Os primeiros anos após a revolução foram de fechamento total para o exterior. A preocupação do novo governo era organizar a produção, sobretudo agrícola, a fim de garantir meios de sobrevivência a gigantesca população chinesa. Foram criadas cooperativas, nas quais os camponeses se reuniam para vender seus produtos e onde recebiam apoio financeiro, sementes e adubos para o cultivo. Foram organizadas também comunas, agrupamento de camponeses que produziam gêneros agrícolas, bem como produtos industriais em fábricas autogerenciadas.
Além da produção agrícola, o governo estimulou a exploração de carvão, a produção de aço e de maquinas, a construção de barragens para irrigação e canalização de rios, a construção de usinas hidrelétricas e a fabricação de armamentos pesados. A pesquisa nuclear e de exploração espacial também teve destaque; na década de 1960 a China explodia sua primeira bomba atômica, e na década de 1970 lançava seu primeiro satélite artificial.
Toda a atividade econômica era dirigida pelo Estado, que se responsabilizava pela planificação de todas as áreas da produção. Foi abolida a propriedade privada.
Nas primeiras décadas após a vitória da revolução socialista de 1949, a china manteve um relacionamento muito estreito com a União Soviética. Técnicos soviéticos trabalhavam em projetos industriais e de pesquisa em território chinês. Por volta de 1958 ocorreram desentendimentos entre o governo chinês e o governo soviético, fato que causou a retirada de todos os técnicos da União Soviética.
Devido ao fato de a população chinesa ser extremamente numerosa, boa parte dos trabalhos de construção de barragens e de canais era feita manualmente por milhões de trabalhadores, homens e mulheres, que faziam as tarefas em comum, agrupados em verdadeiros batalhões e seguindo padrões de disciplina militar. A mentalidade comunista, segundo Mao Tse-tung, devia basear-se na satisfação das necessidades coletivas e não individuais. A execução de obras públicas tinha por objetivo criar frentes de trabalho para o maior número possível de chineses.
A padronização e a igualdade social eram estampadas até mesmo nas roupas, iguais para todos, homens e mulheres: uma túnica cinza, fechada com grandes botões, com bolsos também grandes fechados por botões e calças da mesma cor. Na cabeça, um boné. Todos os chineses do presidente Mao ao trabalhador, vestiam-se com essa roupa. O objetivo era baratear seu custo e evitar distinção entre as pessoas.
Embora tenham-se alcançado resultados impressionantes, como a eliminação da miséria e da fome, redução do analfabetismo, garantia de assistência médica básica a toda a população, nem todos os problemas foram resolvidos. Faltavam habitações, e na área política houve uma crescente centralização.
A Revolução Cultural
Os estudiosos da China comunista afirmam que Mao temia um afrouxamento da participação política dos chineses. Para evitá-lo, idealizou em 1966 a Revolução Cultural: movimento de mobilização de estudantes e operários destinado a denunciar as pessoas que estariam se desviando dos princípios comunistas. Milhões de estudantes abandonaram as escolas e foram para o campo ajudar nos trabalhos de plantio e colheita, ao mesmo tempo que faziam pregação da doutrina comunista ensinada por Mao Tse-tung. Essa doutrina estava expressa em pequenas frases num livro chamado Os pensamentos do presidente Mao. Milhões de exemplares do livro foram distribuídos por toda a China. O livro foi também traduzido para muitas línguas e publicado em quase todos os países, inclusive no Brasil.
A atividade política dos estudantes e trabalhadores chineses ecoou em países da Europa e outros pontos do mundo ocidental, onde grupos estudantis se manifestavam a favor de reformas de cunho socialista. Em 1968, na França, uma mobilização de estudantes ameaçou derrubar o próprio governo. Movimentos guerrilheiros surgiram em muitos lugares, baseados nas ideias de pregadas por Mao Tse-tung.
A Revolução Cultural, contudo, provocou excessos, como violência contra intelectuais, dirigentes e chefes suspeitos de não se identificarem plenamente com o governo. Muitas pessoas foram perseguidas. Altos dirigentes perderam seus cargos, entre eles Deng Xiaoping, de quem falaremos mais adiante. O deslocamento de milhões de estudantes e operários pelo país – com o objetivo de reeducação – causou problemas na produção, comprometendo o abastecimento de gêneros de primeira necessidade.
O processo da Revolução Cultural dividiu o país. De um lado, estavam os seguidores de Mao Tse-tung, de outro, os chamados revisionistas, aqueles que não compartilhavam totalmente com a ideologia do líder, chamado na imprensa oficial de “o grande timoneiro”.
Começam as mudanças
Após o esmorecimento do movimento da Revolução Cultural, os dirigentes moderados voltaram a ter papel decisivo na condução do país. Um deles era o primeiro-ministro Chu Em-lai. Convencido da necessidade de procurar aliados e parceiros políticos e econômicos fora do mundo socialista, os dirigentes chineses iniciaram uma aproximação com os Estados Unidos. Assim, em 1972, o presidente Nixon foi convidado a visitar a China. Era o início de uma abertura comercial e cultural, depois de décadas de isolamento. Ao aproximar-se dos Estados Unidos, o governo chinês procurava contrapor-se à União Soviética, agora sua inimiga.
Mao Tse-tung, que havia comandado o país desde 1949, morreu em 1976. Seus aliados perderam rapidamente o poder, e os dirigentes moderados assumiram a condução do governo. Um dos novos governantes era Deng Xiaoping, afastado durante a Revolução Cultural. Sob sua liderança, o governo deu início a um programa de reformas econômicas, cujo objetivo era tentar alcançar o desenvolvimento tecnológico do Ocidente, do qual a China estava ainda muito longe.
A China na virada do século
A China, o país mais populoso do mundo (cerca de 1,3 bilhão de habitantes), cresceu de forma espetacular – cerca de 10% ao ano no período (1990-1999). Esse crescimento deveu-se sobretudo ao processo de reformas empreendido pelo governo chinês a partir de 1978. Esse processo inclui: as Quatro Grandes Modernizações (da indústria, da agricultura, da ciência e tecnologia e das Forças Armadas); a criação de Zonas Econômicas Especiais (ZEE), que receberam investimentos estrangeiros volumosos; a transferência de parte da produção agrícola para a iniciativa privada. Tal modelo, que combina o controle governamental sobre setores estratégicos – como energia e comunicações – com o domínio da iniciativa privada sobre vários outros, é chamado de economia socialista de mercado.
Assim, o governo chinês implementou uma abertura econômica planejada:
- criou Zonas Econômicas especiais (ZEEs), áreas abertas a empresas e investimentos estrangeiros;
- concedeu isenções fiscais a empresas que dessejassem montar filiais nas ZEEs;
- promoveu a construção de grandes obras públicas de infraestrutura (estradas de rodagem, usinas, ferrovias);
- incentivou a criação de pequenas empresas privadas. Mas manteve sob seu controle setores estratégicos com a permissão que a iniciativa privada atue em outros setores.
Oferecendo mão-de-obra barata e infraestrutura para instalação de empresas, o governo chinês tem conseguido atrair capitais estrangeiros volumosos, que, além de estimular o crescimento da economia, favorecem a venda de seus produtos para o mundo todo. Daí, por exemplo, a avalanche de produtos que entraram no Brasil na última década.
Dois fatos recentes deram novo impulso à economia chinesa: a devolução para a china de Hong Kong (ex-Grã-Bretanha) e de Macau (ex-Portugal), Hong Kong, um dos portos mais movimentados da Ásia, devolvida em 1997, é um grade centro financeiro; Macau, devolvida em 1999, vive sobretudo do turismo.
O dinamismo da economia chinesa, a tendência ao padrão de vida dos chineses continuar se elevando e os baixos preços dos transportes, moradia, alimentação, vestuário, educação, assistência médica, cultura e serviços fazem da China atual uma potência econômica de primeira grandeza.
Abertura econômica, consumo e ditadura
A aproximação com os Estados Unidos transformou a economia chinesa. Além da modernização industrial, provocou forte aumento do consumo.
A agricultura teve sua produtividade elevada, e a indústria leve voltou-se para o mercado externo, criando milhares de novos empregos. O país conseguia empréstimos a juros baixos junto a bancos estrangeiros e, assim, importava unidades industriais de base que deram suporte para, por exemplo, o desenvolvimento das ferrovias.
Do ponto de vista dos direitos civis e políticos, entretanto, os avanços foram quase nulos. A China manteve o Regime comunista de partido único, no qual as manifestações de oposição eram fortemente reprimidas.
Em 1991, com o fim da Guerra Fria, essa situação de parceria privilegiada China-Estados Unidos mudaria.
Desde o início dos anos 2000, as ruas de Xangai, Já estavam repletas de logomarcas norte-americanas. Fotografia de 2007
A iniciativa privada voltou a ser permitida. As cooperativas agrícolas e as comunas foram, aos poucos, desativadas. O capital estrangeiro foi admitido no país. Essas reformas provocaram uma reviravolta na sociedade chinesa. A economia passou a crescer. Começaram a surgir em todas as grandes cidades empreendimentos de toda sorte, originados de investimentos japoneses, americanos, coreanos, etc.
As reformas na economia prosseguiram. A prosperidade econômica, contudo, reativou antigos problemas, como prostituição, contrabando, corrupção e tráfico de drogas.
Mas, no plano político, os novos dirigentes nada fizeram para criar instituições livres e democráticas. A China mantém o regime de partido único (PCC), e o governo tem praticado atos arbitrários e ditatoriais, o que tem gerado protestos populares. A china, sob o governo do Partido Comunista, continuou reprimindo brutalmente as manifestações populares. Um dos episódios que mais chocaram a opinião mundial foi o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989. Quando cerca de 1 milhão de pessoas aglutinaram-se para exigir a abertura política do regime. O exército chinês respondeu matando centenas de manifestantes. A manifestação, que pedia democracia, terminou sob a mira de canhões de guerra, levando à morte mais de 1400 pessoas.
A força da China
Na última década do século XX, a china aparecia como um dos mais fortes polos da economia mundial. Tornou-se grande exportadora de produtos industrializados: tecidos, calçados, roupas, brinquedos, etc.
Nas décadas seguintes, a China cresceu em média 9,5% ao ano. os motivos desse crescimento tem sido objeto de debate, mas os fatores mais citados são:
- investimentos estrangeiros diretos de empresas transnacionais, que montaram filiais na China atraídas pela mão de obra farta e barata; isenção de impostos para a importação de matérias-primas, peças e componentes; infraestrutura adequada e o tamanho do mercado chinês;
- política industrial com incentivos fiscais para empresas localizadas nas ZEEs;
-ênfase no comércio internacional; a entrada da china na Organização Mundial do comércio (OMC), em 2001, ajudou o país a obter consecutivos saldos na balança comercial; além disso, o governo tem mantido o câmbio desvalorizado como forma de incentivar as importações;
- disponibilidade de capital e de mão de obra qualificada, reflexo da grande importância que os chineses dão à educação e à formação profissional;
- semana de 7 dias de trabalho e 15 dias de férias por ano.
Esses fatores, somados, foram os principais responsáveis pelo aumento da competitividade e pelo crescimento constante da China nas últimas décadas (em 2012, o PIB chinês foi de 7,5%, apesar da crise econômica que atingiu com força os EUA e a Europa). Em 2012, pela primeira vez a China ultrapassou os Estados Unidos, no tocante ao fluxo de comércio, e, com isso, se tornou a maior potência comercial do mundo.
A China ingressou no FMI, Banco Mundial e OMC. Além disso, estabeleceu novas relações estratégica com a Rússia, no quadro da Organização Xangai de Cooperação, e iniciou programas de cooperação econômica com diversos países africanos, a fim de facilitar os negócios de suas empresas petrolíferas em novas áreas de extração na África.
A modernização militar é uma dimensão crucial estratégica de "ascensão pacífica". A China investe pesadamente nas tecnologias espaciais e já colocou astronauta em órbita terrestre. E desde então, alcançou diversos avanços em projetos espaciais. Em 2007, num teste bem-sucedido, um míssil chinês destruiu um antigo satélite meteorológico em órbita. O BeiDou-2, um sistema de posicionamento global que pretende concorrer com o GPS norte-americano, entrou em operação final em 2011.
Como provam os indicadores econômicos, a China é hoje uma potência econômica de primeira grandeza. Mas o país continua enfrentando graves problemas em outras áreas, como a existência de 150 milhões de pessoas vivendo na pobreza, altos índices de poluição do ar, baixos salários, regime de partido único (PCCh), falta de liberdade de expressão, entre outros. Esses fatores, somados, tem gerado inúmeras reações populares.