Durante a Segunda República a população urbana supera a rural e a migração campo-cidade se intensifica. O principal polo de atração é a região centro-sul, onde se concentra o parque industrial do país. O crescimento do operariado é acompanhado do fortalecimento das classes médias urbanas, formadas por comerciários, bancários, funcionários intermediários das empresas estatais e militares. Sem experiência anterior de organização e pouco politizados, esses setores são a base principal de sustentação do populismo.
Movimento sindical
A estrutura corporativista dos sindicatos permanece intocada durante todo o período populista. A burocracia sindical, na sua maioria vinculada ao Partido Trabalhista Brasileiro, mantém a organização dos trabalhadores vinculada politicamente ao governo.
Radicalização
Durante o governo João Goulart, há uma radicalização do movimento sindical. Multiplicam-se as greves por melhorias salariais, algumas de caráter nacional. Em julho de 1962 a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria e o Pacto de Unidade e Ação, de caráter intersindical, convocam uma greve geral. Reivindicam melhoria das condições de trabalho e a formação de um ministério nacionalista e democrático. O movimento conquista o 13º salário para os trabalhadores urbanos. Em setembro de 1962 uma greve geral de caráter político reivindica a antecipação do plebiscito sobre o parlamentarismo. O plebiscito é convocado para janeiro de 1963.
Trabalhadores rurais
A partir dos anos 50, o desenvolvimento do capitalismo no campo vai alterando as relações tradicionais de trabalho. Antigos colonos, meeiros e parceiros começam a ser expulsos de suas posses. Migram para as cidades e muitos transformam-se em proletários rurais: trabalhadores "volantes", ou "bóias-frias", que vivem nas periferias urbanas e trabalham no campo. Suas condições de vida e trabalho pioram sensivelmente. Crescem as tensões sociais no campo e o número de organizações de trabalhadores rurais.
Ligas camponesas
Em janeiro de 1955 é fundada a Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco, embrião das ligas camponesas do Nordeste. Seu objetivo é lutar pela reforma agrária e pela posse da terra. Um de seus principais líderes é Francisco Julião, deputado pelo Partido Socialista. Em 1961 os trabalhadores rurais realizam o 1º Congresso Nacional de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, em Belo Horizonte. Com centenas de participantes, o Congresso exige reforma agrária e CLT para o trabalhador rural. Em 1962, com a aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural, muitas ligas camponesas transformam-se em sindicatos rurais.
Cultura na Segunda República
A euforia desenvolvimentista aberta com o governo JK reflete-se na vida cultural brasileira. Surgem as chamadas "vanguardas" artísticas e a "arte engajada": a produção cultural transforma-se em um meio de formação de opinião e instrumento de politização.
Cinema Novo
Em 1955 o cineasta Nelson Pereira dos Santos lança Rio 40 graus. O filme marca o início do Cinema Novo, movimento que se caracteriza pelos temas sociais e pela busca das raízes brasileiras. Essa tendência aprofunda-se nos anos seguintes com Deus e o diabo na terra do Sol, de Glauber Rocha, Os fuzis, de Rui Guerra, e Menino de engenho, de Walter Lima Jr., entre outros.
Cultura na década de 1950
No governo JK ocorreram também profundas mudanças culturais. Kubitschek passou a ser chamado de “presidente bossa nova” em alusão ao movimento musical surgido no final dos anos 1950.
A bossa nova nasceu como gênero musical brasileiro por meio da fusão do samba brasileiro com o jazz estadunidense. Músicas, letras e arranjos feitos por um conjunto de compositores, entre eles Tom Jobim, João Gilberto, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra e Roberto Menescal, logo viraram uma febre cultural e comercial no Brasil, principalmente no Rio
de Janeiro e nos Estados Unidos. A bossa nova foi associada à ideia de modernidade e ousadia, como JK pretendia caracterizar seu governo.
A renovação estética não se restringiu à música. Uma nova forma de fazer cinema aparecia no país: o Cinema Novo. A geração de cineastas composta por Glauber Rocha, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Ruy Guerra construiu um estilo cinematográfico que valorizava a crítica social, por meio de roteiros, cenários e personagens que representavam o contexto e a sociedade brasileira e seus problemas.
O Cinema Novo é considerado o movimento cinematográfico mais revolucionário ocorrido no Brasil. No entanto, uma contradição não foi resolvida por seus cineastas: a nova linguagem não aproximava os filmes do público. Sucesso de crítica, o Cinema Novo não teve a mesma repercussão nas salas de cinema.
Teatro engajado
A temática social também chega ao teatro. Autores como Jorge Andradee Dias Gomes trazem para o palco temas até então inusitados, como o drama dos trabalhadores rurais expulsos do campo. A efervescência política dos grandes centros é trabalhada pelos dramaturgos Gianfrancesco Guarnieri, em Eles não usam black-tie, e Oduvaldo Viana Filho, nas peças Chapetuba Futebol Clube e A mais-valia vai acabar, seu Edgar.
Bossa nova e protesto
Na passagem da década de 50 para a de 60 surge a bossa nova, movimento musical liderado por João Gilberto e Tom Jobim. Mais suave e intimista que o samba, a bossa nova revoluciona a música popular brasileira. Na mesma época ganha força a chamada música engajada, ou de protesto, como Opinião, de Zé Kéti, e Carcará, de João do Vale e José Cândido. Na música erudita, os compositores se dividem em torno do nacionalista Camargo Guarnieri e das propostas dodecafônicas do vanguardista Hans-Joachim Koellreuter.
Centro popular de cultura
Grande parte dessa efervescência cultural tem como ponto de partida e veículo de divulgação o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, criado em 1960. Com a concepção de que a arte é um poderoso instrumento de conscientização política, o CPC da UNE atua em várias partes do país. Realiza atividades teatrais, literárias, plásticas, musicais e cinematográficas.
Consumismo
As transformações culturais do período podem ser observadas também na mudança de padrões de consumo da sociedade brasileira. Ao longo dos anos 1950, a população do país tornou-se mais urbana, fato que desencadeou alterações
no tipo de consumo e no comportamento das pessoas com impactos, por exemplo, sobre a publicidade, que cresceu consideravelmente.
Bens de consumo duráveis – como geladeiras, televisores, automóveis e máquinas de lavar roupa – anteriormente importados, passaram a ser produzidos completa ou parcialmente no Brasil e se tornaram mais acessíveis à população.
O estilo de vida inspirado no padrão de consumo estadunidense passou a ser difundido pelos meios de comunicação, como jornais e revistas impressos, rádio e televisão, que estavam cada vez mais presentes nos lares das
classes média e alta da sociedade. Entretanto, como na década de 1950 a população era predominantemente pobre e rural (aproximadamente 60% da população vivia no campo), ainda seriam necessárias algumas décadas para que bens de consumo duráveis fossem de fato popularizados.
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