quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Sociedade na Segunda República

Durante a Segunda República a população urbana supera a rural e a migração campo-cidade se intensifica. O principal polo de atração é a região centro-sul, onde se concentra o parque industrial do país. O crescimento do operariado é acompanhado do fortalecimento das classes médias urbanas, formadas por comerciários, bancários, funcionários intermediários das empresas estatais e militares. Sem experiência anterior de organização e pouco politizados, esses setores são a base principal de sustentação do populismo.

Movimento sindical

A estrutura corporativista dos sindicatos permanece intocada durante todo o período populista. A burocracia sindical, na sua maioria vinculada ao Partido Trabalhista Brasileiro, mantém a organização dos trabalhadores vinculada politicamente ao governo.

Radicalização

Durante o governo João Goulart, há uma radicalização do movimento sindical. Multiplicam-se as greves por melhorias salariais, algumas de caráter nacional. Em julho de 1962 a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria e o Pacto de Unidade e Ação, de caráter intersindical, convocam uma greve geral. Reivindicam melhoria das condições de trabalho e a formação de um ministério nacionalista e democrático. O movimento conquista o 13º salário para os trabalhadores urbanos. Em setembro de 1962 uma greve geral de caráter político reivindica a antecipação do plebiscito sobre o parlamentarismo. O plebiscito é convocado para janeiro de 1963.

Trabalhadores rurais

A partir dos anos 50, o desenvolvimento do capitalismo no campo vai alterando as relações tradicionais de trabalho. Antigos colonos, meeiros e parceiros começam a ser expulsos de suas posses. Migram para as cidades e muitos transformam-se em proletários rurais: trabalhadores "volantes", ou "bóias-frias", que vivem nas periferias urbanas e trabalham no campo. Suas condições de vida e trabalho pioram sensivelmente. Crescem as tensões sociais no campo e o número de organizações de trabalhadores rurais.

Ligas camponesas

Em janeiro de 1955 é fundada a Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco, embrião das ligas camponesas do Nordeste. Seu objetivo é lutar pela reforma agrária e pela posse da terra. Um de seus principais líderes é Francisco Julião, deputado pelo Partido Socialista. Em 1961 os trabalhadores rurais realizam o 1º Congresso Nacional de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, em Belo Horizonte. Com centenas de participantes, o Congresso exige reforma agrária e CLT para o trabalhador rural. Em 1962, com a aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural, muitas ligas camponesas transformam-se em sindicatos rurais.

Cultura na Segunda República

A euforia desenvolvimentista aberta com o governo JK reflete-se na vida cultural brasileira. Surgem as chamadas "vanguardas" artísticas e a "arte engajada": a produção cultural transforma-se em um meio de formação de opinião e instrumento de politização.

Cinema Novo

Em 1955 o cineasta Nelson Pereira dos Santos lança Rio 40 graus. O filme marca o início do Cinema Novo, movimento que se caracteriza pelos temas sociais e pela busca das raízes brasileiras. Essa tendência aprofunda-se nos anos seguintes com Deus e o diabo na terra do Sol, de Glauber Rocha, Os fuzis, de Rui Guerra, e Menino de engenho, de Walter Lima Jr., entre outros.

Cultura na década de 1950

No governo JK ocorreram também profundas mudanças culturais. Kubitschek passou a ser chamado de “presidente bossa nova” em alusão ao movimento musical surgido no final dos anos 1950.
A bossa nova nasceu como gênero musical brasileiro por meio da fusão do samba brasileiro com o jazz estadunidense. Músicas, letras e arranjos feitos por um conjunto de compositores, entre eles Tom Jobim, João Gilberto, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra e Roberto Menescal, logo viraram uma febre cultural e comercial no Brasil, principalmente no Rio
de Janeiro e nos Estados Unidos. A bossa nova foi associada à ideia de modernidade e ousadia, como JK pretendia caracterizar seu governo.
A renovação estética não se restringiu à música. Uma nova forma de fazer cinema aparecia no país: o Cinema Novo. A geração de cineastas composta por Glauber Rocha, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Ruy Guerra construiu um estilo cinematográfico que valorizava a crítica social, por meio de roteiros, cenários e personagens que representavam o contexto e a sociedade brasileira e seus problemas.
O Cinema Novo é considerado o movimento cinematográfico mais revolucionário ocorrido no Brasil. No entanto, uma contradição não foi resolvida por seus cineastas: a nova linguagem não aproximava os filmes do público. Sucesso de crítica, o Cinema Novo não teve a mesma repercussão nas salas de cinema.

Teatro engajado

A temática social também chega ao teatro. Autores como Jorge Andradee Dias Gomes trazem para o palco temas até então inusitados, como o drama dos trabalhadores rurais expulsos do campo. A efervescência política dos grandes centros é trabalhada pelos dramaturgos Gianfrancesco Guarnieri, em Eles não usam black-tie, e Oduvaldo Viana Filho, nas peças Chapetuba Futebol Clube e A mais-valia vai acabar, seu Edgar.

Bossa nova e protesto

Na passagem da década de 50 para a de 60 surge a bossa nova, movimento musical liderado por João Gilberto e Tom Jobim. Mais suave e intimista que o samba, a bossa nova revoluciona a música popular brasileira. Na mesma época ganha força a chamada música engajada, ou de protesto, como Opinião, de Zé Kéti, e Carcará, de João do Vale e José Cândido. Na música erudita, os compositores se dividem em torno do nacionalista Camargo Guarnieri e das propostas dodecafônicas do vanguardista Hans-Joachim Koellreuter.

Centro popular de cultura

Grande parte dessa efervescência cultural tem como ponto de partida e veículo de divulgação o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, criado em 1960. Com a concepção de que a arte é um poderoso instrumento de conscientização política, o CPC da UNE atua em várias partes do país. Realiza atividades teatrais, literárias, plásticas, musicais e cinematográficas.

Consumismo

As transformações culturais do período podem ser observadas também na mudança de padrões de consumo da sociedade brasileira. Ao longo dos anos 1950, a população do país tornou-se mais urbana, fato que desencadeou alterações
no tipo de consumo e no comportamento das pessoas com impactos, por exemplo, sobre a publicidade, que cresceu consideravelmente.
Bens de consumo duráveis – como geladeiras, televisores, automóveis e máquinas de lavar roupa – anteriormente importados, passaram a ser produzidos completa ou parcialmente no Brasil e se tornaram mais acessíveis à população.
O estilo de vida inspirado no padrão de consumo estadunidense passou a ser difundido pelos meios de comunicação, como jornais e revistas impressos, rádio e televisão, que estavam cada vez mais presentes nos lares das
classes média e alta da sociedade. Entretanto, como na década de 1950 a população era predominantemente pobre e rural (aproximadamente 60% da população vivia no campo), ainda seriam necessárias algumas décadas para que bens de consumo duráveis fossem de fato popularizados.


Economia na Segunda República

Nos 18 anos da Segunda República o país passa por um acelerado processo de industrialização por substituição de importações. Em meados dos anos 50 a indústria ultrapassa a agricultura na composição do Produto Nacional Bruto. A política econômica do governo Juscelino Kubitschek estimula a indústria nacional e, ao mesmo tempo, abre o mercado brasileiro para o capital estrangeiro sob a forma de empréstimos ou de investimentos diretos.

No final dos anos 50 os rumos a serem impressos à economia brasileira são o grande divisor de águas da sociedade civil. Os setores nacionalistas defendem um desenvolvimento autônomo, centrado no crescimento do mercado interno. A oposição quer ampliar a industrialização pela maior abertura do mercado aos capitais internacionais.

Queima de divisas

Durante a Segunda Guerra as exportações brasileiras superam as importações e o país acumula boa quantidade de divisas, a maioria paga após o final do conflito. A moeda brasileira também está valorizada. O governo Dutra promove uma verdadeira queima de divisas. Libera as importações de produtos totalmente supérfluos: de casacos de peles a ioiôs, de comida para cachorro a aparelhos de televisão, numa época em que não havia emissoras no Brasil.

Crescimento da indústria

Para Juscelino Kubitschek e os ideólogos do desenvolvimentismo, as profundas desigualdades do país só serão superadas com o predomínio da indústria sobre a agricultura. O governo JK empenha-se em baratear o custo da mão-de-obra e das matérias-primas, subsidia a implantação de novas fábricas e facilita a entrada de capitais estrangeiros. Entre 1955 e 1959 os lucros na indústria crescem 76% e a produtividade, 35%. Os salários sobem apenas 15%.

Desenvolvimentismo

Juscelino isenta de impostos as importações de máquinas, equipamentos e todo capital estrangeiro que aqui se estabeleça, desde que em associação com o capital nacional. Financia a ampliação da indústria pesada. Investe na construção de siderúrgicas e hidrelétricas, amplia a capacidade produtiva da Petrobrás, abre novas estradas e levanta Brasília. Em 1959 cria a Sudene (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste) para integrar a região ao mercado nacional. Em 1960 obtém do FMI um empréstimo de US$ 47,7 milhões e cria o Grupo de Estudos da Indústria Automobilística (Geia), primeiro passo para a instalação das grandes montadoras de automóveis no Brasil.

Desnacionalização

Em 1961, das 66 empresas com maior concentração de capital, 32 são estrangeiras e apenas 19 pertencem a grupos privados nacionais. O capital estrangeiro controla 99,8% da indústria de tratores, 98% da indústria automobilística, 85% do setor de cigarros, 88% das indústrias farmacêuticas, 82% do setor de eletricidade, 70% das indústrias de máquinas e 76% das indústrias químicas.

Inflação e dívida externa

Os índices de inflação crescem durante a Segunda República. Eles resultam das constantes emissões de moedas para sustentar os investimentos estatais e pagar os empréstimos externos. Em 1960 a inflação chega a 25% ao ano, sobe para 43% em 1961, a 55% em 1962 e a 81% em 1963. O FMI passa a condicionar a concessão de novos empréstimos a uma política austera de estabilidade da moeda.

Cultura na Era Vargas

 A revolução estética proposta pelo movimento modernista de 1922 consolida-se a partir da Revolução de 30. A tensão ideológica de toda a Era Vargas se faz presente na produção cultural. A literatura, por exemplo, é considerada um instrumento privilegiado de conhecimento do ser humano e de modificação da realidade.

Literatura – Poetas como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade e romancistas como José Lins do Rego atingem a maturidade. Surgem novos escritores, como Érico Veríssimo, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Na poesia, de linha intimista, sobressaem Cecília Meireles e Vinícius de Moraes. Mais para o final do Estado Novo destacam-se João Cabral de Melo Neto na poesia de temas regionais, Clarice Lispector, na prosa de ficção, e Guimarães Rosa, um dos mais importantes romancistas brasileiros.
Arquitetura e artes plásticas – Na arquitetura destacam-se Lúcio Costa, que projeta o prédio modernista do Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro, e Oscar Niemeyer que, em 1942, planeja em Belo Horizonte o Conjunto da Pampulha. A obra inova nas linhas arquitetônicas e na decoração, feita com azulejos e painéis do pintor Cândido Portinari.
Música e teatro – No teatro, surge o dramaturgo Nélson Rodrigues. Em 1943 ele estreia no Rio de Janeiro a peça Vestido de noiva, que incorpora padrões teatrais revolucionários para a época. A música popular dá um salto de qualidade com o trabalho de compositores como Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, Ismael Silva e Ataulfo Alves. Na música erudita, Villa-Lobos compõe as Bachianas brasileiras, unindo Bach e a música folclórica nacional.

A cultura popular mostra seu valor

Getúlio Vargas e os políticos reformistas que o apoiavam tinham também o objetivo de valorizar a cultura nacional. Para eles, a Europa não deveria mais servir de referência cultural para o Brasil.
Muitos artistas e intelectuais do movimento modernista dos anos 1920 apoiaram a política cultural do governo Vargas.
A cultura negra foi valorizada. O samba foi elevado a principal gênero da música brasileira, a capoeira, reconhecida como arte marcial do Brasil e o carnaval carioca entrou para o calendário turístico da cidade do Rio de Janeiro. O governo incentivou financeiramente o teatro, o cinema e a publicação de livros.
O período iniciado em 1930 viu serem publicadas as obras de muitos escritores importantes, como Jorge Amado (1912-2001), Rachel de Queiroz (1910-2003) e José Lins do Rego (1901-1957). Eles falavam do Brasil, de seus problemas e da cultura popular. Alguns deles acabaram perseguidos pela censura no período do Estado Novo.

O negro e o teatro

Abdias Nascimento participou do processo de renovação cultural. Em viagem ao Peru, assistiu a uma peça teatral em que um ator branco se pintou com tinta para interpretar um personagem negro. Abdias ficou indignado com o que viu – acima de tudo, porque percebeu que também no Brasil os negros não tinham espaço nos palcos.
Ao retornar ao Brasil, planejou criar o Teatro do Negro Brasileiro, mas foi novamente preso em 1941, por ter resistido a agressões racistas. Na prisão do Carandiru, em São Paulo, criou o Teatro do Sentenciado, cujos atores eram os próprios presos. Libertado, Abdias retornou ao Rio de Janeiro. Com o apoio da União Nacional dos Estudantes (UNE), fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN), que funcionou até 1968.

Um Brasil brasileiro

Canções podem ser utilizadas pelos historiadores para compreender o passado das sociedades. Veja, por exemplo, a canção “Aquarela do Brasil”, do compositor Ary Barroso (1903-1964). Ela foi tocada nas rádios pela primeira vez em 1939 e tornou-se uma das canções brasileiras mais conhecidas no mundo.
A letra da canção, produzida na época do governo Vargas, exalta o Brasil, valorizando seu povo e sua natureza.

Economia na Era Vargas

Em agosto de 1931, durante o governo provisório, Vargas suspende o pagamento da dívida externa. No mesmo ano, reinicia a política de valorização do café e cria o Conselho Nacional do Café. Em 1º de junho de 1933 cria também o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) para coordenar a agricultura canavieira, controlar a produção, comércio, exportação e preços do açúcar e do álcool de cana. Vargas desenvolve uma intensa política de promoção da indústria e intervém fortemente na economia.

Crise da economia cafeeira

A política de valorização do café é mantida durante toda a Era Vargas. Entre 1930 e 1945, o governo chega a comprar e destruir cerca de 80 milhões de sacas de café. A medida, no entanto, alimenta um círculo vicioso pois as repetidas supersafras continuam forçando a queda dos preços do produto no mercado internacional. A crise da cafeicultura estimula a exploração de novos produtos, como frutas, algodão, óleos vegetais e minérios, mas seus rendimentos não conseguem equilibrar o balanço de pagamentos do país. A Segunda Guerra Mundial interrompe as vendas de algodão para o Japão e Alemanha, feitas em grandes volumes até 1939.
Crise no balanço de pagamentos – A redução das receitas com as exportações e o menor afluxo de capitais para o país devido à crise econômica que precede a guerra desequilibram o balanço de pagamentos entre 1931 e 1939. Para contornar o problema, Vargas promove sucessivas desvalorizações da moeda e adota medidas que desagradam aos investidores internacionais: reduz a margem de remessa de lucros, suspende os pagamentos dos juros da dívida externa e recusa-se a pagar parte substancial da dívida pública negociada com os bancos estrangeiros. A redução das divisas e da capacidade de importar favorecem o desenvolvimento da indústria.

Desenvolvimento industrial

Entre 1930 e 1945 o país passa por um surto de desenvolvimento industrial. Na década de 30 o crescimento da indústria é de 125% ao ano, em média, enquanto a agricultura cresce a uma taxa de 20%. Durante a Segunda Guerra o crescimento industrial cai para 5,4% ao ano, mas o setor consegue avançar pela superutilização dos equipamentos já instalados. Nesse período, o Brasil chega a exportar tecidos para a América Latina, África do Sul e Estados Unidos. A expansão industrial continua no pós-guerra e, em meados da década de 50, a indústria supera a agricultura na composição do Produto Nacional Bruto.
Intervencionismo estatal – O governo getulista tem papel fundamental na expansão do parque industrial do país. Ele institui tarifas protecionistas, dá incentivos fiscais às indústrias, amplia o sistema de crédito, controla os preços e estabelece uma política de contenção salarial. O Estado também faz investimentos diretos na ampliação dos setores de energia, transportes e na indústria de base, como a siderúrgica – áreas que não interessam aos capitalistas nacionais porque têm um retorno lento e exigem grandes capitais. Em 1941, com dinheiro público e financiamento do Eximbank norte-americano, Vargas monta a Companhia Siderúrgica Nacional, que só começa a operar em 1946 com a inauguração da usina de Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Em 1942 cria a Companhia Vale do Rio Doce para explorar minério de ferro. No mesmo ano baixa um plano de saneamento econômico, desvaloriza a moeda e substitui o mil-réis pelo cruzeiro.
Dependência externa – A expansão das atividades industriais não diminui a dependência da economia brasileira em relação ao exterior. A maior produção de bens de consumo exige mais importações de bens de capital, matérias-primas e combustíveis. Mantém-se o desequilíbrio do balanço de pagamentos. As emissões de moeda e os empréstimos externos são freqüentes. O resultado é uma inflação constante durante todo o governo Vargas.
Com o aprofundamento da crise do café a partir de 1930 e a política industrializante de Vargas, a burguesia cafeeira passa a dividir o poder com a burguesia industrial em ascensão. As classes médias ampliam sua participação na vida política do país, inclusive com o surgimento do movimento estudantil. A classe operária cresce consideravelmente, mas é controlada pelo Estado por meio dos sindicatos, da legislação trabalhista e da repressão direta. Em 1930 é criado o Ministério da Educação e Saúde. A Constituição de 1934 torna o ensino primário obrigatório e propõe a expansão gradativa dessa obrigatoriedade aos outros níveis de ensino.

Política externa no Estado Novo

Dois anos depois de instalada a ditadura Vargas começa a Segunda Guerra Mundial. Apesar das afinidades do Estado Novo com o fascismo, o Brasil se mantém neutro nos três primeiros anos da guerra. Vargas aproveita-se das vantagens oferecidas pelas potências antagônicas e, sem romper relações diplomáticas com os países do Eixo – Alemanha, Itália, Japão –, consegue, por exemplo, que os Estados Unidos financiem a siderúrgica de Volta Redonda.

Rompimento com o Eixo – Com o ataque japonês à base americana de Pearl Harbour, no Havaí, em dezembro de 1941, aumentam as pressões para que o governo brasileiro rompa com o Eixo. Em fevereiro de 1942 Vargas permite que os EUA usem as bases militares de Belém, Natal, Salvador e Recife. Como retaliação, forças do Eixo atacam navios mercantes brasileiros ao longo da costa. Nos dias 18 e 19 de agosto de 1942, cinco deles – Araraquara, Baependi, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará – são torpedeados por submarinos alemães. Morrem 652 pessoas e Vargas declara guerra contra a Alemanha e a Itália.
Brasil na Segunda Guerra – A Força Expedicionária Brasileira (FEB) é criada em 23 de novembro de 1943. Em 6 de dezembro, a Comissão Militar Brasileira vai à Itália acertar a participação do Brasil ao lado dos aliados. O primeiro contingente de soldados segue para Nápoles em 2 de julho de 1944 e entra em combate em 18 de setembro. Os pracinhas brasileiros atuam em várias batalhas no vale do rio Pó: tomam Monte Castelo em 21 de fevereiro de 1945, vencem em Castelnuovo em 5 de março e participam da tomada de Montese em 14 de abril. Ao todo são enviados cerca de 25 mil homens à guerra. Morrem 430 pracinhas, 13 oficiais do Exército e oito da Aeronáutica.

A CULTURA NA REPÚBLICA VELHA

O fim do século XIX foi marcado, no Brasil, por transformações que acarretaram a queda do Império e o advento da República. Essas rupturas políticas se traduziram em rupturas sociais: a Abolição, a imigração, a introdução do trabalho assalariado, e a nível econômico ocorreu a ascensão da aristocracia cafeeira, a industrialização e a urbanização. Essas transformações tiveram seus reflexos a nível cultural apenas alguns decênios mais tarde.

Assim, podemos identificar, no período da República Velha, dois momentos bastante distintos. No primeiro, tanto a manifestação artística como os comportamentos e modos de vida ainda estavam presos aos padrões vigentes no final do Império. A referência da moda, dos costumes e dos comportamentos era Paris, que naquela época vivia a chamada Belle Époque, um estilo de vida difundido pela burguesia que se apoiava na idolatria da ciência e da técnica, na busca do belo e do prazer. Na Europa, a ruptura ocorreu de forma dramática com a eclosão da I Guerra Mundial. No Brasil, essa ruptura foi mais simbólica com a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo em 1922. Apesar das vaias, da reação negativa do público, em particular dos estudantes da Faculdade de Direito, reduto do conservadorismo, as novas ideias, as novas manifestações artísticas frutificaram nos anos seguintes.

As cidades se modernizam

Na virada do século, a sociedade brasileira ainda respirava os ares de fazenda e de campo, e as cidades tinham aspecto de vilarejos da época da colônia. No Rio de Janeiro, capital da República, que, desde a vinda da Família Real, era o centro político e econômico mais importante do país, havia em 1910 um pouco mais de 900 000 habitantes; dez anos depois a cidade contava com mais de 1 milhão de pessoas. O Rio de Janeiro, apesar de sua beleza natural, possuía becos, cortiços e muito lixo nas ruas; não havia rede de esgoto, o abastecimento de água era precário, os focos de epidemias eram constantes e a população morria de febre amarela, cólera, tifo e tuberculose. No governo de Rodrigues Alves, o Rio ganhou novo aspecto. As ruas foram alargadas, casas derrubadas e a cidade foi saneada. Em 1922, na época da instalação da Exposição Internacional do Centenário da Independência, o centro do Rio já contava com grandes edifícios, cinemas, teatros, cafés e uma fervilhante vida social e intelectual.
Também São Paulo cresceu e se urbanizou nesses decênios. Em 1900, havia na cidade 240.000 habitantes, incluindo um elevado contingente de imigrantes. Também os ricos fazendeiros vieram se instalar em São Paulo, surgindo, assim, os bairros residenciais da elite, como Campos Elíseos e Higienópolis. Em 1917 já existiam mais de 1700 automóveis e várias oficinas de consertos e garagens de aluguel onde se podiam alugar automóveis de luxo. Até 1907, o, Rio de Janeiro liderou a produção manufatureira do país. Em 1920, porém, São Paulo passou à frente: 31,5% da produção do Brasil estava concentrada nesta cidade.

Cotidiano e cultura: esperança de tempos melhores

O início do século XX no Brasil foi marcado por grande entusiasmo, que se refletiu em diferentes setores da sociedade, principalmente nas elites. 
Diversas novidades tecnológicas passaram a fazer parte do cotidiano das grandes cidades, como o telefone, o automóvel, o avião, a iluminação elétrica, o rádio, o refrigerador e o fogão a gás. O cinema foi uma das inovações de mais destaque na época, com filmes estrangeiros sendo exibidos à população.
Assim, artistas europeus e estadunidenses passaram a influenciar a moda e o comportamento dos espectadores brasileiros.

Novos hábitos

Influenciadas por essas novidades e pelo entusiasmo que marcou a entrada do novo século, muitas pessoas começaram a buscar diferentes maneiras de viver e de conviver nos grandes centros urbanos.
Alguns costumes e modismos tornaram-se referência para o estilo de vida das pessoas, sobretudo dos membros da elite, que promoviam festas e bailes com novos tipos de música e dança, como o charleston ou o foxtrote.
Homens e mulheres que procuravam seguir as tendências da moda passaram a usar roupas inspiradas nos figurinos usados pelas estrelas do cinema internacional. Isso influenciou também os cortes de cabelo e a maneira de se maquiar de muitas mulheres.

Movimentos modernistas na arte

Na Europa, desde meados do século XIX, o desenvolvimento tecnológico e as mudanças sociais e culturais influenciaram diversos movimentos artísticos que buscavam romper com os padrões acadêmicos nas artes visuais, na música e na literatura.
Surgiram, então, vários movimentos artísticos de vanguarda, como o Cubismo (1907), o Futurismo (1909), o Expressionismo (1910) e o Dadaísmo (1916). Esses movimentos, também conhecidos como movimentos modernistas, buscavam mais originalidade e liberdade de estilo.
No Brasil, o Modernismo surgiu no início do século XX por meio do contato de artistas brasileiros com movimentos da vanguarda europeia. Esses artistas passaram a defender a ideia de que a arte produzida no Brasil precisava de grande renovação. Por isso, eles ficaram conhecidos como modernistas.
Na arte, buscava-se superar as escolas anteriores, como o Parnasianismo e Simbolismo, e se afirmava uma nova posição irreverente e contestadora que passou a ser chamada de Modernismo. Esta corrente rompia com a métrica e o formalismo estéril dos movimentos anteriores e buscava as feições e formas populares, valorizando o regionalismo.
Esse caráter renovador era apoiado, em parte, pelos setores progressistas da burguesia brasileira, especialmente a burguesia industrial paulista que controlava a imprensa e os espaços culturais, como o Teatro Municipal de São Paulo, onde explodiu a Semana de Arte Moderna.
"Vamos assustar essa burguesia que cochila na glória de seus lucros." Essa foi a intenção dos organizadores da Semana, os irmãos Prado, ricos fazendeiros de café e o pintor Di Cavalcanti.
Nos dias 13,15 e 17 de fevereiro de 1922, jovens artistas e intelectuais reuniram-se no Teatro Municipal de São Paulo para apresentar sua arte, suas ideias e ler seus manifestos.
Foram duramente vaiados e criticados, mas permaneceram firmes, pois confiavam em sua arte. Estavam presentes artistas que seriam posteriormente as maiores figuras da cultura brasileira: os escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade, os pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, o músico Heitor Vila-Lobos, o escultor Victor Brecheret e tantos outros.
Em todos os campos os artistas, que representavam a nova classe intelectual do país, buscavam a ruptura com as tradições acadêmicas, a destruição do espírito conservador e conformista, a atualização da cultura brasileira e a formação de uma consciência criadora nacional. O principal papel do movimento foi fazer ruir as velhas fórmulas culturais, como afirmou Paulo Prado, um dos organizadores da Semana.
Após o escândalo da Semana de 22, alguns artistas e intelectuais se reuniram para formar o grupo Pau-Brasil, apoiando as ideias e orientações políticas de esquerda.
Mas dessa ebulição intelectual também surgiu o Movimento Verde-Amarelo, em 1926, de posições nacionalistas e conservadoras, liderado por Plínio Salgado e Menotti del Picchia, que daria origem ao Grupo Anta, defensor do Integralismo.
Em 1928, Oswald de Andrade, em seu Manifesto Antropofágico, já iniciava a crítica ao Modernismo: “pensamento novo não criamos. Continuou o pensamento velho de importação (...). O grande erro dos modernistas foi esse. A preocupação estética exclusiva”.

A pintura modernista no Brasil

Entre as diversas expressões artísticas do movimento modernista brasileiro, como a literatura e a música, a pintura foi um dos destaques. As pinturas modernistas apresentavam características até então pouco exploradas pelos artistas brasileiros.
Pinceladas ágeis, cores fortes e mais liberdade de formas passaram a ser muito valorizadas pelos pintores modernistas. Observe as pinturas a seguir e procure identificar nelas alguns elementos modernistas.

A Semana de 1922

Para divulgar suas ideias, os modernistas promoveram a Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, na cidade de São Paulo. Esse evento teve a participação de diversos intelectuais e artistas, como os pintores Anita Malfatti e Di Cavalcanti; os escritores Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira; e o músico Heitor Villa-Lobos.
As obras de arte e as demais produções apresentadas nesse evento chocaram muitas pessoas, pois os artistas propunham novas ideias e perspectivas sobre a arte, que eram desconhecidas até então para grande parte do público. Por causa do impacto que ela provocou, a Semana de 1922 é considerada um marco simbólico do movimento modernista brasileiro.
Em Paris, Alberto Santos Dumont voou pela primeira vez, em 23 de outubro de 1906, em um aparelho mais pesado que o ar, o 14 Bis. Foi Santos Dumont também o primeiro a dirigir um carro pelas ruas da cidade de São Paulo, provocando espanto e curiosidade em todos.

Futebol e samba

O foot-ball, esporte inglês, introduzido no Brasil por Charles Miller em 1894, passou a ser cada vez mais popular. Fundaram-se clubes como a A.A. Ponte Preta, em 1900, o Palestra-Itália (Palmeiras) e outros. Em 1919, o Fluminense, fundado em 1902, inaugurou o primeiro grande estádio de foot-ball com capacidade para 18 000 pessoas. Em São Paulo sobem as chaminés, apitam as sirenes, bondes cruzam a cidade e nas ruas se discute o último match. O futebol começava a ser o grande lazer das massas. Suas regras e estilo inglês sofreram transformações e adaptações, saindo dos clubes aristocráticos para as várzeas, praias e subúrbios. Só que comprar uma bola de couro era caríssimo; então, o jeito era improvisar bolas de meias, de pano, para realizar o match ou fazer o gol.
No Rio de Janeiro tornara-se moda a promoção de saraus, onde as conversações e as canções tocadas ao piano eram em francês, e poemas parnasianos ou árcades eram recitados. Os jovens escreviam trovas nos lencinhos de papéis importados, passando-os sorrateiramente às moças na hora do chá. Mas, no morro, um ritmo novo se afirmava; com um gingado estonteante, ia descendo a ladeira e chegando aos salões: o samba. Em 1917, foi gravado o primeiro samba do Brasil: Pelo Telefone. A princípio o samba foi muito combatido por quem queria continuar ouvindo as canções francesas, valsas ou modinhas.
Durante o Carnaval, o morro organizava blocos e grupos que desfilavam pela cidade. Porém, severas proibições restringiam os desfiles das futuras escolas de samba. Também a capoeira era proibida, por causa de seus gestos "obscenos" e jeitos "desengonçados".


O CAFÉ E A REPÚBLICA - ECONOMIA CAFEEIRA

A implantação da economia cafeeira a partir de 1840. Percebemos que um conjunto de fatores favoráveis - como o crescimento das exportações de café, o aumento das taxas alfandegárias pela tarifa Alves Branco, a abolição do tráfico negreiro, a vinda de imigrantes europeus a partir de 1850 - permitiu a urbanização e o lento desenvolvimento da indústria. Esse surto industrial foi, entretanto, efêmero, pois a partir de 1860 a lei Silva Ferraz (anulando os aumentos alfandegários) provocou retração no mercado interno e iniciou uma série de falências dos pequenos setores fabris brasileiros.

Mas um novo surto industrial originou-se a partir de 1870, estendendo-se até os fins do século XIX. Os investimentos exigidos pela Guerra do Paraguai, a manutenção do Exército, o crescente trabalho assalariado e a expansão cafeeira estimularam esse novo surto.
A economia da República Velha De 1889 a 1930, a economia brasileira desenvolveu-se basicamente graças ao acúmulo de capitais oriundos do setor cafeeiro associado aos investimentos estrangeiros. O preço pago foi a manutenção da estrutura latifundiária e da monocultura, que orientavam o tipo de implantação industrial no país. Assim, a indústria brasileira nasceu da fusão de tecnologias importadas com velhos procedimentos herdados do período colonial. Ricos latifundiários dedicados à monocultura cafeeira foram ao mesmo tempo proprietários das primeiras indústrias.

Industrialização regional

Os investimentos estrangeiros predominavam na formação da infraestrutura urbana. Em 1901, capitais ingleses, belgas e franceses instalaram a primeira usina elétrica em São Paulo. Em seguida, em 1904, capitais canadenses e ingleses organizaram a Light Power, que explorou os serviços urbanos de gás, energia elétrica, esgoto, água, transporte e telefone no eixo São Paulo - Rio de Janeiro, enquanto os Estados da Bahia, Paraná, parte de Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul eram abastecidos por outra companhia, também inglesa. Assim, é possível distinguir o crescimento urbano-industrial em diferentes regiões brasileiras, à medida que foram sendo instaladas as infraestruturas das cidades.
O Rio de Janeiro contava com os melhores serviços urbanos por ser a capital da República. E isso permitiu que essa cidade se tornasse a sede do maior parque industrial do país (São Paulo a superou apenas na década de 20).
O crescimento do Rio de Janeiro deveu-se, em primeiro lugar, aos impostos arrecadados pela União e às taxas do comércio de exportação e importação das mercadorias que transitavam pelo porto carioca. Em segundo lugar, figuravam os capitais excedentes da lavoura cafeeira da Baixada Fluminense (Vale do Paraíba), que eram aplicados na indústria.
Somava-se a isso a existência de farta mão-de-obra constituída de ex-escravos que se dirigiam para a cidade do Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida.
Formou-se, assim, um exército industrial de reserva, isto é, um excedente de trabalhadores disponíveis que barateava os custos de produção, pois as fábricas ofereciam baixos salários.
No começo do século XX, o segundo centro urbano do Brasil era Salvador (BA). Por ter sido uma das economias coloniais de maior desenvolvimento do país, a Bahia dispunha de matérias-primas (como algodão e fumo), de capital (originário da economia de exportação) e de trabalhadores livres capazes de assegurar a criação do setor fabril.
Outra cidade nordestina em que a indústria se desenvolveu foi Recife (PE). Lá havia grande quantidade de trabalhadores livres, vindos do interior pernambucano, expulsos do campo pelo processo de modernização dos engenhos de cana-de-açúcar, que se transformaram em usinas.
A existência de matéria-prima (algodão) e de um mercado interno regional (representado pela crescente população urbana) permitiu o surgimento das primeiras indústrias pernambucanas de grande porte: o setor têxtil. A companhia têxtil do grupo Lundgrenn, por exemplo, foi o mais bem-sucedido empreendimento fabril da região, pois conseguiu aliar produção e comércio. A fábrica vendia no atacado e no varejo através da criação de uma vasta rede comercial denominada Casas Pernambucanas.
O caso de Minas Gerais diferencia-se dos exemplos carioca e nordestino. Por sua tradição artesanal, com uma urbanização rápida e dispersa provocada pela economia mineradora do século XVII I , a região mineira abrigou uma infinidade de pequenas fábricas, com capitais e produção reduzidos, que se destinavam ao abastecimento dos mercados regionais. Outra região que passou por um processo de desenvolvimento durante a Colônia e o Império foi o Rio Grande do Sul.
Estruturada em pequenas propriedades agrárias, constituiu um mercado consumidor de camponeses ligados a uma atividade agrícola comercial. Aliada a esse fator de monetarização comercial, a existência de contingentes de imigrantes europeus permitiu o desenvolvimento urbano de pequenos mercados locais destinados à produção artesanal. Eram ferreiros, serralheiros, pedreiros, marceneiros, oleiros, tecelões, alfaiates, charreteiros, moleiros, carvoeiros e outros pequenos empresários que acabaram criando as primeiras indústrias de porte moderno do Rio Grande do Sul.
A capital, Porto Alegre, destacou-se pela diversificação da produção (fábricas de charutos, de alimentos, curtumes, moinhos, tecelagens) em pequenos estabelecimentos. A preocupação predominante dos setores industriais porto-alegrenses era conquistar o mercado local. Uma indústria gaúcha têxtil e de vestuário que se projetou nacionalmente na década de 10 foi a Rener, mas na década de 20 entrou em declínio devido à concorrência das indústrias similares de São Paulo. Nesse processo de industrialização regional, o Estado de Santa Catarina teve um significativo desenvolvimento fabril.
Semelhante à do Rio Grande do Sul, a colonização catarinense baseou-se na imigração europeia, sobretudo a germânica: A produção se destinava a mercados locais constituídos por grande número de pequenos proprietários rurais. A região de Blumenau, em vez de concorrer com as indústrias do eixo Rio-São Paulo, especializou-se num tipo de produção pioneira ligada à malharia, materiais para medicina (gazes, ataduras), tecidos de lã (especiais para os períodos de inverno), porcelana, instrumentos musicais.
Por sua especialização, a indústria Hering (de origem germânica) superou as barreiras regionais, conquistando o mercado do Rio Grande do Sul e de São Paulo na primeira década do século XX.

O café financia a indústria

Esses exemplos fabris enquadram-se no que o economista Antônio Barros Castro definiu como industrialização descentralizada. Impossibilitadas de unificar a circulação de mercadorias em todo o território, devido à precariedade dos meios de transporte, as classes burguesas industriais ligavam-se localmente aos produtores agrários e aos capitalistas ingleses, alemães e norte-americanos. A fragilidade econômica da nascente burguesia industrial do país obrigou os capitalistas regionais a se associarem ao capital internacional, sobretudo britânico.
Com exceção de Santa Catarina, as demais regiões acabariam sofrendo a concorrência do eixo Rio-São Paulo, tendo que se submeter ao controle especialmente dos paulistas. Mas como ocorreu esse processo de liderança econômica da região de São Paulo? A resposta está na economia cafeeira.
A crescente expansão cafeeira, principalmente nos fins do século XIX, permitiu que os grandes fazendeiros paulistas diversificassem suas atividades, investindo em estradas de ferro, em companhias de seguro, em instalações comerciais dos portos brasileiros, na organização de bancos, nos setores industriais têxteis e alimentares.
Visando incentivar a industrialização, Rui Barbosa, ministro da Fazenda do governo do Marechal Deodoro da Fonseca, abriu linhas de crédito para financiar a implantação de fábricas. Para isso o governo teve de aumentar a emissão de papel-moeda, gerando um processo inflacionário.
A facilidade de créditos levou a uma desenfreada especulação com papéis e ações das novas empresas. Essa especulação recebeu o nome de Encilhamento, pois a euforia barulhenta da Bolsa de Valores lembrava o local de apostas do jóquei-clube, quando os cavalos se preparavam para a corrida.
Empréstimos estrangeiros desenvolveram indústrias e cidades Muitas fábricas foram construídas com empréstimos de companhias de exportação e importação estrangeiras sediadas no país que, na maioria das vezes, se associavam aos projetos industriais brasileiros. Muitos capitalistas ingleses investiram diretamente no setor industrial brasileiro: de moinhos de trigo até fábricas de calçados, passando pelas instalações das primeiras usinas de açúcar.
Além destas duas importantes características (associação de empresas nacionais com estrangeiras e investimento estrangeiro na instalação fabril), destaca-se uma outra, inerente ao processo de desenvolvimento capitalista: a concentração de capitais, que exigiu a instalação de infraestrutura (energia, transporte) nas cidades.
As cidades constituíam o fator básico de implantação industrial, pois, ofereciam os serviços necessários à circulação e distribuição de mercadorias e de capital (dinheiro, matérias-primas e máquinas). Todo o sistema comercial e financeiro (armazéns, lojas, bancos, créditos etc.) instalou-se nos centros urbanos.
As cidades eram mercados consumidores imediatos dos produtos fabris, além de fornecerem a mão-de-obra necessária à indústria, devido a sua densidade demográfica.
Nesse sentido, São Paulo apresentou características favoráveis ao impulso industrial. O comércio do café promoveu uma grande concentração de bancos na capital paulista, criando um mercado de capitais. Somado a isso, desenvolveram-se centros de treinamento para o grande contingente de mão-de-obra que afluía para a cidade, constituído principalmente por imigrantes estrangeiros. E o caso do Liceu de Artes e Ofícios e do Instituto de Educandos e Artífices. O escoamento da produção, por sua vez, estava garantido por uma eficiente rede de transportes ligação com o porto de Santos e saídas para o interior e para outros Estados através de ferrovias -, enquanto o crescimento da cidade era assegurado por grandes obras de infraestrutura - pontes e viadutos, rede elétrica e de esgotos etc.
Convênio de Taubaté: a salvação da lavoura A força dos cafeicultores pôde ser comprovada em 1906, quando a produção brasileira de café crescia cada vez mais, porém os preços do produto no mercado internacional estavam em plena queda devido ao excesso de oferta e à valorização da moeda nacional levada a cabo pelo governo para combater a inflação provocada pelo Encilhamento.
Em fevereiro desse ano, os cafeicultores reuniram-se em Taubaté (Vale do Paraíba) para exigir do governo federal medidas que garantissem a valorização do café e a manutenção dos lucros dessa lavoura. O encontro ficou conhecido como Convênio de Taubaté.
Os cafeicultores pressionaram o governo a adotar medidas protecionistas para garantir o preço do café:

- proibição de novas plantações cafeeiras para não diminuir o preço do produto;
- promoção publicitária do produto a nível governamental visando estimular o consumo no mercado externo e interno;
- compra dos excedentes de café pelo governo para criar estoques reguladores que seriam colocados no mercado quando a produção diminuísse, garantindo a estabilidade dos preços;
- empréstimo externo de 15 milhões de libras esterlinas para custear as compras de café feitas pelos Estados.

As medidas beneficiaram os cafeicultores, ao mesmo tempo em que comprometeram o desenvolvimento do país, porque não havia capital para investir em outras áreas. Os efeitos dessa valorização do café foram sentidos em 1909, pois os preços internacionais do produto aumentaram, provocando uma elevação das arrecadações dos setores exportadores e um aumento das importações de bens de consumo (sapatos, chapéus, velas, lonas, betume, óleo de linhaça etc.) e de alimentos (manteiga, óleo, bebidas em geral).

A indústria beneficia a agricultura

De 1906 a 1909 ampliou-se a produção interna de alimentos, o que barateou seu custo, possibilitando que os salários reais fossem preservados. Isso estimulou a acumulação de capitais em dois setores da economia: a agricultura e a indústria."Está com isto definitivamente esclarecido o problema das condições de realização da produção industrial:
indústria e agricultura se apoiam mutuamente criando mercados uma para a outra:' Diante dessas condições, seguiu-se uma euforia que resultou em novo aumento da produção de café entre 1911 e 1913. As consequências puderam ser sentidas a partir de 1914. Houve um aumento da inflação, pois, para cumprir seus compromissos, o governo federal emitiu papel-moeda.

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