quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Argentina: democracia e golpes

Ao contrário do Chile, que não conhecia intervenções militares na política há mais de setenta anos, a Argentina viveu muitos golpes militares no decorrer do século XX. No princípio dos anos de 1970, porém atravessava uma fase de democratização, com a volta dos militares aos quartéis e a autorização para que Juan Domingo Perón, exilado desde 1955, voltasse ao país.
Perón retornou em 1973 e foi eleito presidente. Com sua morte no ano seguinte, sua mulher e vice, Isabelita, assumiu o cargo. A diversidade interna do peronismo, que então se mostrava bastante dividido, e o cenário crítico da economia argentina mantinham a situação interna tensa e instigavam os militares a volta à política. Setores da alta burguesia argentina aproximavam-se dos quartéis e, em 1975, já se cogitava a hipótese de um golpe e, em março do ano seguinte, os militares derrubaram o presidente.
Os golpistas denunciavam a falta de projeto político, alertavam para a falta de autoridade e para o risco do comunismo. Apresentavam-se como representantes do conjunto da sociedade argentina, acima das divisões de classe e sem interesses ideológicos ou financeiros.
Assumiram, perante a sociedade argentina, a imagem de árbitros neutros, num discurso semelhante ao que já fora empregado em golpes anteriores. Uma junta militar composta de membro das três armas assumiu o poder e propôs implantar o “processo de Reorganização Sindical”.

A ditadura argentina

No decorrer dos sete anos que dirigiram a argentina, no entanto, nenhum projeto nacional foi desenvolvido, nem o país foi efetivamente reorganizado. A ausência de políticas econômicas clara, a corrupção intensa e os conflitos internos dificultaram os investimentos na produção. O capital estrangeiro fugiu do país e a Argentina iniciou um processo de declínio acelerado. A violenta repressão contra supostos adversários, organizações estudantis e de trabalhadores marcou o regime e instaurou um quadro de terror no país, que resultou em milhares de mortos e desaparecidos. Além disso, há casos de filhos de presos políticos, mortos pela ditadura, que foram adotados, sigilosamente, por famílias ligadas ao regime.
Grupos de resistência armada e a oposição política reagiram ao poder extremo dos governantes. As madres de Mayo iniciaram seus protestos em 1977 e, além de denunciar o desaparecimento de seus filhos, tentavam obter informações e notícias de perseguidos políticos. Em 1982, o regime militar argentino já estava bastante desgastado dentro e fora do país. As notícias de extorsões e de crimes comuns praticados por policiais circulavam e indicavam que os governantes haviam perdido o controle sobre o aparato repressivo, que passara a agir autonomamente, em benefício de seus membros.

A Guerra nas Malvinas

Para desviar a atenção dos argentinos nos problemas internos e manter por mais tempo o regime, o presidente Leopoldo Galtieri invadiu as ilhas Malvinas, no extremo sul do continente americano, em abril de 1982, e reivindicou a soberania argentina sobre as terras. Objeto de disputa entre Argentina e Grã-Bretanha desde o século XVIII, as Malvinas estavam sob domínio britânico desde a década de 1830.
A Inglaterra reagiu e os dois países foram a guerra. Nos dois meses e meio que durou o conflito, parte da sociedade argentina se envolveu com a possibilidade de uma conquista nacional e o apoio ao governo de Galtieri aumentou sensivelmente.
A derrota para a Grã-Bretanha, porém, revelou a fragilidade das forças armadas nacionais e expôs de maneira ainda mais clara a corrupção e o autoritarismo do regime. Pressionado, Galtieri acabou substituído por outros militares, que convocaram eleições para o ano seguinte.
Raúl Alfonsín venceu as eleições e assumiu a presidência no final de 1983, iniciando um novo período de redemocratização argentina. A economia do país estava arrasada, com taxas altíssimas de inflação e moeda desvalorizada. O nível de industrialização regredira durante os anos militares e o nível de tensão social era intenso.
Diferentemente do que ocorreu no Brasil e no Chile, onde os crimes cometidos por representantes dos regimes militares foram anistiados ou esquecidos, a Argentina realizou um longa e profunda investigação, que desembocou em acusações, julgamentos e punições, inclusive a ex-governante, acusados de participação na Guerra Suja, nome que se deu ao terrorismo de Estado desencadeado entre 1976 e 1983. As investigações e os processos revelaram uma grande quantidade de crimes comuns (como tráfico de armas, extorsão de empresários e sequestro de crianças).
A revisão do passado também gerou fortes reações militares. Durante o governo de Raúl Alfonsín, rebeliões lideradas pela extrema-direita militar, os chamados carapintadas, exigiam o fim das investigações e ameaçavam novo golpe de Estado.

A Argentina – planos econômicos e neoliberalismo

A Argentina foi um dos países da América Latina cuja vida política sofreu mais desgastes em função do fracasso de sucessivos planos econômicos assentados nas teorias neoliberais.
Os problemas começaram a se aprofundar ainda no governo de Carlos Menem, eleito em 1989. Para controlar a inflação, o ministro da Economia, Domingos Cavallo, promoveu a abertura do mercado para o comércio internacional e atrelou a moeda argentina ao dólar, conseguindo sucesso temporário, graças ao qual Menem reelegeu-se em 1995. Contudo, a eclosão das crises mexicanas e asiáticas, entre 1994 e 1997, redundou no descontrole da economia argentina.
Com a imagem desgastada, Menem foi sucedido por Fernando de La Rúa, cuja política econômica não conseguiu acabar com o cenário de recessão, marcado por uma onda de falências, pelo desemprego e pela hiperinflação. Em dezembro de 2001, munidos de panelas, os argentinos saíram às ruas promovendo um barulho ensurdecedor em protestos contra o governo. O panelaço (como a manifestação ficou conhecida) desandou em enfrentamentos com a polícias e a decretação do estado de sítio. Contudo, mesmo sob repressão, a “bateção” de panelas continuou, levando à renúncia do presidente.
Diante da grave situação econômica, o presidente interino, Adolfo Saá, decretou a moratória da dívida externa argentina. Sob intensa pressão, foi obrigado a renunciar após uma única semana no cargo. Seu sucessor, Eduardo Duhalde, acabou com o regime de convertibilidade, que atrelava o peso argentino ao dólar, mas não conseguiu driblar a crise: as medidas econômicas de seu governo causaram a fuga de capitais e fizeram crescer o descontentamento, provocando violentos protestos.
A economia argentina só se estabilizou em 2004, no governo de Néstor Kirchner, que num único pagamento cancelou à divida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), libertando a argentina da inspeção e dos planos de ajuda do Fundo, e conseguiu retomar o crescimento da economia nacional.


O Plano Condor

Montada no início da década de 1970, a Operação Condor foi uma ação militar com o objetivo de destruir todos aqueles que eram considerados adversários políticos das ditaduras instaladas na América Latina. Os países participantes foram Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. A ação foi conjunta, financiada com dinheiro, apoio logístico e treinamento oferecidos pelo governo dos Estados Unidos. A troca de informações sobre perseguidos políticos entre os governos militares sul-americanos, já existia desde a década de 1960. Porém, a Operação Condor só foi formalizada em 1975, XI Conferência dos Exércitos Americanos, realizada em Montevidéu, capital do Uruguai. Quem propôs sua criação foi o general Jorge Rafael Videla, comandante do exército argentino que se tornaria chefe do governo militar de seu país.
No decorrer dos anos 1980, quase todos os países da América Latina passaram por processos de redemocratização e poucos mantiveram governos ditatoriais. O retorno à democracia e a divulgação de informações sobre os anos de poder armado permitiram que se desvendasse inclusive a existência de mecanismos de colaboração (como o Plano Condor entre as polícias políticas dos países do Cone Sul), que se ajudavam mutuamente na perseguição e, em muitos casos, execução de adversários políticos. Embora muitos documentos sobre o período ainda não sejam públicos, é possível, hoje, saber como o poder foi brutalmente exercido pelas ditaduras militares e quais foram suas estratégias para controlar o Estado.
Com a Operação Condor, a polícia política de um país podia atuar livremente nos outros países envolvidos, prendendo, sequestrando e torturando pessoas. Um dos episódios mais conhecidos envolvendo a Operação Condor foi o atentado que matou o general Carlos Prats, militar chileno que se exilara em Buenos Aires após o golpe de Estado ocorrido em seu país. Outro caso foi o assassinato do general boliviano Juan José Torres, que governou a Bolívia de outubro de 1970 até agosto de 1971, quando foi derrubado por um golpe de Estado. No Brasil, a Operação Condor permitiu o sequestro do casal de uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Dias, em Porto Alegre.
Documentos liberados nos EUA e a descoberta do chamado “Arquivo do Terror” em Assunção, Paraguai, revelam que o serviço secreto chileno montado em dezembro de 1973, foi estruturado pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) brasileiro. Os encarregados pela repressão política no Brasil ofereceram aos chilenos cursos de planejamento, organização e técnicas de interrogatório – neste caso, ensinaram aos militares chilenos um tipo de tortura chamado “pau de arara”, típico no Brasil.


terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Obama, o presidente negro

Político norte-americano. Estudou Ciências Políticas na Universidade de Colúmbia e Direito na Universidade de Harvard, onde foi o primeiro diretor afro-americano da revista Harvard Law Review. Em 1985, mudou-se para Chicago, onde trabalhou como organizador comunitário nos bairros pobres do sul da cidade e, posteriormente, atuou como advogado em Direito Civil e como professor de Direito Constitucional. Em 1997, tornou-se membro do Senado do estado de Illinois e, em 2004, foi eleito senador dos Estados Unidos em representação do mesmo estado.
Em 4 de novembro de 2008, ocorreram novas eleições para presidente dos Estados Unidos. Em abril, os republicanos já haviam escolhido seu candidato; o Senador John McCain. Em junho, a senadora Hillary Clinton, que disputava com o senador Barak Obama a indicação pelo Partido democrático, desistiu de sua pré-candidatura.
Obama, que então foi escolhido como o candidato democrata, venceu a disputa e se tornou o primeiro presidente estadunidense de ascendência africana e de pele negra. Num país marcado historicamente pela descriminação racial. A data é histórica para o país, cujo histórico de confrontos raciais é grande e as medidas para busca de igualdade, recentes. Quando Martin Luther King foi assassinado, em 1968, Barack Obama contava apenas 7 anos de idade. Sob um frio de -3 °C e diante de um público recorde, o novo presidente fez um discurso duro, no qual disse que a nação precisaria começar o "trabalho de reconstruir a América". Em 2009, foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz por suas ideias terem criado "um novo clima na política internacional".
George W. Bush terminou seu mandato com um dos mais baixos índices de popularidade da história política dos Estados Unidos. Em pesquisa realizada pelo instituto Gallup em setembro de 2008, o índice de aprovação de Bush foi de apenas 27% da população estadunidense. As derrotas republicanas nas eleições de 2006 para o Congresso, e em 2008, para presidência, assinalaram a crise e a derrocada da Doutrina Bush.
A vitória vinha depois de oito anos de governo republicano de Bush, que colocou em prática uma política conservadora, marcada pelo moralismo e o intervencionismo militar. A figura do antigo presidente estava desgastada também pela acusações de violação dos direitos humanos, pela demora no atendimento às vítimas do furacão Katrina (2005) e pela crise econômica de 2008.
Na presidência, Obama buscou reconstruir a posição dos Estados Unidos no cenário mundial por meio de uma política de conciliação e diálogo, com posições bem mais progressistas que seu antecessor. Sob Barak Obama, delineou-se uma nova abordagem da política externa, baseado no reconhecimento dos limites do poder dos Estados Unidos. Uma orientação multilateralista, amparada na busca por consensos no Conselho de Segurança da ONU, tomou o lugar da visão neoimperial da "era Bush". A retirada das forças combatentes do Iraque, concluída em 2011, e a gradual retirada das forças engajadas no Afeganistão acompanharam a mudança de foco da política mundial da hiperpotência.

Obama ordena o fechamento de Guantánamo e proíbe tortura
O presidente americano, Barak Obama, anunciou [...] que vai fechar os campos de detenção de Guantánamo, em Cuba, e as prisões secretas da CIA no mundo, revertendo um dos legados mais polêmicos do governo George W. Bush. Nas quatro ordens executivas que assinou. Obama anunciou também a proibição de tortura de suspeitos de terrorismo sob poder de autoridades americanas. Guantánamo e as prisões da CIA desgastaram a imagem dos EUA no mundo e são consideradas um símbolo de abuso de direitos humanos, detenção sem acusação formal e tortura.
"Em primeiro lugar, posso dizer [...] ", declarou Obama." A mensagem que estamos mandando para o mundo é que os EUA pretendem continuar lutando contra a violência e o terrorismo, de forma vigilante e eficiente, e vamos fazer isso de uma forma consistente com nossos valores e ideais" disse.
Fonte: Patrícia Campos Mello 
www.estadao.com.br



domingo, 11 de dezembro de 2022

A Primavera de Praga

Em 1968, na Tchecoslováquia, setenta intelectuais publicavam um manifesto intitulado Duas mil palavras, em que reivindicavam liberdade econômica e, mais ainda política: pluralismo partidário e o completo desligamento da União Soviética. Estava em curso a Primavera de Praga.
Tchecoslováquia, que recebera de braços abertos o Exército Vermelho russo como seu libertador do domínio nazista ao final da Segunda Guerra Mundial, logo depois começou a descobrir que a ditadura de partido único, além de eliminar suas tradições democráticas, estava transformando uma das mais dinâmicas economias europeias em um país de Terceiro Mundo. A ala reformista do partido comunista depôs, na virada de 1967-1968, os conservadores capitaneados por Antonín Novotny e, em seu lugar, ascendeu ao poder o eslovaco Alexander Dubcek.
Em 5 de abril de 1968 o povo tcheco tomou-se de surpresa quando soube dos principais pontos do novo Programa de Ação do PC tchecoslovaco. Fora uma elaboração de um grupo de jovens intelectuais comunistas que ascenderam pela mão do novo secretário-geral Alexander Dubcek, indicado para a liderança em janeiro daquele ano. Dubcek um completo desconhecido decidira-se a fazer uma reforma profunda na estrutura política do pais. Imaginara desestalinizá-lo definitivamente, removendo os derradeiros vestígios do autoritarismo e do despotismo que ele considerava aberrações do sistema socialista.
Apesar da desestalinização ter-se iniciado no XXº Congresso do PCURSS, em 1956, a Tchecoslováquia ainda era governada por antigos dirigentes identificados com a ortodoxia. Ainda viviam sob a sombra do que Jean-Paul Sartre chamou de “o fantasma de Stalin”. Dubcek achou que era o momento de “dar uma face humana ao socialismo”.
Além de prometer uma federalização efetiva, assegurava uma revisão constitucional que garantisse os direitos civis e as liberdades do cidadão. Entre elas a liberdade de imprensa e a livre organização partidária, o que implicava no fim do monopólio do partido comunista. Todos os perseguidos pelo regime seriam reabilitados e reintegrados. Doravante a Assembleia Nacional multipartidária é quem controlaria o governo e não mais o partido comunista, que também seria reformado e democratizado. Uma onda de alegria inundou o país. Chamou-se o movimento, merecidamente, de “ A Primavera de Praga”.
De todos os lados explodiram manifestações em favor da rápida democratização. Em junho de 1968, um texto de “Duas Mil Palavras” saiu publicado na Gazeta Literária (Liternární Listy), redigido por Ludvik Vaculik, com centenas de assinaturas de personalidades de todos setores sociais, pedindo a Dubcek que acelerasse o processo. Acreditava que seria possível transitar pacificamente de um regime comunista ortodoxo para uma social-democracia ocidentalizada. Dubcek tentava provar a possibilidade do convívio entre uma economia coletivizada com a mais ampla liberdade democrática.
Cientes do que ocorrera em 1956 na Hungria, que tentara se libertar do mesmo domínio e fora invadida pela União Soviética, os reformistas tchecos cuidavam de deixar claro que não pretendiam abolir o regime comunista, mas criar um "socialismo com face humana", marcado pelo fim da censura, pela livre discussão a respeito dos rumos que o país deveria tomar etc.
Rapidamente os estudantes engajaram-se ao movimento, exigindo  liberdade de expressão. Do outro lado do Muro de Berlim, eles queriam amansar um regime que muitos jovens em outras partes do mundo idealizavam ser aquele que viera para remediar os males do mundo capitalista. Aquilo tudo era demais para a União soviética, que, em última análise, não pretendia ter "aliados" na Europa Oriental, mais sim meros "satélites".
As liberdades conquistadas em poucos dias pelo povo tcheco eram inadmissíveis para as velhas lideranças das “Democracias Populares”. Se elas vingassem em Praga eles teriam que também liberalizar os seus regimes. Os soviéticos por sua vez temiam as consequências geopolíticas. Uma Tchecoslováquia social-democrata e independente significava sua saída do Pacto de Varsóvia, o sistema defensivo montado pela URSS em 1955.
Então, numa operação militar de surpresa, as tropas do Pacto de Varsóvia lideradas pelos tanques russos entraram em Praga no dia 20 de agosto de 1968. Apesar de contar com apoio popular maciço, os reformistas foram derrubados. Os tanques do bloco soviético invadiram o país para "normalizá-lo" e "proteger o comunismo". 
A “Primavera de Praga” sucumbia perante a força bruta. Sepultaram naquele momento qualquer perspectiva do socialismo poder conviver com um regime de liberdade. Dubcek foi levado a Moscou e depois destituído. Cancelaram-se as reformas, mas elas lançaram a semente do que vinte anos depois seria adotado pela própria hierarquia soviética representada pela política da glasnost de Michail Gorbachev.


O Holocausto

Somente após o fim da Segunda Grande Guerra surgiram algumas das reais dimensões do conflito, como o extermínio de cerca de 6 milhões de judeus nos campos de concentração nazistas. O ódio ao judeu constituía um dos principais pilares do nazismo. Segundo Hitler, cabia ao Estado proteger a raça alemã (ariana), para que pudesse cumprir sua função de dominar o mundo. Isso significava, por exemplo, eliminar as pessoas portadoras de qualquer tipo de deficiência
No caso dos judeus, eles deveriam ser separados para não "contaminar" os demais alemães. As Leis de Nuremberg, de 1935, foram o primeiro passo para concretizar o isolamento dos judeus das mais diferentes esfera da sociedade. A partir de 1938, essa política de intolerância foi ampliada, com a proliferação dos guetos e campos de concentração, onde os judeus, sem direito algum, eram confinados e submetidos a diversas atrocidades, desde trabalho forçado até execuções sumárias.
A partir de 1941, teve início a última etapa dos planos nazistas. conhecidos como solução final, tratava-se da morte em massa dos judeus. Vários campos de concentração foram transformados em campos de extermínio, como os de Auschwitz, Treblinka, Sobibor, Chelmno e Belzec. Neles, os nazistas utilizaram formas de eliminação rápidas e eficientes, como a câmara crematória e a de gás.
Sob a doutrina racista do III Reich, cerca de 7,5 milhões de pessoas perderam a dignidade e a vida em campos de concentração, especialmente preparados para matar em escala industrial. Para os nazistas, aqueles que não possuíam sangue ariano não deveriam ser tratados como seres humanos. A política anti-semita do nazismo visou especialmente os judeus, mas não poupou também ciganos, negros, homossexuais, comunistas e doentes mentais. Estima-se que entre 5,1 e 6 milhões de judeus tenham sido mortos durante a Segunda Guerra, o que representava na época cerca de 60% da população judaica na Europa. Foram assassinados ainda entre 220 mil e 500 mil ciganos. O Tribunal de Nuremberg estimou em aproximadamente 275 mil alemães considerados doentes incuráveis que foram executados, mas há estudos que indicam um número menor, cerca de 170 mil. Não há dados confiáveis a respeito do número de homossexuais, negros e comunistas mortos pelo regime nazista. A perseguição do III Reich começou logo após a ascensão de Hitler ao poder, no dia 30 de janeiro de 1933. Ele extinguiu partidos políticos, instalou o monopartidarismo e passou a agir duramente contra os opositores do regime, que eram levados a campos de concentração -- em março de 1933 já havia 25 mil presos no campo de Dachau, no sul da Alemanha. Livros de autores judeus e comunistas -- entre eles Freud, Marx e Einstein -- foram queimados em praça pública. A intelectualidade, acuada, só assistia. Os condenados sofriam torturas, eram obrigados a fazer trabalhos forçados ou acabavam morrendo por fome ou doença. Eram também considerados inimigos do III Reich os comunistas -- embora Hitler tenha se associado União Soviética para garantir a invasão da Polônia --, pacifistas e testemunhas de Jeová. Um ano após Hitler ter assumido o poder foram baixadas leis anti-judaicas iniciando o boicote econômico. Após a expulsão dos judeus poloneses da Alemanha, um jovem repatriado, Herschel Grynspan, assassinou em Paris o secretário da embaixada alem, Ernst von Rath. Isso detonou entre os dias 9 e 11 de novembro de 1938 uma série de perseguições que ficaram conhecidas como a Noite dos Cristais. Centenas de sinagogas foram incendiadas, 20 mil judeus foram levados a campos de concentração e 91 foram mortos, segundo informações de fontes alemães. Cerca de 7 mil lojas foram destruídas e os judeus ainda foram condenados a pagar uma multa de indenização de 1,5 bilhão de marcos.

Processo de Exclusão

A partir de setembro de 1939, com a invasão da Polônia, o III Reich iniciou uma nova etapa, mais pragmática, na política de segregação racial. Em território polonês, onde a colônia judaica concentrava cerca de 3,5 milhões de pessoas, foram criados os guetos, espaços nos quais os judeus eram confinados e compelidos a usar um distintivo com uma estrela amarela em suas roupas, que identificava a religiosidade, e obrigados a trabalhar para o esforço de guerra alemão. Nessa etapa, as condições subumanas a que essas pessoas eram submetidas levaram milhares a morte. Não se sabe, contudo, se o confinamento em guetos já fazia parte de um plano que previa o genocídio. Três semanas após a invasão da Polônia o chefe do Escritório Central de Segurança do Reich, Reinhard Heydrich, ordenou que os judeus poloneses se mantivessem estreitamente agrupados. Para eles, o confinamento era justificado pela necessidade de excluir os judeus, tidos como uma praga. O primeiro gueto foi estabelecido em Lodz, segunda maior cidade da Polônia, no início de 1940, e abrigou entre 160 mil e 200 mil pessoas em uma área de 3,2 quilômetros quadrados. O maior foi o de Varsóvia, formado no mesmo ano, onde foram confinados cerca de 500 mil judeus e ocorreu o mais significativo movimento de resistência judaica. Nos guetos, a administração de assuntos da comunidade era de responsabilidade dos Jundenrte -- conselhos formados por judeus --, que se reportavam aos alemães. Essas organizações sofreram muitas críticas pela pouca resistência que ofereceram aos alemães. Integrantes dos Jundenrte acreditavam que, adotando uma conduta de colaboração com os nazistas, poderiam aliviar o sofrimento da população do gueto, onde suas condições eram precárias, sem comida, muitas doenças e mortes se espalharam. Outros guetos importantes foram os de Cracvia, com aproximadamente 72 mil judeus, Lublin, com cerca de 40 mil, e Vilna, com algo em torno de 60 mil. A partir de 15 de outubro de 1941 uma nova ordem de conduta alemã passou a punir com pena de morte os judeus que deixavam os guetos. Nessa situação, os nazistas armados controlavam tudo. Difícil, então, imaginar que qualquer tipo de resistência seria possível.

Campos de Concentração Nazistas

Os campos nazistas de extermínio eram localizados basicamente na Polônia, onde havia a maior concentração de judeus na Europa. Era para l que seguiam os comboios ferroviários com prisioneiros deportados das regiões ocupadas. Os campos de Sobibor, Belzec, Chelmno e Treblinka funcionaram entre 1941 e 1943. Auschwitz-Birkenau e Majdanek eram imensos, construídos ao redor de complexos industriais que também possuam câmaras de extermínio mantidas em operação até 1944. Para facilitar o transporte dos prisioneiros, os campos eram construídos nas proximidades das linhas ferroviárias. Os trens chegavam superlotados. Nos vagões de janelas minúsculas não havia comida, água e agasalhos, o que provocava a morte de muitos por frio, fome ou sede durante o transporte. Separados de suas famílias, os que chegavam vivos eram selecionados de acordo com o estado de saúde, para trabalhos forçados ou extermínio.

Campo de Auschwitz

No complexo de Auschwitz, no sul da Polônia, junto cidade de Oswiecim, na alta Silsia, as estimativas mais confiáveis indicam que tenham sido exterminadas entre 1,3 milhões e 1,5 milhões de pessoas em câmaras de gás. Este foi o maior entre os dois mil campos de concentração e trabalhos forçados construídos pelos nazistas. Ali foram mortos cerca de 1,2 milhões de judeus (25% do total de judeus mortos na guerra), 150 mil poloneses, 23 mil ciganos e 15 mil soviéticos. Quando as forças soviéticas libertaram o campo, na tarde de 27 de janeiro de 1945, encontraram gigantescas pilhas com cerca de 850 mil vestidos, 350 mil ternos, milhares de pares de sapatos e montanhas de roupas de crianças, além de oito toneladas de cabelos humanos que seriam utilizados como enchimento de travesseiros. As tropas soviéticas libertaram 7.650 presos, a maioria dos quais mal podia se locomover. Alguns dias antes da chegada dos soviéticos, os alemães tiveram o cuidado de dinamitar as instalações de extermínio e de queimar quase todos os arquivos. 
Os documentos que sobraram foram divididos entre soviéticos e poloneses. O campo de Auschwitz tornou-se o símbolo da barbárie nazista. Era uma linha de produção da morte desenvolvida de forma a envolver o maior número de pessoas, com a máxima economia de recursos, aproveitando os cadáveres como matéria-prima para a produto industrial de sabão. Ali, muitos judeus pereceram nas câmara de gás. As chaminés exalavam uma fumaça negra e o cheiro de carne queimada impregnada na região.

Resistências

Enquanto muitas histórias contam que, durante o Holocausto, os judeus eram descritos como: sheep to the slaughter (carneiro para matar), a realidade que a reação dos judeus diante da discriminação no foi assim tão dócil.
Entre as décadas de 30 e 40, os judeus da Polônia reagiram contra essa situação, fazendo boicotes aos europeus, porém, nazistas continuaram a fazer leis contra os judeus. No começo dos anos 30, os Ghettos foram criados, grupos de judeus tiveram que deixar suas casas para morarem em outra parte da cidade.

Resistência armada em Ghettos:

Apesar de pesarmos o contrário, resistências armadas de judeus ocorreram durante o Holocausto. Muitas pessoas que participaram desses movimentos foram procuradas e mortas. Alguns desses acontecimentos foram:
Tuchin Ghetto: em 3 de setembro de 1942, 700 famílias judias escaparam deste ghetto em Ukraine. Eles foram encontrados e apenas 15 sobreviveram.
Warsaw Ghetto: em 1943, os residentes desse ghetto tinham organizado um movimento com 1.000 deles sem armamento ou qualquer tipo de equipamento juntamente com jovens sem nenhuma experiência, sendo que nesse período, quase da metade da população estava doente, morrendo de fome e frio.
Em janeiro de 43, a S.S. entrou no ghetto para procurar por mais judeus que iriam para os campos de concentração, foram surpreendidos por bombas e alguma armas de fogo, vinte soldados morreram. Mas para controlar os habitantes tinham 3.000 tropas alemães e 7.000 homens de reforço. O ghetto foi então destruído, e mais de 15 mil judeus foram mortos e a maioria foi levada para campos de concentração.
Bialystok Ghetto: organizações de parlamentares judeus formados dentro dos ghettos atacaram as tropas alemães quando estava determinado que os nazistas iriam liquidá-los. A batalha durou apenas um dia at que os residentes foram capturados e mortos.
Vilna Ghetto: alguns habitantes começaram a conspirar contra os nazistas em setembro de 43. Muitos foram mortos, mas alguns escaparam com sucesso.
Treblinka: 700 judeus tiveram sucesso em explodirem o campo em agosto de 43. Porém foram mortos durante a Guerra, apenas 12 sobreviveram.
Sobibor: prisioneiros judeus e russos montaram uma trajetória de fuga. Apenas 60 dos 600 prisioneiros sobreviveram, 10 soldados da S.S. foram mortos.
Aschwistz: dia 7 de outubro de 1944 uma das crematórias de Auschwitz foi explodida por sonderkommandos.Estes eram trabalhadores, a maioria judeus, cujo trabalho era jogar fora os corpos dos mortos em câmaras de gás.

Experimentos Biológicos

Os médicos trabalharam em conjunto com os agentes das SS no extermínio promovido pelo estado nazista, atuando como soldados biológicos. Na época estavam muito em evidência as teses sobre eugenia, ciência que estuda as condições mais propícias ao "melhoramento" da raça humana. Foi em nome dela que os médicos nazistas cometeram várias atrocidades. Para os nazistas não eram os problemas sociais como as carências econômicas e sociais que causavam a marginalidade dos não-arianos. Ao contrário, a congênita "inferioridade racial" desses indivíduos que criava tais problemas. Dessa maneira, definiam as execuções como sendo de caráter humanitário, misericordioso, para aqueles "condenados pela seleção natural". Como para a medicina nazista a boa saúde era característica da superioridade racial ariana, ela deveria ser mantida a qualquer custo. Por essa razão, de 1933 até o início da guerra os alemães considerados "doentes incuráveis" foram submetidos esterilização para que o "mal" que carregavam não fosse proliferado.
"doentes incuráveis" que foram esterilizados estavam, conforme relato de Robert Lifton no livro The Nazi Doctors, "60 mil epiléticos, 4 mil cegos hereditários, 16 mil surdos hereditários, 20 mil pessoas com má formação no corpo, 10 mil com alcoolismo hereditário, 200 mil doentes mentais, 80 mil esquizofrênicos e 20 mil maníacos-depressivos". Lifton cita em seu livro o caso do médico Eduard Wirths, de Auschwitz, que inoculava o bacilo do tifo em judeus sos, sob a justificativa de que estes, naturalmente condenados a morrer, poderiam servir de cobaias para testes de vacinas. Muitos morreram em "experiências médicas" que incluam exposio alta pressão e congelamento. Para reforçar o caráter médico das execuções, muitas vezes uma ambulância pintada com as cores da Cruz Vermelha acompanhava os assassinatos. Muitos médicos se destacaram pela crueldade de seus métodos, entre eles Josef Mengele, de Auschwitz, que fazia experimentos genéticos especialmente em gêmeos. Segundo o professor Robert Proctor, autor de A Higiene Racial - A Medicina na época dos Nazistas, editado pela Harvard University Press, em Cambridge, Massachusetts, "o nazismo nada mais do que a aplicação dos conhecimentos biológicos". Para ele, tanto a teoria quanto a prática da doutrina nazista tiveram como ponto central a aplicação de uma política biológica.

Conclusão

Sendo assim, o holocausto significou uma das maiores matanças da humanidade, visou principalmente os judeus, mas no poupou ciganos, negros, homossexuais, comunistas e doentes mentais.
Além disso, extinguiu os partidos políticos, implantando o monopartidarismo e levando para os campos de concentração todos que se opunham ao regime.
Esse extermínio constitui um dos maiores crimes da humanidade. Os crimes de guerra nazistas foram julgados por um tribunal formado pelos quatro líderes aliados em Nuremberg. Nem todos os líderes nazistas foram condenados; muitos deles fugiram, sobretudo para a América do Sul (incluindo o Brasil), onde viveram clandestinamente.



O Apartheid na África do Sul

A União da África do Sul foi criada em 1910 a partir de uma composição política entre regiões dominadas pelos bôeres (descendentes dos antigos colonos holandeses estabelecidos na região desde o século XVII) e por colonos britânicos. tratava-se de um Estado semi-independente que continuava fazendo parte da Comunidade Britânica e reconhecia a monarquia sediada em Londres.
O regime de segregação racial seria oficializado em 1948, com a chegada ao poder do Partido Nacional. A África do sul passou a desenvolver um das políticas mais violentas que o mundo conheceu: o apartheid.
Política de segregação étnica oficializada na África do Sul entre o período de 1948 a 1990. A palavra "apartheid" significa literalmente "separação", em relação à divisão estabelecida entre a minoria branca no comando político do país e a maioria racial dos negros e minorias mestiças e asiáticas. Em sua origem, tal política excluía as populações negras, mestiças e amarelas da participação política, que formavam uma grande maioria de 80% da população total sul-africana. 
Tal política antidemocrática, tendo base legal sofreu poucas transformações ao longo de sua história, caracterizando-se uma tentativa de perpetuação da minoria branca no poder, formada em sua maior parte por descendentes de holandeses (os chamados africâneres) em detrimento da total supressão dos direitos civis da maioria étnica. As disparidades entre os grupos étnicos da África do Sul foi bem anterior à oficialização legal do segregacionismo. 
o governo sul-africano transformou tal separação em um elaborado sistema legal de segregação e estabelecia a existência de quatro grupos: brancos, negros, mestiços e asiáticos. o apartheid atingia a habitação, o emprego, a educação e os serviços públicos. Foi implantado para favorecer a permanência no poder da minoria branca.
As leis do apartheid determinavam:
- negros não podiam ter participação política, ou seja, eram proibidos de votar e serem eleitos;
- negros não tinham direito à propriedade e eram obrigados a viver em terras reservadas. e nas cidades habitariam em bairros separados dos brancos;
- eram proibidos casamentos mistos;
- brancos e negros estavam proibidos de frequentarem juntos qualquer estabelecimento comercial, exceto se tivesse autorização oficial;
- os trabalhadores negros eram obrigados a obter autorização para circular nas zonas reservadas aos brancos.
Em 1961, a África do sul obteve sua independência completa e desligou-se da Coroa britânica. Daí em diante, a política do apartheid foi radicalizada. Outra leis aprovadas classificavam os negros em diversos grupos étnicos e linguísticos. Com essas leis foram criados, em 1971, Estados étnicos em terras reservadas para os negros africanos. Esses territórios reservados, denominado bantustões, que significa "pátria dos bantos", eram justamente as terras menos férteis e sem riquezas minerais. Somente nos miseráveis bantustões os negros teriam direito a cidadania.
Nas grandes cidades os negros eram obrigados a morar na periferia dos centros industriais, as townships. Eram bairros enormes e pobres, sem transporte público, sem os serviços básicos, como água encanada, eletricidade ou asfalto. Os trabalhadores negros eram obrigados a usar passaporte para transitar nas áreas dos brancos. O governo estabeleceu o uso separado de bibliotecas, parques, praias e transporte públicos.
A oposição ao regime segregacionista tomou corpo na década de 1960, quando o Congresso Nacional Africano (CNA), uma campanha de desobediência civil.
A indignação mundial levou diversos países a romper relações diplomáticas e econômicas com a África do Sul. A economia do país entrou em crise, por causa das sanções internacionais adotadas para pressionar o governo sul-africano. Os protestos prosseguiam nas ruas das principais cidades. Ao mesmo tempo, ampliavam-se os apoios ao movimento pela libertação do principal líder da luta contra o apartheid: Nelson Mandela.
O Congresso Nacional Africano já havia sido formado em 1912, três décadas e meia antes do apartheid, tendo como bandeira política a luta contra as restrições políticas e civis desde então impostas aos negros. Após o apartheid, todas as organizações políticas negras foram consideradas ilegais pelo governo minoritário branco. Nelson Mandela, o líder do então legalmente extinto Congresso Nacional Africano, assim como vários outros membros das organizações negras, passaram a ser perseguidos e presos. Na prisão de Nelson Mandela em 1962, este recebeu a sentença de 5 anos. Porém, sob acusações posteriores de sabotagem e traição, foi sentenciada a prisão perpétua ao líder político negro. 
Diante das pressões internacionais contra o segregacionismo étnico. Em 1990, sob o governo de Frederick Willem de Klerk, Nelson Mandela foi libertado e o fim do apartheid foi formalizado oficialmente, tendo a volta das organizações políticas negras à legalidade e a abertura do Parlamento à participação política dos negros, assim como a extensão irrestrita dos direitos civis a todos os cidadãos sul-africanos. 
O presidente de Klerk e Mandela ganharam conjuntamente o Prêmio Nobel da Paz em 1993. Apesar do fim do apartheid, permanecem os grandes contrastes sociais entre as populações brancas e negras, tendo estas últimas permanecido em condições de miséria por durante séculos desde a colonização europeia da África.





Chile: da democracia ao golpe

Os anos 1970 foram extremamente difíceis também para outros países da América Latina. Muita violência política aconteceu no Chile, onde o presidente socialista Salvador Allende foi derrubado por um golpe militar, em 1973. Tanto no Brasil como no Chile, o rumo dos acontecimentos foi acompanhado de perto por Washington. Na visão da Casa Branca, a imposição de ditaduras militares nos países latino-americanos fazia parte da luta contra o comunismo.
No Chile, a CIA colaborou com um golpe de Estado contra o presidente Salvador Allende, em 1973. Eleito democraticamente em 1970, Allende estava realizando a reforma agrária e promovendo uma série de programas sociais, como alfabetização e melhoria do sistema de saúde e do saneamento básico. Além disso, estava nacionalizando diversas empresas norte-americanas.
A sociedade chilena, que não votara majoritariamente em Allende, dividia-se diante das nacionalizações e estatizações de bancos, empresas estrangeiras e, sobretudo, da exploração de minérios, base da economia do país. A alta burguesia chilena e os militares começaram a se mobilizar contra o avanço dos setores populares e da participação mais intensa de operários e camponeses no controle da produção.
As pressões estrangeiras sobre o governo de Allende, principalmente do governo norte-americano, aumentaram. Países com governos militares, incluindo o Brasil, auxiliavam silenciosamente a preparação do golpe. 
Boicotes e a diminuição acentuada de investimentos provocaram a queda da produção industrial e o desabastecimento. Nas ruas aumentaram os protestos da classe média, que acusava o governo pelas dificuldades enfrentadas pelo país.
Em conseqüência, Allende passou a sofrer uma campanha de desestabilização estimulada por Washington, que resultou no golpe militar de setembro de 1973. Depois de confrontos armados, o presidente foi encontrado morto no Palácio de La Moneda, sede oficial do governo chileno. O poder passou às mãos de uma junta militar chefiada pelo general Augusto Pinochet. Num clima de forte repressão, Pinochet dissolveu os partidos políticos e perseguiu os adversários do novo regime. O Estádio Nacional foi transformado em campo de concentração, lotado de presos políticos. Muitos deles desapareceram. Houve casos de prisioneiros torturados até a morte, como o cantor Victor Jara, muito querido entre o povo chileno por suas canções sobre os ideais de justiça e solidariedade.
Estrangeiros que viviam no Chile e que não conseguiram fugir a tempo ou refugiar-se dentro de embaixadas ou consulados de países estrangeiros também foram perseguido pelas tropas que apoiavam Pinochet.
A direita civil chilena, que se opunha a Allende e apoiou o golpe, não teve o espaço que esperava no governo militar. Após o terror da repressão dos primeiros anos, o regime de Pinochet passou a adotar medidas liberais de reorganização da economia e a desnacionalizar parte significativa da economia. Pinochet devolveu aos antigos proprietários a maioria das empresas nacionalizadas por Allende. Promoveu a privatização dos setores estatizados durante o governo de Allende e ampliou o ingresso de capital estrangeiro no país. Acelerou o crescimento econômico e superou a crise do período anterior.
Governou com poderes absolutos e impôs, em 1980, uma nova Carta Magna institucionalizando o regime autoritário. Apesar da repressão, a ditadura começou a declinar a partir de 1983, com as manifestações contra os planos econômicos recessivos do governo, que comprimiram os salários, cortaram subsídios à saúde e educação e geraram desemprego. A repressão policial já não era suficiente para intimidar os manifestantes. No final dos anos 1980, porém, a América Latina atravessou uma fase de redemocratização e as pressões internas e externas ao Chile pelo fim da ditadura cresceram.
Em 1988, o general sofreu uma séria derrota política. Num plebiscito sobre sua permanência no poder por mais oito anos, 55% dos votantes disseram não à proposta. O resultado forçou a transição do país para a democracia. As oposições se uniram para eleger à presidência o democrata cristão Patrício Aylwin, em dezembro de 1989. O general Pinochet, no entanto, assegurou sua permanência como chefe das Forças Armadas. Com isso, evitou seu próprio julgamento e o de militares acusados de tortura e de responsabilidade na morte de mais de 2.200 presos políticos durante o regime militar. Em março de 1998, Pinochet deixou o cargo e tornou-se membro vitalício do Senado, em meio a fortes protestos de políticos e de setores da opinião pública chilena.
Se dentro do Chile Pinochet não sofreu nenhuma punição pelos crimes do governo que liderava, fora do país (na Espanha) foi processado por crimes contra a humanidade e chegou a ser preso durante uma viagem à Inglaterra, em 1999. Sua idade avançada e o estado de saúde precário, juntamente com a indisposição do governo inglês de entrega-lo à justiça espanhola, permitiram que fosse libertado e retorna-se ao Chile, onde morreu no final de 2006.


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Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...