A ERA DAS GRANDES NAVEGAÇÕES
Em 1415, os portugueses conquistaram Ceuta, cidade do norte da África e importante entreposto comercial e militar dos muçulmanos. Após essa conquista, os portugueses obtiveram informações sobre um reino africano situado ao sul do Saara que seria muito rico em ouro: o Reino do Mali. O governo português deu início, então, a uma série de empreendimentos com o objetivo de conquistar esse reino e se apoderar de suas riquezas.
O processo de expansão posto em prática pelo governo de Portugal pode ser dividido em duas fases. A primeira fase foi a da conquista da costa atlântica da África. Começou em 1418, quando os portugueses iniciaram as viagens pelo litoral africano, e terminou em 1487, quando alcançaram o extremo sul do continente africano.
A segunda fase é conhecida como Era das Grandes Navegações e abrange o processo de exploração dos oceanos em busca de novas riquezas, rotas comerciais e territórios coloniais. Começou em 1498, quando uma frota portuguesa comandada por Vasco da Gama (1469-1524) chegou às Índias, na Ásia, depois de percorrer a costa atlântica da África.
A chegada às Índias por um caminho marítimo tinha grande importância para os portugueses porque, depois da conquista de Constantinopla pelos turcos, os mercados europeus passaram a ter grandes dificuldades em conseguir produtos do Oriente. Dentre eles, destacam-se tecidos, objetos de porcelana e especiarias, como pimentas, noz-moscada, cravo e canela, os quais tinham grande procura no mercado europeu.
Pode-se dizer que a Era das Grandes Navegações terminou no início do século XVII, com as novas rotas de comércio já estabelecidas pelos europeus e praticamente todas as regiões do globo interligadas.
A Europa na época das Grandes Navegações já era capitalista na fase comercial (XV-XVIII). Nessa fase, já havia relações assalariadas de produção, e a atividade comercial constituía-se na principal fonte de acumulação de capital. A economia da Europa era conduzida por um conjunto de práticas econômicas conhecido como mercantilismo, que ficou marcado pelas seguintes características:· Acumulação de ouro e prata determinando o poder de uma nação.
· Desenvolvimento do comércio como principal atividade.
· Balança comercial superavitária.
· Protecionismo alfandegário.
· Intervenção estatal na economia.
· Monopólio comercial.
· Exploração colonial.
O que se costuma chamar usualmente de “descobrimento” na verdade representa um processo de conquista de novas áreas que viessem atender à expansão do capitalismo. Era preciso acumular metais preciosos, já que havia uma escassez desses metais na Europa. Era preciso conquistar novas regiões que pudessem ser, ao mesmo tempo, exportadoras de matérias-primas e produtos agrícolas e consumidoras dos produtos manufaturados europeus. A chegada dos portugueses ao Brasil, no fim do século XV, e sua permanência nos séculos seguintes, devem ser entendidas tanto sob o aspecto político como o econômico de uma Europa que estava em expansão capitalista e necessitava de novos mercados que atendessem à sua política mercantilista.
A Europa antes das Grandes Navegações (XIII e XIV)
Nessa época, o Mar Mediterrâneo constituía um eixo econômico por meio de rotas marítimas pelas quais chegavam à Europa produtos vindos do Oriente – perfumes, tapetes, seda e principalmente as especiarias (pimenta, gengibre, noz-moscada, cravo, etc.) –, que eram utilizados na preparação e conservação de alimentos.
Esses produtos oriundos do Oriente (Índia, Pérsia, China e Japão) vinham por rotas monopolizadas pelos árabes, que realizavam comércio no principal centro, Constantinopla (atualmente Istambul, Turquia). Os produtos comercializados em Constantinopla eram transportados por comerciantes e mercadores italianos, principalmente genoveses e venezianos.
Podemos dizer que os comerciantes detinham o monopólio da revenda das especiarias e de outros produtos na Europa. Por isso, era preciso buscar um novo caminho para conseguir os produtos orientais que não fosse via Mediterrâneo, e assim quebrar o monopólio italiano. Aí começa uma nova etapa na vida dos comerciantes da Europa, enfrentando o “Mar Tenebroso” para chegar diretamente à fonte de riquezas, mudando o eixo econômico da Europa. Seria o adeus ao domínio italiano. Mas quem reuniria as condições para desbancar os italianos?
As Grandes Navegações (XV)
Vários fatores econômicos, políticos e culturais impulsionaram as Grandes Navegações.
Vejamos alguns desses fatores:
- O monopólio italiano sobre as especiarias fazia que os comerciantes impusessem preços altos, e isso prejudicava os interesses comerciais de quem comprava dos italianos, pois para revender iriam cobrar mais caro ainda.
- A ação do Estado (monarquia) que desejava a consagração do poder político abre um processo de centralização que começa nos fins do século XIV, com Portugal. Esse Estado se aliou à camada mercantil, a quem garantiu monopólio do comércio sobre as áreas conquistadas. A burguesia mercantil viu a possibilidades de aumentar muito seus lucros se eles conquistassem o Oriente. Nesse caso, o acordo entre o Estado e a burguesia mercantil foi importante para garantir o sucesso na conquista do além-mar e tornar Portugal senhor dos domínios orientais.
- As inovações tecnológicas foram importantes no domínio das navegações.
O aperfeiçoamento da bússola e do astrolábio e a invenção da caravela garantiram o sucesso para a expansão marítima. O domínio do canhão, da pólvora e de outras armas fez que os europeus se impusessem sobre os povos do Oriente e, com isso, vantagens econômicas e políticas foram garantidas aos europeus.
- A primazia de iniciar as Grandes Navegações coube aos ibéricos, primeiro Portugal e depois a Espanha. Você imagina por que Portugal foi o pioneiro nas Grandes Navegações? Veja que razões o fizeram iniciar esse processo de conquista de além-mar.
· Apoio financeiro da burguesia mercantil interessadíssima em conquistar o Oriente para ter seus lucros quadruplicados.
· Boa localização geográfica.
· Domínio sobre o mar.
· Conhecimentos náuticos.
· Paz interna e externa.
· Centralização do poder nas mãos do rei.
Para que Portugal fosse o destaque era preciso exercer um poder centralizado. E como se deu esse processo de centralização política? Em Portugal, ocorreu por meio de lutas. A Revolução de Avis (1383-85) trouxe ao poder D. João I, que se aliou aos interesses burgueses para fortalecer o Estado moderno.
O início das Grandes Navegações deu-se em 1415, quando os portugueses conquistaram Ceuta, no norte da África. Isso nos leva a refletir sobre o plano de navegação portuguesa para alcançar o Oriente. Os portugueses, senhores dos mares, pretendem viajar contornando as costas africanas e atingir o Oriente.
Na luta para alcançar seus objetivos, os portugueses conquistam as Ilhas do Atlântico: Madeira, em 1419; Açores, em 1431 e Cabo Verde, em 1456. Nessa região, os portugueses desenvolveram o cultivo da cana-de-açúcar, que, no século XVI, será a principal economia do Brasil.
Por volta de 1488, o conquistador português Bartolomeu Dias chega ao extremo sul da África. Devido às condições do local, ele o batiza de Cabo das Tormentas. O Estado muda o nome para Cabo da Boa Esperança, pois certamente tinha esperança de concretizar seus sonhos navegadores de conquistar o Oriente. Com essa conquista ao extremo sul da África, os portugueses já se julgavam donos do Atlântico, e não admitiriam concorrência pelo controle do novo eixo econômico.
A Espanha foi o segundo país a se lançar em busca do caminho para as Índias orientais. Sua centralização monárquica ocorreu com o casamento de Fernando de Aragão com Isabel de Castela. Resolvida essa situação, a Espanha contratou os serviços do italiano Cristóvão Colombo para garantir sucesso nas navegações.
Mas Colombo adotou um plano diferente daqueles projetados pelos portugueses: ele pretendia navegar pelo Ocidente (oeste) para atingir o Oriente (leste). Convicto de que a Terra era redonda, fundamentado nos postulados de Ptolomeu, cujos cálculos reduziam as medidas de circunferência do Planeta, Colombo partiu com três caravelas: Santa Maria, Pinta e Nina. No dia 12 de outubro de 1492, chegaram à ilha de Guanaani (hoje República Dominicana). Colombo pensou ter alcançado as Índias orientais, e chamou os nativos de índios, erro que se comete até hoje. Cristóvão Colombo ainda realizou outras viagens no que seria chamado de Novo Mundo.
Mais tarde, outro navegador italiano, Américo Vespúcio, no século XVI, a serviço da Espanha, retorna às terras “descobertas” por Colombo e faz novas conclusões: Cristóvão Colombo não teria realmente chegado ao Oriente, havia chegado a novas terras. O novo continente recebeu o nome de América para homenagear Américo Vespúcio.
Com as Grandes Navegações, a expressão “Novo Mundo” foi utilizada para se referir à América. Em contraste, “Velho Mundo” passou a denominar as áreas banhadas pelo Mar Mediterrâneo, incluindo a Europa.
A expressão “Novo Mundo” popularizou-se graças às cartas do navegador florentino Américo Vespúcio (1454-1512). Essas cartas, publicadas em 1503, fizeram um sucesso enorme e ajudaram a divulgar a “descoberta” de um novo continente. Depois disso, foi publicado pela primeira vez na Europa um mapa-múndi que mostrava a América.
Em suas cartas, Vespúcio descreveu o “Novo Mundo” como uma terra de natureza exuberante repleta de animais selvagens e homens e mulheres nus. Influenciado por ideias renascentistas e cristãs, o navegador comparou o continente americano ao paraíso. Segundo Vespúcio, os habitantes da América viviam muitos anos, da mesma maneira que os antigos homens descritos na Bíblia, na parte do Velho Testamento.
O “Novo Mundo” era, ao mesmo tempo, estranho e familiar aos europeus. Acreditava-se que nele haveria monstros e animais peçonhentos dignos do inferno. Mas também havia liberdade, inocência e fartura dignas do paraíso. O bem e o mal, o paraíso e o inferno foram projetados sobre a América e seus habitantes.
A ideia da América como um “Novo Mundo” deve ser entendida em seu contexto. Isso porque a América era uma novidade para os europeus, que tinham acabado de “descobrir” esse continente. Mas não era uma terra nova para os indígenas, que viviam aqui há milhares de anos.
A chegada de Cristóvão Colombo à América, em 1492, gerou divergências entre as nações ibéricas (Portugal e Espanha), pois a Espanha metera-se numa região da qual Portugal se considerava dono: Atlântico. Na visão dos portugueses, ou a Espanha se retira do Atlântico ou será expulsa pela força das armas. Será que Portugal e Espanha entraram em guerra? O papa da época, Alexandre VI, em 1493, propôs um acordo para impedir o conflito armado. Este acordo ficou conhecido como Bula Inter Coetera. Ficou decidido que seria traçada uma linha imaginária a 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. As terras que fossem conquistadas a oeste seriam da Espanha, e a leste seriam de Portugal. O Estado português não aceitou esse acordo, ainda mais porque o papa era espanhol.
Somente em 1494, foi assinado o acordo que acalmou os ânimos belicosos entre os ibéricos: o Tratado de Tordesilhas, que estabeleceu um novo meridiano, 370 léguas a oeste de Cabo Verde. Este tratado já atendia aos interesses portugueses no oceano Atlântico. Dez anos após chegar ao Cabo da Boa Esperança, a expedição portuguesa comandada por Vasco da Gama, em 1498, chega ao Oriente. Conquista a cidade de Calicute, na Índia. A sua volta para Portugal trazia boas perspectivas para o Estado e para a classe mercantil. A expedição levou para Portugal um carregamento de especiarias maior do que se vendia anualmente em Gênova. Essas especiarias vendidas na Europa geraram um lucro aos comerciantes portugueses de aproximadamente 6.000%.
Nessa mesma época, uma expedição comandada por Duarte Pacheco veio investigar terras no Atlântico Sul (futuras terras brasileiras) e retornou a Portugal dizendo da existência de tais terras. Era preciso que o Estado mandasse uma nova expedição para tomar posse das terras “descobertas”.
Para alcançar os objetivos sobre o comércio oriental e as terras no Atlântico sul, o Estado mandou a expedição de Pedro Álvares Cabral, que partiu de Lisboa em 9 de março de 1500 com duas metas:
- Tomar posse das terras no Atlântico Sul (futuras terras brasileiras).
- Consolidar o comércio das especiarias orientais garantindo monopólio para Portugal.
Os portugueses em terras brasileiras
Em 1500, o governo português enviou uma esquadra à Índia com a intenção de estabelecer comércio com os povos do Oriente. Em 9 de março daquele ano, treze navios partiram de Lisboa com destino a Calicute. Mais de mil tripulantes estavam a bordo, incluindo navegadores experientes. O comando dessa esquadra foi entregue ao nobre português Pedro Álvares Cabral (1467-1520).
No decorrer da viagem, os navios da esquadra se afastaram da costa africana, indo em direção às terras americanas. As razões desse afastamento têm sido motivo de debate entre os historiadores: a mudança de rumo foi intencional ou ocorreu por acaso?
Em 22 de abril de 1500 chegava 13 caravelas liberadas pelo Pedro Álvares Cabral. A primeira vista, eles acreditavam tratar-se de um grande monte, e chamaram de Ponte Pascal. No dia 26 de abril foi celebrada a primeira missa no Brasil. Após deixarem o local em direção à Índia, Cabral, na incerteza se a terra descoberta se tratava de um continente ou de uma grande ilha, alterou o nome para Ilha de Vera Cruz. Com a exploração feita por outras expedições portuguesas, eles viram que se tratava de um continente e mais uma vez o nome foi mudado, chamando-se Terra de Santa Cruz.
Em 1511, com a exploração, eles descobriram o pau-brasil. Novamente o continente obteve um outro nome: Brasil, como é conhecido hoje. Os comerciantes dessa madeira foram chamados “brasileiros”, mas essa expressão passou a designar, com o tempo, os colonos nascidos no Brasil. As áreas do continente americano dominadas por Portugal também são chamadas de América Portuguesa.
A descoberta do Brasil ocorreu no período das grandes navegações, quando Portugal e Espanha exploravam o oceano em busca de novas terras. Poucos anos antes da descoberta do Brasil, em 1492, Cristóvão Colombo, navegando pela Espanha, chegou a América, fato que ampliou as expectativas dos exploradores.
Diante do fato de ambos terem as mesmas ambições e com objetivo de evitar guerras pela posse das terras, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Tordesilhas, em 1494.
De acordo com este acordo, Portugal ficou com as terras recém descobertas que estavam a leste da linha imaginária (200 milhas a oeste das ilhas de Cabo Verde), enquanto a Espanha ficou com as terras a oeste desta linha.
Mesmo com a descoberta das terras brasileiras, Portugal continuava empenhado no comércio com as Índias, pois as especiarias que os portugueses encontravam lá eram de grande valia para sua comercialização na Europa. As especiarias comercializadas eram: cravo, pimenta, canela, noz moscada, gengibre, porcelanas orientais, seda, etc.
Enquanto realizava este lucrativo comércio, Portugal realizava no Brasil o extrativismo do pau-brasil, explorando da Mata Atlântica toneladas da valiosa madeira, cuja tinta vermelha era comercializada na Europa. Neste caso foi utilizado o escambo, ou seja, os indígenas recebiam dos portugueses algumas bugigangas (apitos, espelhos e chocalhos) e davam em troca o trabalho no corte e carregamento das toras de madeira até as caravelas.
Exploração de Pau-Brasil
A primeira riqueza explorada pelo europeu em terras brasileiras foi o pau-brasil (caesalpinia echinata), árvore que existia com relativa abundância em largas faixas da costa brasileira. O interesse comercial nessa madeira decorria da possibilidade de extrair-se dela uma substância corante, comumente utilizada para tingir tecidos.
Antes da conquista da América indústria europeia de tintas comprava o pau-brasil trazido do Oriente pelos mercadores que atuavam nas rotas tradicionais do comércio indiano. Após a conquista do Brasil, tornava-se mais lucrativo extraí-lo diretamente de nossas matas litorâneas.
O rei de Portugal não demorou a declarar a exploração do pau-brasil um monopólio da coroa portuguesa. Oficialmente, ninguém poderia retirá-lo de nossas matas sem prévia concessão da coroa e o pagamento do correspondente tributo. A primeira concessão para explorar o pau-brasil foi fornecida a Fernão de Noronha, em 1501, que estava associada a vários comerciantes judeus. Os Franceses, que não reconheciam a legitimidade do Tratado de Tordesilhas, agiam intensamente no litoral brasileiro, extraindo a madeira sem pagar os tributos exigidos pela coroa portuguesa.
O esquema montado para a extração do pau-brasil contava, essencialmente, com a importante participação do indígena. Só as tripulações dos navios que efetuam o tráfico não dariam conta, a não ser de forma muito limitada, da árdua tarefa de cortar árvores de grande porte como o pau-brasil, que alcança um metro de diâmetro na base do tronco e 10 a 15m de altura.
A princípio, o trabalho do índio era conseguido "amigavelmente" com o escambo. Este consistia, basicamente, em derrubar as grandes árvores, cortá-las em pequenas toras, transportá-las até a praia e, daí, aos locais onde estavam ancorados os navios.
Escambo - troca de bens e serviços sem a intermediação do dinheiro. Logo após a chegada dos portugueses no Brasil, o escambo foi intensamente empregado nas relações entre europeus e ameríndios para carregamento do pau-brasil. Os índios cortavam a madeira e a deixavam na praia, para ser colocada nos navios, em troca recebiam facas, espelhos e bugigangas de fabricação europeia.
Feitorias - estruturas comerciais, em geral fortificadas e situados no litoral, que serviam de entrepostos com o interior da colônia.
População indígena
Quantas pessoas viviam na América no final do século XV, pouco antes da chegada dos europeus? Não há uma resposta exata para essa pergunta. O que existem são várias estimativas feitas pelos pesquisadores do assunto, que apontam entre 50 e 100 milhões de pessoas, distribuídas de forma desigual pelo continente.
Por volta de 1500, quando os portugueses chegaram ao atual território brasileiro, as terras eram habitadas por povos indígenas que podem ser divididos em quatro grupos de línguas principais: Tupi-guarani, Jê, Caraíba e Aruaque. Apesar das diferenças, pode-se dizer que esses povos viviam em aldeias autônomas e tinham profundo conhecimento sobre a flora e a fauna locais. Calcula-se que cerca de 60% das drogas medicinais de origem vegetal do mundo atual foram criadas com base no conhecimento dos povos ameríndios.
Os Tupi-guarani formavam uma população de, aproximadamente,1 milhão de pessoas. Estavam divididos em dezenas de grupos, com certa rivalidade: Tupinambá, Tupiniquim, Guarani, Caeté, Potiguar etc. De norte a sul, ocupavam trechos do litoral e partes do interior do território.
As áreas mais populosas do Brasil atual ficam no antigo território Tupi-guarani. Ali, surgiram cidades como Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal, Fortaleza e muitas outras. No entanto, a população indígena tornou-se minoria.
Em consequência do impacto da conquista europeia, calcula-se que essa população foi reduzida para menos de 200 mil indivíduos no final do século XVI.
Maias, incas e astecas
Além dos povos Tupi-guarani, vamos destacar alguns saberes e algumas técnicas de três outros povos americanos: os maias, os astecas e os incas.
Os maias e os astecas viviam em uma área chamada Mesoamérica, que corresponde atualmente a Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá e parte sul do México.
Os incas viviam nas regiões andinas da América do Sul, entre a Cordilheira dos Andes e o litoral do Oceano Pacífico, desde as atuais cidades de Quito, no Equador, até os arredores de Santiago, capital do Chile.
Dessas três civilizações, os maias tiveram seu apogeu entre 300 e 900 e, a partir daí, entraram em declínio. Por isso, não foram propriamente conquistados, no século XVI, pelos europeus. Já os astecas e os incas foram alvos da conquista espanhola da América.
Conquista ou descobrimento?
Durante muito tempo, a chegada dos europeus à América foi chamada de descobrimento. Os historiadores, porém, criticam o uso desse termo, pois ele considera apenas o ponto de vista do colonizador. A América não era um espaço vazio ou escondido da humanidade. Há milhares de anos o continente americano tem sido habitado por diversas sociedades. Assim, para os indígenas, a chegada dos europeus à América no século XVI representou mais precisamente uma invasão ou conquista.
A discussão sobre os termos descobrimento ou conquista é antiga. Em 1556, o rei da Espanha, Felipe II, proibiu o uso da palavra “conquista” e incentivou o emprego do termo “descobrimento”. O objetivo dessa troca de palavras era valorizar as realizações dos europeus e esconder a violência utilizada na conquista da América.
Após a chegada dos europeus ao continente americano, milhões de indígenas morreram ou tiveram seus modos de vida destruídos. Os primeiros cinquenta anos da conquista foram devastadores. Alguns estudiosos calculam que cerca de 50% da população indígena tenha morrido nesse período.
Guerras e doenças
Os conquistadores europeus tinham equipamentos militares mais eficientes do que os dos povos americanos. Utilizavam cavalos, armas de aço (como espadas, lanças, punhais e escudos) e de fogo (como mosquete, arcabuz e canhão). Essas armas eram desconhecidas pelos indígenas, que utilizavam arcos, flechas envenenadas, pedras, lanças, machados e atiradeiras.
Segundo historiadores, as doenças trazidas pelos europeus se transformaram em epidemias que mataram mais do que as armas. Milhares de indígenas morreram por não terem resistência contra a varíola, o sarampo, o tifo e a coqueluche. Sem imunização contra essas doenças, uma simples gripe foi capaz de matar populações inteiras da América.
As epidemias provocavam também impacto psicológico, pois muitas vezes os indígenas imaginavam que essas doenças fossem castigos dos deuses e, assim, ficavam apáticos e aflitos diante dos invasores.
Imposição religiosa
Após chegar às terras do Novo Mundo, os conquistadores fincaram a cruz cristã na América. Esse ato simbolizava a posse da terra em nome dos reis europeus e marcava o início de uma dominação religiosa sobre os povos originários. Os espanhóis, por exemplo, construíram igrejas católicas sobre os antigos templos indígenas e obrigaram os nativos a associar suas antigas divindades ao deus cristão e aos personagens da Bíblia.
A conversão dos indígenas ao cristianismo foi chamada de ação evangelizadora. Essa tarefa incluía batizar os indígenas e ensinar-lhes o catolicismo (catequese). Para tornar esse esforço mais eficiente, a partir de 1550, os religiosos católicos reuniram os nativos da América em locais denominados aldeamentos ou missões.
Os principais aldeamentos foram fundados e dirigidos por jesuítas, que eram sacerdotes da Companhia de Jesus. Nos aldeamentos, além de aprender a doutrina católica, os costumes e a língua dos europeus, os nativos eram obrigados a trabalhar para a Coroa e para os colonos.
Vários grupos não aceitaram viver nos aldeamentos. Eles promoveram fugas individuais e coletivas e resistiram ao trabalho que os colonizadores e os missionários lhes impunham.
Conflitos internos e escravidão
Havia rivalidades entre os povos indígenas da América, e os conquistadores europeus souberam tirar proveito desses conflitos. Incas e astecas, por exemplo, exploravam povos vizinhos, o que gerava ressentimento dessas populações. Os europeus se aproveitaram desses choques internos e estabeleceram alianças com alguns grupos indígenas.
Além disso, os europeus submeteram os nativos a formas de trabalho forçado como a escravidão e o repartimiento, que estudaremos no próximo capítulo. Populações inteiras foram retiradas à força do lugar onde viviam e foram obrigadas a trabalhar para os conquistadores. Esses deslocamentos forçados provocaram mudanças na forma de alimentação e no ritmo de trabalho dos povos indígenas, afetando suas estruturas produtivas e seus modos de viver.
Europa depois da conquista
A conquista da América aprofundou transformações que estavam ocorrendo na vida europeia desde o século XV. O contato com terras e povos até então desconhecidos pelos europeus teve repercussão nas artes e nas ciências da Europa.
A burguesia comercial, formada por grandes comerciantes e banqueiros, obteve altos lucros com a conquista e a colonização da América, sobretudo por meio da exploração de riquezas minerais (ouro, prata) e agrícolas (cana-de-açúcar). A economia europeia, antes concentrada no Mar Mediterrâneo, deslocou-se para portos do Oceano Atlântico como Lisboa (em Portugal) e Sevilha (na Espanha), que mantinham comércio direto com as colônias americanas.
Os países que participaram da expansão marítima, nos séculos XV e XVI, tornaram-se poderosos. Portugal e Espanha destacaram-se pelo pioneirismo. Posteriormente, sobressaíram a França, a Inglaterra e a Holanda. Disputando mercados, lucros e riquezas, os comerciantes desses países entraram num período de grande enriquecimento, concorrência e rivalidade.