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O Feudalismo na Europa Medieval

Como surgiu o feudalismo

No século V, o Império Romano do Ocidente, não resistindo às pressões externas sobre suas fronteiras é destruído após uma série de invasões promovidas por povos germânicos, que eram denominados como bárbaros pelos romanos.
Não podemos nos esquecer que por volta do século III, o imperador Teodósio havia dividido o vasto império em duas partes: Império Romano do Ocidente, com capital em Roma e Império Romano do Oriente, cuja capital era Constantinopla. Este último sobreviveria até 1453.
A destruição do Império Romano do Ocidente deu lugar a diversos reinos que se organizaram baseados nas tradições romanas e germânicas, além da forte influência da Igreja Católica. Esta nova sociedade que se organizava ficaria conhecida como "Sociedade Feudal".

O que foi o feudalismo

O feudalismo é uma forma de organização econômica, social e política que se desenvolveu na Europa Ocidental, sobretudo entre os séculos X e XIII.
Segundo historiadores, as sociedades feudais mesclavam elementos romanos e germânicos. A própria palavra feudo tem origem germânica e significa “coisa oferecida em troca de algo”. Um feudo podia ser, por exemplo, uma extensão de terra, um castelo ou uma quantia de dinheiro. Como termo genérico, o conceito de feudalismo se aplica a todas as sociedades nas quais o poder central é reduzido e cuja economia se baseia no trabalho de camponeses submetidos a um regime de servidão.
Apesar de não terem se desenvolvido do mesmo modo em todas as regiões da Europa, as sociedades feudais apresentavam algumas características em comum:
• o fortalecimento do poder dos senhores locais, que exerciam autoridade administrativa, judicial e militar em suas propriedades;
• a hierarquização social entre membros do clero, nobres e servos;
• o estabelecimento de vínculos de fidelidade entre nobres;
• o domínio dos senhores locais sobre um conjunto de servos que trabalhavam no campo;
• o declínio de atividades urbanas e a ampliação de atividades rurais como a agricultura e a criação de animais;
• a consolidação do poder religioso, político e econômico da Igreja Católica.

Suserania e vassalagem

No feudalismo, houve um fortalecimento do poder local dos nobres. Esses nobres tornaram-se senhores feudais porque detinham terras chamadas de feudos. O senhor feudal governava seu território, onde podia cobrar impostos, manter exércitos e julgar crimes.
Para manter o poder, a nobreza feudal estabeleceu, entre si, relações de fidelidade da seguinte maneira:
• aquele que tinha mais terras (chamado de suserano) concedia uma parte delas (um feudo) para outro nobre (denominado vassalo);
• em troca, o vassalo devia fidelidade ao suserano e, também, prestava-lhe diversos serviços.
Provavelmente essa prática se disseminou a partir da época carolíngia. Os reis francos (povo germânico) costumavam doar terras em troca de fidelidade, serviços e obrigações militares.
A partir do século X combinavam-se, no sistema feudal, a propriedade da terra, a recomendação, o serviço militar e a fidelidade. Com o passar do tempo a Europa foi coberta por uma verdadeira rede de feudos, pois cada suserano tornava-se vassalo de um outro mais forte, sendo então o rei o “suserano dos suseranos”. O vassalo podia transferir parte de seu feudo para outrem, desde que obtivesse permissão de seu suserano, e dessa forma tornava-se ele também suserano.
O ato pelo qual um homem se colocava sob a proteção de outro era solene e recebia o nome de homenagem (de homem); nele o vassalo se ajoelhava ante o senhor e prestava juramento de fidelidade; e o senhor o investia como vassalo ao entregar-lhe um objeto simbólico, por exemplo uma espada. No feudalismo o vínculo era pessoal, já que unia o suserano e seu vassalo; e de direito real, pois vinculava as terras de um e de outro.
A sociedade feudal possuía uma estrutura piramidal. No ápice estavam o rei ou imperador e o papa; mais abaixo os ocupantes das antigas circunscrições administrativas, os duques, condes ou viscondes; depois vinham os barões, ou “senhores castelões”; abaixo na hierarquia apareciam outros nobres, cavaleiros e o clero, isentos do pagamento de taxas; na base, as classes inferiores, compostas por camponeses livres e servos, sobre os quais recaíam todos os impostos.

Principais características do feudalismo:
• forte influência da Igreja Católica,
• ruralização da sociedade;
• a terra como principal símbolo de poder;
• poder descentralizado;
• rígida hierarquia social;
• economia agrária a base de trocas;
• o feudo buscava a auto suficiência;
• presença do patriarcalismo;
• poder hereditário;
• o servo é a principal mão-de-obra;

As terras do feudo distribuíam-se da seguinte forma:
• Manso senhorial – Representava cerca de um terço da área total e nela os servos e vilões trabalhavam alguns dias por semana. toda produção obtida nessa parte da propriedade pertencia ao senhor feudal.
• Manso servil – Área destinada ao usufruto dos servos. Parte do que era produzido ali era entregue como pagamento ao senhor feudal.
• Terras comunais – Era a parte do feudo usada em comum pelos servos e pelos senhores. Destinava-se à pastagem do gado, à extração de madeira e à caça, direito exclusivo dos senhores.

Condição servil

As pessoas que viviam na condição de servos não podiam deixar as terras do senhor feudal. Tinham de trabalhar ali durante toda a vida para o próprio sustento e para manter as outras ordens sociais (nobreza e clero).
Os servos tinham uma série de obrigações que deviam ser pagas ao senhor feudal. Entre essas obrigações estavam:
• A corveia – prestação de trabalho gratuito durante vários dias da semana no manso senhorial;
• A talha – entrega ao senhor de parte da produção obtida no manso servil;
• A banalidade – pagamento de taxa pelo uso do forno, do lagar (onde se fazia o vinho) e do moinho, dentre outros equipamentos do feudo;
• O censo – pagamento efetuado com parte da produção em dinheiro, ao qual estavam obrigados somente os vilões ou homens livres;
• A capitação – imposto per capita (por cabeça), pago apenas pelos servos;
• A mão-morta – taxa paga pelos familiares do servo para continuar explorando a terra após sua morte.
O servo apesar de não ser considerado um escravo, não era um homem livre, pois estava preso ao feudo e se submetia a uma série de obrigações.
Analisando a situação dos servos, percebemos que eles eram explorados pelos senhores. Porém, naquela época, a relação servil tinha como base valores que faziam do senhor também um protetor, e não apenas um explorador. De qualquer modo, a exploração existiu e, por isso, houve uma série de rebeliões dos servos contra os senhores.

Divisões sociais

A sociedade feudal era comumente dividida em três ordens ou grupos distintos:
• clero ou oratores (termo latino que significa “aqueles que oram”) – eram os membros da Igreja Católica. Lidavam com os temas religiosos, administravam os bens da Igreja e tinham muita influência sobre o restante da sociedade. No topo da hierarquia do clero estava o papa. Depois dele, vinham os altos dirigentes: o chamado alto clero (cardeais, arcebispos, bispos e abades). Logo abaixo, estavam os sacerdotes e os monges, que formavam o chamado baixo clero;
• nobreza ou bellatores (termo latino que significa “aqueles que combatem”) – eram donos de terras e dedicavam-se, principalmente, às atividades políticas, administrativas e militares. Entre os nobres havia uma hierarquia: no topo, ficava o rei, seguido por príncipes, duques, marqueses e condes. Abaixo, estavam os cavaleiros. Em tempos de paz, a nobreza dedicava-se a caçar e a fazer torneios, que serviam de treino para guerras e batalhas;
• trabalhadores ou laboratores (termo latino que significa “aqueles que trabalham”)
– eram a maioria da população, que sustentava a sociedade com seu trabalho. Entre os trabalhadores havia artesãos, comerciantes e camponeses.
A maior parte dos camponeses eram servos, que não tinham liberdade. Um senhor feudal podia negociar seus servos com outro senhor – dar, emprestar ou trocar. O servo não podia testemunhar contra um homem livre ou nobre, não podia se tornar membro do clero (padre, bispo ou outro) e era obrigado a pagar muitos impostos. Mas tinha de ser protegido pelo senhor feudal, podia ter alguns bens e não podia ser vendido.

Mobilidade social

Nas sociedades medievais, era bem difícil uma pessoa sair de um grupo social e passar para outro, principalmente se fosse um camponês. Apenas os homens nobres podiam mudar de ordem, quando se tornavam sacerdotes.
No século XI, o bispo francês Adalbéron de Laon procurou justificar a existência das ordens sociais. Dizia ele que, enquanto uns rezam, alguns combatem e outros devem trabalhar. Assim, pelo argumento do bispo de Laon, se as partes cumprem suas obrigações, elas formam um conjunto que se apoia mutuamente.

Trabalho nos feudos

Nos lugares onde predominou o feudalismo, as principais atividades econômicas eram a agricultura e a criação de animais. Outras atividades – como comércio, artesanato e serviços – também eram praticadas, mas não tiveram a mesma importância que o trabalho na terra. Assim, o feudo era a principal unidade produtora da economia feudal. O tamanho de um feudo variava conforme a região. Mas, no geral, tinha em média de 200 a 250 hectares.
Nos feudos eram produzidos cereais, carnes, leite, roupas e utensílios domésticos para o consumo de quem nele vivia. Alguns produtos vinham de fora, como sal e ferramentas. De modo geral, os feudos eram divididos em três áreas principais: os campos abertos, as reservas senhoriais e os mansos servis.

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