sábado, 3 de agosto de 2024

Do artesanato à indústria moderna

O artesanato

O artesanato, desenvolvido nos núcleos familiares, é a forma mais antiga de transformação dos recursos naturais em objetos para satisfazer as necessidades humanas. Inicialmente, destinava-se a abastecer a própria família, com a fabricação de panelas, jarros, canecas, roupas, instrumentos de trabalho, entre outros objetos. Com o passar do tempo, porém, permitiu que as famílias trocassem entre si os utensílios excedentes de sua produção. Com o crescimento da população urbana e, consequentemente, o aumento da procura por produtos ou objetos, o artesanato familiar tornou-se insuficiente. Diante disso, ao longo do século XIV, em algumas cidades europeias começaram a surgir oficinas de artesãos, que deram origem à manufatura.

A manufatura

Diante da procura crescente por mercadorias do artesanato, alguns artesãos decidiram expandir o negócio, contratando oficiais e aprendizes de ofício (sapateiros, alfaiates, ferreiros, entre outros). Assim, a nova forma de produzir mercadorias deixou de ser individual e passou a ser executada por várias pessoas contratadas, assumindo, a partir de então, a feição de empresa – a manufatura. A comercialização dos produtos, realizada pelos comerciantes, tornou-se intensa e rentável, levando ao rápido crescimento das manufaturas na Europa. Isso permitiu que muitos proprietários investissem na criação e no desenvolvimento de novas e avançadas técnicas de produção, capazes de aumentar ainda mais a oferta de produtos e o lucro. Desse processo surgiu a indústria.

A indústria

Dá-se o nome de indústria ao conjunto de atividades produtivas que transformam matérias-primas em mercadorias para uso ou consumo tanto doméstico como em todas as atividades econômicas, até mesmo em outras indústrias.

Da indústria moderna – que teve início no século XVIII – até os dias atuais, o desenvolvimento tecnológico foi tão intenso que desencadeou as chamadas “revoluções industriais”.

Primeira Revolução Industrial

Com o investimento em novas técnicas de produção, muitas invenções começaram a surgir por volta de 1750, principalmente na Inglaterra (atual Reino Unido) e, posteriormente, nos países que hoje conhecemos como França, Alemanha, Rússia, Bélgica, Itália, Japão e Estados Unidos. A invenção de máquinas possibilitou ao trabalhador produzir uma quantidade maior de mercadorias em menor tempo, comparando-se à produção da manufatura. Nasceu, assim, a indústria moderna, na qual a produção passou da manufatura para a maquinofatura. Segunda Revolução Industrial Entre as principais invenções desse período, que se estende da primeira metade do século XIX até meados do século XX, destacam-se a locomotiva a vapor; o motor de combustão interna, que permitiu o aparecimento do automóvel; o telefone; o rádio; o cinema; a televisão. Nesse período, também ocorreram a descoberta e o aproveitamento de novas fontes de energia, como o petróleo. Tudo isso revolucionou a produção industrial, os transportes e as comunicações.

Terceira Revolução Industrial

Para alguns estudiosos, a Terceira Revolução Industrial ou Revolução Científica e Tecnológica teve início quando a ciência descobriu a possibilidade de explorar a energia nuclear do átomo. Para outros, caracterizou-se pelas grandes conquistas da eletrônica, no início dos anos 1970, que permitiram os avanços da informática e de novas técnicas de produção, incluindo o uso de robôs (robótica). É importante lembrar que o processo de industrialização não se desenvolveu de forma semelhante em todos os países e espaços geográficos e que essa desigualdade ainda é observada atualmente.

Quarta Revolução Industrial

Nessa fase, as indústrias caracterizam-se por empregar elevado nível de automação obtido por meio de uma combinação de recursos tecnológicos, por exemplo, a inteligência artificial, a robótica avançada, a conectividade entre equipamentos e dispositivos (internet das coisas), as redes informacionais, entre outros. Desse modo, a produção industrial torna-se mais autônoma, ágil e competitiva. Da mesma forma que o processo de industrialização não ocorreu de maneira semelhante em todos os países do mundo, o mesmo vem acontecendo com a Indústria 4.0. Países como Alemanha, Finlândia, Estados Unidos e Israel estão na dianteira desse tipo de indústria. Essa fase da revolução industrial exige mão de obra altamente especializada e qualificada. E aí está o desafio: ou os países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos superam esse obstáculo ou ficarão na rabeira do desenvolvimento científico-tecnológico e dependentes dos centros mais avançados. Percebe-se, assim, a importância de investimentos nos setores de educação e pesquisas científico-tecnológicas para a formação de profissionais tecnicamente cada vez mais capacitados para o trabalho nesse tipo de indústria.

Tipos de indústria

▪ Classificação de acordo com o destino da produção

Com base no destino dos bens produzidos, as indústrias se classificam em: indústrias de bens de consumo, indústrias de bens intermediários e indústrias de bens de produção. As indústrias de bens de consumo produzem para consumo ou uso pela população. Abrangem:

Indústria de bens de consumo não duráveis: produz bens usados ou consumidos apenas uma vez ou por pouco tempo, como calçados, roupas, alimentos etc.

Indústria de bens de consumo duráveis: produz bens usados por um período relativamente longo, como móveis, eletrodomésticos, computadores, automóveis etc. 
As indústrias de bens intermediários produzem matérias-primas para outros segmentos industriais. É o caso da indústria de extração e transformação de minérios, que produz matéria-prima para as indústrias automobilísticas e químicas, por exemplo. 
As indústrias de bens de produção, também chamadas de base ou de bens de capital, produzem máquinas e equipamentos destinados a outras indústrias, como as de máquinas têxteis, as de motores e, até mesmo, as usinas de energia elétrica etc.

Classificação de acordo com a tecnologia empregada

Em relação à tecnologia que empregam, distinguem-se dois tipos de indústria: a tradicional ou de trabalho intensivo e a moderna ou de tecnologia avançada.

Nas indústrias tradicionais, empregam-se tecnologias antigas e mão de obra numerosa. Esse tipo de indústria é encontrado em vários ramos (bebida, metalurgia, confecção etc.) e em empresas que, por diversas razões, não investiram na modernização.

Nas indústrias modernas, os progressos científicos e tecnológicos são intensamente aplicados à produção industrial. A mão de obra é altamente especializada, com produção e produtividade elevadas, destacando-se as indústrias de informática, de telecomunicação, aeroespacial e automobilística com o uso de robôs.

Trabalho humano e produtos 

Um produto é o resultado da atividade humana, física ou mental, isto é, o que fazemos, criamos ou construímos por meio de nosso trabalho. 
Para que algo seja um produto, no sentido econômico do termo, é necessário que as pessoas atribuam valor a ele e o comprem para uso ou consumo. Podemos afirmar, portanto, que consumo é o uso de um bem ou serviço por uma pessoa ou por uma empresa. Assim, o objetivo da produção humana é fornecer produtos ou serviços ao mercado de consumo. Conheça alguns exemplos de produtos a seguir. 
Quando o ser humano prepara a terra, planta e colhe vegetais, obtém como resultado produtos agrícolas: cana-de-açúcar, milho, arroz, feijão, soja etc. Assim, dizemos que os produtos agrícolas são o resultado da atividade humana, ou seja, do trabalho do ser humano na agricultura. 
 Os operários que participam da produção de um automóvel trabalham em diferentes tipos de indústria que fornecem produtos para as montadoras de automóveis. O automóvel é, então, um produto resultante do trabalho humano em diferentes indústrias.
O poeta também realiza um trabalho. O resultado de seu trabalho são os poemas; eles são o produto do trabalho intelectual do poeta. No entanto, esse trabalho só se torna um produto de valor econômico quando, por exemplo, os poemas são publicados em livros, que são distribuídos às livrarias para consumo dos leitores.

A pecuária no Brasil

A agropecuária brasileira exerce um papel importante para a economia nacional, gerando riquezas ao país por meio da comercialização no mercado interno e, principalmente, externo. Apesar da considerável produção associada a suínos (porcos), equinos (cavalos), ovinos (ovelhas e carneiros) e caprinos (bodes e cabras), os dois principais destaques nacionais na pecuária vêm do rebanho bovino (bois e vacas) e galináceo (galinhas e galos).
O Brasil no mercado internacional de carnes O Brasil é o segundo maior produtor e exportador de carnes do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Com o crescimento do consumo mundial de carne e a valorização desse produto no mercado internacional, os criadores são incentivados a aumentar a produção, resultando em transformações do uso da terra. Atualmente, cerca de um quarto da produção brasileira de carnes se destina à exportação. De acordo com o Atlas da Complexidade Econômica, em 2018, o Brasil foi responsável por 10,72% do fornecimento do produto para o mercado internacional.
O Brasil, em 2020, foi detentor do segundo maior rebanho bovino do mundo, atrás apenas da Índia – onde a criação de gado não é voltada para fins comerciais por questões religiosas. Segundo o IBGE, em 2020 o Brasil detinha o maior rebanho bovino comercial do mundo, com cerca de 218 milhões de cabeças, e era o segundo maior exportador de carne desse segmento do planeta, atrás dos Estados Unidos. Entre 2000 e 2020, os valores de exportação de todas as carnes produzidas no Brasil somaram US$ 265 bilhões.
Segundo o IBGE, em 2020, no Brasil, a relação entre o número de habitantes e o número de cabeças de gado bovino foi de quase 1 para 1, ou seja, havia aproximadamente uma cabeça de gado bovino para cada habitante (em 2020, a população brasileira foi estimada em cerca de 213 milhões de habitantes e o rebanho bovino foi de pouco mais de 218 milhões de cabeças). 

Tipos de produção 

A pecuária pode ser realizada de duas formas. 
Na pecuária extensiva os animais são criados soltos e se alimentam de pastagens naturais ou plantadas em áreas amplas. Entre as formações vegetais nativas no Brasil, o Pantanal e os Campos, na região Sul, são aproveitados como pastagens naturais para a alimentação do gado, principalmente bovino. No Pantanal, o gado precisa ser conduzido para locais mais altos nos períodos mais chuvosos, quando ocorre a cheia na região. 
Na pecuária intensiva, os animais vivem confinados em pequenas áreas, onde são alimentados com ração. Entre os recursos utilizados para acelerar o crescimento dos animais e aumentar a produtividade, estão a seleção genética e o uso de hormônios e suplementos na alimentação. Além disso, esse sistema exige a participação de profissionais especializados, como médicos-veterinários que acompanham a engorda dos animais. 
O uso de pastagens também pode ser associado ao confinamento dos animais. Nesses casos, o sistema de produção é classificado como semi-intensivo
No Brasil, aves e gado bovino e suíno formam os maiores rebanhos, sendo suas carnes um dos principais produtos de exportação. Além disso, a atividade pecuária é realizada para a obtenção de couro, lã, leite e ovos, entre outros produtos.
No Brasil, a pecuária bovina de corte, ou seja, destinada à produção de carne, é realizada predominantemente segundo o sistema extensivo e semiextensivo, com o objetivo de abastecer os mercados interno e externo. Esse sistema é praticado principalmente em grandes propriedades, nas Grandes Regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Na Grande Região Norte, a expansão da pecuária tem sido responsável por grandes desmatamentos da Floresta Amazônica, como já assinalamos. A pecuária intensiva é amplamente praticada nas Grandes Regiões Sudeste e Sul, onde o preço da terra é mais elevado, e visa, sobretudo, à produção de leite.

Principais rebanhos 

De acordo com o IBGE, em 2020, havia no país mais de 218 milhões de cabeças de gado bovino, que inclui bois, vacas e touros. A produção animal também possui importantes destaques na criação de aves, suínos, caprinos e ovinos. 

Bovinos 

Com rebanhos presentes em todo o território nacional, os estados da região Centro-Oeste merecem destaque. O gado leiteiro predomina no Pará, em Minas Gerais, em Goiás e nos estados da região Sul. Além de se destacar na criação de gado bovino, o Brasil possuía, em 2020, o terceiro rebanho mundial de gado suíno, superado apenas pela China e pelos Estados Unidos. A maior criação e produção de suínos é realizada de forma intensiva, principalmente nos estados de Santa Catarina, do Paraná e do Rio Grande do Sul.

Aves 

A produção comercial de aves e ovos tem maior destaque nos estados das regiões Sul e Sudeste. Em 2017, o Paraná respondia por 24,4% da produção nacional de aves, enquanto São Paulo concentrava um terço da produção de ovos do país.
Quanto à produção de carne de aves (galináceos, codornas, avestruzes, perus, etc.), o Brasil é o maior exportador, com 4,3 milhões de toneladas por ano (20,9%), tendo rendido ao setor US$ 6,6 bilhões em 2020. A avicultura de galináceos, em granjas, ocupa posição de destaque no Brasil por abastecer os mercados interno e externo.

Suínos 

A criação de suínos para produção de carne é realizada principalmente nos estados da região Sul, com maior parte da produção nacional, e em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro consomem parte relevante da produção de carne de aves e suínos realizada no oeste de Santa Catarina e Paraná. Em território nacional, o transporte desses produtos é realizado em ferrovias e rodovias. A produção exportada é escoada principalmente pelos portos de Paranaguá (PR) e Itajaí (SC).

Ovinos 

Os ovinos (ovelhas e carneiros) são animais de médio porte criados principalmente para a produção de carne e lã. Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Ceará e Piauí são os principais produtores no país. Juntos esses estados dão conta de 73% do rebanho nacional. 

Caprinos 

A região Nordeste tem destaque na produção de ovinos e caprinos (cabras e bodes). Segundo o Censo agropecuário de 2017, cerca de 93% do efetivo de ovinos está em estados nordestinos, sendo 28,9% na Bahia, 22,4% no Piauí, 17,1% em Pernambuco e 10,7% no Ceará. A carne, o leite de cabra e o couro desses animais são aproveitados comercialmente.

 Bubalinos 

O termo “bubalino” se refere aos búfalos, animais de grande porte presentes principalmente nos estados do Pará e Amapá. Os búfalos são usados no transporte de carga e pessoas e na produção de leite e queijo. Introduzidos no Brasil no século XIX, foram domesticados e atualmente fazem parte da cultura e do turismo regional da ilha de Marajó, no Pará.

Desafios e perspectivas comerciais 

Como vimos, a pecuária está presente em todas as unidades federativas. A distribuição da produção exige a integração dos principais centros produtores e consumidores, que ocorre principalmente por meio de rodovias. Sua expansão resultou em maior complexidade da atividade, que hoje incorpora grandes abatedouros, centros industriais de processamento de carne e frigoríficos, formando uma extensa cadeia produtiva. O avanço da pecuária sobre áreas da Floresta Amazônica, causando desmatamento, e o rigor dos mercados consumidores internacionais têm motivado a criação de certificados que atestem a origem da carne, com o objetivo de garantir que a produção siga padrões sanitários adequados, sem gerar graves impactos ao meio ambiente.
Apesar da importância econômica gerada pelo setor pecuarista, muitos impactos ambientais são gerados em decorrência da criação de animais em grande escala. No caso da bovinocultura, é comum que haja a necessidade da retirada da vegetação original de determinada localidade para abertura ou ampliação das pastagens. Outro impacto ambiental é a intensificação do efeito estufa. O gado é responsável por 15,4% das emissões dos gases de efeito estufa, gerados pela eructação (arroto) e pela decomposição dos dejetos (esterco), além de outros fatores.

Pecuária orgânica 

O aumento da produção pecuária foi acompanhado por preocupações quanto às condições de vida dos animais. A busca por maior produtividade, muitas vezes, resulta em processos de criação inadequados, como confinamento excessivo, criadouros lotados e uso intensivo de hormônios e medicamentos. Como alternativa, formas de produção identificadas como orgânicas vêm se desenvolvendo, nas quais se evitam o estresse dos animais e o uso de substâncias artificiais no trato do rebanho e no cultivo das pastagens. De modo geral, esses produtos chegam aos consumidores com maioes custos, tornando-se inacessíveis às parcelas mais pobres da população. 
Na produção orgânica, são consideradas ainda as condições de vida e a atividade dos trabalhadores rurais. Segundo a Embrapa, existem algumas características importantes na pecuária orgânica, entre elas garantir que todos que vivam na propriedade tenham boa qualidade de vida; conservar a biodiversidade; prezar o bem-estar animal; garantir acesso à água e a alimentos adequados; controlar os procedimentos realizados no rebanho e garantir ambientes adequados do ponto de vista de lotação e sombreamento.

A pecuária

A pecuária é fundamental para a humanidade. Ela consiste em uma atividade econômica que envolve a criação e a comercialização de animais para a produção de alimentos (carne, ovos, leite, mel, etc.) e de produtos não alimentares (lã, couro, pele, penas, etc.), para o transporte de cargas ou para fins recreativos (passeio a cavalo e vaquejada, por exemplo). Alguns animais, como o boi, o cavalo e o porco, também fornecem fertilizantes orgânicos (naturais), que auxiliam no desenvolvimento do solo e, consequentemente, na melhor evolução das plantas. 

As formas de criação de gado

A pecuária reúne as atividades relacionadas à criação de gado para fins domésticos ou comerciais. Distinguem-se, pelo menos, duas formas principais de criação de gado: o pastoreio, que compreende o nomadismo pastoril e a transumância; e a pecuária de sistema extensivo, semiextensivo ou intensivo.

O pastoreio 

O pastoreio é um modo de vida que se baseia na exploração de pastagens naturais, onde a criação de animais é realizada em áreas sem uso de cercas e sem controle da alimentação. Há dois modos de pastoreio: o nomadismo pastoril e a transumância.

O nomadismo pastoril 

O nomadismo é o modo de vida em que um grupo humano se desloca de um lugar para outro para manter sua subsistência. No caso do nomadismo pastoril, o grupo humano desloca-se com seu rebanho em busca de pastagens para os animais. É esse o caso de alguns grupos de lapões, povo que vive no extremo norte da Europa (Suécia, Noruega, Finlândia e Rússia), e do povo nenets – da etnia samoieda –, que habita o norte da Rússia. Esses grupos praticam o pastoreio nômade da rena.

A transumância 

O modo de pastoreio que se caracteriza pelo deslocamento periódico de rebanhos de acordo com o clima chama-se transumância. Em geral, esse deslocamento ocorre entre pastagens em regiões montanhosas e pastagens em planícies – no verão, as montanhas tornam-se uma alternativa às planícies, atingidas pela seca, e, no inverno, as planícies constituem melhor área para criação, enquanto as montanhas ficam cobertas pela neve. Na transumância, apenas os pastores se deslocam com o rebanho. As famílias permanecem em suas casas, dedicando-se à pequena agricultura. No nomadismo pastoril, visto anteriormente, todo o grupo humano se desloca com o rebanho.
A prática dessas modalidades de pastoreio tem sido cada vez mais rara em razão do avanço das atividades econômicas modernas, como a indústria e a mineração. Ao chegar a regiões de pastoreio, essas atividades acabam empregando a população, que, aos poucos, tem abandonado as pastagens.

A pecuária 

A pecuária abrange a criação de animais de grande porte – como bois (bovinos), cavalos (equinos), búfalos (bufalinos), mulas e burros (muares) e asininos (jumentos ou jegues, como são chamados no Nordeste do Brasil) – e animais de pequeno porte – como porcos (suínos), ovelhas (ovinos), cabras (caprinos), aves (avícolas) e abelhas (apícolas). Vamos estudar mais detalhadamente os sistemas de criação do gado bovino por sua importância no fornecimento de alimentos (carne, leite e derivados) e de matérias-primas para uso industrial. Conheça a seguir cada um desses sistemas.

Os sistemas de criação da pecuária 

Quanto ao sistema de criação de animais, há, basicamente, três tipos convencionais: extensivo, intensivo e semiextensivo
A pecuária extensiva é praticada, em geral, em regiões de baixa densidade demográfica e com grande disponibilidade de terras. O rebanho é criado solto no campo e se alimenta principalmente de pastagens (naturais, cultivadas ou mistas). Os animais destinam-se aos abatedouros para a produção de carne e há aproveitamento do leite das fêmeas. 
A pecuária semiextensiva é uma prática em que se associam as pastagens e o confinamento para a engorda dos animais. Confinado nos períodos de estiagem, o rebanho se destina, geralmente, a abastecer o mercado de carne. Quando a terra é um fator de produção de alto preço, pratica-se a pecuária intensiva. Nesse sistema, empregam-se técnicas modernas para aumentar a produtividade mediante, por exemplo, a seleção de raças, o fornecimento de forragens e rações que possam melhorar a alimentação do rebanho e a concentração do maior número possível de animais por unidade de área. Esse sistema é aplicado, principalmente, na criação de gado leiteiro, em que os animais ficam estabulados, isto é, confinados em estábulos.


Brasil: espaço agrícola e o uso de terras

A agricultura é a prática de cultivar o solo para a produção de vegetais, uma das atividades responsáveis pela produção de alimentos e de matérias-primas para muitas indústrias.
A palavra agricultura vem do termo latim agricultūra, que significa “cultivo do solo”. Essa atividade, que se desenvolveu ao longo da história da humanidade, mais especificamente cerca de 10 mil anos antes da era cristã, traz um conjunto de técnicas utilizadas para trabalhar o solo e cultivar plantas. É por meio da agricultura que obtemos a maior parte dos alimentos (frutas, cereais, verduras, legumes, etc.) e dos tecidos (a fibra utilizada na produção de muitos tecidos origina-se do algodoeiro, por exemplo.
Para que seja possível o pleno desenvolvimento de atividades agrícolas, uma combinação de fatores naturais deve ser considerada. O clima é colocado como um dos fatores naturais importantes para a agricultura. Assim como acontece com a maioria das espécies animais, que têm ambientes climáticos próprios para o desenvolvimento, as plantas também se estabelecem melhor onde as condições de temperatura, insolação, umidade e volume médio de chuvas são apropriadas para cada espécie. A condição de fertilidade do solo influencia diretamente na produtividade agrícola e na escolha da cultura a ser praticada. Para que seja realizada uma análise correta do solo, profissionais como o técnico agrícola e o engenheiro agrônomo são fundamentais. Essa análise indicará o grau de fertilidade do solo e quais intervenções (manejo) serão necessárias para um plantio produtivo. 
Já o relevo pode influenciar na atividade agrícola de várias formas. Em terrenos mais acidentados, a lavagem dos nutrientes do solo pela força de escoamento da água (lixiviação) pode reduzir a fertilidade. As técnicas de terraceamento e curvas de nível amenizam esse fenômeno. Relevos acentuados também podem dificultar o emprego de máquinas na lavoura, reduzindo o ritmo de preparo do solo e da colheita.

Os fatores e os sistemas de produção na agricultura 

Além das condições naturais, existem outros fatores que influenciam a prática agrícola. Para a agricultura, devemos considerar três fatores de produção: a terra, o trabalho e o capital. 
• A terra é a área de solo onde são cultivadas as plantas. Pode ser de grande, média ou pequena extensão. 
• O trabalho é a atividade humana aplicada à produção e varia de acordo com a forma de organização das atividades em determinado momento e local. A qualidade do trabalho depende, ainda, do conhecimento técnico da mão de obra empregada. 
• O capital abrange, além do dinheiro investido, os instrumentos de produção: foices, arados de tração animal, tratores, colheitadeiras, semeadeiras, adubadeiras, fertilizantes, agrotóxicos etc. Quando, numa unidade agrícola, a terra é o principal fator de produção, e não o capital, dizemos que se trata de um sistema agrícola de produção extensiva ou agricultura extensiva. Esse tipo de produção se caracteriza pelo uso de técnicas tradicionais e apresenta, geralmente, baixa produtividade por unidade de área cultivada. Entretanto, quando o principal fator de produção é o capital, dizemos que se trata de um sistema agrícola de produção intensiva ou agricultura intensiva, caracterizado por intenso uso de máquinas e implementos agrícolas, adubos, equipamentos para irrigação, sementes e mudas selecionadas etc., além de elevada produtividade.

O uso da terra pela agropecuária 

O uso da terra corresponde à forma como o espaço geográfico é aproveitado pelas sociedades humanas. Podemos distinguir, por exemplo, o uso urbano – com casas, edifícios, ruas, avenidas, indústrias, comércios, escritórios, viadutos etc. –, o uso rural – por agricultura, criação de gado, silvicultura etc. –, o uso de áreas de vegetação natural – por extrativismo vegetal, animal etc. –, além do uso de áreas de mineração e outros.
Considerando o tipo de produção, as técnicas utilizadas e o destino dos produtos, a agricultura pode se diferenciar entre si das maneiras a seguir. 
Agricultura tradicional: as técnicas empregadas são tradicionais ou rudimentares, com a utilização de instrumentos manuais como o arado e a enxada. Esse modo de produção faz pouco uso de equipamentos mecânicos, agrotóxicos e fertilizantes. Por ser bastante artesanal, em muitos casos, apresentam baixa produtividade e menor impacto ambiental.
Agricultura moderna: as técnicas são modernas, utilizando sistemas de irrigação e maquinário especializado, como arado mecânico e colheitadeiras. Esse modo de produção utiliza pouca mão de obra, além de fertilizantes, sementes melhoradas, entre outros produtos tecnologicamente mais avançados.
Agricultura comercial: os produtos são destinados ao comércio nacional e internacional, por isso são produzidos em grande quantidade, além de utilizar técnicas mais modernas de produção que aumentam a produtividade. 
Agricultura familiar: os produtos são destinados ao consumo das famílias produtoras, e parte é comercializada pelos agricultores em feiras livres ou estabelecimentos comerciais mais próximos. De modo geral, a agricultura familiar faz uso de técnicas tradicionais de cultivo e é responsável pela maior parte da alimentação da população brasileira.

Brasil: o espaço agrário 

Se observássemos um mapa do uso da terra no Brasil por volta de 1950, veríamos que ele seria muito diferente do mapa dos dias atuais, como o representado nesta página. Até 1950, não havia ocorrido a expansão da fronteira agropecuária para o interior do território brasileiro. A partir dos anos 1950, a agropecuária expandiu-se no interior do Brasil e formaram-se grandes fazendas de agricultura e pecuária. Isso ocorreu por meio de grandes desmatamentos e queimadas do Cerrado e da Floresta Amazônica, processo que se mantém nos dias atuais. Somam-se a isso conflitos, muitas vezes com a ocorrência de mortes, entre alguns fazendeiros e grupos indígenas, populações ribeirinhas e outros protagonistas sociais que foram expulsos de suas terras. Em virtude de o território brasileiro estender-se na direção norte-sul, desde as áreas de baixa latitude até as de média latitude, e apresentar variações regionais de precipitação (chuva), são cultivadas no país plantas de clima tropical – como café, cana-de-açúcar, cacau e amendoim – e de clima temperado – aveia, trigo, centeio, maçã, pera etc. Na geografia agrícola do Brasil, podemos reconhecer culturas especializadas e grandes culturas comerciais.

Culturas especializadas 

As culturas especializadas são aquelas que, condicionadas principalmente pelo clima e solo, encontram em certas áreas do território a possibilidade de obter maior produção e produtividade (dendê, coco, caju, pera, palmito, pimenta-do-reino, juta, batata etc.). As culturas especializadas são importantes tanto do ponto de vista social como do econômico, pois são realizadas, geralmente, com base no trabalho familiar. Representam, assim, fonte de rendimento para famílias de pequenos proprietários de terra e pequenos arrendatários.

Grandes culturas comerciais 

 Ao contrário das culturas especializadas, as grandes culturas comerciais (café, cana-de-açúcar, arroz, feijão, laranja, soja, algodão, milho etc.) ocorrem em vastas áreas, nas diversas regiões do Brasil, demonstrando o enorme potencial agrícola do país. Nas últimas quatro décadas, as culturas comerciais se modernizaram. Sua elevada produtividade decorre do uso de tecnologia e técnicas agrícolas avançadas (seleção de sementes e mudas, correção e adubação do solo, mecanização, assistência agronômica etc.). Como consequência, o Brasil ocupou, em 2021, posições de destaque no mercado mundial: é maior produtor de café, cana-de-açúcar, cítricos e soja. Para manter a alta produtividade, essas culturas empregam agrotóxicos em larga escala. Se, por um lado, essas substâncias combatem insetos, fungos e outros seres que prejudicam as plantações, por outro, o uso excessivo contamina o solo, as águas e o ar e mata outros seres vivos, podendo também intoxicar o trabalhador rural, caso as aplique sem proteção adequada.
Custos ambientais e sociais das atividades agropecuárias 
O desempenho alcançado pelo Brasil em algumas culturas comerciais veio acompanhado, em muitos casos, por um elevado custo ambiental. O avanço da cultura da soja em direção à Amazônia, por exemplo, além da pecuária bovina e da exploração madeireira, tem sido causa de desmatamento na Floresta Amazônica. Enquanto a soja se expande pelo norte do estado de Mato Grosso, a pecuária bovina avança também pelo norte desse estado e pelo sul e sudoeste do Pará. No caso da cana-de-açúcar, vários estudos apontam problemas sociais e ambientais relacionados à produção de açúcar e álcool no país. Entre os impactos ambientais gerados pelo setor sucroalcooleiro estão a emissão de poluentes, que ameaça os recursos hídricos, a qualidade do ar e a biodiversidade, e o cultivo em áreas de preservação ambiental por parte de alguns produtores. Um dos problemas sociais do setor sucroalcooleiro refere-se às precárias condições de trabalho e à má remuneração de grande parte dos trabalhadores rurais, em diversas regiões brasileiras. 
O avanço da cultura da cana-de-açúcar também resulta, em alguns casos, em ameaças às comunidades indígenas. Isso porque a crescente demanda de matéria-prima pelas usinas de açúcar, etanol e biodiesel tem estimulado a expansão das áreas de cultivo, incluindo as terras indígenas em processo de reconhecimento pelo governo brasileiro. A lentidão do reconhecimento de terras indígenas contribui para a ocorrência de violentos conflitos entre indígenas e produtores rurais. O trabalho análogo ao de escravo é outro problema presente no campo brasileiro. Em 2021, segundo a Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério do Trabalho e Previdência do Brasil, foram libertadas dessa condição um total de 1015 pessoas em vários ramos de atividades, incluindo agricultura e pecuária. 

A questão da terra no Brasil 

Desde a chegada dos portugueses às terras que viriam a ser o Brasil, o acesso à propriedade da terra para cultivar ou criar gado foi muito desigual entre a população. De início, o rei de Portugal era o dono das terras e as doava a quem tivesse prestado relevantes serviços à Coroa portuguesa. Foram doadas, assim, grandes extensões de terras para o cultivo e a criação de gado, as chamadas sesmarias. Apesar de o regime de sesmarias ter sido interrompido em 1820, a grande propriedade rural foi mantida, pois seus proprietários, com forte influência política, conseguiram aprovar leis que garantiram os seus privilégios de acesso à terra. Essa é a raiz histórica da implantação de extensas propriedades rurais, chamadas latifúndios, que ainda existem no Brasil. Há que se distinguir, porém, os latifúndios improdutivos – que pouco ou nada produzem –, encontrados principalmente nas Grandes Regiões Nordeste e Norte, dos latifúndios produtivos. Estes são explorados pelas grandes culturas comerciais e pela pecuária moderna e estão integrados ao agronegócio.

▪ Concentração fundiária 

Existe no Brasil uma concentração fundiária (do latim fundus, fundi, fazenda), ou seja, a concentração de terras nas mãos de poucos proprietários rurais. É uma característica histórica da agropecuária brasileira. Observe no gráfico como se distribuíam os estabelecimentos agropecuários segundo os grupos de áreas em 2017. Pode-se dizer que, no Brasil, muita gente tem pouca terra para cultivar e pouca gente possui muita terra. Trata-se da segunda maior concentração fundiária do mundo, só perdendo para o Paraguai.

Movimentos dos trabalhadores rurais 

Diante da dificuldade histórica de acesso à terra por parte de milhões de trabalhadores rurais, surgiram movimentos sociais que reivindicam a reforma agrária. Esses movimentos sociais, entre os quais se destaca o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fundado em 1984, realizam acampamentos na beira de estradas, ocupação de terras improdutivas, passeatas, protestos etc. com a finalidade de pressionar os governos. Como resultado, assentamentos rurais têm sido realizados. Mas, para que as famílias assentadas tenham condições de trabalhar a terra, elas necessitam de crédito, assistência agronômica, estradas para o escoamento da produção, rede de energia elétrica, além de outras condições básicas. Como na maioria desses assentamentos várias dessas condições não foram implantadas, muitas famílias não obtiveram sucesso no trato da terra.

quarta-feira, 31 de julho de 2024

AS CIDADES SUSTENTÁVEIS

O desenvolvimento sustentável tem o objetivo de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer o bem-estar das gerações futuras. É um conceito que está no centro das discussões atuais e conduz a elaboração de propostas que buscam conciliar as demandas econômicas, sociais e ambientais. O tema desenvolveu-se nos debates sobre planejamento urbano a partir da década de 1970, no contexto da crise mundial do petróleo, e ganhou força a partir da década de 1980, com a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987. Para garantir o desenvolvimento sustentável da economia mundial, é necessário que haja equidade nas condições de vida e uma gestão consciente das fontes de energia e dos recursos naturais. De acordo com a ONU, em 2021, as cidades eram responsáveis pela emissão de 70% dos gases do efeito estufa e 75% da energia produzida. Tendo isso em vista, o modo de vida urbano e a produção e o consumo de mercadorias devem ser repensados, de maneira a promover a redução dos impactos socioambientais. As cidades sustentáveis estão alicerçadas em uma concepção de planejamento urbano relacionada com o equilíbrio ambiental, a vitalidade econômica e os benefícios sociais. Para atingir esses objetivos, a cidade sustentável deve promover as seguintes medidas:

• oferecer transporte público de qualidade;
• melhorar o sistema de coleta de resíduos sólidos;
• construir parques urbanos;
• promover a qualidade de vida da população;
• produzir energia a partir de fontes limpas e renováveis;
• criar sistemas de captação e reúso das águas pluviais e fluviais;
• planejar a cidade de acordo com as demandas sociais, econômicas e ambientais.

A MOBILIDADE URBANA

As grandes cidades, como Mumbai, na Índia, São Paulo (SP), Cidade do México, no México, Buenos Aires, na Argentina, entre outras, são responsáveis por uma elevada emissão de gases poluentes, sobretudo em razão da grande frota de veículos. Essas cidades, em geral, caracterizam-se por um planejamento urbano que não priorizou um sistema integrado de transporte, o que facilitaria a mobilidade da população. Com uma grande frota de veículos particulares e a falta de integração entre os modais de transporte coletivo, há um arranjo e um padrão do espaço urbano projetado para carros, o que dificulta o acesso e a mobilidade daqueles que utilizam outros modais de transporte. Analise o gráfico a seguir, que representa a porcentagem de emissão de poluentes de cada tipo de veículo no Brasil. Os automóveis, em sua maioria, veículos individuais, são os que mais liberam gases poluentes.
Nas cidades sustentáveis, as alternativas para a redução de gases emitidos por automóveis se deram a partir do planejamento e da estruturação de um sistema de transporte público integrado e de transportes alternativos (ciclovias, por exemplo) de qualidade e acessíveis, o que facilita a mobilidade das pessoas. Exemplos do uso de bicicletas como meio de transporte podem ser verificados em cidades como Copenhague, na Dinamarca, e Amsterdã, na Holanda.
Um sistema de transporte público eficiente possibilita o acesso com qualidade a qualquer parte da cidade, independentemente se a pessoa está em uma área central ou periférica. Dessa forma, pode ser considerado como uma alternativa para a redução de gases poluentes, tendo em vista que as pessoas podem utilizar o transporte público para se deslocar pela cidade, em vez de utilizar veículos particulares. A oferta de rotas de ônibus, metrô e trem com possibilidade de integração é importante para determinar a qualidade do transporte e a mobilidade. Além disso, é fundamental que os preços das passagens atendam às necessidades das pessoas e possibilitem a integração entre os diferentes modais. A Política Nacional de Mobilidade Urbana aponta para a importância da priorização dos serviços públicos, da infraestrutura do sistema de mobilidade e da acessibilidade e integração dos modos de transporte público, incluindo estacionamento e áreas de acesso com horários definidos. Isso significa que a cidade precisa ter várias opções para melhorar a qualidade de vida da população.

A ACESSIBILIDADE NAS CIDADES SUSTENTÁVEIS

Uma cidade sustentável deve possibilitar o acesso de pessoas com todas as características. Isso significa que os edifícios, os transportes públicos, as vias de circulação e os espaços de lazer e cultura precisam garantir o acesso por parte de pessoas idosas, com mobilidade reduzida e com deficiências físicas, motoras e/ou sensoriais. Esse acesso pode ser viabilizado por meio de rampas e elevadores, piso tátil, mapas em braille, sinais sonoros, entre outros. Garantir o acesso dessas pessoas possibilita a redução das desigualdades sociais, tendo em vista sua relação direta com a facilidade e a equidade no deslocamento e a presença delas nos diferentes espaços da cidade. Faz parte da acessibilidade não apenas as condições de transporte, mas também o direito às informações e aos serviços de comunicação e tecnologia.

AS CIDADES E OS GRUPOS SOCIAIS

Ao refletir sobre as cidades sustentáveis, é importante considerar que a desigualdade econômica entre os países e as regiões gera obstáculos para a consolidação de projetos de cidades sustentáveis que buscam melhorar a qualidade de vida das pessoas. Esses projetos demandam altos recursos financeiros e, por isso, não são implementados em todos os lugares. Outro ponto a ser considerado são as desigualdades sociais relacionadas às questões de gênero, raça e orientação sexual. Os grupos sociais historicamente menos favorecidos tendem a enfrentar obstáculos no acesso a serviços públicos da cidade, por causa do preconceito e da violência que sofrem cotidianamente. Nesse sentido, o planejamento urbano deve abarcar essas questões, de modo a contemplar os interesses e as demandas de diferentes grupos sociais. A desigualdade de gênero, por exemplo, se manifesta nas assimetrias de renda entre homens e mulheres, na desigualdade de acesso à participação política, na desvalorização de trabalhos tradicionalmente desempenhados por mulheres, entre outros. As desigualdades de gênero influenciam, ainda, a maneira como as mulheres vivenciam as cidades, o que pode ser agravado por questões de raça, classe social e orientação sexual. Tendo isso em vista, é necessário que o Estado formule políticas públicas especialmente para as mulheres e para outros grupos sociais desfavorecidos, contemplando as diferentes necessidades desses grupos, de modo a promover uma cidade justa e equânime.

OS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS

Diversos problemas ambientais resultam da dinâmica natural da Terra, como as queimadas espontâneas que ocorrem nas florestas de regiões com clima quente e seco. Todavia, graves desequilíbrios ambientais têm sido causados pelos seres humanos, o que tem contribuído para provocar eventos extremos, como as mudanças nas temperaturas, os ventos fortes, os ciclones e os períodos prolongados de chuvas e de secas. Esses eventos geram consequências para os seres humanos e para o meio ambiente, tendo em vista que podem provocar a destruição de cidades, afetar o cotidiano e as atividades econômicas, além de desencadear graves desequilíbrios nos ecossistemas.
O efeito estufa e os poluentes Os raios infravermelhos são parte da radiação solar responsável pelo aquecimento da Terra. Depois que ultrapassam os gases da atmosfera, eles chegam ao solo e às águas, aquecendo-os. Tanto o solo quanto a água, quando aquecidos, devolvem à atmosfera ondas de calor com características diferentes das iniciais. A partir daí, os gases da atmosfera mantêm a superfície terrestre aquecida. Esse fenômeno é chamado de efeito estufa. O carbono e o vapor de água que existem naturalmente na atmosfera formam uma redoma protetora que impede a dissipação para o espaço de parte desse calor. Apesar de geralmente ser associado a uma forma de impacto ambiental, o efeito estufa é essencial para a vida no planeta Terra. Sem ele, a Terra seria fria demais para comportar toda a sua biodiversidade. Porém, para parte dos cientistas, os gases lançados na atmosfera por indústrias, automóveis e outras fontes de poluição formam uma camada de poluentes que intensifica o efeito estufa, acelerando a elevação das temperaturas médias de diversas regiões do planeta. Há estudos que apontam mudanças no clima do planeta e as relacionam à ação humana. Assim, a intensificação do efeito estufa seria decorrente do aumento da presença de gases de efeito estufa, como o gás carbônico, o metano e o óxido nitroso. Esse aumento estaria vinculado ao uso e à produção de energia obtida da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, o carvão mineral e a agropecuária.

As emissões de carbono e combustíveis fósseis


A queima de combustível, para gerar energia, produz moléculas de gás carbônico (CO2 ). Essas moléculas ficam soltas na atmosfera. Quanto maior a queima de combustível, mais CO2 é liberado, aumentando a quantidade desses gases no ar.
A emissão de CO2 tem relação com o total da população de um país e a sua capacidade industrial. Podem ser considerados ainda os índices de emissão das queimadas nas áreas florestadas, como ocorre no Brasil, e a queima de petróleo nas refinarias, como ocorre no Oriente Médio. No mapa e no gráfico, é possível verificar que as emissões estão concentradas nos países mais industrializados do mundo, principalmente China e Estados Unidos, que lideram o comércio mundial. No entanto, nos últimos anos, muitos países têm buscado reduzir suas emissões, com a substituição de fontes de energia poluentes e a adoção de práticas mais sustentáveis. O Protocolo de Kyoto estabeleceu que os países industrializados devem reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa em, no mínimo, 5% em relação aos níveis de 1990.

O aquecimento global

Com o aumento progressivo da temperatura terrestre, principalmente a partir do início do século XX. Desde então, ocorreu um crescimento da emissão de gases do efeito estufa em decorrência da intensificação do consumo de combustíveis fósseis, o que levou muitos cientistas a associarem o aquecimento global às ações dos seres humanos na natureza. De acordo com essa ideia, a ocorrência de eventos climáticos extremos nas últimas décadas, como o registro de temperaturas recorde em muitos países, mudanças na frequência e na intensidade das chuvas e o aumento de furacões e de períodos de seca, é indício da influência humana no crescimento das temperaturas na atmosfera, nos oceanos e na superfície terrestre.
Se nos próximos anos não houver uma redução significativa dessas emissões, estima-se que esses eventos climáticos extremos serão ainda mais intensos.
A temperatura média anual da superfície subiu um pouco mais de 1 °C nos últimos 170 anos. O Acordo de Paris, assinado por 195 países em 2015, busca limitar o aquecimento global nos próximos anos a um aumento de 2 °C, preferencialmente 1,5 °C. Esse nível de aumento de temperatura é considerado elevado, mas com potenciais impactos socioeconômicos ainda administráveis.
Um dos impactos do aumento da temperatura na superfície terrestre é o derretimento das geleiras. Como você pode verificar nas imagens, a cobertura de gelo tem sofrido redução no Ártico. Esse processo gera o aumento do nível do mar e a alteração das massas de ar que vêm dos polos. Além disso, o derretimento do gelo permanente, conhecido como permafrost, pode resultar na liberação de gás metano, o que acelera ainda mais o processo de aquecimento global. Um dos efeitos desses processos é a migração forçada de pessoas que vivem em regiões litorâneas ou daquelas pessoas mais diretamente afetadas pelo aumento da temperatura e do nível do mar. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que desde 2010 as emergências climáticas obrigaram 21,5 milhões de pessoas a se mudarem por ano. Em 2021, cerca de 90% desses refugiados vinham de países mais vulneráveis, sem a infraestrutura necessária para enfrentar crises climáticas. Tendo isso em vista, as mudanças climáticas devem ser tratadas como uma crise humanitária, já que podem agravar a pobreza, a violência e as dificuldades de acesso a recursos naturais, especialmente nos países mais vulneráveis.

As ilhas de calor

Grande concentração de prédios de concreto, pavimentação de ruas e avenidas, ausência de áreas verdes, intensa queima de combustíveis fósseis em fábricas, residências e veículos, canalização de águas pluviais – todos esses fatores exercem influência na elevação da temperatura das grandes cidades. Alguns locais, como as áreas mais centrais, são bem mais quentes que outros, configurando verdadeiras ilhas de calor. No entanto, nas áreas periféricas, por serem mais afastadas do centro, a temperatura do ar costuma ser menor.
Para melhorar a qualidade de vida e diminuir os efeitos das ilhas de calor, arquitetos urbanistas sugerem a construção de parques urbanos, telhados verdes e frios, pavimentos frios, utilizando materiais mais claros nas superfícies, entre outras ações para que não haja absorção de calor, como ocorre com o asfalto.

A inversão térmica

A quantidade de poluentes lançados na atmosfera provoca um fenômeno chamado inversão térmica, que cria condições desfavoráveis para a dispersão dos poluentes. Esse fenômeno pode ocorrer durante o ano todo, porém é mais comum no inverno. Em condições normais, à medida que aumenta a altitude, a atmosfera vai esfriando. Dessa maneira, o ar quente – que é menos denso – pode se elevar e carregar os poluentes para longe da superfície. Frequentemente, no inverno, por causa da maneira como os raios do sol incidem sobre a Terra ou em razão dos movimentos das massas de ar, forma-se uma camada de ar quente entre duas camadas de ar frio. Em ambientes industrializados ou em grandes centros urbanos, como uma camada de ar quente sobrepõe-se a uma camada mais fria, os poluentes ficam aprisionados próximo à superfície. Essa inversão térmica leva à retenção dos poluentes nas camadas mais baixas, próximo ao solo, podendo ocasionar problemas de saúde à população.
A camada de ozônio O ozônio, um gás presente na estratosfera terrestre, tem a propriedade de filtrar os raios ultravioleta do Sol, que, em excesso, inviabilizariam a vida no planeta. A camada de ozônio sofre os efeitos decorrentes da emissão dos clorofluorcarbonos (CFCs), utilizados em sistemas de refrigeração e em alguns aerossóis. Reações químicas dos CFCs destroem as partículas de ozônio, diminuindo, assim, a filtragem dos raios ultravioleta. Os CFCs permanecem na atmosfera por um longo período, podendo levar cem anos ou mais para serem destruídos. Em 1987, foi assinado o Protocolo de Montreal, um tratado internacional que tinha como principal meta a diminuição das emissões de CFCs e a busca por alternativas ao uso desses gases. Estudos recentes indicam que o buraco na camada de ozônio está diminuindo de tamanho. É um exemplo de como ainda é possível reverter certos efeitos da destruição do ambiente pela presença humana.

A chuva ácida

Quando chove, certos gases poluentes lançados na atmosfera por fábricas, automóveis e usinas termelétricas dissolvem-se nas gotas de chuva, tornando-as ácidas. A chuva ácida é uma combinação química entre a água e os poluentes da atmosfera que se deslocam pelos movimentos das massas de ar. Alguns elementos, como os óxidos de nitrogênio, o dióxido de carbono e o dióxido de enxofre são liberados na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis. Quando esses elementos são misturados às partículas de água em suspensão que formam as nuvens, resultam em ácido nítrico e ácido sulfúrico, que se precipitam em forma de chuva, neve ou neblina, caracterizando as chuvas ácidas. Quando chega à superfície terrestre, a água da chuva dissolve e libera metais pesados e alumínio, danificando a vida vegetal e animal, corroendo construções, monumentos, fios elétricos e metais, além de interferir nas cadeias alimentares.

OS EVENTOS NATURAIS: MONITORAMENTO E PREVENÇÃO

Os eventos naturais sempre estiveram presentes ao longo da história humana. Entretanto, com as inovações tecnológicas realizadas a partir da década de 1950, ficou cada vez mais fácil prever quando ocorrerão. Fenômenos como tufões, furacões, erupções vulcânicas, tsunâmis, entre outros, não são mais uma ameaça inevitável à vida humana, uma vez que há a possibilidade de monitoramento desses eventos. Você já estudou que, a cada ano, observa-se um aumento do aquecimento global, o que interfere nas incidências de chuvas, nos deslizamentos de terras e nas inundações. Esse processo afeta vários países e pode causar tragédias para a população. Em 2021, as chuvas extremas e as enchentes provocadas por elas assolaram o Canadá, os Estados Unidos, a Alemanha e a China. Em cada um desses locais, o volume de precipitação foi histórico. Os maiores índices de risco ambiental estão situados nos países menos desenvolvidos, que ainda estão investindo em sistemas de monitoramento e prevenção de eventos naturais. Os desafios socioeconômicos existentes nessas regiões impõem dificuldades para direcionar recursos tecnológicos que diminuam os impactos causados por esses eventos.

O EXTRATIVISMO E O MEIO AMBIENTE

O extrativismo pode ser considerado umas das atividades humanas mais antigas. Antes de conhecerem a agricultura e a pecuária, os seres humanos coletavam alimentos e outros recursos diretamente da natureza. Quando precisavam de alimentos, por exemplo, retiravam sementes, frutos e raízes encontrados no lugar em que viviam. Além disso, os seres humanos caçavam, pescavam e, com isso, extraíam também peles e couros de animais para a confecção de vestimentas. Atualmente, o extrativismo é uma atividade de extrema importância. Os povos originários praticam o extrativismo de forma sustentável, com base em conhecimentos ancestrais. Eles dependem dos recursos da floresta para manterem seus modos de vida e contribuem para a sua preservação também. Por sua vez, muitas empresas praticam o extrativismo de maneira predatória, muitas vezes de forma ilegal. Assim, impactam o meio físico, com o corte de vegetação natural, a retirada de camadas de solo, a contaminação e o assoreamento dos cursos-d'água, a redução da biodiversidade etc.

OS USOS ECONÔMICOS DAS ESPÉCIES VEGETAIS

A exploração econômica das florestas pode atender a diversas finalidades. No entanto, nem sempre essa exploração é realizada de forma sustentável, o que provoca alterações nas dinâmicas climáticas, no solo e no hábitat de diversas espécies, comprometendo sua sobrevivência. Nas Florestas Temperadas, por exemplo, a madeira é explorada para abastecer, sobretudo, as indústrias de papel e de móveis. Empresas que atuam nesses setores costumam plantar espécies como o pínus e o eucalipto, que crescem em um curto período. No entanto, essas espécies não são nativas do Brasil e, por isso, podem prejudicar a biodiversidade local. Outro exemplo é a atuação de diversas empresas nacionais e estrangeiras na Floresta Amazônica, muitas vezes feita de forma ilegal, em terras devolutas e indígenas. As espécies vegetais são utilizadas para a fabricação de produtos farmacêuticos e cosméticos. Nesse processo, é comum as empresas utilizarem patentes, que interditam os usos econômicos e culturais que os povos tradicionais fazem das plantas medicinais. Em contrapartida, é possível obter usos econômicos das espécies vegetais, conciliando as características naturais das florestas com as demandas da população local. Um exemplo são os cultivos agroflorestais, que integram plantas de uso econômico à floresta, de modo a promover a recuperação do solo; e os cultivos agroecológicos, que não utilizam agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes industriais. As reservas extrativistas também são essenciais para a retirada sustentável de produtos da floresta. Nelas as populações tradicionais conseguem manter seus modos de vida e auxiliam na proteção da biodiversidade ao retirar borracha, açaí, castanha e outros produtos da floresta de maneira sustentável.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...