sábado, 24 de dezembro de 2022

A China Contemporânea

Os primeiros anos após a revolução foram de fechamento total para o exterior. A preocupação do novo governo era organizar a produção, sobretudo agrícola, a fim de garantir meios de sobrevivência a gigantesca população chinesa. Foram criadas cooperativas, nas quais os camponeses se reuniam para vender seus produtos e onde recebiam apoio financeiro, sementes e adubos para o cultivo. Foram organizadas também comunas, agrupamento de camponeses que produziam gêneros agrícolas, bem como produtos industriais em fábricas autogerenciadas.
Além da produção agrícola, o governo estimulou a exploração de carvão, a produção de aço e de maquinas, a construção de barragens para irrigação e canalização de rios, a construção de usinas hidrelétricas e a fabricação de armamentos pesados. A pesquisa nuclear e de exploração espacial também teve destaque; na década de 1960 a China explodia sua primeira bomba atômica, e na década de 1970 lançava seu primeiro satélite artificial.
Toda a atividade econômica era dirigida pelo Estado, que se responsabilizava pela planificação de todas as áreas da produção. Foi abolida a propriedade privada.
Nas primeiras décadas após a vitória da revolução socialista de 1949, a china manteve um relacionamento muito estreito com a União Soviética. Técnicos soviéticos trabalhavam em projetos industriais e de pesquisa em território chinês. Por volta de 1958 ocorreram desentendimentos entre o governo chinês e o governo soviético, fato que causou a retirada de todos os técnicos da União Soviética.
Devido ao fato de a população chinesa ser extremamente numerosa, boa parte dos trabalhos de construção de barragens e de canais era feita manualmente por milhões de trabalhadores, homens e mulheres, que faziam as tarefas em comum, agrupados em verdadeiros batalhões e seguindo padrões de disciplina militar. A mentalidade comunista, segundo Mao Tse-tung, devia basear-se na satisfação das necessidades coletivas e não individuais. A execução de obras públicas tinha por objetivo criar frentes de trabalho para o maior número possível de chineses.
A padronização e a igualdade social eram estampadas até mesmo nas roupas, iguais para todos, homens e mulheres: uma túnica cinza, fechada com grandes botões, com bolsos também grandes fechados por botões e calças da mesma cor. Na cabeça, um boné. Todos os chineses do presidente Mao ao trabalhador, vestiam-se com essa roupa. O objetivo era baratear seu custo e evitar distinção entre as pessoas.
Embora tenham-se alcançado resultados impressionantes, como a eliminação da miséria e da fome, redução do analfabetismo, garantia de assistência médica básica a toda a população, nem todos os problemas foram resolvidos. Faltavam habitações, e na área política houve uma crescente centralização.

A Revolução Cultural

Os estudiosos da China comunista afirmam que Mao temia um afrouxamento da participação política dos chineses. Para evitá-lo, idealizou em 1966 a Revolução Cultural: movimento de mobilização de estudantes e operários destinado a denunciar as pessoas que estariam se desviando dos princípios comunistas. Milhões de estudantes abandonaram as escolas e foram para o campo ajudar nos trabalhos de plantio e colheita, ao mesmo tempo que faziam pregação da doutrina comunista ensinada por Mao Tse-tung. Essa doutrina estava expressa em pequenas frases num livro chamado Os pensamentos do presidente Mao. Milhões de exemplares do livro foram distribuídos por toda a China. O livro foi também traduzido para muitas línguas e publicado em quase todos os países, inclusive no Brasil.
A atividade política dos estudantes e trabalhadores chineses ecoou em países da Europa e outros pontos do mundo ocidental, onde grupos estudantis se manifestavam a favor de reformas de cunho socialista. Em 1968, na França, uma mobilização de estudantes ameaçou derrubar o próprio governo. Movimentos guerrilheiros surgiram em muitos lugares, baseados nas ideias de pregadas por Mao Tse-tung.
A Revolução Cultural, contudo, provocou excessos, como violência contra intelectuais, dirigentes e chefes suspeitos de não se identificarem plenamente com o governo. Muitas pessoas foram perseguidas. Altos dirigentes perderam seus cargos, entre eles Deng Xiaoping, de quem falaremos mais adiante. O deslocamento de milhões de estudantes e operários pelo país – com o objetivo de reeducação – causou problemas na produção, comprometendo o abastecimento de gêneros de primeira necessidade.
O processo da Revolução Cultural dividiu o país. De um lado, estavam os seguidores de Mao Tse-tung, de outro, os chamados revisionistas, aqueles que não compartilhavam totalmente com a ideologia do líder, chamado na imprensa oficial de “o grande timoneiro”.

Começam as mudanças

Após o esmorecimento do movimento da Revolução Cultural, os dirigentes moderados voltaram a ter papel decisivo na condução do país. Um deles era o primeiro-ministro Chu Em-lai. Convencido da necessidade de procurar aliados e parceiros políticos e econômicos fora do mundo socialista, os dirigentes chineses iniciaram uma aproximação com os Estados Unidos. Assim, em 1972, o presidente Nixon foi convidado a visitar a China. Era o início de uma abertura comercial e cultural, depois de décadas de isolamento. Ao aproximar-se dos Estados Unidos, o governo chinês procurava contrapor-se à União Soviética, agora sua inimiga.
Mao Tse-tung, que havia comandado o país desde 1949, morreu em 1976. Seus aliados perderam rapidamente o poder, e os dirigentes moderados assumiram a condução do governo. Um dos novos governantes era Deng Xiaoping, afastado durante a Revolução Cultural. Sob sua liderança, o governo deu início a um programa de reformas econômicas, cujo objetivo era tentar alcançar o desenvolvimento tecnológico do Ocidente, do qual a China estava ainda muito longe.

A China na virada do século

A China, o país mais populoso do mundo (cerca de 1,3 bilhão de habitantes), cresceu de forma espetacular – cerca de 10% ao ano no período (1990-1999). Esse crescimento deveu-se sobretudo ao processo de reformas empreendido pelo governo chinês a partir de 1978. Esse  processo inclui: as Quatro Grandes Modernizações (da indústria, da agricultura, da ciência e tecnologia e das Forças Armadas); a criação de Zonas Econômicas Especiais (ZEE), que receberam investimentos estrangeiros volumosos; a transferência de parte da produção agrícola para a iniciativa privada. Tal modelo, que combina o controle governamental sobre setores estratégicos – como energia e comunicações – com o domínio da iniciativa privada sobre vários outros, é chamado de economia socialista de mercado.

Assim, o governo chinês implementou uma abertura econômica planejada:

- criou Zonas Econômicas especiais (ZEEs), áreas abertas a empresas e investimentos estrangeiros; 

- concedeu isenções fiscais a empresas que dessejassem montar filiais nas ZEEs;

- promoveu a construção de grandes obras públicas de infraestrutura (estradas de rodagem, usinas, ferrovias);

- incentivou a criação de pequenas empresas privadas. Mas manteve sob seu controle setores estratégicos com a permissão que a iniciativa privada atue em outros setores.

Oferecendo mão-de-obra barata e infraestrutura para instalação de empresas, o governo chinês tem conseguido atrair capitais estrangeiros volumosos, que, além de estimular o crescimento da economia, favorecem a venda de seus produtos para o mundo todo. Daí, por exemplo, a avalanche de produtos que entraram no Brasil na última década.

Dois fatos recentes deram novo impulso à economia chinesa: a devolução para a china de Hong Kong (ex-Grã-Bretanha) e de Macau (ex-Portugal), Hong Kong, um dos portos mais movimentados da Ásia, devolvida em 1997, é um grade centro financeiro; Macau, devolvida em 1999, vive sobretudo do turismo.

O dinamismo da economia chinesa, a tendência ao padrão de vida dos chineses continuar se elevando e os baixos preços dos transportes, moradia, alimentação, vestuário, educação, assistência médica, cultura e serviços fazem da China atual uma potência econômica de primeira grandeza.

Abertura econômica, consumo e ditadura

    A aproximação com os Estados Unidos transformou a economia chinesa. Além da modernização industrial, provocou forte aumento do consumo.

    A agricultura teve sua produtividade elevada, e a indústria leve voltou-se para o mercado externo, criando milhares de novos empregos. O país conseguia empréstimos a juros baixos junto a bancos estrangeiros e, assim, importava unidades industriais de base que deram suporte para, por exemplo, o desenvolvimento das ferrovias.

    Do ponto de vista dos direitos civis e políticos, entretanto, os avanços foram quase nulos. A China manteve o Regime comunista de partido único, no qual as manifestações de oposição eram fortemente reprimidas.

    Em 1991, com o fim da Guerra Fria, essa situação de parceria privilegiada China-Estados Unidos mudaria.


Desde o início dos anos 2000, as ruas de Xangai, Já estavam repletas de logomarcas norte-americanas. Fotografia de 2007

A iniciativa privada voltou a ser permitida. As cooperativas agrícolas e as comunas foram, aos poucos, desativadas. O capital estrangeiro foi admitido no país. Essas reformas provocaram uma reviravolta na sociedade chinesa. A economia passou a crescer. Começaram a surgir em todas as grandes cidades empreendimentos de toda sorte, originados de investimentos japoneses, americanos, coreanos, etc.
As reformas na economia prosseguiram. A prosperidade econômica, contudo, reativou antigos problemas, como prostituição, contrabando, corrupção e tráfico de drogas.

Mas, no plano político, os novos dirigentes nada fizeram para criar instituições livres e democráticas.  A China mantém o regime de partido único (PCC), e o governo tem praticado atos arbitrários e ditatoriais, o que tem gerado protestos populares. A china, sob o governo do Partido Comunista, continuou reprimindo brutalmente as manifestações populares. Um dos episódios que mais chocaram a opinião mundial foi o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989. Quando cerca de 1 milhão de pessoas aglutinaram-se para exigir a abertura política do regime. O exército chinês respondeu matando centenas de manifestantes. A manifestação, que pedia democracia, terminou sob a mira de canhões de guerra, levando à morte mais de 1400 pessoas.

A força da China

Na última década do século XX, a china aparecia como um dos mais fortes polos da economia mundial. Tornou-se grande exportadora de produtos industrializados: tecidos, calçados, roupas, brinquedos, etc.
Nas décadas seguintes, a China cresceu em média 9,5% ao ano. os motivos desse crescimento tem sido objeto de debate, mas os fatores mais citados são:
- investimentos estrangeiros diretos de empresas transnacionais, que montaram filiais na China atraídas pela mão de obra farta e barata; isenção de impostos para a importação de matérias-primas, peças e componentes; infraestrutura adequada e o tamanho do mercado chinês;
- política industrial com incentivos fiscais para empresas localizadas nas ZEEs;
-ênfase no comércio internacional; a entrada da china na Organização Mundial do comércio (OMC), em 2001, ajudou o país a obter consecutivos saldos na balança comercial; além disso, o governo tem mantido o câmbio desvalorizado como forma de incentivar as importações;
- disponibilidade de capital e de mão de obra qualificada, reflexo da grande importância que os chineses dão à educação e à formação profissional;
- semana de 7 dias de trabalho e 15 dias de férias por ano. 
Esses fatores, somados, foram os principais responsáveis pelo aumento da competitividade e pelo crescimento constante da China nas últimas décadas (em 2012, o PIB chinês foi de 7,5%, apesar da crise econômica que atingiu com força os EUA e a Europa). Em 2012, pela primeira vez a China ultrapassou os Estados Unidos, no tocante ao fluxo de comércio, e, com isso, se tornou a maior potência comercial do mundo.
A China ingressou no FMI, Banco Mundial e OMC. Além disso, estabeleceu novas relações estratégica com a Rússia, no quadro da Organização Xangai de Cooperação, e iniciou programas de cooperação econômica com diversos países africanos, a fim de facilitar os negócios de suas empresas petrolíferas em novas áreas de extração na África.
A modernização militar é uma dimensão crucial estratégica de "ascensão pacífica". A China investe pesadamente nas tecnologias espaciais e já colocou astronauta em órbita terrestre. E desde então, alcançou diversos avanços em projetos espaciais. Em 2007, num teste bem-sucedido, um míssil chinês destruiu um antigo satélite meteorológico em órbita. O BeiDou-2, um sistema de posicionamento global que pretende concorrer com o GPS norte-americano, entrou em operação final em 2011.
Como provam os indicadores econômicos, a China é hoje uma potência econômica de primeira grandeza. Mas o país continua enfrentando graves problemas em outras áreas, como a existência de 150 milhões de pessoas vivendo na pobreza, altos índices de poluição do ar, baixos salários, regime de partido único (PCCh), falta de liberdade de expressão, entre outros. Esses fatores, somados, tem gerado inúmeras reações populares.




sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Conferência de Bandung - Os países não alinhados

Enquanto os EUA e a URSS disputavam áreas de influência, as potências imperialistas europeias, desgastadas pela guerra, não conseguiram impedir o processo de independência de suas colônias na Ásia e na África. Muitos dos governantes dessas novas nações independentes não pretendiam se "alinhar" a um dos dois blocos, o norte-americano ou o soviético.
Um acontecimento de destaque na luta contra a dominação colonialista e o subdesenvolvimento ocorreu em abril de 1955, na Indonésia: a Conferência Afro-Asiática de Bandung.
Convocada pelos líderes da Indonésia, índia, Birmânia (atual Mianmá), Ceilão (hoje Sri Lanka) e Paquistão – países que haviam alcançado poucos anos antes sua independência ̶ , essa conferência constituiu um marco importante na organização política dos países do chamado Terceiro Mundo (países subdesenvolvidos).
No documentário final da conferência, firmado pelos representantes dos 29 países participantes, destacavam-se os seguintes pontos:
· Rejeição à divisão mundial nos blocos socialista e capitalista e defesa de uma política de não alinhamento automático com as superpotências;
· Condenação do racismo e da corrida armamentista;
· Proclamação do direito de autodeterminação política, reprovando-se, portanto, o colonialismo (dominação direta da metrópole sobre a colônia) e o neocolonialismo (dominação mascarada, realizada por meio de práticas econômicas imperialistas);
· Afirmação de que a submissão imposta aos povos afro-asiáticos era uma negação dos direitos fundamentais do homem e estava em contradição com a Carta das Nações Unidas, sendo um obstáculo à paz e à cooperação mundial.

Os países não alinhados

Esses países deram início ao grupo que ficou conhecido como Movimento dos Países Não Alinhados, ao qual aderiram a Índia, o Egito, a Iugoslávia, entre outros. Entre os Não Alinhados, havia países de regime socialista e também de regime capitalista. Eles rejeitaram a ideia de divisão do planeta em dois blocos ideológicos, o capitalista e o socialista, e enfatizaram que o mundo, na realidade, estava dividido entre países ricos e países pobres.
Dessa forma, os Não Alinhados se autodefiniram como países formadores do Terceiro Mundo, criando o chamado terceiro-mundismo; enquanto o Primeiro Mundo seria constituído pelos países capitalistas desenvolvidos aliados aos EUA, e o Segundo Mundo seria composto pelos países socialistas desenvolvidos alinhados à URSS.
Quando se realizou a Conferência de Bandung, 14 países asiáticos já tinham conseguido sua emancipação política. Todas as nações africanas,no entanto, ainda estavam submetidas à dominação colonial, com exceção da Líbia. Nos anos seguintes à conferência, porém, o processo de descolonização da África acelerou-se e, até o ano de 1960, 23 países africanos já haviam conquistado sua independência. Até 1980, outras 23 nações africanas e mais 12 nações asiáticas e oceânicas alcançaram igual destino.

 Formas de ruptura

O processo de ruptura dos distintos países da África, da Ásia e da Oceania com as metrópoles deu-se de duas formas:

· Ruptura pacífica – alcançada mediante acordos firmados com as metrópoles. Nessa forma de ruptura, estas reconheciam formalmente a emancipação política das colônias, mas procuravam preservar, ao menos em parte, as relações econômicas de dominação;

· Ruptura violenta – alcançada mediante o confronto armado entre as forças das metrópoles e as tropas de libertação das colônias. Essa forma de ruptura ocorreu principalmente quando a luta pela independência política transformava-se em luta contra a dominação imperialista, apontando para a construção de uma sociedade socialista.
A ruptura dos laços coloniais não significou, no entanto, a conquista imediata da paz e do bem-estar almejados pelas ex-sociedades coloniais da Ásia, da África e da Oceania. Frequentemente, os processos de independência desdobraram-se numa séria de lutas internas, envolvendo movimentos políticos ou grupos étnicos rivais, que passaram a disputar o controle do poder nas diferentes regiões.

A Carta de Bandung definiu dez princípios políticos que podem ser considerados a plataforma original do terceiro-mundismo. Esses princípios enfatizavam os direitos humanos e a denúncia do racismo, a igualdade entre as nações, o respeito à soberania e autodeterminação dos Estados, a necessidade de solução pacífica dos conflitos internacionais e, finalmente, a recusa de participar dos mecanismos de defesa coletiva controlados pelas superpotências. Os princípios, no seu conjunto, refletiam a luta anticolonial e as novas realidades geopolíticas do sistema internacional.

Logo depois da conferencia, começou a ser articulado o Movimento dos Países Não Alinhados. A articulação baseou-se na colaboração entre Nasser, do Egito, Nehru, da Índia, e Tito, da Iugoslávia. O projeto consistia em criar uma organização estável, que funcionaria como terceira força, equidistantes das superpotências capaz de influenciar decisivamente a Assembleia Geral da ONU.




EUA - Da crise à vitória na Guerra Fria

O presidente republicano Richard Nixon (1969-1974) realizou a retirada das tropas americanas do “atoleiro vietnamita”, que já tinha custado a vida de 55 mil soldados, além dos trezentos mil feridos. Na política interna, o governo foi atingido por um escândalo de espionagem eleitoral, conhecido como Caso Watergate, que levou o presidente Nixon a renunciar, em 1974. A presidência foi assumida pelo republicano Gerald Ford (1974-1975), que completou o mandato de Nixon e retirou as últimas tropas do Vietnã.
A derrota no Vietnã e o escândalo Watergate mergulharam o país numa grave crise política e social. Essa crise foi agravada pelas dificuldades econômicas e pelo desemprego, causados principalmente pelos duzentos bilhões de dólares gastos na Guerra do Vietnã. A crise vivida pelo país levou a eleição do democrata Jimmy Carter (1976-1980), com um programa de governo baseado no respeito aos direitos humanos. Contudo, nessa época, os Estados Unidos se debilitaram ainda mais no plano internacional com a invasão soviética no Afeganistão, em 1979, o triunfo da Revolução Islâmica no Irã e a vitória da Revolução Sandinista na Nicarágua. Dentro do país agravou-se a crise econômica, com o aumento da inflação e do desemprego. Tanto interna como externamente parecia que os Estados Unidos haviam entrado em decadência. Alguns analista da política internacional passaram a usar a expressão “declínio americano”, prevendo uma continua perda de influência no plano internacional. Estavam errados.

A vitória na Guerra Fria

Foi no auge da crise norte-americana que Ronald Reagan (1981-1988), candidato do Partido Republicano, foi eleito presidente do país. Seu programa defendia a restauração da liderança política mundial e da supremacia militar dos Estados Unidos. Com esse objetivo, o governo Reagan desencadeou uma corrida armamentista contra os soviéticos, conhecida como Segunda Guerra Fria. Essa política belicista (a favor da guerra) foi denominada Iniciativa de Defesa Estratégica (IDE), mais conhecida como guerra nas estrelas.
A União Soviética não conseguia mais acompanhar o rival norte-americano, cujos gastos militares eram enormes. Isso contribuiu de forma decisiva para a vitória dos Estados Unidos na Guerra Fria. Essa política armamentista, porém, acabou por endividar o governo norte-americano, que passou de credor a devedor do mundo. Esse foi o preço a ser pago para reconquistar a posição, sem rival, de primeira superpotência do mundo.


A Argentina peronista

Em 1941, o militar Juan Domingo Perón fundou o Grupo de Oficiais Unidos (GOU), de tendências fascistas. GOU organizou, em 1943, um golpe de Estado que depôs o então presidente Ramón Castillo. Afastando do governo argentino os conservadores e sua política de proteção aos ricos proprietários de terra, que mantinha a economia sob forte dominação estrangeira.
Chefiando o ministério do Trabalho, o coronel Juan Domingo Perón tornou-se o homem forte do novo regime e estabeleceu uma sólida base de apoio nas classes operárias, através da legislação trabalhista e previdenciária.
Em 1945, porém, Perón foi derrubado e preso pelos militares. O seu carisma e popularidade foram fundamentais nesse momento. O povo participou de campanhas pela sua libertação e Perón acabou sendo solto, graças à mobilização popular, encorajada por seus seguidores do Exército, da Igreja e da política.
Fortalecida numericamente em razão da industrialização do período da Guerra, a classe operária adquiria notável importância eleitoral, uma vez que a migração interna substituíra a vinda de imigrantes estrangeiros. Assim, nas eleições presidenciais de 1946, a vitória peronista marcou o início de uma nova era – a do Justicialismo, doutrina populista inspirada no nazi-fascismo e apresentada como uma terceira posição entre o comunismo e o capitalismo.
Nesse período, a Argentina acumulava divisas com suas exportações. Esse superávit permitiu que Perón adotasse uma política de fortalecimento das indústrias nacionais. Assim, com o financiamento do Estado, o parque industrial argentino cresceu e garantiu mais postos de trabalho. Perón aproximou-se dos sindicatos e introduziu políticas sociais paternalistas que beneficiavam os trabalhadores. Ao mesmo tempo em que atendia às reivindicações trabalhistas, fortalecia os sindicatos que apoiavam o governo.
Aproveitando a prosperidade econômica, o apoio operário foi mantido por uma política social paternalista, administrada com eficiência por Eva Perón, esposa do presidente, que assumiu o duplo papel de “fada madrinha” dos humildes (os “descamisados”) e porta-voz das reivindicações dos trabalhadores. Para tanto, o governo aumentou o controle do Estado sobre a economia e nacionalizou os serviços públicos – ferrovias, telefones, gás e transportes urbanos. Ao mesmo tempo, liquidou a oposição, impondo o unipartidarismo e estatizando os meios de comunicação e os sindicatos.
A Confederação Geral do Trabalho (CGT), uma das grandes organizações trabalhistas, aliou-se ao governo. Já os grupos que contestavam o governo – partidos de oposição, imprensa, setores conservadores e os socialistas – sofriam perseguições.
No início da década de 1950, a economia desacelerou e o custo de vida se elevou. A inflação galopante não permitia mais continuar a política distributiva sem afetar os lucros das classes dominantes. A morte de Evita em 1952 aprofundou a crise, robustecida por denúncias de corrupção no governo e pelo rompimento com a Igreja, acusada de interferir nos assuntos de Estado.
Com isso, a oposição ao regime ficou mais forte entre as Forças Armadas, a Igreja e os setores conservadores. Em 1955, o governo Perón foi derrubado pelos militares e ele partiu para o exílio.
Em 1973 os peronistas, agrupados na Frente Justicialista de Liberdade, lançaram a candidatura de Perón à presidência. Ele retornou ao país e à presidência da República, mas faleceu no ano seguinte. Sua segunda mulher Isabelita Perón, vice de Perón, assumiu a presidência.


Doutrina de Segurança Nacional

A Doutrina de Segurança Nacional foi elaborada pelos EUA com a função de consolidar suas posições no continente e principalmente de protege-lo contra avanços da URSS. Ela foi a base da formação das elites militares latino-americanas após a Segunda Guerra Mundial, realizada nos EUA no National War College e no Colégio Interamericano de Defesa.

Os princípios básicos da doutrina são:

Desenvolvimento – promover o desenvolvimento industrial e da renda nacional dos países subdesenvolvidos, baseado na integração ao capitalismo internacional;

Segurança – surge a noção de “fronteiras ideológicas”, ou seja, os países latino-americanos devem se preocupar com as influências ideológicas e não com a invasão de um inimigo estrangeiro. Assim, seu inimigo está dentro de seu próprio país, veiculando ideias contrárias aos interesses do capitalismo, da democracia e, sobretudo, dos EUA e, por isso, é preciso combatê-lo com todas as armas. O inimigo é, então interno (os “chamados subversivos”), e as atividades militares devem estar voltadas para seu combate (atividades “anti-subversivas”).
Essas ideias desenvolvimentista e da segurança nacional influenciaram dezenas de golpes e governos militares durante as décadas de 1950, 1960 e 1970, formando um verdadeiro “cinturão” militar e autoritário, influenciado e sustentado pelos EUA.




OEA e Tiar

A Organização dos estados Americanos (OEA) foi instituída em 1948, na Conferência de Bogotá, e no início dos anos 60 englobava todos os estados americanos, com exceção de Cuba, expulsa da organização em 1962 devido a sua adesão ao regime comunista.
Com a OEA, cuja sede é em Washington, os países americanos assumiram o compromisso de garantir a paz e a segurança do continente, promover o desenvolvimento econômico, cultural e social, como também procurar soluções pacíficas para resolver os problemas que surgissem entre eles.
Do ponto de vista militar o tratado Interamericano de Ajuda Reciproca (Tiar), assinado no Rio de Janeiro em 1952, é uma reafirmação da OEA, na medida em que constitui uma aliança militar de ajuda mútua entre seus membros e de defesa continental contra agressões de países de outros continentes. O Tiar subordinou as forças Armadas dos Estados americanos à geopolítica de Washington.
O encerramento da Guerra Fria removeu os fundamentos estratégicos que sustentavam a política hemisférica dos Estados Unidos. A OEA já estava reduzida praticamente a um quadro de consultas diplomáticas. O Tiar foi desmoralizado durante a Guerra das Malvinas, em 1982, quando Washington apoiou abertamente a Grã-Bretanha, sua aliada na Otan, contra a Argentina, sua aliada no Tratado hemisférico.


O imperialismo norte-americano

Enquanto a América Latina mergulhava na dependência econômica, os Estados Unidos emergiam como potência, cuja economia, em desenvolvimento acelerado, exigia constantemente a abertura de novos mercados. Após promover a ocupação de seus territórios do Oeste, os norte-americanos voltaram-se para a América Latina, apossando-se de a metade do México em 1848. No final do século XIX, os Estados Unidos começaram a aplicar seus excedentes de capital na América Central, garantindo-os com intervenções militares. Nesse processo, destacam-se a anexação da Zona do Canal de Panamá, em 1903, e a Guerra Hispano-Americana de 1898, que colocou Cuba, Porto Rico e Filipinas sob o domínio de Washington. Essa prática foi justificada pela política do big stick (grande porrete) do presidente Theodore Roosevelt (1901-1909), que proclamava os Estados Unidos como “o guardião do continente”.
Ao contrário do modelo imperialista britânico, baseado na troca desigual de produtos industrializados por matérias-primas, os Estados Unidos definiam-se como uma potência exportadora e reimportadora de capitais, na forma de remessas de lucros obtido em outros países. No fim da Primeira Guerra Mundial, com a Grã-Bretanha abalada, os Estados Unidos avançaram sobre a América do Sul, tradicional mercado inglês. E já na década de 1920 o capital norte-americano superava o britânico em quase todo o continente.
A instalação, em Washington, na década de 1950, do Colégio Interamericano de Defesa, destinado a coordenar as atividades das Forças Armadas continentais, e a criação, em 1961, na Zona do Canal do Panamá, da Escola do Exército Americano para as Américas põem em prática a política anticomunista. Em dez anos, a Escola das Américas, verdadeiro centro formador de quadros para as ditaduras, diploma 33.147 oficiais latino-americanos.

ALGUMAS DAS PRINCIPAIS INTERVENÇÕES DOS ESTADOS UNIDOS NA AMÉRICA LATINA 

1898 Anexação de Porto Rico
1901 imposição de protetorado sobre Cuba
1903 Apoio à separação do Panamá da Colômbia; é firmado o tratado que dá aos Estados Unidos o domínio perpétuo do Canal
1906/1909 Intervenção em Cuba
1909/1912 Ocupação da Nicarágua
1914 Ocupação do Haiti
1914 Inauguração do Canal do Panamá
1916 Ocupação da República Dominicana
1916 Compra das Ilhas Virgens da Dinamarca
1916 Assinatura do tratado que dava direitos de construção de um canal interoceânico na Nicarágua
1927/1933 Ocupação da Nicarágua
1947 Os Estados Unidos forçam o rompimento diplomático entre os países latino-americanos e a União Soviética
1947 Criação do Tratado Interamericano de Ajuda Recíproca (Tiar)
1948 Fundação da Organização dos Estados Americanos (OEA)
1954 Apoio à derrubada do governo da Guatemala
1955 Apoio à derrubada do governo Perón na Argentina ;
1961 Tentativa de invasão de Cuba por exilados e mercenários financiados pela CIA
1962 Pressões diplomáticas para expulsar Cuba da OEA
1964 Apoio ao golpe militar no Brasil
1966 Apoio ao golpe militar na Argentina
1971 Apoio ao golpe militar na Bolívia
1973 Apoio aos golpes militares no Uruguai e Chile Apoio ao golpe militar na Argentina
1976 Apoio ao golpe militar na Argentina
1981/1988 Apoio aos "contras" da Nicarágua
1982 Apoio aos britânicos na Guerra das Malvinas
1983 Invasão de Granada
1985 Apoio à derrubada da ditadura no Haiti
1989 Invasão do Panamá


Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...