A população brasileira não está distribuída igualitariamente pelo território do país. As áreas mais povoadas são aquelas com maior concentração de atividades econômicas.
O Brasil possui um extenso território. Por essa razão, embora seja um país populoso, por possuir muitos habitantes, não é um país muito povoado. O povoamento se refere à distribuição da população pelo território, e a principal medida para identificar a intensidade do povoamento de um país ou região é a densidade demográfica ou população relativa. Seu valor é obtido pela divisão do número total de habitantes pela área do local, sendo geralmente expresso em habitantes por quilômetro quadrado (hab./km2 ). Em 2022, a densidade demográfica do Brasil era de 25,1 hab./km2 , segundo dados do IBGE. Contudo, o valor da densidade demográfica não reflete a distribuição exata da população no território, já que há estados e regiões com maior e menor densidade de ocupação.
No Brasil, os séculos de colonização consolidaram um padrão de ocupação do território voltado para o litoral. Apesar de as comunidades indígenas habitarem e conhecerem o interior do território que viria a ser o Brasil, até o século XX essa extensa área não apresentava uma população tão numerosa quanto a faixa litorânea. Muitos núcleos de ocupação colonial no litoral deram origem a cidades que hoje concentram grande parcela da população brasileira.
Interiorização da ocupação
Em oposição à faixa litorânea do Brasil, o interior do país apresenta densidade demográfica mais baixa. Em razão disso, foram criados, pelo governo federal, projetos de interiorização da ocupação. Em meados do século XX, a ideia de que o interior constituía um “vazio demográfico” se associava à intenção de promover o desenvolvimento econômico, proteger as fronteiras nacionais e integrar o território brasileiro com a instalação de vias de transporte.
A Marcha para o Oeste foi um projeto lançado no governo de Getúlio Vargas na década de 1940. Como parte do projeto, foi organizada a Expedição Roncador-Xingu para reconhecer e mapear a região situada entre os rios Araguaia e Xingu, criar estradas e pistas de pouso para aviões e identificar áreas habitadas por povos indígenas. Os irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Villas Bôas foram chefes das expedições para essa região. Depois de adquirir conhecimento local e experiência no contato com povos indígenas, eles propuseram ao governo federal, junto a outros estudiosos e lideranças, a criação do Parque Indígena do Xingu, que ocorreu em 1961.
A transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília foi mais uma iniciativa governamental para a ocupação do interior do Brasil. Desde o período imperial, havia políticos defensores da mudança da capital para o interior, onde estivesse protegida de ataques estrangeiros. Essa mudança foi realizada no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961). Desde sua construção, iniciada em 1956, Brasília atraiu milhares de migrantes que se dedicaram a sua construção e, posteriormente, funcionários dos órgãos de governo que seriam transferidos do Rio de Janeiro para a nova capital. Entre 1960 e 2000, o Distrito Federal passou de 14 0165 para 2 051 146 habitantes.
Os projetos de colonização da Amazônia
Brasília tornou-se o centro político do país e um ponto estratégico para a integração nacional. Ainda no governo de Juscelino Kubitschek, foram construídas as rodovias Belém-Brasília (BR-010) e Brasília-Acre (BR-029) que ligavam a cidade ao norte e ao oeste do país, respectivamente. Durante a ditadura civil-militar (1964-1985), a integração e o desenvolvimento regional motivaram a elaboração de planos governamentais. O presidente Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), por exemplo, lançou o Programa de Integração Nacional (PIN), que previa a construção de rodovias e núcleos de ocupação agrícola na Amazônia. Segundo ele, resolviam-se, assim, dois problemas nacionais: “o do homem sem terras no Nordeste e o da terra sem homens na Amazônia”. Assim, foram construídas extensas rodovias federais, muitas delas na região Norte, como a Transamazônica (BR-230) e a Cuiabá-Santarém (BR-163). Segundo os programas de desenvolvimento desse período, seriam implantados núcleos de colonização agrícola ao longo dessas rodovias.
Porém, até hoje, muitos trechos dessas rodovias não têm pavimentação, e o tráfego de veículos, especialmente caminhões, é dificultado em períodos chuvosos. Em 1970, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foi criado para regulamentar o estabelecimento de migrantes, principalmente do Nordeste, em núcleos de colonização. O objetivo do programa era atrair migrantes para a Amazônia, considerada desabitada e isolada economicamente. Muitos desses migrantes eram pessoas pobres e com dificuldade de acesso à terra, resultante de uma estrutura fundiária concentradora, ou seja, a posse da maioria das terras nas mãos de poucos proprietários. O projeto chegou a atrair milhares de migrantes para a região Norte e deu origem a municípios como Medicilândia e Pacajá, no Pará. Entretanto, não obteve o êxito esperado em decorrência da falta de infraestrutura de atendimento à população e da insuficiência de apoio para o desenvolvimento da produção agrícola.