domingo, 18 de agosto de 2024

Recursos minerais fósseis

Petróleo, gás natural e carvão mineral são as mais importantes fontes de energia do mundo e, por isso, são recursos minerais muito cobiçados. Por se originarem de material orgânico, depositado entre camadas de rochas e decomposto ao longo de milhares de anos, são também chamados de combustíveis fósseis (quando utilizados para a geração de energia) e podem apresentar as formas sólida (caso do carvão mineral), líquida (caso do petróleo cru) ou gasosa (caso do gás natural).
Os recursos minerais energéticos brasileiros Recursos minerais fósseis Navio-plataforma de extração, armazenamento e transferência de petróleo na bacia de Santos, próximo à costa do Rio de Janeiro (RJ), 2019. Por se formarem em áreas em que houve deposição de sedimentos, os recursos minerais energéticos de origem fóssil ocorrem em áreas de bacias sedimentares. A exploração petrolífera brasileira teve início em 1939 com a descoberta de petróleo na Bahia. Desde a criação da Petrobrás, em 1953, a produção nacional tem crescido, fruto de investimentos e iniciativas governamentais em pesquisa científica e tecnológica, além de estudos exploratórios para descobrir novas reservas. O Brasil é, na atualidade, um dos países que detêm uma importante capacidade de pesquisa, extração, refinamento, processamento e distribuição de petróleo e gás natural. Em 2020, o país possuía a 16 maior reserva de petróleo do mundo e a 10 colocação na produção de petróleo cru. De gás natural, o Brasil possui a 33 maior reserva e a 30 maior produção do mundo.
As reservas petrolíferas e de gás natural brasileiras concentram-se sobretudo na plataforma continental, no oceano Atlântico. Em 2006, foi descoberta a camada pré-sal, uma área com grandes reservas de petróleo e gás natural que se estende do litoral do Espírito Santo até a costa do Paraná.

A produção de petróleo e gás natural no Brasil 

A produção de petróleo e gás natural no Brasil possui pelo menos três grandes períodos bem definidos: de 1953 a 1973, em que havia a predominância da exploração em terra e com destaque para a produção no Nordeste, principalmente no Recôncavo Baiano, Sergipe e Alagoas; de 1973 a 2006, com o início e a dominância da produção marítima, com destaque para a produção na bacia petrolífera de Campos, no Rio de Janeiro; e desde 2006 até a atualidade, com a descoberta do pré-sal e o desenvolvimento tecnológico voltado para a exploração em grandes profundidades, em que se destacam a produção nas bacias petrolíferas de Santos (SP) e de Campos (RJ).
Atualmente, em razão da localização da maior parte das reservas, a produção de petróleo e gás natural brasileiros ocorre sobretudo no mar, em profundidade. Isso exige altos investimentos e tecnologias específicas, que ocorreram no Brasil, em grande medida, com a ação governamental de pesquisa e conhecimento do território (com o aprofundamento de estudos sísmicos das camadas de rochas no mar). Os investimentos, principalmente após a década de 1970, também buscavam reforçar a autonomia tecnológica da Petrobras, com o desenvolvimento de plataformas de perfuração e a exploração de sistemas de produção marítimos. 
Desde a descoberta do pré-sal, em 2006, a produção vem crescendo em ritmo acelerado no país. A produção é predominantemente petrolífera e ocorre de forma concentrada principalmente nos estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.

A infraestrutura brasileira para produção de petróleo 

A produção de petróleo e gás natural exige um grande aparato tecnológico e de infraestruturas. Independentemente de a extração desses recursos ocorrer no mar ou na terra, são necessárias diversas etapas para que essas matérias-primas possam ser utilizadas de fato. Após a extração, o petróleo e o gás natural são transportados por oleodutos (no caso do petróleo), por gasodutos (no caso do gás natural) ou por navios petroleiros, sendo deslocados até terminais, tanques de armazenamento, refinarias e unidades de processamento.
A rede brasileira de oleodutos e gasodutos é, portanto, de grande importância para a interligação entre extração, refino e distribuição, além de garantir o abastecimento com matéria-prima de centrais de produção de energia elétrica. Além do abastecimento nacional, há também relações com outros países da América do Sul, como é o caso da Bolívia. Os dois países compartilham uma via de transporte que percorre 3 150 quilômetros e é responsável por grande parte do abastecimento de gás natural do Brasil.

As reservas e a produção de carvão mineral no Brasil 

O carvão mineral é um dos mais importantes recursos minerais energéticos. No entanto, no Brasil as reservas apresentam baixa quantidade e qualidade, concentrando-se na região Sul, sobretudo nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Na cidade de Tubarão, em Santa Catarina, o carvão mineral é processado e vendido para utilização em indústrias siderúrgicas. Nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, é utilizado para fins energéticos,

Impactos ambientais do uso de recursos fósseis 

O uso de recursos minerais fósseis tem efeitos ambientais desde a fase de busca por reservas até o consumo. A maior parte do petróleo brasileiro é explorada no fundo oceânico e, para descobrir novos poços, uma das técnicas usadas consiste na emissão de ondas no fundo marinho. Essa técnica gera a fuga e até mesmo a morte de espécies marinhas, afetando também a pesca. 
O derramamento de petróleo é outro risco constante na atividade extrativa. Ele pode ocorrer durante a exploração e o transporte do material, causando danos graves aos ecossistemas. Em 2019, um extenso trecho do litoral brasileiro foi poluído por petróleo derramado por um navio de origem grega. O óleo chegou a diversas praias, desde o Maranhão até o Rio de Janeiro. 
O consumo de combustíveis produzidos a partir do petróleo, como gasolina e diesel, também causa a emissão de gases poluentes na atmosfera. A mistura de biocombustíveis, como o etanol, é uma das medidas adotadas, no Brasil, para reduzir essa emissão.

Impactos da mineração

Com exceção da exploração de petróleo e gás, a maior parte das atividades mineradoras no Brasil é realizada em minas, a céu aberto. Esse tipo de exploração altera o relevo local, causa a remoção da vegetação e da fauna e é capaz de provocar a contaminação da atmosfera com gases e poeira, além da poluição e o assoreamento dos rios. O assoreamento ocorre quando sedimentos se acumulam no leito do rio e reduzem a velocidade de seu escoamento ou causam obstrução das águas. 
Após o fim da exploração, as empresas mineradoras são responsáveis pela recuperação ambiental das áreas degradadas. Se considerarmos o histórico da mineração no Brasil, essa exigência é recente, presente na Constituição Federal de 1988. 
Na mineração de rochas, como mármore, granito e brita, o material extraído é o próprio produto comercializado, o que torna a recuperação relativamente mais simples. Na exploração de minérios, o mineral ou metal de interesse comercial é separado de outros materiais presentes no subsolo, dando origem aos rejeitos. Essa sobra pode ser reaproveitada para outros usos ou deve ser depositada com segurança pelas empresas mineradoras. 
Dois grandes desastres ocorreram no Brasil em 2015 e 2019, como resultado do rompimento de barragens que estocavam rejeitos da mineração nos municípios de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. O material espalhado soterrou casas, pessoas, animais, destruiu vias de transporte e poluiu os rios Doce e Paraopeba, impedindo a pesca e a captação de água para consumo.

Recursos minerais brasileiros

Os minerais são substâncias químicas encontradas na natureza e compõem as rochas. Por possuírem determinadas propriedades como resistência, brilho ou capacidade de serem moldados, são usados pelos seres humanos para diversos fins e têm grande importância econômica para os países, incluindo o Brasil. Quando possuem valor econômico, os minerais são chamados minérios.
A exploração de recursos minerais no Brasil No Brasil, a mineração é realizada de diversas formas. Nos garimpos, é feita com uma quantidade pequena de equipamentos, mão de obra pouco especializada e infraestrutura escassa. Na mineração industrial, há intensa mecanização nas diversas etapas da atividade: extração, transporte e processamento do material. Os minerais podem ser metálicos ou não metálicos. Do valor comercializado no Brasil, os minerais metálicos respondem por 80%, os não metálicos por 20%.

Os minerais metálicos 

O ferro se destaca como principal minério explorado em termos de valores gerados, com a produção concentrada no Pará, na Serra dos Carajás e em Minas Gerais, na área conhecida como Quadrilátero Ferrífero. O ferro é muito utilizado para a fabricação do aço, importante material para a construção civil, a indústria de transportes, a produção de aparelhos elétricos e eletrônicos, entre outros. 
Outro importante minério explorado é o ouro, muito utilizado na fabricação de moedas, mas também em joias, em objetos de decoração e na indústria eletrônica. Os principais estados produtores são Minas Gerais, Mato Grosso, Pará e Bahia. 
O cobre, por sua capacidade de transmissão de energia, é muito utilizado como material de fiações e de circuitos eletrônicos de computadores, celulares e televisões, mas também em tubulações de água e de gás, utensílios domésticos, navios, etc. No Brasil, a maior parte da produção ocorre no Pará, na Serra dos Carajás, mas também em Goiás e na Bahia. 
O potássio é de grande importância para a agricultura, sendo matéria-prima para a produção de fertilizantes. Em 2021, foram descobertas reservas de potássio na bacia Amazônica, o que pode elevar a capacidade de produção nacional e reduzir as necessidades de importação.

Os minerais não metálicos 

Em 2019, havia 18 040 unidades produtoras de minerais no Brasil, sendo que a maior parte era dedicada à exploração de matérias brutas com minerais não metálicos. Destacam-se os que são utilizados na construção civil, como areia, brita, cascalho, argila, rochas ornamentais, calcário e saibro. O sal marinho é um recurso mineral não metálico explorado no litoral brasileiro. O Rio Grande do Norte é responsável por mais de 90% da produção nacional desse recurso. 

As exportações e as importações de minérios brasileiros 

A exploração de recursos minerais tem grande importância na economia brasileira. Os minérios metálicos, como ferro, ouro e cobre, estão entre os principais produtos exportados. Entre os minerais não metálicos, as pedras naturais e os revestimentos ornamentais são destaques. A China é o principal mercado de exportações, principalmente de ferro, cobre, nióbio e manganês. Para o Canadá, destinam-se, principalmente, ouro e bauxita (minério para a fabricação de alumínio). Entre as importações, o potássio foi o principal minério importado em 2019, seguido pelo carvão mineral, o cobre e o enxofre. O Canadá e a Rússia foram os principais países de origem, ao passo que o carvão mineral foi importado principalmente dos Estados Unidos e da Colômbia.

Extrativismo no Brasil

O extrativismo compreende um conjunto variado de atividades de coleta, extração e caça que garantem a subsistência da população e o que garantem a subsistência da população e o fornecimento de matérias-primas para o artesanato e para as indústrias. Por essa razão, sua exploração deve ser feita de modo a garantir o uso sustentável dos recursos naturais, evitando danos aos ecossistemas, às paisagens e às sociedades locais. Uma característica marcante dessas atividades é a importância econômica e social para as comunidades das áreas onde são realizadas.
De modo geral, a prática do extrativismo exige conhecimento sobre o território. As atividades extrativas A extração de pau-brasil foi uma das primeiras atividades realizadas no Brasil pelos colonizadores portugueses nos primeiros séculos de dominação. Posteriormente, desenvolveram-se outras atividades, como a agricultura, a pecuária e a produção de açúcar. No entanto, as atividades extrativas seguem sendo realizadas no Brasil, tanto de maneira tradicional – envolvendo conhecimentos ancestrais em comunidades localizadas por todo o país – quanto em escala industrial – provocando intensas transformações nas paisagens e contando com o uso de equipamentos modernos.
As atividades extrativas A extração de pau-brasil foi uma das primeiras atividades realizadas no Brasil pelos colonizadores portugueses nos primeiros séculos de dominação. Posteriormente, desenvolveram-se outras atividades, como a agricultura, a pecuária e a produção de açúcar. No entanto, as atividades extrativas seguem sendo realizadas no Brasil, tanto de maneira tradicional – envolvendo conhecimentos ancestrais em comunidades localizadas por todo o país – quanto em escala industrial – provocando intensas transformações nas paisagens e contando com o uso de equipamentos modernos.

Extrativismo mineral 

O extrativismo mineral (mineração) corresponde à extração de materiais do subsolo. Pode ser subterrâneo ou a céu aberto e, neste último caso, o relevo é profundamente alterado. Ele também exige a realocação de materiais de rejeito, ou seja, todo material que não foi aproveitado economicamente e precisa ser depositado de maneira segura para não causar poluição do ar, dos rios, do solo e da água subterrânea. Também há risco de contaminação por substâncias empregadas no processo extrativo, como o mercúrio, metal muito usado na mineração de ouro. Considerando que os recursos minerais não são renováveis, ou seja, não são repostos pela natureza em velocidade compatível com o ritmo de consumo humano, é preciso valorizá-los e reciclá-los, sempre que  possível.

Extrativismo animal 

O extrativismo animal compreende as atividades de caça e pesca. No Brasil, com a finalidade de proteger a fauna, a prática da caça é proibida desde 1967, sendo permitida somente às comunidades indígenas. A pesca no Brasil é beneficiada pela extensão do litoral e das redes hidrográficas, sendo realizada de diversas formas. Veja algumas delas a seguir. 
Artesanal: praticada por pescador desembarcado ou em embarcações de pequeno porte. 
Industrial: praticada com finalidade comercial por pescadores autônomos ou empresas, em embarcações de portes variados. 
Científica: com a finalidade de pesquisa. 
Amadora: para fins de lazer. 
Subsistência: para consumo próprio ou escambo, sem fins lucrativos. 
A proibição da pesca ocorre nos períodos de defeso, meses em que os peixes se reproduzem. Quando a atividade pesqueira não considera o ritmo de reprodução das espécies, há risco de desequilíbrio das cadeias alimentares aquáticas e até mesmo de extinção de espécies.


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Distribuição populacional no Brasil

A população brasileira não está distribuída igualitariamente pelo território do país. As áreas mais povoadas são aquelas com maior concentração de atividades econômicas.
O Brasil possui um extenso território. Por essa razão, embora seja um país populoso, por possuir muitos habitantes, não é um país muito povoado. O povoamento se refere à distribuição da população pelo território, e a principal medida para identificar a intensidade do povoamento de um país ou região é a densidade demográfica ou população relativa. Seu valor é obtido pela divisão do número total de habitantes pela área do local, sendo geralmente expresso em habitantes por quilômetro quadrado (hab./km2 ). Em 2022, a densidade demográfica do Brasil era de 25,1 hab./km2 , segundo dados do IBGE. Contudo, o valor da densidade demográfica não reflete a distribuição exata da população no território, já que há estados e regiões com maior e menor densidade de ocupação.
No Brasil, os séculos de colonização consolidaram um padrão de ocupação do território voltado para o litoral. Apesar de as comunidades indígenas habitarem e conhecerem o interior do território que viria a ser o Brasil, até o século XX essa extensa área não apresentava uma população tão numerosa quanto a faixa litorânea. Muitos núcleos de ocupação colonial no litoral deram origem a cidades que hoje concentram grande parcela da população brasileira.

Interiorização da ocupação

Em oposição à faixa litorânea do Brasil, o interior do país apresenta densidade demográfica mais baixa. Em razão disso, foram criados, pelo governo federal, projetos de interiorização da ocupação. Em meados do século XX, a ideia de que o interior constituía um “vazio demográfico” se associava à intenção de promover o desenvolvimento econômico, proteger as fronteiras nacionais e integrar o território brasileiro com a instalação de vias de transporte.
A Marcha para o Oeste foi um projeto lançado no governo de Getúlio Vargas na década de 1940. Como parte do projeto, foi organizada a Expedição Roncador-Xingu para reconhecer e mapear a região situada entre os rios Araguaia e Xingu, criar estradas e pistas de pouso para aviões e identificar áreas habitadas por povos indígenas. Os irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Villas Bôas foram chefes das expedições para essa região. Depois de adquirir conhecimento local e experiência no contato com povos indígenas, eles propuseram ao governo federal, junto a outros estudiosos e lideranças, a criação do Parque Indígena do Xingu, que ocorreu em 1961.
A transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília foi mais uma iniciativa governamental para a ocupação do interior do Brasil. Desde o período imperial, havia políticos defensores da mudança da capital para o interior, onde estivesse protegida de ataques estrangeiros. Essa mudança foi realizada no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961). Desde sua construção, iniciada em 1956, Brasília atraiu milhares de migrantes que se dedicaram a sua construção e, posteriormente, funcionários dos órgãos de governo que seriam transferidos do Rio de Janeiro para a nova capital. Entre 1960 e 2000, o Distrito Federal passou de 14 0165 para 2 051 146 habitantes.

Os projetos de colonização da Amazônia

Brasília tornou-se o centro político do país e um ponto estratégico para a integração nacional. Ainda no governo de Juscelino Kubitschek, foram construídas as rodovias Belém-Brasília (BR-010) e Brasília-Acre (BR-029) que ligavam a cidade ao norte e ao oeste do país, respectivamente. Durante a ditadura civil-militar (1964-1985), a integração e o desenvolvimento regional motivaram a elaboração de planos governamentais. O presidente Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), por exemplo, lançou o Programa de Integração Nacional (PIN), que previa a construção de rodovias e núcleos de ocupação agrícola na Amazônia. Segundo ele, resolviam-se, assim, dois problemas nacionais: “o do homem sem terras no Nordeste e o da terra sem homens na Amazônia”. Assim, foram construídas extensas rodovias federais, muitas delas na região Norte, como a Transamazônica (BR-230) e a Cuiabá-Santarém (BR-163). Segundo os programas de desenvolvimento desse período, seriam implantados núcleos de colonização agrícola ao longo dessas rodovias. 
Porém, até hoje, muitos trechos dessas rodovias não têm pavimentação, e o tráfego de veículos, especialmente caminhões, é dificultado em períodos chuvosos. Em 1970, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foi criado para regulamentar o estabelecimento de migrantes, principalmente do Nordeste, em núcleos de colonização. O objetivo do programa era atrair migrantes para a Amazônia, considerada desabitada e isolada economicamente. Muitos desses migrantes eram pessoas pobres e com dificuldade de acesso à terra, resultante de uma estrutura fundiária concentradora, ou seja, a posse da maioria das terras nas mãos de poucos proprietários. O projeto chegou a atrair milhares de migrantes para a região Norte e deu origem a municípios como Medicilândia e Pacajá, no Pará. Entretanto, não obteve o êxito esperado em decorrência da falta de infraestrutura de atendimento à população e da insuficiência de apoio para o desenvolvimento da produção agrícola.

Mecanização agrícola no Brasil

A modernização agrícola no Brasil 

O desempenho atual do Brasil na produção e exportação de gêneros agropecuários se deve ao processo de modernização, com a incorporação de maquinários e de conteúdos de ciência e tecnologia nas mais diversas atividades e insumos. 
As mudanças significativas registradas na produção rural fazem parte do processo de modernização da agricultura. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) teve um importante papel para a formação desse cenário, por meio de investimentos em ciência e tecnologia que aumentaram significativamente a produtividade brasileira, através do desenvolvimento de sementes resistentes a pragas, uso de agrotóxicos e de máquinas agrícolas, por exemplo. A modernização da agricultura resultou em mudanças no espaço de produção agrícola e nas relações de trabalho
Em 2020, o país apresentou a quarta maior produção agropecuária e foi o segundo maior exportador de grãos do mundo – 19% do volume total exportado. Além disso, ocupava a terceira posição em produção de frutas, a primeira posição em produção de açúcar e café e o maior rebanho bovino comercial do mundo.
Artefatos mecânicos com mais tecnologia como semeadeiras, colheitadeiras e tratores, entre outros, foram introduzidos no campo brasileiro em meados do século XX. De início, a maioria das máquinas agrícolas concentrava-se nos estados das regiões Sul e Sudeste, com destaque para Rio Grande do Sul e São Paulo. Além dos estados dessas duas regiões, Goiás e Bahia também apresentavam um número de máquinas agrícolas superior ao dos demais estados de suas regiões.
Essas novas tecnologias aplicadas à produção rural provocaram muitas alterações na forma que o trabalho é realizado. Em algumas fazendas produtoras de laranja, no interior de São Paulo, por exemplo, há máquinas importadas dos Estados Unidos que em uma hora colhem os frutos de cem pés de laranja. Imagine o quanto esse equipamento reduziu o tempo para realizar esse trabalho e a quantidade de empregos que deixaram de existir no espaço rural.
A agricultura de precisão, com intenso uso de tecnologia, fertilizantes e irrigação artificiais, uso de GPS e imagens de satélites, maquinários altamente especializados e profissionais qualificados na área, concentra-se na produção de alguns gêneros agrícolas e em algumas áreas do território brasileiro. Destacam-se a soja, o milho, a cana-de-açúcar, a laranja, o café, o algodão, ou seja, produtos priorizados pela agricultura comercial de exportação. 
Os avanços técnicos não se limitam às tecnologias de imagens e de maquinário. Também estão associados a mais precisão sobre as condições climáticas, conhecimento do solo e da química e da biologia envolvidos na fertilização das plantas e criação de animais, assim como criação de sementes, vacinas, inseminação artificial, seleção de espécies e também transgênicos. E são responsáveis tanto por aumentar a produtividade quanto por ampliar o uso da terra por tornar produtivas áreas que naturalmente não são.
Já em 1950, os adubos de origem animal e vegetal deram lugar aos de origem mineral em todo o Brasil, sendo mais utilizados a partir de então. Nos anos 1970, o uso de fertilizantes ainda era concentrado nas regiões Sul e Sudeste, sendo a adubação química maior que a orgânica. Data dessa época a entrada de muitas empresas globais que atuam no ramo da agroalimentação. A busca por grande produtividade levou a um aumento da monocultura para exportação praticada em grandes propriedades, mecanizada e submetida ao mercado internacional de preços. Além disso, maior produtividade pode implicar um aumento na degradação dos solos e dos recursos hídricos, que ficam mais escassos, poluídos ou com cursos assoreados.
O aumento da produção, da compra e do consumo de fertilizantes e defensivos agrícolas (ou agrotóxicos) foi bastante elevado a partir da década de 1990, resultado da modernização da agricultura. 
Porém, o processo de modernização da agricultura ocorreu de maneira desigual no território brasileiro e variou de acordo com o produto cultivado, seja uma cultura permanente, aquela que não precisa ser plantada novamente após a colheita e produz por alguns anos, seja uma cultura temporária, que precisa ser plantada novamente após a colheita. 
Atualmente, a mecanização da produção agropecuária está difundida por praticamente todo o país, porém, em boa parte, limitados aos estabelecimentos onde se pratica a agricultura comercial para exportação e inseridas no agronegócio do qual faz parte o complexo agroindustrial – empresas produtoras de sementes, fertilizantes, agrotóxicos, máquinas e equipamentos agrícolas, serviços especializados, laboratórios, transporte, financiamento e industrialização da produção.

A revolução verde e o campo brasileiro 

Com o aumento da população, cresceu a demanda por produtos agrícolas. Somado a isso, ganhou força a partir da década de 1960 uma nova lógica de produção que ficou conhecida como revolução verde. Seu objetivo era aumentar a produtividade agrícola por meio da modernização técnica e científica. No campo brasileiro, foram incorporadas inovações tecnológicas nas mais diversas áreas: produção de sementes, maquinários, aplicação de conhecimentos e técnicas para análise e preparação do solo e uso constante de insumos. Toda a infraestrutura de circulação da produção agropecuária no país foi ampliada. Houve a construção de estradas, a integração entre diferentes tipos de transporte (rodoviário, ferroviário e hidroviário), a construção de armazéns e silos para estocagem de grãos.

A formação da agroindústria 

Nas décadas de 1970 e 1980, buscando melhor posição no comércio internacional, complexos agroindustriais começaram a ser instalados no Brasil. Neles, os gêneros agropecuários são beneficiados ou transformados com o uso de máquinas, por isso são, geralmente, instalados em locais próximos às fazendas, no campo. Um exemplo importante é o complexo agroindustrial da soja, que tem grande relevância até os dias atuais; ele é estruturado de modo a atender às necessidades do mercado interno e internacional, com a produção de grãos, farelo e óleos, utilizados na fabricação de ração para gado, em indústrias alimentícias e em usinas de biocombustíveis. No complexo agroindustrial ligado à cana-de-açúcar, além da industrialização e ampliação da produção de açúcar, houve a criação, pelo governo brasileiro, do Programa Proálcool, em 1975, para a produção nacional do combustível etanol. Atualmente, o bagaço da cana também é aproveitado para a geração de energia elétrica. 

A incorporação da agricultura de precisão e da biotecnologia 

Nos anos 1990 e 2000, a modernização agrícola incorporou novos avanços tecnológicos, com equipamentos ligados ao Sistema de Posicionamento Global (GPS) e a Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Essas tecnologias permitem o mapeamento e a melhoria no gerenciamento da produção, com base em dados sobre as condições do solo e da lavoura obtidos via satélite e por sensores. Avanços da biotecnologia também foram incorporados nesse período, como mapeamentos genéticos de variedades de plantas para o desenvolvimento de sementes, controle de pragas e compostos químicos usados como pesticidas.

 O avanço da fronteira agrícola 

As áreas em que a vegetação nativa é substituída por pastagens ou cultivos são chamadas de fronteira agrícola. No Brasil, a modernização do campo e a expansão da fronteira agrícola foram dois processos complementares. A incorporação de novas áreas agrícolas trouxe desafios para a produção, pelas especificidades de cada ambiente na preparação do solo e na manutenção dos variados cultivos. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), fundada em 1973, teve fundamental importância na expansão e modernização agrícola nacional ao desenvolver pesquisas científicas e técnicas para o enriquecimento do solo do Cerrado e a modificação genética da soja, que se tornou um dos principais itens agrícolas do campo brasileiro. Desde os anos 1970, vastas áreas de Cerrado foram desmatadas para o desenvolvimento da agropecuária. A fronteira agrícola tem avançado, ainda, em direção aos estados da região Norte, além do Maranhão, de Tocantins, do Piauí e do oeste da Bahia. Um imenso arco do desmatamento foi formado, desde o Acre, passando por Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Nessa faixa, com 256 municípios, está concentrado 75% do desmatamento da Floresta Amazônia.



Agricultura familiar

A agricultura familiar consiste em uma organização social na qual, em geral, são desenvolvidas atividades agropecuárias em um espaço rural. Este, por sua vez, é gerenciado por uma família e há o predomínio da mão de obra familiar. A produção agrícola da agricultura familiar é fundamental para a segurança alimentar do país, pois a maior parte dos alimentos consumidos tem origem na produção dessa organização.
A agricultura familiar tem importante participação na geração de empregos no campo e na produção nacional de alimentos. Do total de pessoas que se dedicam à agropecuária, 67% fazem parte da agricultura familiar. Nesse tipo de produção, emprega-se mão de obra familiar, a propriedade é gerenciada pela família e a atividade agropecuária é a principal fonte de renda. 
A agricultura familiar ou agricultura camponesa é caracterizada pela gestão da propriedade feita por pessoas que mantêm laços de parentesco, trabalham na terra e têm como principal fonte de renda a atividade agropecuária. Esse tipo de agricultura é responsável pela produção de cerca de 70% dos alimentos que vão à mesa dos brasileiros. 
A maior parte dos estabelecimentos rurais no Brasil (77%) faz parte da agricultura familiar. Essa modalidade de produção responde por 23% da área ocupada por estabelecimentos agropecuários no país, com grande variação entre as unidades federativas.
O Censo Agro de 2017 contabilizou cerca de 3,9 milhões de estabelecimentos onde esse tipo de exploração da terra é desenvolvido, ou seja, 77% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Cerca de 10,1 milhões de pessoas trabalham nesse tipo de estabelecimento (67% do pessoal ocupado na agropecuária), sendo distribuídos regionalmente.
A agricultura familiar ocupa apenas 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários, sendo as maiores proporções encontradas em Pernambuco, Ceará e Acre, e as menores nos estados do Centro-Oeste e em São Paulo, onde a agricultura comercial (também classificada como moderna ou capitalista) é ainda mais predominante. Para alguns pesquisadores, a agricultura familiar apresenta outras características não incluídas em sua definição oficial.
Segundo seus estudos, esse tipo de agricultura não trata apenas de um modo de produzir, mas também da relação estabelecida com a terra, com a natureza e com a cultura de um modo de viver comunitário. Destacam, ainda, que a renda não é obtida pela exploração do trabalho de terceiros, mas, principalmente, do trabalho familiar e não assalariado, e que isso leva à construção de uma racionalidade diferente da empresarial (orientada sobretudo pelo lucro).
Os agricultores familiares geralmente realizam uma produção diversificada, em pequenas e médias propriedades, para subsistência e comercialização. Além de ser praticada em pequenas propriedades, de modo geral, a produção familiar é diversificada (distintas espécies vegetais e animais), e, muitas vezes, observa os ciclos da natureza e produz internamente grande parte dos insumos necessários (fertilizantes, por exemplo), conferindo certa sustentabilidade.
É comum que os produtores rurais precisem comprar materiais e equipamentos em etapas anteriores à venda da produção. A atividade agrícola também é vulnerável a eventos climáticos que podem causar a perda da produção, o que fragiliza economicamente os pequenos produtores. Por essas razões e pela importância da agricultura familiar no abastecimento alimentar, o governo federal desenvolve políticas de apoio a esse tipo de produção. 
Nos últimos anos foram criados programas de apoio à agricultura familiar que buscam oferecer crédito para compra de equipamentos e construção de formas de armazenamento da produção, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Florestal (Pronaf Florestal), que visa estimular a introdução de sistemas agroflorestais para a manutenção de áreas que ainda possuem elevada biodiversidade. Há uma maior participação da agricultura familiar na produção de mandioca, feijão, arroz, milho, café, trigo e hortifrútis (hortaliças e frutas).

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...