domingo, 24 de setembro de 2023

Os Paradigmas da História

 Positivismo, Marxismo e Nova História

O ensino como um todo está passando por um período de transição, com muitos problemas e debates, sobre a importância do ensino, e o que realmente deve ser ensinado nas escolas para que realmente a educação cumpra o seu papel de formadora de cidadãos conscientes de sua importância na sociedade e mundo em que estão inseridos. Dessa forma o ensino de História não foge à essas discussões acerca das problemáticas da educação, principalmente no que tange ao ensino em sala de aula.

As maiores problemáticas em relação ao ensino de História se referem as questões teórico-metodológicas e político-pedagógicas. Cabe então analisarmos mais profundamente as três correntes da historiografia atual que servem como embasamento teórico para os professores de História: o Positivismo, o Marxismo e a Nova História. 

Positivismo 

Corrente teórica tradicional que surgiu no séc. XIX, como reação ao Idealismo de Kant e Hegel, fundado por Augusto Comte. O momento histórico em que essa concepção historiográfica foi criada insere-se em uma fase onde a burguesia tornava-se a classe econômica hegemônica, e o positivismo representou a justificação e legitimação da visão burguesa, servindo mais tarde como uma ideologia dessa classe, garantindo a manutenção dessa nova ordem.

O positivismo segundo Comte apresenta a lei dos três estágios que consiste estabelecer três estágios de evolução do espírito humano: o estado teológico, o estado metafísico e o estado positivo. Essa concepção tem uma característica utilitarista, que propõe conhecer o passado, entender o presente e projetar o futuro, que dessa forma busca a previsão e o conhecimento prévio dos fatos, onde o futuro pode ser manipulado.

O estudo da História segundo a concepção positivista, se restringe ao estudo  dos fatos, que podem ser observados, verificáveis e experimentáveis, tirando da história toda a sua subjetividade. O historiador é uma pessoa neutra e objetiva, que não interfere de forma alguma nos acontecimentos e na História. A fonte de estudo privilegiada nessa concepção são as escritas, principalmente os documentos oficiais.

A pesquisa nos documentos oficiais é realizada apenas no âmbito da descrição já que eles não podem ser discutidos e analisados. Com isso a História é contada a partir de uma estrutura política, privilegiando os governos e os governantes. A sociedade assim como a natureza é regida por leis naturais e invariáveis, independentes da vontade e da ação humana, e que caminha para um estágio final de progresso, sem que haja retrocessos e atrasos durante a evolução dessa sociedade.

Com a utilização dessa concepção por parte dos professores de História em sala de aula, os alunos não são estimulados a pensar, e buscar o conhecimento através de uma construção do mesmo. 

Marxismo 

Para analisarmos a corrente marxista, devemos remontar as origens históricas dessa tendência. No final do séc. XVIII, a burguesia libertou as forças produtivas do domínio do feudalismo. A burguesia se apropriou dos meios de produção e dos capitais gerados a partir da exploração de uma nova classe social - o proletariado. A luta de classes levou o proletariado a buscar a explicação, e consequentemente a tomada de consciência, do processo de exploração a que está submetido. Nesse sentido, contrariamente ao positivismo, o marxismo procura explicar a História do ponto de vista dos trabalhadores.

Nessa concepção os fatos não podem ser medidos e experimentados, a abstração só pode se dar na imaginação. Os fatos, os indivíduos são reais, e sua ação, suas condições materiais de vida alteram a História. O historiador trabalha na investigação do processo histórico concreto, e intervém de modo prático sobre eles. A partir disso os acontecimentos não são acabados e a História não é dada, mas sim construída socialmente pelos indivíduos que nela se inserem.

A estrutura econômica é privilegiada nessa tendência, com a produção material determinando as demais esferas da vida social. Há um aspecto comum com o positivismo, já que da mesma forma a História caminha para um fim inevitável, só que nesse caso não a um estágio positivo, mas a uma sociedade socialista/comunista, com a evolução dos modos de produção. 

Nova História 

Na primeira metade do século XX, os historiadores franceses ligados à famosa Escola dos Anais promoveram mudanças significativas na maneira de pensar e escrever a História, as quais continuam ainda hoje em evidência, causando polêmicas. Marc Bloch, Lucien Febvre e Fernando Braudel são considerados os maiores responsáveis por essas mudanças, embora muitos outros tenham contribuído para que a História firmasse novas formas de interpretação, preocupadas com as estruturas, as manifestações culturais e a relação com os outros ramos do saber, tais como a sociologia, a economia, a antropologia a demografia.

A Nova História, tributária da Escola dos Anais, ocupou, por sua vez, um espaço importante nas universidades e conseguiu também penetração expressiva no mercado editorial, sobretudo na França. Historiadores como Jacques Le Goff, Georges Duby, Marc Ferro e tantos outros tornaram-se conhecidos da mídia. A Nova História, com sua linguagem próxima da literatura, sem o peso formal da linguagem acadêmica conquistou um público amplo, constituído não apenas por historiadores.

A Nova História costumou a ser dividida em 3 fases ou geração de estudiosos: a primeira geração privilegiou a História econômica e social, a totalidade era obtida na História econômica. A segunda geração privilegiou a História econômica e preteriu a História social, já que esse período de pós-guerra (1945) promoveu uma intensa industrialização, o que provocou uma atenção maior dos estudiosos. Os anos 70 foram marcados para uns com a continuidade do movimento a partir da terceira geração, e para outros como o rompimento definitivo dos postulados da primeira e segunda gerações, e a opção pelo irracionalismo. A partir dos anos 70 novos objetos de estudo foram anexados à essa nova historiografia, temas que não eram contemplados pela historiografia tradicional: cotidiano das pessoas comuns, e não das grandes figuras;  História das mentalidades, a partir de temas como: família, educação, sexo, festa, morte, alimentação, mulheres, homossexuais.

Em substituição a História narrativa, entra em cena a História-problema, que procura explicar os problemas  e as grandes interrogações da nossa época. O campo das pesquisas foi ampliado, livrando-se de preconceitos, quebrando fronteiras. Atualmente costuma-se dizer que tudo é História, e não apenas os feitos dos heróis, as grandes batalhas, as tramas das elites. Defende-se hoje que a história é uma tarefa coletiva, construída no cotidiano, e que, portanto, o ofício do historiador é dar conta da diversidade que resulta do pensar, sentir e agir de todos os homens.    

Eixo Temático: As representações do saber histórico: significados sobre as experiências humanas.

Introdução ao Estudo da História

A História é uma disciplina que estuda o passado das sociedades humanas, buscando resgatar e compreender suas realizações econômicas, sociais, políticas e culturais. O estudo do passado humano permite-nos conhecer as motivações e os efeitos das transformações pelas quais passou a humanidade e fornece elementos que ajudam a explicar as sociedades atuais.

A História não se limita somente ao estudo do passado. Através do estudo da História, podemos desenvolver teorias sobre atualidade, podemos contextualizar o passado com o presente fazendo ligações entre os acontecimentos.

A palavra história nasceu na Grécia Antiga e significava “investigação”. Foi o grego Heródoto, considerado o “pai da História” que, pela primeira vez, empregou esta palavra com o sentido de investigação do passado.

A matéria-prima da História são os fatos históricos, acontecimentos que possuem repercussão social, para os quais se busca uma explicação de suas causas e efeitos. A morte do presidente do Brasil, Getúlio Vargas, em 1954, é um exemplo de fato histórico. Já o fato social é um acontecimento corriqueiro na vida de uma sociedade, que possui pequeno impacto imediato, como a morte de pessoas ou a crise financeira pessoal de alguém da comunidade.

                Sentidos da palavra história  

Exploremos um pouco os sentidos da palavra história, uma vez que ela é polissêmica, isto é, possui diversos significados. Vejamos alguns: 

 Ficção – os livros de aventura, as novelas de televisão ou os filmes de cinema contam histórias muitas vezes inventadas para despertar nossa atenção sobre determinado assunto, fazer-nos refletir ou simplesmente para nosso entretenimento. Essas histórias criadas pela imaginação humana, com seus lugares e personagens, são chamadas também de ficção. Muitas vezes, as obras de ficção são inspiradas no conhecimento de épocas passadas, como acontece em filmes e romances históricos ou em novelas de época.

 Processo vivido – as lutas e os sonhos, as alegrias e as tristezas de uma pessoa ou de um grupo social fazem parte de sua história, de suas vivências. Assim, o conjunto dos acontecimentos e das experiências que ocorreram no dia a dia, tanto de uma pessoa quanto de um grupo, pode ser chamado de história vivida. Essa história integra a memória (recordações) das pessoas que a viveram.

 Área de conhecimento – a produção de um conhecimento que procura entender como os seres humanos viveram e se organizaram desde o passado mais remoto até os dias atuais constitui uma área de investigação ou disciplina denominada História. Nesse sentido, História constitui um saber preocupado em desvendar e compreender as condições históricas (historicidade) das vivências humanas, ou seja, em tratar essas vivências como expressão da época em que elas ocorreram.

Esses três sentidos da palavra história estão relacionados. As histórias vividas pelas pessoas e a ficção não estão excluídas da História como área de conhecimento. As pessoas interessadas em pesquisar ou escrever sobre História ou, ainda, em ensiná-la escolhem assuntos que podem incluir tanto a ficção quanto as histórias de uma vida.

História e historiadores 

As vivências humanas expressam o contexto histórico de cada época. O estudo do passado e a compreensão do presente não se relacionam de forma determinista. As soluções de ontem não servem aos problemas de hoje. Sem um processo que considere mudanças e permanências históricas, as experiências do passado não se aplicam ao presente. Como entender, então, as relações entre passado e presente?

A compreensão das relações entre passado e presente é uma questão intrigante. É também uma das preocupações centrais da História, disciplina que se dedica ao estudo das vivências humanas em épocas e lugares distintos. Em nossa opinião, a escrita da história não pode ser isolada de sua época. O historiador vive o seu tempo, por isso, a história que ele escreve está ligada à história que ele vive. As conclusões dos historiadores nunca são definitivas. O historiador trabalha para seu tempo, e não para a eternidade. Assim, a historiografia não deve ter a pretensão de fixar verdades absolutas, prontas e acabadas, interpretações eternas, pois a história, como forma de conhecimento, é uma atividade contínua de pesquisa.

O historiador investiga e interpreta as ações humanas que, ao longo do tempo, provocaram mudanças e continuidades em vários aspectos da vida pública ou privada: na economia, nas artes, na política, no pensamento, nas formas de ver e sentir o mundo, no cotidiano, na percepção das diferenças. O trabalho do historiador consiste em perceber e compreender esse processo histórico. 

O estudo da História tem várias utilidades.  As principais são: 

 Satisfazer a curiosidade natural de saber como era o passado e como a humanidade se transformou ao longo do tempo.

 Ajudar a compreender o mundo em que vivemos e ao mesmo tempo dar consciências aos homens do seu poder de transformar a realidade.

  Outra utilidade da História é ajudar-nos a viver melhor, aprendendo com os erros e acertos de nossos antepassados. 

Para se estudar História, devemos desenvolver o senso crítico, a capacidade de interpretação e de observação. Não podemos estudar História transmitindo nossos valores atuais para as sociedades do passado. Como a História tem como base a cultura, não podemos transmitir os nossos valores culturais aos povos que estivermos estudando. Cada povo em cada tempo e em cada espaço possuía e possui uma maneira própria de entender o mundo e de se perceber dentro deste.  

Fontes históricas

Na recuperação do fato, a história recorre às chamadas fontes históricas, constituídas de vestígios de toda espécie. As fontes podem ser de várias naturezas: escritas, orais, iconográficas, arqueológicas.

As fontes escritas são registros em forma de inscrições, cartas, letra de canções, livros, jornais, revistas e documentos públicos, entre outros. As fontes não-escritas são registro da atividade humana que utilizam linguagens diferentes da escrita, tais como pinturas, esculturas, vestimentas, armas, músicas, discos fonográficos, filmes, fotografias, utensílios.

Outro exemplo de fonte histórica não-escrita é o depoimento de pessoas sobre aspectos da vida social e individual. Esses depoimentos, que podem ser colhidos a partir de entrevistas gravadas pelo próprio historiador, servem para registrar a memória (pessoal e coletiva) e ampliar a compreensão de um passado recente ou da história que se está construindo no presente. É o que se chama de história oral.

O que é cultura

É toda e qualquer produção humana, ou seja, tudo que é produzido pelos seres humanos é considerado uma produção cultural. Como o mundo é formado por vários povos diferentes, as produções culturais são diferentes de um povo para outro, o que explica as multiplicidades religiosas, linguísticas, políticas, de organizações sociais e valores, que são considerados cultura imaterial. No caso da cultura material associam-se os objetos, vestimentas, moradias, obras artísticas, utensílios domésticos, etc.  A escrita é considerada a materialização do vocabulário de um povo. Um povo que não possui um vocabulário escrito não pode ser considerado atrasado em relação a outro povo que possua um vocabulário escrito. Na verdade, isso só representa uma variação cultural, algo comum entre os povos.  

Periodização histórica

Para organizar a compreensão dos históricos, os pesquisadores elaboram periodizações visando ordenar os acontecimentos e temas analisados. Concebidas pelos historiadores, as periodizações históricas estão de acordo com o ponto de vista de quem as elaborou. Vejamos uma periodização muito utilizada e tradicional, que divide a história em grandes períodos:

  Pré-história – do surgimento do ser humano até o aparecimento da escrita (4000 a. C.);

 Idade Antiga ou Antiguidade – do aparecimento da escrita até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d. C.);

 Idade Média – da queda do Império Romano do Ocidente até a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453);

 Idade Moderna – da tomada de Constantinopla até a Revolução Francesa (tomada da Bastilha, 1789);

 Idade Contemporânea – da Revolução Francesa até os dias atuais. 

Essa divisão feita por historiadores europeus que, no século XIX, davam maior importância às fontes escritas e aos fatos políticos. Por isso, todo o período anterior à invenção da escrita foi chamado de Pré-história. E, por serem europeus, esses historiadores estabeleceram como marcos divisórios das “idades” da história acontecimentos ocorridos na Europa.

A divisão tradicional da história (Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea) é muito criticada por vários motivos, entre eles o fato de ter sido elaborada com base no estudo de apenas algumas regiões da Europa, do Oriente Médio e do norte da África. Portanto, não pode ser generalizadas a todas as sociedades do mundo. Além disso, ela adota certos fatos como marcos dos períodos, dando a errônea impressão de que as mudanças históricas – que em geral, fazem parte de um processo longo e gradativo – ocorrem repentinamente.

Pré-história 

A pré-história é o longo período do passado que abrange desde o surgimento do “homem primitivo” (hominídeo) até a invenção da escrita. O termo tem sido criticado, pois o ser humano, desde seu aparecimento no planeta, é um ser histórico, mesmo que não tenha utilizado a escrita em algum período. Como o uso do termo Pré-história é consagrado mundialmente, podemos empregá-lo, mas cientes de que esse período também faz parte da história.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Aspectos Geográfico da Paraíba

  Localização e Área Territorial da Paraíba    

A população paraibana chegou a 3.974.495 em 2022, de acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e 70,39 habitante por quilômetro quadrado

O estado da Paraíba ocupa 56.584.6 km² de área territorial brasileira englobando 223 municípios.

Até 1994, a Paraíba possuía 171 municípios. Em 1994/1995 foram criados mais 52, perfazendo um total de 223, com suas cidades-sede, vários distritos, vilas, e inúmeros povoados. Grande parte do seu território está situado no extremo leste da região Nordeste do Brasil. Tem 98% de seu território inserido no Polígono da Seca.



Localização: Região nordeste do Brasil

Limites:         Ao norte (Rio Grande o Norte)

                       Ao sul (Pernambuco)

                       O leste (Oceano Atlântico)

                       O oeste (Ceará)


Pontos extremos:

Ao norte (Serra do vale – Belém do Brejo do Cruz)

Ao sul (Serra Pau D’arco – São João do Tigre)

O leste (Ponta do Seixas – João Pessoa)

O oeste (Serra da Areia – Cachoeira dos Índios)

Na Paraíba se encontra o ponto mais oriental das Américas, conhecido como a Ponta do Seixasem João Pessoa, devido a sua localização geográfica privilegiada (extremo oriental das Américas), João Pessoa é conhecida turisticamente como "a cidade onde o sol nasce primeiro".

Capital: João Pessoa

Cidades principais: João Pessoa, Santa Rita, Guarabira, Campino Grande, Patos, Sousa, Cajazeiras, Cabedelo

Cidades mais populosas - João Pessoa (capital), Campina Grande, Santa Rita, Patos, Bayeux e Souza.

 Mesorregiões: Mata Paraibana - Agreste Paraibano - Borborema - Sertão Paraibano



Número de municípios: 223

Extensão territorial: 56.439 quilômetros quadrados ou 0,66% da área total do Brasil. É o 20º estado brasileiro e o 6º do nordeste.

Extensão do litoral: 138 quilômetros com 56 praias.

IBGE dividiu a Paraíba em 4 mesorregiões: Mata Paraibana, Agreste Paraibano, Borborema e Sertão.

Cada mesorregião divide-se em microrregiões, no estado existem 23 microrregiões.



Mesorregiões da Paraíba: 

  • Mata Paraibana – Faixa de clima úmido que acompanha o litoral. A mata que existia foi substituída pela cana-de-açúcar. É a parte mais povoada e mais urbanizada do estado. 
  • Agreste Paraibano – Região de transição entre a zona da mata e a tradicional região do sertão. O clima e semiárido, embora chova mais do que na Borborema e no sertão. Economia: cana-de-açúcar, algodão, sisal, pecuária. 
  • Borborema - Localiza-se no planalto da Borborema, entre o sertão e o agreste é a região onde as chuvas são mais escassas. Economia: Extração mineral, sisal, algodão, pecuária de caprinos. É principalmente na Borborema que ocorre o fenômeno das secas. 
  • Sertão – É a região da vegetação da caatinga, de clima menos seco que a Borborema, dos rios temporários, da pecuária extensiva de corte e do cultivo do algodão, principal produto cultivado na região.

Mesorregião Paraibana 

Mesorregião Zona da Mata Paraibana



      Compreendendo o litoral, a parte leste do Estado, onde predominam as planícies litorâneas e os tabuleiros, como principais formas de relevo. Possui um regime de chuvas abundantes, especialmente nos meses de março a julho, quando o inverno é regular. As terras são férteis e próprias para o cultivo da cana-de-açúcar.

O Litoral da Paraíba se estende por cerca de 133 quilômetros. Sua extensão vai da desembocadura do rio Goiana - ao sul, onde se limita com o estado de Pernambuco - até o estuário do rio Guaju - ao norte, na divisa com o Rio Grande do Norte.

O litoral paraibano divide-se em Litoral Norte e Litoral Sul. O limite entre esses dois seguimentos é representado pelo estuário do rio Paraíba. Os municípios que compõem o Litoral Norte são: Lucena, Rio Tinto, marcação, Mamanguape, Baia da Traição e Mataraca. O Litoral Sul abrange os territórios municipais de João Pessoa, Cabedelo, Bayeux, Santa Rita, Conde, Alhandra e Pitimbu.

O relevo é representado por três unidades morfológicas espacialmente desiguais: os baixos planaltos sedimentares ou tabuleiros, com falésias na fachada oceânica; a baixada litorânea, com suas dunas, restingas, lagoas e as planícies aluviais, fluvio-marinhas e estuarinas dos rios que deságuam no Atlântico.

Toda a região do litoral caracteriza-se por uma relativa diversidade econômica responsável pela organização do seu espaço: 

·     Agroindústria sucro-alcooleira; 

·     Extração mineral (ilmenita, titanita, zirconita, cianita, ao norte de Barra de Camaratuba, calcário, na grande João Pessoa; granito, em Mamanguape; 

·     Pesca da lagosta, em Pitimbu; 

·     Agricultura e pecuária; granjas e sítios; 

·     Loteamentos para residências secundárias. 

 Mesorregião do Agreste Paraibano

  

            

      Situada na parte intermediária do Estado, a mesorregião do Agreste que sucede ao litoral, na direção oeste, corresponde inicialmente a uma depressão, com 130m de altitude, formada por rochas cristalinas, e que logo dá lugar às escarpas abruptas da Borborema, cujas altitudes ultrapassam os 600m.

No agreste, permanece o binômio gado-policultura e ainda continua como região fornecedora de alimento. Possui solo muito rico e, pela umidade que apresenta, próprio para a policultura, ou seja, cultivo de várias espécies: feijão, milho, abacaxi, fumo, inhame, mandioca, frutas e legumes diversos, prestando-se também a criação de gado.

A diversificação de produção dessa área acontece, em razão da forte diferença das condições naturais. Nas áreas mais secas predominam as pastagens naturais que favorecem a presença da pecuária extensiva.

            Os rios, nesta zona, já são quase sempre temporários, pois reduzem suas águas ou secam completamente nos períodos de grande estiagem. Um fator marcante que determina esta condição são as chuvas que começam a diminuir tornando mais seco, o clima.

            Há uma transição no aspecto da vegetação desta mesorregião, vez que, ora ela apresenta características de uma mata úmida, parecida com a mata Atlântica, ora da caatinga que vai predominar nas outras áreas: Borborema e Sertão.

Na medida que nos afastamos do Litoral em direção ao interior, serras e vales férteis apresentam roteiros que unem história, natureza e diversão. Em Campina Grande, no Alto da Serra da Borborema, o “Maior São João do Mundo” atrai milhares de turistas para 30 dias de forró. Em Fagundes a famosa pedra de Santo Antonio, palco de peregrinações religiosas em homenagens ao “santo casamenteiro”, é hoje uma das mais procuradas áreas para a prática de Treking. Em Ingá encontraremos as Itacoatiara (pedras riscadas, em Tupi), a mais enigmática presença indígena no Nordeste.

Mesorregião da Borborema


        Área de domínio do Planalto da Borborema, que se constitui num conjunto de terras elevadas, estendendo-se desde o norte do Estado de Alagoas até o sul do Estado do Rio Grande do Norte, na direção SW-NE. Apresenta algumas serras, cujas altitudes variam de 500 a 600m. Entre elas, destaca-se a Serra do Teixeira, onde fica o Pico do Jabre, no Município de Maturéia, considerado o ponto mais elevado da Paraíba, com mais de 1000m de altitude. A parte leste da Borborema recebe chuvas vindas do litoral, o que vai influenciar no seu clima e vegetação – são os brejos úmidos. O restante da Borborema está sob o domínio do clima quente e seco.

O planalto é um importante divisor de águas porque os rios que ali nascem correm em direção leste e deságuam no oceano Atlântico, enquanto os, enquanto os rios da porção oeste, não conseguindo ultrapassar a Borborema correm em direção ao Estado do Rio Grande do Norte e de lá é que alcançam o Oceano.

Na Borborema, vão dominar pastagens plantadas (palma forrageira e capim) que permitirão e facilitarão a prática de uma pecuária extensiva, principalmente a de médio porte, e, em áreas de exceção, pontuais, ocorre a presença de outras culturas. Por exemplo, o tomate nas proximidades de Boqueirão. 

Em cidades como Prata, Sumé, Serra Branca, Boqueirão e Cabaceiras, a vida desafia a cinza vegetação da Caatinga e revela roteiros de extrema importância cientifica. No Lajedo de Pai Mateus, município de Cabaceiras, os turistas podem apreciar de perto todo o capricho da natureza. O lugar é hoje visitado por gente do mundo inteiro, todos curiosos em decifrar os enigmas escondidos nas rochas. O Lajedo ficou famoso ao servir de cenário para o filme o Auto da Compadecida, Pai Mateus na verdade foi o nome de um antigo ermitão que durante muitos anos residiu sobre as pedras. Muitos séculos antes, no entanto, índios já haviam deixado suas marcas por ali. 

Mesorregião do Sertão Paraibano

A mais extensa do Estado, conforme pode ser observado no mapa, o Sertão compreende uma extensa área formada de terras baixas (250 a 300m) em relação às elevações da Borborema e das serras situadas nas fronteiras com os Estados vizinhos, onde se faz presente um clima quente e semi-úmido. As chuvas são muito escassas, a vegetação pobre, não sendo o solo próprio para a agricultura, porém mais favorável à pecuária. A maioria das culturas agrícolas precisam ser irrigadas. No Sertão, a presença das pastagens permanece e constitui um forte indicativo da atividade pecuarista. Registrando-se ainda algodão, cana-de-açúcar, arroz, feijão, milho, cultivados em parte para subsistência em áreas onde solo e clima são favoráveis ocorrendo ou não irrigação.

Quando há inverno regular, é possível colher muito algodão, cultura que se desenvolve bem nas terras do Sertão.

É um prato cheio para quem procura aventura e mistério. Religiosidade cultura e ciência se misturam em roteiros de grande beleza plástica. Achados paleontológicos de mais de 130 milhões de anos fazem do Vale dos Dinossauros, em Sousa, um lugar único no mundo. Ali, em meio ao solo rachado e transformado em pedra pelo tempo, centenas de pegadas registram a época em que os gigantes disputavam territórios. Em Vierópolis, cidadezinha a apenas 20 quilômetros de Sousa, sítios arqueológicos e trilhas pela Caatinga são boas dicas para quem busca um pouco mais de aventura. Outras opções interessantes na região são as águas termais de Brejo Das Freiras, as rochas que compõe a Serra de Teixeira – incluindo aí o ponto culminante do Estado – e o belo artesanato local, a exemplo das famosas redes de São Bento. Destaques para a Fazenda Acauã,


 


quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A Igreja popular (do golpe de 1964 até a redemocratização)

De início, parcela significativa da Igreja mostrou-se simpática ao movimento militar de 1964. Para a maioria do clero, era preciso conter o avanço comunista. Por isso, o então cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Agnello Rossi, estava na primeira fila da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em março de 1964.

No entanto, não demoraram a surgir vários conflitos entre a Igreja e o Estado. Desde a vitória da revolução cubana, em 1959, muitos militantes católicos passaram a ver no socialismo uma opção viável para a luta contra a miséria do povo brasileiro. Quando a polícia começou a prender os militantes da Ação Católica e os colaboradores do MEB (Movimento de Educação de Base), por suas eventuais simpatias com o socialismo, a Igreja mobilizou-se em sua defesa.

Os conflitos cresceram em intensidade a partir de 1968: numerosos padres foram presos, torturados e expulsos do Brasil; o bispo de Nova Iguaçu, Dom Adriano Hypólito, foi sequestrado e maltratado; houve órgãos da Igreja censurados e até fechados. A Igreja do Brasil teve também seus mártires: o padre Antônio Henrique Pereira Neto, assessor de Dom Hélder Câmara, foi sequestrado, torturado e morto no Recife; frei Tito de Alencar Lima suicidou-se na França em consequência das torturas sofridas no Brasil; o padre João Bosco Penido Burnier foi assassinado por um soldado da polícia militar, quando acompanhava o bispo Dom Pedro Casaldáliga à cadeia de Ribeirão Bonito, Mato Grosso, para defender duas mulheres que estavam sendo torturadas. São apenas alguns exemplos, entre tantos outros, do testemunho cristão de religiosos e leigos, operários e camponeses.

Acompanhando o relato do padre josé O. Beozzo sobre a atuação da Igreja em várias regiões brasileiras:

“No Nordeste, a crítica da Igreja dirigiu-se às condições de miséria da população, agravada pela industrialização forçada e o descaso do campo, à concentração da renda e aos desequilíbrios regionais. No Centro-Oeste, a crítica voltou-se mais à ocupação das terras por multinacionais e pelos empresários do Sul, com expulsão de posseiros, exploração de peões e massacre de indígenas.

O CIMI (Conselho Indigenista Missionário, 1973) veio dar grande alento a essa luta pelo índio, pela sua cultura e sobretudo por sua terra, como pressuposto de sua sobrevivência. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) estendeu a luta do CIMI pelas terras indígenas à luta por um pedaço de chão por parte de todos os deserdados da terra: camponeses e posseiros, boias-frias, peões e favelados das cidades.

Em São Paulo, a ação da Igreja destacou-se pelo dinamismo de sua Comissão de Justiça e Paz, sua posição firme contra as torturas em favor dos direitos humanos, a mobilização da periferia e sua ação em comum com intelectuais, imprensa, universidade e sindicatos para uma mudança do a regime vigente e a conquista da participação popular dentro de um Estado de pleno direito. A partir de 1977, a questão dos trabalhadores e seus direitos, nos conflitos e greves no ABC, encontraram uma Igreja aberta e solidária com a classe operária e com sua luta”. (Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns)

A essa reflexão sobre a prática do povo oprimido, iluminada pela doutrina da Igreja e pela Sagrada Escritura, chamou-se “Teologia da Libertação”. No Brasil, essa corrente teológica foi defendida e aplicada, entre outros, por frei Leonardo Boff, cujo livro Igreja: carisma e poder, provocou forte discussão.

No segundo semestre de 1984 o próprio Vaticano entrou na discussão, tornando públicas suas discordâncias em relação à Teologia da Libertação, através de um documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da fé e chamando frei Boff a Roma para discutir o assunto.

As comunidades eclesiais de base

O movimento mais importante dessa Igreja voltada para os pobres é o das comunidades eclesiais de base (CEBs). Elas “são pequenos grupos organizados em torno da paróquia (urbana) ou da capela (rural), por iniciativa de leigos, padres ou bispos. As primeiras surgiram por volta de 1960, em Nísia Floresta, arquidiocese de Natal, segundo alguns pesquisadores, ou em Volta Redonda, segundo outros. De natureza religiosa e caráter pastoral, as CEBs podem ter dez, vinte ou cinquenta membros. Nas paróquias de periferias, as comunidades podiam estar distribuídas em pequenos grupos ou formar um único grupão a que se dá o nome de comunidade eclesial de base. É o caso da zona rural, onde cem ou duzentas pessoas se reúnem numa capela aos domingos para celebrar o culto.

São comunidades, porque reúnem pessoas que têm a mesma fé, pertence à mesma Igreja e moravam na mesma região. Motivadas pela fé, essas pessoas vivem uma comum-união em torno de seus problemas de sobrevivência, de moradia, de lutas por melhores condições de vida e de anseios e esperanças libertadoras. São eclesiais, porque congregadas na Igreja, como núcleos básicos de comunidade de fé. São de base, porque integradas por pessoas que trabalham com as próprias mãos (classes populares): donas-de-casa, operários, subempregados, aposentados, jovens e empregados dos setores de serviço, na periferia urbana; na zona rural, assalariados agrícolas, posseiros, pequenos proprietários, arrendatários, peões e seus familiares.”  (Frei Beto)

As CEBs, porém, não acabaram. Elas continuam se deixando conduzir pelo espírito do Concílio, agora renovado por Francisco. É claro que há muitos bispos e padres que ainda preferem aliar-se aos interesses dos poderosos, sem dar o devido valor aos grandes problemas que afligem o povo. Ainda há na Igreja estruturas e preconceitos que devem ser superados. No entanto, deve-se reconhecer que a Igreja avançou em direção ao povo, para caminhar junto com ele e partilhar a sua sorte.

Fonte: Nelson Piletti – História do Brasil; Ática

terça-feira, 22 de agosto de 2023

A presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961)

 

Em 3 de outubro de 1955, no final do mandato de Vargas, que era cumprido por seus substitutos, realizaram-se novas eleições presidenciais. Os vencedores – com cerca de 35% dos votos – foram os candidatos da Coligação PTB-PSD, partidos de origem getulista: Juscelino Kubitschek de Oliveira (PSD) elegeu-se presidente, e João Goulart (PTB), vice-presidente.

Golpismo da UDN

Mais uma vez, a UDN – grande adversária do getulismo – era derrotada. Inconformados, os udenistas lideraram uma tentativa de impedir a posse de Juscelino e Goulart. Alegavam que os candidatos vitoriosos recebiam apoio do comunismo internacional e não tinham obtido a maioria absoluta dos votos (ou seja, 50% e mais um voto).

O então presidente da República, Café Filho, mostrou-se favorável a essa tese e uniu-se ao golpistas, bem como a parte das Forças Armadas. No entanto, militares ligados ao ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott – de perfil legalista –, desmontaram a conspiração, forçaram o afastamento de Café Filho e garantiram a posse de Juscelino, em 31 de janeiro de 1956.

A UDN, porém, não desistiu. Logo após a posse, preparou novo golpe com a ajuda de alguns oficiais da Aeronáutica. A revolta começou em Jacareacanga; dias depois, os rebeldes dominavam Santarém, no Pará, em fevereiro de 1956. Mas o movimento foi contido pelo governo, e, numa prova de habilidade política, Juscelino anistiou os envolvidos em ambos os movimentos conspiratórios.



Desenvolvimentismo da Era JK

Antes de chegar à presidência, Juscelino Kubitschek, também conhecido como JK, havia sido prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais. Com ele, iniciaram-se as políticas desenvolvimentistas no Brasil.

O governo de Juscelino foi marcado por intenso e acelerado crescimento econômico: “Cinquenta anos de progresso em cinco de governo” era o seu lema. Sua política econômica, delineada no Plano de Metas, privilegiou, entretanto, particularmente o setor industrial. O sociólogo Gabriel Cohn afirma: “Encarado do ponto de vista do que se propunha, esse programa (Plano de Metas) foi bem-sucedido, ao menos no se refere à produção industrial, que se expandiu amplamente (cerca de 80% entre 1955 e 1961 e, o que é mais importante, com predominância de bens de capital (siderurgia, indústria mecânica, de material de transporte etc.). no tocante ao setor de produção alimentar, entretanto, o mesmo sociólogo diz que “(...) os resultados foram menos brilhantes, em razão da própria inércia relativa do setor agrário”.

Durante o governo de Juscelino houve um considerável avanço industrial, principalmente nos setores da indústria de base e na produção de bens de consumo duráveis e não duráveis. O governo procurou atrair o capital estrangeiro para investir no país, obtendo empréstimos e incentivando empresas internacionais a se instalarem no Brasil.

JK também pretendia oferecer vantagens para as multinacionais que desejassem se instalar no Brasil, como reserva de mercado para seus produtos, facilidades na remessa de lucros para o exterior e baixa tributação na importação de maquinário industrial.

O principal símbolo da expansão da indústria de bens duráveis no período foi o automóvel. Atraídas pelo novo mercado, empresas europeias e estadunidenses do setor automobilístico instalaram montadoras e fábricas de autopeças no país. Além delas, multinacionais estrangeiras de alimentos e empresas farmacêuticas, petroquímicas e de eletroeletrônicos ampliaram sua atuação no Brasil.

Plano de Metas

O Governo Juscelino Kubistchek foi marcado por transformações de grande alcance, sobretudo na área econômica, estabeleceu-se um plano de metas, 31 metas, sendo energia, transporte, alimentação, educação e construção da nova capital, esta considerada a mais importante.

Para realizar as mudanças necessárias o governo idealizou um programa minucioso que priorizava setores: 

- Energia:  construção de usinas hidrelétricas (Furnas e Três Marias);

- Indústria de base: indústria automobilística destaca-se entre outras; novas fábricas produziriam mais de 300 mil veículos por ano, com 905 das peças fabricadas no Brasil;                      

 - Transporte: abertura de rodovias (Belém x Brasília, Rio Branco x Brasília, Belo Horizonte x Brasília).  Cerca de 20 mil quilômetros de rodovias foram construídos.

A realização do Plano de Metas resultou na expansão e consolidação do:” capitalismo associado ou dependente” brasileiro, pois o processo de industrialização ocorreu em torno das empresas estrangeiras (as multinacionais). Estas empresas controlaram os setores chaves da economia nacional – maquinaria pesada, alumínio, setor automobilístico, construção naval – ocasionando a desnacionalização econômica.

A política econômica adotada por Juscelino baseava-se na realização de investimentos diretos, quase sempre precedidos de intensa emissão monetária, e na abertura ao capital estrangeiro. Tal estratégica econômica resultou na expansão e consolidação de um capitalismo extremamente dependente. A intensa emissão monetária agravou o processo inflacionário, enquanto a expansão do capital estrangeiro no país, atraído por favores ou privilégios concedidos pela Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), ocasionou uma desnacionalização da econômica. as empresas estrangeiras apossaram-se do controle das indústrias-chaves de nossa economia e, em pouco tempo, passaram a remeter ao exterior lucros e royalties superiores aos montantes de investimentos introduzidos originalmente. 

“Modernização” da administração e industrial 

Sob a alegação da necessidade de se modernizar a administração pública, Juscelino criou uma série de órgãos públicos e ministérios, proporcionando a um enxame de funcionários ingressarem nos diversos setores do governo.

Até essa época, a parte desenvolvida do Brasil era apenas a região próxima do litoral. JK propôs a interiorização do desenvolvimento, isto é, a participação do interior do país no progresso. Assim, criou um programa de construção de rodovias, que além de interligar diferentes regiões do país serviram para o uso da crescente frota de automóveis e caminhões. Também iniciou a construção de uma nova capital, Brasília.    

Construção de Brasília 

O maior símbolo do otimismo dos anos que ficaram conhecidos como “anos dourados” foi, sem dúvida, a construção de Brasília − a nova capital do Brasil, a partir de 1960.

Durante a campanha eleitoral de 1955, JK assumiu o compromisso de transferir a capital para a região central do Brasil. A ideia vinha sendo defendida por políticos desde a metade do século XIX, mas até então nenhum governante tinha levado o projeto adiante.

Obras de construção de Brasília (DF), 1959.

Projetada pelo urbanista Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer, Brasília foi construída por centenas de migrantes, muitos deles mineiros e nordestinos, que ficaram conhecidos como candangos. Durante as obras, os candangos viviam em péssimas condições: moravam em acampamentos com habitações improvisadas, sem um sistema de saneamento básico nem alimentação adequados, o que provocava graves problemas de higiene e saúde. Além disso, as regras de segurança do trabalho e de horas extras previstas na CLT foram ignoradas nas obras de Brasília.

O governo JK acelerou a construção da capital, e a cidade foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Ícone da arquitetura moderna, Brasília, contudo, apresentava um grande contraste social. Os milhares de candangos que decidiram permanecer na capital foram afastados do centro e obrigados a se deslocar para regiões periféricas, onde se formaram as chamadas cidades-satélites.

O Centro-Oeste do país, tal como ocorreria com com a região Sudeste, passou a ser visto por milhares de brasileiros excluídos economicamente como uma terra prometida.

Sem dúvida, a menina dos olhos de Juscelino foi a construção de Brasília com dinheiro que o país nunca teve. Os volumosos empréstimos para gastos desta natureza, aliados ao déficit público com a “modernização” administrativa, iniciaram um processo inflacionário descontrolado.

A industrialização gerou, sobretudo, bens de capital e bens de consumo duráveis. Para isso criou:  

- GEICON: grupo executivo da indústria de construção naval, modernizando a Marinha.

- GEIA: grupo executivo da indústria automobilística, atraindo vários grupos internacionais.

- GEIMP: grupo executivo da indústria de máquinas pesadas.

O processo de industrialização no Brasil passava a desenvolver-se em torno das empresas estrangeiras, vinculando o capital nacional aos seus interesses e flutuações.

JK visita uma fábrica de caminhões na cidade de São Paulo (SP), 1956.

Após a Segunda Guerra Mundial, as potências capitalistas hegemônicas, particularmente os Estados Unidos, passaram a instalar empresas industriais denominadas multinacionais em países menos desenvolvidos. Aproveitando-se da existência de mão-de-obra e de matéria-prima local, criaram nesses países uma elite consumidora. Os lucros obtidos eram enviados para o exterior, muitas vezes burlando as próprias leis locais. A política econômica traçada por Juscelino, contrapondo-se à do segundo governo de Getúlio Vargas, enquadrava o Brasil a essas novas exigências do capitalismo internacional. A gestão de Juscelino foi marcada também pelo cumprimento de ambicioso programa de obras públicas, onde se destacou a construção de Brasília, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e pelo urbanista Lúcio Costa.

Em 1959 foi criada a Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), órgão que objetivava auxiliar essa região e integrá-la ao mercado nacional. Criou-se também o Grupo de Estudos da Indústria Automobilística (GEIA), visando a implementar a indústria automobilística, que viria a ser o “carro-chefe” de nossa industrialização.

Outro órgão surgido na época foi o Grupo Executivo da Indústria de Construção Naval (GEICON), visando o desenvolvimento dessa indústria de base.

No entanto, o progresso econômico dessa época apresentou alguns problemas: a concentração de riquezas, cada vez maior da Região do Sudeste; o aumento da dívida externa; e a crescente desvalorização da moeda brasileira. Durante o governo Juscelinista, recrudesceram-se as disparidades regionais, destacando-se o Nordeste como a região mais pobre do país. A preocupação com essas áreas agravou-se após nova seca. 

Na tentativa de atenuar os contrastes internos por meio da modernização da agricultura e do estímulo à implantação de projetos de irrigação em áreas assoladas pela seca, o governo criou, em 1959, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Subordinada diretamente à Presidência da República, a Sudene atuava em parceria com outro órgão federal, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). A ação da Sudene, no entanto, não alterou significativamente o panorama das áreas rurais do sertão nordestino, acarretando ainda o aumento do aparato burocrático governamental.

Urbanização e desigualdades regionais

As políticas de desenvolvimento nacional provocaram efeitos variados. Entre eles, a concentração das indústrias em algumas regiões do país, o aumento da migração interna e o crescimento das cidades, com o êxodo rural.

O intenso fluxo migratório do campo para as cidades era um sinal das desigualdades entre as regiões do país, pois os investimentos do Estado e dos empresários foram concentrados no Sudeste. Entre 1950 e 1960, por exemplo, cerca de 1 milhão de pessoas que viviam na região Nordeste migraram para a cidade de São Paulo, em busca de emprego e melhores condições de vida. Esses migrantes trabalharam em diversos setores da indústria e de serviços e foram fundamentais para o desenvolvimento econômico e cultural de São Paulo.

No entanto, eles enfrentaram preconceitos e foram explorados em suas atividades profissionais. Eram chamados “baianos” ou “paraíbas”, independentemente do estado onde tivessem nascido. Os migrantes eram responsabilizados por vários problemas urbanos, como a expansão de favelas e cortiços e o aumento da criminalidade. Entretanto, sabe-se que não eram os migrantes que causavam esses problemas. Ao contrário, eles sofriam as consequências da falta de investimentos públicos em habitação, educação, saúde e segurança pública.

Custos sociais e econômicos do governo JK

O governo JK passou para a História como um momento de estabilidade política e de grande crescimento econômico. A política de desenvolvimento de Juscelino trouxe, porém, aumento da inflação, que levou o Brasil para uma crise econômica que seria “empurrada” para os governos futuros.   

- Um desenvolvimento populista: O plano de JK, que saiu da presidência com um altíssimo índice de popularidade, podia ser politicamente muito positivo, porém não se pode dizer que foi tão bom para a economia. Esta teve um pique de desenvolvimento que levou a uma série de problemas que virariam obstáculos ao crescimento econômico futuro.

- Corrupção: As várias obras do governo, especialmente a construção de Brasília, eram acusadas de terem várias formas de corrupção como: desvio de verbas, licitações fraudadas, utilização de materiais caros etc. Esta foi tão grande que foi o tema da campanha política do vencedor nas eleições seguintes, Jânio Quadros.

- Inflação e baixos salários: O crescimento acelerado do período, sem estabilidade, gerou uma inflação em seguida. O governo seguinte teve que lidar com esta herança. Essa inflação ainda tira poder de compra do trabalhador aumentando a concentração de renda no país.

- êxodo rural: atraídos pelo desenvolvimento industrial, que se concentrava em São Paulo, rio de Janeiro e Minas Gerais, milhões de brasileiros do campo continuaram migrando para as cidades, em busca de emprego na indústria e no setor de serviços. Em 1960, a população urbana brasileira já atingia cerca de 45% da população total do país. A maioria, quando se instalava nas cidades, encontrava a miséria.

- Dívida pública: Os fortes investimentos do Estado e, novamente, a construção da monumental capital consumiram uma soma absurda do dinheiro público. Este foi conseguido com empréstimos estrangeiros e nacionais, que geraram uma forte dívida pública, outro fardo para o governo posterior.

- Dependência: O projeto nacionalista foi claramente abandonado na gestão de Juscelino. A instalação das multinacionais no Brasil levaria à definitiva dependência da economia nacional dos capitais estrangeiros. Além disso, essas empresas remetem anualmente uma soma elevada de lucros para as suas sedes no exterior. 

- Recessão: Tudo isso levou a economia a parar de crescer nos anos seguintes ao governo JK. A primeira metade da década de 60 é de crescimento muito pequeno da economia brasileira, em função dessa forma populista de desenvolvimento.

- aumento da dívida externa: os empréstimos obtidos para realização das obras aumentaram enormemente a dívida externa brasileira.

Levantes contra JK

Revolta de Jacareacanga (1956): oficiais da Aeronáutica insatisfeitos com a permanência do ministro Vasco Alves Seco (nomeado por Lott) no governo JK tomam as bases aéreas de Jacareacanga, Aragarças, Santarém, Itaituba, Cachimbo e Belterra;  

Intervenção das tropas legalistas: prisão do líder Haroldo Veloso seguida da anistia concedida por JK;

Revolta de Aragarças (1959): oficiais da Aeronáutica ligados aos movimentos de 1955 e 1956 se voltam contra o governo de JK, acusado de influência comunista e corrupção, tomando a base de Aragarças para dar início ao bombardeio dos palácios Laranjeiras e do Catete (RJ).

O governo JK ficou gravado na memória dos brasileiros como um período bom. Foi um tempo de liberdade e grande atividade cultural. O salário mínimo atingiu seu maior valor e havia pouco desemprego, devido ao surto desenvolvimentista. A inflação nesta época tornou-se um problema: de cerca de 20% ao ano, aumentou o custo de vida e levou os trabalhadores a organizarem greves exigindo aumento de salário. Aliás, JK a criou propositadamente. Por isso mesmo, rompeu com o FMI. 

O FMI queria que o governo cortasse os gastos públicos. Se fizesse isso, haveria muito menos incentivo para a industrialização. Pois é, e onde arrumaria dinheiro para sustentar o desenvolvimentismo? Parte veio de bancos internacionais, a juros altíssimos. A dívida externa brasileira simplesmente dobrou de tamanho. Outro recurso foi a emissão de papel moeda, ou seja, fabricou mais notas de cruzeiros. Causando mais inflação. Inflação que engolia o salário dos pobres. 

Juscelino Kubistchek realizou um governo marcado pela garantia das liberdades democráticas. Agindo com habilidade, Juscelino procurava evitar os exageros dos radicais. Durante seu governo não houve cidadãos presos por motivos políticos. ". A tranquilidade política alcançada durante quase todo o quinquênio permitiu-lhe uma série de realizações que modificaram o panorama econômico do país.

Politicamente fez um governo democrático apesar de manter o PCB na ilegalidade, e culturalmente incentivou as manifestações artísticas e científicas, dando origem a Bossa Nova (Presidente Bossa Nova), com Tom Jobim e João Gilberto; O Cinema Novo iniciado com Nelson Pereira dos Santos no “Rio 40 graus”, além de Glauber Rocha “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Ruy Guerra “Os Fuzis” e outros; “Atlântida e Vera Cruz” eram duas cias. produtoras e distribuidoras; O teatro de ARENA e o TBC (Teatro Brasileiro de Comédias) formavam as duas grandes cias. teatrais, além do surgimento do CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE com manifestações engajadas.

A Bossa Nova 

Em 1957, conhecendo o novo ritmo criado pelo violonista baiano João Gilberto, o músico Roberto Menescal apresentou-o a Tom Jobim, que ficou maravilhado com o novo tipo de levada e sugeriu a João Gilberto adaptá-la à música “Chega de Saudade”, com letra de Vinícius de Moraes, musicada pelo próprio Tom Jobim. No ano seguinte, em 1958, por intermédio de Tom Jobim, João Gilberto gravava seu primeiro disco “Samba do amor demais”, pela gravadora Odeon, com a música “Chega de saudade” tocada no novo ritmo que passaria a ser chamado de bossa nova. Mais que um novo ritmo, tornou-se um novo estilo musical que conquistou prontamente a adesão da classe média carioca até se tornar uma referência musical brasileira no mundo todo. Identificada inicialmente com o virtuoso violão e a voz baixa de João Gilberto, a bossa nova foi misturando elementos do samba e do jazz, transformando-se em um estilo musical altamente sofisticado, com músicas marcantes como “Garota de Ipanema”, “Águas de Março”, “Desafinado”, “Wave” etc. A bossa nova teve ainda a adesão de outros importantes músicos como Carlos Lyra, Baden Powell, Chico Buarque, Francis Hime e Toquinho, além de intérpretes como Nara Leão, Elis Regina e Maysa, entre outros.

Ao final de 1960, Juscelino chegava ao fim de seu mandato, superando no correr de sua gestão duas tentativas de golpe, o levante de Jacareacanga e o de Aragarças. A eleição sucessória teve como candidatos. Jânio Quadros, apoiado pela UDN, o Marechal Henrique Teixeira Lott, com o apoio de PTB e do PSD, e Ademar de Barros, pelo PSP. A vitória – através de maciça votação – coube a Jânio Quadros, que, apesar de apoiado pela UDN, não escondia sua desconsideração pelos partidos políticos, apoiava para a vice-presidência João Goulart, do PTB, ignorando Milton Campos, candidato da UDN, João Goulart foi novamente eleito vice-presidente.

Você já deve ter observado que a lei eleitoral daquele tempo permitia que os eleitores votassem em candidatos de partidos diferentes para presidente e vice-presidente. Foi o que aconteceu: Jânio Quadros foi eleito presidente com 48% dos votos, apoiado por um conjunto de partidos liderados pela UDN. O vice presidente eleito foi o candidato do PTB, João Goulart, conhecido por Jango e considerado uma espécie de afilhado político do falecido presidente Getúlio Vargas.

A gestão de Café Filho e a crise sucessória

Durante os quinze meses de seu mandato (de agosto de 1954 a novembro de 1955), o presidente Café Filho enfrentou um castigado pela crise econômica. Além da crise política gerada pelo suicídio de Vargas, a inflação estava em alta e os preços do café no mercado internacional continuavam caindo.
Diante da crise econômica que atingia o país, a recessão aumentou e, com isso, as lideranças sindicais apoiadas pelos comunistas se fortaleceram. Os comunistas, mesmo atuando na ilegalidade, organizaram uma gigantesca greve operária em São Paulo, em setembro de 1954.
Diante da possibilidade eleitoral da aliança nacionalista PSD-PTB – partidos fundados por Getúlio Vargas –, militares como o tenente-coronel Golbery do Couto e Silva e o general Humberto de Alencar Castelo Branco, além do deputado udenista Carlos Lacerda, procuraram impedir a realização das eleições. No início de 1955, corriam rumores de que as Forças Armadas preparavam um golpe de Estado para impedir a candidatura Kubitschek.
Em setembro, Lacerda divulgou uma nota em seu jornal, Tribuna da Imprensa, em que acusava João Goulart, ex-ministro do Trabalho de Vargas e atual candidato à vice-presidência pelo PTB, de perigoso incitador de greves.
Apesar dessa campanha difamatória, Juscelino e Goulart conseguiram mais votos do que seus adversários: Juarez Távora (candidato à presidência pela UDN), Ademar de Barros (pelo PSP) e o integralista Plínio Salgado.
Após o resultado das urnas, entretanto, ainda persistia a ameaça de um golpe, com o apoio militar de setores da Marinha e Aeronáutica, descontentes com a vitória de Juscelino. Somente a intervenção do general Henrique Teixeira Lott, então ministro da Guerra, tornou possível que o processo sucessório continuasse de acordo com a Constituição. Em novembro de 1955, ele e outros treze generais impuseram estado de sítio na capital federal, forçando Carlos Lacerda a exilar-se do país e garantindo a posse do presidente eleito, em Janeiro de 1956.

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