quinta-feira, 25 de julho de 2024

A ÍNDIA E O PAQUISTÃO

Segundo dados do Banco Mundial, em 2020, a população da Índia era de aproximadamente 1,4 bilhão de habitantes, o que corresponde a cerca de um sexto da população mundial. O país apresenta mais de 20 idiomas, originados, em parte, da influência linguística dos colonizadores (inglês e francês). A cultura indiana é marcada pela religião hindu, tradição presente há 4 mil anos.

O processo de independência da Índia – a chamada Partilha da Índia – deu origem a dois países: Índia e Paquistão. O Paquistão, por sua vez, tinha seu território separado em duas partes: Oriental e Ocidental, a leste e a oeste da Índia.
Desde 1947, três guerras já ocorreram entre Índia e Paquistão por causa da região da Caxemira, que tem grande relevância estratégica, pois apresenta terras altamente férteis, compõe o eixo de ligação norte-sul e abriga nascentes de rios importantes, como o Indo, que corre em direção à Índia. Esses conflitos geram grande preocupação mundial, já que os países envolvidos possuem arsenal nuclear. Com o fim do domínio britânico, Índia e Paquistão retomaram a disputa pela
Caxemira, uma região com maioria muçulmana, mas que está sob o domínio indiano.
Atualmente, movimentos separatistas da Caxemira, como a Frente de Libertação de Jammu e Caxemira, com a interferência do Paquistão, lutam pela independência da região em relação à Índia. A maioria dos habitantes da Caxemira é muçulmana (predominante no Paquistão), perfil que destoa da maioria da população hinduísta que vive na Índia.
Além do Paquistão e da Índia, a China também participa da disputa pelo território da Caxemira. Com um histórico anterior de conflitos armados, a ameaça de confronto na região é constante. Na década de 1970, as constantes divergências entre duas das áreas que compunham o Paquistão provocaram a divisão deste em dois países independentes: Paquistão e Bangladesh. Foi nesse período que a Índia e o Paquistão retomaram a disputa pela Caxemira.

A QUESTÃO DO TIBETE

Além dos movimentos separatistas na Europa, merecem destaque também os movimentos separatistas presentes na Ásia, em especial o que ocorre no Tibete, que foi uma jurisdição chinesa por mais de 700 anos. A região é localizada em uma das áreas mais altas do mundo e abriga importantes afluentes e nascentes de rios asiáticos, por isso foi historicamente muito disputada.
O Tibete, província localizada ao norte da Cordilheira do Himalaia, no oeste da China, era um país soberano até 1950. Ao anexar o território tibetano, o governo da China, liderado por Mao-Tsé-Tung, que já o considerava uma área estratégica, incentivou a migração chinesa para a região. A China ampliou, então, suas fronteiras, aproximando-se da Índia. A região é rica em urânio, matéria-prima essencial para o funcionamento de usinas nucleares.

No século VII, o Tibete foi anexado ao império chinês, o que ia contra os interesses dos dalai-lama, a liderança política e espiritual do país. No século XVIII, a região também foi alvo de interesses colonialistas britânicos, tendo em vista que, nesse contexto, o Reino Unido buscava estabelecer novos entrepostos comerciais.

Em 1912, o 13° dalai-lama declarou a independência do Tibete. No entanto, a independência tibetana nunca foi legitimada no cenário internacional. Em 1951, um ano após a fundação da República Popular da China, o governo chinês decidiu reincorporar o Tibete ao seu território. Desde esse período, a população tibetana reivindica a sua independência.
Em 1951 foi firmado o Acordo dos 17 Pontos, pelo qual China e Tibete se comprometiam a encontrar uma solução democrática para o conflito. Contudo, a China seguia pressionando os membros do governo tibetano. Desde então, os tibetanos se tornaram prisioneiros na própria terra e um povo sem pátria. O tibetano não é chinês, não fala a língua chinesa e não aceita o domínio chinês.
Desde a década de 1960, o Tibete é considerado uma região autônoma, mas a autonomia ainda é questionada pela China, que não abre mão do controle do território. Uma das razões são as já mencionadas riquezas minerais do subsolo do Tibete. A população tibetana considera a administração pelo governo chinês uma ocupação militar ilegítima. 
Nas últimas décadas, foram realizadas uma série de tentativas de negociação para que a autonomia do Tibete fosse reconhecida, assim como suas tradições religiosas budistas, seu idioma e suas práticas culturais. Em 1995, uma criança considerada o número dois na hierarquia político-religiosa do budismo tibetano foi presa pelo governo chinês e nunca mais foi vista.

A situação se agravou a partir de 1998, quando Dalai-lama e outros tibetanos foram para o exílio na Índia; desde então, buscam apoio internacional para o reconhecimento da soberania do território tibetano. Há diversas ações e discursos de repúdio ao domínio chinês na comunidade internacional. No entanto, até então essas ações não levaram à consolidação de medidas práticas pela emancipação do território.
A China é muito criticada, principalmente entre os países ocidentais, por manter o Tibete como província. O atual Dalai-lama, Tenzin Gyatso, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1989, é amplamente respeitado. Contudo, não vive no Tibete por determinação do governo chinês.
Em 2021, a anexação do Tibete ao território chinês completou 50 anos. Em discursos comemorativos, o Partido Comunista Chinês destacou a necessidade de ensinar o idioma chinês nas escolas e de coibir outras práticas culturais tibetanas, justificando essa opressão cultural em função do desenvolvimento econômico da região nas últimas décadas. No entanto, a população tibetana e alguns países consideraram essa prática extremamente violenta.

Conflito entre Rússia e Ucrânia

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia, iniciado em 2022, tem origem na formação histórica desses países e na disputa por territórios economicamente estratégicos. 
Entre os principais motivos para a invasão da Ucrânia pela Rússia (em fevereiro de 2022), estão:
- Conflitos separatistas no leste da Ucrânia (com maioria da população de ascendência russa) — nas províncias de Donetsk e Luhansk, reconhecidas como independentes por Putin.
- Aproximação da Ucrânia com o Ocidente — a possibilidade do país fazer parte da Otan e da União Europeia.
Ao longo dos séculos, a Ucrânia fez parte de impérios, sofreu inúmeras invasões, foi incorporada pelos russos e pelos soviéticos, se tornou independente, mas nunca resolveu por completo sua relação com a Rússia.
A queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria provocaram a diminuição da influência da URSS e a consolidação da hegemonia estadunidense. Por meio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), os Estados Unidos aumentaram sua influência política e cultural em diversos lugares.

Nesse contexto, muitos países do leste europeu conquistaram sua independência, como a Ucrânia, em 1991. No entanto, o país continuou sob a influência da Rússia, que considera o território estratégico, tendo em vista o acesso ao Mar Negro e os oleodutos e os gasodutos que passam pela região.

A Rússia aumentou sua influência no cenário internacional a partir da década de 2000, quando Vladimir Putin assumiu a presidência do país. Ele tem como uma das estratégias de ascensão econômica do país as parcerias comerciais com os países ex-membros da URSS e a China – o último atualmente se configura como principal parceiro econômico da região – além do domínio do Mar Negro e da produção de gás natural para abastecer o continente europeu.

Em 2014, o ex-presidente da Ucrânia, o líder pró-russo Viktor Yanukovych, foi deposto após uma série de protestos. Isso levou a Rússia a buscar o aumento do controle sobre a região da Crimeia, território ucraniano. Com a independência da Ucrânia em 1991, a Rússia ficou com o controle de uma base naval na região, sede da Frota do Mar Negro.

Nesse mesmo ano, com 95,5% de aprovação dos eleitores da Crimeia, a região foi anexada ao território russo, em um referendo que foi considerado ilegal pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido por ter sido realizado sem a presença de observadores internacionais. Desde então, as relações geopolíticas entre a Ucrânia e a Rússia ficaram mais tensionadas. Com a anexação da Crimeia, a região tem sido um ponto de disputa geopolítica entre a Rússia, a Ucrânia, países europeus e os Estados Unidos.
A região de Donbass tem minorias que pedem a separação da Ucrânia e anexação à Rússia e, por isso, é considerada outra zona de conflito. O argumento é que a formação cultural, econômica, social e política estão mais próximas à Rússia. Após a anexação da Crimeia, os movimentos separatistas se intensificaram na região de Donbass, exigindo autonomia política. Esses movimentos tiveram apoio militar da Rússia e foram fortemente reprimidos pelo governo ucraniano.

A região de Donbass

A partir de 2014, a Ucrânia passou a vivenciar um período de profunda crise econômica, social e política. Entre os motivos que contribuíram para essa instabilidade, no final de 2013, por pressões da Rússia, o governo do então presidente ucraniano Viktor Yanukovych recusou assinar um acordo de livre-comércio com a União Europeia – possibilidade que, caso fosse concretizada, a afastaria da influência russa –, optando pela assinatura de um tratado de assistência econômica oferecido pela Rússia no qual, inclusive, era proposta a redução de 30% no preço do gás russo fornecido à Ucrânia.
Tal desistência foi o estopim para que se intensificassem as manifestações contrárias ao governo do presidente Yanukovych em várias regiões da Ucrânia, e provocou, sobretudo na porção ocidental do país, a sua destituição, a realização de novas eleições e o estabelecimento de um novo governo, que contava com o apoio das potências ocidentais e, ao mesmo tempo, prometia afastamento da influência russa.
Os desdobramentos desse episódio foram graves para a Ucrânia, pois a deposição do governo pró-Rússia não foi bem recebida em todo o país, ocasionando o fortalecimento de movimentos separatistas em sua porção leste. Especificamente, isso ocorreu nas regiões de Donetsk e Lugansk, que abrangem cerca de um terço da região de Donbass, densamente povoada – com cerca de 6 a 7 milhões de habitantes –, e que é considerada o coração industrial da Ucrânia por concentrar metalúrgicas, termelétricas e empresas de extração de carvão mineral. De 2014 a 2021, nas duas regiões, ocorreram acirramento de tensões e embates militares entre as forças militares ucranianas – com o apoio dos Estados Unidos e de outros países – e os separatistas – com o apoio da Rússia –, resultando em mais de 14 mil pessoas vitimadas pelos conflitos. Nesse período, vários acordos firmados entre Rússia e Ucrânia (Acordos de Minsk I e II), com a participação de outros países, não foram capazes de colocar um fim à guerra civil.
As relações entre Rússia e Ucrânia se deterioraram ainda mais em 2019, com a eleição de Volodymyr Zelensky à presidência da Ucrânia, que sempre declarou a intenção de se alinhar à Europa.
Em 2022, o governo da Ucrânia anunciou a sua intenção de ingressar na OTAN como estratégia para se desvincular da influência russa. A Ucrânia anunciou, também, uma abertura em um dos canais fluviais mais importantes geopoliticamente para o Leste Europeu, além de abrir espaço para uma aproximação da influência estadunidense.
A presença militar da OTAN no leste da Europa ameaça a influência russa na região, o que provocou o descontentamento do presidente Vladimir Putin. Em fevereiro de 2022, o governo russo reconheceu formalmente a independência das zonas separatistas das autoproclamadas repúblicas populares de Lugansk e Donetsk e as tropas russas cruzaram a fronteira, levando a uma enorme crise diplomática internacional.

A invasão militar da Ucrânia

E apoiando-se na justificativa de que elas estavam sob a ameaça de uma invasão militar da Ucrânia e que um genocídio estaria ocorrendo contra a população civil russa, ele determinou a ofensiva militar contra a Ucrânia em larga escala, em 24 de fevereiro daquele ano, considerando esses territórios como seu principal objetivo militar.
Diante da ofensiva militar russa, Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e muitos outros países condenaram a decisão unilateral do governo russo e providenciaram de imediato sanções econômicas à Rússia. 
Assim que o conflito teve início, graves sanções foram aplicadas à Rússia, entre as quais se destacam o congelamento de bens do presidente Putin, membros do governo e empresários; restrições ao acesso da Rússia aos mercados e serviços financeiros e de capitais da União Europeia; fechamento do espaço aéreo e dos portos da União Europeia a aeronaves e navios russos; suspensão das importações de petróleo e carvão provenientes da Rússia; proibição da exportação de bens e tecnologias para a produção de petróleo e de realização de novos investimentos no setor energético russo.
O estabelecimento dessas sanções foi a maneira encontrada pelas potências ocidentais de evitar um confronto direto com a Rússia, o que certamente levaria a uma guerra de proporções sem precedentes, inclusive com a utilização de armas nucleares.
Tal situação, segundo analistas internacionais, poderia levar a reviver o ambiente de Guerra Fria, quando ainda existia a União Soviética e sua disputa com os Estados Unidos e seus aliados por áreas de influência no mundo. Na verdade, essa questão em andamento trata-se novamente de disputa geopolítica: a Rússia não quer perder a sua área de influência sobre a Ucrânia e não aceita que ela faça parte da Otan – que é entendida pelo governo russo como uma ameaça às suas fronteiras –, nem que seja integrante da União Europeia, fatos, esses, desejados pelos Estados Unidos e por muitos países da Europa.
Na opinião de vários especialistas, no entanto, esses e outros conflitos em que a Rússia tem se envolvido na região mostram claramente o projeto político e estratégico implementado pelo presidente Vladimir Putin, que, há vários anos, governa a Rússia. Esse projeto consiste em reincorporar ao território russo parte dos territórios que, no passado, formavam a antiga União Soviética.

Essas sanções levaram a economia russa a uma profunda recessão. Mas o conflito entre os dois países causou impactos no mundo todo, percebidos rapidamente. São eles:
- Crise alimentar. Em 2021, a Ucrânia produzia 15% do milho e 12% do trigo comercializados no mundo. Com a guerra, o país não pode exportar o que já havia produzido e as novas safras foram reduzidas. Como resultado, os preços dos grãos e de alimentos básicos aumentaram, levando milhões de pessoas à insegurança alimentar.
- Crise energética. Em 2021, a Rússia era um dos líderes mundiais na exportação de gás natural, petróleo e carvão. A União Europeia, que importou 45% da produção de gás e 25% de petróleo, começou a estudar possibilidades para reduzir a dependência da Rússia. O embargo ao petróleo russo fez com que os preços da commodity disparassem, aumentando o preço dos combustíveis em muitos países.

A invasão russa no território ucraniano provocou intensos conflitos armados. De acordo com a Armed Conflict Location & Event Data Project (Acled), até julho de 2022 mais de 10 mil pessoas já haviam morrido em decorrência do conflito. E, segundo o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o número de pessoas que fugiram da Ucrânia para escapar da invasão da Rússia passou de 6 milhões, o que configura a pior crise de refugiados na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

OS MOVIMENTOS SEPARATISTAS

Os movimentos separatistas estão relacionados às ações de um povo em busca da sua independência, muitas vezes decorrentes de conflitos históricos atrelados aos processos de colonização.
Na Europa, como em várias partes do mundo, existem povos que nutrem o sentimento nacionalista, que os move a conquistar a independência política e territorial do Estado ao qual estão subjugados. Muitos deles são reprimidos, controlados e dominados pelo Estado e, em alguns casos, movimentos separatistas são formados. Muitos desses movimentos acabam recorrendo à violência para conquistar seus objetivos.
Esses movimentos reivindicam, por meio de protestos e referendos, a garantia de manutenção da sua nacionalidade e tradições culturais.
Assim, esses grupos lutam por novas delimitações territoriais que respeitem seus princípios identitários, pelo fim da opressão contra sua cultura, pela manutenção das tradições, pela garantia da diversidade linguística, entre outras questões.

A Eurásia é marcada por conflitos e disputas territoriais, em geral motivados pelas demandas de autodeterminação de minoriais étnicas e culturais, como é o caso da Catalunha e da Caxemira. Alguns conflitos ocorrem pelo embate direto entre os povos, o que pode levar a guerras e a mudanças territoriais; outros envolvem embates políticos devido à intervenção ou à instalação de bases militares nos territórios. Há também casos em que as tensões são motivadas ou agravadas por questões econômicas e estratégicas, como o acesso a recursos naturais e a disputa por maior influência no comércio internacional.
Catalães, bascos, galegos, andaluzes e espanhóis travam disputas geopolíticas, culturais e linguísticas existentes desde o governo de Felipe IV, em 1632. Nesse período, os reinos de Castela e de Aragão se uniram, constituindo parte das bases do Estado-nação espanhol moderno e centralizado. O mesmo caso se dá com os corsos em relação à França e os escoceses em relação ao Reino Unido.
O sentimento de pertencimento a uma nação distinta e a contestação contra a gerência dos espanhóis nos problemas regionais ampliam os movimentos autonomistas e separatistas na Espanha. Bascos e catalães constituem 25% da população espanhola e concentram-se nas duas regiões industriais mais importantes da Espanha.
A luta pelas reivindicações separatistas agravou-se durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). A ditadura do general Francisco Franco instituiu diversas proibições às manifestações culturais dessas nações, como à língua, aos símbolos (presentes na bandeira), às tradições e aos costumes. Por 25 anos, Franco reprimiu as diversas formas de representação cultural de bascos, catalães e castelhanos.
Nas disputas geopolíticas desses povos, o que fica presente nas reivindicações linguísticas, culturais, religiosas e econômicas é a superação da opressão e da repressão vivenciadas por séculos. Seus idiomas eram vistos como dialetos, sendo excluídos das funções oficiais e inferiorizados.
Após a morte do ditador, em 1975, e uma nova carta constitucional, o povo catalão voltou a reivindicar seus direitos.
Vejamos as características principais de alguns conflitos e de algumas regiões da Europa em que minorias étnicas e nacionais ou outros grupos buscaram ou buscam a soberania ou a independência de diferentes formas e por diversas razões (religiosas, étnicas, territoriais, nacionalistas, etc.).

Separatismo na Espanha

A Espanha é um país muito diversificado. Esse aspecto pode ser constatado na luta de alguns grupos pela separação e por maior autonomia. 

País Basco

O povo basco reivindica a independência em relação à Espanha e o reconhecimento de um novo país – o País Basco. Com população composta de mais de 2 milhões de pessoas, ele ocupa parte do território norte da Espanha e mais uma porção sudoeste do território francês. Embora, em sua maioria, os bascos estejam fixados em território espanhol, eles falam uma língua própria, a língua basca, ou euskera, e, em sua maioria, não desejam pertencer à Espanha. Há mais de 40 anos lutam por sua autonomia política.
Na ditadura de Francisco Franco, na Espanha, que durou de 1939 a 1975, a língua basca foi proibida. Em 1959, foi fundado o grupo Euskadi Ta Askatasuna (ETA – “Pátria Basca e Liberdade”), movimento cuja finalidade é manter a língua, os costumes e as tradições culturais bascas na região. A partir de 1966, o ETA iniciou manifestações violentas para alcançar seus objetivos.
Apenas em 2011 integrantes do ETA anunciaram o cessar-fogo. Desde então, eles vêm obtendo maior êxito nas negociações com o governo espanhol pela independência da região.

Catalunha

Localizada no nordeste da Espanha, a Catalunha – anexada pelo país há 300 anos – é uma comunidade autônoma que, desde a década de 1970, está passando por um forte renascimento cultural. O idioma catalão vem ganhando maior impulso, e a cidade de Barcelona, capital da Catalunha, passou a ser considerada um dos mais importantes centros culturais da Europa.
Com o fortalecimento financeiro e a grande influência na economia nacional, essa região tem buscado autonomia com bastante relevância, embora o governo federal tenha conseguido impedir campanhas e referendos sobre o assunto.
Os cortes em serviços básicos determinados pelo governo para conter os efeitos da crise econômica enfrentada pelo país nos últimos anos fizeram aflorar o sentimento de independência tanto na Catalunha quanto no País Basco.
Em 2014 foi realizada uma votação não oficial, espécie de consulta informal, em que a separação foi aprovada por 80% dos eleitores. 
Em 2017, os separatistas organizaram um referendo para que a população pudesse votar a favor ou contra o processo de independência da região. De acordo com o governo local, 90% dos votantes queriam que a Catalunha se tornasse um Estado soberano. No entanto, o governo espanhol não reconheceu o resultado do referendo e as tratativas para o processo de independência não avançaram.
O governo da Espanha não reconheceu a consulta por não concordar com a soberania da Catalunha.

Reino Unido: a questão irlandesa e a Escócia

A Irlanda do Norte (Ulster) integra o Reino Unido. Por esse motivo, as decisõespolíticas (como a escolha de lideranças locais) são tomadas em Londres. Já a República da Irlanda (Eire) é independente do Reino Unido desde 1922.
Os católicos da Irlanda do Norte lutam há pelo menos 30 anos pela unificação com a República da Irlanda, opondo-se aos protestantes, que são a maioria e querem permanecer subordinados ao Reino Unido.
A partir da década de 1970, o Exército Republicano Irlandês (IRA, sigla em inglês de Irish Republican Army) promoveu diversos atos terroristas contra alvos ingleses com o objetivo de fazer pressão pela independência da Irlanda do Norte e sua posterior unificação com a República da Irlanda.
Em 1990, cessaram os atos violentos, e o IRA abandonou a luta armada, destruindo todo o seu arsenal; no entanto, mantém sua luta por meios políticos, mesmo existindo grupos dissidentes em ação.
Outra questão que envolve o Reino Unido são os movimentos para a independência da Escócia. Em 2014, esse sentimento foi reforçado, movido pelo desejo de maior autonomia política e pela devolução, pelo Reino Unido, de poderes ao Parlamento escocês.
Assim, foi realizado um referendo para que a população decidisse pela independência do país em relação ao Reino Unido. A rejeição foi de 55,3% dos votos.

Caxemira

A Índia e o Paquistão são países com um passado colonial comum, já que ambos foram dominados pela Inglaterra. O histórico de rivalidades, desentendimentos e guerras que os caracterizam hoje é também motivado pelas diferenças religiosas.
A formação do território indiano provocou conflitos entre os adeptos do hinduísmo e os do islamismo. Da época da independência até hoje, o problema persiste entre a Índia (hindu) e o Paquistão (islâmico). Uma área na Índia que concentra muita tensão e onde há conflitos permanentes é a Província da Caxemira, no norte do país. Embora esteja situada na Índia de maioria hindu, a Caxemira tem população islâmica, motivo pelo qual parte de sua população deseja separar-se da Índia e se integrar ao Paquistão. 
A Caxemira abriga a nascente de quatro dos cinco rios do Paquistão; por isso, é uma região em que o controle da água é bastante disputado. Na província, há conflitos armados entre grupos extremistas e o exército indiano, que reprime qualquer manifestação de independência. Esses grupos já promoveram vários atentados terroristas contra alvos hindus, no campo e nas grandes cidades.
A Índia e o Paquistão têm bombas nucleares, consequência da inimizade histórica e das relações políticas tensas. Ambos os países são muito criticados no meio internacional por gastarem importantes recursos em armamentos e investirem pouco na área social, como saúde, educação, saneamento básico etc.

Problemas habitacionais nas cidades globais

O fenômeno da urbanização intensifica-se a partir dos anos 1940 não apenas na Europa e na Ásia, mas também em vários lugares do mundo. Como estudamos anteriormente, a urbanização acelerada gerou diversos problemas sociais nas cidades, uma vez que o espaço urbano não estava preparado para receber o grande contingente de pessoas vindas do campo. Muitos desses migrantes tiveram que se instalar em áreas distantes do centro, onde as habitações eram precárias e não havia infraestrutura básica. Agora vamos abordar alguns exemplos desses problemas nos continentes europeu e asiático.

Na França, políticas públicas adotadas nos anos 1950 e 1960 ajudaram a erradicar as habitações precárias do país já na década de 1980. O governo investiu grande quantidade de recursos na construção de moradia acessível para essa população. No entanto, décadas depois, as chamadas bidonvilles são novamente uma realidade em algumas cidades francesas. As bidonvilles são um conjunto de habitações precárias construídas próximo a linhas de trens, viadutos e rodovias, semelhantes às favelas brasileiras.
As ameaças de despejo e remoção são constantes. Estima-se que, atualmente, em Paris, haja mais bidonvilles que na década de 1960, quando houve uma explosão demográfica no
país. De acordo com a Delegação Interministral do Alojamento e do Acesso à Moradia (Dihal), existem cerca de 571 de favelas pela França, onde vivem cerca de 16 mil habitantes.
Na Espanha, a capital Madrid abriga a maior favela da Europa, chamada Cañada Real. Aproximadamente 44 mil pessoas vivem no bairro onde falta saneamento básico e as moradias são precárias, geralmente de madeira ou lonas. Com a crise econômica enfrentada pela Espanha a partir de 2008, muitas pessoas perderam as suas casas e buscaram outros lugares para sobreviver, como Cañada Real.
A pandemia de covid-19 intensificou os problemas relacionados à moradia nos grandes centros urbanos. Os grupos vulneráveis, como pessoas que estão em situação de rua e que habitam moradias precárias, sofreram de maneira desproporcional os efeitos da doença, uma vez que não puderam praticar o isolamento social de maneira apropriada e, muitas vezes, não dispunham de itens de higiene de básica que os auxiliariam a evitar o contágio.
Além disso, houve o fechamento de indústrias, empresas e estabelecimentos do setor de serviços, o que aumentou o número de desempregados e, consequentemente, de pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Os altos valores dos aluguéis, somados ao baixo valor ou até
mesmo à falta de auxílios sociais, fizeram com que milhares de pessoas fossem despejadas de suas casas e ficassem sem lugar para morar. Uma das formas encontradas por essas pessoas foi morar dentro de barracas de camping montadas no meio de locais públicos da cidade, como calçadas, embaixo de viadutos e pontes, marquises, lotes vazios, praças, entre outros lugares. Na cidade de São Paulo, dados da prefeitura revelam que 6,1 mil pontos da cidade eram ocupados por pessoas que viviam em barracas em 2021, um aumento de 330% comparado com os dados de 2019.
Na Índia, país que abriga quatro das maiores megacidades do mundo, os problemas habitacionais atingem mais de 400 milhões de pessoas segundo dados do governo indiano. Muitos deles vivem em casas com seis pessoas e apenas dois cômodos, com banheiro compartilhado com outros vizinhos. Em cidades como Délhi e Nova Délhi, muitas dessas moradias estão nos pisos superiores dos mercados de especiarias da cidade.

AS CIDADES INTELIGENTES

O desenvolvimento acelerado das tecnologias no campo da comunicação, da inteligência artificial e das engenharias de software tem feito com que muitos países planejem e construam cidades inteligentes.
Podem ser chamadas de Smart Cities (expressão em inglês) as localidades com projetos ou iniciativas de reformulação de suas áreas urbanas que empregam inovação tecnológica para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, ou seja, para ser considerada uma Cidade Inteligente, o projeto da localidade deve unir os avanços científicos disponíveis às necessidades urbanas em geral, fazendo com que as soluções para determinados tipos de problema sejam eficientes.
Para isso, nas Cidades Inteligentes utiliza-se a Internet das Coisas (conhecida pela sigla IoT, do inglês Internet of Things) para desenvolver e executar ações no cotidiano urbano. Isso quer dizer que, nessas cidades, objetos pessoais e equipamentos urbanos – como aparelhos celulares, semáforos, sensores de abastecimento e distribuição de água, entre outros – conectam-se uns com outros e trocam informações de maneira automatizada e em tempo real, sem que uma pessoa precise operá-los.
Um exemplo são os sensores em semáforos, que se autorregulam ao detectarem congestionamentos, por exemplo, liberando o fluxo dos veículos ou dando prioridade ao transporte público de passageiros. Outro exemplo são cidades que investiram em sistemas digitais de segurança, que monitoram e controlam o fluxo de pessoas em lugares públicos, ou, ainda, alagamentos ou deslizamentos de terra em áreas de risco.

As cidades inteligentes apresentam características para além de tecnologias digitais em boa parte do seu funcionamento, como acesso à educação de qualidade em todos os níveis de ensino, acesso a sistemas de saúde, boa conectividade de dados e utilização de diferentes modais de transporte.

A redução dos níveis de estresse, o aumento da quantidade de empregos formais e a redução do custo de vida são indicadores de boa qualidade de vida para a população. Em contrapartida, a implantação dessas cidades demanda alto custo e necessidade de mão de obra qualificada, o que faz com que se concentrem, sobretudo, em países desenvolvidos.

As cidades que comandam a economia mundial do século XXI dedicam-se às atividades do setor terciário e são as que centralizam a produção inteligente, reunidas em start-ups, escritórios organizados em coworking, verdadeiros centros estruturados para produzir inovações no setor informacional.

Melbourne, Dubai, Shenzhen, Hong Kong, entre outras, são exemplos de cidades voltadas à produção de sistemas de alta tecnologia, sobretudo aqueles relacionados à indústria da informação, da comunicação digital e de desenvolvimento de softwares e entretenimento (games).

Além do Vale do Silício, na Califórnia, os complexos industriais tecnológicos e informacionais difundiram-se para outras cidades estadunidenses e europeias desde 2010, formando o Beco do Silício (em Nova York), as Pradarias do Silício (Nebraska, Texas, Boston) e as Docas do Silício, em Dublin, Irlanda.
A cidade de Curitiba, capital do Paraná, é considerada um bom exemplo de Cidade Inteligente do país. Ela foi pioneira em implantar um sistema inteligente de transporte coletivo urbano e de monitoramento do tráfego que proporcionou maior mobilidade à população.

O VALOR DA AGRICULTURA: COMMODITIES

No mundo, o mercado de commodities é um dos maiores e pode afetar a economia de um país a depender do valor do produto. Isso acontece, por exemplo, com o trigo: se o preço aumenta, isso interfere no preço da farinha e, consequentemente, do pão, impactando a vida das pessoas.
O comércio mundial de produtos agropecuários abrange tanto os produtos alimentícios (cereais, frutas, carne, laticínios etc.) como as matérias-primas para a indústria e o setor energético. Essa comercialização acontece principalmente na forma de commodities, cujos preços são estabelecidos em escala internacional nas bolsas de mercadorias, como as de Chicago e Nova York, nos Estados Unidos, e Londres, no Reino Unido.

As commodities são mercadorias principalmente agropecuárias e minerais, que são a base de outros processos de fabricação de mercadorias. A produção é em larga escala e suas características não variam de país para país. As commodities são importantes na economia mundial, influenciando o valor dos produtos consumidos pela população. Países cuja economia é estruturada com base no setor primário e na exportação dependem da cotação elevada das commodities e do volume das exportações para manter a balança comercial positiva. Os valores são definidos nas bolsas de valores.
A variação dos preços das commodities reflete em toda a economia, já que são matérias-primas usadas para a fabricação de diversos produtos. Em caso de elevação, os alimentos ficam mais caros, prejudicando os consumidores – especialmente a população mais pobre, que, em geral, destina grande parte de seu rendimento para a aquisição de alimentos.
Os preços das commodities sofrem grandes alterações ao longo do tempo. Por exemplo, em períodos de alta da produção e grande oferta de produtos, os preços tendem a cair. Em contrapartida, quando há escassez do produto no mercado, os preços sobem. É o caso do trigo em 2022: a alta dos preços desse produto está relacionada com o conflito envolvendo a Ucrânia, pois 50% da produção de trigo ucraniana encontra-se armazenada e sem possibilidade de escoamento, uma vez que seus portos no Mar Negro se encontram sob bloqueio russo.
No entanto, as projeções econômicas de valor das commodities tendem a diminuir, uma vez que a China, principal comprador desses produtos, fechou temporariamente seus portos devido à pandemia de covid-19 e houve redução do consumo na Europa devido ao conflito na Ucrânia.
Além dos problemas que envolvem o estoque e o transporte da produção, as alterações climáticas podem interferir diretamente na produção agrícola mundial, resultando em aumento ou redução do valor desses produtos. Essas alterações no valor e na produção de commodities afetam todo o setor de alimentos, uma vez que eles são utilizados também para a produção de ração para produção pecuária.
O mercado mundial de commodities é controlado por um restrito conjunto de trading companies, que são, principalmente, transnacionais. Elas têm grande poder, influenciam a formação de preços no mercado internacional, o valor dos fretes marítimos para transportá-las etc.
No Brasil, as tradings de commodities atuam na comercialização de soja, milho, açúcar, café, algodão e outros produtos e, nos últimos anos, têm atuado na aquisição de usinas de açúcar e etanol e no financiamento de sementes, agrotóxicos e fertilizantes para o agronegócio.
Países que são grandes exportadores de produtos agropecuários, mas não se destacam como produtores e exportadores de produtos industrializados, estão mais suscetíveis e vulneráveis à oscilação dos preços das commodities. Essa característica se aplica principalmente aos países em desenvolvimento, bem como aos emergentes, que em geral são economias dependentes da produção e da exportação de commodities, como é o caso do Brasil.

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