domingo, 24 de setembro de 2023

Introdução ao Estudo da História

A História é uma disciplina que estuda o passado das sociedades humanas, buscando resgatar e compreender suas realizações econômicas, sociais, políticas e culturais. O estudo do passado humano permite-nos conhecer as motivações e os efeitos das transformações pelas quais passou a humanidade e fornece elementos que ajudam a explicar as sociedades atuais.

A História não se limita somente ao estudo do passado. Através do estudo da História, podemos desenvolver teorias sobre atualidade, podemos contextualizar o passado com o presente fazendo ligações entre os acontecimentos.

A palavra história nasceu na Grécia Antiga e significava “investigação”. Foi o grego Heródoto, considerado o “pai da História” que, pela primeira vez, empregou esta palavra com o sentido de investigação do passado.

A matéria-prima da História são os fatos históricos, acontecimentos que possuem repercussão social, para os quais se busca uma explicação de suas causas e efeitos. A morte do presidente do Brasil, Getúlio Vargas, em 1954, é um exemplo de fato histórico. Já o fato social é um acontecimento corriqueiro na vida de uma sociedade, que possui pequeno impacto imediato, como a morte de pessoas ou a crise financeira pessoal de alguém da comunidade.

                Sentidos da palavra história  

Exploremos um pouco os sentidos da palavra história, uma vez que ela é polissêmica, isto é, possui diversos significados. Vejamos alguns: 

 Ficção – os livros de aventura, as novelas de televisão ou os filmes de cinema contam histórias muitas vezes inventadas para despertar nossa atenção sobre determinado assunto, fazer-nos refletir ou simplesmente para nosso entretenimento. Essas histórias criadas pela imaginação humana, com seus lugares e personagens, são chamadas também de ficção. Muitas vezes, as obras de ficção são inspiradas no conhecimento de épocas passadas, como acontece em filmes e romances históricos ou em novelas de época.

 Processo vivido – as lutas e os sonhos, as alegrias e as tristezas de uma pessoa ou de um grupo social fazem parte de sua história, de suas vivências. Assim, o conjunto dos acontecimentos e das experiências que ocorreram no dia a dia, tanto de uma pessoa quanto de um grupo, pode ser chamado de história vivida. Essa história integra a memória (recordações) das pessoas que a viveram.

 Área de conhecimento – a produção de um conhecimento que procura entender como os seres humanos viveram e se organizaram desde o passado mais remoto até os dias atuais constitui uma área de investigação ou disciplina denominada História. Nesse sentido, História constitui um saber preocupado em desvendar e compreender as condições históricas (historicidade) das vivências humanas, ou seja, em tratar essas vivências como expressão da época em que elas ocorreram.

Esses três sentidos da palavra história estão relacionados. As histórias vividas pelas pessoas e a ficção não estão excluídas da História como área de conhecimento. As pessoas interessadas em pesquisar ou escrever sobre História ou, ainda, em ensiná-la escolhem assuntos que podem incluir tanto a ficção quanto as histórias de uma vida.

História e historiadores 

As vivências humanas expressam o contexto histórico de cada época. O estudo do passado e a compreensão do presente não se relacionam de forma determinista. As soluções de ontem não servem aos problemas de hoje. Sem um processo que considere mudanças e permanências históricas, as experiências do passado não se aplicam ao presente. Como entender, então, as relações entre passado e presente?

A compreensão das relações entre passado e presente é uma questão intrigante. É também uma das preocupações centrais da História, disciplina que se dedica ao estudo das vivências humanas em épocas e lugares distintos. Em nossa opinião, a escrita da história não pode ser isolada de sua época. O historiador vive o seu tempo, por isso, a história que ele escreve está ligada à história que ele vive. As conclusões dos historiadores nunca são definitivas. O historiador trabalha para seu tempo, e não para a eternidade. Assim, a historiografia não deve ter a pretensão de fixar verdades absolutas, prontas e acabadas, interpretações eternas, pois a história, como forma de conhecimento, é uma atividade contínua de pesquisa.

O historiador investiga e interpreta as ações humanas que, ao longo do tempo, provocaram mudanças e continuidades em vários aspectos da vida pública ou privada: na economia, nas artes, na política, no pensamento, nas formas de ver e sentir o mundo, no cotidiano, na percepção das diferenças. O trabalho do historiador consiste em perceber e compreender esse processo histórico. 

O estudo da História tem várias utilidades.  As principais são: 

 Satisfazer a curiosidade natural de saber como era o passado e como a humanidade se transformou ao longo do tempo.

 Ajudar a compreender o mundo em que vivemos e ao mesmo tempo dar consciências aos homens do seu poder de transformar a realidade.

  Outra utilidade da História é ajudar-nos a viver melhor, aprendendo com os erros e acertos de nossos antepassados. 

Para se estudar História, devemos desenvolver o senso crítico, a capacidade de interpretação e de observação. Não podemos estudar História transmitindo nossos valores atuais para as sociedades do passado. Como a História tem como base a cultura, não podemos transmitir os nossos valores culturais aos povos que estivermos estudando. Cada povo em cada tempo e em cada espaço possuía e possui uma maneira própria de entender o mundo e de se perceber dentro deste.  

Fontes históricas

Na recuperação do fato, a história recorre às chamadas fontes históricas, constituídas de vestígios de toda espécie. As fontes podem ser de várias naturezas: escritas, orais, iconográficas, arqueológicas.

As fontes escritas são registros em forma de inscrições, cartas, letra de canções, livros, jornais, revistas e documentos públicos, entre outros. As fontes não-escritas são registro da atividade humana que utilizam linguagens diferentes da escrita, tais como pinturas, esculturas, vestimentas, armas, músicas, discos fonográficos, filmes, fotografias, utensílios.

Outro exemplo de fonte histórica não-escrita é o depoimento de pessoas sobre aspectos da vida social e individual. Esses depoimentos, que podem ser colhidos a partir de entrevistas gravadas pelo próprio historiador, servem para registrar a memória (pessoal e coletiva) e ampliar a compreensão de um passado recente ou da história que se está construindo no presente. É o que se chama de história oral.

O que é cultura

É toda e qualquer produção humana, ou seja, tudo que é produzido pelos seres humanos é considerado uma produção cultural. Como o mundo é formado por vários povos diferentes, as produções culturais são diferentes de um povo para outro, o que explica as multiplicidades religiosas, linguísticas, políticas, de organizações sociais e valores, que são considerados cultura imaterial. No caso da cultura material associam-se os objetos, vestimentas, moradias, obras artísticas, utensílios domésticos, etc.  A escrita é considerada a materialização do vocabulário de um povo. Um povo que não possui um vocabulário escrito não pode ser considerado atrasado em relação a outro povo que possua um vocabulário escrito. Na verdade, isso só representa uma variação cultural, algo comum entre os povos.  

Periodização histórica

Para organizar a compreensão dos históricos, os pesquisadores elaboram periodizações visando ordenar os acontecimentos e temas analisados. Concebidas pelos historiadores, as periodizações históricas estão de acordo com o ponto de vista de quem as elaborou. Vejamos uma periodização muito utilizada e tradicional, que divide a história em grandes períodos:

  Pré-história – do surgimento do ser humano até o aparecimento da escrita (4000 a. C.);

 Idade Antiga ou Antiguidade – do aparecimento da escrita até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d. C.);

 Idade Média – da queda do Império Romano do Ocidente até a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453);

 Idade Moderna – da tomada de Constantinopla até a Revolução Francesa (tomada da Bastilha, 1789);

 Idade Contemporânea – da Revolução Francesa até os dias atuais. 

Essa divisão feita por historiadores europeus que, no século XIX, davam maior importância às fontes escritas e aos fatos políticos. Por isso, todo o período anterior à invenção da escrita foi chamado de Pré-história. E, por serem europeus, esses historiadores estabeleceram como marcos divisórios das “idades” da história acontecimentos ocorridos na Europa.

A divisão tradicional da história (Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea) é muito criticada por vários motivos, entre eles o fato de ter sido elaborada com base no estudo de apenas algumas regiões da Europa, do Oriente Médio e do norte da África. Portanto, não pode ser generalizadas a todas as sociedades do mundo. Além disso, ela adota certos fatos como marcos dos períodos, dando a errônea impressão de que as mudanças históricas – que em geral, fazem parte de um processo longo e gradativo – ocorrem repentinamente.

Pré-história 

A pré-história é o longo período do passado que abrange desde o surgimento do “homem primitivo” (hominídeo) até a invenção da escrita. O termo tem sido criticado, pois o ser humano, desde seu aparecimento no planeta, é um ser histórico, mesmo que não tenha utilizado a escrita em algum período. Como o uso do termo Pré-história é consagrado mundialmente, podemos empregá-lo, mas cientes de que esse período também faz parte da história.

Nenhum comentário:

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...