domingo, 24 de setembro de 2023

A cultura medieval

A Idade Média foi chamada pelos renascentistas de Idade das Trevas. Esse nome surgiu porque eles consideravam que naquele período da história europeia as artes e o conhecimento pouco teriam se desenvolvido. Mas será que o mundo medieval foi mesmo época de trevas, ignorância e escuridão?

Na verdade, os renascentistas desejavam salientar a diferença entre o momento em que viviam e o período anterior que, segundo eles, era dominado pela religião. Tudo era explicado pelos dogmas da Igreja católica, tudo ocorria conforme a vontade de Deus. Os renascentistas não desacreditavam na existência de Deus, mas desejavam colocar o ser humano no centro das artes e do conhecimento.
O historiador Roberto Lopez defendendo outro ponto de vista, afirma que a Idade Média ocidental foi “a grande caluniada”. Impingiram-lhe expressões como “Idade das Trevas”, “longa noite de mil anos” e outros tantos títulos pejorativos. Esses julgamentos parciais tendem a ser ultrapassados, pois a riqueza da cultura medieval salta aos olhos. Foi durante a Idade Média que ocorreram: o triunfo do cristianismo como força unificadora da Europa; o desenvolvimento das línguas e literaturas europeias; a criação das universidades, das catedrais, da arte gótica, da filosofia cristã, entre muitos outros eventos culturais.
Na época medieval, ainda não existia o conceito geográfico de Europa nem, portanto, de europeu. E como a maioria dos europeus tinha se convertido ao cristianismo, eles se denominavam simplesmente “cristãos”, tal era a sua identificação com a religião cristã. Foi só a partir do século XIV que o conceito geográfico e cultural de Europa começou a se firmar, substituindo, aos poucos, a noção de cristandade. Esse fato é uma expressão da importância do cristianismo dentro da sociedade medieval europeia. Sua influência impactou uma série de elementos culturais dessas sociedades: os costumes, a moral, as normas jurídicas, a produção literária, o ideal das figuras heroicas, a criação artística (música, pintura, escultura, arquitetura etc.).

A produção cultural na Idade Média

A partir dos séculos IV e V, como vimos, o Império Romano do Ocidente começou a se desestruturar. Crise econômica, dificuldades em manter as fronteiras e a invasão de povos inimigos, sobretudo de origem germânica, eram alguns dos problemas enfrentados pelos romanos.
Esse cenário contribuiu para uma transformação radical na vida cultural dos povos europeus. Com o tempo, os costumes romanos e germânicos se misturaram, dando origem ao mundo feudal. Nele, os mosteiros e as abadias tornaram-se um dos principais centros de produção cultural.
Além da produção teológica, essas instituições contribuíram para conservar a cultura da Antiguidade por meio do trabalho dos monges copistas, que passavam longo tempo reproduzindo manuscritos antigos.
Na Idade Média, assim como na Antiguidade, eram poucas as pessoas que sabiam ler e escrever. A maioria da leitura era feita em voz alta para um grupo de ouvintes, como nas missas. Por isso, os textos eram todos preparados para serem lidos em público, com imagens fortes e teatralizadas.
As pessoas mais instruídas pertenciam à Igreja, que controlava grande parte das atividades artísticas, literárias e intelectuais da época. O controle da leitura e da escrita era uma forma de a Igreja manter seu poder e de impedir que as pessoas pensassem diferentemente de seus dogmas.

A produção literária

A maior parte da literatura foi escrita em latim e tratava de temas religiosos. O principal objetivo dessa produção era comprovar a existência de Deus e da alma.
Nessa época, o universo era compreendido dentro de uma hierarquia de seres. No topo dessa hierarquia estava Deus, seguido pelos arcanjos, anjos, chegando até os seres humanos, os animais, os vegetais e os minerais. A concepção de um universo hierarquizado foi importante para justificar a ordem social existente, na qual os reis deviam obediência à Igreja, os servos aos senhores, etc.
As ideias dos filósofos gregos Platão e Aristóteles foram as que mais influenciaram o pensamento medieval. A obra dos gregos soma-se as de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino. Ensinado nas universidades, que surgiram a partir do século XII, esse conjunto de ideias ficou conhecido como Escolástica.
Por volta do século XII, começaria a surgir uma literatura não mais voltada apenas para a compreensão do universo cristão. Ela não seria escrita exclusivamente em latim, mas também na língua própria de cada região. Por exemplo, poemas narrando feitos heróicos sobre as batalhas de Carlos Magno foram escritos no idioma falado no norte de seu império.
Na península Itálica, no final do século XIII e início do século XIV, destacou-se o poeta Dante Alighieri, considerado o fundador da literatura italiana.

O conhecimento na Idade Média


A educação era controlada basicamente pelo clero católico. Além das escolas dos mosteiros, fundaram-se, no século XI, as escolas junto às catedrais. Quase todo o ensino estava sob o controle da Igreja e era voltado para a vida religiosa. Os primeiros estudos eram feitos em escolas que funcionavam nos conventos e nas Igrejas das vilas, onde se aprendia a ler e a escrever, noções de cálculo e canto religioso.
Posteriormente, surgiram as primeiras universidades, entre as quais destacaram-se as de Salerno, Paris, Oxford, Cambridge, Montpellier, Salamanca, Nápoles, Roma e Coimbra. Em todas elas havia a influência da Igreja na transmissão da cultura. As universidades medievais eram corporações que reuniam mestres e estudantes para o estudo de determinadas áreas do conhecimento. De modo geral, as aulas eram ministradas em latim e, basicamente, estudava-se Teologia (Filosofia), Ciências, Letras, Direito e Medicina. O estudante universitário podia tornar-se: bacharel (aprendiz de professor) licenciado (apto para o ensino) e doutor (professor de professores).
Na Idade Média, a maior parte dos estudos estava ligada à teologia. Os clérigos, os principais estudiosos, não tinham praticamente nenhum interesse pelo conhecimento da natureza. “Discutir a natureza e a posição da Terra”, disse Santo Agostinho, não nos auxilia em nossa esperança de vida futura. Interessava conhecer o mundo de Deus, já que a vida na terra era apenas um momento passageiro.
A vida intelectual concentrava-se nos mosteiros e o estudo do universo cristão permaneceu mais importante do que o estudo das ciências naturais.

Música sacra e popular

A música sofreu grande influência da Igreja Católica, sendo adaptada aos ideais religiosos do cristianismo. Na música sacra, destacou-se o canto gregoriano (introduzido pelo papa Gregório Magno), caracterizado por uma melodia simples e suave cantada em uníssono por várias vozes. Outro nome de destaque foi o do monge beneditino Guido d’Arezo (990-1050), que batizou as sete notas musicais, aproveitando para isso, as sílabas iniciais dos versos de um hino a São João Batista.
Na música popular, destacaram-se as canções dos trovadores e menestréis, inspiradas em temas românticos ou feitos heroicos dos cavaleiros. Surgida na França por volta do século XI, a canção trovadoresca espalhou-se para outros países da Europa, como Inglaterra, Alemanha, Portugal, Espanha e Itália.

Produções culturais: pintura e religião

A pintura medieval foi dominada por temas religiosos. Muitas obras desse período tinham como tema a vida dos santos, de Cristo e de Nossa Senhora. Nessa época, a pintura foi usada para ensinar a religião católica, pois a maioria das pessoas não sabia ler nem escrever. No século VI, por exemplo, o papa Gregório explicou em poucas palavras como a pintura podia servir a esse propósito. Segundo ele, a pintura seria o “livro dos analfabetos”. Isso quer dizer que os quadros expostos nas igrejas deviam fazer com que homens, mulheres e crianças pudessem ver o que ouviam nos sermões e não conseguiam ler nos livros.
Além dos quadros, a pintura de murais, vitrais e miniaturas também teve grande importância. Entre os pintores mais destacados estavam os italianos Giotto (1266-1337) e Cimabue (1240-1302).

Literatura

Na literatura destacaram-se: a poesia épica, a lírica, e o romance.
A poesia medieval procurou enaltecer os valores e as virtudes do cavaleiro: a justiça, o amor, a prudência e a cortesia. Na poesia épica, exaltava-se a ação corajosa dos cavaleiros em prol da cristandade. Na poesia lírica, exaltava-se o amor cortês dos cavaleiros em relação às suas damas.
O romance desenvolveu-se de várias formas. O de aventura refletia os ideais da aristocracia (fidelidade, bravura, etc.). Os foram Robin Hood (herói-bandoleiro) e o Ciclo da Távola Redonda.
Já o romance idílico destaca o amor e nesse gênero sobressaiu-se Tristão e Isolda, escrito por Gottfried Strasburgo.
Há que se destacar ainda os Fabliaux (fabulários), literatura urbana e burguesa que refletia novas concepções em relação à sociedade feudal e criticava a sociedade e as instituições.

Ciência e filosofia

A ciência medieval desenvolveu-se principalmente após o século XI, sob influência das Cruzadas. Diversas obras traduzidas do árabe e do grego influenciaram os estudos da matemática, da astronomia, da biologia e da medicina. Houve também avanços na arte da navegação, com a utilização da bússola, de mapas, do astrolábio e de outros instrumentos.
Um dos grandes nomes da ciência medieval foi o monge franciscano Roger Bacon (1214-1294), que introduziu a observação da natureza e a experimentação como métodos básicos do conhecimento científico. Conhecido como “Doutor Admirável”, Bacon desenvolveu estudos em diversos campos do saber (Geografia, Filosofia, Física). Bacon recomendava a observação e a experimentação como meios indispensáveis para chegar ao conhecimento. Isso lhe custou a condenação pela Igreja ao cumprimento de uma pena de catorze anos de prisão.
Na filosofia cristã, destacaram-se os pensadores Santo Agostinho (século IV) e Santo Tomás de Aquino (século XIII).
Em sua obra, Agostinho argumentou em favor da supremacia do espírito sobre o corpo, a matéria. Para ele, a alma foi criada por Deus para reinar sobre o corpo. Mas o ser humano, pecador, utilizando-se do livre-arbítrio, inverteu essa relação, fazendo o corpo assumir o governo da alma. Essa inversão resultou na submissão do espírito à matéria, o que seria, para ele, equivalente à submissão do eterno ao transitório, da essência a aparência.
Ao refletir sobre as diferenças entre fé cristã e razão, Agostinho defendia que a fé nos leva a crer em coisas nem sempre entendidas pela razão. Assim, muitas vezes era necessário crer para compreender, pois a fé ilumina os caminhos da razão.
Já Tomás de Aquino entendia que, se é correto que a verdade da fé ultrapassa as capacidades da razão humana, nem por isso os princípios básicos da razão podem estar em contradição com a fé. Assim, Aquino reviveu grande parte do pensamento do grego Aristóteles em busca de um conjunto de argumentos que se harmonizassem com a fé cristã. No caminho aberto por ele, a Escolástica – movimento que reunia as ideias de Tomás de Aquino – representou uma tentativa de conciliar fé e razão com base no pensamento de Aristóteles.

Cultura popular

Além da cultura “oficial”, promovida, em grande parte, pelas autoridades da Igreja e pelos governantes feudais, havia também muitas criações populares. Enquanto a cultura oficial era austera e consagrava a divisão social dominante, a cultura popular era impregnada de humor e sátira. Segundo o crítico literário Mikhail Bakhtin, o riso era condenado pelo cristianismo oficial da Idade Média. O tom sério era a forma de expressão da cultura oficial, que valorizava o medo, a veneração, a docilidade, a resignação e a permanência da tradição.
Já a cultura popular, com risos, alegria e irreverência, manifestava-se por meio de festejos carnavalescos (como as “Festas dos Loucos”) das encenações teatrais burlescas (cômica, satírica), dos gracejos dos “bufões” e “bobos”, das paródias literárias que recriavam trechos da Bíblia (evangelhos, salmos etc.), das orações e hinos religiosos, das lendas clássicas. Nessas atividades, as pessoas viviam e representavam seu mundo e promoviam o riso, divertindo o povo e criticando os costumes.

As artes

A arte medieval também era essencialmente religiosa. No campo das artes, destaca-se a arquitetura, com a construção de templos, igrejas, mosteiros e palácios.
Na arquitetura da Idade Média, predominaram dois estilos: o românico e o gótico.
As construções em estilo românico (século X, XI e XII) caracterizam-se pelos arcos redondos, paredes baixas e grossas, grandes colunas, janelas pequenas e interior pouco iluminado.
As construções em estilo gótico (final do século XII ao século XV) caracterizam-se pelos arcos em formato ogival, janelas maiores e mais numerosas, paredes altas e interior iluminado.
As janelas eram ornamentadas com belíssimos vitrais. Estes eram formados por pequenas placas de vidro colorido, unidas por chumbo, formando desenhos e mosaicos.
Na pintura, destacam-se as miniaturas ou iluminuras, feitas para ilustrar os manuscritos e os murais.
Os murais eram pinturas feitas nas paredes, geralmente retratando figuras religiosas.
Na escultura, utilizava-se o metal, o marfim e a pedra. Um grande número de imagens decorava o interior do templos.
A maior parte das obras de arte da Idade média não tem autoria definida. Isso porque, de acordo com o alto clero medieval, o verdadeiro autor era Deus, que por meio dos seres humanos, expressava suas vontades.

As Cruzadas

No final do século XI, a sociedade feudal começava a apresentar sinais de mudanças. A Igreja, principal instituição da Europa ocidental, enfrentava problemas com a corrupção de muitos de seus bispos e abades, que levavam uma vida luxuosa e abandonavam suas obrigações religiosas. Nos feudos, uma população cada vez mais numerosa não encontrava meios de produzir alimentos suficientes para todos.

Nesse contexto, surgiram as Cruzadas, uma espécie de guerra santa empreendida pelos católicos contra os muçulmanos que dominavam Jerusalém e outras regiões consideradas sagradas pelos cristãos no Oriente Médio. Além dos soldados treinados, as expedições eram acompanhadas por grupos não armados de monges, mulheres e crianças, que quase sempre morriam durante os combates ou pelo caminho, sofrendo com a fome e as doenças.
Nobres, camponeses, crianças, mendigos, enfim, grande parte da sociedade europeia se envolveria nesses combates, que se estenderam por mais de duzentos anos e representaram, para todos esses personagens, uma alternativa econômica e social.
Entretanto, a importância maior das Cruzadas está no fato de elas terem ajudado a iniciar um processo que colocaria fim ao isolamento da sociedade feudal. Ao mesmo tempo que cruzavam o continente e o mar Mediterrâneo e estabeleciam contatos com outros.

Convocação das Cruzadas

Durante a Idade Média, muitos cristãos costumavam ir em peregrinação aos locais onde Jesus Cristo viveu e fez suas pregações (Jerusalém, Belém, Nazaré, etc.). Esses locais, conhecidos como Terra Santa, eram considerados sagrados para os cristãos.
Em conseqüência do expansionismo dos povos árabes, Jerusalém foi tomada no ano de 638. Os árabes eram muçulmanos – acreditam em Alá como seu único Deus e no profeta Maomé –, mas toleravam os peregrinos cristãos.
Em 1071, entretanto, Jerusalém foi conquistada pelos turcos, também muçulmanos. Desde então passou a haver perseguição aos cristãos que iam visitar a Terra Santa.
Os turcos estavam expandindo os seus domínios e ameaçavam conquistar Constantinopla, capital do Império Bizantino, também de tradição cristã.
A tensão entre cristãos e muçulmanos levou o papa Urbano II a convocar uma expedição de retomada da Terra Santa. O papa, que acusava os turcos de assassinarem os peregrinos e profanarem os lugares santos, procurou encorajar os cristãos do Ocidente à guerra. Para viabilizar a expedição, convocou senhores feudais, bispos e a população em geral.
Os primeiros voluntários escolheram como símbolo da expedição uma cruz pintada nas suas roupas, daí o nome Cruzadas para esse movimento.

Para além da fé

O movimento das Cruzadas deve ser compreendido como parte do processo de mudanças do feudalismo durante a Baixa Idade Média.
A sociedade feudal era agrícola, autossuficiente, voltada apenas para a subsistência. Tal tipo de organização não conseguia atender às necessidades de uma população crescente. Assim, parte dessa população encontrava-se marginalizada, com muitas pessoas realizando ataques e saques aos castelos e às aldeias.
Seu objetivo declarado era libertar os cristãos e os lugares considerados sagrados, combatendo aqueles que ameaçavam o catolicismo, o poder do clero ou o domínio dos nobres. Assim, se para a Igreja católica as Cruzadas se apresentaram como uma oportunidade de reconquistar a Terra Santa e fortalecer o poder do papa, para muitos outros elas representaram uma alternativa tanto econômica quanto social. Algumas pessoas, por exemplo, aderiram às Cruzadas apenas porque viam nelas uma oportunidade de sair da vida miserável que levavam.
Entre os nobres, grande parte via nas Cruzadas uma possibilidade de aumentar sua fortuna, já que a região da Palestina era considerada de grande riqueza. Muitos jovens pertencentes à nobreza viam uma oportunidade de conquistar algo para si, já que, por não serem filhos primogênitos, não herdariam feudos.
Além das motivações religiosas e políticas, algumas expedições tiveram motivações econômicas, como a possibilidade de obter lucro com o saque de riquezas dos inimigos.

Combatendo pela fé

Foram realizadas ao todo oito Cruzadas num período de cerca de duzentos anos. A primeira, organizada pelo papa Urbano II, obteve algum êxito.
Para essa cruzada, organizaram-se exércitos em toda Europa. Oficialmente ela reuniu-se em Constantinopla em novembro de 1096. Era um exército imenso, conduzido por senhores feudais. Essa Cruzada conseguiu expulsar os turcos de grande parte da Terra Santa e fundar o Reino de Jerusalém.
Dos 300 mil cruzados que partiram de Constantinopla, apenas 40 mil chegaram à Palestina. Os demais morreram no caminho, em combate ou vítimas de doenças, fome, sede e calor; outros voltaram à Europa. Da parte dos turcos, as perdas também foram imensas: cerca de 10 mil acabaram massacrados em Jerusalém.
Após a derrota, os turcos passaram a atacar os cruzados com freqüência e conseguiram reconquistar a Terra Santa. Novas expedições foram então convocadas pelos cristãos. Entretanto, elas não tiveram o mesmo êxito da primeira.
Mal organizadas, sem liderança e divididas internamente por rivalidades entre nobres, várias Cruzadas não conseguiram chegar à Palestina. Na Segunda Cruzada, por exemplo, os combatentes, que vinham de diversas regiões da Europa, formaram grupos isolados e facilmente derrotados pelos turcos.
Os participantes da Quarta Cruzada, financiada por comerciantes venezianos, ao chegarem a Constantinopla, saquearam a cidade e invadiram as igrejas para tirar objetos de valor. Os saques provocaram o enfraquecimento do comércio de Constantinopla e o fortalecimento das cidades da península Itálica, que passaram a monopolizar o comércio de especiarias no mediterrâneo.
Com a Quarta Cruzada ficou claro que além de motivos religiosos, os cruzados estavam mobilizados também por interesses econômicos.

A Cruzada das crianças

Diante das constantes derrotas e do desvio do objetivo religioso das Cruzadas, difundiu-se a lenda que o Santo Sepulcro – local onde, segundo a Bíblia, Jesus Cristo foi sepultado – só poderia se conquistado por crianças, pois elas eram isentas de pecados. Em 1212, 20 mil crianças germânicas e 30 mil francas foram reunidas e encaminhadas a Jerusalém. Muitas dessas crianças acabaram morrendo pelo caminho, outras foram assassinadas ou aprisionadas e vendidas como escravas nos mercados do Oriente. Em resumo, a expedição foi um grande fracasso.

Consequências das Cruzadas

Apesar de não terem alcançado totalmente seu objetivo religioso, as Cruzadas promoveram grandes mudanças em toda a Europa, como a reabertura do Mediterrâneo à navegação e ao comércio europeu. Isso possibilitou a intensificação do comércio entre o Ocidente e o Oriente, interrompida em grande parte pela expansão muçulmana.
Cada Cruzada teve suas próprias características e consequências.
De modo geral, podemos dizer que as Cruzadas contribuíram para:
• o empobrecimento de alguns senhores de terras, que tiveram suas economias arrasadas pelos custos das guerras;
• o fortalecimento do poder real, que aumentou à medida que os senhores feudais perderam sua força;
• o desenvolvimento do comércio entre certas regiões da Europa e do Oriente.
As conquistas cristãs no Oriente duraram pouco, pois os territórios foram sendo reconquistados pelos muçulmanos a partir do século XIII. Esses conflitos geraram ressentimentos entre cristãos e muçulmanos que, de certo modo, permanecem até hoje e ainda são usados com objetivos políticos.


A IGREJA MEDIEVAL

A Igreja Católica surgiu no final do Império Romano. Mas ela se consolidou e se fortaleceu como instituição durante a Idade Média, principalmente depois que os francos se converteram ao catolicismo no século V. A Igreja conquistou grande número de fiéis em várias regiões da Europa, o que criou certa unidade cultural entre as sociedades medievais. A partir daí, aos poucos, a Igreja Católica se transformou em uma instituição poderosa do ponto de vista religioso, político e econômico. Com isso, influenciou um conjunto de sociedades chamada de cristandade.

Em meio à desorganização do mundo antigo, provocada pelas invasões bárbaras e pelo colapso do Império Romano, praticamente apenas a Igreja Católica conservou sua identidade institucional. Consolidando sua estrutura religiosa, a Igreja preservou elementos da cultura greco-romana, revistos pela ótica cristã, e difundiu o cristianismo entre os povos bárbaros.

A Igreja Católica exerceu uma influência marcante sobre a população medieval, ultrapassando em muito sua função religiosa e espiritual. Sua ação manifestava-se nos setores assistencial, pedagógico, econômico, político e mental, tornando-se o principal centro irradiador de cultura da Idade Média.

Em uma sociedade fragmentada, a Igreja católica garantia não só a unidade religiosa, mas também política e a cultural. Com o controle da fé, ela ditava a forma de nascer, morrer, festejar, pensar, enfim, de todos os aspectos da vida dos seres humanos no mundo medieval. Essa unidade se expressava, por exemplo, nos valores cristãos e no idioma latino. O latim (idioma oficial da Igreja) era utilizado principalmente por membros do clero e da nobreza.

A origem do poder da Igreja

O cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano a partir do governo de Teodósio (391), devido à força que conquistou. Esse poder ampliou-se e solidificou-se durante o período das invasões bárbaras, quando a Igreja conseguiu aliar-se a muitas tribos invasoras, convertendo-as ao cristianismo. Dessas alianças resultou que muitos membros da Igreja passaram a exercer funções administrativas nos governos bárbaros, consolidando a importância do clero, que passou a ocupar um lugar de destaque na sociedade que se formava.
O prestígio e o poder do clero aumentavam na medida em que um número cada vez maior de indivíduos convertia-se ao cristianismo, e a Igreja recebia doações de terras de reis conquistadores e nobres. Numa época em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser proprietária de quase dois terço das terras da Europa ocidental. Era a grande senhora feudal, participando das relações de suserania e vassalagem e controlando a servidão dos camponeses.
Apesar da riqueza e da ostentação de alguns membros do clero, a Igreja Católica promoveu trabalhos sociais de extrema relevância. Entre esses trabalhos, destacaram-se a criação e a manutenção de orfanatos, escolas, asilos, hospitais, que atendiam principalmente grupos marginalizados da sociedade medieval.

Organização do clero

Os sacerdotes da Igreja dividiam-se em dois ramos principais: o clero secular e o regular. No posto mais alto da Igreja estava o papa, considerado o sumo sacerdote.
Clero secular – formado por sacerdotes que viviam fora dos mosteiros, hierarquizados em padres, bispos, arcebispos etc. No ponto mais alto dessa hierarquia estava o papa, que era o bispo de Roma e, segundo a tradição católica, o sucessor de São Pedro – um dos doze apóstolos de Cristo e considerado pela Igreja Católica como o primeiro papa. 
Nem sempre a autoridade papal foi aceita por todos os membros da Igreja, mas em fins do século VI ela acabou se firmando, em grande parte, devido ao talento político-administrativo do papa Gregório Magno (540-604). O clero secular estava organizado de acordo com uma hierarquia, ou seja, um conjunto de funções ou cargos subordinados uns aos outros:
• pároco – situado na base da hierarquia da Igreja. Era o padre responsável pela assistência espiritual em uma paróquia, isto é, uma comunidade que se reunia em um templo ou igreja;
• bispo – situado acima dos párocos. Ele administrava um conjunto de paróquias, chamado de diocese;
• arcebispo – cargo superior ao do bispo. Era responsável por um grupo de dioceses, chamado de província eclesiástica.
Durante a Idade Média foram fundadas várias ordens religiosas, como a dos beneditinos, carmelitas, franciscanos, dominicanos. O clero regular era formado por monges que viviam nos mosteiros ou nos conventos e seguiam as regras de sua ordem religiosa.
Clero regular – formado por sacerdotes que viviam nos mosteiros e obedeciam às regras de sua ordem religiosa (beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas, agostinianos). Afastados do contato direto com o cotidiano das pessoas não consagradas exclusivamente à religião. Os monges dedicavam seu tempo à vida religiosa, ao cultivo dos campos, ao artesanato e aos trabalhos intelectuais. Foram eles, em boa parte, que copiaram e conservaram importantes obras de autores gregos e romanos. Preservando a cultura da Antiguidade, os mosteiros medievais transformaram-se em centros de ensino, com escolas e bibliotecas.

Poder temporal da Igreja

A Igreja católica foi a instituição mais poderosa da Idade Média. Numa época em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser proprietária de quase dois terços das terras da Europa ocidental. Era a grande senhora feudal, participando das relações de suserania e vassalagem e controlando a servidão dos camponeses. Todos os bispos dominavam porções significativas de terras. Aliás, ser bispo podia significar o controle de muita riqueza.
O papa, desde 756, era administrador político do Patrimônio de São Pedro, o Estado da Igreja. Além do poder religioso, ele contava com o poder temporal da Igreja, isto é, com o poder de acumular riqueza a partir de doações de terras feitas por fiéis desejosos da salvação eterna. Obtinha também grandes rendimentos através do dízimo, cujo pagamento obrigatório se generalizou na época carolíngia. Equivalia 1/10 dos frutos da terra, portanto, cristãos e não cristãos estavam sujeitos a ele.
A Igreja medieval criou normas econômicas condenando o lucro e os empréstimos de dinheiro a juros. Ao contrário da nobreza – que tinha seus bens repartidos por heranças, casamentos, lutas pela posse da terra, etc. – a Igreja só acumulava riquezas, já que os bens não pertenciam aos religiosos, mais a própria instituição.
Assim, usufruindo do poder que tinha sobre as consciências, a Igreja católica pôde acumular grande riqueza material. À medida que essa riqueza crescia, o alto clero, constituídos por aqueles que ocupavam cargos mais elevados na hierarquia interna da Igreja, distanciava-se dos assuntos religiosos. Controlando o poder espiritual e material, a Igreja foi responsável por manter, em grande parte, a ordem social da Idade Média.
O poder temporal da igreja levou o papa a envolver-se em diversos conflitos políticos com monarquias medievais. Exemplo marcante desses conflitos é a Questão das Investiduras, no século XI, quando se chocaram com o papa Gregório VII e o imperador do Sacro Império Romano Germânico, Henrique IV.

Questão das Investiduras

A quem caberia nomear sacerdotes para os cargos eclesiásticos: ao papa ou ao imperador?
Esse problema, conhecido como Questão das Investiduras, remonta a meados do século X, quando o imperador Oto I, do Sacro Império Romano Germânico, passou a intervir nos assuntos da Igreja. Fundou bispados e abadias, nomeou seus titulares e, em troca da proteção que concedia à Igreja, controlava as ações do papa. As investiduras (nomeações) feitas pelo imperador visavam interesses pessoais e do reino, dando margem a corrupção entre os membros do clero. Bispos e padres colocavam seu compromisso com o soberano acima da fidelidade ao papa.
No século XI surgiu um movimento reformista liderado pela Ordem Religiosa de Cluny, que pretendia recuperar o poder da Igreja. Em 1703, os ideais de Cluny ganharam força, com a eleição do papa Gregório VII. Ele adotou uma série de medidas reformistas, entre as quais: a instituição do celibato (1074) e a proibição da investidura de sacerdotes a cargos eclesiásticos pelo Imperador (1075).
Reagindo à atitude do papa, Henrique IV, imperador do Sacro Império, considerou-o deposto. Gregório VII, em resposta, excomungou-o. Desenvolveu-se, então um conflito aberto entre o Imperador e o papa. Esse conflito só foi resolvido em 1122, pela Concordata de Worms, que adotou uma solução de meio termo: caberia ao papa a investidura espiritual dos bispos, e ao imperador, a investidura temporal – antes de assumir a posse da região que lhe foi designada (bispado), o bispo também deveria jurar fidelidade ao Imperador.

A vida nos mosteiros

Nem todos os cristãos eram a favor de a Igreja acumular riquezas e criticavam a vida luxuosa que muitos bispos e padres levavam. Procurando retomar os ensinamentos e a vida pobre de Cristo, muitos religiosos optaram por uma vida mais simples, recusando os bens materiais. Surgiram assim as ordens monásticas.
Dentre as novas ordens, destacaram-se as criadas por São Bento, em 529, por São Francisco de Assis, em 1210, e por São Domingos de Gusmão, em 1217. As ordens compreendiam mosteiros que abrigavam homens ou mulheres.
A ordem dos beneditinos defendia que os monges deveriam levar uma vida simples, rezando, trabalhando, estudando e obedecendo a seus superiores. Os membros dessa ordem eram eruditos. Foram eles que transcreveram a maior parte das obras literárias gregas e romanas, sendo, em grande parte, responsáveis por sua preservação.
Inspirados no Evangelho, os franciscanos procuravam ajudar os pobres e professavam votos de pobreza, castidade e obediência. O mesmo ocorria com os membros da ordem dominicana.
Desta forma, essas ordens passaram a representar uma oposição às práticas do alto clero medieval.

Abadias: centros de oração, trabalho e produção intelectual

Na Idade Média foram fundadas inúmeras abadias. Algumas tornaram-se muito famosas e existem até hoje, como a de Melk, na Áustria.
Recebe o nome de abadia a residência de monges ou de monjas governados por um abade ou por uma abadessa. As abadias medievais eram praticamente auto-suficientes. Tinham geralmente igrejas, bibliotecas, muitos quartos (celas), oficinas para a produção e conserto de ferramentas e carroças, estrebarias e cocheiras, cozinhas, etc.
Localizavam-se sempre no centro de uma grande propriedade, onde eram cultivados trigo, cevada, centeio, videiras, frutas, etc. eram também criados porcos, galinhas, perus, patos, bois, vacas, cavalo, etc.
Os próprios monges trabalhavam no cultivo e na criação. Alguns, porém, passavam todo o tempo na biblioteca, copiando e estudando as obras dos gregos e romanos. Eram os monges copistas. Eles produziram verdadeiras obras de arte. Nas margens das páginas, desenhavam ilustrações, chamadas iluminuras, utilizando um tipo de letra que hoje, conhecemos como gótica.
Nas abadias, além do trabalho, grande parte do tempo era dedicada à oração e ao canto sacro.
As abadias contavam também com numerosos servos, que executavam os trabalhos mais pesados.

Heresias e inquisição

Apesar do poder de que a Igreja dispunha, nem todas as pessoas seguiam rigidamente suas doutrinas. Diversos grupos cristãos formularam interpretações que contrariavam os dogmas oficiais da Igreja, isto é, as doutrinas adotadas como verdadeiras pelas autoridades eclesiásticas.
Os grupos que se desviavam dos ensinamentos da Igreja acabaram sendo perseguidos pelas autoridades religiosas, acusados de serem heréticos ou hereges, isto é, de cometer heresia. Considerava-se heresia a concepção religiosa distinta da doutrina oficial católica, sendo, por isso, tida como falsa pela Igreja. É importante destacar que na Europa medieval não se questionava a existência de Deus, mas apenas a forma como essa fé deveria ser manifestada.
Um famoso exemplo de heresia medieval é a dos albigenses, que acreditavam em dois deuses: o Deus do Bem, que havia criado as almas, e o Deus do Mal, que encerrava-as nos corpos para fazê-las sofrer. Cristo era visto como um anjo enviado pelo Deus do Bem para libertar as almas prisioneiras. Algumas almas, depois da morte, subiam imediatamente ao céu. Outras deviam, como castigo, continuar vivendo na Terra, encarnadas no corpo de um animal.
Outro exemplo de heresia era a seita dos valdenses, surgidas no século XII. Eles adotavam a pobreza absoluta, não aceitavam os juramentos e a pena de morte. Defendiam ainda que qualquer pessoa podia rezar a missa.
Para combater as heresias, o papa Gregório IX criou, em 1231, os tribunais da Inquisição, cuja missão era descobrir e julgar os heréticos. 

Inquisição

Apesar do poder da Igreja, nem todas as pessoas seguiam rigorosamente seus dogmas. Algumas pessoas tinham crenças e costumes próprios, com frequência mais antigos que o cristianismo. Exemplo disso era o culto a certos animais, as práticas de adivinhações e de encantamentos.
As escolhas religiosas ou opções discordantes da Igreja eram chamadas de heresias. Aqueles que defendiam ou praticavam heresias eram considerados hereges ou heréticos. Para combatê-las, o papa Gregório IX criou, em 1233, os Tribunais da Inquisição, cuja função era descobrir e julgar os hereges.
O processo contra uma pessoa acusada de heresia podia demorar anos, e a investigação podia incluir tortura aos suspeitos. Os condenados pela Inquisição eram excluídos da comunidade dos católicos (excomungados) e entregues às autoridades do Estado para serem punidos. As penas iam desde a perda dos bens até a morte na fogueira.
A partir do final do século XV, milhares de mulheres foram perseguidas pela Inquisição e acusadas de praticar feitiçaria. Estima-se que cerca de 90 mil mulheres foram condenadas
e queimadas na fogueira na Europa Ocidental. A Inquisição atuou em várias regiões europeias, hoje correspondentes a países como França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Portugal e Espanha. A partir do século XVI, também agiu em outras regiões do mundo para as quais os europeus levaram o catolicismo, como a América e a Ásia.

Cruzadas

As Cruzadas foram expedições militares organizadas entre os séculos XI e XIII, por autoridades da Igreja Católica e pelos nobres mais poderosos da Europa. Seu objetivo declarado era libertar os lugares considerados santos que estavam em poder dos muçulmanos, como a região do Santo Sepulcro, em Jerusalém, local de peregrinações cristãs.
O surgimento das Cruzadas também costuma ser explicado por outros motivos, como o hábito guerreiro dos nobres feudais e o interesse econômico em retomar importantes cidades comerciais que haviam sido ocupadas pelos muçulmanos.
A primeira Cruzada foi organizada por nobres cristãos em 1096, atendendo ao apelo do papa Urbano II, feito em 1905 no Concílio de Clermont, para que se iniciasse uma guerra santa contra os muçulmanos. Do ano 1096 a 1270, costuma-se destacar a organização de oito Cruzadas ao Oriente Médio. Além dessas, houve outras expedições populares.
Cada Cruzada teve suas próprias características e resultados. No entanto, podemos esboçar as seguintes consequências gerais do movimento das Cruzadas:
- Empobrecimento de senhores feudais, que tiveram suas economias arrasadas pelo elevado custo das guerras;
- Fortalecimento do poder real, à medida que senhores feudais perdiam sua força;
- “reabertura”, especialmente para os comerciantes italianos, do mar Mediterrâneo e consequente desenvolvimento do intercâmbio comercial entre Europa e Oriente;
- Ampliação do universo cultural europeu, promovida pelo contato com os povos orientais.

A mentalidade medieval

Transformações na mentalidade da população europeia ocorreram lenta e claramente a partir da cristianização do Império Romano. O racionalismo e o humanismo, que caracterizaram a cultura greco-romana, foram substituídos por uma inabalável fé em Deus (o Bem) todo-poderoso, criador do Universo. Somente a fé podia explicar o confuso mundo que cercava os homens, envolvidos com a violência de salteadores e invasores de origens diversas. Era através dela que se conseguia proteção para vencer o Demônio (o Mal) e alcançar a salvação após a morte.
A existência e o quotidiano do homem medieval eram regulados pela religião. Durante sua vida, recebia os sacramentos: ao nascer, o batismo, ao se casar, o matrimônio, ao morrer, a extrema-unção, e era enterrado no cemitério da Igreja mais próxima. As estações do ano estavam marcadas pelas grandes festas religiosas (Natal, Páscoa, etc) e as semanas, pelos ofícios e missas dos domingos. A Igreja estabeleceu também o tempo político: a Paz de Deus, fixando onde e quando se poderia combater.
A fé popular revelava-se nas concorridas peregrinações aos lugares sagrados, no brilho das festas religiosas, na arte (pinturas e esculturas) inspirada em temas bíblicos e no culto dos santos, da Virgem e das relíquias que serviam para combater o diabo e os demônios, facilitando a obtenção da salvação. Nos períodos de calamidades e de fome, tão comuns na Idade Média, a ação dos padres e monges, distribuindo esmolas e pão aos pedintes, aumentava a autoridade moral da Igreja. Atormentado pelo temor de ser condenado à danação no Inferno, os cristãos submetiam-se às penas e ameaças de caráter religioso impostas pela Igreja, como jejuns, flagelações, peregrinações a lugares longínquos, entrada para o convento, etc. Em caso de falta muito grave, o culpado sofria a pena máxima – a excomunhão – isto é, ficava privado de receber os sacramentos e era evitado como se estivesse com a peste.
A vida do ser humano encontrava-se, portanto, nas mãos de Deus, porque sua existência devia-se a ele. Assim, a máxima grega “o homem é a medida de todas as coisas”, transformou-se para o homem medieval em “Deus é a medida de todas as coisas”.

Escolas e universidades

Durante a Idade Média, a Igreja Católica exerceu forte influência na educação, fundando escolas junto aos mosteiros e às catedrais. Posteriormente, a partir do século XI, foram criadas universidades que também receberam a influência da Igreja. No entanto, algumas universidades conseguiram se desenvolver com relativa autonomia.
Uma universidade completa tinha cursos de Teologia (que incluía Filosofia), Artes (que incluía Ciências e Letras), Direito e Medicina. Entre as primeiras universidades europeias destacam-se as de Bolonha (Itália), Paris (França), Oxford (Reino Unido), Salamanca (Espanha) e Coimbra (Portugal).
Os estudos universitários eram privilégio de uma elite. Em geral, os cursos custavam caro e duravam muito tempo. Um jovem costumava iniciar seus estudos aos 15 anos e encerrá-los aos 30 anos. Nas universidades existiam agitados grupos de estudantes. No século XII, alguns estudantes irreverentes ficaram conhecidos como goliardos. Eles faziam composições e cantavam canções críticas e satíricas. Celebravam o amor e
os prazeres e, por isso, eram criticados e perseguidos pelas autoridades católicas.

O Feudalismo na Europa Medieval

Como surgiu o feudalismo

No século V, o Império Romano do Ocidente, não resistindo às pressões externas sobre suas fronteiras é destruído após uma série de invasões promovidas por povos germânicos, que eram denominados como bárbaros pelos romanos.
Não podemos nos esquecer que por volta do século III, o imperador Teodósio havia dividido o vasto império em duas partes: Império Romano do Ocidente, com capital em Roma e Império Romano do Oriente, cuja capital era Constantinopla. Este último sobreviveria até 1453.
A destruição do Império Romano do Ocidente deu lugar a diversos reinos que se organizaram baseados nas tradições romanas e germânicas, além da forte influência da Igreja Católica. Esta nova sociedade que se organizava ficaria conhecida como "Sociedade Feudal".

O que foi o feudalismo

O feudalismo é uma forma de organização econômica, social e política que se desenvolveu na Europa Ocidental, sobretudo entre os séculos X e XIII.
Segundo historiadores, as sociedades feudais mesclavam elementos romanos e germânicos. A própria palavra feudo tem origem germânica e significa “coisa oferecida em troca de algo”. Um feudo podia ser, por exemplo, uma extensão de terra, um castelo ou uma quantia de dinheiro. Como termo genérico, o conceito de feudalismo se aplica a todas as sociedades nas quais o poder central é reduzido e cuja economia se baseia no trabalho de camponeses submetidos a um regime de servidão.
Apesar de não terem se desenvolvido do mesmo modo em todas as regiões da Europa, as sociedades feudais apresentavam algumas características em comum:
• o fortalecimento do poder dos senhores locais, que exerciam autoridade administrativa, judicial e militar em suas propriedades;
• a hierarquização social entre membros do clero, nobres e servos;
• o estabelecimento de vínculos de fidelidade entre nobres;
• o domínio dos senhores locais sobre um conjunto de servos que trabalhavam no campo;
• o declínio de atividades urbanas e a ampliação de atividades rurais como a agricultura e a criação de animais;
• a consolidação do poder religioso, político e econômico da Igreja Católica.

Suserania e vassalagem

No feudalismo, houve um fortalecimento do poder local dos nobres. Esses nobres tornaram-se senhores feudais porque detinham terras chamadas de feudos. O senhor feudal governava seu território, onde podia cobrar impostos, manter exércitos e julgar crimes.
Para manter o poder, a nobreza feudal estabeleceu, entre si, relações de fidelidade da seguinte maneira:
• aquele que tinha mais terras (chamado de suserano) concedia uma parte delas (um feudo) para outro nobre (denominado vassalo);
• em troca, o vassalo devia fidelidade ao suserano e, também, prestava-lhe diversos serviços.
Provavelmente essa prática se disseminou a partir da época carolíngia. Os reis francos (povo germânico) costumavam doar terras em troca de fidelidade, serviços e obrigações militares.
A partir do século X combinavam-se, no sistema feudal, a propriedade da terra, a recomendação, o serviço militar e a fidelidade. Com o passar do tempo a Europa foi coberta por uma verdadeira rede de feudos, pois cada suserano tornava-se vassalo de um outro mais forte, sendo então o rei o “suserano dos suseranos”. O vassalo podia transferir parte de seu feudo para outrem, desde que obtivesse permissão de seu suserano, e dessa forma tornava-se ele também suserano.
O ato pelo qual um homem se colocava sob a proteção de outro era solene e recebia o nome de homenagem (de homem); nele o vassalo se ajoelhava ante o senhor e prestava juramento de fidelidade; e o senhor o investia como vassalo ao entregar-lhe um objeto simbólico, por exemplo uma espada. No feudalismo o vínculo era pessoal, já que unia o suserano e seu vassalo; e de direito real, pois vinculava as terras de um e de outro.
A sociedade feudal possuía uma estrutura piramidal. No ápice estavam o rei ou imperador e o papa; mais abaixo os ocupantes das antigas circunscrições administrativas, os duques, condes ou viscondes; depois vinham os barões, ou “senhores castelões”; abaixo na hierarquia apareciam outros nobres, cavaleiros e o clero, isentos do pagamento de taxas; na base, as classes inferiores, compostas por camponeses livres e servos, sobre os quais recaíam todos os impostos.

Principais características do feudalismo:
• forte influência da Igreja Católica,
• ruralização da sociedade;
• a terra como principal símbolo de poder;
• poder descentralizado;
• rígida hierarquia social;
• economia agrária a base de trocas;
• o feudo buscava a auto suficiência;
• presença do patriarcalismo;
• poder hereditário;
• o servo é a principal mão-de-obra;

As terras do feudo distribuíam-se da seguinte forma:
• Manso senhorial – Representava cerca de um terço da área total e nela os servos e vilões trabalhavam alguns dias por semana. toda produção obtida nessa parte da propriedade pertencia ao senhor feudal.
• Manso servil – Área destinada ao usufruto dos servos. Parte do que era produzido ali era entregue como pagamento ao senhor feudal.
• Terras comunais – Era a parte do feudo usada em comum pelos servos e pelos senhores. Destinava-se à pastagem do gado, à extração de madeira e à caça, direito exclusivo dos senhores.

Condição servil

As pessoas que viviam na condição de servos não podiam deixar as terras do senhor feudal. Tinham de trabalhar ali durante toda a vida para o próprio sustento e para manter as outras ordens sociais (nobreza e clero).
Os servos tinham uma série de obrigações que deviam ser pagas ao senhor feudal. Entre essas obrigações estavam:
• A corveia – prestação de trabalho gratuito durante vários dias da semana no manso senhorial;
• A talha – entrega ao senhor de parte da produção obtida no manso servil;
• A banalidade – pagamento de taxa pelo uso do forno, do lagar (onde se fazia o vinho) e do moinho, dentre outros equipamentos do feudo;
• O censo – pagamento efetuado com parte da produção em dinheiro, ao qual estavam obrigados somente os vilões ou homens livres;
• A capitação – imposto per capita (por cabeça), pago apenas pelos servos;
• A mão-morta – taxa paga pelos familiares do servo para continuar explorando a terra após sua morte.
O servo apesar de não ser considerado um escravo, não era um homem livre, pois estava preso ao feudo e se submetia a uma série de obrigações.
Analisando a situação dos servos, percebemos que eles eram explorados pelos senhores. Porém, naquela época, a relação servil tinha como base valores que faziam do senhor também um protetor, e não apenas um explorador. De qualquer modo, a exploração existiu e, por isso, houve uma série de rebeliões dos servos contra os senhores.

Divisões sociais

A sociedade feudal era comumente dividida em três ordens ou grupos distintos:
• clero ou oratores (termo latino que significa “aqueles que oram”) – eram os membros da Igreja Católica. Lidavam com os temas religiosos, administravam os bens da Igreja e tinham muita influência sobre o restante da sociedade. No topo da hierarquia do clero estava o papa. Depois dele, vinham os altos dirigentes: o chamado alto clero (cardeais, arcebispos, bispos e abades). Logo abaixo, estavam os sacerdotes e os monges, que formavam o chamado baixo clero;
• nobreza ou bellatores (termo latino que significa “aqueles que combatem”) – eram donos de terras e dedicavam-se, principalmente, às atividades políticas, administrativas e militares. Entre os nobres havia uma hierarquia: no topo, ficava o rei, seguido por príncipes, duques, marqueses e condes. Abaixo, estavam os cavaleiros. Em tempos de paz, a nobreza dedicava-se a caçar e a fazer torneios, que serviam de treino para guerras e batalhas;
• trabalhadores ou laboratores (termo latino que significa “aqueles que trabalham”)
– eram a maioria da população, que sustentava a sociedade com seu trabalho. Entre os trabalhadores havia artesãos, comerciantes e camponeses.
A maior parte dos camponeses eram servos, que não tinham liberdade. Um senhor feudal podia negociar seus servos com outro senhor – dar, emprestar ou trocar. O servo não podia testemunhar contra um homem livre ou nobre, não podia se tornar membro do clero (padre, bispo ou outro) e era obrigado a pagar muitos impostos. Mas tinha de ser protegido pelo senhor feudal, podia ter alguns bens e não podia ser vendido.

Mobilidade social

Nas sociedades medievais, era bem difícil uma pessoa sair de um grupo social e passar para outro, principalmente se fosse um camponês. Apenas os homens nobres podiam mudar de ordem, quando se tornavam sacerdotes.
No século XI, o bispo francês Adalbéron de Laon procurou justificar a existência das ordens sociais. Dizia ele que, enquanto uns rezam, alguns combatem e outros devem trabalhar. Assim, pelo argumento do bispo de Laon, se as partes cumprem suas obrigações, elas formam um conjunto que se apoia mutuamente.

Trabalho nos feudos

Nos lugares onde predominou o feudalismo, as principais atividades econômicas eram a agricultura e a criação de animais. Outras atividades – como comércio, artesanato e serviços – também eram praticadas, mas não tiveram a mesma importância que o trabalho na terra. Assim, o feudo era a principal unidade produtora da economia feudal. O tamanho de um feudo variava conforme a região. Mas, no geral, tinha em média de 200 a 250 hectares.
Nos feudos eram produzidos cereais, carnes, leite, roupas e utensílios domésticos para o consumo de quem nele vivia. Alguns produtos vinham de fora, como sal e ferramentas. De modo geral, os feudos eram divididos em três áreas principais: os campos abertos, as reservas senhoriais e os mansos servis.

O Mundo Feudal

 O que foi o feudalismo

O feudalismo foi a forma de organização política, social e econômica dominante na Europa ocidental durante a Idade Média. Mesmo não tendo se manifestado de maneira idêntica em todas as regiões do continente, pode-se dizer que, de modo geral, são estas as suas características fundamentais:
· Tinha na agricultura sua principal atividade produtiva;
· Baseava-se em uma sociedade rigidamente hierarquizada, na qual os indivíduos encontravam-se subordinados uns aos outros por laços de dependência pessoal;
· Uma pequena elite formada por grandes senhores de terra e pelo alto clero ocupava o topo da sociedade;
· O poder político estava fragmentado entre os senhores feudais e o rei.

Como surgiu o feudalismo

As origens do feudalismo remontam ao século III, quando o sistema escravista de produção no Império Romano entrou em crise. Diante da crise econômica e das invasões germânicas, muitos dos grandes senhores romanos abandonaram as cidades e foram morar nas suas propriedades no campo. Esses centros rurais, conhecidos por vilas romanas, deram origem aos feudos medievais.
O feudalismo começou a se estruturar por volta do século VIII, no Reino Franco, propagando-se depois para outras regiões da Europa ocidental. Uma das razões para esse começo entre os francos foi o fato de os governantes carolíngios terem colocado em prática, com modificações, um antigo costume dos povos germânicos: a vassalagem.
A insegurança provocada pelas invasões dos séculos IX e X levou os europeus ocidentais a se protegerem. Houve considerável migração das cidades para o campo. Construíram-se vilas fortificadas e castelos cercados por estacas e muralhas. Cada um se defendia como podia. Os mais fracos procuraram a ajuda de nobres poderosos. Camponeses, buscando a proteção dos senhores de terra, foram submetidos à servidão. Esse processo de ruralização da sociedade europeia assinala um período essencial no desenvolvimento do feudalismo: o da sua consolidação.
De modo geral, o feudalismo desenvolveu-se em três grandes etapas: formação (século V a IX); consolidação (século X a XIII); decadência (séculos XIV a XVI).

A organização do feudo

A organização dos baseou-se em duas tradições: uma de origem germânica, o comitatus, e outra de origem romana, o colonato. Pelo comitatus, os senhores de terra, unidos pelos laços da vassalagem, comprometiam-se a ser fiéis e honrar uns aos outros. No colonato, o proprietário de terras dava proteção e trabalho aos colonos que, em troca, entregavam ao senhor parte de sua produção.
No sistema feudal, o rei concedia terras a grandes senhores. Estes, por sua vez, davam terras a outros senhores menos poderosos, chamados cavaleiros, que, em troca lutavam a seu favor. Quem concedia a terra era um suserano, e quem a recebia era um vassalo. As relações entre o suserano e o vassalo eram de obrigações mútuas, estabelecidas através de um juramento de fidelidade. Quando um vassalo era investido na posse do feudo pelo suserano, jurava prestar-lhe auxílio militar. O suserano, por sua vez, se obrigava a dar proteção jurídica e militar ao vassalo.
O suserano e seu vassalo
As relações entre os senhores feudais eram estabelecidas pelo sistema de suserania e vassalagem, que se concretizava por meio de um “contrato”. O contrato de vassalagem compreendia alguns atos solenes, como:
· Homenagem – o vassalo, ajoelhado, cabeça descoberta e sem armas, perante o seu senhor, colocava as suas mãos juntas nas mãos do senhor:
· Fidelidade – o vassalo, em pé e com as mãos sobre os Santos Evangelhos, prestava juramento de fidelidade ao seu senhor.
O feudo era a unidade econômica básica de todo o sistema medieval. Nele a produção era de subsistência, auto-suficiente, controlada pelo senhor (do clero ou da nobreza) e trabalhada pelos servos. Dividia-se em três partes básicas: a reserva senhorial, onde ficava o castelo com terras de uso exclusivo do senhor; o manso servil, composto por vários lotes, chamados tenências, arrendados aos servos; e as terras comunais, composto por bosques e pastos usados tanto pelo senhor como pelos servos.

Economia feudal

O feudo constitui a unidade territorial da economia feudal e caracteriza-se pela autarquia e pela ausência quase total do comércio e de intercâmbios monetários. As cidades deixam de ser centros econômicos. Os feudos pertencentes ao patrimônio real são cedidos em usufruto a membros da nobreza e do clero. Os ofícios e o artesanato passam a realizar-se nos próprios castelos.

A sociedade feudal

A sociedade feudal era dividida em estamentos, isto é, uma sociedade composta por camadas estanques, em que a passagem de uma camada social para a outra era praticamente impossível. De acordo com a função específica de cada camada alguns historiadores classificam-na como uma sociedade formada por aqueles que lutam (nobres), aqueles que rezam (clero) e aqueles que trabalham (servos).
Os servos não tinham a propriedade da terra e estavam presos a ela. Não podiam ser vendidos como se fazia com os escravos, nem tinham liberdade de abandonar as terras onde nasceram. Nas camadas pobres, havia também os vilões. Os vilões eram homens livres que viviam no feudo, deviam algumas obrigações aos senhores, como por exemplo, as banalidades, mas não estavam presos à terra, podendo sair dela quando o desejassem.
A nobreza e o clero compunha a camada dominante dos senhores feudais, ou seja, aqueles que tinham a posse legal da terra e do servo e que dominavam o poder político, militar e jurídico. O alto clero era composto pelos seguintes membros: papa, arcebispos e bispos. O baixo clero era composto pelos padres, e monges. A nobreza era também hierarquizada estando dividida em alta e baixa nobreza. Alta nobreza: duque, marquês e conde. Baixa nobreza: visconde, barão e cavaleiro.

Trabalhadores da terra

Obrigados a pagar diversos tributos aos seus senhores, em produtos ou em serviços, os servos não estavam estimulados a produzir mais, pois, quanto mais produzissem, mais acabavam pagando. Dessa forma, não tinha incentivo para aperfeiçoar as técnicas agrícolas e desenvolver a produção rural. Os servos viviam em extrema miséria, pois, além de estarem presos à terra por força de lei, estavam presos aos senhores, a quem deviam obrigações como:
- a talha; a corvéia; a capitação; as banalidades; prestações etc.
A talha era a obrigação de o servo dar, a seu senhor, uma parte do que produzia. Essa parte, em geral, correspondia à metade.
A corveia era a obrigação que o servo tinha de trabalhar de graça alguns dias por semana no manso senhorial, ou seja, no cultivo das terras reservadas ao senhor.
A capitação era um imposto pessoal, devido pelos servos da gleba.
As banalidades eram os pagamentos que os servos faziam aos senhores pelo uso da destilaria, do forno, do moinho, do celeiro etc.
As prestações consistiam na obrigação de hospedar o senhor durante as suas viagens pelo feudo.

O predomínio do Poder Local

A força política dos senhores feudais, que se sobrepunha ao poder real, residia no domínio do feudo, fonte da riqueza medieval, e no monopólio da força ou poder militar. Cada feudo possuía seu próprio exército, composto principalmente pelos cavaleiros nobres, que eram guerreiros regulares, e por servos convocados, se houvesse necessidade de reforço. Cavaleiros eram nobres que se dedicavam à guerra.

A lealdade ao seu senhor e a coragem representava as principais virtudes de um cavaleiro. A cavalaria medieval constituía um verdadeiro exército particular, fundada nos ideais de honra lealdade e heroísmo. Ser cavaleiro era a ambição de todos os jovens nobres, que, para receberem tal título, deveriam passar por uma longa e difícil preparação.

Decadência do feudalismo

O fator que mais contribuiu para o declínio do sistema feudal foi o ressurgimento das cidades e do comércio. Com o ressurgimento das cidades, os camponeses passaram a vender mais produtos e, em troca, conseguir mais dinheiro. Com o dinheiro alguns puderam comprar a liberdade. Outros simplesmente fugiram para as cidades em busca de melhores condições de vida.

O Império Muçulmano

Com a morte do profeta, seu sogro, Abu-Beker, se proclama califa, palavra que significa sucessor, e governa em nome do profeta. O califa era um misto de chefe político e religioso. Tinha como missão preparar os árabes para a conquistada Terra. Abu-Beker foi sucedido pelo califa Omar. Durante seu governo de onze anos, deu-se o início da expansão muçulmana. Guerreiros do Islã atacaram a Pérsia e o Império Bizantino, ambos debilitados por lutas internas.

Em pouco tempo, graças ao progresso militar atingido pelos muçulmanos, conseguiram dominar extensos territórios e controlar o comércio do Mediterrâneo. A Pérsia se rendeu após dez anos de luta. O Império Bizantino perdeu a Síria para os árabes.
No Egito, Alexandria resistiu ao cerco árabe durante dois anos. Depois, foi incendiada, junto com sua famosa biblioteca. Os muçulmanos construíram uma nova capital no Cairo. Guerreiros muçulmanos conquistaram o norte da África, Líbia e Trípoli, chegando até o local da cidade de Cartago.
Com a morte de Omar, o califa Ali continuou conquistando mais territórios. Mas, em pouco tempo, surgiram as primeiras disputas internas pelo poder, ocasionando uma guerra civil. A partir desse momento, duas dinastias governaram o império muçulmano:
· a dinastia dos Omeíadas, fundada pelo califa Muhawiya;
· a dinastia dos Abássidas, fundada pelos descendentes de Abas, tio de Maomé.

Os omeíadas: o império árabe

A dinastia dos Omeíadas governou o mundo árabe durante aproximadamente cem anos. Sob os omeíadas, deu-se a expansão territorial. Os califas abandonaram Meca e fixaram a capital do império em Damasco, na Síria, ocupando-se unicamente de questões políticas. Durante esse período, os exércitos muçulmanos conquistaram o Turquestão, o Cáucaso, a Armênia e chegaram até a Índia.
No norte da África, conquistaram Túnis, Argélia, Marrocos e chegaram até o oceano Atlântico. A partir daí, atravessaram o estreito de Gibraltar e tentaram tomar a península Ibérica e a França. Em 711, iniciaram a conquista da Espanha visigoda. Atravessaram os Pireneus e começaram a conquista da França. Em 732, após terem conquistado um terço do território da França, Carlos Martel os deteve em Poitiers. Os muçulmanos retrocederam até os Pirineus, mas permaneceram na Espanha até o século XV, quando foram expulsos pelos reis cristãos.

Os abássidas: esplendor e decadência

Em 750, uma revolta interna derrubou a dinastia dos Omeíadas. Os vencedores dessa revolta, descendentes de Abas, tio de Maomé, mudaram a capital do império para a Mesopotâmia, onde fundaram Bagdá. Os novos califas continuaram a expansão territorial e incentivaram o desenvolvimento científico e artístico. O apogeu dessa dinastia ocorreu durante o reinado de Harun al-Rachid (780-810): o império muçulmano se estendeu desde a Espanha até a China.
Durante esse período ocorreu a ruptura da unidade do mundo árabe sonhada por Maomé:
· em 760, os árabes da Espanha declaram independência;
· em 968, os árabes do Egito tornam-se independentes.

O império foi dividido em três califados. Em Bagdá, os califas se cercaram de guardas mongóis que, aos poucos, tornaram-se os verdadeiros governantes.

Os turcos

Os turcos eram tribos asiáticas que vieram da Mongólia, assim como os hunos, os búlgaros e os húngaros. Após séculos de luta contra o império chinês, dirigiram-se para a Europa e fixaram-se nas margens do mar Cáspio. Lá, entraram em contato com os árabes da Pérsia e logo se converteram ao islamismo. A partir de então, tornaram-se guerreiros de Alá e cuidaram da guarda pessoal do califa.
Em 1055, uma das tribos turcas mais importantes, a dos seljúcidas, tomou Bagdá e substituiu o califa pelo seu sultão. Os turcos conseguiram submeter todos os povos árabes da Ásia e da África, tornando-se um perigo para os reinos cristãos da Europa.

A cultura muçulmana

Os muçulmanos não criaram uma cultura original, mas assimilaram aquilo que de melhor havia no imenso império que conquistaram em tão pouco tempo. Sua civilização deixou marcas de tolerância cultural e de uma fantasia sem limites.

A organização do império muçulmano

Os árabes foram muito tolerantes com os povos conquistados durante a Guerra Santa: permitiram que conservassem sua religião, seus costumes e a administração de seus territórios em troca de um tributo. Por outro lado, mostravam-se cruéis com aqueles que abusavam dessa benevolência.
O califa era o chefe supremo, civil, político e religioso. Os califas governavam a partir das capitais do mundo árabe: Bagdá, Cairo e Córdoba. Nos territórios conquistados, o emir exercia o poder absoluto em nome do califa. As principais tarefas de governo eram desempenhadas pelos vizires, ou ministros, e os xeques, os chefes das tribos.

A economia do mundo muçulmano

O contraste entre a Europa empobrecida do início da Idade Média e a prosperidade do mundo muçulmano era gritante. Os árabes dominaram as grandes rotas comerciais e tornaram-se os maiores intermediários entre o Oriente e o Ocidente.

As ciências e as letras

Os árabes difundiram na Europa inventos chineses, tais como o papel, a bússola, a pólvora e o cultivo do arroz e do algodão. Introduziram o cultivo da cana-de-açúcar nas ilhas de Chipre e na Sicília. Foram grandes fabricantes de tecidos, tapetes, jóias, cerâmicas e vidro. E também:

· dedicaram-se à química, fabricando remédios, drogas, perfumes e tinturas;
· desenvolveram a cartografia e a astronomia;
· no campo da matemática, desenvolveram a álgebra e a trigonometria;
· Introduziram na Europa as obras de Arquimedes e Euclides, e os números arábicos que trouxeram da Índia;
· a literatura dos árabes é uma das mais ricas e fascinantes da História. Suas lendas e contos são apreciados ainda hoje. Os mais populares são A lâmpada de Aladim, As mil e uma noites e Sinbad, o marujo;
· no campo da filosofia, destacaram-se pela tradução das obras de Platão e Aristóteles, que chegaram à Europa medieval levadas por eles;
· sua medicina foi a mais avançada da Idade Média: criaram as primeiras clínicas e escolas médicas. Seus farmacêuticos e médicos desfrutavam fama mundial.

As artes

O Alcorão proibia a representação de figuras humanas. A civilização muçulmana produziu uma arquitetura admirável que introduziu novos elementos, tais como o uso do arco com ornamentos geométricos, o arabesco, presente em mesquitas e palácios.



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