segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

O CORONELISMO

Expressão usada para definir a estrutura de poder dos grandes proprietários e das oligarquias agrárias entre o fim do Império e o começo da República. O título ou a patente de "coronel" dos grandes proprietários rurais vem de sua participação na Guarda Nacional, criada em 1831. Durante o Império são eles que, com tropas particulares, asseguram a ordem interna.
Com a República, a Guarda Nacional é extinta, mas os coronéis mantêm o poder em suas terras e em áreas de influência. A partir da instituição do regime representativo e da ampliação do direito de voto, ganham importância os partidos políticos e as eleições.
O coronelismo é a manifestação do poder privado – dos senhores de terra – que coexiste com um regime político de extensa base representativa. Refere-se basicamente a estrutura agrária que fornecia as bases de sustentação do poder privado no interior do Brasil, um país essencialmente agrícola. A maioria da população - colonos, meeiros e posseiros - não tinham terras, dependendo em tudo do coronel: para plantar uma roça, para tratamento médico e até mesmo para aprender ler e escrever o nome.
O coronel tinha com a população de uma área um compromisso total, de vida e morte:
- um compromisso econômico: a sobrevivência da população dependia da boa vontade do coronel que mandava em tudo;
- um compromisso social: o coronel era chefe da "grande família", formada por toda a população que dele dependia. Era protetor, juiz, compadre, padrinho, organizador de festas, conselheiro, etc.;
um compromisso político: o coronel era "dono" da área, controlava o voto dos seus "protegidos", que votava em quem ele mandava. Por isso, esses votos se chamavam "voto de cabresto" ou "voto de curral".
Médicos, advogados, professores, tabeliões, padres, todos eram controlados pelo coronel, com quem trocavam favores.
Definido como um compromisso, uma troca de proveitos entre o Poder Público, progressivamente fortalecido, e a decadente influencia social dos chefes locais, notadamente dos senhores de terras. A força dos coronéis provinha dos serviços que prestavam ao chefe do Executivo, para preparar seu sucessor nas eleições, e aos membros do Legislativo, fornecendo-lhes votos e assim ensejando sua permanecia em novos pleitos, o que tornava fictícia a representação popular, em virtude do voto "manipulado".
Certas atribuições, tais como eleger o governador e o prefeito, criar certos impostos, foram retiradas do poder central e transferidas para os estados e municípios. Essa descentralização, introduzida pela República, fortaleceu o poder local. O coronel tinha de mandar e ser obedecido, era a pratica do "mandonismo local".
Esse poder decorria de sua condição de grande proprietário, e era proporcional à quantidade de terras que possuía. Quanto mais terra, maior era o número de pessoas que dependia do coronel. Os coronéis além de manipular os votos através do voto de cabresto, utilizavam muitas fraudes para ganhar as eleições. Exemplos: documentos eram falsificados para que menores analfabetos pudessem votar; pessoas que já tinham morrido eram escritas como eleitores; urnas eram violadas e votos adulterados; muitas artimanhas eram feitas na contagem de votos.
Mas são os coronéis, articulados nas oligarquias regionais, que garantem a eleição de candidatos dos governos federal e estadual durante a República Velha. Eles fazem a propaganda dos candidatos oficiais, controlam o voto não-secreto dos eleitores e a apuração, chegando quase sempre ao resultado esperado.
"Coronel caudilho" nas coxilhas do Sul, "coronel de barranco" nos rios amazônicos do Norte, "coronel donatário" nos sertões do Nordeste ou "coronel empresário" na cafeicultura do Sudeste: os nomes variam, mas a estrutura de poder é a mesma. Os latifundiários e as oligarquias rurais trocam favores por voto: de botina e enxada a emprego público.
Essa prática se apoia nas velhas relações paternalistas originárias da sociedade colonial e só começa a mudar a partir dos anos 30 e 40, com a urbanização e a industrialização. No interior do país, os laços de fidelidade, lealdade e dependência econômica com os senhores de terras ainda condicionam parte do comportamento político da população local.


O CANGAÇO

O cangaço refere-se aos grupos de pessoas armadas que, com roupas e chapéus de couro, faziam assaltos, matavam opositores, enfim, viviam sob suas próprias regras. esses homens e mulheres, os cangaceiros, estiveram muito presentes no serão nordestino.
O ciclo do cangaço ou do banditismo social durou, no Brasil, setenta anos: 1870 a 1940. Foi típico do Nordeste. Geralmente o bandido social é membro de uma sociedade rural e, por várias razões, encarado como proscrito ou criminoso pelo Estado e pelos grandes proprietários. Apesar disso, continua a fazer parte da sociedade camponesa de que é originário e é considerado como herói por sua gente, seja ele um "justiceiro", um "vingador" ou alguém que rouba aos ricos.
A expressão cangaço está relacionada à palavra canga ou cangalho: uma junta de madeira que une os bois para o trabalho. Assim como os bois carregam as cangas para otimizar o labor, os homens que levam os rifles nas costas são chamados de cangaceiros.
O cangaço advém do século XVIII, tempo em que o sertão ainda não havia sido desbravado. Já naquela época, o cangaceiro Jesuíno Brilhante (vulgo Cabeleira) ataca o Recife, e é preso e enforcado em 1786. De Ribeira do Navio, estado de Pernambuco, surgem também os cangaceiros Cassemiro Honório e Márcula. O cangaço passa a se tornar, então, uma profissão lucrativa, surgindo vários grupos que roubam e matam nas caatingas. São eles: Zé Pereira, os irmãos Porcino, Sebastião Pereira e Antônio Quelé. No começo da história, contudo, eles representam grupos de homens armados a serviço de coronéis.
Em 1897, surge o primeiro cangaceiro importante: Antônio Silvino. Com fama de bandido cavalheiresco, que respeita e ajuda muitos, ele atua, durante 17 anos, nos sertões de Alagoas, Pernambuco e Paraíba.  Um outro cangaceiro famoso é Sebastião Pereira (chamado de Sinhô Pereira), que forma o seu bando em 1916. No começo do século XX, frente ao poder dos coronéis e à ausência de justiça e do cumprimento da lei, tais indivíduos entram no cangaço com o propósito de vingar a honra de suas famílias.
Para combater esse novo fenômeno social, o Poder Público cria as "volantes". Nestas forças policiais, os seus integrantes se disfarçavam de cangaceiros, tentando descobrir os seus esconderijos. Logo, ficava bem difícil saber ao certo quem era quem. Do ponto de vista dos cangaceiros, eles eram, simplesmente, os "macacos". E tais "macacos" atuavam com mais ferocidade do que os próprios cangaceiros, criando um clima de grande violência em todo o sertão nordestino.
Por outro lado, a polícia chama de coiteiros todas as pessoas que, de alguma forma, ajudam os cangaceiros. Os residentes no interior do sertão - moradores, vaqueiros e criadores, por exemplo - se inserem, também, dentro dessa categoria.
Sob ordens superiores, as volantes passam a atuar como verdadeiros "esquadrões da morte", surrando, torturando, sangrando e/ou matando coiteiros e bandidos. Se os cangaceiros, portanto, ao empregar a violência, agem completamente fora da lei, as volantes o fazem com o apoio total da lei.
O sertão nordestino foi sendo conquistado aos índios através da expansão das fazendas de gado. O gado possuíam marcas de ferro para serem identificados e muitas vezes invadiam outra fazendas ou eram roubados por bandos de assaltantes. Um outro fato era a questão da herança. Com a morte do proprietário, o filho mais velho era o único herdeiro, enquanto os outros ficavam em total miséria. Os grandes proprietários procuravam conquistar o direito de figurar como autoridades governamentais em suas áreas, o que também gerava divisões entre eles; todos queriam ser coronéis. O aumento da produção algodoeira no Nordeste, final do século XIX, modificou a economia do sertão. A situação do Nordeste vai se agravando com a seca que assola toda região provocando desemprego seguido de fome e miséria, com isso muitos nordestinos se organizam em bandos para assaltar e conseguir alimentos, surgem também grupos para combater desmandos ou injustiças de algum coronel ou ainda para resistir ao alistamento militar.
Os grupos e subgrupos formados pelos cangaceiros existiam em grande quantidade. Era habitual que depois de participar de um agrupamento durante algum tempo o indivíduo se sentisse apto a ter seu próprio bando. No momento em que achava que estava preparado para ter sua própria organização ele se dirigia a seu líder e expunha seus planos. Geralmente não havia nenhum problema. O mais comum era encontrar respaldo em seu chefe que, por sua vez, sabia que, no futuro, se necessário, poderia contar com a ajuda desse seu ex-subalterno.
Dessa forma os grupos iam se subdividindo ou se reagrupando, num contínuo e alternado processo de divisão e crescimento. Assim surgiam os numerosos líderes de bandos, tantos que a maioria teve seus nomes esquecidos pela história.
Diante deste quadro, podemos destacar o aparecimento e a formação dos bandos autônomos de cangaceiros, independentes dos proprietários rurais. É bom lembrar que muitos coronéis tinham verdadeiros interesses na manutenção e contato com os bandos, por precisarem dos seus serviços. Estes coronéis foram chamados de coiteiros, pois encondiam e protegiam os cangaceiros, fornecendo-lhes muitas vezes alimentos e munição. Dentre os bandos mais famosos, conhecidos pelos nomes dos seus líderes, podemos destacar: João Calangro, Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e Lampião, o "Rei do Cangaço" .

Antônio Silvino

Foi um dos primeiros que formaram um desses grupos de cangaceiros independentes. Nascido em 1875, em Pernambuco, era descendente de uma família tradicional da região. Em 1896, decidido a vingar a morte do pai, juntou-se a um bando já formado, do qual depois se tornou líder. Após liquidarem vários de seus inimigos, os bandoleiros prosseguiram lutando contra a polícia, promovendo assaltos e armando tocaias para autoridades e instituições governamentais.
Silvino considerava as autoridades do governo, em todos os níveis, seu maior inimigo. Andava pelo sertão com um grupo pequeno, quase nunca superior a seis homens fortemente armado. Em 1912, tentou abandonar a vida de cangaceiro e pediu ao governo do Estado que perdoasse seus crimes. Como a resposta foi negativa, voltou a atuar como bandido. Cobrava impostos de comerciantes e negociantes, assaltava trens e não reconhecia nenhum tipo de autoridade legal. Em 1918, acabou sendo capturado no município de Taquaritinga (PE) pelas forças policiais lideradas por José Alvino, ex-comerciante que entrara para a polícia depois de ter sido assaltado por Antonio Silvino e que havia prometido capturar o cangaceiro. Silvino ficou preso por mais de vinte anos; libertado, foi morar com a esposa no Rio de Janeiro. Uma vez lá, solicitou emprego ao presidente Getúlio Vargas. Chegou mesmo a ser recebido pelo presidente, que lhe concedeu o emprego. Morreu em 1944.

LAMPIÃO

Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, nasceu na fazenda de seus pais, no Vale do Pajeú, Pernambuco, em 1897. Era filho de um modesto fazendeiro que foi morar no estado pernambucano após matar inimigos no Ceará, sua terra natal. Depois de novos conflitos entre famílias, foi viver em Alagoas. Na cidade de Água Branca, seus filhos, incluindo Virgulino, começaram a participar de um grupo de cangaceiros. A polícia alagoana passou a perseguir os Ferreira da Silva, após um ataque a vila. O pai de Lampião acabou sendo assassinado pela polícia. Em seguida morreu a mãe, e os irmãos regressaram para Pernambuco. Em 1918, Lampião ingressou no bando formado por Sinhô Pereira, descendente de família rica e influente de Pernambuco. Ganhou então o apelido por ser muito rápido no gatilho e porque sua arma saía um constante clarão dos disparos, como um lampião. Em 1922, Sinhô Pereira abandonou a região e Lampião se tornou o chefe do bando.
As lutas de famílias propiciaram o banditismo, em que coiteiros, por hostilidade aos inimigos de Lampião, ou temor de represálias que não tinham limites, cooperavam para o insucesso da perseguição policial. Com Lampião, vigorou a lei do extermínio, indo do estupro ao incêndio, do saque ao assassinato frio. Na época da Coluna de Prestes, Lampião foi convidado a colaborar com o governo por intermédio do Padre Cícero, que lhe ofereceu a patente de capitão. Aproveitou-se do momento para armar melhor todo o seu bando. Fazia dos sertões de Sergipe e da Bahia seu quartel-general, de onde irradiava sua influência para os outros Estados do Nordeste, como Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Chegou a investir contra a cidade de Mossoró, que só se salvou pela ação de seus moradores. Cercou e dominou várias cidades e povoados da região, saqueando o comércio, devastando fazendas, sacrificando vidas. Em 1929, Lampião conheceu Maria Bonita, que abandonou o marido para acompanhá-lo. Foi a primeira mulher a ser admitida no grupo de cangaceiros. Depois disso, vários cangaceiros tiveram companheiras vivendo com o grupo. Maria Bonita e as outras mulheres lutavam com o bando, assumindo o papel de cangaceiras. Vários cangaceiros tiveram seus nomes gravados pela história, mas nenhum deles destacou-se tanto quanto Lampião.
Lampião, ao contrário do que muita gente pensa, não foi o primeiro cangaceiro, mas foi, praticamente, o último. Sem dúvida nenhuma foi o mais importante e o mais famoso de todos. Seu nome e seus feitos chegaram a todos os recantos de nosso país e até ao exterior, sendo objeto de reportagens da imprensa internacional.
Até o advento de Lampião, como passou a ser conhecido a partir de certo momento de sua vida, o cangaço era apenas um fenômeno regional, limitado ao nordeste do Brasil. O restante do país não se incomodava com o que não lhe dizia respeito. Mas a presença de Lampião, sua ousadia e seu destemor, fizeram do cangaceiro uma figura de destaque nos noticiários diários do país inteiro, exigindo atenção cada vez maior por parte das autoridades, que se sentiram publicamente desafiadas a liquidá-lo. Passou a ser uma questão de honra acabar com Lampião e, por via de consequência, com o cangaço.
Nos anos 1930, Lampião e Maria Bonita instalaram-se em uma fazenda em angico, no Sergipe. De lá ele comandava as várias células do grupo e participava de algumas incursões.
Em Angico, Lampião foi traído por um vaqueiro que denunciou quem sabia seu paradeiro. Pedro de Cândida, coiteiro de Lampião, foi preso em 1938 e pressionado a revelar o esconderijo e a acompanhar a polícia até o local. Lá chegando, os policiais surpreenderam parte do grupo de Lampião
Combateram pouco tempo e, entre os mortos, o mais temido personagem que já cruzou os sertões do Nordeste: Lampião. Foram necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião e seu bando fossem mortos. No momento da sua morte, levava consigo 5 quilos de ouro e uma quantia em dinheiro equivalente a 600 mil reais. Estava decretado o fim do cangaço.
Os cadáveres foram mutilados. As cabeças de Lampião, Maria Bonita, Luís Pedro e outros ficaram, quase 30 anos, exportas ao público, em Salvador, no Museu Nina Rodrigues. As façanhas de Lampião geraram todo um ciclo na literatura de cordel do Nordeste. Por sua inteligência e destreza, Lampião até hoje é considerado o Rei do Cangaço.
A morte dos cangaceiros insere-se no contexto da implementação da ditadura do Estado Novo, quando uma nova ordem jurídica e um maior controle do Estado sobre a vida local foram estabelecidas. Isso favoreceu a redução da corrupção nos órgãos do governo e limitou a ação dos coronéis.
Vários subgrupos ligados a Lampião que escaparam da chacina se entregaram a polícia. Contudo um deles, chefiado por Corisco, continuou em ação. Depois da morte de Lampião, passou a perseguir seus supostos delatores e matadores. Vários foram assassinados até que, em 1940, o próprio Corisco foi morto em perseguição.




domingo, 25 de dezembro de 2022

O Golpe no Uruguai

Também o Uruguai ficou sob regime ditatorial, entre 1973 e 1985. No Uruguai, a ditadura civil-militar foi precedida por um cenário de intensa polarização política. De um lado, governos civis autoritários e, de outro, o grupo guerrilheiro de esquerda Tupamaros. O grupo Tupamaros surgiu no início dos anos 1960, impulsionado pela crise econômica pela qual o país passava e pela crescente insatisfação popular. Em 1965, para reprimir as ações dos guerrilheiros, a polícia e o serviço secreto uruguaio passaram a ser treinados por membros da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA). Entre 1968 e 1972, governos civis autoritários decretaram estado de sítio no país, suspenderam vários direitos dos cidadãos e intensificaram o combate aos Tupamaros.

Em 7 de junho de 1973, o presidente uruguaio Juan María Bordaberry, com apoio dos militares, deu um golpe de estado no país. Em cadeia de rádio e televisão foi divulgado o decreto presidencial, dissolvendo o Congresso e substituindo-o por um Conselho de Estado, formado por dez militares e dez civis. Bordaberry, eleito democraticamente, dera plenos poderes para que os militares combatessem os guerrilheiros tupamaros logo que assumiu, no início de março do mesmo ano. 

Os militares que foram encarregados de combater a guerrilha urbana dos Tupamaros intervieram, pela primeira vez, na vida política do país, desmantelaram a guerrilha e apoderou-se do poder. Então, em 1973, os militares impuseram uma ditadura que perdurou até 1985. Nesse período, os direitos civis foram frequentemente desrespeitados, os partidos políticos foram proibidos, os sindicatos, considerados ilegais e foram implantadas a censura e a perseguição de opositores.

Decididos a seguir o modelo militar brasileiro, mantiveram como presidente primeiro Bordaberry e, depois Aparício Méndez, os dois civis, formalmente como chefes de Estado. Torturas, assassinatos, sequestros de oposicionistas na Argentina e no Brasil e censura foram tônica política do período.

Na área econômica, o Plano Nacional de Desenvolvimento de 1973-1977, formulado em 1972, foi posto em prática. A economia do Uruguai cresceu, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou e o comércio exterior foi reestruturado. A política econômica se orientava pelas exportações não tradicionais e pela entrada, no país, de investimentos estrangeiros.

No entanto, nem a repressão, o arrocho salarial, a abertura ao capital estrangeiro conseguiram superar a crise. A economia continuou a declinar. Contudo, os benefícios da política econômica beneficiavam os grupos da elite, que passaram a concentrar cada vez mais a riqueza em suas mãos. O valor dos salários dos trabalhadores caiu muito e a má distribuição de renda provocou a exclusão econômica e social dos trabalhadores e das camadas mais pobres da sociedade, ao mesmo tempo que garantia o enriquecimento de empresários e de membros da elite.

Calcula-se que, entre 1972 e 1976, cerca de 1 milhão de uruguaios emigraram para Argentina, Estados Unidos e Austrália. Durante o regime militar uruguaio, houve indícios de que as polícias políticas e os serviços de informação militares deste país atuaram em com os serviços semelhantes da Argentina, Brasil, Bolívia e Chile nos sequestros e assassinatos de presos políticos.
Os tupamaros eram um grupo de guerrilheiros de esquerda que lutavam para transformar o Uruguai num país socialista. A repressão foi tão brutal quanto a da Argentina e do Chile, deixando um grande número de militantes mortos e desaparecidos, além de provocar o exílio de grande número de oponentes do regime.

O Movimento de Liberação Nacional Tupamaros foi um movimento político de esquerda uruguaio que atuou como guerrilha urbana durante os anos 1960 e início dos anos 1970. Desde 1989, os Tupamaros se integraram à coalizão política Frente Ampla, da qual faziam parte muitos representantes do Movimento de Participação Popular. Fotografia de 1985, por ocasião da libertação dos presos políticos.



sábado, 24 de dezembro de 2022

A China Contemporânea

Os primeiros anos após a revolução foram de fechamento total para o exterior. A preocupação do novo governo era organizar a produção, sobretudo agrícola, a fim de garantir meios de sobrevivência a gigantesca população chinesa. Foram criadas cooperativas, nas quais os camponeses se reuniam para vender seus produtos e onde recebiam apoio financeiro, sementes e adubos para o cultivo. Foram organizadas também comunas, agrupamento de camponeses que produziam gêneros agrícolas, bem como produtos industriais em fábricas autogerenciadas.
Além da produção agrícola, o governo estimulou a exploração de carvão, a produção de aço e de maquinas, a construção de barragens para irrigação e canalização de rios, a construção de usinas hidrelétricas e a fabricação de armamentos pesados. A pesquisa nuclear e de exploração espacial também teve destaque; na década de 1960 a China explodia sua primeira bomba atômica, e na década de 1970 lançava seu primeiro satélite artificial.
Toda a atividade econômica era dirigida pelo Estado, que se responsabilizava pela planificação de todas as áreas da produção. Foi abolida a propriedade privada.
Nas primeiras décadas após a vitória da revolução socialista de 1949, a china manteve um relacionamento muito estreito com a União Soviética. Técnicos soviéticos trabalhavam em projetos industriais e de pesquisa em território chinês. Por volta de 1958 ocorreram desentendimentos entre o governo chinês e o governo soviético, fato que causou a retirada de todos os técnicos da União Soviética.
Devido ao fato de a população chinesa ser extremamente numerosa, boa parte dos trabalhos de construção de barragens e de canais era feita manualmente por milhões de trabalhadores, homens e mulheres, que faziam as tarefas em comum, agrupados em verdadeiros batalhões e seguindo padrões de disciplina militar. A mentalidade comunista, segundo Mao Tse-tung, devia basear-se na satisfação das necessidades coletivas e não individuais. A execução de obras públicas tinha por objetivo criar frentes de trabalho para o maior número possível de chineses.
A padronização e a igualdade social eram estampadas até mesmo nas roupas, iguais para todos, homens e mulheres: uma túnica cinza, fechada com grandes botões, com bolsos também grandes fechados por botões e calças da mesma cor. Na cabeça, um boné. Todos os chineses do presidente Mao ao trabalhador, vestiam-se com essa roupa. O objetivo era baratear seu custo e evitar distinção entre as pessoas.
Embora tenham-se alcançado resultados impressionantes, como a eliminação da miséria e da fome, redução do analfabetismo, garantia de assistência médica básica a toda a população, nem todos os problemas foram resolvidos. Faltavam habitações, e na área política houve uma crescente centralização.

A Revolução Cultural

Os estudiosos da China comunista afirmam que Mao temia um afrouxamento da participação política dos chineses. Para evitá-lo, idealizou em 1966 a Revolução Cultural: movimento de mobilização de estudantes e operários destinado a denunciar as pessoas que estariam se desviando dos princípios comunistas. Milhões de estudantes abandonaram as escolas e foram para o campo ajudar nos trabalhos de plantio e colheita, ao mesmo tempo que faziam pregação da doutrina comunista ensinada por Mao Tse-tung. Essa doutrina estava expressa em pequenas frases num livro chamado Os pensamentos do presidente Mao. Milhões de exemplares do livro foram distribuídos por toda a China. O livro foi também traduzido para muitas línguas e publicado em quase todos os países, inclusive no Brasil.
A atividade política dos estudantes e trabalhadores chineses ecoou em países da Europa e outros pontos do mundo ocidental, onde grupos estudantis se manifestavam a favor de reformas de cunho socialista. Em 1968, na França, uma mobilização de estudantes ameaçou derrubar o próprio governo. Movimentos guerrilheiros surgiram em muitos lugares, baseados nas ideias de pregadas por Mao Tse-tung.
A Revolução Cultural, contudo, provocou excessos, como violência contra intelectuais, dirigentes e chefes suspeitos de não se identificarem plenamente com o governo. Muitas pessoas foram perseguidas. Altos dirigentes perderam seus cargos, entre eles Deng Xiaoping, de quem falaremos mais adiante. O deslocamento de milhões de estudantes e operários pelo país – com o objetivo de reeducação – causou problemas na produção, comprometendo o abastecimento de gêneros de primeira necessidade.
O processo da Revolução Cultural dividiu o país. De um lado, estavam os seguidores de Mao Tse-tung, de outro, os chamados revisionistas, aqueles que não compartilhavam totalmente com a ideologia do líder, chamado na imprensa oficial de “o grande timoneiro”.

Começam as mudanças

Após o esmorecimento do movimento da Revolução Cultural, os dirigentes moderados voltaram a ter papel decisivo na condução do país. Um deles era o primeiro-ministro Chu Em-lai. Convencido da necessidade de procurar aliados e parceiros políticos e econômicos fora do mundo socialista, os dirigentes chineses iniciaram uma aproximação com os Estados Unidos. Assim, em 1972, o presidente Nixon foi convidado a visitar a China. Era o início de uma abertura comercial e cultural, depois de décadas de isolamento. Ao aproximar-se dos Estados Unidos, o governo chinês procurava contrapor-se à União Soviética, agora sua inimiga.
Mao Tse-tung, que havia comandado o país desde 1949, morreu em 1976. Seus aliados perderam rapidamente o poder, e os dirigentes moderados assumiram a condução do governo. Um dos novos governantes era Deng Xiaoping, afastado durante a Revolução Cultural. Sob sua liderança, o governo deu início a um programa de reformas econômicas, cujo objetivo era tentar alcançar o desenvolvimento tecnológico do Ocidente, do qual a China estava ainda muito longe.

A China na virada do século

A China, o país mais populoso do mundo (cerca de 1,3 bilhão de habitantes), cresceu de forma espetacular – cerca de 10% ao ano no período (1990-1999). Esse crescimento deveu-se sobretudo ao processo de reformas empreendido pelo governo chinês a partir de 1978. Esse  processo inclui: as Quatro Grandes Modernizações (da indústria, da agricultura, da ciência e tecnologia e das Forças Armadas); a criação de Zonas Econômicas Especiais (ZEE), que receberam investimentos estrangeiros volumosos; a transferência de parte da produção agrícola para a iniciativa privada. Tal modelo, que combina o controle governamental sobre setores estratégicos – como energia e comunicações – com o domínio da iniciativa privada sobre vários outros, é chamado de economia socialista de mercado.

Assim, o governo chinês implementou uma abertura econômica planejada:

- criou Zonas Econômicas especiais (ZEEs), áreas abertas a empresas e investimentos estrangeiros; 

- concedeu isenções fiscais a empresas que dessejassem montar filiais nas ZEEs;

- promoveu a construção de grandes obras públicas de infraestrutura (estradas de rodagem, usinas, ferrovias);

- incentivou a criação de pequenas empresas privadas. Mas manteve sob seu controle setores estratégicos com a permissão que a iniciativa privada atue em outros setores.

Oferecendo mão-de-obra barata e infraestrutura para instalação de empresas, o governo chinês tem conseguido atrair capitais estrangeiros volumosos, que, além de estimular o crescimento da economia, favorecem a venda de seus produtos para o mundo todo. Daí, por exemplo, a avalanche de produtos que entraram no Brasil na última década.

Dois fatos recentes deram novo impulso à economia chinesa: a devolução para a china de Hong Kong (ex-Grã-Bretanha) e de Macau (ex-Portugal), Hong Kong, um dos portos mais movimentados da Ásia, devolvida em 1997, é um grade centro financeiro; Macau, devolvida em 1999, vive sobretudo do turismo.

O dinamismo da economia chinesa, a tendência ao padrão de vida dos chineses continuar se elevando e os baixos preços dos transportes, moradia, alimentação, vestuário, educação, assistência médica, cultura e serviços fazem da China atual uma potência econômica de primeira grandeza.

Abertura econômica, consumo e ditadura

    A aproximação com os Estados Unidos transformou a economia chinesa. Além da modernização industrial, provocou forte aumento do consumo.

    A agricultura teve sua produtividade elevada, e a indústria leve voltou-se para o mercado externo, criando milhares de novos empregos. O país conseguia empréstimos a juros baixos junto a bancos estrangeiros e, assim, importava unidades industriais de base que deram suporte para, por exemplo, o desenvolvimento das ferrovias.

    Do ponto de vista dos direitos civis e políticos, entretanto, os avanços foram quase nulos. A China manteve o Regime comunista de partido único, no qual as manifestações de oposição eram fortemente reprimidas.

    Em 1991, com o fim da Guerra Fria, essa situação de parceria privilegiada China-Estados Unidos mudaria.


Desde o início dos anos 2000, as ruas de Xangai, Já estavam repletas de logomarcas norte-americanas. Fotografia de 2007

A iniciativa privada voltou a ser permitida. As cooperativas agrícolas e as comunas foram, aos poucos, desativadas. O capital estrangeiro foi admitido no país. Essas reformas provocaram uma reviravolta na sociedade chinesa. A economia passou a crescer. Começaram a surgir em todas as grandes cidades empreendimentos de toda sorte, originados de investimentos japoneses, americanos, coreanos, etc.
As reformas na economia prosseguiram. A prosperidade econômica, contudo, reativou antigos problemas, como prostituição, contrabando, corrupção e tráfico de drogas.

Mas, no plano político, os novos dirigentes nada fizeram para criar instituições livres e democráticas.  A China mantém o regime de partido único (PCC), e o governo tem praticado atos arbitrários e ditatoriais, o que tem gerado protestos populares. A china, sob o governo do Partido Comunista, continuou reprimindo brutalmente as manifestações populares. Um dos episódios que mais chocaram a opinião mundial foi o massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989. Quando cerca de 1 milhão de pessoas aglutinaram-se para exigir a abertura política do regime. O exército chinês respondeu matando centenas de manifestantes. A manifestação, que pedia democracia, terminou sob a mira de canhões de guerra, levando à morte mais de 1400 pessoas.

A força da China

Na última década do século XX, a china aparecia como um dos mais fortes polos da economia mundial. Tornou-se grande exportadora de produtos industrializados: tecidos, calçados, roupas, brinquedos, etc.
Nas décadas seguintes, a China cresceu em média 9,5% ao ano. os motivos desse crescimento tem sido objeto de debate, mas os fatores mais citados são:
- investimentos estrangeiros diretos de empresas transnacionais, que montaram filiais na China atraídas pela mão de obra farta e barata; isenção de impostos para a importação de matérias-primas, peças e componentes; infraestrutura adequada e o tamanho do mercado chinês;
- política industrial com incentivos fiscais para empresas localizadas nas ZEEs;
-ênfase no comércio internacional; a entrada da china na Organização Mundial do comércio (OMC), em 2001, ajudou o país a obter consecutivos saldos na balança comercial; além disso, o governo tem mantido o câmbio desvalorizado como forma de incentivar as importações;
- disponibilidade de capital e de mão de obra qualificada, reflexo da grande importância que os chineses dão à educação e à formação profissional;
- semana de 7 dias de trabalho e 15 dias de férias por ano. 
Esses fatores, somados, foram os principais responsáveis pelo aumento da competitividade e pelo crescimento constante da China nas últimas décadas (em 2012, o PIB chinês foi de 7,5%, apesar da crise econômica que atingiu com força os EUA e a Europa). Em 2012, pela primeira vez a China ultrapassou os Estados Unidos, no tocante ao fluxo de comércio, e, com isso, se tornou a maior potência comercial do mundo.
A China ingressou no FMI, Banco Mundial e OMC. Além disso, estabeleceu novas relações estratégica com a Rússia, no quadro da Organização Xangai de Cooperação, e iniciou programas de cooperação econômica com diversos países africanos, a fim de facilitar os negócios de suas empresas petrolíferas em novas áreas de extração na África.
A modernização militar é uma dimensão crucial estratégica de "ascensão pacífica". A China investe pesadamente nas tecnologias espaciais e já colocou astronauta em órbita terrestre. E desde então, alcançou diversos avanços em projetos espaciais. Em 2007, num teste bem-sucedido, um míssil chinês destruiu um antigo satélite meteorológico em órbita. O BeiDou-2, um sistema de posicionamento global que pretende concorrer com o GPS norte-americano, entrou em operação final em 2011.
Como provam os indicadores econômicos, a China é hoje uma potência econômica de primeira grandeza. Mas o país continua enfrentando graves problemas em outras áreas, como a existência de 150 milhões de pessoas vivendo na pobreza, altos índices de poluição do ar, baixos salários, regime de partido único (PCCh), falta de liberdade de expressão, entre outros. Esses fatores, somados, tem gerado inúmeras reações populares.




sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Conferência de Bandung - Os países não alinhados

Enquanto os EUA e a URSS disputavam áreas de influência, as potências imperialistas europeias, desgastadas pela guerra, não conseguiram impedir o processo de independência de suas colônias na Ásia e na África. Muitos dos governantes dessas novas nações independentes não pretendiam se "alinhar" a um dos dois blocos, o norte-americano ou o soviético.
Um acontecimento de destaque na luta contra a dominação colonialista e o subdesenvolvimento ocorreu em abril de 1955, na Indonésia: a Conferência Afro-Asiática de Bandung.
Convocada pelos líderes da Indonésia, índia, Birmânia (atual Mianmá), Ceilão (hoje Sri Lanka) e Paquistão – países que haviam alcançado poucos anos antes sua independência ̶ , essa conferência constituiu um marco importante na organização política dos países do chamado Terceiro Mundo (países subdesenvolvidos).
No documentário final da conferência, firmado pelos representantes dos 29 países participantes, destacavam-se os seguintes pontos:
· Rejeição à divisão mundial nos blocos socialista e capitalista e defesa de uma política de não alinhamento automático com as superpotências;
· Condenação do racismo e da corrida armamentista;
· Proclamação do direito de autodeterminação política, reprovando-se, portanto, o colonialismo (dominação direta da metrópole sobre a colônia) e o neocolonialismo (dominação mascarada, realizada por meio de práticas econômicas imperialistas);
· Afirmação de que a submissão imposta aos povos afro-asiáticos era uma negação dos direitos fundamentais do homem e estava em contradição com a Carta das Nações Unidas, sendo um obstáculo à paz e à cooperação mundial.

Os países não alinhados

Esses países deram início ao grupo que ficou conhecido como Movimento dos Países Não Alinhados, ao qual aderiram a Índia, o Egito, a Iugoslávia, entre outros. Entre os Não Alinhados, havia países de regime socialista e também de regime capitalista. Eles rejeitaram a ideia de divisão do planeta em dois blocos ideológicos, o capitalista e o socialista, e enfatizaram que o mundo, na realidade, estava dividido entre países ricos e países pobres.
Dessa forma, os Não Alinhados se autodefiniram como países formadores do Terceiro Mundo, criando o chamado terceiro-mundismo; enquanto o Primeiro Mundo seria constituído pelos países capitalistas desenvolvidos aliados aos EUA, e o Segundo Mundo seria composto pelos países socialistas desenvolvidos alinhados à URSS.
Quando se realizou a Conferência de Bandung, 14 países asiáticos já tinham conseguido sua emancipação política. Todas as nações africanas,no entanto, ainda estavam submetidas à dominação colonial, com exceção da Líbia. Nos anos seguintes à conferência, porém, o processo de descolonização da África acelerou-se e, até o ano de 1960, 23 países africanos já haviam conquistado sua independência. Até 1980, outras 23 nações africanas e mais 12 nações asiáticas e oceânicas alcançaram igual destino.

 Formas de ruptura

O processo de ruptura dos distintos países da África, da Ásia e da Oceania com as metrópoles deu-se de duas formas:

· Ruptura pacífica – alcançada mediante acordos firmados com as metrópoles. Nessa forma de ruptura, estas reconheciam formalmente a emancipação política das colônias, mas procuravam preservar, ao menos em parte, as relações econômicas de dominação;

· Ruptura violenta – alcançada mediante o confronto armado entre as forças das metrópoles e as tropas de libertação das colônias. Essa forma de ruptura ocorreu principalmente quando a luta pela independência política transformava-se em luta contra a dominação imperialista, apontando para a construção de uma sociedade socialista.
A ruptura dos laços coloniais não significou, no entanto, a conquista imediata da paz e do bem-estar almejados pelas ex-sociedades coloniais da Ásia, da África e da Oceania. Frequentemente, os processos de independência desdobraram-se numa séria de lutas internas, envolvendo movimentos políticos ou grupos étnicos rivais, que passaram a disputar o controle do poder nas diferentes regiões.

A Carta de Bandung definiu dez princípios políticos que podem ser considerados a plataforma original do terceiro-mundismo. Esses princípios enfatizavam os direitos humanos e a denúncia do racismo, a igualdade entre as nações, o respeito à soberania e autodeterminação dos Estados, a necessidade de solução pacífica dos conflitos internacionais e, finalmente, a recusa de participar dos mecanismos de defesa coletiva controlados pelas superpotências. Os princípios, no seu conjunto, refletiam a luta anticolonial e as novas realidades geopolíticas do sistema internacional.

Logo depois da conferencia, começou a ser articulado o Movimento dos Países Não Alinhados. A articulação baseou-se na colaboração entre Nasser, do Egito, Nehru, da Índia, e Tito, da Iugoslávia. O projeto consistia em criar uma organização estável, que funcionaria como terceira força, equidistantes das superpotências capaz de influenciar decisivamente a Assembleia Geral da ONU.




EUA - Da crise à vitória na Guerra Fria

O presidente republicano Richard Nixon (1969-1974) realizou a retirada das tropas americanas do “atoleiro vietnamita”, que já tinha custado a vida de 55 mil soldados, além dos trezentos mil feridos. Na política interna, o governo foi atingido por um escândalo de espionagem eleitoral, conhecido como Caso Watergate, que levou o presidente Nixon a renunciar, em 1974. A presidência foi assumida pelo republicano Gerald Ford (1974-1975), que completou o mandato de Nixon e retirou as últimas tropas do Vietnã.
A derrota no Vietnã e o escândalo Watergate mergulharam o país numa grave crise política e social. Essa crise foi agravada pelas dificuldades econômicas e pelo desemprego, causados principalmente pelos duzentos bilhões de dólares gastos na Guerra do Vietnã. A crise vivida pelo país levou a eleição do democrata Jimmy Carter (1976-1980), com um programa de governo baseado no respeito aos direitos humanos. Contudo, nessa época, os Estados Unidos se debilitaram ainda mais no plano internacional com a invasão soviética no Afeganistão, em 1979, o triunfo da Revolução Islâmica no Irã e a vitória da Revolução Sandinista na Nicarágua. Dentro do país agravou-se a crise econômica, com o aumento da inflação e do desemprego. Tanto interna como externamente parecia que os Estados Unidos haviam entrado em decadência. Alguns analista da política internacional passaram a usar a expressão “declínio americano”, prevendo uma continua perda de influência no plano internacional. Estavam errados.

A vitória na Guerra Fria

Foi no auge da crise norte-americana que Ronald Reagan (1981-1988), candidato do Partido Republicano, foi eleito presidente do país. Seu programa defendia a restauração da liderança política mundial e da supremacia militar dos Estados Unidos. Com esse objetivo, o governo Reagan desencadeou uma corrida armamentista contra os soviéticos, conhecida como Segunda Guerra Fria. Essa política belicista (a favor da guerra) foi denominada Iniciativa de Defesa Estratégica (IDE), mais conhecida como guerra nas estrelas.
A União Soviética não conseguia mais acompanhar o rival norte-americano, cujos gastos militares eram enormes. Isso contribuiu de forma decisiva para a vitória dos Estados Unidos na Guerra Fria. Essa política armamentista, porém, acabou por endividar o governo norte-americano, que passou de credor a devedor do mundo. Esse foi o preço a ser pago para reconquistar a posição, sem rival, de primeira superpotência do mundo.


A Argentina peronista

Em 1941, o militar Juan Domingo Perón fundou o Grupo de Oficiais Unidos (GOU), de tendências fascistas. GOU organizou, em 1943, um golpe de Estado que depôs o então presidente Ramón Castillo. Afastando do governo argentino os conservadores e sua política de proteção aos ricos proprietários de terra, que mantinha a economia sob forte dominação estrangeira.
Chefiando o ministério do Trabalho, o coronel Juan Domingo Perón tornou-se o homem forte do novo regime e estabeleceu uma sólida base de apoio nas classes operárias, através da legislação trabalhista e previdenciária.
Em 1945, porém, Perón foi derrubado e preso pelos militares. O seu carisma e popularidade foram fundamentais nesse momento. O povo participou de campanhas pela sua libertação e Perón acabou sendo solto, graças à mobilização popular, encorajada por seus seguidores do Exército, da Igreja e da política.
Fortalecida numericamente em razão da industrialização do período da Guerra, a classe operária adquiria notável importância eleitoral, uma vez que a migração interna substituíra a vinda de imigrantes estrangeiros. Assim, nas eleições presidenciais de 1946, a vitória peronista marcou o início de uma nova era – a do Justicialismo, doutrina populista inspirada no nazi-fascismo e apresentada como uma terceira posição entre o comunismo e o capitalismo.
Nesse período, a Argentina acumulava divisas com suas exportações. Esse superávit permitiu que Perón adotasse uma política de fortalecimento das indústrias nacionais. Assim, com o financiamento do Estado, o parque industrial argentino cresceu e garantiu mais postos de trabalho. Perón aproximou-se dos sindicatos e introduziu políticas sociais paternalistas que beneficiavam os trabalhadores. Ao mesmo tempo em que atendia às reivindicações trabalhistas, fortalecia os sindicatos que apoiavam o governo.
Aproveitando a prosperidade econômica, o apoio operário foi mantido por uma política social paternalista, administrada com eficiência por Eva Perón, esposa do presidente, que assumiu o duplo papel de “fada madrinha” dos humildes (os “descamisados”) e porta-voz das reivindicações dos trabalhadores. Para tanto, o governo aumentou o controle do Estado sobre a economia e nacionalizou os serviços públicos – ferrovias, telefones, gás e transportes urbanos. Ao mesmo tempo, liquidou a oposição, impondo o unipartidarismo e estatizando os meios de comunicação e os sindicatos.
A Confederação Geral do Trabalho (CGT), uma das grandes organizações trabalhistas, aliou-se ao governo. Já os grupos que contestavam o governo – partidos de oposição, imprensa, setores conservadores e os socialistas – sofriam perseguições.
No início da década de 1950, a economia desacelerou e o custo de vida se elevou. A inflação galopante não permitia mais continuar a política distributiva sem afetar os lucros das classes dominantes. A morte de Evita em 1952 aprofundou a crise, robustecida por denúncias de corrupção no governo e pelo rompimento com a Igreja, acusada de interferir nos assuntos de Estado.
Com isso, a oposição ao regime ficou mais forte entre as Forças Armadas, a Igreja e os setores conservadores. Em 1955, o governo Perón foi derrubado pelos militares e ele partiu para o exílio.
Em 1973 os peronistas, agrupados na Frente Justicialista de Liberdade, lançaram a candidatura de Perón à presidência. Ele retornou ao país e à presidência da República, mas faleceu no ano seguinte. Sua segunda mulher Isabelita Perón, vice de Perón, assumiu a presidência.


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