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A AMÉRICA LATINA NO SÉCULO XIX

 A DESINTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA

Quando comparamos a emancipação política do Brasil com a dos demais países da América Latina, nos chama a atenção o fato de que se excetuarmos o Haiti - enquanto a América Portuguesa se manteve unida, a América Espanhola fragmentou-se em uma série de repúblicas. Os motivos deste fato são vários.
No caso brasileiro, a despeito da pouca integração econômica entre as regiões, as várias frações das classes dominantes tinham algo em comum a manter: o sistema escravista, um verdadeiro fator de unidade nacional, um elemento básico de homogeneização. No caso da América Espanhola, ao contrário, não existiu um componente social de tal força que fosse capaz de forjar uma unidade política.
No Brasil, a unidade dos senhores de terras ao redor da monarquia representou a criação de um Estado que garantisse a propriedade e a escravidão. Na América Espanhola, a unidade foi imposição do burocratismo centralizado da Metrópole na fase colonial, uma vez que a evolução histórica e a própria realidade geográfica indicaram um caminho que poderia ter sido seguido mesmo mais cedo.

A DEPENDÊNCIA DA AMÉRICA LATINA

Em 1826, Bolivar convocou os representantes dos países recém independentes para participarem da Conferência do Panamá, cujo objetivo era a criação de uma confederação pan-americana. O sonho boliviano de unidade política chocou-se, entretanto, com os interesses das oligarquias locais e com a oposição da Inglaterra e dos Estados Unidos, a quem não interessavam países unidos e fortes. Após o fracasso da Conferência do Panamá, a América Latina fragmentou-se politicamente em quase duas dezenas de pequenos Estados soberanos, governados pelas aristocracia criolla. Outros fatores que interferiram nessa grande divisão política foram o isolamento geográfico das diversas regiões, a compartimentação populacional, a divisão administrativa colonial e a ausência de integração econômica do continente. O pan-americanismo foi vencido pela política do "divida e domine".

"À emancipação e divisão política latino-americana segue-se nova dependência em relação à Inglaterra".

Assim, entre as principais consequências do processo de emancipação da América espanhola merecem destaque: a conquista da independência política, a consequente divisão política e a persistência da dependência econômica dos novos Estados. O processo de independência propiciou sobretudo a emancipação política, ou seja, uma separação da metrópole através da quebra do pacto colonial. A independência política não foi acompanhada de uma revolução social ou econômica: as velhas estruturas herdadas do passado colonial sobreviveram à guerra de independência e foram conservadas intactas pelos novos Estados soberanos.
Assim, a divisão política e a manutenção das estruturas coloniais contribuíram para perpetuar a secular dependência econômica latino-americana, agora não mais em relação à Espanha, mas em relação ao capitalismo industrial inglês. As jovens repúblicas latino-americanas, divididas e enfraquecidas, assumiram novamente o duplo papel de fontes fornecedoras de matérias-primas essenciais agora à expansão do industrialismo e de mercados consumidores para as manufaturas produzidas pelo capitalismo inglês.
Ao longo do século XIX, França, Reino Unido e Estados Unidos disputam entre si a hegemonia econômica e política sobre a América Latina, que representa fonte de matérias-primas e mercado para seus produtos industriais. Interferem nas disputas políticas internas, nas quais revezam-se ditaduras caudilhescas.

México – Perde quase metade de seu território em 1846, como resultado da guerra contra os Estados Unidos. Califórnia, Arizona, Novo México, Utah, Nevada e parte do Colorado passam ao domínio norte-americano. A suspensão do pagamento da dívida externa mexicana, em 1861, provoca a intervenção da Inglaterra, França e Espanha, resultando no domínio francês até 1867. Independente desde 1821, o México só consegue consolidar-se como Estado nacional entre 1876 e 1910 com a ditadura de Porfirio Díaz, o primeiro a ter controle sobre o conjunto do território.

Região do Prata – A influência inglesa mantém-se inalterada até a 1a Guerra Mundial (1914-1918), embora sofrendo a concorrência dos Estados Unidos, França e Alemanha. Ao Reino Unido interessam os produtos agrícolas e pecuários, os minérios e a manutenção do rio do Prata como área aberta à sua influência marítima. Em 1828 estimula a Guerra Cisplatina, que leva à independência do Uruguai, e em 1852 toma as ilhas Malvinas da Argentina.

Argentina – A presença de uma burguesia mercantil desenvolvida em Buenos Aires, associada ao capital internacional (principalmente inglês), acirra o conflito interno entre os unitários, partidários de um governo central forte, e os federalistas, favoráveis à autonomia regional. A ascensão de Juan Manuel Rosas ao governo de Buenos Aires marca o início de uma ditadura, de 1829 e 1852, que impõe a defesa da ordem civil e eclesiástica e resiste às pressões estrangeiras – o que não impede a ocupação das ilhas Malvinas pelo Reino Unido, em 1833. Em 1852, a aliança entre o Brasil e o caudilho de Corrientes, Justo José de Urquiza, derruba Rosas. Em 1853 é elaborada uma Constituição de caráter federalista, embora ainda com governo centralizado. Em 1859, a guerra civil entre Buenos Aires, independente desde 1854, e o governo federal termina com a integração, ao resto do país, daquela cidade, que, mais tarde, é declarada a capital. A fase posterior é de desenvolvimento econômico, colonização do interior e predomínio oligárquico.

Uruguai – Sua posição estratégica, junto ao rio do Prata, torna-o palco de disputas que remontam à fase colonial. Em 1821 é anexado ao Brasil, por Portugal, com o nome de Província Cisplatina. A Guerra da Cisplatina, entre Brasil e Argentina, pela posse da região, possibilita sua independência, em 27/8/1828. Mas não encerra as disputas fronteiriças com os latifundiários do Rio Grande do Sul. As intervenções brasileiras na região – em 1851, contra Manuel Oribe, e em 1864, contra Atanasio Aguirre, em apoio ao general Venancio Flores – têm como reação a intervenção paraguaia. É ela que está na origem da guerra entre esse país e a Tríplice Aliança.

Paraguai – Após a independência, em 1814, o caudilho José Gaspar Rodríguez de Francia, que governa ditatorialmente com o título de El Supremo, recusa a anexação à Argentina e isola o país. Em 1840 assume o presidente Carlos Antonio Lopez, que inicia os contatos com o exterior e uma política de desenvolvimento autônomo, que será continuada por seu filho, Francisco Solano López. Seus sonhos expansionistas, de criação do Grande Paraguai, terminam com a derrota para o Brasil, secundado pela Argentina e Uruguai (1870). O país fica numa crise profunda, arrasado social e economicamente.

Região do Pacífico – O capital inglês associa-se às oligarquias locais, estimulando a formação de Estados independentes (Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Chile). O Reino Unido se dedica principalmente à exploração de prata, cobre, salitre e outros minerais.

Chile – O autoritarismo de Bernardo O'Higgins o faz ser derrubado, em 1823, por Ramón Freire, ditador até 1826. A desordem que impera durante o governo do general Francisco Pinto leva à guerra civil e à ditadura de Diego Portales (1830-1841). Depois disso, com Manuel Bulnes, o país entra numa fase de estabilidade.

América Central – A hegemonia norte-americana ocorre desde o início do século XIX. Consolida-se com a desagregação da Federação das Províncias Unidas da América Central e com a oficialização da Doutrina Monroe como base da política exterior dos Estados Unidos. Estes intervêm na região para garantir concessões territoriais a monopólios agrícolas norte-americanos. A guerra pela independência de Cuba, iniciada em 1895 por José Martí e Antonio Maceo, serve de pretexto para a intervenção norte-americana e para o desencadeamento da guerra entre os Estados Unidos e a Espanha. Cuba conquista a independência em 1902, sob tutela dos Estados Unidos. Como resultado da derrota espanhola, em 1898, Porto Rico passa ao domínio norte-americano. Em 1903, por imposição da frota naval norte-americana, o Panamá separa-se da Colômbia e concede aos Estados Unidos a soberania sobre a Zona do Canal do Panamá.

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