domingo, 24 de setembro de 2023

O Estado Absolutista

No feudalismo, o poder político era descentralizado, pois cada feudo estava submetido à autoridade do senhor feudal. A partir do século XIII, com o desenvolvimento comercial e urbano e o fortalecimento da burguesia mercantil, teve início na Europa a formação dos Estados nacionais, ou seja, a criação de um poder político centralizado estabelecido sobre um país.
Nos séculos seguintes, os reis trataram de consolidar seu poder e criar mecanismos que possibilitassem exercê-lo sobre vastas regiões. Para isso, criaram impostos e moedas de circulação nacional e constituíram uma burocracia de funcionários administrativos encarregados de fazer valer as decisões do soberano em todo o reino, além de formar exércitos permanentes e profissionais, subordinados à autoridade da Coroa.
O crescente fortalecimento do poder real atingiu o ponto culminante no século XVII, com o regime absolutista. O absolutismo significou a grande concentração do poder político nas mãos do reis, numa época de expansão das atividades comerciais e de enriquecimento da burguesia. Por essa razão, o Estado absolutista deve ser entendido como parte das mudanças que marcaram a Europa na transição do feudalismo para o capitalismo.
O surgimento de monarcas poderosos está diretamente relacionado à expansão comercial européia dos séculos XV e XVI, que resultou na formação de grandes impérios coloniais. As riquezas extraídas das colônias permitiram o equipamento dos exércitos e das armadas reais, usados para engrandecer a figura dos reis e fortalecer sua autoridade.

1. Os pensadores absolutistas

Para legitimar sua forma de governar, os monarcas europeus apoiaram-se nas formulações teóricas de alguns pensadores da Época Moderna que defendiam o monopólio do exercício do poder dos soberanos. Dentre os principais teóricos absolutistas, podemos destacar:

· Nicolau Maquiavel (1649-1527), considerado o pai da ciência política, notabilizou-se com a obra O Príncipe, na qual afirma que as “razões de Estado”, consideradas como interesses do governante para se alcançar o bem geral, estão acima do indivíduo; o soberano tudo pode fazer para valer o seu poder, pois “os fins justificam os meios”. Para Maquiavel, ao príncipe (governante) é lícito usar até mesmo de hipocrisia, astúcia, má-fé, falta de palavra, crueldade, crime e violência quando está em jogo sua soberania;

· Thomas Hobbes (1588-1679), o mais conhecido defensor do absolutismo, autor de Leviatã. O título da obra refere-se ao poderoso monstro bíblico na qual deveriam os monarcas espelhar-se para o exercício do poder. Em sua opinião, onde não vigorasse o absolutismo do Estado imperaria a insegurança e o caos social, pois sendo o homem naturalmente perverso, só um Estado forte poderia coibir seus abusos;
· Jaques Bossuet (1627-1704) autor de Política Segundo a Sagrada Escritura, na qual defendia a origem divina do poder real. Afirmava, nessa obra, que sendo Deus a delegar o poder político aos monarcas, este poder tornava-se ilimitado e incontestável. Era a Teoria do Direito Divino. O caso mais exemplar de governante que fez uso das idéias de Bossuet foi o soberano francês Luís XIV, chamado de Rei Sol e adorado como uma divindade nacional.
· Hugo Grotius: (1583-1645): É autor de Do Direito da Paz e da Guerra. Não admitia poder existir ordem sem que fosse dado plenos poderes ao governante.
· Jean Bodin: (1530-1569): Em A República, dizia que o poder do Estado é ilimitado, estando sujeito apenas às leis divinas. "A autoridade do príncipe vem de Deus e a obrigação suprema do povo é a obediência passiva”
· Le Bret: Autor de Tratado da Soberania dos Reis. Dizia que as ordens do rei tinham que ser acatadas, mesmo quando injustas, pois ele (o rei) recebeu seus poderes diretamente de Deus.

2. O Absolutismo na França

A dinastia capetíngia foi a responsável pelo início da centralização política na França, a partir do século X, da qual resultou a formação do Estado nacional francês. Com a Guerra do Cem Anos (1337-1453), o governo passou à dinastia Valois, a qual acelerou o fortalecimento real, contando com o enfraquecimento da nobreza francesa. Entretanto, as guerras político-religiosas ocorridas no país durante o século XVI, principalmente nos reinados de Carlos IX e Henrique III, dificultaram a completa consolidação do poder absoluto francês.
Apesar do massacre da Noite de São Bartolomeu (24/8/1572), quando milhares de huguenotes foram assassinados, a vitória na luta sucessória coube aos Bourbons, que subiram ao trono da França, em 1589, com o governante Henrique IV.

A dinastia dos Bourbons

Henrique IV (1589-1610) buscou promover a conciliação entre as facções religiosas que se achavam em conflito. Em razão disso, já na sua coroação, a fim de conquistar os católicos, renegou a doutrina protestante. Mais tarde, porém, deu um passo à frente quanto aos direitos religiosos de seus cidadãos, promulgando o Edito de Nantes (1598), no qual concedia liberdade de culto aos protestantes franceses.
Henrique IV foi assassinado, em 1610, e, em seu lugar, Luís XIII tornou-se o rei da França, tendo como primeiro-ministro o cardeal Richelieu. Este implementou uma política que objetivava concretizar a autoridade suprema do rei, a prosperidade interna da França e a sua elevação à categoria de primeira potência mundial.
Esta política, todavia, retirava autoridade e direitos locais e elevava a tributação, o que afetava necessariamente os privilégios da alta nobreza e as regalias dos burgueses protestantes. No plano externo, se ergueriam contra a França outras forças, especialmente a poderosa dinastia Habsburgo, governante de várias nações vizinhas à França.
A reação dos protestantes e dos nobres à política de Richelieu foi derrotada pelas tropas reais, mais o perigo externo foi mais duradouro.
Desde o início do século XVI, os Habsburgos vinham ampliando gradualmente seus poderes; com o governo de Carlos V (1519-1556), eleito imperador do Sacro Império Romano Germânico, alcançaram o seu ponto mais alto.
Na época de Luís XIII e Richelieu, interessava à França, portanto interromper a crescente centralização dos governantes dessa dinastia. Nesse sentido, Richelieu habilmente soube minar o poderio Habsburgo, apoiando os movimentos contestatórios no interior de seus domínios. A revolta na Holanda, a Insurreição na Catalunha, a Restauração portuguesa (1640) e a intervenção francesa na Guerra dos Trinta Anos (1618), apoiando os protestantes contra os católicos Habsburgos, fizeram parte desta política e opuseram Habsburgos e Bourbons pela hegemonia europeia.
Encerrada a Guerra dos Trinta Anos com a derrota dos Habsburgos e assinada a Paz de Westfália (1648), Richelieu havia estendido seu domínio sobre ricos territórios tomados ao Sacro Império, firmando a posição francesa de potência continental europeia.
Sob Luís XIV (1643-1715), a França conheceu a plenitude do absolutismo. Quando morreu Luís III, seu herdeiro tinha apenas 5 anos de idade, o que levou o poder a ser exercido por seu ministro, o cardeal Mazarino. Durante a gestão de Mazarino foram sufocados vários levantes, comumente chamados de frondas, liderados por nobres descontentes com a linha política de centralização administrativa. A vitória do cardeal pôs fim às últimas manifestações significativas que entravavam o estabelecimento do pleno absolutismo na França. A partir de então, a atitude dos nobres foi de submissão à realeza, dispostas a servi-la e a viver dos favores que ela lhes concedesse.
A morte do ministro Mazarino, em 1661, levou Luís XIV a assumir efetivamente o poder. Ele dedicou-se por completo à função de governante, dirigindo pessoalmente toda a política interna e externa da França. Tornou-se o chamado Rei sol e simbolizou o apogeu do absolutismo em toda Europa. A frase “O Estado sou eu” sintetiza o espírito absolutista de seu reinado.
O braço direito de Luís XIV, no campo econômico, era o ministro das Finanças Jean-Baptiste Colbert, que impulsionou um processo de desenvolvimento integrado nas concepções mercantilistas, com uma feição mais industrialista.
Seguindo as ideias de Bossuet, Luís XIV apoiava-se na concepção absolutista de que a França deveria ter “um rei, uma lei e uma fé”. Foi, por isso, limitando aos poucos as liberdades concedidas aos protestantes, até finalmente revogar o Edito de Nantes, em 1685.
Restabeleceram-se, dessa forma, os conflitos entre a monarquia e os huguenotes, em geral representantes da burguesia. Muitos deixaram o país, o que abalou a economia francesa, trazendo como conseqüência uma crise que desembocou em críticas ao regime absolutista.
No plano externo, o rei Luís XIV envolveu a nação em diversas guerras com o objetivo de ampliar sua influência e as fronteiras do seu território. Esses conflitos tiveram conseqüências desastrosas para as finanças da França, o que intensificou ainda mais o descontentamento e a oposição ao regime.
Durante o reinado de Luís XIV construiu-se o Palácio de Versalhes, centro da vida cortesã francesa, que chegou a alojar cerca de 6 mil pessoas ao mesmo tempo.

3. O absolutismo na Inglaterra

O processo de centralização política na Inglaterra surge como desdobramento da Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e, principalmente, da Guerra das Duas Rosas (1455-1485), na qual duas famílias da nobreza – os York e os Lancaster – e seus respectivos aliados lutaram entre si pelo trono inglês.

A imposição da Magna Carta, em 1215, limitara muito o poder real, propiciando à nobreza, através do Parlamento, o controle político na Inglaterra. Todavia, a Guerra das Duas Rosas levou à cisão e ao esgotamento da nobreza inglesa, possibilitando a efetivação do regime absolutista. A guerra devastou o reino, enfraqueceu a nobreza e despertou nos habitantes o anseio por um governo forte, que acabasse com as agitações e a insegurança.
Além de devastarem o país, essas guerras enfraqueceram a nobreza e propiciaram a aliança da burguesia com Henrique Tudor, marido de Elizabeth de York, que no final da Guerra das Duas Rosas subiu ao trono inglês com o nome de Henrique VII.
O final da Guerra e a aceleração centralizadora deu-se com a ascensão ao trono, em 1485, de Henrique VII, da dinastia dos Tudors.

A dinastia Tudor e o absolutismo

A dinastia Tudor durou cerca de 100 anos: iniciou-se no final do século XV e terminou no início do século XVII. Além de Henrique VII, governaram principalmente Henrique VIII e Elizabeth I. Nesse período houve grande desenvolvimento econômico. Mesmo com um Parlamento atuante, os reis dessa dinastia conseguiram impor suas decisões a todas as camadas sociais e grupos religiosos. Com eles, a autoridade da Coroa ganhou força e a Inglaterra tornou-se uma potência comercial e marítima.
Henrique VII (1485-1509) retribuiu o apoio que recebera da burguesia incentivando o comércio e as manufaturas e convidando alguns membros dessa classe para ocuparem postos-chaves na administração pública.
Embora concentrasse grande soma de poder nas mãos, os reis da dinastia Tudor continuaram a fazer uma ou outra consulta ao Parlamento para disfarçar o modo autoritário como agiam. O Parlamento inglês era inicialmente uma assembléia formada pelos grandes senhores leigos e eclesiásticos. Com o tempo, a burguesia e a pequena nobreza passaram a ter representantes no Parlamento, que, a partir de 1350, dividiu em duas câmaras:
· Câmara dos Lordes, integrada por representantes da alta nobreza e do alto clero;
· Câmara dos Comuns, composta por representantes da burguesia e da pequena nobreza (chamada também de gentry).
O governo de Henrique VIII (1509-1547) avançou no fortalecimento real, anulando o tradicional poder temporal da Igreja na Inglaterra, e fundou, em 1534, a Igreja anglicana.
Henrique VIII 
A atitude de Henrique que mais contribuiu para o fortalecimento do poder real foi, como vimos, o seu rompimento com o papa e a fundação da Igreja Anglicana, da qual passou a ser o chefe supremo.
Liderando a Reforma na Inglaterra, Henrique VIII, pôde confiscar as extensas terras e outros preciosos bens da Igreja Católica, aumentando, assim, a fortuna e o poder do Estado inglês.
Sucedeu a Henrique VIII sua filha Elizabeth I (1558-1603), que desenvolveu uma política colonialista agressiva, rivalizando especialmente com a Espanha. Venceu, em 1588, a poderosa frota espanhola que ficou conhecida como a Invencível Armada. Ainda no plano externo, iniciou a colonização da América do Norte, com Sir Walter Raleigh fundando a colônia de Virgínia em 1584.
No seu reinado verificou-se um acentuado desenvolvimento da indústria têxtil, naval e de mineração, além de um crescimento vertiginoso do comércio marítimo. Disposta a proteger as atividades comerciais e a aumentar os recursos do Estado. Elizabeth I associou-se aos corsários ingleses, obtendo, assim, fabulosos lucros por meio da prática do contrabando e da pirataria nas costas da América, África e Ásia.
Além disso, concedeu monopólios e privilégios aos ricos burgueses que organizaram grandes companhias de comércio, tais como a Companhia de Mercadores Aventureiros (formada por negociantes e corsários) e a Companhia Inglesa das Índias Orientais, que incluía entre suas atividades o lucrativo tráfico de escravos.
Em 1603, com a morte de Elizabeth I, encerrou-se a dinastia Tudor, já que ela não se casou e não deixou descendentes. Assumiu o trono seu primo e rei da Escócia, Jaime I (1603-1625), da família Stuart.
O governo de Jaime I e também o de seu sucessor Carlos I (1625-1648) caracterizavam-se por buscar a instalação plena de um poder absolutista, e por diversas perseguições religiosas. Muitos puritanos (calvinistas ingleses) abandonaram o país, emigrando para a colônia da América do Norte.

Formação dos Estados Nacionais

 "Foi também no século XIV que ocorreu na Europa o início do fortalecimento do poder central por meio das monarquias nacionais, apontando para a organização do Estado moderno, O processo de formação desse Estado foi bastante contraditório, tornando difícil sua definição. Na realidade ele refletia um longo período de transição, em que forças políticas e sociais renovadoras (como a burguesia) pro­curavam seu espaço político e outras lutavam para manter o poder e seus privilégios (nobreza).

Para a burguesia, os particularismos europeus dificultavam o desenvolvimento das atividades comerciais e financeiras, na medida em que cada região mantinha pesos, medidas, moedas, tributos, leis e taxas diferenciadas. Logo, de sua parte havia interesse na instituição de um poder unificado, pois isso corresponderia à unificação desses padrões.
O poder centralizado também interessava ao rei, que procurava contra-por-se aos poderes locais e fortalecer-se politicamente para não se submeter à autoridade da Igreja e sua tendência universalista (que impõe sua autoridade considerando o conjunto de suas idéias, convicções e valores como uni­versais, não aceitando outros). Por isso, estabeleceu-se uma aliança entre reis e burguesia, direcionada para a formação das monarquias nacionais. Para concretizá-la era preciso organizar uma burocracia política e administrativa e um exército nacional, tarefa que seria financiada, por meio de impostos, pelos ricos banqueiros e comerciantes. Eles se tornaram, na prática, patronos do Estado e, em troca, receberam concessões comerciais alfandegárias; sobre­tudo, através das monarquias nacionais, obtinham a legitimação e o zelo da nova ordem sócio-econômica.
Contraditoriamente, porém, essa mesma monarquia nacional também favoreceu parcela da aristocracia. Para a nobreza, que começava a perder seus privilégios com a desestruturação do feudalismo, o Estado centralizado representou uma forma mais ágil e eficiente de se apropriar da riqueza gera­da no campo e no comércio. Ao organizar a máquina burocrática centralizada, o Estado permitiu que a nobreza penetrasse na sua estrutura, ocupando cargos e funções importantes.
Dessa forma, parte da aristocracia se beneficiava dos recursos arrecadados e coletados pelo Tesouro real, graças às concessões tributárias dadas pela monarquia; formava, assim, um segmento social parasitário repleto de privilégios.
Essas contradições de um Estado centralizado que se modernizava e beneficiava a burguesia e o rei, ao mesmo tempo que atendia aos interesses da nobreza, chegaram ao limite no interior dos Estados absolutistas (Idade Moderna). Esse quadro político produziu durante a Idade Moderna inúmeros conflitos, que se resolveriam em parte no século XVIII, com a reação, principalmente, da burguesia; o caso mais exemplar ocorreria na França no final daquele século."

Teorias sobre a origem e natureza do poder dos reis

Em decorrência da centralização do poder real e da unificação, a maioria dos Estados europeus caminhou no sentido das monarquias absolutas. Entre os séculos XVI e XVII, surgiram inúmeros filósofos justificando o absolutismo como o sistema político ideal. Tudo indica que a sociedade, ao passar do Feudalismo descentralizado, rural e de subsistência, onde a autoridade real era apenas teórica e a burguesia não possuía a segurança necessária para realizar seus negócios, para a centralização do poder, muitos só admitiram o progresso dentro ordem, só através de um Estado fortemente centrado no rei.

Teorias baseadas no contrato entre os homens e o rei

• Nicolau Maquiavel (1469- 1527): Suas idéias políticas encontram-se principalmente em O Príncipe e Discursos sobre Tito Lívio. Combateu o governo limitado e a Ética na política. Acreditava que, em política, só se devem ter em mente os fins a atingir, sem se deixar dominar por preconceitos de ordem moral, ("O fim justifica os meios"). Dizia que "mais vale ser temido do que amado" Só via nos homens cinismo, ambição, egoísmo e interesses pessoais. Descrevia o Estado, não de acordo com algum elevado ideal, mas como na realidade era em seu tempo."

• Thomas Hobbes ( 1588-1697): Autor de Levitã. Filosofo racionalista, considerava a política como ciência. Hobbes também concebe um Estado soberano, levando ainda mais longe do que Bodin a idéia de soberania pois, para ele, esta não tem qualquer limite. Isso porque o Estado, esse grande Levitã, foi criado pelos homens sob duplo impulso: das paixões e da razão.
Dizia que os homens viviam originalmente em estado natural sem se sujeitarem a nenhuma lei vivendo. portanto, no caos. Terminaram por formar uma sociedade civil e firmaram um contrato, no qual cediam todos os seus direitos a um soberano suficientemente forte pare protegê-los. Diz, ainda, que é lícito ao rei governar despoticamente não porque tenha sido escolhido por Deus, mas porque o povo lhe deu o poder absoluto.
• Hugo Grotius (1583-1645): É autor de Do Direito da Paz e da Guerra. Não admitia poder existir ordem sem que fosse dado plenos poderes ao governante.
• Jean Bodin (1530-1569): Em A República, dizia que o poder do Estado é ilimitado, estando sujeito apenas às leis divinas. "A autoridade do príncipe vem de Deus e a obrigação suprema do povo é a obediência passiva."
• Le Bret: Autor de Tratado da Soberania dos Reis. Dizia que as ordens do rei tinham que ser acatadas, mesmo quando injustas, pois ele (o rei) recebeu seus poderes diretamente de Deus.
• Bossuet (1627-1704): Autor de Política Segundo a Sagrada Escritura. Para ele, os princípios da política estão contidos na Bíblia. A autoridade real possui quatro características: Sagrada (representante de Deus na terra), paternal, absoluta (e não, arbitraria) e submissão a razão (e não, paixão). Afirmou que "como não ha poder público sem vontade de Deus, todo governo, seja qual for sue origem, justo ou injusto, pacifico ou violento, e legitimo. Todo depositário da autoridade, seja qual for, é sagrado. Revoltar-se contra ele é cometer um sacrilégio.

O Absolutismo na França

A dinastia capetíngia foi a responsável pelo início da centralização política na França, a partir do século X, da qual resultou a formação do Estado nacional francês. Com a Guerra do Cem Anos (1337-1453), o governo passou à dinastia Valois, a qual acelerou o fortalecimento real, contando com o enfraquecimento da nobreza francesa. Entretanto, as guerras político-religiosas ocorridas no país durante o século XVI, principalmente nos reinados de Carlos IX e Henrique III, dificultaram a completa consolidação do poder absoluto francês.
Apesar do massacre da Noite de São Bartolomeu (24/8/1572), quando milhares de huguenotes foram assassinados, a vitória na luta sucessória coube aos Bourbons, que subiram ao trono da França, em 1589, com o governante Henrique IV.

A dinastia dos Bourbons

Henrique IV (1589-1610) buscou promover a conciliação entre as facções religiosas que se achavam em conflito. Em razão disso, já na sua coroação, a fim de conquistar os católicos, renegou a doutrina protestante. Mais tarde, porém, deu um passo à frente quanto aos direitos religiosos de seus cidadãos, promulgando o Edito de Nantes (1598), no qual concedia liberdade de culto aos protestantes franceses.
Henrique IV foi assassinado, em 1610, e, em seu lugar, Luís XIII tornou-se o rei da França, tendo como primeiro-ministro o cardeal Richelieu. Este implementou uma política que objetivava concretizar a autoridade suprema do rei, a prosperidade interna da França e a sua elevação à categoria de primeira potência mundial.
Esta política, todavia, retirava autoridade e direitos locais e elevava a tributação, o que afetava necessariamente os privilégios da alta nobreza e as regalias dos burgueses protestantes. No plano externo, se ergueriam contra a França outras forças, especialmente a poderosa dinastia Habsburgo, governante de várias nações vizinhas à França.
A reação dos protestantes e dos nobres à política de Richelieu foi derrotada pelas tropas reais, mais o perigo externo foi mais duradouro.
Desde o início do século XVI, os Habsburgos vinham ampliando gradualmente seus poderes; com o governo de Carlos V (1519-1556), eleito imperador do Sacro Império Romano Germânico, alcançaram o seu ponto mais alto.
Na época de Luís XIII e Richelieu, interessava à França, portanto interromper a crescente centralização dos governantes dessa dinastia. Nesse sentido, Richelieu habilmente soube minar o poderio Habsburgo, apoiando os movimentos contestatórios no interior de seus domínios. A revolta na Holanda, a Insurreição na Catalunha, a Restauração portuguesa (1640) e a intervenção francesa na Guerra dos Trinta Anos (1618), apoiando os protestantes contra os católicos Habsburgos, fizeram parte desta política e opuseram Habsburgos e Bourbons pela hegemonia europeia.
Encerrada a Guerra dos Trinta Anos com a derrota dos Habsburgos e assinada a Paz de Westfália (1648), Richelieu havia estendido seu domínio sobre ricos territórios tomados ao Sacro Império, firmando a posição francesa de potência continental europeia.
Sob Luís XIV (1643-1715), a França conheceu a plenitude do absolutismo. Quando morreu Luís III, seu herdeiro tinha apenas 5 anos de idade, o que levou o poder a ser exercido por seu ministro, o cardeal Mazarino. Durante a gestão de Mazarino foram sufocados vários levantes, comumente chamados de frondas, liderados por nobres descontentes com a linha política de centralização administrativa. A vitória do cardeal pôs fim às últimas manifestações significativas que entravavam o estabelecimento do pleno absolutismo na França. A partir de então, a atitude dos nobres foi de submissão à realeza, dispostas a servi-la e a viver dos favores que ela lhes concedesse.
A morte do ministro Mazarino, em 1661, levou Luís XIV a assumir efetivamente o poder. Ele dedicou-se por completo à função de governante, dirigindo pessoalmente toda a política interna e externa da França. Tornou-se o chamado Rei sol e simbolizou o apogeu do absolutismo em toda Europa. A frase “O Estado sou eu” sintetiza o espírito absolutista de seu reinado.
O braço direito de Luís XIV, no campo econômico, era o ministro das Finanças Jean-Baptiste Colbert, que impulsionou um processo de desenvolvimento integrado nas concepções mercantilistas, com uma feição mais industrialista.
Seguindo as ideias de Bossuet, Luís XIV apoiava-se na concepção absolutista de que a França deveria ter “um rei, uma lei e uma fé”. Foi, por isso, limitando aos poucos as liberdades concedidas aos protestantes, até finalmente revogar o Edito de Nantes, em 1685.
Restabeleceram-se, dessa forma, os conflitos entre a monarquia e os huguenotes, em geral representantes da burguesia. Muitos deixaram o país, o que abalou a economia francesa, trazendo como conseqüência uma crise que desembocou em críticas ao regime absolutista.
No plano externo, o rei Luís XIV envolveu a nação em diversas guerras com o objetivo de ampliar sua influência e as fronteiras do seu território. Esses conflitos tiveram consequências desastrosas para as finanças da França, o que intensificou ainda mais o descontentamento e a oposição ao regime.
Durante o reinado de Luís XIV construiu-se o Palácio de Versalhes, centro da vida cortesã francesa, que chegou a alojar cerca de 6 mil pessoas ao mesmo tempo.

A Reforma Religiosa ou Protestante

 A Reforma religiosa foi o movimento que, dividindo os cristãos do Ocidente no século XVI, originou diversas novas igrejas camadas protestantes, as quais não mais seguiram o comando e a orientação do papa de Roma. Quebrando a unidade religiosa cristã, a Reforma protestante estabeleceu o fim da quase milenar supremacia eclesiástica na Europa. Pode-se mesmo dizer que a Reforma foi, no plano espiritual, aquilo que o Renascimento representou nas transformações culturais que inauguraram o novo mundo do capitalismo comercial.

Atualmente, os cristãos representam cerca de 30% da população mundial, porém não formam um grupo homogêneo. Existem vários ramos do cristianismo, sendo mais numerosos os formados por católicos, ortodoxos e protestantes.

Os católicos são seguidores da Igreja Católica Romana, que tem suas origens no século I d.C., sediada em Roma, no atual Estado do Vaticano. Chefiada pelo papa, essa Igreja é a maior instituição cristã do mundo, reunindo cerca de 1,3 bilhões de fiéis. Os ortodoxos surgiram no século XI com a separação entre a Igreja Católica do Ocidente (com sede em Roma) e a Igreja Católica do Oriente (com sede em Constantinopla). Atualmente, a Igreja Ortodoxa possui cerca de 250 milhões de seguidores em diferentes países, sobretudo da Europa Oriental e da Ásia – como Romênia e Rússia. Os protestantes surgiram no século XVI, após cristãos da Europa Ocidental romperem com a Igreja Católica Romana.

As Origens do Movimento Reformista

Diversos fatores conjugaram-se para dar início à Reforma religiosa do século XVI.  Um deles era a posição que a Igreja conservava de maior proprietária de terras em toda Europa: controlava, por exemplo, perto de 1/3 das terras francesas e mais de 40% das terras férteis alemãs. A Igreja Católica acumulou grande riqueza e poder, o que proporcionou uma vida luxuosa, sobretudo para o papa e os membros do alto clero. A riqueza ostentada pelo clero contrastava com a miséria da maioria dos fiéis e com alguns valores católicos, como a simplicidade e a humildade. A Igreja representava muito do que restava da ordem feudal medieval. Dessa forma, tudo o que se opunha à velha estrutura feudal, colocava-se contrário ao poder de Roma.
Em cada reino do da Idade Moderna, o papa era visto como um estrangeiro que arrecadava os impostos cobrados em seus feudos, além de diversos outros tributos extraídos de todos os cristãos, para enviá-los a Roma, dificultando as finanças nacionais. Os reis fortalecidos com o desenvolvimento dos Estados nacionais, opunham-se a tal situação, favorecendo atitudes contrárias à Igreja e seus eclesiásticos.
Outro fator que contribuiu para o movimento reformista foi a existência de dois sistemas teológicos, dado significativo para a divisão espiritual dos cristãos. A Igreja de Roma continuava seguindo a teologia de São Tomás de Aquino (tomismo), típica da Baixa Idade Média, com seus clérigos defendendo o princípio do livre arbítrio, ou seja, a concepção de que cada indivíduo escolhe a sua salvação ou o caminho da perdição. Assim, o tomismo dava ao homem o poder de fazer o bem e evitar o mal, cabendo aos sacerdotes a tarefa de fornecer os sacramentos e orientar seus fiéis na escolha do caminho da salvação. Já os reformadores basearam suas na teologia agostiniana, sustentada na predestinação e na fé do indivíduo.
Nas relações econômicas, a Igreja defendia o “justo preço”, ou seja, o valor de um produto não deveria incluir lucro, apenas os seus custos. Condenava a prática da usura e a obtenção de lucros. Essa postura descontentava profundamente o seguimento burguês da sociedade europeia que retirava seu meio de vida das atividades lucrativas.
Finalmente, o desregramento moral que predominava sobre a hierarquia eclesiástica aumentou a descrença da população mais humilde com relação à Igreja e a seus representantes. Era uma prática constante a venda de cargos eclesiásticos, levando sacerdotes, bispos, arcebispos e até papas a exercerem seus cargos pela ambição do título e da posição, estimulando o mau comportamento dos clérigos e o descrédito entre os fiéis. Apesar de a Igreja Católica afirmar que os sacerdotes eram intermediários entre Deus e os fiéis, muitos deles não tinham boa formação religiosa nem escolar.
A venda de indulgência, por parte das autoridades da Igreja, intensificou a desmoralização. A fim de manter o luxo dos eclesiásticos, especialmente da corte pontifícia, a Igreja comercializou o perdão a pecados cometidos, com promessas de redução das penas do purgatório. Desse modo, os fiéis poderiam comprar sua “entrada para o reino do céu”. Além disso, vendia cargos religiosos e até vários sacerdotes enganavam os fiéis vendendo-lhes objetos falsificados como se fossem relíquias sagradas, por exemplo: “espinhos da coroa de Cristo”, “pedaços de madeira da cruz em que Jesus morreu”, “pedaços do tecido do manto sagrado”, “ossos do burrico de São José”. Essa comercialização desregrada transformou-se no estopim do movimento protestante. 

Ética da burguesia

A Igreja Católica recomendava aos comerciantes a prática de preços justos, evitando os lucros desenfreados. Além disso, a Igreja condenava a usura, que é a prática de cobrar juros sobre empréstimos. Isso porque alguns teólogos católicos consideravam que o “tempo” pertencia a Deus e, por isso, não se podia cobrar juros sobre o tempo em que o dinheiro permanecia emprestado.
A atitude da Igreja Católica de condenar a cobrança de juros e controlar os preços das mercadorias incomodava os burgueses, que se preocupavam basicamente em expandir seus negócios e aumentar seus lucros. Por isso, muitos burgueses passaram a apoiar uma nova ética que valorizasse suas práticas econômicas ao invés de criticá-las.

Estados nacionais

Com a consolidação dos Estados nacionais, alguns príncipes e reis passaram a encarar o papa e outras autoridades católicas como “estrangeiros” que interferiam em assuntos de seu país. Isso aconteceu, por exemplo, em regiões da Europa que atualmente correspondem a Alemanha, Dinamarca, Noruega, Suécia, Suíça, Holanda, Inglaterra e Escócia.
Na época, a Igreja Católica divulgava suas doutrinas em latim, possuía grandes propriedades de terras e enviava o dinheiro que recebia dos fiéis para sua sede em Roma. Entretanto, os novos monarcas tinham interesse em ampliar seus territórios, exercer sua autoridade, impedir que recursos saíssem de seus reinos e fortalecer a língua nacional de seu Estado. Assim, a ruptura com a Igreja Católica e as mudanças nas doutrinas religiosas favoreceriam os interesses de alguns monarcas.

Interpretações da Bíblia

Durante o período medieval, a Bíblia (livro sagrado do cristianismo) era escrita em latim e interpretada, principalmente, por sacerdotes católicos.
Além disso, existiam poucos exemplares da Bíblia, que eram copiados à mão e custavam caro.
A partir do século XV, isso foi mudando devido a dois fatores principais: a invenção da imprensa e as traduções da Bíblia, que passaram a ser escritas também nos idiomas nacionais dos Estados. A imprensa que utilizava tipos móveis de metal foi inventada pelo alemão Johann Gutenberg (1398-1468). Essa invenção facilitou a reprodução gráfica, aumentando a produção de livros e barateando seus preços. Desse modo, não era mais necessário saber latim para entender os textos sagrados. Com essas inovações, a Bíblia chegou a um número maior de leitores, que fizeram novas interpretações, às vezes diferentes dos ensinamentos dos sacerdotes católicos.

Os Precursores da Reforma

Antes que o prestígio da Igreja atingisse uma feição separatista, alguns intelectuais e membros da Igreja apresentaram propostas reformistas que visavam conter os abusos.
John Wyclif, professor da Universidade de Oxford, condenava a venda de indulgências e defendia a formação de uma Igreja nacional. Essas propostas foram retomadas pelo professor da Universidade de Praga, John Huss.
Tanto Wyclif quanto Huss foram perseguidos e excomungados pela Igreja de Roma. Suas idéias, porém, foram assimiladas por muitos cristãos que passaram a contestar enfaticamente a autoridade do papa.

O Reformismo de Lutero

Em 1517, na Alemanha, o monge e professor da universidade de Wittenberg Martinho Lutero (1483-1546) iniciou um movimento de ruptura com a Igreja Católica. Aos 22 anos, entrou para a ordem dos agostinianos, um grupo religioso católico inspirado pelas ideias de Santo Agostinho (354-430).
Lutero, rebelou-se contra o vendedor de indulgências João Tetzel, dominicano a serviço do papa Leão X, que recolhia recursos para a construção da Basílica de São Pedro. Lutero, revoltado com a desmoralização da Igreja, fixou na porta de sua igreja as 95 teses, onde criticava ferozmente a Igreja papal.
Em 1527, Lutero publicou um manifesto (95 teses) condenando as práticas da Igreja Católica. Entre os princípios da doutrina luterana, destacam-se:
• o direito dos fiéis ao livre exame das Escrituras Sagradas (Bíblia);
• a fé cristã como único caminho para a salvação eterna;
• a Bíblia como a única fonte para a fé;
• o batismo e a eucaristia como os dois únicos sacramentos;
• não aceitação do culto aos santos católicos, da adoração de imagens e da autoridade universal do papa.
Em 1520, Leão X ordenou a sua retratação, sob pena de ser considerado um herege. Lutero queimou em praça a orem papal, sendo excomungado (1521).
Apesar de consideradas heréticas pelo clero romano, as ideias luteranas espalharam-se rapidamente por toda a Alemanha, onde encontraram condições particularmente favoráveis para a sua difusão. Nobres e camponeses apoiaram Lutero; os nobres ambicionando apoderar-se das terras da Igreja e ampliar seus poderes abalados com a decadência feudal; os camponeses, desejando escapar da situação de miséria em que viviam.
Parte destes camponeses, conhecidos por anabatistas e comandada por um seguidor de Lutero, chamado Thomas Müntzer, reivindicava a divisão das terras da Igreja entre os mais pobres. Lutero acusou-os de radicais e apoiou violenta repressão da nobreza sobre eles, resultando na morte de mais de 100 000 camponeses.

Reação católica

Os líderes católicos reagiram à doutrina luterana e decidiram expulsar Lutero da Igreja Católica. Fugindo de perseguições, Lutero refugiou-se no castelo de um príncipe, onde traduziu a Bíblia para o alemão.
O imperador alemão, Carlos V, inquieto com a evolução reformista, apoiou o papa, pois julgava o luteranismo um fortalecedor dos nobres. Depois de muitos confrontos entre as tropas imperiais e os luteranos alemães liderados pela nobreza, Carlos V convocou uma dieta (assembleia), realizada em Spira (1529). Nela o imperador tentou fazer valer sua autoridade e determinou a submissão dos luteranos.
As ideias de Lutero ganharam seguidores entre camponeses, trabalhadores urbanos, burgueses e nobres do norte da Europa. Em 1529, nobres alemães luteranos protestaram contra as medidas da Igreja Católica que impediam cada Estado de escolher a própria religião. A partir daí, o nome protestante passou a designar os cristãos não católicos seguidores das novas igrejas que surgiram nesse período.
Somente em 1555 os príncipes alemães ganharam o direito de escolher a religião que desejavam em suas terras, confirmando o triunfo do luteranismo na Alemanha. Essa decisão foi alcançada graças a um acordo assinado entre o imperador católico e os nobres protestantes, o que foi chamado de Paz de Augsburgo.
Em meio à expansão luterana na Alemanha e aos conflitos com o imperador Carlos V, em 1530, Felipe de Melanchton, discípulo de Lutero, redigiu a Confissão de Augsburgo, definindo o credo dos protestantes. A doutrina tinha por base a teologia agostiniana, defendendo a fé, como única fonte de salvação, e o princípio da predestinação. Afirmava que o homem vinha ao mundo predestinado por Deus à salvação ou à perdição, e a fé era a prova divina dos bem-escolhidos. Para os luteranos a Bíblia era a autêntica base da religião e, portanto, o culto devia reduzir-se à leitura e ao comentário das Sagradas Escrituras. Também só deviam ser conservadas as práticas instituídas por Cristo e por ele transmitidas através do Novo Testamento.
Na mesma ordem de ideias, foi negada a existência de sete sacramentos, reconhecendo apenas dois: batismo e eucaristia. Não aceitavam o culto da Virgem e dos santos e negavam a existência do purgatório. Nos cultos religiosos adotaram a língua nacional no lugar do latim e os ministros religiosos deveriam integrar-se o mais possível na comunidade dos fiéis, abolindo o celibato clerical.

A Reforma Calvinista

João Calvino (1509-1564) nasceu em Noyon, na França. Era católico e estudou teologia e direito. Durante a juventude, recebeu a influência dos reformadores protestantes de sua época, como Lutero. Mas, posteriormente, criou seu próprio movimento reformista, chamado de calvinismo. João Calvino publicou, em 1536, uma obra chamada Instituição Cristã, na qual se acham apresentados os pontos centrais do que, mais tarde, viria a constituir-se na doutrina calvinista.
Em razão de sua doutrina, Calvino foi perseguido pelas autoridades católicas francesas e fugiu para a Suíça, onde se tornou líder do governo da cidade de Genebra, de 1541 a 1560. Suas pregações obtiveram rápido sucesso em Genebra, Suíça, onde conquistou a posição de chefe político e religioso. Governando Genebra como senhor absoluto e de forma intransigente. Calvino criou o Consistório, órgão que controlava a política, a economia e os costumes dos seus cidadãos. Em Genebra, o governo calvinista exigiu dos habitantes um comportamento moral rigoroso, incluindo a proibição do jogo, do culto às imagens de santos, das danças, do uso de roupas luxuosas e de joias. Assim, os calvinistas pregavam que os cristãos deveriam trabalhar muito, evitar gastos desnecessários e orar a Deus. 
O culto e as práticas religiosas estabelecidos pelos calvinistas eram simples, resumindo-se apenas no comentário da Bíblia, preces e cantos. Também não se admitiam imagens e só se aceitavam os sacramentos da eucaristia e do batismo. Os pastores (ministros do culto) não eram tidos como intermediários entre Deus e os homens, mas simples fiéis, encarregados da pregação e das preces.
Defendendo a predestinação, Calvino via no sucesso econômico a indicação divina dos escolhidos para a salvação eterna. Explicava que algumas pessoas eram eleitas por Deus para serem salvas e ninguém poderia interferir no plano divino. Para ele, a miséria era a fonte de todos os males e pecados. Reconhecendo e exaltando o lucro e o trabalho, passou a ser considerado o pregador espiritual do ideal burguês. A doutrina calvinista, adequada às expectativas capitalistas, conseguiu rápida assimilação pelo segmento burguês em toda a Europa. 
O calvinismo espalhou-se por regiões da França, Inglaterra e Escócia, dando origem a outras correntes religiosas que ficaram conhecidas, respectivamente, como huguenotes, puritanos e presbiterianos.
Os seguidores de Calvino na Escócia tiveram como principal pregador John Knox e adotaram o nome de presbiterianos, por organizarem sua Igreja a partir de conselhos, chamados presbíteros.
Na Inglaterra os calvinistas foram chamados de puritanos, os predestinados, e na França, huguenotes. Em outros países, como Holanda e Dinamarca, o calvinismo ganhou inúmeros adeptos, confirmando o sucesso da doutrina diante do progresso econômico capitalista.
No livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, o sociólogo Max Weber (1864-1920) argumentou que os ideais calvinistas favoreciam os interesses da burguesia e do capitalismo, pois estimulavam o trabalho e o acúmulo de riquezas, além de defenderem o lucro.
Weber é considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu trabalho destacou-se por analisar dimensões do capitalismo na modernidade, como a preocupação com a eficiência dos resultados, baseada em cálculos e planejamentos para a redução de riscos.

Henrique VIII e o Anglicanismo

No século XVI também ocorreu uma reforma religiosa na Inglaterra, conduzida pelo próprio rei Henrique VIII (1509-1547). Dessa reforma surgiu a Igreja Anglicana. Desejando apoderar-se das terras da Igreja inglesa, retirando, assim, a base de seu poder temporal, o monarca inglês rompeu com o papa.
Henrique VIII da Inglaterra
Um dos principais motivos da ruptura entre o rei inglês e a Igreja Católica foi a disputa pelo poder. O monarca pretendia limitar a influência da Igreja Católica, que também era proprietária de muitas terras na Inglaterra. 
O pretexto usado para isso foi o fato de o rei precisar casar-se novamente, pois, do casamento com Catarina de Aragão, não tivera filhos para sucedê-lo no trono. Isso não podia ser autorizado pela Igreja, que defendia a indissolubilidade do sacramento do matrimônio. Diante da recusa do papa, Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica e casou-se novamente com a aprovação do Parlamento inglês. Henrique VIII proclamou-se, por meio do Ato de Supremacia, em 1534, chefe da Igreja inglesa suprimindo os mosteiros católicos e confiscando os bens eclesiásticos, que foram incorporados ao Estado.
O papa Paulo III (1468-1549) reagiu, excomungando o rei inglês. Porém, não conseguiu impedir a criação da Igreja Anglicana. Desse modo, o anglicanismo tornou-se a religião oficial do Estado. Houve perseguições aos fiéis e às autoridades católicas. Porém, muitos católicos continuaram a viver no reino, embora não pudessem praticar livremente sua religião. Muito parecida com a Igreja católica em sua estrutura eclesiástica e no cerimonial, a Igreja inglesa, chamada anglicana, só se consolidaria durante o reinado de Elizabeth. Em 1563 organizou-se a lei dos 39 artigos, a verdadeira carta do anglicanismo, incorporando muitos princípios da doutrina calvinista.

A Contrarreforma ou a Reforma Católica

A expansão do protestantismo abalou seriamente a tradicional hegemonia religiosa de Roma sobre o continente europeu. Para conter a difusão das ideias protestantes surgiu um movimento denominado Contra reforma, que ao mesmo tempo buscava fortalecer a Igreja papal e moralizá-la, adotando medidas que compuseram a reforma católica. Assim, verifica-se que também o catolicismo foi obrigado a adequar-se aos novos valores, decorrentes do desenvolvimento do capitalismo comercial.
A reação da Igreja Católica ao protestantismo incluiu medidas como:
• repressão aos protestantes: na França, por exemplo, ocorreu o episódio conhecido como a Noite de São Bartolomeu (1572), quando milhares de huguenotes foram massacrados pelos católicos;
• criação da Ordem dos Jesuítas: o militar e religioso espanhol Inácio de Loyola fundou a Companhia de Jesus (1534), também chamada de Ordem dos Jesuítas. Os jesuítas consideravam-se “soldados da Igreja” com a missão principal de combater o protestantismo e expandir o catolicismo na Europa e em outras partes do mundo. Os jesuítas seguiam disciplina militar, constituindo um grupo bem formado e disciplinado, cuja missão principal era combater infiéis e protestantes. A importância que esses religiosos atribuíram à educação fez com que monopolizassem as instituições de ensino de diversas regiões, visando primordialmente difundir a ideologia católica romana. Para cumprir sua missão, os jesuítas criaram escolas religiosas e catequizaram povos dos continentes americano, asiático e africano;
 • convocação do Concílio de Trento (1545-1563): convocado pelo Papa Paulo III, no qual se discutiram os problemas do cristianismo e se definiu a atuação da Igreja diante da expansão protestante, também fez parte do movimento contra reformista e a Reforma católica. Depois de anos de trabalho, os membros do concílio reafirmaram pontos básicos da doutrina católica, como os sete sacramentos, a autoridade do papa e as fontes da fé cristã católica, sendo a Bíblia a principal fonte da doutrina religiosa e sua interpretação correta atribuída ao clero católico. A partir do Concílio de Trento reafirmaram-se os dogmas e preceitos tomistas do catolicismo, como o livre arbítrio – a salvação decorre da conjugação da fé do indivíduo e das obras que realiza –, e a infabilidade do papa. Em contraposição, proibiu-se a venda de indulgências e, visando a melhor formação dos clérigos, determinou-se a criação de seminários e a proibição da venda de cargos eclesiásticos. Em Trento, também ficou estabelecido o fortalecimento do Santo Ofício da Inquisição, no sentido de vigiar e normatizar a fé e a vida dos fiéis. 
Ilustração de cenas da inquisição
• volta da Inquisição: a perseguição inquisitorial a todos os que, de acordo com seus critérios, pusessem em risco a fé em Cristo assumiu muitas vezes um caráter de tortura e morte de milhares de pessoas.  Além disso, a Igreja Católica elaborou, em 1559, o Index librorum prohibitorum, uma lista de livros proibidos aos católicos. Dessa lista constavam, por exemplo, obras de Galileu Galilei, Giordano Bruno, Isac Newton, Nicolau Copérnico e todas as obras de autores protestantes.
Finalmente, com a elaboração do Índex (relação de livros proibidos aos católicos), a Igreja católica buscava impedir a difusão das ideias protestantes e das vozes discordantes do seu ideário religioso. O lado censor do index ao longo do tempo revelou-se um sério entrave ao progresso cultural e científico da Idade Moderna.

Difusão das reformas religiosas

O protestantismo se difundiu rapidamente pelo continente europeu, conquistando vários seguidores. Em aproximadamente 50 anos, cerca de 40% dos europeus ocidentais se tornaram protestantes. 
No atual Brasil, o protestantismo ganhou novos ramos com as Igrejas evangélicas, que se baseiam nos poderes do Espírito Santo para fazer milagres, como curar doenças, promover a prosperidade e expulsar o mal da vida dos fiéis. Segundo levantamento estatístico realizado em 2020 pelo Instituto Datafolha, cerca de 31% dos brasileiros se declaram evangélicos, enquanto por volta de 50% da população se declara católica.

A Reforma Religiosa

 "O que foi a Reforma Religiosa?

No século XVI a Europa foi abalada por uma série de movimentos religiosos que contestavam abertamente os dogmas da igreja católica e a autoridade do papa. Estes movimentos, conhecidos genericamente como Reforma, foram sem dúvida de cunho religioso. No entanto, estavam ocorrendo ao mesmo tempo que as mudanças na economia européia, juntamente com a ascensão da burguesia. Por isso, algumas correntes do movimento reformista se adequavam às necessidades religiosas da burguesia, ao valorizar o homem “empreendedor” e ao justificar a busca do “lucro”, sempre condenado pela igreja católica.

Os fatores que desencadearam a Reforma.

Uma das causas importantes da Reforma foi o humanismo evangelista, crítico da Igreja da época. A Igreja havia se afastado muito de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade, sofrimento.
No século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e ociosidade. Surgiram críticas em livros como o Elogio da Loucura (1509), de Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho Lutero efetivasse o rompimento com a igreja católica.
Moralmente, a Igreja estava em decadência: preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do que com as questões religiosas. Para aumentar ainda mais suas riquezas, a Igreja recorria a qualquer subterfúgio, como, por exemplo, a venda de cargos eclesiásticos, venda de relíquias e, principalmente, a venda das famosas indulgências, que foram a causa imediata da crítica de Lutero. O papado garantia que cada cristão pecador poderia comprar o perdão da Igreja.
A formação das monarquias nacionais trouxe consigo um sentimento de nacionalidade às pessoas que habitavam uma mesma região, sentimento este desconhecido na Europa feudal, Esse fato motivou o declínio da autoridade papal, pois o rei e a nação passaram a ser mais importantes.
Outro fator muito importante, ligado ao anterior, foi a ascensão da burguesia, que, além do papel decisivo que representou na formação das monarquias nacionais e no pensamento humanista, foi fundamental na Reforma religiosa. Ora, na ideologia católica, a única forma de riqueza era a terra; o dinheiro, o comércio e as atividades bancárias eram práticas pecaminosas; trabalhar pela obtenção do lucro, que é a essência do capital, era pecado. A burguesia precisava, portanto, de uma nova religião, que justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse as atividades ligadas ao comércio.
A doutrina protestante, criada pela Reforma, satisfazia plenamente os anseios desta nova classe, pois pregava o acúmulo de capital como forma de obtenção do paraíso celestial. Assim, grande parte da burguesia, ligada às atividades lucrativas, aderiu ao movimento reformista.

Por que a Reforma começou na Alemanha?

No século XVI, a Alemanha não era um Estado politicamente centralizado. A nobreza era tão independente que cunhava moedas, fazia a justiça e recolhia impostos em suas propriedades. Para complementar sua riqueza, saqueava nas rotas comerciais, expropriando os mercadores e camponeses.
A burguesia alemã, comparada à dos países da Europa, era débil: os comerciantes e banqueiros mais poderosos estabeleciam-se no sul, às margens do Reno e do Danúbio, por onde passavam as principais rotas comerciais; as atividades econômicas da região eram a exportação de vidro, de metais e a “indústria” do papel; mas o setor mais forte da burguesia era o usurário.

Quem se opunha à igreja na Alemanha.

A igreja católica alemã era muito rica. Seus maiores domínios se localizavam às margens do Reno, chamadas de “caminho do clero”, e eram estes territórios alemães que mais impostos rendiam à Igreja.
A Igreja era sempre associada a tudo que estivesse ligado ao feudalismo. Por isso, a burguesia via a Igreja como inimiga. Seus anseios eram por uma Igreja que gastasse menos, que absorvesse menos impostos e, principalmente, que não condenasse a prática de ganhar dinheiro.
Os senhores feudais alemães estavam interessados nas imensas propriedades da Igreja e do clero alemão.
Os pobres identificavam a Igreja com o sistema que os oprimia: o feudalismo. Isto porque ela representava mais um senhor feudal, a quem deviam muitos impostos. Às vésperas da Reforma, a luta de classes e política acabou assumindo uma forma religiosa. "

Lutero e a Reforma

Lutero protestou violentamente contra tal comércio e, em 1517, afixou na porta da igreja de Wittenberg, onde era mestre e pregador, 95 proposições onde, entre outras coisas, condenava a prática vergonhosa da venda de indulgências. O papa Leão X exigiu uma retratação, sempre recusada.
Lutero e as reformas
Lutero foi excomungado e reagiu imediatamente, queimando em público a bula papal (documento de excomunhão) Frederico, príncipe eleito da Saxônia e protetor de Lutero, recolheu-o em seu castelo, onde o pensador religioso desenvolveu suas ideias. As principais foram:
• A justificação pela fé, pela qual as aparências têm valor secundário. A única coisa que salva o homem é a fé. Sem ela, de nada valem as obras de piedade, os preceitos e as regras. O homem está só diante de Deus, sem intermediários: Deus estende ao homem sua graça e salvação; o homem estende para Deus sua fé.
• Por isso a Igreja não tem função, o papa é um impostor, a hierarquia eclesiástica, uma inutilidade.
• Outra ideia de Lutero era o livre exame. A Igreja era considerada incompetente para salvar o homem; por isso sua interpretação das Sagradas Escrituras não era válida: Lutero queria que todos os homens tivessem acesso à Bíblia (por isso a traduziu do latim para o alemão). Todo homem poderia interpretar a Bíblia segundo sua própria consciência, emancipando-se no plano da ideologia religiosa.

Reforma de Calvino

"Enquanto a Reforma luterana se disseminava pela Alemanha, os franceses tentavam elaborar uma reforma mais pacífica, orientada pelos humanistas. Mas os setores católicos conservadores, que dominavam a Universidade de Sorbone, impediram o trabalho dos humanistas, preparando terreno para uma reforma muito mais radical e intransigente, liderada por João Calvino.
Calvino era ex-aluno da Universidade de Paris, nascido em 1509 de uma família pequeno-burguesa e estudioso de leis. Em 1531 aderiu às idéias reformistas, bastante difundidas nos meios cultos da França. Perseguido por causa de suas idéias, foi obrigado a fugir para a cidade de Basiléia, onde publicou, em 1536. a Instituição da Religião Cristã, definindo seu pensamento. Calvino, como Lutero, partia da salvação pela fé, mas suas conclusões eram bem mais radicais; o homem seria uma criatura miserável, corrompida e cheia de pecados; somente a fé poderia salvá-lo, embora essa salvação dependesse da vontade divina — esta era a “ideia da Predestinação”.
Calvino foi para a Suíça, estabelecendo-se em Genebra, em 1536. A Suíça já conhecia o movimento reformista através de Ulrich Zwinglio e era um lugar propício para Calvino desenvolver suas ideias. Mas o fator principal para a difusão do calvinismo na Suíça foi a concentração, nesta região, de um número razoável de comerciantes burgueses, desejosos de uma doutrina que justificasse suas atividades lucrativas.
Calvino transformou-se num verdadeiro ditador político, religioso e moral de Genebra. Formou um consistório (espécie de assembléia), composto por pastores e anciãos, que vigiava os costumes e administrava a cidade, inteiramente submetida à lei do evangelho. Eram proibidos o jogo a dinheiro, as danças, o teatro, o luxo.
Calvino ofereceu uma doutrina adequada à burguesia capitalista, pois dizia que o homem provava sua fé e demonstrava sua predestinação através do sucesso material, do enriquecimento. Defendia o empréstimo de dinheiro a juros, considerava a pobreza como sinal do desfavor divino e valorizava o trabalho, o que ia ao encontro dos anseios da burguesia, que tinha no trabalho o elemento necessário para acumular o capital.

Contra-reforma ou Reforma Católica

"A situação da igreja católica, em meados do século XVI, era bastante difícil: ela perdera metade da Alemanha, toda a Inglaterra e os países escandinavos; estava em recuo na França, nos Países Baixos, na Áustria, na Boêmia e na Hungria.
A Contra-Reforma, ou Reforma católica, foi uma barreira colocada pela Igreja contra a crescente onda do protestantismo. Para enfrentar as novas doutrinas, a igreja católica lançou mão de uma arma muito antiga: - a Inquisição - O Tribunal da Inquisição foi muito poderoso na Europa nos séculos XIII e XIV, No decorrer do século XV, porém, perdeu sua força. Entretanto, em 1542 este tribunal foi reativado para julgar e perseguir indivíduos acusados de praticar ou difundir as novas doutrinas protestantes.
Percebendo que os livros e impressos tinham sido muito importantes para a difusão da ideologia protestante, o papado instituiu, em 1564, o Index, uma lista de livros elaborada pelo Santo Ofício, cuja leitura era proibida aos fiéis católicos.
Estas duas medidas detiveram o avanço do protestantismo, principalmente na Itália, na Espanha e em Portugal.
Para remediar os abusos da Igreja e definir com clareza sua doutrina, organizou-se o Concilio de Trento (1545-1563). O Concilio tomou uma série de medidas, entre as quais citamos:
• Organizou a disciplina do clero: os padres deveriam estudar e formar-se em seminários. Não poderiam ser padres antes dos 25 anos, nem bispos antes dos 30 anos.
• Estabeleceu que as crenças católicas poderiam ter dupla origem: as Sagradas Escrituras (Bíblia) ou as tradições transmitidas pela Igreja; apenas esta estava autorizada a interpretar a Bíblia. Mantinham-se os princípios de valia das obras, o culto da Virgem Maria e das imagens.
• Reafirmava a infalibilidade do papa e o dogma da transubstanciação.
A conseqüência mais importante deste Concilio foi o fortalecimento da autoridade do papa, que, a partir de então, passou a ter a palavra final sobre os dogmas defendidos pela igreja católica.
A partir da Contra-Reforma surgiram novas ordens religiosas, como a Companhia de Jesus, fundada por Ignácio de Loyola em 1534. Os jesuítas se organizaram em moldes quase militares e fortaleceram a posição da Igreja dentro dos países europeus que permaneciam católicos. Criaram escolas, onde eram educados os filhos das famílias nobres; foram confessores e educadores de várias famílias reais; fundaram colégios e missões para difundir a doutrina católica nas Américas e na Ásia. "

IMPACTOS POLÍTICOS E ECONÔMICOS DA REFORMA

A Reforma Protestante trouxe importantes mudanças culturais, criando novas práticas religiosas dentro da cristandade. Mas também transformou outros aspectos da vida em sociedade.
Do ponto de vista político, as religiões protestantes reduziram a influência do papa e das demais autoridades católicas em muitas regiões da Europa. Com isso, governantes de territórios que se converteram ao protestantismo apossaram-se de propriedades da Igreja e passaram a impor sua autoridade sem a antiga interferência da instituição, fortalecendo seus poderes.
Outro efeito político importante da Reforma foi a eclosão de revoltas populares, como o movimento dos anabatistas em regiões da atual Alemanha. Camponeses passaram a seguir líderes religiosos que defendiam propostas de transformação radical da sociedade, visando acabar com as desigualdades.
Essas ideias ameaçavam o poder de autoridades que apoiavam as religiões reformadas, e por isso foram duramente reprimidas. O próprio Lutero condenou a radicalização dos camponeses, posicionando-se ao lado da nobreza germânica.
Do ponto de vista econômico, houve a valorização do modo de vida burguês pelos líderes das religiões reformadas. Diferentemente do catolicismo, que condenava o lucro e o enriquecimento pessoal, as religiões protestantes interpretavam o acúmulo de riquezas de maneira positiva e reforçavam a ética do trabalho. Isso contribuiu para o desenvolvimento das atividades econômicas em territórios convertidos ao protestantismo.

A vida das mulheres durante a Reforma

A Reforma Religiosa trouxe mudanças importantes na vida das mulheres na Europa. A organização das novas religiões cristãs provocou o fortalecimento das hierarquias sociais entre homens e mulheres. Muitos dos reformadores defendiam que o homem deveria exercer o controle sobre as mulheres da família e que elas não deveriam ter participação no espaço público ou em assuntos religiosos, limitando-se à vida doméstica.
Muitas mulheres, no entanto, desafiaram a autoridade masculina e tiveram uma participação ativa na organização das Igrejas reformadas. Aproveitaram-se, principalmente, do estímulo que as novas doutrinas davam ao estudo, tanto para frequentar escolas como para aprender os princípios dessas religiões. Essa situação era bastante incomum em regiões católicas e possibilitou maior participação social de mulheres.
Catherine Zell (c. 1497-1562) foi um exemplo de mulher que teve grande participação na disseminação das Igrejas reformadas. Ela viveu na região de Estrasburgo, que atualmente faz parte do território francês, onde se casou com o reformador luterano Matthieu Zell. Durante toda a sua vida, ajudou na propagação da fé luterana na região onde vivia.
Assim como ela, Árgula von Grumbach (1492-1554) se empenhou em defender a Igreja Luterana, posicionando-se inclusive contra a própria família. Catarina de Bora (1499-1552) envolveu-se em debates teológicos importantes durante a Reforma e ajudou seu marido, Martinho Lutero, a questionar o poder da Igreja Católica.
Rachel Specht, calvinista inglesa, teve uma postura ainda mais radical. Além dos estudos bíblicos, escrevia poesias e assinava seu nome, não usava pseudônimo. Segundo ela, “se
Deus concedeu corpo, alma e espírito às mulheres, por que Ele daria todos esses talentos, se não para serem usados? Não usá-los seria uma irresponsabilidade”.

LIVROS: A IMPRENSA DE GUTENBERG

Durante a Idade Média, o processo de produção de um livro na Europa envolvia dois tipos de profissionais, além do autor: os copistas, que copiavam o texto original à mão em um pergaminho, e os iluminadores, artesãos especializados que
ilustravam o manuscrito com imagens (iluminuras).
Em meados do século XV, Johannes Gutenberg, nascido na cidade de Mainz, que atualmente pertence à Alemanha, aprimorou os tipos móveis de impressão, que haviam sido inventados na China durante o século XI e adotados em diversas partes da Ásia. Nessa técnica, as letras do alfabeto eram moldadas em pequenos blocos de chumbo (os tipos), que, colocados lado a lado, compunham palavras e frases.
Entre 1455 e 1456, o primeiro livro impresso na Europa, a Bíblia, saiu das prensas de Gutenberg. A partir de então, a imprensa tornou possível, com menores custos, a rápida reprodução de livros, que passaram a ser vendidos em livrarias, feiras e mercados. 
Os temas impressos eram muito variados: de orações e vida de santos a romances, histórias de cavalaria, trovas etc. Com a difusão da imprensa, o conhecimento e os ideais humanistas também se tornaram cada vez mais acessíveis não só aos estudiosos, mas aos burgueses em geral.
A imprensa teve um papel importante na divulgação das ideias de Lutero. Milhares de folhetos, alguns com gravuras, foram publicados em defesa da Reforma. Esse tipo de divulgação, que aliava o texto à imagem, alcançou e influenciou grande número de pessoas.

A Centralização do Poder nas Monarquias Europeias

França, Inglaterra, Portugal. Hoje é difícil imaginar a Europa sem esses países. Mas eles só começaram a se consolidar a partir da Alta Idade Média, paralelamente ao desenvolvimento do comércio e das cidades.

Até então, nos diversos reinos formados na Europa com a desagregação do Império Romano do Ocidente, os reis exerciam, principalmente, funções militares e políticas. Sem cumprir atividades administrativas, orei tinha seus poderes limitados pela ação da nobreza feudal, que, por serem os senhores da terra, controlava de fato o poder. Essa organização do poder é chamada monarquia feudal e sua principal característica era a fragmentação do poder.
A partir do século XI, em algumas regiões da Europa, as monarquias feudais iriam servir de base para a formação de governos centralizados: é o caso da França, da Inglaterra e de Castela (atual Espanha).
Os reis começaram então a concentrar grandes poderes, em parte por causa do apoio e do dinheiro recebido dos burgueses. 
A aliança entre rei e burguesia
Ao longo de algum tempo, a aproximação entre o rei e a burguesia colocaria fim à fragmentação do poder. Entretanto, isso não significou a exclusão da nobreza feudal do poder. Ela se manteve ligada ao rei e usufruindo de sua política.
Além dos reis, ganhariam importância nesse processo os burgueses, que se tornariam o grupo social de maior poder político e, sobretudo, econômico.

A formação das monarquias

Durante quase toda a Idade Média não existiam países como os que conhecemos hoje. Assim, morar em Londres ou em Paris não significava morar na Inglaterra ou na França. As pessoas sentiam-se ligadas apenas a uma cidade, a um feudo ou a um reino.
O processo de formação de monarquias com poder centralizado na Europa iniciou-se no século XI e consolidou-se entre os séculos XIV e XVI. Ao final de alguns séculos esse processo daria origem a muitos dos países atuais da Europa, como França, Portugal e Espanha. Entretanto, ele não ocorreu ao mesmo tempo e da mesma maneira em todos os lugares do continente. Em regiões como a península Itálica e o norte da Europa nem chegaria a se consolidar.
Quase sempre estiveram envolvidos nesse processo de centralização do poder os mesmos grupos sociais: os reis, a burguesia e os nobres feudais. Cada um desses grupos era movido por interesses próprios. Muitas vezes, radicalmente opostos.
Para a burguesia, novo grupo social que se formava, a descentralização política do feudalismo era inconveniente. Isso porque submetia os burgueses aos impostos cobrados pelos senhores e dificultava a atividade comercial pela ausência de uma moeda comum e de pesos e medidas padronizados.
Essas circunstâncias acabaram aproximando os burgueses dos reis. Interessados em concentrar o poder em suas mãos. Nessa aliança, a burguesia contribuía com dinheiro e o rei, com medidas políticas que favoreciam o comércio. O dinheiro da burguesia facilitava aos reis a organização de um exército para impor sua autoridade à nobreza feudal.
Essa mesma nobreza feudal, por sua vez, encontrava-se enfraquecida pelos gastos com as Cruzadas e tinha necessidade de um apoio forte, até mesmo para se defender das revoltas camponesas, que se intensificavam. Procurou esse apoio nos reis, apesar de muitas vezes se sentir prejudicada com a política da realeza em favor da Burguesia, que colocava fim a vários dos privilégios feudais. Dividido entre a burguesia e a nobreza feudal, o rei serviu como uma espécie de mediador entre os interesses dos dois grupos.

Organização do Estado português

Portugal surgiu como um feudo (o Condado Portucalense) do Reino de Leão, doado a um cavaleiro francês que havia se destacado na luta da reconquista, Henrique de Borgonha. Em 1139 Portugal proclamou sua independência do Reino de Leão e iniciou a expansão para o sul.
Por muito tempo, o reino português permaneceu envolvido na luta pela ex­pulsão dos mouros (conjunto de populações árabes, etíopes, turcomanas e afegãs) da península Ibérica. A luta terminou em 1249 com a vitória portuguesa e a conquista do Algarves (sul de Portugal).
Com o rei D. Dinis (1279-1325) interrompeu-se a reconquista no plano militar, iniciando-se um período de reorganização interna de Portugal. As fronteiras do país já estavam definidas.
Em 1383, com D. João, Mestre de Avis, teve início a dinastia de Avis. Isso se deu após o desfecho de uma luta político-militar denominada Revolução de Avis, em que a sucessão do trono português foi disputada entre o rei de Castela e D. João.
A vitória da Revolução de Avis foi também a vitória da burguesia portuguesa sobre a sociedade agrária e feudal que dominava o país. Com a dinastia de Avis, a nobreza agrária submeteu-se ao rei D. João. E este, apoiado pela burguesia, centralizou o poder e favoreceu a expansão marítimo-comercial portuguesa.
Todos esses acontecimentos fizeram de Portugal o primeiro país europeu a constituir um Estado absolutista e mercantilista.

Organização do Estado espanhol

Durante séculos, os diversos reinos cristãos que ocupavam o território espanhol (reinos de Leão, Castela, Navarra e Aragão) lutaram pela expulsão dos muçulmanos da península Ibérica. A partir do século XIII, só havia na Espanha dois grandes reinos fortes e em condições de disputar a liderança cristã da região: o de Castela e o de Aragão.
Em 1469, a rainha Isabel, de Castela, casou-se com o rei Fernando, de Aragão. O casamento de Fernando e Isabel unificou politicamente a Espanha. A partir desse momento, os espanhóis intensificaram as lutas contra os árabes, que ainda ocupavam a cidade de Granada, na parte sul do país. Após a completa ex­pulsão dos árabes, o poder real se fortaleceu e, com a ajuda da burguesia, a Espanha também se lançou às grandes navegações marítimas pelo Atlântico.

A Monarquia Francesa

Em 843, o Império Carolíngio foi dividido em três reinos, foram subdivididos em feudos governado por duques, marqueses e conde. Os reis passaram a ser suseranos, que dependiam dos nobres locais para a obtenção de soldados e rendimentos.
Em 987, com a subida ao trono de Hugo Capeto, um desses reinos, o da França, passaram a ser governado pelos capetíngios.
Filipe Augusto, da dinastia capetíngia, é considerado o primeiro rei a iniciar o processo de consolidação da Monarquia Francesa (1180-1223), as cidades começaram a ser libertadas do domínio dos senhores feudais, o que favoreceu a consolidação da burguesia. Apoiada por ela, Felipe impôs sua autoridade aos nobres. Durante seu governo, Paris passou a ser a capital da França.
O processo de consolidação da França foi impulsionado por Luís IX, (1226-1270). Ele criou uma moeda única, cuja aceitação tornou-se obrigatória em todo o território do reino. Contribuiu assim, para o comércio, facilitando a circulação de mercadorias.
Durante o reinado de Filipe IV (1285-1314), mais conhecido como Filipe, o Belo, os mercadores e banqueiros estrangeiros foram expulsos da França, porque queria cobrar impostos do clero francês. Com a morte do papa Bonifácio VIII, foi escolhido para substituí-lo o francês Clemente V. Em 1309, Felipe, o papado para a cidade francesa de Avignon (sudeste da França). Assim, a Igreja ficou sob o controle do rei francês. A sede da Igreja só voltaria para Roma em 1377.
A Monarquia Francesa se consolidaria, definitivamente, nos séculos XIV e XV, durante a Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Aliás, esse conflito seria importante também para a Inglaterra consolidar seu poder central, como veremos logo adiante.

A Monarquia Inglesa

Nas ilhas britânicas, em meados do século XI, havia quatro reinos: Escócia, País de Gales e Irlanda, formado por povos celtas, e Inglaterra, formada por povos anglo-saxões.
Em 1066, o duque Guilherme, da Normandia (região do norte da França), invadiu e conquistou a Inglaterra.
Guilherme, o Conquistador, como ficou conhecido, era vassalo do rei francês. Ele dividiu a Inglaterra em condados, para os quais nomeou um funcionário para representá-lo. Este funcionário tinha autoridade sobre todos os habitantes, fossem eles senhores ou camponeses. Com isso, Guilherme acabou fortalecendo o seu poder.
Em 1154, um nobre francês, Henrique Plantageneta, parente de Guilherme, herdou a Coroa do Reino da Inglaterra, passando a chamar-se Henrique II (1154-1189. Nesse período ocorre de fato a centralização do poder na Inglaterra.
Henrique II foi sucedido por seu filho, Ricardo Coração de Leão (1189-1199). Dos dez anos do seu governo, Ricardo ausentou-se da Inglaterra por nove anos, liderando a Terceira Cruzada e lutando no continente europeu para manter seus domínios nas Ilhas Britânicas. Essa longa ausência causou o enfraquecimento da autoridade real e o fortalecimento dos senhores feudais.
No reinado de João Sem-Terra (1199-1216), irmão de Ricardo, o enfraquecimento da autoridade real foi ainda maior. Após ser derrotado em conflito com a França e com o papado, João Sem-Terra foi obrigado pela nobreza inglesa, a assinar um documento chamado Magna Carta. Por esse documento, a autoridade do rei da Inglaterra ficava bastante limitada. Ele não podia, por exemplo, aumentar os impostos sem prévia autorização dos nobres. A Magna Carta estabelecia que o rei só podia criar impostos depois de ouvir o Grande Conselho, formado por bispos, condes e barões.
Henrique III (1216-1272), filho e sucessor de João Sem-Terra, além da oposição da nobreza, enfrentou forte oposição popular. Um nobre, Simon de Montfort, liderou uma revolta da aristocracia e, para conseguir a adesão popular, convocou um Grande Parlamento, do qual participava além da nobreza e do clero, representantes da burguesia. No reinado de Eduardo I (1272-1307), oficializou-se a existência do parlamento. Durante os reinados de Eduardo II e de Eduardo III, o poder do parlamento continuou a se fortalecer. Em 1350, o Parlamento foi dividido em duas câmaras: a Câmara dos Lordes, formada pelo clero e pelos nobres, e a Câmara dos Comuns, formada pelos cavaleiros e pelos burgueses.
Como podemos ver, na Inglaterra o rei teve seu poder restringido pela Magna Carta e pelo parlamento. Mas isso não significou ameaça à unidade territorial ou um poder real enfraquecido, muito pelo contrário. Comandada pelo rei, conforme os limites impostos pelo Parlamento, a Inglaterra torna-se-ia um dos países mas poderosos da Europa, a partir do século XVI. Até hoje, a Inglaterra é uma monarquia parlamentarista.

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