópole pretendia assegurar o controle do comércio de peles na região.
A restrição ao avanço dos colonos para as terras do oeste, somada aos novos impostos, provocou o aumento da tensão entre as Treze Colônias e o governo metropolitano.

Novos impostos ingleses 

Para recuperar as perdas financeiras causadas pela Guerra dos Sete Anos e aumentar o controle sobre suas colônias, o governo britânico criou diversos impostos, que geraram muito descontentamento entre os colonos. São cobrados para cobrir as despesas com uma força militar de 10 mil homens deslocada para a América pelos ingleses. O Parlamento aprova, em 1764, a Lei do Açúcar (Sugar Act) e, em 1765, a Lei do Selo (Stamp Act).
- Lei do Açúcar – também conhecida como Lei da Receita, por meio da qual estabeleceu tarifas alfandegárias para a importação de açúcar, vinho, café e produtos têxteis e de luxo, bem como limitou as exportações de madeira. 
Proíbe a importação de rum estrangeiro e taxa a importação de carregamentos de açúcar procedentes de qualquer lugar que não das Antilhas britânicas. Com essa lei, a metrópole procurou ainda controlar as importações de melaço.
- Lei do Melaço – a coroa britânica já havia tentado impor altos impostos sobre o produto, caso fosse adquirido fora de suas possessões. Contudo, essa lei nunca foi cumprida porque a Grã-Bretanha não conseguia controlar o comércio feito pelas colônias.
- Lei do Selo – Institui a cobrança de impostos sobre documentos, determinando que todos os impressos (livros, jornais, documentos oficiais, certidões, cartazes etc.) deveriam conter um selo real para comprovar que sua circulação havia sido autorizada.
As leis do Açúcar e do Selo são revogadas por pressões dos colonos e dos comerciantes ingleses. Os colonos reagiram com violência, destruindo agências postais, e muitos comerciantes britânicos protestaram, pois os conflitos provocados pela lei atrapalhavam seus negócios. Pressionado, o Parlamento suspendeu a lei no ano seguinte.
- Lei dos Alojamentos – É aprovada em 1765 e exige dos colonos norte-americanos o pagamento pelos alojamentos e alimentação das tropas inglesas.
- Lei do Chá (Tea Act) – É o estopim da crise entre a colônia e a metrópole, pois dá o monopólio do comércio do chá à Companhia das Índias Orientais, depositária dos interesses de diversos políticos ingleses. Com a nova legislação, a Companhia transporta o chá diretamente das Índias para a América, prejudicando os intermediários residentes na colônia.
O governo britânico pretendia, com essa medida, fortalecer a companhia, que enfrentava dificuldades em seus negócios no Oriente. Além disso, visava articular os dois lados do império colonial britânico, que se estendia do Oceano Índico ao Atlântico.
Festa do chá em Boston – Nome pelo qual é conhecida a destruição, em 1773, de três centenas de caixas de chá retiradas dos navios ingleses, no porto de Boston. Disfarçados de indígenas, colonos invadiram navios britânicos ancorados no porto de Boston, capital da colônia de Massachusetts, e despejaram no mar toda a carga de chá.
- Leis Intoleráveis – O nome designa as leis promulgadas pelo Parlamento, em 1774, em represália à revolta da Festa do chá, com o objetivo de conter o clima de insubordinação. 
O porto de Boston foi ocupado e fechado até que os colonos ressarcissem o valor da mercadoria destruída à Companhia Britânica das Índias Orientais. A colônia de Massachusetts foi tomada por tropas metropolitanas, e sua assembleia, fechada.
As demais colônias tiveram de se submeter ao controle militar britânico.
Decretou-se também que os participantes do ataque aos navios seriam julgados por tribunais britânicos, e não pelas cortes coloniais. Mais do que a disputa pelo abastecimento de chá, estava em jogo o domínio britânico na região.
As Leis Intoleráveis provocam a convocação do Primeiro Congresso Continental de Filadélfia (1774), não separatista, cujos participantes pedem ao rei e ao Parlamento a revogação da legislação autoritária como forma de concretizar a igualdade de direitos dos colonos.

O processo de independência (1776-1783)

O processo da Independência tem importante antecedente em setembro de 1774, quando as Leis Intoleráveis determinaram a convocação do Primeiro Congresso Continental de Filadélfia, de caráter não separatista: as principais resoluções do evento foram a desobediência às Leis Intoleráveis, a igualdade de direitos entre os habitantes das colônias e o direito de rebelião.
Em 1775, um conflito em Lexington provocou a morte de alguns colonos e eles passaram a organizar-se militarmente.
O rei declarou os americanos em rebeldia e os colonos passaram à revolta aberta. Um panfleto de Tom Paine, Bom Senso, exortava à luta por liberdade. Em 1776, a Virgínia tomou a iniciativa e declarou-se independente, com uma explícita Declaração dos Direitos do Homem. O Segundo Congresso de Filadélfia, reunido desde 1775, já manifestava caráter separatista. George Washington, da Virgínia, foi nomeado comandante das tropas americanas e encarregou uma comissão, liderada por Thomas Jefferson, de redigir a Declaração da Independência. No documento, defendia-se também o direito dos indivíduos à vida e à liberdade, assim como o de resistir contra a tirania e contra qualquer governo que desrespeitasse esses direitos. Em 4 de julho de 1776, reunidos na Filadélfia, delegados de todos os territórios promulgaram o documento, com mudanças introduzidas por Benjamin Franklin e Samuel Adams.
A Declaração de Independência foi apenas o início da luta pela emancipação. A guerra contra as forças metropolitanas estendeu-se por mais oito anos. No combate aos britânicos, os colonos receberam, após 1777, auxílio militar de franceses, holandeses e espanhóis.
A Guerra da Independência começa em março de 1775: os americanos tomam Boston. Tinham força de vontade, mas interesses divergentes e falta de organização. Das colônias do Sul, só a Virgínia agia com decisão. Os canadenses permaneceram fiéis à Inglaterra. Os voluntários do exército, alistados por um ano, volta e meia abandonavam a luta para cuidar de seus afazeres. Os oficiais, geralmente estrangeiros, não estavam envolvidos no conflito. Vencidos em Nova York e Filadélfia (1777), os colonos ganharam novo ânimo ao ganhar a batalha de Saratoga.
A intervenção francesa foi decisiva. Os franceses estavam afinados com os ideais de liberdade do movimento, estimulados pela propaganda feita por Franklin e motivados pela intenção de golpear a Inglaterra, que lhes havia imposto pesadas perdas em 1763. Assinaram um tratado, transferindo dinheiro aos americanos e buscando a aliança dos espanhóis contra os ingleses. Com a ajuda marítima francesa, a guerra ampliou-se para o Caribe e as Índias. Em 1779, La Fayette conseguiu a liberação de 7 500 franceses comandados pelo general Rochambeau. Em 1781, sitiado em Yorktown, o exército inglês capitulou.
-Declaração de Independência – É redigida por uma comissão de cinco membros liderados por Thomas Jefferson. O documento, com mudanças introduzidas por Benjamin Franklin e Samuel Adams, é promulgado em 4 de julho de 1776, na Filadélfia, por delegados de todos os territórios. A Declaração de Independência dos Estados Unidos é inspirada nos ideais do Iluminismo e defende a liberdade individual e o respeito aos direitos fundamentais do ser humano.
Somente em 1783, com a assinatura do Tratado de Paris, a independência dos Estados Unidos da América foi reconhecida pelo governo britânico, com fronteiras nos Grandes Lagos e no Mississipi. A França recuperou Santa Lúcia e Tobago nas Antilhas e seus estabelecimentos no Senegal. A Espanha recebeu a ilha de Minorca e a região da Flórida.

Da Confederação à constituição

Durante a guerra contra a Grã-Bretanha, os treze estados se organizaram em torno de um governo. Essa união foi estabelecida por meio dos Artigos da Confederação, que teriam validade até que a constituição do país fosse elaborada. O documento, aprovado em 1777, assegurava a autonomia dos estados e atribuía ao Congresso os principais poderes do governo central.
O governo, durante o período da Confederação, teve muita dificuldade para unificar as ex-colônias, que foram fundadas e se desenvolveram de maneira autônoma. Algumas delas relutaram em abrir mão de sua liberdade e chegaram a criar moedas e milícias próprias.
A redação da constituição foi concluída somente em setembro de 1787. Nela foi adotado o modelo federativo, que, embora submetesse os estados ao poder do governo federal, garantia a eles autonomia administrativa, legislativa e de organização militar. O texto constitucional também estabeleceu a divisão do Estado em três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O Poder Executivo era exercido pelo presidente da república,
o Legislativo foi dividido em duas câmaras (Senado e Câmara dos Representantes), que se reuniam para compor o Congresso, e o Judiciário era conduzido pela Suprema Corte.
A Constituição dos Estados Unidos foi elaborada com o propósito de afirmar e proteger os direitos dos cidadãos estadunidenses. No entanto, a noção de cidadania no século XVIII era bastante diferente da que temos hoje. A palavra “cidadão” referia-se aos indivíduos do sexo masculino livres, brancos e que atuavam politicamente na sociedade.
Alguns estados, como Massachusetts, exigiam ainda um mínimo de renda ou de propriedades para a pessoa participar da vida política. A constituição redigida no final do século XVIII
continua em vigor, tendo sido acrescidas a ela, até o momento, 27 emendas. O primeiro conjunto de emendas foi introduzido em 1789 e ficou conhecido como Bill of Rights (Carta de Direitos). Ele assegurou a liberdade de expressão, de imprensa, de crença, de reunião em espaços públicos e de protesto contra o governo. No entanto, mulheres só conquistaram o direito ao voto nos Estados Unidos em 1920 e os negros, apesar de terem esse direito estabelecido pela 15a emenda desde 1870, foram frequentemente impedidos de votar até 1965, quando uma lei federal proibiu a existência de qualquer dispositivo de discriminação racial no processo eleitoral.

Construindo a nação

A união entre as antigas colônias britânicas durante as lutas de independência mostrou-se temporária. Isso aconteceu, principalmente, porque os estados do norte e do sul tinham interesses diferentes e muitas vezes conflitantes, resultado das condições particulares de colonização das duas regiões.
Desse modo, a união promovida pela guerra de independência não foi suficiente para criar o sentimento de identidade nacional entre os habitantes das ex-colônias, ou seja, a ideia de que eles pertenciam a uma nação.
As tensões se tornaram crescentes, e o debate político parecia incapaz de superar as diferenças. Às tensões políticas somaram-se os problemas econômicos. As batalhas pela independência deixaram o país devastado, com inflação e dívidas enormes. Aqueles que lutaram pela independência saíram da guerra sem nenhuma recompensa, a não ser títulos de propriedade de terras indígenas no oeste do país.
Outro fator importante a ser lembrado é que a independência dos Estados Unidos não garantiu o fim da escravidão nem incluiu os indígenas como cidadãos no novo Estado.
No entanto, do ponto de vista político, a independência foi revolucionária. Com ela, nasceu a democracia moderna, fundada nos ideais do Iluminismo. A experiência estadunidense serviria de exemplo de vitória da soberania popular sobre o jugo metropolitano, especialmente para o restante das colônias na América.

Revolução Industrial

A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra, integra o conjunto das “Revoluções Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime, na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa, que sob influência dos princípios iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para Contemporânea.

Momentos da Revolução Industrial

A Revolução Industrial transformou profundamente a natureza e as sociedades. De modo geral, as oficinas dos artesãos perderam espaço para as fábricas. As ferramentas simples foram trocadas por máquinas. Em vez das tradicionais fontes de energia – como água, vento e força muscular –, passou-se a utilizar o carvão e, posteriormente, a eletricidade.

A Europa agrária foi se tornando industrializada, com cidades cada vez mais populosas. Talvez em nenhuma outra época o conhecimento tecnológico tenha gerado tanta riqueza.

O processo de industrialização é longo e costuma ser dividido em, pelo menos, três grandes momentos. A Primeira Revolução Industrial foi um processo que se concentrou na Grã-Bretanha, entre os séculos XVIII e XIX. O maior destaque desse período foi a invenção das máquinas a vapor e o desenvolvimento da fábrica de tecidos de lã e de algodão.

A Segunda Revolução Industrial difundiu-se, entre os séculos XIX e XX, por países como França, Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão. Entre as principais inovações desse momento, destacam-se a locomotiva e o navio a vapor. Além disso, posteriormente, foram criados, por exemplo, a lâmpada elétrica, o automóvel, o avião, o telefone, o rádio e o cinema.
A Terceira Revolução Industrial é um termo utilizado para afirmar que a industrialização está em pleno andamento. Desde meados do século XX, houve um grande salto em inovações tecnológicas, com o desenvolvimento da informática, da microeletrônica, da robótica e da engenharia genética.

Em seu sentido mais pragmático, a Revolução Industrial significou a substituição da ferramenta pela máquina, e contribuiu para consolidar o capitalismo como modo de produção dominante. Esse momento revolucionário, de passagem da energia humana para motriz, é o ponto culminante de uma evolução tecnológica, social, e econômica, que vinha se processando na Europa desde a Baixa Idade Média.

Formas de produção

Nos centros urbanos da Europa, a produção econômica vinha principalmente do artesanato e da manufatura. Essa situação mudou depois da Revolução Industrial.
O artesanato foi a forma de produção característica da Baixa Idade Média, durante o renascimento urbano e comercial, sendo representado por uma produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão), possuía os meios de produção ( era o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalhava com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento final; ou seja não havia divisão do trabalho ou especialização. 
No artesanato, os produtos são feitos manualmente, com o auxílio de ferramentas e em pequena escala. O artesão trabalha em casa ou em sua oficina, onde controla as fases da produção e administra seu tempo. Para produzir uma cadeira, por exemplo, um carpinteiro corta as tábuas de madeira, molda o encosto, o assento e os pés, encaixa essas partes e dá o acabamento final (polimento, pintura etc.).
É importante lembrarmos que nesse período a produção artesanal estava sob controle das corporações de ofício, assim como o comércio também se encontrava sob controle de associações, limitando o desenvolvimento da produção. Com a expansão marítima e a conquista de mercados na América, África e Ásia, cresceu a demanda por artigos da Europa.
Para dar conta dessa procura, comerciantes europeus organizaram grandes oficinas chamadas manufaturas, onde cada trabalhador executava uma parte da produção, que se somava às partes dos outros companheiros de profissão. Essa divisão do trabalho, com produção em série, aumentava a produtividade.
A manufatura, que predominou ao longo da Idade Moderna, resultando da ampliação do mercado consumidor com o desenvolvimento do comércio monetário. Nesse momento, já ocorre um aumento na produtividade do trabalho, devido a divisão social da produção, onde cada trabalhador realizava uma etapa na confecção de um produto. No caso da confecção de sapatos, um trabalhador projetava os modelos, outro preparava o couro, um terceiro recortava e assim por diante, até o acabamento final do produto. A ampliação do mercado consumidor relaciona-se diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção ao oriente como em direção à América, permanecendo o lucro nas mãos dos grandes mercadores. 
Outra característica desse período foi a interferência do capitalista no processo produtivo, passando a comprar a matéria prima e a determinar o ritmo de produção, uma vez que controlava os principais mercados consumidores.
Nesse momento, os produtos manufaturados já representavam cerca de 50% das exportações britânicas. A partir da Revolução Industrial, a produção ficou ainda mais rápida e eficiente com o desenvolvimento de máquinas e a implantação de fábricas, também chamadas maquinofaturas, nas quais a produção se multiplicou, pois, ao operar as máquinas, o trabalhador se especializava na mesma tarefa.
A maquinofatura é a forma mais elaborada de produção industrial. Nessa etapa, as máquinas substituem várias ferramentas, bem como o trabalho de grande quantidade dos operários. A maquinofatura, ou produção mecanizada, iniciou-se com a Revolução Industrial.
Porém, esse operário especializado perdia a visão de conjunto do processo produtivo. A especialização do trabalho levou a uma fragmentação do saber e do fazer.
Apesar dessas alterações nas formas predominantes de produção, o artesanato e as manufaturas continuam a existir até nossos dias. Com a concorrência dos produtos industrializados, os artesãos, por exemplo, encontraram um novo espaço no mercado, voltando-se para a confecção de produtos mais exclusivos e personalizados.

O PIONEIRISMO DA INGLATERRA

A Inglaterra industrializou-se cerca de um século antes de outras nações, por possuir uma série de condições históricas favoráveis dentre as quais, destacaram-se: a grande quantidade de capital acumulado durante a fase do mercantilismo; o vasto império colonial consumidor e fornecedor de matérias- primas , especialmente o algodão; a mudança na organização fundiária, com a aprovação dos cercamentos (enclausures) responsável por um grande êxodo no campo, e consequentemente pela disponibilidade de mão-de-obra abundante e barata nas cidades.
Pioneirismo britânico
Uma série de condições favoreceu o início da Revolução Industrial na Grã-Bretanha, entre elas:
• estabilidade social – a partir da Revolução Gloriosa (1688-1689), o desenvolvimento econômico passou a ser um dos principais objetivos do governo e da burguesia. Em 1694, foi fundado o Banco da Inglaterra, que disponibilizou créditos para financiar novas iniciativas econômicas;
• concentração de riquezas – entre os séculos XVI e XVIII, os britânicos acumularam capital por meio do tráfico de escravizados e da exploração de suas colônias. Além disso, lucraram com o comércio de produtos manufaturados enviados para América, África e Ásia;
• abundância de mão de obra – a população das cidades cresceu devido à migração de camponeses para áreas urbanas. As terras de uso comum onde os camponeses produziam seu sustento foram cercadas e transformadas em propriedades privadas, voltadas para produção de lã e outras mercadorias. Esse processo, chamado cercamento, começou nos séculos anteriores e, aos poucos, se intensificou;
• disponibilidade de recursos naturais – existiam ricas jazidas de ferro e de carvão mineral na Grã-Bretanha, que possibilitaram o desenvolvimento industrial. Outros países contavam apenas com o carvão vegetal, obtido da madeira;
• ética protestante – o puritanismo britânico, derivado do calvinismo, estimulava o trabalho árduo e disciplinado como um dever do cristão. Essa concepção religiosa não condenava a acumulação de riquezas. Lucrar, trabalhar e rezar eram valores fundamentais do puritanismo.

Inovações tecnológicas

Os seres humanos sempre utilizaram sua inteligência e criatividade para modificar o mundo à sua volta. Isso lhes permitiu inventar coisas extraordinárias, como a roda e o barco a vela. No entanto, a partir do século XVIII, as inovações tecnológicas deram um salto, tornando-se cada vez mais eficientes. A seguir, destacamos alguns dos marcos dessas inovações tecnológicas. 
O tear mecânico foi inventado em 1785, sendo utilizado na fabricação de tecidos de lã e de algodão. Usava-se, sobretudo, a lã produzida na Grã-Bretanha e o algodão produzido nas colônias britânicas da América e da Ásia.
A máquina a vapor, aperfeiçoada por James Watt em 1765, teve várias finalidades, mas ganhou destaque no século XIX, quando foi aplicada a meios de transporte como a locomotiva e o navio a vapor. 
A locomotiva a vapor foi, talvez, o maior avanço no transporte terrestre desde a construção das estradas romanas. Pelas locomotivas, circulavam pessoas, alimentos, cartas, jornais e grande diversidade de produtos, como roupas e livros. As viagens tornaram-se mais rápidas e os trens chegavam às estações em horários previstos. O percurso entre as cidades de Londres (na Grã-Bretanha) e Glasgow (na Escócia), que levava doze dias a cavalo no século XVIII, passou a ser feito em dois dias de trem. O inventor da primeira locomotiva a vapor foi o engenheiro britânico George Stephenson, em 1714.
O navio a vapor transformou profundamente o transporte marítimo. A partir dessa invenção, foi possível navegar sem ventos e por caminhos difíceis, como os estreitos marítimos. Com a construção do Canal de Suez, em 1869, ligando o Mar Mediterrâneo ao Oceano Índico, os navios a vapor reduziram pela metade a distância entre a Índia e a Europa. O inventor do primeiro barco a vapor bem-sucedido foi o engenheiro estadunidense Robert Fulton, em 1807.

As primeiras máquinas

Ao longo da Revolução Industrial, foram inventadas máquinas que não dependiam do esforço do trabalhador para funcionar. O que as diferenciava de outras ferramentas era a presença de um motor. Esse dispositivo aumentava a velocidade e a força aplicadas a determinada operação. Dessa forma, o emprego das máquinas na produção de objetos proporcionou lucro e produtividade em proporções desconhecidas até então.
As primeiras máquinas desenvolvidas eram voltadas à produção têxtil, setor em que as manufaturas inglesas eram mais fortes e controlavam um vasto mercado. Em 1735, John Kay criou a lançadeira volante. Três décadas depois, em 1764, James Hargreaves inventou a spinning jenny, que possibilitava a um só artesão fiar 80 fios ao mesmo tempo. Cinco anos depois, a waterframe, invenção atribuída a Richard Arkwright, movida pela força da água, foi projetada.
Entretanto, a waterframe precisava ser colocada próximo de um rio e era muito grande e cara para que um artesão a tivesse em casa. Por isso, ela só podia ser instalada em grandes espaços, ou seja, nas fábricas, o que demandava a concentração dos trabalhadores no local. Andrew Ure, um dos
principais defensores do sistema de fábrica, resumiu, em um livro publicado em 1835, a modificação do ritmo e da forma de trabalho que o novo sistema exigia.
Os inventos de Kay, Hargreaves e Arkwright foram importantes para o processo de industrialização. O acontecimento decisivo, porém, ocorreu na segunda metade dos anos 1760, quando James Watt aperfeiçoou a máquina a vapor, conseguindo controlar a força expansiva do vapor liberado pela água e usá-la para girar rodas.
Essa inovação completou um longo período de esforços científicos para aproveitar o aumento do volume da água em ebulição. A máquina a vapor passou a ser utilizada para movimentar as pesadas máquinas da indústria têxtil e para retirar a água que inundava as minas de carvão e de ferro.

Fontes de energia e comunicação

A partir, sobretudo, de meados do século XIX, a industrialização se expandiu por outros países. Esse período
foi marcado pelo desenvolvimento de novos materiais e fontes de energia.
O aço, por exemplo, passou a ser utilizado no lugar do ferro na produção de ferramentas, máquinas, trilhos de trem, edifícios e pontes. A energia elétrica foi utilizada em vez do carvão para fornecer iluminação e movimentar máquinas industriais, trens e bondes.
O petróleo e seus derivados, como a gasolina e o diesel, tornaram-se os principais combustíveis dos novos meios
de transporte.
Nos meios de comunicação, podemos destacar a invenção
do telégrafo e do telefone.
O telégrafo (do grego, tele = longe + grafia = escrita) foi outra invenção extraordinária, que facilitou a comunicação.
Esse aparelho, capaz de enviar mensagens codificadas por meio de fios, foi inventado por Samuel Morse (1791-1872) por volta de 1832. Morse também inventou um código (Código Morse) que foi o grande marco desse sistema. Além da via terrestre, foram instalados cabos submarinos de telégrafo.
No final do século XIX, uma mensagem telegráfica podia ser transmitida mundo afora em cerca de 24 horas.
O telefone (do grego tele = longe + fone = som) foi inventado,
em 1876, por Alexandre Graham Bell (1847-1922) nos Estados Unidos. Não demorou muito para que fossem instaladas linhas telefônicas de longa distância nos Estados
Unidos e em outras regiões do mundo.

Impactos da industrialização

As revoluções industriais provocaram transformações no
mundo do trabalho, na contagem do tempo, no meio ambiente
e na dinâmica de circulação de pessoas, mercadorias
e culturas.

Trabalho nas fábricas

Nesse período, surgiram duas classes sociais: a burguesia industrial (patrões) e o proletariado (operários). De modo geral, os burgueses eram donos das matérias-primas, das máquinas e das fábricas. Já os proletários vendiam sua força
de trabalho em troca de um salário.
Em geral, as fábricas tinham instalações insalubres, onde os  operários eram submetidos a uma disciplina rigorosa e a uma intensa fiscalização. Frequentemente, sofriam maus-tratos, que incluíam desde ameaças até agressões físicas.
As tarefas dos operários tinham horários definidos e a vida deles passou a ser controlada pela “tirania do relógio”. O atraso no trabalho era punido com redução salarial, embora quase nenhum operário ganhasse o suficiente para comprar um relógio pessoal.
O salário era tão baixo que o operário precisava cumprir longas jornadas diárias, de até 15 horas, para sobreviver.
Mesmo assim, muitos operários e suas famílias passavam por grandes dificuldades, como falta de alimentos, e viviam em condições precárias.
Em diversos casos, diferentes famílias moravam em um mesmo cômodo para dividir os gastos com o aluguel.

Trabalho feminino e infantil

Desde os tempos mais antigos, mulheres e crianças trabalhavam na agricultura, na criação de animais e no artesanato. No entanto, com a Revolução Industrial, elas passaram a cumprir longas jornadas de trabalho, recebendo salários bem mais baixos que os dos homens.
As mulheres, além de trabalharem nas fábricas, cuidavam da casa e dos filhos. É a chamada dupla ou tripla jornada de trabalho, uma injustiça que ainda permanece em várias regiões do mundo.
As crianças trabalhavam em condições semelhantes às dos adultos, o que provocava sérios danos à saúde, como dores no corpo e doenças crônicas (bronquites e alergias). Elas também não tinham acesso à educação. Atualmente, no Brasil, a exploração do trabalho infantil é considerada crime e o acesso à educação é um direito de todas as crianças.

Movimentos operários

No início da industrialização, não havia direitos trabalhistas para regular as condições de trabalho. A maioria dos contratos eram verbais e podiam ser encerrados a qualquer instante pela livre vontade do patrão.
Às vezes, impunham-se contratos verbais vitalícios, que equivaliam a uma servidão disfarçada. Havia, então, motivos de sobra para que os operários organizassem movimentos de resistência. Em 1791, por exemplo, operários anônimos incendiaram a primeira fábrica londrina a usar energia a vapor, que foi chamada de “moinho satânico”. Entre 1811 e 1812, outros operários destruíram máquinas fabris por considerá-las culpadas pela opressão. Esse movimento, conhecido como ludismo, foi severamente reprimido pelo governo britânico.
Apesar da repressão, os movimentos operários seguiram em busca de ideais. Assim, nasceram os primeiros sindicatos, associações de empregados que lutavam por melhores condições de trabalho.
Em 1824, no Reino Unido, entrou em vigor uma lei que permitiu a existência dos primeiros sindicatos. Em 1834 foi fundada por Robert Owen a União Nacional dos Sindicatos, que reuniu meio milhão de trabalhadores. Após anos de lutas, os operários britânicos conquistaram direitos trabalhistas, como a redução das jornadas de trabalho e a proibição do trabalho infantil.

No ritmo do relógio

Antes da Revolução Industrial, o tempo era basicamente contado em função das estações do ano, das atividades agrícolas, das festas populares e das celebrações religiosas. Essa contagem estava associada a fenômenos da natureza (chuvas e secas, calor e frio, o dia e a noite).
Com a Revolução Industrial, os trabalhadores, cumprindo as exigências da empresa, foram obrigados a se adaptar ao ritmo do relógio, que conta o tempo em horas e minutos. Difundiram-se, então, frases como “Tempo é dinheiro” e “Não perca tempo”. Tais expressões estavam ligadas ao funcionamento das fábricas, iluminadas pela energia elétrica, onde os trabalhadores se revezavam em turnos diurnos e noturnos. Com isso, os relógios mecânicos tornaram-se símbolos desse tempo que a indústria impôs aos trabalhadores.
Nos dias atuais, as relações das pessoas com o tempo também foram impactadas pelas tecnologias de comunicação, que trouxeram uma instantaneidade na troca de informações. Essa instantaneidade contribui, por exemplo, para dinamizar a economia. Hoje, é possível conversar por videoconferência com pessoas de diferentes países ao mesmo tempo, sem sair de casa. No entanto, essa rapidez nas comunicações também provoca problemas, como o aumento de casos de ansiedade, hiperatividade, depressão e insônia.
Vivemos numa “aldeia global”, conectados via internet em nossas “cabanas digitais” por meio de smartphones e computadores. Com a pandemia de covid-19, muitas pessoas passaram a trabalhar em casa (home office) usando aplicativos de mensagens, teleconferência e acesso remoto.

Devastação ambiental e sustentabilidade

Nas sociedades industriais, o carvão mineral (a partir de 1760) e os derivados de petróleo (a partir do século XIX) tornaram-se importantes fontes de energia. A queima desses combustíveis, no entanto, libera substâncias tóxicas que contaminam o ar, o solo e as águas.
Até meados do século XX, na maioria dos países industrializados, não era obrigatório o uso de filtros nas chaminés das fábricas e nos escapamentos dos automóveis, tampouco havia tratamento adequado de esgoto nas cidades.
A poluição impactou a vida de milhares de pessoas, causando doenças e mortes decorrentes, por exemplo, de problemas respiratórios. A maioria das pessoas não tinha consciência de que os recursos naturais são limitados e de que as ações humanas causam fortes impactos no meio ambiente. Atualmente, isso está mudando.
A preservação do meio ambiente é uma das principais questões do mundo contemporâneo. Cada vez mais, cidadãos e instituições preocupam-se com ecologia e desenvolvimento sustentável. É urgente a conscientização de que os recursos naturais podem acabar e de que o meio ambiente não suporta um crescimento econômico irresponsável. Assim, multiplicam-se iniciativas que visam à redução da produção de resíduos, ao uso responsável da água, à implantação de fontes de energia limpa, entre outras.

População e urbanização

Outro efeito marcante da Revolução Industrial foi o crescimento da população urbana. Isso ocorreu devido a três condições principais:
• migrações de pessoas do campo para a cidade, atraídas pela possibilidade de conseguir empregos e melhores condições de vida;
• melhorias nos padrões de saúde com a descoberta da vacina contra a varíola, da anestesia com éter, do bacilo causador da tuberculose (e de formas de combatê-lo) e da necessidade de assepsia nos procedimentos médicos;
• maior oferta de alimentos, devido à modernização agrícola, com a adoção de novos arados, debulhadoras e ceifadeiras.
Calcula-se que, em 1801, existiam apenas 23 cidades europeias com mais de 100 mil habitantes. Em 1900, já eram 135 cidades. No final do século XIX já havia 19 cidades com mais de meio milhão de moradores na Europa.

DESDOBRAMENTOS SOCIAIS

A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, com enormes concentrações urbanas. A produção em larga escala e dividida em etapas irá distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores irá dominar apenas uma etapa da produção. Na esfera social, o principal desdobramento da revolução foi o surgimento do proletariado urbano (classe operária), como classe social definida. Vivendo em condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia e submetido a salários irrisórios com longas jornadas de trabalho, a operariado nascente era facilmente explorado, devido também, à inexistência de leis trabalhistas.
O desenvolvimento das ferrovias irá absorver grande parte da mão-de-obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres a e crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas.
Mulheres e crianças nas fábricas
O agravamento dos problemas sócio-econômicos com o desemprego e a fome, foram acompanhados de outros problemas, como a prostituição e o alcoolismo. Os trabalhadores reagiam das mais diferentes formas, destacando-se o movimento “ludista” (o nome vem de Ned Ludlan), caracterizado pela destruição das máquinas por operários, e o movimento “cartista”, organizado pela “Associação dos Operários”, que exigia melhores condições de trabalho e o fim do voto censitário.
Destaca-se ainda a formação de associações denominadas “trade-unions”, que evoluíram lentamente em suas reivindicações, originando os primeiros sindicatos modernos.
O divórcio entre capital e trabalho resultante da Revolução Industrial, é representado socialmente pela polarização entre burguesia e proletariado. Esse antagonismo define a luta de classes típica do capitalismo, consolidando esse sistema no contexto da crise do Antigo Regime

A Era Napoleônica

Depois de dez anos de revolução (1789-1799), a sociedade francesa encontrava-se arrasada pelas disputas internas e pelas guerras externas. Napoleão conquistou a confiança da burguesia em virtude de seus êxitos militares e, em 1802, um plebiscito concedeu a Napoleão o título de cônsul vitalício. Dois anos depois, outra consulta popular o transformou em imperador dos franceses. Napoleão Bonaparte foi conduzido ao poder por meio de um golpe de Estado articulado por políticos ligados aos interesses burgueses.

A ação dos golpistas foi facilitada pela situação da França naquele momento histórico: o governo do Diretório era corrupto e dava provas de incompetência administrativa; a crise econômica, a inflação e a ameaça externa, persistentes, geravam um clima de grande instabilidade política. Além disso, a maioria dos franceses – abalada por dez anos de revolução – desejava um governo capaz de estabelecer a ordem e a paz.

De sua parte, a burguesia ansiava por um regime autoritário, com força suficiente para impedir a reconquista do poder pelos jacobinos.
Os políticos burgueses julgaram, então, que um general jovem, popular e ambicioso era o homem certo para liderar uma ação contra o desmoralizado Diretório. Por isso, no final de 1799, eles próprios deram autorização para que Napoleão Bonaparte invadisse a sala de sessões da Assembleia acompanhado de seus soldados e concretizasse o golpe conhecido com o 18 Brumário.
Durante o período em que exerceu o poder (1799-1814), o governo de Napoleão adotou medidas para recuperar a economia e as instituições do Estado. Incentivou a industrialização, criou o primeiro banco nacional francês e promoveu obras públicas, como a construção de estradas, a fim de gerar empregos.

O governo de Napoleão

Podemos dividir o Período Napoleônico em três fases: o Consulado (1799-1804), o Império (1804-1815) e os Cem Dias (1815).

O Consulado (1799-1804)

Logo após a sua ascensão ao poder. Napoleão ordenou que votasse, às pressas, uma nova Constituição, através da qual se instituiu um novo regime: o Consulado.
De acordo com essa Constituição, a nação devia ser chefiada por três cônsules, designados por um período de dez anos. De fato, o poder passou às mãos do primeiro-cônsul, Napoleão Bonaparte. Cabia a ele nomear ministros e parte dos parlamentares, propor leis, dirigir o exército, declarar a guerra e firmar a paz. Seus poderes equivaliam, portanto, aos de um ditador.
Buscando soluções para os sérios problemas econômicos em que a França se via mergulhada, o primeiro-cônsul tomou uma série de importantes medidas:
- confirmou a distribuição de terras decretada por Robespierre, que transformou milhões de camponeses em pequenos proprietários;
- criou o Banco da França (1800);
- ativou a industrialização francesa, criando a Sociedade de Fomento à Indústria Nacional e aumentando as taxas alfandegárias sobre os artigos importados;
- racionalizou o sistema de cobranças de impostos;
- utilizou o dinheiro arrecadado para dar início à construção de importantes obras públicas como estradas, pontes e drenagem de pântanos.
O Consulado adotou também uma nova política religiosa. Assinou com a Igreja uma Concordata (1801) que reconhecia o catolicismo como a religião da maioria dos franceses e admitia a liderança espiritual do papa sobre o clero da França. Em compensação, o papa reconhecia o confisco dos bens da Igreja e o direito de Napoleão nomear os bispos.
No plano externo, o Consulado enfrentou e venceu uma outra coligação estrangeira contra a França e assinou acordos de paz com a Áustria, a Rússia e a poderosa Inglaterra (1802).
Nesse período, foi elaborado o Código Civil, conhecido como Código Napoleônico. Esse documento possuía cerca de dois mil artigos, dos quais oitocentos regulamentavam e garantiam a propriedade privada e apenas 7 referiam-se ao trabalhador.
A revitalização da economia francesa, a eficiência da nova administração e o estabelecimento da paz entre a França e seus tradicionais inimigos externos deram um grande prestígio a Napoleão Bonaparte.
Valendo-se de sua crescente popularidade, Napoleão aumentou enormemente seus poderes. Por meio de um plebiscito realizado em 1802, tornou-se cônsul vitalício, com direito a indicar seu sucessor. Dois anos depois, com um novo plebiscito (precedido de intensa propaganda governamental), foi aclamado imperador dos franceses por cerca de 4 milhões de eleitores (80% do total).

O Império (1804-1815)

Nesse período, Napoleão Bonaparte pôs em prática uma política expansionista, que culminou com a dominação de praticamente toda a Europa. O imperialismo napoleônico objetivou, em essência, possibilitar à burguesia francesa os mercados consumidores de que necessitava para decolar o comércio e, principalmente, a indústria francesa.

Portanto, podemos salientar que o período imperial napoleônico foi marcado por uma série de conflitos diplomáticos e guerras que envolveram a maior parte dos países europeus, em geral, contra a Inglaterra, que, embora estivesse fundamentada em um regime de caráter liberal-burguês, via na França uma grande concorrente continental aos seus produtos industrializados. Os demais países, que organizaram várias coligações contra o império napoleônico, eram monarquias absolutistas temerosas dos reflexos mais gerais da Revolução Francesa e dos ideais iluministas. Dessa maneira, por fatores de ordem econômica ou política, Napoleão Bonaparte estava rodeado de adversários.
O primeiro confronto das forças napoleônicas deu-se contra a terceira coligação, formada no ano de 1805 pela Inglaterra, Rússia e Áustria. Contando com o apoio da Espanha, arquiinimiga britânica, a marinha francesa tentou invadir a Inglaterra. Contudo, foi detida na Batalha de Trafalgar pelo legendário Almirante Nelson.
Nesse mesmo ano, Napoleão e seus exércitos demonstraram o poderio terrestre francês ao vencerem os exércitos da Áustria, Rússia e da Prússia na Batalha de Austerlitz. Napoleão Bonaparte, após essa vitória, extingue o Sacro Império Romano-Germânico, criando em seu lugar a Confederação do Reno, que permaneceu sob a tutela da França.
No ano de 1806, Napoleão voltou a vencer a Prússia na Batalha de Lena, e os russos foram derrotados em Friedland.

Era Napoleônica e Congresso de Viena

Seguindo sua política de dominar a Europa e promover o isolamento da Inglaterra, após invadir Berlim, assinou o tratado que decretou o Bloqueio Continental, em que proibia aos países europeus o comércio com os ingleses no continente, agora dominado pela França.
No ano de 1807, com o intuito de consolidar seus interesses na península Ibérica, realizou com a Espanha o Tratado de Fontainebleau e promoveu a invasão de Portugal, o que resultou na vinda da família real para o Brasil. No ano seguinte, invadiu a Espanha, onde a resistência popular crescia contra o imperialismo napoleônico.
Em 1809, Napoleão consolidou seus interesses na península Itálica ao promover a anexação dos Estados Pontifícios. De 1810 a 1812, o poderio francês na Europa era indiscutível. Em 1812, foi iniciada a campanha da Rússia. Nesse mesmo período, os espanhóis reafirmaram sua resistência e soberania com revoltas de cunho popular que resultaram em vitórias sobre os franceses. 
A campanha da Rússia, na qual Napoleão se defrontou não só com forças lideradas por Kutzov, mas também, com uma vigorosa reação popular e um inverno rigoroso, resultou num grande fracasso militar e moral para Napoleão e seus exércitos.
Retirada da armada de Napoleão
A partir do ano de 1813, os inimigos de Napoleão buscaram a ofensiva. Na Batalha de Leipzig, a coligação de exércitos da Áustria, da Prússia e da Rússia derrotaram as forças francesas.
No início de 1814, liderados pelo czar Alexandre I, os exércitos coligados invadiram a França, chegando a Paris ao final de março do referido ano.
Napoleão Bonaparte foi obrigado a abdicar, sendo levado para o exílio na pequena ilha de Elba, no Mediterrâneo. Os Bourbon, na pessoa de Luís XVIII, com o auxílio das tropas coligadas, foram reconduzidos ao trono francês.

Os Cem Dias (1815)

Contudo, não foi muito prolongado o exílio de Napoleão Bonaparte. Após conseguir fugir de Elba, desembarcou na França e tomou o poder com o apoio de seus fiéis seguidores.
Sob a liderança da Inglaterra, a Prússia, a Áustria e a Rússia formaram uma nova coligação. Comandadas pelo General Wellington, derrotaram as tropas napoleônicas em definitivo na Batalha de Waterloo, na Bélgica. Napoleão foi feito prisioneiro e deportado para a ilha de Santa Helena, onde veio a falecer em 1821. Com isso, apoiado nos exércitos coligados e no Congresso de Viena, Luís XVIII teve seu poder restaurado.

O Congresso de Viena

Logo em seguida à primeira derrota de Napoleão Bonaparte, as monarquias europeias, representadas por seus ministros, reuniram-se no Congresso de Viena (1814-1815), com a finalidade principal de estabelecer a paz e a reorganização de um novo mapa político da Europa, cujas fronteiras haviam sido bastante alteradas com as conquistas napoleônicas.
O Congresso de Viena
Os conflitos de interesses e as disputas entre os representantes das nações vencedoras facilitaram o trabalho do ministro francês, Talleyrand. Segundo o princípio da legitimidade, as nações européias voltariam aos limites geográficos anteriores à Revolução Francesa, como também seriam restauradas as mesmas dinastias do Antigo Regime.
Dessa forma, Talleyrand, com sua diplomacia, livrou a França de duas ameaças: o retalhamento e a perda de territórios e a ocupação por exércitos coligados.
Por iniciativa do czar Alexandre I, a Rússia, a Áustria e a Prússia firmaram um tratado de ajuda mútua e contra-revolucionário conhecido como Santa Aliança. Posteriormente, esse organismo teve a adesão de outras nações europeias.
O representante austríaco, príncipe Metternich, defendeu o direito de intervenção. De acordo com esse princípio, a Santa Aliança teria o direito de intervir nos países onde ocorressem revoluções de caráter liberal e movimentos coloniais de emancipação política. Com isso, a Santa Aliança constitui-se numa instituição mantenedora do absolutismo na Europa, numa época de grande expansão dos ideais de liberdade e independência (Doutrina Monroe).


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