quinta-feira, 25 de julho de 2024

OS CONFLITOS E OS NÔMADES GLOBAIS

Os conflitos armados são catastróficos para os países envolvidos e costumam afetar também os países vizinhos. Dentre esses problemas, podemos citar a violência, a fome, a inflação, a destruição de residências e infraestruturas diversas e a disseminação de doenças.

Todos esses problemas fazem com que muitas pessoas se arrisquem tentando fugir desse contexto e busquem melhores condições de vida em outros lugares. Os imigrantes tiveram um papel muito importante no processo de ocupação do território europeu e de sua formação econômica e social. Alguns governos europeus procuram tornar as restrições aos imigrantes menos rígidas em razão da oferta de mão de obra cada vez mais reduzida e da baixa natalidade das populações de seus países. 
Os imigrantes tendem a buscar na Europa destinos com idiomas próximos de seus países de origem. Além disso, os países mais ricos também costumam atrair mais imigrantes que buscam uma vida melhor. Apesar disso, parte dos imigrantes que se fixam na Europa é submetida à baixa remuneração, tem pouco acesso à rede de proteção social e de serviços públicos e enfrenta situações de exclusão habitacional, com condições de moradia e infraestrutura de serviços públicos inferiores à média das cidades onde se encontram.
Apesar de os países europeus precisarem da mão de obra oferecida por muitos imigrantes, têm crescido na Europa movimentos de grupos extremistas que propagam um discurso anti-imigração.
Embora muitos cidadãos europeus apoiem a garantia de direitos aos migrantes, parte da população europeia teme que pessoas vindas de outros países ameacem seus postos de trabalho.
Em países centrais da Europa, esse temor aos estrangeiros fundamenta discursos alarmistas e preconceituosos, que desconsideram a localização periférica de outros países europeus, onde o fenômeno migratório é ainda mais intenso.
Em geral, os países que recebem mais migrantes localizam-se no entorno da região em crise e têm menos recursos para abrigar essa população. 

O CONFLITO ENTRE CHINA E TAIWAN

A ilha de Taiwan está estrategicamente localizada entre o Mar da China Oriental e o Mar da China Meridional e sempre foi um ponto de interesse de potências europeias e asiáticas. Nos séculos XVI e XVII, espanhóis, neerlandeses e chineses exerceram domínio sobre a ilha, que era habitada por uma população local. No século XIX, a ilha caiu sob domínio japonês e só após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) voltou a pertencer a China.
Após o fim da Guerra Civil Chinesa em 1949, o exército nacionalista derrotado deixou o continente e se refugiou na ilha de Taiwan, onde foi proclamada a República da China.
Na China continental, o vitorioso Exército de Libertação Popular, de ideologia comunista, proclamou a República Popular da China. Desde então, os dois países se consideram
a única China e qualquer país que mantiver relações diplomáticas oficiais com um não pode ter com o outro. Até 1971, a República da China (Taiwan) era o país reconhecido na ONU como o legítimo representante chinês quando a Assembleia Geral da ONU reconheceu a República Popular da China como a representante oficial na organização.
Por conta da importância econômica e de seu grande mercado consumidor, a maior parte dos países hoje reconhece a República Popular da China como a única China, no entanto, muitos deles mantêm relações com Taiwan por meios não oficiais.
Atualmente, a República Popular da China exerce forte pressão diplomática sobre qualquer país que tente estabelecer relações oficiais com Taiwan, uma vez que considera o território uma província rebelde e busca sua unificação com o continente. Historicamente, a ilha recebeu muitos chineses que fugiram do país após a Revolução Comunista de 1949.
Apesar do recente processo de aproximação entre China e Taiwan, muito em função das relações comerciais, o governo chinês já ameaçou invadir a ilha diversas vezes.
Mesmo com o não reconhecimento oficial da comunidade internacional, Taiwan é, na prática, um país soberano, possui governo próprio, eleições e forças armadas. 
Em 2020, em uma lista divulgada pela revista The Economist, Taiwan ocupava o 11º lugar no ranking de índice de democracia, a mais alta posição dentre os países do Leste da Ásia.
Essa situação gera uma grande tensão no estreito de Taiwan, que separa os dois países, o que inclusive desperta interesse e preocupação de outras potências, como os Estados Unidos.
A ilha de Taiwan é o território que, estrategicamente, pode bloquear a expansão chinesa para o oceano Pacífico. A partir dali, é possível monitorar os fluxos de embarcações chinesas ao norte e ao sul do território. Esse é um dos motivos pelos quais os Estados Unidos apoiam Taiwan.
Os Estados Unidos mantêm diversas bases e instalações militares na região, além de terem firmado alianças militares e estratégicas com países que também buscam conter a influência chinesa no Pacífico. Com a Austrália e o Reino Unido, os Estados Unidos firmaram a aliança militar Aukus, e com Austrália, Índia e Japão, estabeleceram o Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad). A China vê com grande preocupação essa crescente influência estadunidense na região e os movimentos de países vizinhos para isolá-la.
Em 2022, as tensões envolvendo China, Taiwan e, consequentemente, Estados Unidos aumentaram com a visita da presidente da Câmara dos Deputados estadunidense, Nancy Pelosi, a Taiwan. A visita foi considerada pelo governo chinês como uma ameaça a seu território e, como forma de retaliação ao acontecimento, a China anunciou uma série de medidas econômicas contra a ilha e os Estados Unidos, além de realizar exercícios militares com munição real que simulavam um bloqueio naval à Taiwan.

O INTERESSE GEOPOLÍTICO NO AFEGANISTÃO

O Afeganistão é detentor de riquezas minerais significativas e localização estratégica privilegiada, porém, é um país pouco desenvolvido. Por essas razões, foi alvo de diversas invasões e ocupações estrangeiras ao longo da história (inclusive da União Soviética, entre 1979 e 1989).
O Afeganistão tem uma história colonial distinta das outras regiões asiáticas. Durante o imperialismo do fim do século XIX, o país chegou a ser invadido por tropas britânicas, mas não foi efetivamente colonizado, pois era um “Estado-tampão” que separava o Império Russo e domínios coloniais do Império Britânico. Se por um lado o país evitou, assim, a exploração colonial, por outro teve seu desenvolvimento econômico muito reduzido.

Durante o século XX, o Afeganistão foi um país independente, mas que passou por diversas mudanças de regimes e golpes de estado. Em 1978, no contexto da Guerra Fria, partidos de orientação comunista apoiados pela União Soviética tomaram o poder no país, o que também deu início à insurgência de grupos armados oposicionistas. Em 1979, tropas soviéticas invadiram o Afeganistão, dando início a uma ocupação que duraria até 1989. Durante esse período, o exército soviético lutou contra os mujahidins, combatentes islâmicos que foram apoiados por diversos países, sobretudo pelos Estados Unidos. A guerra vitimou aproximadamente 15 mil soviéticos e, estima-se, mais de 1 milhão de afegãos.
Após a retirada das tropas soviéticas, o Afeganistão mergulhou em uma guerra civil que resultou na tomada do poder pelo grupo extremista islâmico Talibã, uma das principais facções do conflito e que recebeu forte apoio do serviço secreto paquistanês.
Após o atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, o governo estadunidense atribuiu o ataque à rede terrorista internacional Al-Qaeda, liderada por Osama Bin Laden, cuja base estava instalada no Afeganistão. Após a organização ter se recusado a cumprir a exigência do Conselho de Segurança da ONU de entregar Osama Bin Laden, os Estados Unidos deram início à invasão do Afeganistão, em 2002. 
Uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos invadiu o Afeganistão, no contexto da guerra contra o terrorismo internacional, derrubou o governo talibã e iniciou uma ocupação militar do país que duraria quase 20 anos. 
Na época, o Afeganistão estava sob domínio do Taleban, que havia implantado um regime repressivo sobretudo às mulheres, entre 1996 e 2001. Após a invasão, os Estados Unidos estabeleceram um novo governo e instalaram novas bases militares estadunidenses no Oriente Médio.
A partir de 2011, as tropas internacionais começaram a se retirar gradualmente do país e o ambiente de segurança se deteriorou ainda mais com a escalada de ataques de grupos insurgentes.
Em 2020, os Estados Unidos firmaram um acordo com o Talibã para a retirada de suas tropas do Afeganistão. Em contrapartida, o grupo afegão se comprometeu a cortar laços com o grupo terrorista Al-Qaeda. No ano de 2021, o último soldado estadunidense deixou o solo afegão. No entanto, o governo afegão, reconhecido internacionalmente, não possuía força militar para contrapor os insurgentes talibãs, e a retirada estadunidense ocorreu às pressas em meio aos rápidos avanços militares do grupo fundamentalista. 
A comunidade internacional criticou duramente a forma como se deu a retirada das tropas, que ficou marcada por tumultos, com milhares de afegãos que haviam colaborado com a presença estadunidense tentando escapar do país por medo de represálias por parte do Talibã. A guerra deixou um saldo de aproximadamente 176 mil mortos, sendo 46 mil civis e 3,5 mil integrantes da coalizão internacional.
Com a retirada do exército dos Estados Unidos do Afeganistão, o Talibã derrubou rapidamente o governo e retomou o controle central do país. Agora no poder, o grupo tem adotado medidas restritivas em relação à liberdade das mulheres e imposto uma interpretação mais estrita da lei islâmica a toda a população. Embora tenha tomado o controle do país, o Talibã tem sido contestado interna e externamente. O grupo vem sofrendo críticas por parte de outros países e de organismos internacionais por não respeitar os direitos humanos. Além disso, dentro de seu próprio território, o atual governo sofre contestação de outras organizações que buscam tomar o poder, como, por exemplo, o Estado Islâmico.

A GUERRA CIVIL SÍRIA

A disputa territorial entre Síria e Turquia sempre foi uma questão geopolítica importante no Oriente Médio. Depois da Primeira Guerra Mundial, a Turquia reivindicava o território de Alexandreta (atual província turca de Hatay). No entanto, a França, que administrava a região, manteve esse território sob domínio sírio. 
Em 1939, quando uma decisão política indicou que Hatay deveria pertencer aos turcos, foi a vez de os sírios não aceitarem, apesar de essa província ser habitada majoritariamente por turcos. As relações entre os países se deterioraram quando o presidente sírio Hafez al-Assad (pai do atual ditador Bashar al-Assad) apoiou o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) em sua causa, ou seja, a busca pela independência contra a Turquia.
Em 2011 teve início um conflito na Síria, originado nas revoluções da Primavera Árabe, nome dado ao período em que a população de algumas nações árabes se revoltou contra os governos de seus países, há anos no poder.
Os protestos na Síria foram contidos violentamente pelo governo de Bashar al-Assad e resultaram numa guerra civil. Bashar al-Assad representa uma etnia minoritária e de elite na Síria, a alauíta (setor do xiismo), enquanto a maioria da população (sunita) não se vê representada pelo governo.

Como reação às manifestações populares durante a Primavera Árabe, o ditador Bashar al-Assad, da Síria, iniciou violenta repressão armada, resultando em centenas de mortes. A repressão aos grupos políticos oposicionistas rapidamente evoluiu para uma sangrenta guerra civil, que opôs o exército nacional sírio contra diversas facções, como o Exército Livre Sírio, fundamentalistas islâmicos, curdos, entre outros.
Após um acordo entre Estados Unidos e Rússia, o governo de Bashar al-Assad, para evitar a intervenção internacional, comprometeu-se a assinar um tratado e permitir que o arsenal químico sírio fosse destruído. O governo sírio foi acusado de ter usado armas químicas contra seus opositores em 2013.
Enquanto os rebeldes afirmavam tentar acabar com a ditadura e implantar a democracia, o governo alegava defender o país de terroristas.
Um dos principais agravantes dentro do conflito sírio é a atuação do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que, inicialmente, lutava a favor dos opositores de Bashar al-Assad. O EI chegou a controlar efetivamente áreas do território sírio e, após a tomada de Raqqa, escolheu a cidade como capital de seu autoproclamado califado em 2014. A partir de 2016, o exército nacional sírio (apoiado pela Rússia) e outros grupos beligerantes realizaram ofensivas contra o grupo e reduziram amplamente o seu poder no país.
Há grande interesse geopolítico internacional na Síria, e potências estrangeiras como Estados Unidos, países europeus, Rússia, Turquia e Irã realizam intervenções militares no território do país.
Os russos e os iranianos apoiam o ditador sírio Bashar Al-Assad e lutam ao lado das forças governamentais. Os russos foram responsáveis por uma intensa campanha de bombardeios aéreos a grupos contrários ao governo, a qual foi marcada, sobretudo, pela destruição da cidade de Alepo, na época controlada pelos rebeldes.
Os Estados Unidos e países europeus, como Reino Unido e França, apoiam diversos grupos de oposição ao governo sírio, como as Forças Democráticas Sírias (FDS) e as forças curdas. Além disso, a imposição estadunidense se faz presente por meio bombardeios que têm como alvo instalações do governo, grupos radicais islâmicos e milícias apoiadas pelo Irã.
Em meio aos interesses externos, turcos e curdos travam disputas na faixa norte do território sírio, enquanto grupos terroristas como Estado Islâmico e Al-Qaeda tentam sobreviver ao novo arranjo territorial produzido pela guerra.
A Guerra Civil Síria já vitimou aproximadamente 500 mil pessoas desde o seu início em 2011, além de obrigar que mais de 5 milhões de pessoas deixassem as suas casas. As ações de tropas do governo sírio, de rebeldes e das potências estrangeiras não raro vitimam civis, o que contribui para o alto número de mortos e feridos no conflito.

CONFLITOS NA TURQUIA: TURCOS E CURDOS

País marcado por conflitos e disputas territoriais, a Turquia tem como uma de suas principais questões geopolíticas o conflito territorial com os curdos, povo que ocupa sobretudo áreas no oeste do país. Os curdos também ocupam áreas nos territórios de outros países, como Iraque, Irã, Síria, Geórgia e Armênia.

O povo curdo reivindica a criação de um país autônomo – o Curdistão – para a preservação de sua identidade cultural, prometido pelos britânicos desde o período colonial da região. No entanto, especialmente por ocupar uma área estratégica de nascentes de rios e reservas petrolíferas, sua autonomia é negada. Os curdos formam o quarto maior grupo étnico do Oriente Médio.

A luta pela autonomia do povo curdo começou a ser travada a partir da década de 1980, com a atuação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), e tem como objetivo formar o Estado curdo e abrigar sua população, que se mantém dispersa e reprimida por toda a região. O PKK já realizou ações armadas e ataques à bomba contra forças de segurança turcas, motivo pelo qual é considerado uma organização terrorista pelo país.

Outro problema enfrentado pela Turquia e que afeta diretamente os curdos se refere à disponibilidade hídrica e energética. Para solucioná-lo, o governo turco deu início ao projeto da Grande Anatólia, cujo objetivo é construir 22 represas e 19 usinas hidrelétricas ao longo dos rios Tigre e Eufrates. Além disso, o projeto também prevê a melhoria da infraestrutura urbana e rural em toda a área contemplada. No entanto, esse projeto prevê o alagamento de áreas do país ocupadas pelos curdos, que seriam obrigados a deixar suas terras. Outras críticas ao projeto vieram de países vizinhos, como Síria e Iraque, que protestaram por entenderem que ficariam privados de água. Já os sauditas e os israelenses apoiaram o projeto de construção do grande sistema, que inclui um duto que ligará as barragens do sudeste da Turquia a Israel e a Riad.

Além disso, a Turquia é um dos principais destinos de refugiados provenientes de países que passam por guerra civis e instabilidade política na região, como é o caso da Síria e do Iraque. A guerra civil na Síria, iniciada em 2011, é o principal fator de expulsão de pessoas na região e aproximadamente 3,5 milhões de sírios se encontravam refugiados no território

turco em 2021. O governo turco está diretamente envolvido no conflito e frequentemente facilita que os refugiados sírios abandonem seu território em direção aos países europeus como forma de exercer pressão geopolítica sobre a União Europeia.

O governo turco é criticado pela comunidade internacional por violar os direitos humanos por meio de ações que reprimem a liberdade de expressão e a democracia, atuando de forma autoritária em episódios que envolveram a prisão de jornalistas críticos ao governo, a repressão de movimentos LGBTQIAPN+ e a prisão de refugiados sírios pela polícia secreta turca, que os entrega ao país de origem.

Os curdos também foram fortemente reprimidos no Iraque, durante o governo de Saddam Hussein (1979-2003). Com a deposição de Saddam Hussein após a invasão estadunidense, havia a esperança de que os curdos se fixassem pacificamente nos territórios ao norte do país. A partir de 2006, o Iraque chegou a ter dois presidentes, que participaram da guerrilha curda durante o governo do antigo ditador. Receosa de que o fortalecimento curdo poderia atingir também seu território, a Turquia passou a atacar a região curda no Iraque.


A ÍNDIA E O PAQUISTÃO

Segundo dados do Banco Mundial, em 2020, a população da Índia era de aproximadamente 1,4 bilhão de habitantes, o que corresponde a cerca de um sexto da população mundial. O país apresenta mais de 20 idiomas, originados, em parte, da influência linguística dos colonizadores (inglês e francês). A cultura indiana é marcada pela religião hindu, tradição presente há 4 mil anos.

O processo de independência da Índia – a chamada Partilha da Índia – deu origem a dois países: Índia e Paquistão. O Paquistão, por sua vez, tinha seu território separado em duas partes: Oriental e Ocidental, a leste e a oeste da Índia.
Desde 1947, três guerras já ocorreram entre Índia e Paquistão por causa da região da Caxemira, que tem grande relevância estratégica, pois apresenta terras altamente férteis, compõe o eixo de ligação norte-sul e abriga nascentes de rios importantes, como o Indo, que corre em direção à Índia. Esses conflitos geram grande preocupação mundial, já que os países envolvidos possuem arsenal nuclear. Com o fim do domínio britânico, Índia e Paquistão retomaram a disputa pela
Caxemira, uma região com maioria muçulmana, mas que está sob o domínio indiano.
Atualmente, movimentos separatistas da Caxemira, como a Frente de Libertação de Jammu e Caxemira, com a interferência do Paquistão, lutam pela independência da região em relação à Índia. A maioria dos habitantes da Caxemira é muçulmana (predominante no Paquistão), perfil que destoa da maioria da população hinduísta que vive na Índia.
Além do Paquistão e da Índia, a China também participa da disputa pelo território da Caxemira. Com um histórico anterior de conflitos armados, a ameaça de confronto na região é constante. Na década de 1970, as constantes divergências entre duas das áreas que compunham o Paquistão provocaram a divisão deste em dois países independentes: Paquistão e Bangladesh. Foi nesse período que a Índia e o Paquistão retomaram a disputa pela Caxemira.

A QUESTÃO DO TIBETE

Além dos movimentos separatistas na Europa, merecem destaque também os movimentos separatistas presentes na Ásia, em especial o que ocorre no Tibete, que foi uma jurisdição chinesa por mais de 700 anos. A região é localizada em uma das áreas mais altas do mundo e abriga importantes afluentes e nascentes de rios asiáticos, por isso foi historicamente muito disputada.
O Tibete, província localizada ao norte da Cordilheira do Himalaia, no oeste da China, era um país soberano até 1950. Ao anexar o território tibetano, o governo da China, liderado por Mao-Tsé-Tung, que já o considerava uma área estratégica, incentivou a migração chinesa para a região. A China ampliou, então, suas fronteiras, aproximando-se da Índia. A região é rica em urânio, matéria-prima essencial para o funcionamento de usinas nucleares.

No século VII, o Tibete foi anexado ao império chinês, o que ia contra os interesses dos dalai-lama, a liderança política e espiritual do país. No século XVIII, a região também foi alvo de interesses colonialistas britânicos, tendo em vista que, nesse contexto, o Reino Unido buscava estabelecer novos entrepostos comerciais.

Em 1912, o 13° dalai-lama declarou a independência do Tibete. No entanto, a independência tibetana nunca foi legitimada no cenário internacional. Em 1951, um ano após a fundação da República Popular da China, o governo chinês decidiu reincorporar o Tibete ao seu território. Desde esse período, a população tibetana reivindica a sua independência.
Em 1951 foi firmado o Acordo dos 17 Pontos, pelo qual China e Tibete se comprometiam a encontrar uma solução democrática para o conflito. Contudo, a China seguia pressionando os membros do governo tibetano. Desde então, os tibetanos se tornaram prisioneiros na própria terra e um povo sem pátria. O tibetano não é chinês, não fala a língua chinesa e não aceita o domínio chinês.
Desde a década de 1960, o Tibete é considerado uma região autônoma, mas a autonomia ainda é questionada pela China, que não abre mão do controle do território. Uma das razões são as já mencionadas riquezas minerais do subsolo do Tibete. A população tibetana considera a administração pelo governo chinês uma ocupação militar ilegítima. 
Nas últimas décadas, foram realizadas uma série de tentativas de negociação para que a autonomia do Tibete fosse reconhecida, assim como suas tradições religiosas budistas, seu idioma e suas práticas culturais. Em 1995, uma criança considerada o número dois na hierarquia político-religiosa do budismo tibetano foi presa pelo governo chinês e nunca mais foi vista.

A situação se agravou a partir de 1998, quando Dalai-lama e outros tibetanos foram para o exílio na Índia; desde então, buscam apoio internacional para o reconhecimento da soberania do território tibetano. Há diversas ações e discursos de repúdio ao domínio chinês na comunidade internacional. No entanto, até então essas ações não levaram à consolidação de medidas práticas pela emancipação do território.
A China é muito criticada, principalmente entre os países ocidentais, por manter o Tibete como província. O atual Dalai-lama, Tenzin Gyatso, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1989, é amplamente respeitado. Contudo, não vive no Tibete por determinação do governo chinês.
Em 2021, a anexação do Tibete ao território chinês completou 50 anos. Em discursos comemorativos, o Partido Comunista Chinês destacou a necessidade de ensinar o idioma chinês nas escolas e de coibir outras práticas culturais tibetanas, justificando essa opressão cultural em função do desenvolvimento econômico da região nas últimas décadas. No entanto, a população tibetana e alguns países consideraram essa prática extremamente violenta.

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