domingo, 24 de setembro de 2023

A AMÉRICA LATINA NO SÉCULO XIX

 A DESINTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA

Quando comparamos a emancipação política do Brasil com a dos demais países da América Latina, nos chama a atenção o fato de que se excetuarmos o Haiti - enquanto a América Portuguesa se manteve unida, a América Espanhola fragmentou-se em uma série de repúblicas. Os motivos deste fato são vários.
No caso brasileiro, a despeito da pouca integração econômica entre as regiões, as várias frações das classes dominantes tinham algo em comum a manter: o sistema escravista, um verdadeiro fator de unidade nacional, um elemento básico de homogeneização. No caso da América Espanhola, ao contrário, não existiu um componente social de tal força que fosse capaz de forjar uma unidade política.
No Brasil, a unidade dos senhores de terras ao redor da monarquia representou a criação de um Estado que garantisse a propriedade e a escravidão. Na América Espanhola, a unidade foi imposição do burocratismo centralizado da Metrópole na fase colonial, uma vez que a evolução histórica e a própria realidade geográfica indicaram um caminho que poderia ter sido seguido mesmo mais cedo.

A DEPENDÊNCIA DA AMÉRICA LATINA

Em 1826, Bolivar convocou os representantes dos países recém independentes para participarem da Conferência do Panamá, cujo objetivo era a criação de uma confederação pan-americana. O sonho boliviano de unidade política chocou-se, entretanto, com os interesses das oligarquias locais e com a oposição da Inglaterra e dos Estados Unidos, a quem não interessavam países unidos e fortes. Após o fracasso da Conferência do Panamá, a América Latina fragmentou-se politicamente em quase duas dezenas de pequenos Estados soberanos, governados pelas aristocracia criolla. Outros fatores que interferiram nessa grande divisão política foram o isolamento geográfico das diversas regiões, a compartimentação populacional, a divisão administrativa colonial e a ausência de integração econômica do continente. O pan-americanismo foi vencido pela política do "divida e domine".

"À emancipação e divisão política latino-americana segue-se nova dependência em relação à Inglaterra".

Assim, entre as principais consequências do processo de emancipação da América espanhola merecem destaque: a conquista da independência política, a consequente divisão política e a persistência da dependência econômica dos novos Estados. O processo de independência propiciou sobretudo a emancipação política, ou seja, uma separação da metrópole através da quebra do pacto colonial. A independência política não foi acompanhada de uma revolução social ou econômica: as velhas estruturas herdadas do passado colonial sobreviveram à guerra de independência e foram conservadas intactas pelos novos Estados soberanos.
Assim, a divisão política e a manutenção das estruturas coloniais contribuíram para perpetuar a secular dependência econômica latino-americana, agora não mais em relação à Espanha, mas em relação ao capitalismo industrial inglês. As jovens repúblicas latino-americanas, divididas e enfraquecidas, assumiram novamente o duplo papel de fontes fornecedoras de matérias-primas essenciais agora à expansão do industrialismo e de mercados consumidores para as manufaturas produzidas pelo capitalismo inglês.
Ao longo do século XIX, França, Reino Unido e Estados Unidos disputam entre si a hegemonia econômica e política sobre a América Latina, que representa fonte de matérias-primas e mercado para seus produtos industriais. Interferem nas disputas políticas internas, nas quais revezam-se ditaduras caudilhescas.

México – Perde quase metade de seu território em 1846, como resultado da guerra contra os Estados Unidos. Califórnia, Arizona, Novo México, Utah, Nevada e parte do Colorado passam ao domínio norte-americano. A suspensão do pagamento da dívida externa mexicana, em 1861, provoca a intervenção da Inglaterra, França e Espanha, resultando no domínio francês até 1867. Independente desde 1821, o México só consegue consolidar-se como Estado nacional entre 1876 e 1910 com a ditadura de Porfirio Díaz, o primeiro a ter controle sobre o conjunto do território.

Região do Prata – A influência inglesa mantém-se inalterada até a 1a Guerra Mundial (1914-1918), embora sofrendo a concorrência dos Estados Unidos, França e Alemanha. Ao Reino Unido interessam os produtos agrícolas e pecuários, os minérios e a manutenção do rio do Prata como área aberta à sua influência marítima. Em 1828 estimula a Guerra Cisplatina, que leva à independência do Uruguai, e em 1852 toma as ilhas Malvinas da Argentina.

Argentina – A presença de uma burguesia mercantil desenvolvida em Buenos Aires, associada ao capital internacional (principalmente inglês), acirra o conflito interno entre os unitários, partidários de um governo central forte, e os federalistas, favoráveis à autonomia regional. A ascensão de Juan Manuel Rosas ao governo de Buenos Aires marca o início de uma ditadura, de 1829 e 1852, que impõe a defesa da ordem civil e eclesiástica e resiste às pressões estrangeiras – o que não impede a ocupação das ilhas Malvinas pelo Reino Unido, em 1833. Em 1852, a aliança entre o Brasil e o caudilho de Corrientes, Justo José de Urquiza, derruba Rosas. Em 1853 é elaborada uma Constituição de caráter federalista, embora ainda com governo centralizado. Em 1859, a guerra civil entre Buenos Aires, independente desde 1854, e o governo federal termina com a integração, ao resto do país, daquela cidade, que, mais tarde, é declarada a capital. A fase posterior é de desenvolvimento econômico, colonização do interior e predomínio oligárquico.

Uruguai – Sua posição estratégica, junto ao rio do Prata, torna-o palco de disputas que remontam à fase colonial. Em 1821 é anexado ao Brasil, por Portugal, com o nome de Província Cisplatina. A Guerra da Cisplatina, entre Brasil e Argentina, pela posse da região, possibilita sua independência, em 27/8/1828. Mas não encerra as disputas fronteiriças com os latifundiários do Rio Grande do Sul. As intervenções brasileiras na região – em 1851, contra Manuel Oribe, e em 1864, contra Atanasio Aguirre, em apoio ao general Venancio Flores – têm como reação a intervenção paraguaia. É ela que está na origem da guerra entre esse país e a Tríplice Aliança.

Paraguai – Após a independência, em 1814, o caudilho José Gaspar Rodríguez de Francia, que governa ditatorialmente com o título de El Supremo, recusa a anexação à Argentina e isola o país. Em 1840 assume o presidente Carlos Antonio Lopez, que inicia os contatos com o exterior e uma política de desenvolvimento autônomo, que será continuada por seu filho, Francisco Solano López. Seus sonhos expansionistas, de criação do Grande Paraguai, terminam com a derrota para o Brasil, secundado pela Argentina e Uruguai (1870). O país fica numa crise profunda, arrasado social e economicamente.

Região do Pacífico – O capital inglês associa-se às oligarquias locais, estimulando a formação de Estados independentes (Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Chile). O Reino Unido se dedica principalmente à exploração de prata, cobre, salitre e outros minerais.

Chile – O autoritarismo de Bernardo O'Higgins o faz ser derrubado, em 1823, por Ramón Freire, ditador até 1826. A desordem que impera durante o governo do general Francisco Pinto leva à guerra civil e à ditadura de Diego Portales (1830-1841). Depois disso, com Manuel Bulnes, o país entra numa fase de estabilidade.

América Central – A hegemonia norte-americana ocorre desde o início do século XIX. Consolida-se com a desagregação da Federação das Províncias Unidas da América Central e com a oficialização da Doutrina Monroe como base da política exterior dos Estados Unidos. Estes intervêm na região para garantir concessões territoriais a monopólios agrícolas norte-americanos. A guerra pela independência de Cuba, iniciada em 1895 por José Martí e Antonio Maceo, serve de pretexto para a intervenção norte-americana e para o desencadeamento da guerra entre os Estados Unidos e a Espanha. Cuba conquista a independência em 1902, sob tutela dos Estados Unidos. Como resultado da derrota espanhola, em 1898, Porto Rico passa ao domínio norte-americano. Em 1903, por imposição da frota naval norte-americana, o Panamá separa-se da Colômbia e concede aos Estados Unidos a soberania sobre a Zona do Canal do Panamá.

O IMPERIALISMO E A DIVISÃO MUNDIAL

No final século XIX, aconteceu uma nova corrida colonialista, a exemplo do que havia acontecido no século XVI. O novo colonialismo apresentava diferenças, em relação ao antigo. Além das partes do mundo visadas serem a Ásia e a África, a burguesia industrial, responsável pela nova corrida colonialista, o fazia movida por outros interesses ou causas.

Enquanto no século XVI, a ação colonizadora esteve voltada notadamente para a América, no século XIX, as áreas de interesse ficavam na Ásia e na África e as principais potências colonizadoras foram a Inglaterra e a França, enquanto no antigo colonialismo, haviam sido Portugal e Espanha.

CAUSAS DO NOVO COLONIALISMO:

a) A necessidade de abrir mercados consumidores para a intensa produção industrial.
b) Conseguir fontes fornecedoras de matérias-primas (carvão, ferro, petróleo, borracha) para as indústrias europeias.
c) A necessidade de aplicar capitais fora da Europa: isso seria possível através da instalação e exploração de companhias ferroviárias, mineradoras e de navegação.
d) A possibilidade de desviar o excedente da população europeia.
e) A falta de alimentos que a Europa vinha se ressentindo na época. A possibilidade de aumentar os exércitos das metrópoles europeias.

Justificando a dominação

Para justificar a dominação sobre os outros povos, os europeus do século XIX usaram três argumentos principais:

1º) O europeu estava destinado a levar a civilização (o progresso técnico-científico e os “bons costumes”) aos povos não europeus.
2º) A “raça branca” é superior às outras (esse argumento está contido nas teorias raciais da época).
3º) As nações cristãs tinham o dever de cristianizar todos os povos que viviam mergulhados na “superstição” e na barbárie.

Valendo-se desses argumentos elitistas e racistas, as grandes potências industriais exploraram e mataram milhões de nativos da África e da Ásia, enquanto dividiam entre si as riquezas desses vastos continentes.

Tipos de colônia – O neocolonialismo desenvolve política que tem por eixo dois tipos de colônia: as colônias comerciais e as colônias de assentamento. As colônias comerciais devem fornecer matérias-primas e, ao mesmo tempo, constituir-se em mercados privilegiados para produtos e investimentos de capitais das metrópoles. As colônias de assentamento servem de áreas de recepção dos excedentes populacionais das metrópoles.

Imperialismo na África

O início da partilha da África, pelos ingleses, ocorreu em 1815. A Inglaterra, nesse período, comprou as colônias do Cabo e do Nata dos holandeses. Dessa forma, iniciou uma intervenção capitalista nesse continente: os negros passaram a fornecer matéria-prima para o mercado inglês, ao mesmo tempo em que se tornavam mão-de-obra barata.
A partir de 1830, haverá uma nova corrida rumo à África em busca de novos mercados, porém mais violenta do que a do século XVI, pois essa não respeitou a unidade linguística, religiosa e cultural dos povos africanos.
O neocolonialismo avança sobre o continente, a partir de 1870, quando a Alemanha e a Itália entram em disputa com a Inglaterra e a França pela conquista de territórios que sirvam como fontes de abastecimento de matérias-primas industriais e agrícolas e mercados para seus produtos. Portugal e Espanha conseguem manter alguns de seus antigos territórios coloniais.
A Conferência de Berlim, em 1884 e 1885, oficializa e estabelece normas para a partilha. Qualquer posse territorial deve ser comunicada às potências signatárias e toda potência estabelecida na costa tem direito ao interior do território, até defrontar com outra zona de influência ou outro Estado organizado.

Inglaterra – No fim do século XVIII e meados do século XIX, os ingleses, com enorme poder naval e econômico, assumem a liderança da colonização africana. Combatem a escravidão, já menos lucrativa, direcionando o comércio africano para a exportação de ouro, marfim e animais.Para isso estabelecem novas colônias na costa e passam a implantar um sistema administrativo fortemente centralizado na mão de colonos brancos ou representantes da Coroa inglesa. A Inglaterra dominou o Egito, o Sudão, a Rodésia, a Uganda, o Quênia, o Zanzibar, a Somália e África Oriental inglesa. No Ocidente, Gâmbia, Serra Leoa, Costa do Ouro e Nigéria.

Holanda – Os holandeses estabelecem-se na litorânea Cidade do Cabo, na África do Sul, a partir de 1652. Desenvolvem, na região, uma nova cultura e formam uma comunidade conhecida como africâner ou bôer. Mais tarde, os bôeres perdem o domínio da região para o Reino Unido na Guerra dos Bôeres.

França – Os domínios franceses iniciam-se na Argélia, depois Tunísia, África Ocidental francesa (Guiné, Senegal, Daomé, Níger, Costa do Marfim, Alto Volta e Mali). Região equatoriana (Gabão, Congo, Chade e República Centro-Africana) e; Marrocos e Madagáscar.

Bélgica – Dominou o Congo em 1908.

Alemanha – Dominou a África Oriental: Tanganica, Ruanda, Burundi. No Ocidente africano: Camerum, Togo e a Namíbia.

Itália – Os italianos criaram possessões na Somália, Eritréia, Líbia, e Etiópia.

Alemanha – Conquista Togo e Camarões (África ocidental), Tanganica e Ruanda-Burundi (África oriental) e Namíbia (África do sudoeste).

Portugal – Mantém as colônias instaladas na África ocidental (Cabo Verde, São Tomé, Príncipe, Guiné-Bissau), África do sudoeste (Angola e Cabinda) e África oriental (Moçambique).

Espanha – Continua com suas posses coloniais na África do norte (parte do Marrocos, ilhas Canárias, Ceuta, território de Ifni e Saara Ocidental) e na África ocidental (Guiné Equatorial).

A Guerra dos Bôeres (1899–1902)

Os Bôeres eram descendentes dos holandeses, que dominavam a região aurífera de Transvaall e de Orange. A Inglaterra, com a finalidade de explorar o ouro do sul da África, invadiu a região e impôs, após três anos de guerra, a sua dominação. Nos anos seguintes, verificou-se a corrida do ouro na África do Sul, quando grandes empresas mineradoras lá se instalaram.

IMPERIALISMO NA ÁSIA

Em geral, o modo de produção dos países asiáticos era formado pela união da pequena produção agrícola, com a indústria doméstica, compondo pequenas comunidades economicamente autossuficientes. O comércio de produtos europeus, principalmente os ingleses, destruiu rapidamente essa indústria artesanal, ficando a população local na exclusiva dependência da agricultura. Tornavam-se, assim, abastecedores de víveres e de matérias-primas da Europa.

Índia

Uma das regiões mais cobiçadas por diversas nações europeias, no decorrer dos séculos XVI a XIX, foi a Índia. Os ingleses, no século XIX, assenhorearam-se da maior parte de seu território até o Ceilão (Sri-Lanka). Astutamente, impediram o surgimento de um poder central forte e estabeleceram um regime de “protetorado” sobre a Índia – regime que, na prática, significava a intervenção na administração local.
Pela força ou pela intriga, os principados em que a Índia estava dividida iam sendo submetidos à administração da Companhia das Índias Orientais, companhia britânica que detinha o monopólio do comércio com o Oriente.
A presença britânica na Índia com a Companhia das Índias Orientais supera a concorrência portuguesa e francesa desde o século XVII. Contra essa hegemonia se rebelam, em 1857, as tropas nativas, ou cipaios. Em 1857, a Revolta dos Cipaios, primeiro movimento nacionalista indiano, colocou em perigo o domínio inglês, mas foi sufocada dois anos depois. O governo britânico dissolve a Companhia das Índias, reorganiza o exército colonial e converte a Índia em domínio britânico.
Em 1877, a rainha Vitória, soberana britânica, era sagrada imperatriz da Índia.Poucos meses depois, em 15 de agosto do mesmo ano, o escritor português Eça de Queiroz escrevia sobre a Índia em Crônicas de Londres: “A grande fome é sucedida por uma fome maior, e diante da calamidade os celeiros acham-se vazios, as economias, da nação, exaustas, o tesouro do governo gasto e a esperança perdida... Isso explica por que já morreram nas primeiras semanas de escassez 500 mil pessoas”.
O Reino Unido implanta em território indiano um sistema de ensino inglês, uma rede ferroviária e a modernização dos portos. Com seus produtos industriais mais baratos, destrói a economia rural autárquica e aumenta o desemprego. Os ingleses se expandem e criam Estados intermediários no Nepal e Butão. Entram no Tibete para garantir privilégios comerciais. Anexam a Birmânia (atual Mianmá ) e Ceilão (atual Sri Lanka ) e tentam disputar com os russos o domínio do Afeganistão. O domínio britânico faz surgir um movimento nacionalista entre setores das classes abastadas indianas, europeizadas nos colégios e universidades inglesas, onde tinham livre curso as idéias liberais e democráticas. Em 1885 é fundado o Congresso Nacional Indiano, com o objetivo de obter uma participação ativa na administração do país.

China

Até meados do século XIX os europeus mantêm feitorias no território chinês, por onde realizam o comércio com as metrópoles. A partir daí ocorre uma intensificação nas tentativas de dominar o mercado chinês por meio de guerras e conquistas.
Dificuldades impostas pelo governo central – Nos séculos XVII e XVIII, os europeus encontravam dificuldade para comerciar no interior da China. O governo central colocava empecilhos aos comerciantes estrangeiros que, mesmo assim, foram pouco a pouco penetrando no país. Ao contrário da Índia (onde se comerciava diretamente com os príncipes locais), a China mantinha sua unidade política, com o imperador fazendo sentir sua autoridade sobre as mais distantes províncias. Para cada negociação, o estrangeiro tinha de relacionar-se com o governo central. No século XIX, no entanto, o poder central praticamente já não detinha autoridade sobre o seu território.

Guerra do ópio

Inicialmente, os britânicos compravam chá, sem conseguir vender aos chineses algum produto em igual quantidade, mas descobriram que o ópio era uma mercadoria de grande aceitação entre os chineses. Com aprovação do governo britânico, a Companhia das Índias Orientais lançou-se à venda do ópio, que era produzido na Índia e na Birmânia. Os efeitos foram devastadores. O governo chinês reagiu, enviando uma carta diplomática à rainha Vitória, da Inglaterra, para que a Soberana proibisse o comércio de ópio ilegal na China. Mas o pedido não foi levado em consideração.
O comércio prosseguiu, levando as autoridades chinesas a promover, em 1839, a queima de 20 mil caixas da substância na cidade de Cantão. Os britânicos reagiram, declarando guerra à China; era o início da Guerra do Ópio.
Tratado de Nanquim – Em 1842, as tropas britânicas vitoriosas submetem a China ao Tratado de Nanquim, estabelecendo, entre outras cláusulas, a abertura de cinco portos chineses ao livre comércio, a imunidade e os privilégios especiais aos súditos britânicos e a transferência de Hong Kong à Grã-Bretanha.
Revolta Taiping – Em 1851, eclodiu uma revolta de camponeses, apoiada por populares das cidades que se espalhou da comarca de Yangtse para outras regiões chinesas. Conhecida como a revolta Taiping, só foi sufocada em 1864.

A divisão da China

No fim do século XIX, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão dividiam o imenso território chinês em diversas esferas de influência. Os nacionalistas chineses reagiam contra intervenção estrangeira e ao tíbio comportamento da dinastia Manchu, então ocupante do trono imperial. No norte da China, uma associação secreta, denominada Sociedade Secreta Harmoniosos Punhos Justiceiros, promoveu atentados e rebeliões contra estrangeiros e missionários cristãos.
Em 1900, com respaldo popular crescente, os boxers (eram os membros da associação secreta) sitiaram o bairro ocupado pelas delegações estrangeira em Pequim. Foi o início da Guerra dos Boxers, que se espalhou das zonas costeiras para as cidades que margeiam o rio Yang-tse. A luta terminou com a derrota dos chineses e a imposição pelas potências estrangeiras da política da Porta Aberta, pela qual a China era obrigada a fazer novas concessões econômicas.
Nacionalismo chinês – A partir de 1905 o nacionalismo se organiza com a fundação do Partido Nacional do Povo (Kuomintang) por Sun Yat-sen, que defende a democracia e a reforma econômica. Em 1911 tem início a revolução nacionalista, que proclama a República em 1912.

Japão

O primeiro contato entre japoneses e ocidentais ocorreu no período das grandes navegações, nos séculos XV e XVI. No século XVII, o comércio do Japão passou a ser monopólio de alguns poucos comerciantes holandeses. O isolamento japonês perdurou até 1853, ano em que a Esquadra Negra, sob o domínio do comandante Perry, forçou a abertura dos portos japoneses ao comércio com os Estados Unidos. No entanto o Japão, ainda na década de 1860, iniciou um “subimperialismo” sobre outras nações – China, Coréia e Taiwan (ou Formosa) –, industrializando-se. O período modernizador do Japão ficou conhecido como Era Meiji, que significa “governo esclarecido”.

Guerra Sino-Japonesa

Em 1868, após um longo isolamento, o Japão emerge disposto a se tornar uma potência mundial. Seis anos depois, envia tropas contra Formosa (Taiwan), com o objetivo de testar a resistência chinesa. Por pressão diplomática do Reino Unido recolhe as forças militares, recebendo uma “indenização” da China. O expansionismo japonês volta a se manifestar em 1879, com a anexação das ilhas Ryu-kyu. Mas o principal objetivo do Japão é a Coréia, situada em posição estratégica e possuidora de grandes reservas minerais, especialmente carvão e ferro.
Intervenção na Coréia – China e Coréia procuram desenvolver laços estreitos de colaboração por intermédio de acordos comerciais e militares. A China busca consolidar sua influência na região, principalmente modernizando as forças militares coreanas. Essa atitude provoca diversos confrontos armados entre facções pró-China e grupos favoráveis aos interesses do Japão, levando ambos os países a enviarem tropas ao território coreano para conter o conflito interno. Estabelecida a normalidade, o Japão, entretanto, decide não abandonar a Coréia, alegando que a situação ainda exige a presença das tropas japonesas para evitar novas rebeliões.
Conflito entre China e Japão – Tem início em agosto de 1894, com o bombardeamento de barcos japoneses pelas forças navais chinesas. O contra-ataque do Japão é rápido e fulminante, derrotando a China em pouco tempo. No início de 1895, o Japão invade a Mandchúria e a província de Shantung, toma Porto Arthur e controla o acesso marítimo e terrestre a Pequim. Em conseqüência, a China admite a derrota e, pelo Tratado de Shimonoseki, reconhece a independência coreana, abre mão das ilhas de Formosa e Pescadores e da península de Liaotung, na Mandchúria, paga uma indenização ao governo nipônico e abre quatro portos em seu território ao comércio japonês.

Expansão japonesa

É a conseqüência das duras condições de paz impostas à China, preocupando os governos da Rússia, França, Alemanha e Reino Unido. Para os dirigentes russos, a cessão da península de Liaotung ao Japão desequilibra o mapa político do Extremo Oriente. Assim, pedem a imediata modificação do tratado de paz, seguidos pelos governos da França e da Alemanha, temerosos do “perigo amarelo”. O Japão cede, exigindo, em contrapartida, um aumento da indenização paga pela China.

DISPUTA PELO IMPÉRIO OTOMANO

A decadência do Império Turco-Otomano começa por causas internas, como administração corrupta, enfraquecimento do Exército e rebeliões das nacionalidades submetidas. O processo é acelerado pelo avanço das potências européias sobre os Bálcãs e pelo domínio dos acessos marítimos ao mar Negro e ao Mediterrâneo oriental.

Guerra da Criméia

Começa com a invasão russa dos principados otomanos do Danúbio, em 1853. A Turquia recebe o apoio do Reino Unido, França e Sardenha, interessados em impedir que a Rússia controle os estreitos de Bósforo e Dardanelos. Em troca, permite a entrada de capitais ocidentais na Turquia. Mas na Conferência de Londres, em 1875, a Rússia obtém o direito de livre trânsito nos estreitos e, em 1877, inicia nova guerra contra a Turquia a pretexto de libertar os cristãos dos Bálcãs.
O Congresso de Berlim, em 1878, consagra a independência dos Estados balcânicos e as perdas turcas de Chipre, para o Reino Unido, da Armênia e parte do território asiático para a Rússia e da Bósnia-Herzegovina para o Império Austro-Húngaro. Em 1895 o Reino Unido apresenta um plano de partilha da Turquia, rechaçado pela Alemanha, que prefere garantir para si concessões ferroviárias.

A Segunda Revolução Industrial

 A partir de 1860, a indústria ampliou-se para outras regiões, como os Estados alemães, o norte da Itália, a Rússia, os Estados Unidos, o Japão e a Holanda. Nesse momento, começaram a ocorrer grandes inovações técnicas. O aço e os sintéticos foram utilizados como material industrial básico, e as principais fontes de energia eram a eletricidade e o petróleo.

Os setores industriais também se multiplicaram com o surgimento da indústria siderúrgica, petroquímica, eletroeletrônica e automobilística. Para completar esse quadro de mudanças profundas, Graham Bell inventou o telefone, facilitando sobremaneira as comunicações, cujos resultados podemos sentir no nosso cotidiano; a tecnologia passou a permitir a comunicação com qualquer parte do mundo, como se vivêssemos numa aldeia global.
Essas transformações costumam ser caracterizadas como a Segunda Revolução Industrial, cujos os principais resultados foram: a expansão do comércio, a integração do comércio em escala mundial e a aceleração do processo produtivo. Por fim, essa fase foi marcada pela concentração da produção e do capital em torno de grandes empresas.

- A industrialização na Alemanha: o desenvolvimento pode ser explicado pelas incentivas do governo, que liberou dinheiro para a instalação de empresas e adotou medidas de proteção a industrial nacional, e pela importância dada ao ensino das ciências aplicadas à produção industrial.
- A industrialização na Rússia: O desenvolvimento industrial foi estimulado pelo governo, que realizou empréstimos no exterior para a construção de estradas de ferro e para a instalação de empresas de diferentes ramos.
- A industrialização do Japão: Iniciou-se na segunda metade do século XIX, também promovida pela iniciativa estatal.
- A industrialização dos Estados Unidos: O grande salto ocorreu após a guerra civil. As leis protecionistas que amparavam a produção industrial e agrícola do país, a grande mão-de-obra barata, garantida pelas políticas de incentivo à imigração, são fatores que explicam a transformação dos Estados Unidos numa nação industrial e urbana poderosa.

1. O capitalismo monopolista

Essa nova fase da economia capitalista foi marcada pela concentração econômica da produção e do capital em torno de grandes empresas ou associações de empresas.
A livre concorrência das empresas capitalistas transformou-se numa verdadeira batalha de preços. Nessa batalha, as empresas mais poderosas e competitivas eliminavam as mais fracas. Dessa forma, surgiram os grandes conglomerados econômicos, concentrando enormes capitais e dominando, em alguns setores, toda a produção. E assim, surgiram os monopólios industriais, que, por sua vez, eliminavam a concorrência e fixavam preços em busca de uma maior lucratividade.

Esses monopólios são assim representados:

Cartéis – Formaram-se por meio de acordo entre grandes empresas que, para evitar os desgastes da concorrência, convencionam entre si formas de manutenção dos preços e de divisão de mercados. Os cartéis originaram-se na Alemanha.
Holding – Caracteriza-se quando uma grande companhia assume o controle de inúmeras outras por meio da compra da maior parte de suas ações, passando, então, a atuar de forma coordenada.
Trustes – Formam-se quando as grandes empresas, produtoras de determinadas mercadorias, eliminam ou absorvem as pequenas concorrentes e passam a monopolizar a produção, o preço e o mercado. Os trustes surgiram nos Estados Unidos.

O processo de concentração econômica também se desenvolveu no setor bancário. Os grandes bancos acabaram associando-se às grandes indústrias para financiar seus investimentos e participar dos lucros de seus projetos. A fusão do capital bancário com o capital industrial marcou essa nova fase do capitalismo, conhecido como capitalismo financeiro e monopolista, que foi caracterizado por:

1. Grande aumento da produção industrial que, para ser vendida, necessitava da ampliação dos mercados consumidores.
2. Grande acúmulo de capitais que também precisavam ser investidos em novos projetos lucrativos, fora de seus respectivos países.

2. Nasce o neocolonialismo

Ao decolarem rumo à industrialização, todas as nações capitalistas adotaram um conjunto de medidas protecionistas a fim de reservar seus mercados internos para as suas próprias indústrias. Em conseqüência disso e do crescimento da produção, passaram a necessitar de mercados, matérias-primas e áreas onde pudessem investir com a certeza de obter altos lucros. Decidiram, então, expandir-se em direção à África, à Ásia e a América Latina. O expansionismo dessas nações teve um caráter imperialista e neocolonialista.
O Imperialismo consiste na dominação econômica (com reflexos políticos e culturais) de um país sobre o outro. Exemplo: a atuação inglesa no Brasil do século XIX. Já o Neocolonialismo significa a dominação total de um país sobre outro. A maioria dos países africanos e asiáticos foi vítima do neocolonialismo, pois seus territórios foram conquistados e submetidos no plano econômico, político, administrativo, militar e cultural.
O colonialismo do século XIX (neocolonialismo), incrementado a partir de 1880, tem por base uma nova divisão econômica e política do mundo pelas potências capitalistas em ascensão. Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha experimentam um auge industrial e econômico a partir de 1870, seguidos pela França e Japão. Itália e Rússia ingressam na via da industrialização nesse mesmo período. Os monopólios e o capital financeiro de cada potência competem acirradamente pelo controle das fontes de matérias-primas e pelos mercados situados fora de seus países.
Na primeira metade do século XIX, a expansão européia foi limitada. A Inglaterra manteve seu domínio sobre a Índia, a parte mais importante de seu império ultramarino remanescente da época moderna e ocupou as cidades do Cabo e de Natal no sul da África. A França iniciou, em 1830, um longo processo de colonização da Argélia (norte da África).
A partir de 1870, o forte crescimento industrial, a intensa competição por mercados, a passagem do capitalismo à fase do capitalismo monopolista e a grave crise econômica de superprodução levaram os governos da Inglaterra, da França, da Alemanha, dos Estados Unidos e mais tarde do Japão a assumirem uma política expansionista em busca de novos mercados e áreas de investimentos, dando origem ao Imperialismo.
Essa política resultou na repartição quase completa da África na ocupação de vastos territórios da Ásia ou sua subordinação a influência europeia.
A burguesia europeia, na busca crescente de lucros passou a financiar a exploração de minas, as monoculturas, a eletrificação de cidades e a construção de portos, pontes, canais e ferrovias, a fim de favorecer o setor exportador de cada região sob sua influência. Assim, a dominação econômica de caráter mais geral trazida pelo Imperialismo, acrescentou-se a dominação política, quase sempre estabelecida através da conquista militar, caracterizando uma nova forma de Colonialismo.
Para a burguesia, o Estado que até então existia para preservar a propriedade e a segurança de seus cidadãos, deveria agora apoiar a política imperialista, garantindo o capital investido fora da Europa. "Nesse momento, ela (a burguesia) abandona a postura liberal, ou seja, de não intervenção do Estado em questões econômicas, para preservar sua taxa de lucro, deixando também de ser pacifista e humanista". (Arendt, Hannah. 0 Sistema Totalitário. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1978, p. 201.)
A posse de colônias significava ter o "status" de potência e não possuí-las era reconhecer uma situação de inferioridade em relação aos demais países industrializados. Nesse sentido, o Imperialismo esteve também ligado ao desenvolvimento do nacionalismo e converteu-se numa política nacional seguida pelos Estados europeus, financiados por fundos públicos e apoiada pela criação de aparelhos administrativos nas regiões ocupadas.

3. Crescimento e industrialização

Durante a segunda metade do século XIX ocorreu na Europa um rápido crescimento tecnológico e industrial. Essas mudanças afetaram a economia, a urbanização, os costumes e o padrão de vida de um considerável número de pessoas.
Novas paisagens urbanas
Londres, capital da Grã-Bretanha ̶ maior potência mundial até então ̶ era a cidade mais importante do Ocidente. Ela era considerada referência a civilização européia e, ao mesmo tempo, recebia produtos e pessoas de todas as regiões do planeta.
A crescente industrialização atraía migrantes da área rural. O governo precisava investir em infraestrutura como transportes, saneamento e moradias, porém o fluxo de pessoas que chegavam era bem superior ao esperado.
Por volta de 1850, Londres tinha uma população de aproximadamente 2,5 milhões de pessoas. Os mais ricos habitavam as áreas mais nobres e centrais, enquanto a maioria da população vivia em áreas mais distantes, os subúrbios. As moradias dos trabalhadores eram modestas e muitas vezes recebiam as fuligens das fábricas. Famílias mais numerosas tinham que compartilhar ambientes pequenos e desconfortáveis. Os serviços de saneamento básico raramente atingiam as áreas habitadas pelos proletários, o que provocava a propagação de doenças.
Mesmo com os problemas decorrentes da urbanização acelerada, a cidade tinha seus encantos. As inovações tecnológicas ̶ como a iluminação a gás e depois a eletricidade ̶ possibilitavam um novo estilo de vida. As pessoas podiam caminhar à noite e prolongar seus momentos de lazer.

O triunfo dos valores burgueses

A industrialização trouxe consigo o crescimento em quantidade e importância de trabalhadores qualificados como engenheiros, administradores, comerciantes e vendedores especializados, formando um grupo social intermediário, a classe média.
Havia muitas diferenças econômicas entre um industrial, um profissional liberal e um pequeno comerciante; mesmo assim, eles possuíam alguns valores comuns. Uma das idéias partilhadas era a crença de que o progresso econômico dependia do esforço individual.
Para os proprietários de indústrias e bancos, o princípio fundamental era o da liberdade econômica. Segundo eles, o progresso só seria atingido se houvesse livre condição para os investimentos, sem privilégios para os aristocratas nem a interferência do Estado.
Já para a classe média, que vivia a instabilidade dos processos econômicos, os mesmos princípios tinham outros significados. A defesa da propriedade e da liberdade econômica pressupunha uma liberdade política para que pudessem defender seus interesses. Por isso, lutavam por uma participação maior nas decisões políticas, como por exemplo, pela ampliação da base eleitoral.

A emergência da classe média

A classe média se beneficiou do progresso econômico que veio com a industrialização. O grupo passou então a valorizar a dedicação a trabalho como forma de realização pessoal e os estudos como maneira de ascender socialmente.
Aqueles que pertenciam à classe média procuravam imitar a forma de vida dos mais ricos, nas construções de suas moradias, nos hábitos culturais, na aquisição de produtos que representavam conforto ou distinção social.
Por fazer parte da burguesia, a classe média convivia com o desafio de enriquecer e ascender socialmente; mas os ricos de má administração dos recursos e de empobrecimento também existiam. Uma das diferenças do mundo burguês em relação ao mundo aristocrático do período anterior ao das revoluções é exatamente esta: o nobre poderia não ser endinheirado, mas possuía um estável prestígio político e social; os burgueses, alicerçados na liberdade e nos esforços individuais, até poderiam progredir e mudar de patamar social, mas não tinham garantia de permanecer nele.

O trabalho feminino

As mudanças econômicas do período industrial alteraram a função das mulheres na sociedade. As mais pobres trabalhavam nas fábricas e busca do sustento familiar. As mulheres com melhor instrução e condição social, mas que não eram ricas, trabalhavam em escritórios e no comercio.
O trabalho feminino passou a ser essencial para o orçamento familiar. Mulheres casadas e com filhos conciliavam o trabalho domestico com a profissão. As jovens solteiras também ajudavam no orçamento familiar.
Com o desenvolvimento acelerado das tecnologias, exigia-se cada vez mais a qualificação dos trabalhadores. As mulheres da classe média corresponderam rapidamente a essa demanda por mais estudos. A presença cada vez maior de meninas nas escolas transformou o magistério, abrindo essa carreira às mulheres.
A luta por direitos
Essa inserção no mercado de trabalho, porém, não veio acompanhada de conquistas sociais. O salário pago aos homens era bem maior do que o recebido pelas mulheres. Elas continuavam sem direitos hoje considerados essenciais, como o de votar.
Sob a influência dos princípios de igualdade liberais e socialistas, os movimentos feministas ganharam vulto nos países industrializados. Refutavam os argumentos que justificavam a inferioridade feminina e lutavam pelo princípio de igualdade entre homens e mulheres.
A primeira reivindicação das mulheres foi o direito ao voto. Com forte influência na Inglaterra e nos Estados Unidos, a causa feminina ganhou apoio naquelas sociedades, e no início do século XX, atingiu restante do mundo.

4. Europa no final do século XIX

Nas últimas décadas do século XIX, o surgimento de novas potências industriais, como a Alemanha e a Itália, levou países como a Inglaterra e a França a uma séria crise. Havia pontos de atrito, principalmente quando aqueles países exigiram uma revisão da divisão do mundo colonial.

Inglaterra

Os problemas que afligiam a indústria britânica deviam-se ao próprio pioneirismo da indústria nesse país. As máquinas inglesas datavam de meados do século XVIII. A aquisição de novas máquinas, que facilitariam e barateariam a produção, significava abandonar os investimentos feitos anteriormente em máquinas que ainda rendiam, embora obsoletas.
Apesar da crise da indústria britânica, o mundo inteiro investia nos bancos londrinos. Os lucros nesses negócios faziam crescer o poderio do setor bancário inglês.
O sistema político inglês era regido pelo Parlamento. A rainha Vitória (1837-1901) reinava, mas não governava. Entre 1867 e 1884, a Inglaterra passou por reformas políticas que aumentaram a influência da Câmara dos Comuns nas decisões políticas. O direito de voto atingiu integralmente as camadas mais pobres (com exceção das mulheres). Por essa razão, a situação de penúria dos trabalhadores passou a preocupar os partidos políticos ingleses. Reformas sociais foram feitas pelo ministro liberal Gladstone. Mas essas reformas não atendiam às reivindicações dos trabalhadores ingleses.
Em 1893, foi fundado o Partido Independente, de orientação marxista. Sua origem provocou o crescimento dos grandes sindicatos ingleses, os trade unions. Com o passar do tempo, esse partido se transformou no Partido Trabalhista, que até hoje está no cenário político inglês. Durante o reinado de Vitória, o poder ficava ora com Partido Liberal, de Gladstone, ora com o Partido Conservador, de Disraeli. Foi com Disraeli que a Inglaterra conheceu seu auge imperialista nos continentes da África e da Ásia.

França

Após a guerra franco-prussiana, a França viu declinar seu poderio industrial. As multas pagas para a Alemanha, a perda dos territórios da Alsácia e Lorena (ricas em ferro e carvão), além de seu parque industrial ultrapassado, fizeram com que os investimentos nessa área diminuíssem. A concentração de capitais ocorreu no setor bancário, onde alguns grandes bancos passaram a controlar os créditos disponíveis no país.
Com a derrota da Comuna de Paris, foi estabelecida a Terceira República, cujo poder ficava nas mãos da Câmara dos Deputados e do Senado. Nessa época, foram lançadas as bases de uma política imperialista, voltada para a conquista e manutenção de colônias em outros continentes.

Alemanha

Com a unificação e a política econômica adotada pelo Reich alemão, a indústria germânica conheceu um surto de desenvolvimento que rapidamente superou o nível tecnológico da França e da Inglaterra. As encomendas do Exército e o programa de expansão ferroviária favoreceram a formação de poderosos complexos industriais e financeiros ligados ao desenvolvimento bélico alemão.
Também a agricultura alemã sofreu modificação no final do século XIX. As grandes propriedades se modernizaram, e os servos, libertos, passaram a trabalhar como assalariados.
O crescimento da classe operária alemã, concentrada nos grandes centros industriais, criou as bases sociais necessárias para que o movimento operário se unificasse, fundando o Partido Social-Democrata Alemão (1875). Por outro lado, formou-se uma aliança entre a grande burguesia alemã e os latifundiários. Dentro do Parlamento (Reichstag), esse processo fortaleceu a bancada do Partido Conservador.
O eleitorado do Partido Social-Democrata crescia. Para combater a popularidade do movimento socialista, Bismark instituiu uma legislação garantindo direitos sociais para a classe operária. Essas leis, entretanto, não impediram que, nas eleições de 1890 para o Reichtag, o partido socialista conseguisse uma expressiva margem de votos. Diante desse quadro indicativo do descontentamento popular, o novo imperador, Guilherme II, conseguiu a demissão de Bismarck e assumiu pessoalmente a liderança do governo. Guilherme II exigia participação na partilha imperialista do mundo, fato que gerou constantes atritos da Alemanha com outras potências mundiais.

Itália

Após a unificação, o Norte da Itália industrializou-se rapidamente. Isso se deu graças à política adotada pelo governo em 1887, de caráter protecionista, com altas taxas alfandegárias, e de incentivo ao investimento estrangeiro, que veio suprir a falta de capital da indústria italiana.
A estrutura agrária do Sul era marcada pela presença de grandes latifúndios explorados pelo sistema de parceria, isto é, o camponês entrava com o trabalho, ferramentas e parte da produção para pagar o aluguel da terra ao proprietário. O protecionismo alfandegário adotado pelo governo dificultava a agricultura do Sul, voltada para as exportações.
Três problemas se interpunham ao desenvolvimento italiano: o pequeno mercado consumidor agrícola e com poucas possibilidades de crescimento, a falta de capital para a indústria e a falta de mercado de trabalho assalariado estável.
A participação eleitoral na Itália unificada era de apenas 2% da população, pois, para exercer o direito de voto para a Câmara, era necessário ter mais de 25 anos, ser alfabetizado e pagar, pelo menos, 40 liras de imposto anual.
Após a morte de Vitor Emanuel II, subiu ao trono Humberto I, que organizou um gabinete de tendência liberal. Esse gabinete iniciou algumas reformas, como a estatização do ensino primário e uma reforma eleitoral, aumentando a porcentagem de eleitores para 7% da população.
Apesar das reformas, a situação continuou tensa. Em 1900, Humberto I foi assassinado e subiu ao trono Vitor Emanuel III, seu filho. .

Unificações europeias

O Congresso de Viena (1814-1815) determinou que os atuais territórios da Itália e da Alemanha fossem repartidos em diversos Estados e submetidos, em sua maior parte, ao domínio estrangeiro.

Os povos naturais desses territórios, entretanto, não aceitaram a divisão feita pelas potências conservadoras reunidas em Viena. Por isso, não demoraram a promover movimentos nacionalistas, visando transformar suas nações em Estados nacionais independentes.

A unificação italiana

Por decisão do congresso de Viena, a região onde é hoje a Itália foi dividida em pequenos Estados:
· Reino Sardo-Piemontês: governado por uma dinastia italiana. Era autônomo e soberano;
· Reino Lombardo-Veneziano: governado pela Áustria;
· Ducados de Parma, Módena e Toscana: governados por duques subservientes à Áustria;
· Estados Pontifícios: governados pelo papa;
· Reino das Duas Sicílias (Sicílias e Nápoles): governado pela dinastia dos Bourbon.

As lutas pela Itália

A unidade nacional era um antigo desejo acalentado por milhares de nacionalistas italianos. Contudo, as primeiras lutas do movimento de unificação italiana só tiveram início depois da decisão do Congresso de Viena, que transformava a atual Itália numa “colcha de retalhos”.
As primeiras tentativas de libertar o território italiano da dominação estrangeira foram feitas por uma organização revolucionária denominada Jovem Itália.
Liderada por Giuseppe Mazzini, republicano, a Jovem Itália defendia a independência e a transformação da Itália numa república democrática por meio da insurreição popular.
Em 1848, os seguidores de Mazzini promoveram levantes contra a dominação austríaca em diversos pontos do território italiano. Embora inicialmente tenham obtido sucessos militares, acabaram vencidos pelo poderoso exército austríaco.
Apesar disso, o ideal nacionalista continuou ainda mais forte em toda a península Itálica.
A partir dessa época, a luta pela unificação passou a ser encabeçada pelo Reino Sardo-Piemontês, cujo rei era Victor Emanuel II e o primeiro-ministro, o conde de Cavour, um grande proprietário rural.
Cavour, um dos líderes do Rissorgimento – movimento que pretendia fazer a Itália reviver seus tempos de glória –, representava todos os que desejavam a unificação em torno do Piemonte, com o estabelecimento de uma monarquia constitucional.
Para alcançar seu objetivo, Cavour obteve o apoio da burguesia e dos proprietários rurais e pôs em prática um plano de modernização da economia e do exército do Piemonte. Ao mesmo tempo, procurou aproximar-se da França, a fim de conseguir ajuda militar para enfrentar a Áustria.
Depois de estabelecer uma aliança secreta com a França de Napoleão III, Cavour começou a usar a imprensa para provocar a Áustria. Esta, por sua vez, respondeu declarando guerra ao reino Sardo-Piemontês.
Com a ajuda da França, o exército de Cavour obteve expressivas vitórias nessa guerra. Derrotada, a Áustria foi forçada a entregar ao Reino Sardo-Piemontês a Lombardia e os ducados de Parma, Módena e Toscana, cujos habitantes também haviam se engajado na luta pela unidade nacional.
Quase ao mesmo tempo, dando continuidade à luta pela unificação, o revolucionário Giuseppe Garibaldi, à frente de mil voluntários conhecidos como camisas vermelhas, atacou o Reino das Duas Sicílias e criou condições para sua libertação do domínio estrangeiro.
A seguir, os habitantes do Reino das Duas Sicílias decidiram, por intermédio de um plebiscito, que também desejavam ser governados pelo rei Victor Emanuel II.
Com a maior parte do atual território sob seu controle, em 1861 Victor Emanuel II foi proclamado rei da Itália. Entretanto, para que a unidade italiana se completasse, era preciso efetuar ainda a conquista de Veneza e Roma. Veneza foi incorporada no ano de 1866, em conseqüência de uma guerra na qual Prússia e Itália, unidas, derrotaram a Áustria.
Roma foi anexada em 1870 e, no ano seguinte, passou a ser a capital do país. A conquista de Roma pelo exército de Victor Emanuel II efetivou-se quando as tropas francesas que a protegiam tiveram de abandoná-la, pois a França havia entrado em guerra contra a Áustria.
Com a anexação de Roma, completou-se a unificação da Itália.
O papa Pio IX, entretanto, não aceitou a perda dos domínios territoriais da Igreja. Por isso, rompeu relações com o governo italiano, considerou-se prisioneiro e fechou-se no Vaticano. Nascia assim a chamada Questão Romana, só resolvida em 1929, ano em que o papa Pio XI e Benito Mussolini assinaram o Tratado de Latrão. Por esse acordo, criou-se dentro da cidade de Roma, o minúsculo Estado do Vaticano, que é dirigido pela Igreja Católica e possui aproximadamente 0,5 Km² de superfície.

A unificação alemã

O Congresso de Viena (1815) dividiu a região onde é hoje a Alemanha em 39 Estados independentes. Todos esses Estados e a Áustria passaram a compor a chamada Confederação Germânica.
A presidência da Confederação cabia à Áustria, país que era radicalmente contrário à unificação alemã. Unida, a Alemanha seria um vizinho poderoso e, portanto, indesejável do ponto estratégico.
Já a Prússia, que depois da Áustria era o Estado mais influente da Confederação, vinha sendo palco de inúmeros movimentos nacionalistas favoráveis à unidade política desses territórios.
No início do século XIX, um dos principais obstáculos à unificação da Alemanha era a existência de uma grande quantidade de barreiras alfandegárias entre os diversos Estados alemães.
Percebendo isso, a Prússia passou a lutar pela eliminação dessas barreiras. Em 1834, deu-se um grande passo nessa direção: sob a liderança da Prússia, foi criado o zollverein, ou seja, a união alfandegária entre os diversos Estados alemães.
Ao possibilitar a livre circulação de mercadorias, o zollverein estimulou o comércio entre os Estados alemães e deu um enorme impulso à indústria e ao transporte ferroviário.
Possuidora de imensas reservas de carvão e ferro e de uma burguesia vigorosa, a Prússia largou na frente: na década de 1850, tornou-se o mais industrializado de todos os Estados que compunham a Confederação Germânica e, na década seguinte, assumiu o comando do processo de unificação alemã.

Bismarck, o “Chanceler de Ferro”

Corria o ano de 1862 quando Guilherme I, rei da Prússia, confiou o cargo de primeiro-ministro ao astuto, habilidoso e determinado Otto Von Bismarck.
Como primeiro-ministro, Bismarck incentivou e modernizou o exército prussiano e propôs a liderar a unificação alemã. Conduzida por Bismarck, a unificação alemã concretizou-se por meio de três guerras: contra a Dinamarca (1864) contra a Áustria (1866) e contra a França (1868-1870).
Com o objetivo de conquistar os ducados dinamarqueses de Schleswig e Holstein, cuja população era predominantemente alemã, a Prússia aliada à Áustria, atacou e, meses depois, venceu a pequena Dinamarca. Em conseqüência dessa guerra, os vencedores dividiram os territórios conquistados: a Prússia ficou com o Schleswig e a Áustria com o Holstein.
Tempos depois, Bismarck usou como desculpa o fato de que a administração austríaca no ducado de Holstein era ineficiente e ocupou-o militarmente, com o objetivo de provocar a Áustria.
O resultado dessa provocação foi a explosão da Guerra Austro-Prussiana, na qual a Prússia, ajudada pela Itália e pelos Estados alemães do norte, venceu a Áustria em apenas sete semanas. Curvando-se ao poderio prussiano, a Áustria foi obrigada a aceitar a dissolução da Confederação Germânica e assinar o Tratado de Praga, pelo qual ficava estabelecido que:
· os Estados alemães do Norte, sob a liderança da Prússia, passavam a formar a Confederação Germânica dos Estados do Norte;
· a Áustria reconhecia o direito da Prússia sobre os ducados de Schleswig e Holstein e entregava Veneza à Itália.
Os Estados do Sul, por sua vez, recusava-se a aceitar a liderança prussiana e mantiveram-se neutros. De sua parte, Bismarck preferiu contornar a situação e evitou entrar em conflito com os alemães do Sul.
O “Chanceler de Ferro” entendia que, para completar a unificação alemã, o ideal era “fabricar” uma guerra contra um inimigo externo, pois isso uniria todos os alemães em torno do ideal nacionalista.
Essa guerra, na opinião dele, deveria ser contra a França, país que vinha dando inúmeras provas de que não desejava a união da Alemanha. Quando a França, respondendo a uma provocação de Bismarck, declarou guerra à Prússia, todos os alemães se uniram para enfrentá-la. A Guerra Franco-Prussiana teve início em 1868 e estendeu-se por dois anos.
Depois e vencerem os franceses na Batalha de Sedam, em 1º de setembro de 1870, e de aprisionarem Napoleão III, os alemães atravessaram Paris e chegaram a Versalhes, onde, em 18 de janeiro de 1871, na Sala dos Espelhos do palácio, Guilherme I foi coroado imperador do II Reich (império) alemão. Meses depois, franceses e alemães assinaram o Tratado de Frankfurt, um acordo de paz através do qual a França ficava obrigava a pagar para a Alemanha uma vultosa indenização (5 bilhões de francos-ouro) e a entregar-lhe a Alsácia-Lorena, região riquíssima em minério de ferro.
Unificada, dona de um território rico em carvão e ferro, com um governo amplamente favorável à industrialização, a Alemanha progrediu de modo espetacular a partir de 1871. Duas décadas depois, já tinha se tornado a primeira potência industrial da Europa.

Os Estados Unidos no século XIX

Após terem se libertado da Inglaterra e aprovado uma Constituição que definia os Estados Unidos como uma república federativa presidencialista, os norte-americanos elegeram George Washington como seu primeiro presidente.

Ele procurou aumentar o prestígio do governo central, estimulou o crescimento da indústria e da agricultura e incentivou a colonização das terras situadas a oeste dos montes Apalaches, dando início a um gigantesco movimento de expansão territorial rumo ao Pacífico (oeste), que modificou profundamente o mapa e a história dos Estados Unidos.

1. A marcha para o Oeste

A ocupação do Oeste ganhou um forte impulso a partir do início do século XIX, quando o governo passou a oferecer terras a preços muito baixos e facilidades para os que concordassem em desbravar o interior do continente.
Atendendo a esse apelo, uma verdadeira multidão – formada de imigrantes irlandeses, alemães e ingleses e de habitantes do litoral – partiu em carroças ou em pequenos navios pelo Mississipi-Missouri em direção ao Oeste. As primeiras levas de pessoas começaram a chegar ainda nas primeiras décadas do século. Vindos da Inglaterra, Alemanha e Irlanda, entre outros lugares, esses imigrantes passavam por sérias dificuldades financeiras em seus países de origem, além de perseguições políticas ou religiosas. No Novo Mundo, eles esperavam encontrar liberdade, oportunidade de trabalho e de riqueza.
A maioria das pessoas que desembarcaram nos Estados Unidos se instalou nas cidades da costa Leste, principalmente no Norte do país, que, à época, seduzia pelas oportunidades de trabalho nas fábricas. No final do século XIX, Nova York, Boston e Chicago já contavam com intensas atividades fabris e comerciais. O crescimento populacional foi tão intenso que a expansão do território passou a ser vista como uma necessidade.
As terras situadas além dos Apalaches, porém, eram ocupadas por centenas de povos indígenas que reagiram à invasão de seus territórios. Houve, então, uma série de conflitos entre esses povos e os desbravadores que, só no período entre 1800 e 1860, resultou no extermínio de cerca de 700 mil índios. Outros milhares, ainda, acabaram confinados em inúmeras reservas criadas pelo governo. Foi dessa forma que as terras dos nativos acabaram passando às mãos dos colonizadores.
Além de valer-se da desapropriação de terras indígenas, a expansão territorial norte-americano fez-se também por meio da compra de territórios de acordos diplomáticos e da guerra contra o México.
Em 1803, o governo dos Estados Unidos comprou a Louisiana da França por 5 milhões de dólares e, em 1819, para obter a Flórida, pagou à Espanha 15 milhões. Por via diplomática, conseguiu da Inglaterra o Maine e o Oregon.
A guerra contra o México explodiu em 1846 e teve como causa principal a anexação do Texas, que havia sido incorporado ao território norte-americano no ano anterior. Ao término dessa guerra, vencida pelos Estados Unidos, o México foi obrigado a ceder metade de seu antigo território. Além do Texas, perdeu a área onde é hoje a Califórnia, Nevada, Utah, Arizona, Colorado e Novo México.
Logo em seguida, descobriu-se ouro na Califórnia, fato que provocou uma nova onda migratória em direção ao Oeste. Na época dessa “corrida do ouro”, os Estados Unidos já eram donos de um território imenso, banhado por dois oceanos: o Atlântico e o Pacífico.
Na década de 1860, atendendo às necessidades criadas pela rápida industrialização do Nordeste, iniciou-se a construção das primeiras ferrovias norte-americanas. Sua principal função era garantir o transporte de matérias-primas e alimentos entre o Oeste e o Leste.
Após comprarem o Alasca da Rússia, e, 1867, os Estados Unidos adquiriram praticamente o seu atual contorno.

A Lei de Terras

Com a constante chegada de imigrantes no século XIX, as cidades da costa atlântica dos Estados Unidos logo concentraram grande contingente populacional. Essa situação gerava uma pressão crescente pela expansão territorial.
As regiões a oeste do rio Mississípi, que contavam com baixa densidade demográfica e eram habitadas por indígenas, como por exemplo os Sioux, tornaram-se alvo dos governos norte-americanos.
Com o propósito de resolver a questão, o então presidente Abraham Lincoln promulgou, em 1862, a Lei de Terras (Homestead Act) de acordo com essa lei, as “terras vazias” do Oeste passaram a ser consideradas de “domínio público”, isto é, pertenciam ao governo. A posse dessas terras ficou condicionada ao trabalho e aos melhoramentos realizados nelas. Como o modo de vida tradicional das comunidades indígenas não vinha ao encontro desses objetivos, os nativos não eram considerados proprietários das terras que habitavam.
A lei autorizava chefes de famílias ou maiores de 21 anos que nunca tivessem se envolvido em luta armada contra o país a migrarem para o oeste e se apossarem de parte das terras públicas. Após cinco anos de ocupação, a posse se tornaria definitiva. Essa medida permitiu que as consideradas “terras vazias” fossem ocupadas por colonos e contribuiu para que a população de imigrantes não se concentrasse somente nas cidades próximas ao Atlântico.

A corrida do ouro

Após a descoberta de ouro em Coloma, na Califórnia, em 1848, milhares de aventureiros dirigiram-se para o Oeste. Norte-americanos, europeus, mexicanos, chineses povoaram rapidamente a região. Os povoados nasceram e desapareceram conforme a descoberta e o esgotamento das minas. O auge da mineração na Califórnia ocorreu em 1855. Já em 1860, a produção caiu sensivelmente, tanto que os mineradores partiram para a exploração de novas jazidas de ouro no Colorado, em Nevada e no Arizona.
Os mineiros viviam isolados nos acampamentos, a dezenas de quilômetros das cidades. Moravam em barracões de madeira ou em tendas toscamente mobiliadas. Alimentavam-se de feijão e carne de porco, feitos em grande quantidade para vários dias para poupar o tempo gasto no preparo das refeições. Trabalhavam ao ar livre, de segunda a sábado, durante a primavera e o verão, quando o clima permitia. No inverno, consertavam as ferramentas e se preparavam para a próxima temporada. Aos domingos, iam para o vilarejo mais próximo, onde faziam as compras para a semana, recebiam correspondências e divertiam-se nos saloons.

A expulsão dos indígenas

A conquista dos territórios a oeste do rio Mississípi foi desastrosa para as populações indígenas. Os nativos não eram considerados de suas terras nem dotados de civilização e dos valores norte-americanos. Pelo contrário, eram vistos como obstáculos ao progresso e à expansão rumo ao Pacífico.
Os nativos foram gradativamente “empurrados” para o Oeste. Apesar de esse processo ter se acelerado após a promulgação da Lei de Terras, a expulsão dos indígenas de suas terras começou em 1830, com a Lei de Remoção dos Índios, que autorizava o governo norte-americano a negociar e transferir os indígenas para reservas chamadas “territórios indígenas”, em Oklahoma.

O Destino Manifesto

Além do argumento jurídico presente na Lei de Terras, a expulsão norte-americana era entendida como comprimento de um Destino Manifesto, uma missão civilizatória determinada pela própria Providência Divina. Essa idéia era coerente com a crença na predestinação, muito difundida nos Estados Unidos pela tradição religiosa puritana.
A expressão Destino Manifesto foi usada pela primeira vez em 1845, pelo jornalista norte-americano John O’Sullivan. Ele acreditava, assim como boa parte da sociedade norte-americana da época, que os Estados Unidos tinham como missão moral levar o progresso e a civilização para seus vizinhos “selvagens” e “atrasados”. Por conseguinte, a ampliação do território dos Estados Unidos era considerada algo natural, que isentava de culpa o povo e os governantes daquele país. A marcha para o Oeste, sobre os territórios indígenas e mexicanos era, portanto, inevitável (destino) e evidente (manifesto).

2. A Guerra de Secessão (1861-1865)

Enquanto os Estados Unidos expandiam-se até o Pacífico, os habitantes do Norte e do Sul do país divergiam cada vez mais.
Os desentendimentos entre o Norte (que se industrializava num ritmo acelerado) e o Sul (que ainda desenvolvia uma agricultura para a exportação, baseada em mão-de-obra escrava) explicam-se principalmente pelas diferenças de interesses entre as suas camadas dominantes. Tais divergências refletiam-se nos planos econômico e político. A burguesia do Norte não conseguia impor seu ponto de vista à nação porque há tempos a política do país vinha sendo dirigida por sulistas ou por pessoas que sintonizavam com os interesses do Sul.

O conflito

O resultado das eleições presidenciais de 1860 trouxe uma grata surpresa para os nortistas: o presidente eleito, Abraão Lincoln, era um abolicionista moderado e um defensor intransigente das indústrias e da unidade norte-americana.
Reagindo à vitória de Lincoln, a Carolina do Sul decidiu separar-se da União e, pouco depois, foi imitada por outros dez estados escravistas. Acontecia a secessão.
Em fevereiro de 1861, os estados separatistas fundaram a República dos Estados Confederados da América, que era presidida por Jefferson Davis e tinha como capital Richmond, na Virgínia. Três meses depois, começava a guerra civil norte-americana.
No decorrer do conflito, que provocou a morte de 620 mil pessoas, os nortistas impuseram sua superioridade econômica e militar, que estava fundamentada nos seguintes pontos: uma população de cerca de 20 milhões de habitantes; um parque industrial capaz de produzir grandes quantidades de armas, munições e roupas; uma eficiente rede de transporte (ferrovias, portos); e uma ágil e poderosa Marinha. O Sul tinha uma população de aproximadamente 10 milhões de habitantes, dos quais 3,5 milhões eram escravos, e poucas indústrias.
Em fins de 1862, no auge da guerra, o presidente Lincoln decretou a abolição da escravatura, conseguindo, com isso, enfraquecer os sulistas e aumentar o seu prestígio político.
Depois de sucessivas derrotas militares e da ocupação de sua capital pelas forças nortistas, os confederados finalmente renderam-se (9/4/1865). Profundos ressentimentos, porém, continuaram opondo sulistas e nortistas. Abraão Lincoln, reeleito presidente foi assassinado por um sulista fanático; o racismo contra os negros explodiu com toda a força.
Elementos da classe dirigente sulista, de mentalidade escravista, inconformados com a possibilidade de ascensão do negro, fundaram várias associações racistas – como a violentíssima Ku-klux-klan, tristemente conhecida por perseguir, intimidar e matar negros.

Depois da guerra

O sul, região onde ocorreu a maior parte das operações militares da Guerra de Secessão foi seriamente prejudicado pelos conflitos. Suas plantações foram arrasadas, muitas cidades destruídas. Com isso, sua economia amargou uma crise resultante da escassez de mão-de-obra (libertos, os negros fugiram das fazendas) e do aumento da concorrência no mercado internacional do algodão.
Mesmo assim, nos anos que se seguiram à guerra, os Estados Unidos entraram em um período de grande prosperidade econômica, graças à especular expansão industrial do Norte.
Essa expansão foi favorecida pelo governo americano, o qual aprovou leis de proteção à indústria, estimulou a entrada de mão-de-obra e capital europeu e financiou a construção de extensas ferrovias.
Por isso, no final do século XIX, os Estados Unidos já tinham se transformado numa das maiores potências do mundo.

3. Política externa

No início do século XIX, os Estados Unidos adotaram uma política externa voltada, principalmente, para o continente americano. E sob o pretexto de defender a liberdade, os norte-americanos passaram a intervir nos países latino-americanos e também em outras regiões do mundo.

A Doutrina Monroe

Em 1823, o então presidente dos Estados Unidos, James Monroe, enviou uma mensagem ao Congresso afirmando que os “continentes americanos”, livres e independentes, não poderiam mais ser colonizados por potências europeias.
Essa mensagem, aprovada pelo Congresso, deu origem à política externa norte-americana conhecida como Doutrina Monroe, cujo lema era: “A América para os americanos!”.

Em linhas gerais, a Doutrina Monroe definia que:

- os países americanos não poderiam ser recolonizados;
- as potências européias não deveriam interferir na política nem na economia desses países;
- os Estados Unidos não se envolveria nos assuntos especificamente europeus.

A mensagem do presidente norte-americano era clara: os Estados Unidos deveriam se tornar os “protetores” legítimos da América. O surgimento da Doutrina Monroe esteve relacionado a dois outros processos: as emancipações políticas nas Américas espanholas e portuguesas (desde 1810) e a reorganização do continente europeu após as guerras napoleônicas e o Congresso de Viena (1815). Monroe temia que o restabelecimento do absolutismo na Europa viesse acompanhado de uma tentativa recolonizar a América.
Nos anos 1870, quando os Estados Unidos começaram a se recuperar da guerra de secessão e a aumentar o seu poder econômico e militar, a Doutrina Monroe foi retomada e isso intensificou a influência norte-americana na América.

Roosevelt e o Big Stick

O crescimento econômico e industrial nas décadas finais do século XIX permitiu que o governo dos Estados Unidos desse mais atenção à política internacional.
Em 1904, o presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, leu no Congresso uma mensagem relembrando a restrição à interferência europeia na América (Doutrina Monroe) e acrescentando a necessidade da intervenção dos Estados Unidos no continente americano. Essa mensagem ficou conhecida como Corolário Roosevelt.
Dizendo-se preocupado com a crise econômica e política pela qual passavam algumas do Caribe e da América Latina, Roosevelt retomou o projeto de interferir na política interna desses países sob o argumento de protegê-los.
Sua atuação diplomática ficou conhecida como política do Big Stick ou “Grande Porrete”: “fale macio, mas tenha um porrete em mãos”. Ou seja, os Estados Unidos não relutariam em lançar mão da força caso esta fosse necessária para defender seus interesses.
O grande porrete americano
Na passagem do século XIX para o XX, os Estados Unidos interferiram algumas vezes na política interna dos países da América Latina, como no processo de independência de Cuba e na Revolução Mexicana. A influência norte-americana já havia chegado ao Caribe e ao México e, com o tempo, avançaria cada vez mais na direção sul do continente. O plano expansionista também se voltou para além da América Latina. Na região do Pacífico, os norte-americanos conquistaram o arquipélago do Havaí e o Alasca, no Noroeste da América do Norte.
Essas intervenções foram interpretadas por muitos estudiosos como uma necessidade econômica para se ampliar o território e obter matérias primas e mercados consumidores. Outros pesquisadores consideram que os norte-americanos continuavam movidos pelo ideal do Destino Manifesto.

Os Estados Unidos e a independência cubana

Mesmo após os processos de emancipação ocorridos no Caribe, a Espanha manteve seu domínio sobre Cuba e a ilha vizinha, Porto Rico. Os cubanos já haviam tentado a independência em uma sangrenta e longa guerra (1868-1878) e, depois, na década de 1890. Mas os espanhóis conseguiram vencer os revoltosos.
Foi somente depois da intervenção dos Estados Unidos na guerra que a independência de Cuba se efetivou, em 1898. Porém, a participação dos Estados Unidos nesse processo custou caro a Cuba. A partir de então, o governo norte-americano passou a intervir diretamente na política interna cubana.

A questão do canal do Panamá

A região do atual Panamá era estratégica para os planos norte-americanos de expansão, pois era propícia à construção de uma passagem que ligasse os oceanos Atlântico e Pacífico.
Com esse objetivo em mente, o presidente Roosevelt retomou a antiga ideia de abrir um canal no istmo do Panamá. Porém, aquela região pertencia à Colômbia, que se opôs a abertura.
A solução foi retirar a região do domínio colombiano. Para isso, o governo norte-americano estimulou uma “rebelião separatista” no Panamá e, quando o conflito se iniciou, os Estados Unidos enviaram militares para lutar ao lado dos rebeldes e garantir a independência da região. Em troca, o governo norte-americano conseguiu a autorização para a construção e para a exploração do canal.
O canal do Panamá começou a ser construído ainda na década de 1880, por uma iniciativa francesa. Porém, os Estados Unidos tomaram a frente do negócio durante o governo de Roosevelt e o canal foi inaugurado em 1914. Somente em 1999 o canal passou a ser administrado totalmente pelo Panamá.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...