quarta-feira, 4 de outubro de 2023

A COLUNA PRESTES

No início de abril de 1925, as forças gaúchas comandadas pelo capitão Luís Carlos Prestes se uniam com as tropas que fugiam de São Paulo. Os dois grupos haviam participado das rebeliões do ano anterior, mantiveram focos de resistência e procuravam manter e fortalecer sua organização, para retomar a luta pelo grande ideal: Salvar a Pátria.

Depois de convencer os líderes paulistas da possibilidade da vitória contra o governo e as tropas fiéis a ele, Prestes iniciou a longa marcha afastando-se do país. A coluna atravessou o Paraguai no final de abril e voltou ao país através do Mato Grosso.
Do Mato Grosso, passando por Goiás, a coluna dirigiu-se para o Nordeste, atingindo o Estado do Maranhão no mês de novembro de 1925, chegando logo depois a ameaçar diretamente a cidade de Teresina. Na região nordeste os rebeldes percorreram praticamente todos os estados, chegando a ameaçar efetivamente a cidade de Teresina. Em todos os momentos a maior resistência virá das forças arregimentadas pelos coronéis.
As tropas que combateram a Coluna eram bastante diversificadas, mostrando a disposição do governo e dos latifundiários em eliminar esse foco de rebelião. O exército, as policias estaduais, jagunços dos coronéis e eventualmente cangaceiros participaram do combate à Coluna Prestes.
"Nos Estados economicamente poderosos (as oligarquias) constituíam forças policiais organizadas como pequenos exércitos; nos Estados economicamente fracos, armaram os próprios exércitos privados dos latifundiários. Sobre esses dois suportes é que assentou o combate aos revolucionários tenentistas, desde que estes empreenderam a arrancada pelo interior, com a Coluna Prestes."

Revolta da Vacina

No início do século XX, o Rio de Janeiro já era lindo, mas a falta de saneamento básico e as péssimas condições de higiene faziam da cidade um foco de epidemias, principalmente febre amarela, varíola e peste. O Rio de Janeiro, habitado por cerca de 700 mil pessoas, era uma cidade com graves problemas urbanísticos. As ruas eram estreitas e malcheirosas devido à quase total inexistência de um sistema de esgotos adequado.

Desde os primeiros governos republicanos, estava sendo elaborado um projeto de reforma urbana visando transformar o Rio de Janeiro na “capital do progresso”. A cidade deveria, assim, transmitir uma imagem moderna da jovem república.

Para isso, em 1904, foram realizadas diversas obras públicas na cidade. Alargaram-se ruas no centro, implantou-se a Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), ampliaram-se o abastecimento de água e a rede de esgotos e remodelou-se o porto. Muitos cortiços do centro foram demolidos, e seus moradores passaram a viver em barracos nos morros ou em bairros do subúrbio.

A população da cidade revoltou-se contra o plano de saneamento, mas, sobretudo, com a remodelação urbana feita pelo presidente Rodrigues Alves (1902-1906), que decidiu modernizar a cidade e tomar medidas drásticas para combater as epidemias. Cortiços e casebres, que compunham inúmeros quarteirões dos bairros centrais, foram demolidos, e deram lugar a grandes avenidas e ao alargamento das ruas, seguindo o modelo de urbanização dos grandes bulevares parisienses. A população local foi desalojada, refugiando-se em barracos nos morros cariocas ou em bairros distantes na periferia. As favelas começaram a se expandir.
Além do embelezamento arquitetônico, alegava-se que um dos objetivos da reforma da capital era combater as epidemias de febre amarela, peste bubônica e varíola, que matavam milhares de pessoas todos os anos.
O médico sanitarista Oswaldo Cruz foi o encarregado de promover uma série de medidas de combate e erradicação dessas doenças. Entre essas medidas, estava a criação da Brigada Mata-Mosquitos, formada por grupos de funcionários que vistoriavam as moradias da cidade com o objetivo de identificar e eliminar focos de doenças.
Os agentes sanitários eram acompanhados de policiais, que muitas vezes utilizavam a violência para, se preciso, invadir as moradias, causando grande insatisfação nas pessoas.
Outra medida foi a criação de uma lei, no início de novembro de 1904, que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola. No entanto, o governo não informou adequadamente a população sobre a vacinação. Assim, a população do Rio de Janeiro, que já estava insatisfeita com as reformas urbanas e com a ação da Brigada Mata-Mosquitos, acabou revoltando-se.
Com medidas impopulares e polêmicas, Oswaldo Cruz, além de ter sido o responsável pela estruturação da saúde pública no Brasil, foi quem saneou o Rio, apesar da oposição da mídia e da manifestação popular, que ficou conhecida como "Revolta da Vacina".
Após decidir pela obrigatoriedade da vacina contra a varíola, o governo não fez uma campanha para esclarecer o povo sobre a importância dessa medida. Isso gerou um sentimento de indignação, decorrente do medo de tomar a injeção e da falta de diálogo com o governo. Alguns grupos, como ocorre ainda hoje, afirmavam que a vacinação obrigatória desrespeitava as liberdades individuais.
A lei que tornava obrigatória a vacinação antivariólica, logo batizada de Código de Torturas, foi aprovada em 31 de outubro e regulamentada nove dias depois, abrindo caminho para a chamada Revolta da Vacina. Durante uma semana, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar, enfrentando forças da polícia e do exército.
Muitas pessoas já estavam descontentes com as reformas urbanas promovidas por Pereira Passos. Ao saber que a vacina era feita do próprio vírus da varíola, achavam que o governo queria "envenenar" a população mais pobre. Para piorar a situação, muitos homens não permitiam que os funcionários públicos segurassem o braço de suas esposas e filhas para aplicar a vacina por considerarem o ato uma ofensa.
Tantos desentendimentos culminaram em um levante, em novembro de 1904. No dia 13, o centro do Rio de Janeiro e os bairros da Tijuca, Gamboa, Saúde, Laranjeiras, Botafogo, Rio Comprido, Catumbi e Engenho Novo se transformaram em campo de batalha. Diversos bondes foram incendiados, lampiões de gás foram quebrados e barricadas foram construídas nas ruas. Cerca de trezentos cadetes da Escola Militar aderiram à rebelião. As forças do governo responderam com bombardeios pela marinha e ataques do Exército. Em meio a esses tumultos, a oposição política tentou derrubar o presidente da república, mas não conseguiu.
Após violentos conflitos nas ruas da cidade, a revolta popular foi controlada pelas forças do governo e a obrigatoriedade da vacina foi suspensa. No final do conflito, contabilizou-se um saldo de 30 mortos, 110 feridos e 945 presos que foram deportados para trabalhar nos seringais, no estado do Acre, ou enviados para a prisão na ilha das Cobras, no Rio de Janeiro.
 

REVOLTA DA CHIBATA (1910)

Conhecida também como revolta dos marinheiros, ocorre em unidades da Marinha de Guerra brasileira baseadas no Rio de Janeiro, em 1910. Foi um protesto feito pelos marinheiros, que quando cometiam algum erro eram castigados com 25 chibatadas. Eles queriam acabar com essa tortura, então eles mandaram um comunicado para o presidente pedindo o fim da tortura e melhorias na alimentação.

Desde a segunda metade do século XIX, eram comuns revoltas de homens recrutados pela marinha brasileira. Isso ocorria porque a instituição mantinha normas antigas, como a punição com chibatadas a marinheiros que cometessem faltas.

Os marujos rebelados reivindicam de Hermes da Fonseca, recém-empossado na Presidência, a aprovação do projeto de anistia geral em discussão no Congresso, o cumprimento da lei que aumenta seus vencimentos, a redução da jornada de trabalho e a abolição dos castigos corporais e cruéis na Armada, como o açoite (a chibatada), a palmatória, a prisão a ferros e a solitária.
Apesar de ocorrer contra os castigos determinados ao marinheiro Marcelino Menezes, a revolta já vinha sendo preparada há meses, e os marinheiros estavam bem organizados, dominando com rapidez outras embarcações.
Os revoltosos tomaram, primeiro, o comando do navio de guerra Minas Gerais e, com o crescimento da rebelião, os marujos assumiram o controle dos navios São Paulo, Bahia e Deodoro. Com os canhões apontados para a capital federal, Rio de Janeiro, os marinheiros mandaram um comunicado ao presidente Hermes da Fonseca (1855-1923), explicando as razões da rebelião. Eles exigiam o fim dos castigos físicos e reclamavam da má alimentação e dos salários miseráveis.
Liderados pelo marinheiro negro João Cândido, "o Almirante Negro" como ficou conhecido, os marinheiros rebelados na Baía da Guanabara tomaram quatro dos maiores navios de guerra brasileiros e ameaçaram bombardear a Capital Federal. 
Apontando os canhões para a cidade do Rio de Janeiro, os marinheiros exigiam o fim dos castigos corporais e a melhoria na alimentação, e o governo de Hermes da Fonseca, foi obrigado a atender às reivindicações e a conceder anistia aos líderes do movimento.
Vitoriosos no seu entanto, o Congresso Nacional aprovou o fim da chibata. A repressão ao movimento contudo, veio traiçoeiramente. Os rebelados, que haviam sido anistiados pelo Congresso Nacional, acabaram ilegalmente presos pelo governo - Hermes da Fonseca era presidente - e acabaram muitos deles mortos nas masmorras da ilha das Cobras.
Apesar de eliminada a chibata, os líderes acabaram presos e muitos morreram torturados. O principal líder, o marinheiro João Candido, conhecido como "Almirante Negro" acabou sendo absolvido em 1912. João Cândido sobreviveu falecendo na miséria em uma favela do Rio de Janeiro no ano de 1969.

A Revolta da Armada

A Revolta da Armada, foi uma revolução liderada pelo audacioso baiano Custódio José de Mello, contra a permanência no poder, do governo do vice-presidente Floriano Peixoto, que os revoltosos declarando ilegítimo, exigiam uma presidência interina até a convocação de novas eleições.

Com a renúncia do marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), à presidência da República, em 23 de novembro de 1891, após nove meses de governo, o vice-presidente Floriano Peixoto assume o cargo. A Constituição Federal de 1891, no entanto, previa nova eleição caso a Presidência ou vice-presidência ficassem vagas antes de decorridos dois anos de mandato. A oposição acusa Floriano Peixoto de manter-se ilegalmente à frente da nação.
Contudo, interpretando as disposições transitórias da Constituição de 1891, o autoritário e imprevisível Floriano Peixoto dispunha-se a completar o mandato de seu antecessor, como de fato o fez. Em verdade, o governo de Floriano era inconstitucional: o artigo 42 dizia que, se o presidente não completasse a metade do mandato, novas eleições deviam ser convocadas.
Em 6 de setembro de 1893 um grupo de altos oficiais da Marinha exige a imediata convocação dos eleitores para a escolha dos governantes. Entre os revoltosos estão os almirantes Luiz Felipe de Saldanha da Gama, Eduardo Wandenkolk e Custódio José de Melo, ex-Ministro da Marinha e candidato declarado à sucessão de Floriano.
No movimento encontram-se também jovens oficiais e muitos monarquistas. A adesão destes reflete o descontentamento da Armada com o pequeno prestigio da Marinha em comparação ao Exército. A revolta atrai muito pouco apoio no Rio de Janeiro. Sem oportunidade de saírem vitoriosos, os amotinados dirigem-se para o Sul do país. A maioria da oficialidade ou se decidiu por Floriano, guarnecendo os navios adquiridos por ele, ou manteve-se em posição discordante em relação à revolta, mas sem demonstrar cabalmente desejo de combatê-la.
Alguns efetivos desembarcam em Desterro (atual Florianópolis), e tentam inutilmente articular-se com os federalistas gaúchos. Floriano Peixoto adquire novos navios de guerra no exterior e com eles derrota a Revolta da Armada.

Sociedade na Segunda República

Durante a Segunda República a população urbana supera a rural e a migração campo-cidade se intensifica. O principal polo de atração é a região centro-sul, onde se concentra o parque industrial do país. O crescimento do operariado é acompanhado do fortalecimento das classes médias urbanas, formadas por comerciários, bancários, funcionários intermediários das empresas estatais e militares. Sem experiência anterior de organização e pouco politizados, esses setores são a base principal de sustentação do populismo.

Movimento sindical

A estrutura corporativista dos sindicatos permanece intocada durante todo o período populista. A burocracia sindical, na sua maioria vinculada ao Partido Trabalhista Brasileiro, mantém a organização dos trabalhadores vinculada politicamente ao governo.

Radicalização

Durante o governo João Goulart, há uma radicalização do movimento sindical. Multiplicam-se as greves por melhorias salariais, algumas de caráter nacional. Em julho de 1962 a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria e o Pacto de Unidade e Ação, de caráter intersindical, convocam uma greve geral. Reivindicam melhoria das condições de trabalho e a formação de um ministério nacionalista e democrático. O movimento conquista o 13º salário para os trabalhadores urbanos. Em setembro de 1962 uma greve geral de caráter político reivindica a antecipação do plebiscito sobre o parlamentarismo. O plebiscito é convocado para janeiro de 1963.

Trabalhadores rurais

A partir dos anos 50, o desenvolvimento do capitalismo no campo vai alterando as relações tradicionais de trabalho. Antigos colonos, meeiros e parceiros começam a ser expulsos de suas posses. Migram para as cidades e muitos transformam-se em proletários rurais: trabalhadores "volantes", ou "bóias-frias", que vivem nas periferias urbanas e trabalham no campo. Suas condições de vida e trabalho pioram sensivelmente. Crescem as tensões sociais no campo e o número de organizações de trabalhadores rurais.

Ligas camponesas

Em janeiro de 1955 é fundada a Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco, embrião das ligas camponesas do Nordeste. Seu objetivo é lutar pela reforma agrária e pela posse da terra. Um de seus principais líderes é Francisco Julião, deputado pelo Partido Socialista. Em 1961 os trabalhadores rurais realizam o 1º Congresso Nacional de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, em Belo Horizonte. Com centenas de participantes, o Congresso exige reforma agrária e CLT para o trabalhador rural. Em 1962, com a aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural, muitas ligas camponesas transformam-se em sindicatos rurais.

Cultura na Segunda República

A euforia desenvolvimentista aberta com o governo JK reflete-se na vida cultural brasileira. Surgem as chamadas "vanguardas" artísticas e a "arte engajada": a produção cultural transforma-se em um meio de formação de opinião e instrumento de politização.

Cinema Novo

Em 1955 o cineasta Nelson Pereira dos Santos lança Rio 40 graus. O filme marca o início do Cinema Novo, movimento que se caracteriza pelos temas sociais e pela busca das raízes brasileiras. Essa tendência aprofunda-se nos anos seguintes com Deus e o diabo na terra do Sol, de Glauber Rocha, Os fuzis, de Rui Guerra, e Menino de engenho, de Walter Lima Jr., entre outros.

Cultura na década de 1950

No governo JK ocorreram também profundas mudanças culturais. Kubitschek passou a ser chamado de “presidente bossa nova” em alusão ao movimento musical surgido no final dos anos 1950.
A bossa nova nasceu como gênero musical brasileiro por meio da fusão do samba brasileiro com o jazz estadunidense. Músicas, letras e arranjos feitos por um conjunto de compositores, entre eles Tom Jobim, João Gilberto, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra e Roberto Menescal, logo viraram uma febre cultural e comercial no Brasil, principalmente no Rio
de Janeiro e nos Estados Unidos. A bossa nova foi associada à ideia de modernidade e ousadia, como JK pretendia caracterizar seu governo.
A renovação estética não se restringiu à música. Uma nova forma de fazer cinema aparecia no país: o Cinema Novo. A geração de cineastas composta por Glauber Rocha, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Ruy Guerra construiu um estilo cinematográfico que valorizava a crítica social, por meio de roteiros, cenários e personagens que representavam o contexto e a sociedade brasileira e seus problemas.
O Cinema Novo é considerado o movimento cinematográfico mais revolucionário ocorrido no Brasil. No entanto, uma contradição não foi resolvida por seus cineastas: a nova linguagem não aproximava os filmes do público. Sucesso de crítica, o Cinema Novo não teve a mesma repercussão nas salas de cinema.

Teatro engajado

A temática social também chega ao teatro. Autores como Jorge Andradee Dias Gomes trazem para o palco temas até então inusitados, como o drama dos trabalhadores rurais expulsos do campo. A efervescência política dos grandes centros é trabalhada pelos dramaturgos Gianfrancesco Guarnieri, em Eles não usam black-tie, e Oduvaldo Viana Filho, nas peças Chapetuba Futebol Clube e A mais-valia vai acabar, seu Edgar.

Bossa nova e protesto

Na passagem da década de 50 para a de 60 surge a bossa nova, movimento musical liderado por João Gilberto e Tom Jobim. Mais suave e intimista que o samba, a bossa nova revoluciona a música popular brasileira. Na mesma época ganha força a chamada música engajada, ou de protesto, como Opinião, de Zé Kéti, e Carcará, de João do Vale e José Cândido. Na música erudita, os compositores se dividem em torno do nacionalista Camargo Guarnieri e das propostas dodecafônicas do vanguardista Hans-Joachim Koellreuter.

Centro popular de cultura

Grande parte dessa efervescência cultural tem como ponto de partida e veículo de divulgação o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, criado em 1960. Com a concepção de que a arte é um poderoso instrumento de conscientização política, o CPC da UNE atua em várias partes do país. Realiza atividades teatrais, literárias, plásticas, musicais e cinematográficas.

Consumismo

As transformações culturais do período podem ser observadas também na mudança de padrões de consumo da sociedade brasileira. Ao longo dos anos 1950, a população do país tornou-se mais urbana, fato que desencadeou alterações
no tipo de consumo e no comportamento das pessoas com impactos, por exemplo, sobre a publicidade, que cresceu consideravelmente.
Bens de consumo duráveis – como geladeiras, televisores, automóveis e máquinas de lavar roupa – anteriormente importados, passaram a ser produzidos completa ou parcialmente no Brasil e se tornaram mais acessíveis à população.
O estilo de vida inspirado no padrão de consumo estadunidense passou a ser difundido pelos meios de comunicação, como jornais e revistas impressos, rádio e televisão, que estavam cada vez mais presentes nos lares das
classes média e alta da sociedade. Entretanto, como na década de 1950 a população era predominantemente pobre e rural (aproximadamente 60% da população vivia no campo), ainda seriam necessárias algumas décadas para que bens de consumo duráveis fossem de fato popularizados.


Economia na Segunda República

Nos 18 anos da Segunda República o país passa por um acelerado processo de industrialização por substituição de importações. Em meados dos anos 50 a indústria ultrapassa a agricultura na composição do Produto Nacional Bruto. A política econômica do governo Juscelino Kubitschek estimula a indústria nacional e, ao mesmo tempo, abre o mercado brasileiro para o capital estrangeiro sob a forma de empréstimos ou de investimentos diretos.

No final dos anos 50 os rumos a serem impressos à economia brasileira são o grande divisor de águas da sociedade civil. Os setores nacionalistas defendem um desenvolvimento autônomo, centrado no crescimento do mercado interno. A oposição quer ampliar a industrialização pela maior abertura do mercado aos capitais internacionais.

Queima de divisas

Durante a Segunda Guerra as exportações brasileiras superam as importações e o país acumula boa quantidade de divisas, a maioria paga após o final do conflito. A moeda brasileira também está valorizada. O governo Dutra promove uma verdadeira queima de divisas. Libera as importações de produtos totalmente supérfluos: de casacos de peles a ioiôs, de comida para cachorro a aparelhos de televisão, numa época em que não havia emissoras no Brasil.

Crescimento da indústria

Para Juscelino Kubitschek e os ideólogos do desenvolvimentismo, as profundas desigualdades do país só serão superadas com o predomínio da indústria sobre a agricultura. O governo JK empenha-se em baratear o custo da mão-de-obra e das matérias-primas, subsidia a implantação de novas fábricas e facilita a entrada de capitais estrangeiros. Entre 1955 e 1959 os lucros na indústria crescem 76% e a produtividade, 35%. Os salários sobem apenas 15%.

Desenvolvimentismo

Juscelino isenta de impostos as importações de máquinas, equipamentos e todo capital estrangeiro que aqui se estabeleça, desde que em associação com o capital nacional. Financia a ampliação da indústria pesada. Investe na construção de siderúrgicas e hidrelétricas, amplia a capacidade produtiva da Petrobrás, abre novas estradas e levanta Brasília. Em 1959 cria a Sudene (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste) para integrar a região ao mercado nacional. Em 1960 obtém do FMI um empréstimo de US$ 47,7 milhões e cria o Grupo de Estudos da Indústria Automobilística (Geia), primeiro passo para a instalação das grandes montadoras de automóveis no Brasil.

Desnacionalização

Em 1961, das 66 empresas com maior concentração de capital, 32 são estrangeiras e apenas 19 pertencem a grupos privados nacionais. O capital estrangeiro controla 99,8% da indústria de tratores, 98% da indústria automobilística, 85% do setor de cigarros, 88% das indústrias farmacêuticas, 82% do setor de eletricidade, 70% das indústrias de máquinas e 76% das indústrias químicas.

Inflação e dívida externa

Os índices de inflação crescem durante a Segunda República. Eles resultam das constantes emissões de moedas para sustentar os investimentos estatais e pagar os empréstimos externos. Em 1960 a inflação chega a 25% ao ano, sobe para 43% em 1961, a 55% em 1962 e a 81% em 1963. O FMI passa a condicionar a concessão de novos empréstimos a uma política austera de estabilidade da moeda.

Cultura na Era Vargas

 A revolução estética proposta pelo movimento modernista de 1922 consolida-se a partir da Revolução de 30. A tensão ideológica de toda a Era Vargas se faz presente na produção cultural. A literatura, por exemplo, é considerada um instrumento privilegiado de conhecimento do ser humano e de modificação da realidade.

Literatura – Poetas como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade e romancistas como José Lins do Rego atingem a maturidade. Surgem novos escritores, como Érico Veríssimo, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Na poesia, de linha intimista, sobressaem Cecília Meireles e Vinícius de Moraes. Mais para o final do Estado Novo destacam-se João Cabral de Melo Neto na poesia de temas regionais, Clarice Lispector, na prosa de ficção, e Guimarães Rosa, um dos mais importantes romancistas brasileiros.
Arquitetura e artes plásticas – Na arquitetura destacam-se Lúcio Costa, que projeta o prédio modernista do Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro, e Oscar Niemeyer que, em 1942, planeja em Belo Horizonte o Conjunto da Pampulha. A obra inova nas linhas arquitetônicas e na decoração, feita com azulejos e painéis do pintor Cândido Portinari.
Música e teatro – No teatro, surge o dramaturgo Nélson Rodrigues. Em 1943 ele estreia no Rio de Janeiro a peça Vestido de noiva, que incorpora padrões teatrais revolucionários para a época. A música popular dá um salto de qualidade com o trabalho de compositores como Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, Ismael Silva e Ataulfo Alves. Na música erudita, Villa-Lobos compõe as Bachianas brasileiras, unindo Bach e a música folclórica nacional.

A cultura popular mostra seu valor

Getúlio Vargas e os políticos reformistas que o apoiavam tinham também o objetivo de valorizar a cultura nacional. Para eles, a Europa não deveria mais servir de referência cultural para o Brasil.
Muitos artistas e intelectuais do movimento modernista dos anos 1920 apoiaram a política cultural do governo Vargas.
A cultura negra foi valorizada. O samba foi elevado a principal gênero da música brasileira, a capoeira, reconhecida como arte marcial do Brasil e o carnaval carioca entrou para o calendário turístico da cidade do Rio de Janeiro. O governo incentivou financeiramente o teatro, o cinema e a publicação de livros.
O período iniciado em 1930 viu serem publicadas as obras de muitos escritores importantes, como Jorge Amado (1912-2001), Rachel de Queiroz (1910-2003) e José Lins do Rego (1901-1957). Eles falavam do Brasil, de seus problemas e da cultura popular. Alguns deles acabaram perseguidos pela censura no período do Estado Novo.

O negro e o teatro

Abdias Nascimento participou do processo de renovação cultural. Em viagem ao Peru, assistiu a uma peça teatral em que um ator branco se pintou com tinta para interpretar um personagem negro. Abdias ficou indignado com o que viu – acima de tudo, porque percebeu que também no Brasil os negros não tinham espaço nos palcos.
Ao retornar ao Brasil, planejou criar o Teatro do Negro Brasileiro, mas foi novamente preso em 1941, por ter resistido a agressões racistas. Na prisão do Carandiru, em São Paulo, criou o Teatro do Sentenciado, cujos atores eram os próprios presos. Libertado, Abdias retornou ao Rio de Janeiro. Com o apoio da União Nacional dos Estudantes (UNE), fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN), que funcionou até 1968.

Um Brasil brasileiro

Canções podem ser utilizadas pelos historiadores para compreender o passado das sociedades. Veja, por exemplo, a canção “Aquarela do Brasil”, do compositor Ary Barroso (1903-1964). Ela foi tocada nas rádios pela primeira vez em 1939 e tornou-se uma das canções brasileiras mais conhecidas no mundo.
A letra da canção, produzida na época do governo Vargas, exalta o Brasil, valorizando seu povo e sua natureza.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...