segunda-feira, 25 de setembro de 2023

A força da Ásia Contemporânea

 O país do Sol nascente

Assim como outras regiões do Oriente, a partir do século VXI o Japão atraiu o interesse de muitos ocidentais por ser considerado o dono de uma cultura “exótica”. Essa forma de ver o mundo esteve centrada na ideia de que todos os que são diferentes dos valores ocidentais são “incivilizados” ou “bárbaros”, como pessoas ou regiões que precisam ser “civilizadas”, ou seja, submetidas à cultura das potências ocidentais.
Com esse discurso, os europeus colonizaram e massacraram milhões de nativos americanos desde o final de século XV. De forma idêntica, ocuparam boa parte da Ásia e oprimiram sua população a partir da metade do século XIX. O interesse pelo cultura do “outro” andava de mãos dadas com os interesses nas riquezas do “outro”.
Fechado para o Ocidente, o Japão não chegou a ser colonizado, como ocorreu com a Índia, por exemplo. De fato, em 1637, seus governantes proibiram o comércio externo e expulsaram os missionários cristãos vindos da Europa. Esse isolamento permitiram mais tarde aos japoneses apropriar-se de valores ocidentais em seu próprio benefício.
Em 1853, no contexto do imperialismo, o governo dos Estados Unidos enviou ao Japão três navios de guerra para tentar forçar o governo japonês a mudar sua política e permitir relações comerciais com outras nações. Os japoneses tiveram de ceder. Na sequência, governos de países europeus assinaram com o Japão contratos semelhantes. Assim, o comércio e as relações diplomáticas entre o Japão e o Ocidente se intensificaram. Teve início então o processo de ocidentalização do arquipélago japonês.

A Era Meiji

Em 1868, assumiu o governo o imperador Mutsuhito (1852-1912). Seu reinado recebeu o nome de Era Meiji, ou Era das Luzes. A palavra meiji significa, além de iluminação, renovação, regeneração e é comumente traduzida por restauração. Isso porque durante esse período o poder centrado o imperador foi restaurado, depois de um logo tempo de governo dos xoguns – chefes militares que tinham o poder de fato no Japão, antes de 1868.
Entre as reformas mais importantes de Mutsuhito estava o fim da servidão, a mudança da capital de Quioto para Edo (rebatizado de Tóquio), a adoção do iene como moeda, a reestruturação do exército, a procura de tecnologia no Ocidente e um forte investimento em setores estruturais da economia para o desenvolvimento industrial no Japão. A reestruturação do exercito pôs fim ao poder dos samurais.
Em pouco tempo, o Japão se tornou uma potência militar e econômica internacional. Entre 1904 e 1905, disputas por territórios levaram o Japão e a Rússia a um conflito armado do qual os japoneses saíram vencedores. Isso contribuiu para que o Japão consolidasse o controle sobre a província chinesa da Manchúria e sobre a Coreia, que, em 1910, foi transformada em colônia. Dessa forma, além de não ser colonizado pelas forças ocidentais, o Japão se tornou, ele próprio, um agente colonizador.

O Japão no século XX

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os militares ampliaram sua participação no governo japonês. No início da década de 1930, eles praticamente assumiram o poder. O país tornou-se uma potência militarizada, com uma política voltada para a conquista e a ocupação de territórios vizinhos. Em 1931, os Japoneses ocuparam a Manchúria e a partir de 1937 deram início a invasão de outras regiões da China.
Com a derrota na Segunda Guerra Mundial, o Japão foi ocupado por tropas norte-americanas comandadas pelo general Douglas McArthur. Durante o período de ocupação, o governo norte-americano implantou políticas que incentivaram o crescimento industrial no Japão. MacArthur foi o executor dessas medidas que modernizaram o país.
Foi elaborada uma Constituição semelhante às dos países ocidentais e adotado o sistema parlamentarista do governo. O imperador continuava com seu papel simbólico. As mulheres ganharam direito de voto. A educação gratuita garantida a todos, com ênfase no ensino de ciências e tecnologia. Foi feita também uma reforma agrária, com a divisão das grandes propriedades, que passaram a ser exploradas de maneira intensiva por pequenos proprietários.
Apesar da destruição provocada pela Segunda Guerra Mundial, o Japão reergueu-se economicamente com o auxílio financeiro dos Estados Unidos, cujo governo procurava garantir seus interesses o Extremo Oriente.

A arrancada econômica

A partir de 1954, teve início no Japão um processo de grande crescimento econômico. Adotou-se então, uma prática que teve papel decisivo no desenvolvimento japonês. Seus técnicos passaram a copiar e aperfeiçoar produtos de todos os tipos, produzindo-os de acordo com suas necessidades e com o gosto do consumidos japonês. Os setores que mais se desenvolveram foram o da indústria eletroeletrônica, automobilística, naval, de aço e de máquinas.
Além de atender ao mercado interno, os japoneses começaram a exportar seus produtos. Pouco a pouco, o mundo foi invadido por mercadorias made in Japan: rádios portáteis, televisores, videocassetes, toca-fitas, walkmans, aparelhos de som, gravadores, telefones, máquinas fotográficas, etc. depois vieram os automóveis e as motocicletas. As exportações tornaram-se o principal recurso da economia japonesa.

O Japão nos nossos dias

Dono do Segundo maior Produto Interno Bruto (PIB), só atrás dos Estados Unidos (e sem contar a União Europeia), o Japão está entre as nações mais desenvolvidas do mudo. Sua renda per capita chegava, em 2007, a 30 mil dólares. A expectativa de vida da população japonesa é a mais alta do mundo: 78 anos para os homens e 85 para as mulheres.
Nas últimas décadas do século XX, numerosas empresas japonesas passaram a transferir fábricas para outros países da Ásia, como China, Indonésia, Tailândia, e Malásia. Com isso, os custos de produtos puderam ser reduzidos, já que a mão de obra nesses países asiáticos é mais barata e os impostos cobrados, menores. No final da década de 1980, o crescimento econômico japonês chegou a ameaçar a hegemonia estadunidense, competindo até mesmo no mercado norte-americano.
Apesar disso, a partir da segunda metade dos anos 1990 o Japão enfrenta uma profunda crise econômica, que tem resultado em alguns momentos de recessão, com aumento no número de desempregados e paralisação do mercado imobiliário.

A emergência da China

Após a morte de Mao Tse-Tung, em 1976, a China passou por um profundo processo de mudanças. Dirigentes moderados assumiram a condição do governo, entre eles Deng Xiaoping, afastado do governo durante a Revolução Cultural. Sob sua liderança, o governo deu início a um programa de reformas econômicas cujo objetivo era alcançar o desenvolvimento do Ocidente, do qual a China estava ainda muito longe.

O socialismo de mercado

Deng Xiaoping pensava em um modelo diferente de socialismo e também no papel que a China deveria desempenhar no cenário internacional. Para ele, a inserção chinesa no mundo como uma força competitiva ocorreria apenas fazendo concessões à economia de mercado.
Assim, a iniciativa privada voltou a ser permitida e as cooperativas agrícolas e comunas populares foram aos poucos desaparecendo. Ao mesmo tempo, as empresas estrangeiras ganharam permissão para investir no país. Essas reformas provocaram uma reviravolta na sociedade chinesa. A economia passou a crescer, com base em empreendimentos de todo o tipo, originados de capital japonês, norte-americano, coreano, etc.
Contundo, a abertura se restringiu apenas ao campo econômico. No plano político, o Partido Comunista continuou monopolizando o poder e manteve-se como partido único. Em 1989, um amplo movimento de estudantes e intelectuais reivindicou mudanças democráticas, levando milhares de pessoas a gigantescas manifestações. A resposta do governo foi extremamente violenta, colocando nas ruas o exército com tanques e carros blindados, que avançavam sobre os manifestantes concentrados na praça Tiananmen (praça da Paz Celestial). A onda de manifestações, denominada Primavera de Pequim, acabava em repressão total. A impressa calculou mais de 2 mil mortos.

A quarta economia mundial

Após a morte de Deng Xiaoping, em 1997, as reformas na economia prosseguiram. A prosperidade econômica, contudo, gerou os problemas típicos dos países capitalistas desenvolvidos, como desigualdade social, prostituição, contrabando, tráfico de drogas e aumento considerável da poluição nas cidades mais industrializadas.
Nos primeiros anos do século XXI, a China aparece como um dos mais fortes polos da economia mundial. Tornou-se grande exportadora de produtos industrializados: tecidos, calçados, roupas, brinquedos, etc. desde os anos 1980, o país cresce a taxas anuais em torno de 9% ou 10%.
Em 2006, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês chegou a 10,7%. Em 2007, foram 11,9% de expansão. Em valores absolutos, o PIB chinês foi de 3,6 trilhões de dólares em 2007. Isso coloca a economia chinesa em quarto lugar no mundo, atrás do Estado Unidos, Japão e Alemanha. Suas exportações de produtos industrializados passaram de 4 bilhões de dólares em fins dos anos 1970 para mais de 250 bilhões em 2004. Calcula-se que em 2030 o PIB chinês será maior do que o dos Estados Unidos.

Liberdade para o Tibete!

A liberalização econômica, como vimos, não foi acompanhada de uma abertura política que fizesse da China um país mais democrático. Em março de 2008, por exemplo, a opinião pública internacional foi surpreendida pela repressão chinesa contra manifestações populares no Tibete que reivindicavam a independência da região, hoje uma província da China. (O Tibete foi ocupado militarmente pelos chineses em 1950. A invasão obrigou o dalai-lama, chefe espiritual dos tibetanos, a fugir para a Índia. Desde então seus sucessores passaram a viver no exílio.).
As manifestações ocorreram em um memento particularmente delicado para o governo chinês. Isso porque em 2008 se realizou as Olimpíadas de Pequim (capital da China) e, por razões de propaganda, os líderes chineses tem todo interesse em transmitir uma imagem positiva de seu próprio regime. Esse dilema revela que não há modernização possível sem liberdade de pensamento e de expressão, sem pluralismo político e sem respeito pelos direitos humanos.
Em maio de 2008, cedendo a pressão internacional para que dialogasse como o dalai-lama, o governo chinês aceitou receber uma delegação de tibetanos para negociar uma solução pacífica para a crise.

A Índia contemporânea

A Índia se tornou independente em 1947. Seu primeiro governante, já como república autônoma, foi Jawaharlal Nehru (1947-1964), um discípulo de Mahatma Gandhi. Nerhu manteve a Índia em uma posição de neutralidade em relação aos Estados Unidos e a União Soviética, integrando-a ao bloco de países não-alinhados.
Até 1966, sua filha Indira Gandhi assumiu o poder. Indira seria a primeira-ministra em duas oportunidades: entre 1966 e 1977 e entre 1980 e 1984. Durante seu governo, cresceram as tensões étnicas e religiosas. Para enfrenta-las, Indira suspendeu as liberdades constitucionais e reprimiu a oposição. Em 1971, apoiou os separatistas bengalis do Paquistão Oriental, que queriam se desligar do Paquistão Ocidental. Esse ato provocou uma guerra entre a Índia e o Paquistão. E Índia venceu o conflito e o governo paquistanês reconheceu a independência do Paquistão Oriental, que passou a se chamar Bangladesh.
Em 1984, o exército indiano invadiu o templo de uma minoria étnica e religiosa – os sikhs – e matou 400 fiéis. A resposta dos sikhs foi o assassinato de Indira em outubro de 1984. Em 1991, o filho e sucessor de Indira, Rajiv Gandhi, também seria assassinado. Os autores do atentado, porém seriam separatistas tâmes do Sri Lanka.

Ricos e pobres

Com a população de 1,1 bilhão de habitantes a Índia está hoje entre os países de maior crescimento econômico do mundo, logo atrás da China. Em 2006, seu Produto Interno Bruto (PIB) chegou a 911 bilhões de dólares. Entretanto, a sociedade indiana continua a ser uma das mais desiguais do mudo. Por um lado, o país vem se tornando um centro de produção de tecnologia na área de informática e que se destaca também na indústria farmacêutica e de biotecnologia. Por outro lado existem na Índia 380 milhões de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia. Essas pessoas estão abaixo da linha de pobreza.
Essa extrema desigualdade levou o primeiro-ministro Manmohan Singh a afirmar, durante as comemorações dos 60 anos de independência da Índia, em agosto de 2007: “o sonho de Mahatma Gandhi de uma Índia livre só estará totalmente completo quando erradicarmos a pobreza”.
Apesar da pequenez territorial, a expansão econômica dessas três regiões foi tão rápida que elas passaram a ser chamadas, juntamente com a coreia do Sul, de Tigres Asiáticos.

A Coreia do Sul e Taiwan

Produzindo automóveis, tecidos sintéticos, aparelhos eletroeletrônicos e outros produtos similares, nos anos 1980 a Coreia do Sul deixou de ser considerada pelos organismos internacionais um país em desenvolvimento (como hoje são o Brasil e China), passando a ser um país desenvolvido, ao lado da Inglaterra, Alemanha, Japão, etc. seu maior problema consiste hoje na aproximação com a Coreia do Norte, de regime comunista.
Taiwan, também conhecida como Formosa, abrigou o governo que dirigia a China antes da Revolução Comunista de 1949. Historicamente, pertenceu à China. Seguindo a política de produzir para exportar, também Taiwan conseguiu enorme crescimento econômico, basicamente com a mesma linha de produtos fabricados pelo Japão e pela Coreia do Sul na primeira etapa de seu desenvolvimento. Atualmente, a indústria desse país domina o mercado de diversos produtos da áreas de informática.

Cingapura e Hong Kong

Cidade-Estado, como vimos, Cingapura é sede de grandes bancos e empresas de exportação. O nível de vida de sua população é dos mais altos do mundo. Já Hong Kong fez parte da China ate 1958. A partir desse ano, que marcou a derrota chinesa para os ingleses na Guerra do Ópio (1839-1858), passou à condição de colônia da Inglaterra. Em 1977, contudo, voltou a pertencer à China. Nem por isso perdeu algumas de suas características de cidade-Estado, embora sem autonomia própria.

Os novos Tigres

A partir da década de 1990, outros países do Sudeste Asiático passaram a apresentar ritmos de crescimento semelhantes aos dos Tigres Asiáticos. São eles: Malásia, Tailândia e Indonésia, chamados de Tigres Asiáticos se segunda geração.
A Indonésia é o país de maior população muçulmana do mudo, com mais de 230 milhões de habitantes e até pouco tempo atrás dominava o Timor Leste, região na qual se fala português. Timor Leste tornou-se independente em 2002.

Crise e recuperação

A partir de 1977, tanto os Tigres Asiáticos quanto os Tigres de segunda geração entraram em crise quando suas economias sofreram ataques especulativos. A crise teve início na Tailândia e atingiu inicialmente Hong Kong, Cingapura, a Indonésia e Malásia. Mas logo chegou à Coreia do sul.
Nesses países, as exportações caíram, a produção industrial diminuiu, as taxas de desemprego elevaram-se. Em alguns deles, a moeda foi desvalorizada. A recessão durou até 1999, mas em 2002 a maioria deles, principalmente a Coreia do Sul, apresentava um bom nível de recuperação.

Terrorismo e focos de tensão

Sempre que ouvimos falar em terrorismo, lembramos logo dos atentados a bomba, dos sequestros de avião e de outras ações violentas praticadas por extremistas. E pensamos nas vítimas, em geral pessoas inocentes, muitas vezes mulheres e crianças, que apenas estavam no lugar errado na hora errada. O método básico do terrorismo é a destruição da vida humana, em nome de certos princípios ideológicos, políticos ou religiosos.

O terrorismo não surgiu em nosso século, mas seu auge aconteceu durante os anos da Guerra Fria, depois da Segunda Guerra Mundial. Não foi por acaso. A Guerra Fria pode ser descrita como um sistema de equilíbrio entre dois blocos inimigos que se baseava no terror. Afinal, o poder de destruição nuclear dos Estados Unidos e da União Soviética era tão grande que ninguém poderia iniciar uma guerra total. Seria o fim da espécie humana.
Essa mentalidade consagrou o terror como forma de relacionamento entre Estados. Nesse sentido, a chamada "cultura da Guerra Fria" foi o grande estímulo à multiplicação de grupos terroristas.

O que é terrorismo?

Formalmente, terrorismo é o uso da violência sistemática, com objetivos políticos, contra civis ou militares que não estão em operação de guerra. Existem muitas formas de terrorismo. Os terroristas religiosos praticam atentados em nome de Deus; já os mercenários recebem dinheiro por suas ações; os nacionalistas agem movidos por um ideal patriótico. Há ainda os ideólogos, que armam bombas motivados por uma determinada visão de mundo. E, muitas vezes, o que se vê é uma mistura de tudo isso com desespero e ódio.
Por outro lado, houve no século XX o crescimento do terrorismo de Estado, em que é adotada a política de eliminação física de minorias étnicas ou de adversários de um regime. Um exemplo é o regime racista da África do Sul, responsável por ações terroristas contra a maioria negra do país até o fim do apartheid, no início dos anos 90. Na América Latina, as ditaduras militares dos anos 60 e 70 promoveram o terrorismo de Estado contra seus opositores, torturando e matando milhares de pessoas. No Oriente Médio, os palestinos de cidadania israelense e os habitantes dos territórios de Gaza e Cisjordânia foram segregados e sofreram ataques das forças armadas de Israel, entre 1967 e 1993. O terrorismo de extremistas muçulmanos contra judeus de Israel, por sua vez, também aterrorizou e matou pessoas inocentes, principalmente a partir da década de 80.
Muitos historiadores e intelectuais avaliam que as bombas atômicas jogadas pelos Estados Unidos sobre o Japão, em agosto de 45, foram o maior atentado terrorista já praticado até hoje. Mais de 170 mil civis perderam a vida num ataque que não tinha como objetivo vencer a guerra, mas fazer uma demonstração de força para a União Soviética.

O RETORNO DO TERRORISMO

Na segunda metade do século XX, depois da Segunda Guerra Mundial, movimentos terroristas surgiram em territórios coloniais, com duplo propósito: o primeiro era pressionar a potência colonial a se retirar, e o segundo, mais sutil, era impressionar a população para apoiar determinados grupos no período pós-colonial, na formação dos estados independentes. Em alguns lugares tiveram sucesso, e não em outros, como na Índia e a Malásia.
O terrorismo não terminou com o final dos impérios europeus nos anos de 1950-1960, quando as colônias africanas e asiáticas se tornaram independentes. Continuou existindo na Europa, na Ásia, no Oriente Médio e na América Latina, em resposta a circunstâncias diversas. As causas defendidas podiam e podem ser revolucionárias, socialistas, nacionalistas e religiosas. Mesmo nos Estados Unidos, existem grupos contra o governo, que formam as chamadas “milícias”, que eventualmente praticam atos terroristas.
Existem nos Estados Unidos diversos grupos que são contrários às atitudes do governo (em todas as instâncias: local, regional, estadual e federal), como: a obrigação de educação mista (racial e sexual) nas escolas públicas; a proibição de comprar armas de grosso calibre, tanques e bazucas, como armas de uso pessoal; a proibição de rezar no início das aulas em respeito às diferenças religiosas; a igualdade das raças (branca, negra e amarela) perante a lei; o sistema de quotas e ações afirmativas para os grupos étnicos minoritários (negros, asiáticos, latino-americanos); o sistema público de saúde e a vacinação obrigatória (contra as doenças epidêmicas, especialmente as infantis) etc.
A partir de 1970, no Oriente Médio, as ações terroristas foram se ampliando, no conflito israelense-palestino, com crescente grau de violência. Segundo especialistas, um novo componente foi somado: o extremismo religioso. Depois de 1990, um novo tipo de terrorismo surgiu liderado por Osama Bin Laden, que inclui o extremismo religioso, o desprezo pelos regimes existentes nos países árabes, a hostilidade aos Estados Unidos e a insensibilidade diante dos efeitos dos atos terroristas. É um tipo diferente de terrorismo, pois possui uma causa, uma rede de apoio, mas não está localizado em nenhum estado. Seus membros não se importam em cometer suicídio.
Os progressos tecnológicos e a difusão dos conhecimentos técnicos possibilitam a realização de atos terroristas com o uso de armas químicas, bacteriológicas ou biológicas, que podem disseminar a morte ou a contaminação de doenças em massa nos grandes centros urbanos de qualquer país. As razões ideológicas aparentemente deram lugar ao fanatismo religioso, especialmente dos seguidores de líderes messiânicos que divulgam idéias apocalípticas ou salvacionistas radicais.
Existem dificuldades políticas e legais para o estabelecimento de uma legislação comum contra o terrorismo. Muitas vezes, o título foi empregado contra grupos de oposição política, que recorrem a atos de violência para manifestação de suas posições: o ETA na Espanha, o IRA na Irlanda do Norte, o VietCong no Vietnã etc. Ou mesmo quando não a praticam sistematicamente: foi o que ocorreu em 1987, quando o Partido do Congresso Africano da África do Sul foi classificado com terrorista pelo governo sul-africano, pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos.

11 de setembro: Atentado terrorista aos Estados Unidos

No dia 11 de setembro de 2001, os dois maiores edifícios comerciais de Nova York (as torres gêmeas do World Trade Center) foram destruídos por aviões civis. De acordo com o governo dos Estados Unidos, esses aviões estavam lotados de passageiros e foram pilotados até o alvo por terroristas que os sequestraram em pleno voo. O impacto dos aviões contra os edifícios provocou a morte de quase 3 mil pessoas. No mesmo dia, o edifício do Pentágono, em Washington, também foi atacado por um avião causando estragos ao prédio e a morte de cerca de oitenta pessoas.
Segundo o governo dos Estados Unidos, os autores dos ataques foram os integrantes da Al Qaeda, organização liderada por Osama Bin Laden.
Como a Al Qaeda tinha seus campos de treinamento no Afeganistão cujo governo apoiava, o governo dos Estados Unidos atacou o Afeganistão e derrubou o governo daquele país.

O World Trade Center

O complexo do World Trade Center tinha 7 torres. Começou a ser construído em 1970, por iniciativa do governo estadual, visando valorizar a área sul da ilha de Manhattam, dominada então por bancos e corretoras.
Era o prédio mais alto de Nova York, tinha 417 metros de altura, 38 mil metros quadrados de lojas e duas torres, de 110 andares. Além das duas torres que desabaram, o complexo do World Trade Center abrigava outros cinco prédios, um de 47 andares, outro de 22, dois de nove e um último de oito, um shopping center, uma creche e uma estação de trens.
Era o quinto edifício mais alto do mundo e o segundo dos EUA (só perde para a Sears Tower, de Chicago, com 443 metros). O conjunto abrigava escritórios de quase 400 empresas de 25 países pelo menos. 50.000 pessoas trabalhavam na torre norte e sul, estima-se que na hora do atentado pelo menos 10.000 pessoas entre visitantes e funcionários se encontravam no local.
O World Trade acabou por se transformar em um ponto turístico e chegou a ser palco de vários suicídios no início de sua existência. De seus dois terraços, era possível enxergar a Estátua da Liberdade ao sul, o bairro do Brooklin a oeste e a cidade de Nova Jersey a leste.
O prejuízo estimado com o ataque as torres foi de mais de 20 bilhões de dólares. Cinco outras construções nas proximidades do WTC e quatro estações subterrâneas de metrô foram destruídas ou seriamente danificadas. No total, foram 25 prédios danificados em Manhattan. Em Arlington, uma parte do Pentágono foi seriamente danificada pelo fogo e outra parte acabou desmoronando.

O Ataque ao Pentágono

O Pentágono possui 5 prédios um dentro do outro. Cada um com 5 andares. Reúne comandos de 14 agências do governo e forças armadas. O Jato atingiu a ala sudoeste. Mais de 800 funcionários trabalhavam no local no momento do ataque e pelo menos 110 pessoas já foram encontradas mortas entre os escombros.

Al-Qaeda (a Base)

Al-Qaeda é um grupo de apoio multinacional que funda e orquestra as atividades de militantes islâmicos mundialmente. Cresceu fora da guerra afegã contra os soviéticos, e seus sócios de caroço consistem em veteranos de guerra afegãos de por toda parte o mundo muçulmano. Al-Qaeda era ao redor estabelecido 1988 pelo Osama Laden. Fundado dentro de Afeganistão, Laden usa uma rede internacional extensa para manter uma conexão solta entre extremistas muçulmanos em países diversos. Trabalhando durante meios de alta tecnologia, como fac-símiles, satélite telefona, e o internet, ele está por toda parte em contato com um número desconhecido de seguidores o mundo árabe, como também na Europa, Ásia, os Estados Unidos e Canadá.
A meta primária da organização é a subversão do que vê como os governos corruptos e heréticos de estados muçulmanos, e a substituição deles/delas com a regra de Sharia (lei islâmica). Al-Qaeda é intensamente anti-ocidental, e visões os Estados Unidos em particular como o inimigo principal de Islã. Laden emitiu para três "fatwahs" ou decisões religiosas que chamam os muçulmanos para levar braços contra os Estados Unidos.

À beira da guerra

Em outubro de 1999, o Conselho de Segurança da ONU exortou o Talibã a entregar Osama bin Laden, líder da organização terrorista al-Qaeda ("A base"), apontado pelo governo americano como mentor dos atentados contra as embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia em 1998. Após ser expulso do Sudão, em 1996, bin Laden passou a viver no Afeganistão.
Os atentados de 11 de setembro, que destruíram o WTC (Centro Mundial de Comércio), em Nova York, e parte do Pentágono, em Washington, criaram uma nova situação internacional.

Invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos

Logo após os atentados, os Estados Unidos obtiveram informações de que os terroristas estavam ligados a Osama bin Laden. O Afeganistão, que o abriga bem como à sua organização, al-Qaeda, recusou-se a entregá-lo à justiça norte-americana. Em consequência disto, os Estados Unidos classificaram o Afeganistão como um estado que abriga terroristas. Em retaliação ao atentado terrorista, os Estados Unidos presentemente lançam uma ofensiva militar contra o Afeganistão. O alvo norte-americano são o regime Talibã e as bases de treinamento para terroristas, no país. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos lançam comida e medicamentos à população afegã que sofre com a miséria e o regime totalitário do país.
Em grande parte, o mundo ocidental apoia a iniciativa norte-americana. Os Estados Unidos e a Europa insistem em que esta é uma guerra contra o terrorismo, e não contra o Islã ou mesmo o Afeganistão. O objetivo norte-americano é derrubar o regime Talibã e punir Osama bin Laden e os membros de sua organização terrorista.
E então o Afeganistão, acusado de apoiar o saudita, tornou-se o alvo número um das tropas norte-americanas. Assim tem início a chamada Guerra ao Terror, instaurada pelo Presidente George Bush.
O Congresso implanta várias leis para proteger o país e aprova a decisão do Presidente de invadir o Afeganistão, como uma represália ao atentado cometido em território americano. Assim, no dia 07 de outubro de 2001, tropas norte-americanas, apoiadas pela Aliança do Norte, revoltosos afegãos que apoiaram os EUA contra os terroristas da Al Qaeda e os Taliban, invadiram este país, aliadas também a forças internacionais do Reino Unido, do Canadá e da Austrália.
A investida contra o governo foi vitoriosa, pois lograram expulsar os Taliban do poder. Mas lutas incessantes prosseguem entre a coalizão que substituiu o antigo governo e facções rivais. Durante os combates, os norte-americanos conseguiram atingir alvos estratégicos, obtendo êxito ao prender supostos terroristas no Afeganistão, que foram presos na base militar de Guantánamo, em Cuba. Bush não lhes concedeu os direitos de prisioneiros de guerra, pois ele os considerou soldados ilegítimos. Consequentemente, estes rebeldes não tiveram direitos básicos resguardados, e fala-se hoje de abusos e torturas inomináveis que teriam ocorrido neste local.

A Guerra No Iraque

O Que Levou a Guerra...

As origens do conflito entre o Estados Unidos e o Iraque iniciaram seu conflito em agosto de 1990, quando Saddam Hussein ordenou às tropas de seu país a invasão do Kuwait. Os americanos desaprovaram a ação iraquiana, montaram uma coalizão militar com países aliados e expulsaram os soldados de Saddam do Kuwait. A guerra, porém, jamais terminou de fato - desde então, dezenas de ataques foram lançados no Golfo Pérsico.
Em abril de 1991, com as tropas iraquianas já derrotadas pelos americanos, uma resolução da ONU determinou uma trégua no conflito e ordenou o desarmamento de Saddam Hussein. Desde então, o líder iraquiano resistiu às ordens externas, impôs obstáculos aos inspetores estrangeiros, evitou desmontar seu arsenal e desafiou os americanos. Foram onze resoluções da ONU, todas ignoradas.
Ataques - Entre 1991 e 1998, três grandes operações militares atingiram o Iraque como retaliação à postura de Saddam. Em 1993, aviões americanos, ingleses e franceses atacaram o país; em 1996, os EUA lideraram a operação Ataque no Deserto; em 1998, os americanos lançaram outra operação, Raposa do Deserto. Além disso, vários ataques aéreos esporádicos atingiram alvos dos iraquianos.
Entre 1998 e 2001, a ONU tentou retomar as inspeções de armas no Iraque, mas fracassou. O tema só retornou à pauta prioritária dos americanos em 11 de setembro de 2001, depois do maior atentado terrorista da história. A posição do governo George W. Bush diante das ameaças externas mudou. Em 2002, Bush anunciou oficialmente que a doutrina de seu país será de atacar antes de ser atacado.
Justificativa - O Iraque é o primeiro alvo da política americana de ataques preventivos em função do histórico de conflito com o país e dos fortes indícios de que tem armas de destruição em massa. De acordo com os americanos, as armas químicas, biológicas e nucleares supostamente mantidas por Saddam poderão ser usadas contra vizinhos árabes ou até contra alvos americanos dentro e fora do país.
Os atentados em Nova York, em 11 de setembro de 2001, desviaram a atenção dos Estados Unidos para uma nova ameaça: o terrorismo, "personificado" na figura de Osama Bin Laden. A guerra contra o Afeganistão conseguiu derrubar o regime do Talibã, mas passou longe de desmantelar a rede mundial de terrorismo. Mesmo com essa "missão" ainda pendente, o governo do presidente norte-americano George W. Bush volta suas atenções novamente para o Iraque. Os bombardeios recomeçaram e, mesmo sem apoio internacional, os Estados Unidos prometem uma nova e intensa ofensiva. Por que isso?

E a guerra começa

Por causa dos apoios recebidos na época da Guerra Irã - Iraque, o exército iraquiano é um dos mais bem aparelhados do mundo árabe. Diferentemente do que aconteceu em 1990 – quando o Iraque havia invadido o Kuwait –, não existe "motivo" concreto para uma nova ação militar. As alegações dos norte-americanos, de que o governo iraquiano está produzindo armas de destruição em massa (especialmente químicas e biológicas), não chegaram a ser provadas pelos inspetores da ONU. Apesar disso - e contra a opinião da maior parte da comunidade internacional e da própria ONU - os Estados Unidos atacaram Bagdá na manhã do dia 20 de março de 2003. Começa uma nova guerra.

Um pouco de análise

Segundo alguns analistas, o interesse norte-americano é garantir suas tropas no Oriente Médio. Enquanto o Iraque significar uma ameaça, os Estados Unidos têm como justificar a presença de um grande efetivo militar na região - a mais rica do planeta em petróleo. Outro motivo citado é a tendência do presidente George W. Bush – filho do Bush que comandou a Guerra do Golfo – de investir contra "inimigos". E finalmente, uma terceira – e talvez mais "poderosa" – razão: depois de quase uma década de crescimento econômico constante, os Estados Unidos dão mostras de entrar em uma crise. O "aquecimento" da indústria bélica – a maior do mundo – poderia também significar um aquecimento da economia em geral.
Em pouco tempo as tropas anglo-saxônicas chegaram a Bagdá. Saddam Husseim desapareceu e, por um breve momento, a coalisão comandada pelos Estados Unidos achou que a guerra fora ganha.
O Presidente George W. Bush, que em junho de 2003, segundo a BBC, alegou seguir os desígnios divinos ao invadir o Afeganistão e, logo depois, o Iraque, caracterizando assim um certo fundamentalismo cristão, não teve poderes extraordinários para devolver ao Afeganistão a paz tão desejada, perdida desde a invasão da União Soviética.

ENTRE GOLPES E PROTESTOS: OS ANOS 60 E 70 DO SÉCULO XX

O poder da juventude

Nas décadas de 60 e 70 as manchetes de jornais de vários países do planeta abordavam a escalada da juventude na sociedade, os jovens, inconformados com os valores e instituições, ideias e tabus existentes na sociedade, buscavam construir, pacífica ou violentamente, um novo mundo. Queriam romper com tudo que consideravam tradicional, conservador e ultrapassado. A palavra de ordem era a contestação.
E contestando o que consideravam “velho”, foram construindo e assumindo novos valores e comportamentos e ousadas formas de fazer política, arte, religião, etc. nos países socialistas, lutaram pela liberdade política, nos países capitalistas industrializados criticavam a sociedade de consumo e os valores e tabus conservadores e nos países de terceiro mundo, lutaram contra as ditaduras e contra o imperialismo.
Nem sempre com sucesso, nem sempre com derrotas. As lutas e a rebeldia da juventude nos anos 60 e 70 mudaram o mundo. Não exatamente como eles queriam, mas com certeza imprimiram na sociedade sua digital: abalaram estruturas e mentalidades, modificaram os modos e a moda, diversificaram e pluralizaram as opiniões, os comportamentos, os estilos e os conceitos. Opondo-se à a moda comportada e sofisticada das décadas anteriores, os estilos de roupas, de cabelos, de maquiagem, os ídolos, os estilos musicais e a forma de ver e viver passaram por uma verdadeira revolução.
Nos anos 60, a moda deixou de ser única e a forma de se vestir tornou-se cada vez mais ligada ao comportamento. Num cenário de afirmação da juventude e de contestação, a moda passou a ter várias propostas e tendências, mas as grandes vedetes da época eram: a minissaia, os shortinhos, os vestidos feitos em linha reta (os famosos tubinhos), as calças masculinas cada vez mais justas, com cintura baixa e barra larga (a famosa boca de sino). Alguns modismos surgiram a partir da cópia dos modelos usados por ídolos e celebridades da época: os terninhos dos Beatles, os óculos de Jackie Onassis, os cabelos curtíssimos e os cílios postiços e delineados da magérrima Twiggy (apelido da inglesa Lesley Hornby, que foi de 1966 a 1969 a modelo símbolo da época e a primeira top model do mundo), os ternos estilo Mao Tsé-tung, as camisas com o rosto de Che Guevara, entre outros.
Os avanços da ciência, as viagens espaciais, a revolução na arte e no design – especialmente a Pop Art, movimento artístico que usava a irreverência e a ironia para contextualizar e contestar a sociedade de consumo – também influenciavam a moda e eram retratados nos modelos, estampas e tecidos. Os desenhos de Andy Warhol, um dos criadores da Pop Art, tais com as latas de sopa Campbell, Elvis Presley e Marilyn Monroe, viraram estampas de tecidos usados para confeccionar vestidos e camisetas. Os tecidos sintéticos com estampas futuristas e geométricas também eram hits nos anos 60 e 70, expressão de uma época que buscava a mudança, a modernidade, o futuro.
Nos anos 60 Londres era o reduto jovem mundial, mas já no final dessa década foi substituída pela cidade de São Francisco nos Estados Unidos, berço dos movimentos de contestação e de lutas das “minorias”: o flower Power, poder da flor (slogan dos hippies que pregavam a paz e o amor; o Black Power (slogan do movimento negro norte-americano), o gay Power e womens’s lib (movimento pela libertação das mulheres). Essas palavras de ordem ecoaram em grande parte do planeta e se tornaram slogans da juventude mundial e base de suas manifestações e lutas.
No final dos anos 60 e início da década de 70, a busca de novos valores, de um outro tipo de vida, a negação da sociedade de consumo, dos preconceitos e das hierarquias, a valorização das classes operárias e camponesas, a busca de uma vida mais espiritualizada, a aproximação com o misticismo oriental promoveram uma nova reviravolta na moda e no comportamento. O movimento hippie, originalmente um estilo de vida que negava a sociedade consumista, competitiva e belicosa, acabou se transformando num modismo e milhares de pessoas passaram a adotar o seu visual: cabelos longos, túnicas batique (indiana), jeans surrados e enfeitados, camisetas com estampas florais e com símbolos de paz e do zodíaco, pantalonas e saias longas estilo cigana, bolsas de couro, carmuças e crochê com franjas e alças e tiracolo, sapatos plataforma e bijuterias viraram verdadeiras manias mundiais.
Nessas décadas, a criatividade e a originalidade estavam a todo vapor e a produção cultural foi extremamente rica e variada. Na música destacaram-se as bandas de rock-and-roll, especialmente Os Beatles, um verdadeiro fenômeno mundial: entre 1962 e 1969 venderam 220 milhões de discos e um de seus integrantes, Jonh Lenon chegou a declarar: “Somos mais populares que Jesus Cristo”. Segundo vários especialistas, os Beatles conseguiram transformar em música a rebeldia e os sonhos dos jovens dos anos 60, registrando em sons a história de uma época.
No final dos anos 60 e início dos 70, outras bandas de rock se destacaram no cenário mundial fazendo um som mais pesado e estridente: Rolling Stones, Led Zeppelin, Black Sabath e os roqueiros Janis Joplin, Jimi Hendrix, Rod Stewart, David Bowie, entre outros. Surgiu nessa época também o chamado “rock progressivo”, cujos maiores representantes foram os grupos Yes, Pink Floyd e Queen. No final dos anos 70, surgiram novos estilos como o disco ou dance music, inaugurando a era das discotecas, e o punk rock.

Jovens, mulheres e negros querem mudar o mundo

· Década de rebeldia e contestação

A década de 60 foi realmente explosiva. Em várias partes do mundo ocorreram movimentos populares que exigiam mudanças sociais e políticas tanto nos regimes socialistas como nos países capitalistas. Havia um forte sentimento de recusa e toda forma de opressão, discriminação e autoritarismo.
Nos países capitalistas, a luta era por ampliação dos direitos civis dos negros e das mulheres, pela reforma do sistema educacional arcaico e tradicional e pelo fim das guerras. Para exigir seus direitos, os estudantes, os negros e as mulheres foram às ruas, criando formas alternativas de organização e manifestação. Apesar do caráter pacífico da maioria desses movimentos, eles foram enfrentados pelo poder instituído com violência e repressão, demonstrando a resistência em relação às mudanças. Em geral, os manifestantes eram acusados de subversivos, baderneiros e imorais.
Além dos métodos tradicionais de luta, como as greves, passeatas, barricadas, a geração jovem dos anos 60 e 70 criou fórmulas alternativas de protestar contra o modelo social vigente: o movimento hippie e a contracultura.
Nos países socialistas, o aparato repressor do Estado não conseguiu impedir a explosão da insatisfação de vários segmentos da população com o autoritarismo do regime e a ausência de liberdade e de participação popular. Esses movimentos contra-revolucionários, traidores e inimigos do povo.
Como podemos observar, tanto no socialismo como no capitalismo, as diferenças não eram respeitadas e aceitas, ao contrário, eram inferiorizadas e discriminadas.
Apesar disso, o movimento estudantil, o movimento feminista e o movimento negro mantiveram suas lutas (com períodos de avanços e de refluxo) e ao longo dos anos foram conquistando espaço voz na sociedade, contribuindo direta ou indiretamente para as grandes mudanças políticas, sociais e culturais pela quais o mundo passou a partir dos anos 60 até hoje.
O estopim das lutas ocorreu em 1968. Nunca um ano provocou tantos movimentos e protestos populares: na França, a “revolta de maio”; na Tchecoslováquia, o “massacre da Primavera de Praga”; na Polônia, as manifestações contra o regime burocrático; na América Latina, o apogeu do movimento estudantil contra as ditaduras militares.

· Pela igualdade racial

A partir de meados dos anos 50, começou nos Estados Unidos um vigoroso movimento pelos direitos civis dos negros liderados pelo pastor Martin Luther King (1929-1968). O método pacifista defendido por Martin para combater o racismo e a violência contra os negros era a desobediência civil, ou seja, não obedecer as proibições e limitações legais a que eram submetidos. Sua filosofia de não-violência era baseada nas ideias e lutas do líder indiano Mahatma Gandhi e nos princípios cristãos.
A luta de Luther King pelos direitos civis dos negros nos EUA começou em 1955, quando ele liderou um boicote ao transporte coletivo em protesto a um ato discriminatório a uma passageira negra. O movimento, que durou 381 dias, provocou reações violentas e King teve sua casa bombardeada.
Em 1957, ajudou a fundar a Conferência da Liderança Cristã no Sul (SCLC), uma organização de igrejas e sacerdotes negros, que tinha como objetivo acabar com as leis de segregação por meio de manifestações e boicotes pacíficos. Em 1960, como resultado de uma série de protestos contra a segregação racial em hotéis, restaurantes, escolas, etc., o movimento negro liderado por King conseguiu aprovar uma lei concedendo livre acesso dos negros aos lugares públicos.
No ano de 1963, Martin L. King liderou várias passeatas, marchas e protestos em prol dos direitos civis de todos os cidadãos dos Estados Unidos, contando sempre com a adesão de milhares de participantes. Mas, apesar dos métodos de não-violência e resistência passiva, milhares de manifestantes foram presos durante as marchas e protestos e até mesmo Luther King foi preso várias vezes, acusado de perturbar a ordem pública.
Apesar da resistência de uma grande parcela da sociedade branca norte-americana, a luta dos negros americanos passou a ter ressonância internacional, especialmente após a passeata em Washington (28 de agosto de 1963), onde Luther King proferiu seu famoso discurso “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”). A partir daí, a luta sem violência contra a discriminação e intolerância racial ganhou força. Foram organizados grandes comícios e passeatas reunindo milhares de negros nas grandes cidades norte-americana, principalmente em Memphis, berço do movimento.
Em dois de julho de 1964, os negros conseguiram sua primeira vitória, com a aprovação da Lei dos Direitos Civis, que tornou ilegal a discriminação racial no registro de eleitores e em estabelecimentos públicos – restaurantes, postos de gasolina, hotéis, etc. – e estabeleceu punições para escolas e hospitais que recusassem atendimento por preconceitos raciais.
Apesar do grande avanço, essa lei limitava o direito de cidadania aos negros, pois exigia uma escolaridade mínima (algo equivalente à nossa escolaridade primária) como requisito ao direito de voto. Como grande parte dos negros não tinha acesso às escolas até então, milhares deles ficaram sem registro eleitoral. Novos protestos levaram o governo a aprovar a Lei dos Direitos de Voto, em seis de agosto de 1965, garantindo a igualdade desse direito para brancos e negros.
Apesar desses avanços, a situação dos negros norte-americanos estava longe da igualdade pretendida. A superioridade branca ainda era bastante visível e controlava o poder político e econômico no país. Para combater o “o poder branco”, surgiu um novo movimento negro nos EUA, chamado de Black Power (Poder Negro), que a partir de 1967 passou a promover saques, incêndios e protestos violentos para atingir seus objetivos.
Liderados por Stokely Carmichael e Malcolm X, esses movimentos negros eram contrários à integração da comunidade negra com os brancos e defendiam a valorização da cultura negra. Seus métodos radicais espalharam uma onda de violência racial que se aprofundou ainda mais em 1968 após o assassinato de Martin Luther King, em quatro de abril, e de Bob Kennedy, em cinco de junho, este candidato à presidência identificado com a causa negra.
A explosão da luta racial nos EUA fez acelerar a aprovação de uma série de novas leis a favor dos direitos civis negros. Apesar disso, ainda hoje, persiste uma mentalidade racista violenta, que provoca continuamente nos e explosivos conflitos.

· Pela igualdade entre os sexos

Nos anos 60, influenciado pelas lutas dos negros americanos e pelos movimentos contra a guerra do Vietnã, ressurgiu com força o movimento. Foi decisiva a influência de Simone de Beauvoir (que publicou, em 1949, o livro O segundo sexo) e de Betty Friedam (que publicou o livro A mística feminina) – escritoras que analisavam a condição da mulher na sociedade e denunciavam o machismo. Nessa década ocorrem centenas de passeatas e protestos das mulheres em diversas partes do mundo, principalmente nos EUA, França, Inglaterra e Itália.
Defendendo a bandeira da igualdade entre os sexos e combatendo a discriminação das mulheres no mercado de trabalho, o movimento feminista procurava conscientizar as mulheres dos seus direitos, ao mesmo tempo que exigia das autoridades avanços nas leis contra a discriminação da mulher na sociedade. Em consequência desse movimento e do surgimento da pílula anticoncepcional, o mundo conheceu uma verdadeira revolução sexual: tabus e preconceitos como a virgindade, o casamento eterno (mesmo que infeliz), o papel social da mulher como “rainha do lar” e sua submissão e passividade em relação ao marido, entre outros, foram aos poucos sendo destruídos.
Tradicionalmente ensinadas a se realizar (e acomodar-se) por meio do casamento e da maternidade, as mulheres passaram a lutar por espaços na vida pública (direitos iguais, oportunidades no mercado de trabalho, acesso à educação formal e à profissionalização, etc.) e liberdade e domínio sobre sua vida e seu corpo na vida privada.
A partir das lutas das mulheres nos anos 60 e 70, o comportamento e a mentalidade das mulheres, especialmente as ocidentais, passaram por um profundo processo de mudanças. Cenas raras até a década de 50 foram tornando-se cada vez mais comuns: mulheres com dupla jornada de trabalho (no lar e no mercado), frequentando lugares públicos sem acompanhantes masculino, mulheres divorciadas (embora em muitos países fossem ainda alvo de discriminação) mulheres fumando (o cigarro nessa época foi para muitas mulheres um símbolos ou uma forma de liberdade) e mulheres participando ativamente de movimentos políticos, sociais e culturais.
Na década de 70, o movimento feminista diversificou suas reivindicações e a luta das mulheres teve como eixos centrais a denúncia contra a violência no lar e a defesa da descriminalização do aborto. Um dos momentos marcantes do movimento foi em 1975, instituído pela ONU como o Ano Internacional da Mulher.

Lutas e conquistas no Brasil

No Brasil, a luta das mulheres contra a violência, cujo lema era “Quem ama não mata”, conquistou importantes vitórias com a criação do SOS – Mulher no final da década de 70 e com a aprovação da lei do divórcio em 1977. Em 1985, surgiu a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher – DEAM, em São Paulo e, logo depois outras Deçegacias da Mulher foram implantadas em vários Estados brasileiros.
Em 1985, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 7353, que criou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Nas eleições de 1986, 26 mulheres se elegeram deputadas constituintes que conseguiram aprovar, através do “Lobby do Batom” uma emenda na Constituição Federal, garantindo igualdade a todos os brasileiros perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e assegurado que homens e mulheres tenham direitos iguais no Brasil.
Nos anos 90, vários seminários e conferências mundiais importantes – tais como Planeta Fêmea, Agenda 21, ECO 92 – tiveram expressiva participação de mulheres brasileiras. Em 1996, o Congresso Nacional incluiu o sistema de cotas na Legislação Eleitoral, obrigando os partidos políticos a inscreverem, no mínimo, 20% de mulheres em suas chapas proporcionais (Lei nº 9.100/95 - § 3º, art. 11).

· 1968: explode a revolta estudantil

O movimento de contestação dos anos 60 atingiu seu ponto máximo em 1968, quando a agitação estudantil iniciada em Paris espalhou-se por várias universidades e ruas das grandes cidades nos EUA, Inglaterra, Brasil, Tchecoslováquia, Polônia, China, Japão, etc.
A revolta estudantil em Paris começou no dia três de maio, quando universitários organizaram uma passeata exigindo do governo francês reformas nas leis e instituições educacionais dos países. Eles protestavam contra a queda do nível de ensino e a rigidez da disciplina acadêmica. A inabilidade do governo detonou a crise: mandou reprimir com violência o protesto estudantil, estimulando, assim, a radicalização do movimento.
Na semana de seis a 13 de maio, o protesto estudantil se transformou em rebelião. Os estudantes ocuparam o Quartier Lati,onde organizaram barricadas e enfrentaram a polícia com os paralelepípedos das ruas. A violência policial fez crescer o apoio da opinião pública aos estudantes.
No dia 13, uma manifestação de 800 mil pessoas em Paris apoiava os estudantes e condenava a violência da repressão policial. No dia 22 deste mesmo mês um movimento de greve e ocupação operária espalhou-se pela França: quase dez milhões de operários pararam de trabalhar.
Apesar disso, centenas de estudantes foram presos e a Universidade Sorbonne, principal fortaleza do movimento estudantil, foi desocupada. Além dos mais de 400 feridos, os dias de confronto deixaram como saldo de destruição dezenas de lojas, ruas e carros destruídos.
O protesto estudantil, apesar de desmantelado pela repressão policial, acendeu a chama da participação estudantil não só na França, mas em diversos pontos do mundo que, inspirados neste episódio, passaram a protestar e participar politicamente em seus países.
Na Tchecoslováquia, um dos países socialistas no Leste Europeu, os protestos estudantis começaram em 1967, exigindo a democratização do regime socialista.
Em outubro, ocorreram várias passeatas de estudantes e dos operários em greve pelas rua capital, Praga, que foram brutalmente reprimidas pela polícia. Entretanto, alguns membros Ca cúpula do Partido Comunista Tcheco começavam a reconhecer o direito dos estudantes e dos demais cidadãos de participarem e protestarem publicamente, dando origem, em abril de 68, a um forte movimento de mudanças na estrutura do regime socialista, conhecido como “Primavera de Praga”.
Essa decisão contrariava os interesses da União Soviética na região. Os russos temiam que a abertura política tcheca servisse de exemplo aos demais regimes socialistas do Leste Europeu.
No dia 19 de agosto de 1968, centenas de tanques e tropas russos iniciaram a invasão da Tchecoslováquia, ocupando todos os pontos estratégicos do país (a sede do governo, a Assembleia Nacional e a Sede do Partido Comunista) e prendendo todos os líderes tchecos. A violência da invasão russa foi ainda maior com os populares que protestavam e tentavam resistir à dominação soviética: diversos jovens foram brutalmente assassinados, o que transformou a invasão num verdadeiro massacre.
Apesar da vitória soviética, os estudantes e a população das cidades tchecas continuaram uma resistência passiva: não falavam e não vendiam nada aos soldados russos, desprezavam sua presença e ignoravam suas ordens. Essa resistência muito contribuiu para expor ao mundo a política repressora dos soviéticos, desgastando ainda mais sua imagem e contribuindo para o aprofundamento da crise do “socialismo real”, burocrático e autoritário, que, a partir dos anos 80 do século XX, tornou-se irreversível.

· “faça amor, não faça a guerra”

Os Estados Unidos também viveram um período de efervescência cultural nos anos 60. Os conflitos e as contradições de uma economia capitalista avançada provocavam uma séria crise de valores na sociedade americana.
O consumismo e o excessivo materialismo, típicos do modo de vida americano, passaram a ser contestados. Concepções e valores conservadores em relação à estrutura familiar, como o casamento, monogamia, repressão sexual, machismo, também eram questionados por uma parcela considerável da juventude americana que ansiava criar uma nova sociedade, diferente, alternativa.
A participação norte-americana na Guerra do Vietnã contribuiu para o aprofundamento dos questionamentos da juventude, que acusava sua sociedade de desumana e repressora.
As cenas de horror da guerra, pela primeira vez transmitidas pela televisão, chocavam a opinião pública norte-americana, reforçando sua posição contrária ao conflito. A brutalidade da intervenção armada dos EUA e sobretudo sua inutilidade provocaram o surgimento de campanhas, passeatas e movimentos organizados para que o governo retirasse suas tropas do Vietnã.
Os reflexos dessa realidade foram o surgimento de atitudes críticas e desafiadoras como o movimento da contracultura e de movimentos de total negação da ordem social como o movimento hippie.
Formado por jovens de classe média que estavam desacreditados com o sistema capitalista, os hippies passaram a organizar modelos d comunidades alternativas, livres e integradas à natureza. Movidos pelo lema “paz e amor”, defendiam o amor e sexo livre, o espírito comunitário, a libertação dos costumes, a não-violência e a tolerância com as diferenças.
Nessas comunidades, praticamente tudo que era necessário à sobrevivência era produzido pelos integrantes do grupo. A alimentação desses jovens era naturalista (comida integral, sem agrotóxicos e vegetariana), as roupas eram artesanais e coloridas, usavam cabelos compridos e muita bijuteria. A educação dos filhos era comunitária e totalmente liberal. As drogas chamadas naturais, como a maconha, eram livres e seu uso, além das “viagens”, funcionava como negação do tempo e da produção capitalista.
Os hippies chocavam tanto a sociedade conservadora, que os considerava vagabundos, como os militantes de esquerda, que os acusavam de alienados e omissos. Apesar disso, a influência dos hippies norte-americanos atravessou fronteiras e seu estilo comunitário e alternativo foi seguido por jovens de vários países, inclusive o Brasil.
Na música, o estilo livre e ousado dos hippies e a influência da contracultura fizeram surgir os grandes festivais de rock-and-roll, onde se destacaram Bob Dylan, Rolling Stones, além dos ídolos rebeldes Janis Joplin, Jimi Hendrix e The Doors.

“Sexo, drogas e rock-and-roll”

No dia 17 de agosto de 1969, começou o Festival de Woodstock, na cidade de Bethel, estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos, o maior evento de música e arte de todos os tempos.
Aproximadamente 500 mil jovens participaram dos três dias de festival cantando, dançando, nadando nus e “enlouquecendo” ao som das encantadas e estridentes guitarras dos conjuntos de rock. Nem os engarrafamentos, a falta de água e comida e nem as chuvas tiraram o ânimo dos participantes que usavam e abusavam das drogas e praticavam sexo livre e casual.
O lema do festival poderia ser resumido em “paz, amor e liberdade” e entre as estrelas presentes estavam Jimi Hendrix e Janis Joplin. Segundo dados oficiais, durante o Festival nasceram dois bebês, morreram três pessoas e cinco mil foram hospitalizados por abusos de drogas.


Movimento contra costumes nos anos 1960

Nos anos 1960, a rebeldia juvenil mobilizou o mundo para reivindicar liberdade, igualdade civil e paz. A guerra Fria, os preconceitos raciais, o capitalismo, o comunismo, as ditaduras foram alvos de contestações por parte da juventude.

Contracultura

Durante os anos 1960, os movimentos políticos, sociais e culturais que buscavam uma alternativa tanto ao capitalismo quanto ao comunismo ficaram conhecidos como contracultura.
Os jovens foram os protagonistas desse movimento que criticava o consumismo capitalista e a ditadura que reprimia os povos submetidos à União Soviética. Mas não apenas os jovens se mobilizaram; vários setores da sociedade passaram a contestar a ordem estabelecida.
Para entender o movimento de contestação que tomou as ruas das grandes cidades do mundo todo, 1968 é o ano-chave. As manifestações contra a Guerra do Vietnã nos Estados Unidos e as tentativas de democratização do regime comunista na Tchecoslováquia são exemplo das inquietações da época.

“Fim da guerra”

Nos Estados Unidos, havia em 1968 uma crescente oposição à Guerra do Vietnã. A opinião pública norte-americana questionava a justiça de uma guerra feita por uma grande potência contra um pequeno país de camponeses. As imagens do sofrimento dos civis e dos soldados mortos em combate eram transmitidas pela televisão para os lares norte-americanos e causavam grande impacto.
Foi então que os jovens norte-americanos tomaram as ruas das cidades em campanhas pacifistas. Eles pregavam a desobediência civil contra o alistamento militar para a guerra.

A Primavera de Praga

Em 1968, na Tchecoslováquia, país de regime político alinhado com a União Soviética, um grupo de intelectuais comunistas tentou promover reformas que aumentassem as liberdades dos cidadãos e permitissem eleições pluripartidárias. As reformas iniciavam uma ova era, que ficou conhecida como Primavera de Praga.
A reposta soviética, no entanto, foi imediata; naquele mesmo ano, tropas do Pacto de Varsóvia invadiram o país e ocuparam a capital, Praga. Os líderes reformistas foram detidos e, alguns meses depois, a Tchecoslováquia instituiu um rígido regime de censura e controle policial da população.

A revolução hippie

Os jovens dos anos 1960, além de se manifestarem politicamente, passaram a contestar também as regas de comportamento, incluindo a moral sexual.
A linha de frente dessa contestação era formado pelos hippies. Os hippies condenavam os valores da civilização industrial e do consumo, que para eles subjugavam as pessoas ao ritmo da produção, e defendiam uma sociedade alternativa, em que o homem se tornasse um ser mais integrado à natureza, livre das neuroses da modernidade.
De forte influência anarquista, tais movimentos pregavam, entre outros, a solidariedade, a abolição das hierarquias e da propriedade privada, o amor livre, o pacifismo e a formação de comunidades apartadas da sociedade industrial. Seu lema era Paz e Amor.
Os hippies acreditavam que as mudanças de comportamento seriam suficientes para transformar a sociedade e trazer a felicidade para todos.

Direitos civis

Os grupos que defendiam os diretos civis dos negros nos Estados Unidos também podem ser incluídos no grande movimento de contestação ao grupo social dominante.
Em alguns estados norte-americanos, os negros não podiam votar, frequentar as escolas exclusivas de brancos nem mesmo sentar-se ao lado de brancos no ônibus. Na década de 1960, inúmeros grupos passaram a lutar pelo fim da discriminação racial.
Martin Luther King, líder da ala moderada do Movimento Negro norte-americano, pregava a desobediência civil pacífica como forma de luta. Ele afirmava que a comunidade afro-americana sofria os mesmos preconceitos que os povos pobres do Terceiro Mundo, unindo-se aos movimentos pacifistas contra a Guerra do Vietnã, já o grupo Panteras Negras, de orientação mais radical, defendia o uso da violência para garantir a igualdade civil e social das pessoas de origem africana no país.
A campanha contra a violência e pela união dos povos, no entanto, não impediu que Martin Luther King fosse assassinado na cidade de Memphis, em 1968.

Feminismo

A luta pelos direitos civis nos anos 1960 incluíram os direitos das mulheres. O movimento feminista, que no início do século XX lutaram pelo direito ao voto para as mulheres, reivindicava agora a igualdade das mulheres em relação aos homens em todos os setores da vida social: no trabalho, na vida conjugal, na liberdade de escolha sobre ter ou não filhos.

A contestação rock’n’roll

Os jovens contestadores dos anos 1960 escolheram a música como veículo para divulgar suas ideias. O rockn’n’roll, gênero musical surgido nos Estados Unidos na década anterior, espalhou-se pelo mundo como símbolo do comportamento jovem, chocando os mais conservadores onde quer que fosse tocado.
A década de 1960 foi pródiga em ídolos do rock’n’roll. Nesse período surgiram grandes bandas que reuniam milhares de fãs, como os Beatles, banda formada em Liverpool, na Inglaterra, e os Rolling Stones, outra banda inglesa de grande sucesso.
Um dos grandes nomes dessa geração de roqueiros foi o norte-americano Bob Dylan. Ele foi o porta-voz dos defensores das liberdades individuais, que não se identificavam com os valores da sociedade que emergiu nos Estados Unidos do pós-guerra. Suas letras, longas e complexas, tratavam dos temas que abalaram sua época, como a guerra.

A Arte Pop

A corrente artística que melhor exprime a cultura e a visão de mundo do período da Guerra Fria é a chamada Arte Pop. Rompendo as fronteiras entre a publicidade, os objetos de desejo da sociedade de consumo e a arte, o Pop expunha, sem criticar, o consumismo e os valores descartáveis da sociedade industrial. Garrafas de refrigerantes mundialmente famosos, estrelas de Hollywood, latas de sopa, história em quadrinhos, tudo servia de tema para os artistas pop, como os norte-americanos Robert Rauschenberg, Roy Lichtensten e Andy Warhol. O Pop explicitava o consumismo descartável capitalista, mas não elogiava o socialismo; explicava, mas não ditava lições. É a própria imagem dos anos de contestação.

A arte no século XX

 A arte moderna

Homem amarelo, selim e guidão de bicicleta, relógios moles como pizzas, histórias em quadrinhos, letãs, urinóis embrulhados e esculturas com vários quilômetros de tamanho, palavras inventadas: tudo isso – e muito mais! – entrou na arte do século XX.
Neste capítulo, vamos tentar compreender o que foi a arte do século XX e porque ela foi como foi. O pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) disse certa vez: “Todos querem entender a arte. Porque não tentar entender o canto de um pássaro?”. Ele pretendia, assim, sugerir que a arte não pode ser inteiramente explicada com palavras.
Se compararmos a arte do século XX com a do século XIX, uma das coisas que mais a atenção é que a realidade objetiva – a paisagem, a cidade, as pessoas – desaparece ou é distorcida, alterada, recriada. Nada de famílias posando para o pintor, nada de romances descrevendo cortiços ou minas de carvão, nada de esculturas de casal se beijando. O que aconteceu? É como se o artista tivesse perdido a função de retratar o mundo exterior e passasse a criar, ele próprio, outro mundo.

Três características da nova arte

Uma primeira explicação para esse fato pode ser encontrada se analisarmos a mudança no papel social do artista. Ele se torna, de certa forma, mais “independente” das instituições que até meados do século XIX contratavam seus serviços. A Igreja, os governos, as famílias nobres deixam de ser o único consumidor de arte. Cresce a classe burguesa, cresce a classe média e surge um “mercado de artes”. O artista já não se precisa se prender a um único contratante.
Portanto, a vontade de criar outra realidade, em vez de imitar aquilo que se vê, é umas das características do século XX. Uma segunda característica é sua transformação pela incorporação de técnicas, máquinas e materiais criados pela indústria moderna.
A estética do século XX interage fortemente com o dinamismo do capitalismo industrial: surgem ovas artes, como o cinema e a fotografia. E temas como a velocidade e as máquinas passam a inspirar muitos artistas.
Finalmente, uma terceira característica é a recusa dos padrões de beleza aceitos e, mais do que isso, a rejeição dos valores da tradição cultural ocidental. Buscou-se, então, um contato com a arte dos povos africanos e da Oceania. As formas polidas foram recusadas, a classificação de belo e de feio, denunciada com mero preconceito.

O Expressionismo

Comecemos pelo Expressionismo, considerando o primeiro movimento moderno em pintura. Como o próprio nome sugere, essa corrente via a arte como expressão dos sentimentos. A ideia que os expressionistas faziam do mundo não era otimista: angústia, sofrimento, desespero, era disso que suas obras falavam. De uma época de guerras, revoluções, migrações, subordinação das pessoas ao tempo da fábrica e às longas e cansativas jornadas de trabalho.
Seguindo o caminho aberto no século XIX por Van Gogh (1853-1890), os expressionistas alteravam cores e distorciam formas para transmitir sentimentos intensos e perturbadores.
O expressionismo surgiu entre 1904 e 1905, na Alemanha. Uma dos quadros mais famosos dessa corrente é O grito, do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944). As cores, a paisagem, o rosto da figura que grita estão distorcidos, de forma a transmitir o desespero de alguém que sente o mundo revolver-se à sua volta.
Quando os nazistas chegaram ao pode na Alemanha, em 1933, os artistas modernos começaram a ser perseguidos. Muitos deles foram exilados ou proibidos de trabalhar. Os ideais de superioridade nacional e pureza racial do nazismo eram incompatíveis com o compromisso do Expressionismo com as vítimas da sociedade burguesa.
Enquanto isso, florescia na América, especialmente no México, um novo tipo de Expressionismo. Artistas como José Clemente Orozco e Diego Rivera foram expressionistas, mas souberam criar uma pintura própria, que combinava elementos da herança pré-colombiana com temas sugeridos pela Revolução Mexicana de 1911 em grandes murais pintados em edifícios públicos.

Fauvismo, Cubismo, Abstracionismo

Na mesma época em que o Expressionismo se desenvolvia na Alemanha na França se formava outro movimento artístico, o Fauvinismo, palavra derivada de fauve (fera). Foi assim que um crítico de arte reagiu ao ver algumas obras reunidas em uma exposição realizada em Paris, em 1905: classificou seus jovens autores como “feras”. Isso porque eles usavam cores puras, em vez de mistura-las, como era costume fazer. O principal nome do Fauvinismo foi Henri Matisse.
Por volta de 1910, surgiram na Europa três novos movimentos, destinados a influenciar profundamente as artes do século XX. Entre 1907 e 1910, Pablo Picasso e Georges Braque criaram o Cubismo. Em 1909, foi lançado o manifesto O Futurismo, assassinado pelo artista italiano Tomazo Marinetti, expondo as ideias de movimento do mesmo nome; e em 1910, o artista russo Vassily Kandinsky expôs a primeira obra de pintura abstrata, A batalha.
O quadro inaugural do Cubismo foi Les demoiselles d’Avignon, de Picasso, pintado em 1907. Mulheres carecas, outras com máscaras africanas no lugar das cabeças; as proporções, a integridade e a continuidade dos corpos negadas e fragmentadas: tudo isso chocou muito o público e faz com que o quadro seja considerado por alguns críticos como a ruptura mais radical da história da arte. Afinal, o que queria Pablo Picasso?
Dando uma primeira olhada, poder parecer que Picasso pinta como uma criança, mas não é bem assim. Ele aprendeu e dominou a pintura acadêmica precocemente e com maestria. Antes de chegar ao Cubismo, passou por duas fases de pintura figurativa (aquela que representava coisas da vida real): a “fase azul”, de 1901 a 1904, na qual pintava pessoas pobres com tristeza e melancolia, e a “fase rosa”, de 1905 a 1907, em que representava acrobatas e arlequins.
O grande precursor do Cubismo foi Paul Cézannne (1839-1906). Ele acreditava que cabia à pintura captar as estruturas existentes na natureza, que se que se resumiam às figuras geométricas do cone, da esfera e do cilindro. Picasso radicalizou esse princípio. Suas figuras foram fragmentadas em cones, esferas, cilindros, cubos, quadrados, losangos, retângulos. Algumas figuras são representadas a partir de vários ângulos, como se as víssemos ao mesmo tempo de frente e de perfil, por exemplo.
Mas o Cubismo também sofreu influência dos povos africanos. E aqui encontramos uma das tendências mais fortes da arte moderna: a de uma volta as origens da criação artística. Ela aparece também na valorização das máscaras rituais criadas por artesãos da África e da Oceania, descobertas por artistas europeus.
Um pouco depois do cubismo, outros artistas perseguiram os mesmo objetivos por diferentes caminhos. O abstracionista Paul Klee se inspirava nos desenhos infantis e os surrealistas tentariam mergulhar no inconsciente, descoberto pela Psicanálise de Sigmund Freud.

O sumiço das figuras: o Abstracionismo

E 1910, o pintor russo Vassily Kandinsky promovia outra ruptura com a arte do século XIX. Nascia naquele ano, com a tela A batalha, a pintura abstrata, ou o Abstracionismo como corrente estética.
Para kandinsky o significado da pintura era puramente espiritualexpressado na combinação de formas e cores. Em parte derivada de suas ideias, anos depois surgiria outra tendência, conhecida como Abstracionismo geométrico. Seu principal representante foi o pintor holandês Piet Mondrian, cujos quadros apresentam uma combinação de linhas horizontais e verticais e cores primárias, produzindo uma sensação de harmonia. Para Mondrian, era missão do artista refletir a harmonia essencial do Universo.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Abstracionismo renovou-se nos Estados unidos, com a escola da pintura gestual, ou pintura de ação (action painting), também conhecida como Abstracionismo abstrato, que teve como principal expoente o pintor norte-americano Jackson Pollock. Ele desenvolveu uma técnica nova: em vez de usar pincéis e cavalete, punha a tela o chão e derramava suas tintas diretamente sobre ela. O processo de criação deveria ser guiado por um impulso espontâneo e rápido, sem premeditação.
O Abstracionismo também chegou à escultura, dando origem a um movimento conhecido como Construtivismo. O pioneiro da escultura abstrata foi o russo Vladimir Tatlin. Outros artistas russos, como Antoine Pevsner e Naum Gabo, também escolheram temas abstratos para suas esculturas, dando asas à imaginação na criação das formas mais variadas. Alguns desses escultores procuraram ainda romper com o caráter estático das esculturas, imprimindo movimento a algumas de suas obras por meio de motores.
A ideia de uma escultura móvel foi solucionada de forma extremamente original pelo norte-americano Alexander Calder, que, nos anos 1930, inventou o móbile. Sim, esse objeto decorativo que alegrou nossa infância foi originalmente concebido como uma escultura capaz de se mover ao sabor do vento.

O Futurismo e a paixão pela máquina

O Futurismo, criado em 1910, foi primeiro movimento estético inteiramente voltado para a temática urbana. Nem o passado, nem a natureza, nem os mistérios do Universo o interessavam. Sua poética era a das máquinas, da velocidade, do frenesi urbano. Um de seus criadores foi o italiano Tomazo Marinetti. Além da Itália, o futurismo exerceu especial influência na Rússia e em Portugal, encontrando expressão a pintura, na escultura e na literatura.
Na Ode triunfal, poema de Álvaro de Campos, um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa, por exemplo, encontramos os seguintes versos: “ Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo, retido nos maquinismos em fúria! Emm fúria fora e dentro de mim”.
Na pintura, o Futurismo começou por representar corpos e máquinas em movimentos, para em seguida tentar captar o próprio movimento. Seus principais representantes foram Umberto Baccioni, Carlo Carrà, Luigi Russolo, Giacomo Balla e Gino Severini. Em suas telas, esses artistas tentaram captar a velocidade por meio de linhas repetidas em sucessão que simuam movimento.
O Futurismo também Foi levado à escultura. Uma de suas expressões é a obra Formas únicas de continuidade no espaço, de Umberto Baccioni, que consegue captar o movimento em algo tão sólido quanto uma peça de bronze representando o corpo de uma pessoa.

Um novo jeito de morar

É importante mencionar que a arte moderna começou com a arquitetura. Em 1902, o arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright construiu em Illinois, nos Estados Unidos, a primeira casa moderna. Para Frank Lloyd, a arquitetura deveria adaptar-se às necessidades das pessoas e às características do meio natural. Por isso seu estilo ficou conhecido como “arquitetura orgânica”. Ele não privilegiava a fachada, mas sim o espaço interno, salas, quartos, em função das necessidades de quem fosse morar. Seu projeto mais famoso é a Casa da cascata, construída em 1936, na Pensilvânia, Estados Unidos.
Na Alemanha, o arquiteto Walter Gropius criou em 1919, a Bauhaus, escola de arquitetura, urbanismo, design industrial e arte. Para os artistas da Bauhaus, as coisas devem ser projetadas para corresponder à sua utilidade, à sua finalidade e função.

A música do século XX

Esse quadro de mudanças nas artes do começo do século XX não estaria completo se não falássemos da música. Assim como nas artes plásticas e na literatura, as tradições musicais seriam abaladas por inovações e experimentalismos.
Entre outras iniciativas, os trabalhos do compositor austríaco Arnold Schoenberg e do russo Igor Stravinsky devem sem lembrado pelo impacto que tiveram. Em 1913 a primeira apresentação em Viena, da Sinfonia de Câmara nº 9, de Schoenberg, não pode ser terminada, tamanha a balbúrdia provocada pelo público escandalizado. O que teria acontecido? Simplesmente Schoenberg vinha inventando um novo tipo de música, que ficou conhecido como dodecafoismo, um método de composição em que doze sons da escala cromática são combinados em série.
A estreia do balé A consagração da primavera, com música de Stravinsky, ocorrida também em 1913, em Paris, provoca tanta confusão quanto a sinfonia de Schoenberg em Viena. O público começou a protestar e o espetáculo só pôde continuar depois da chegada da polícia. Stravinsky foi, mais tarde, considerado o Picasso da música, pela variedade da linguagem com que trabalhou, indo do dodecafonismo ao jazz.

A antiarte do Dadaísmo

O horror provocado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) deu origem a um novo movimento artístico, conhecido como Dadaísmo. Enquanto os exércitos europeus se estraçalhavam nos campos de batalha, intelectuais e artistas de diversas nacionalidades se autoexilaram em Zurique, na Suíça, país que se manteve neutro. Esses artistas se reuniam no Cabaré Voltaire, onde recitavam poemas, discutiam manifestos e acompanhavam as notícias do conflito. Foi nesses encontros que nasceu o Dadaísmo.
Trata-se de uma espécie de “antiarte”, que denuncia a estética e as ideias cultivadas até então.
Um dos artistas mais importantes do Dadaísmo foi o francês Marcel Duchamp. Na linha da “antiarte”, Duchamp defendia a ideia de que qualquer objeto, deslocado de seu contexto original, pode ser apreciado como artístico. Assim, trouxe para uma galeria de arte a peça de um mictório, à qual deu o título de A fonte.
Após 1922, o Dadaísmo entrou em declínio, mas exerceu forte influência sobre movimentos que vieram depois, como o Surrealismo e a por art.

O Surrealismo

Em 1924, uma nova proposta estética deu origem a outra corrente: o Surrealismo. Seu idealizador foi o escritor francês André Breton, que aproveitou do Dadaísmo a ideia de uma arte espontânea, à qual associou princípios inspirados na Psicanálise, criada pelo austríaco Sigmund Freud.
Para Freud, nossa vida consciente representa apenas uma parte das atividades da mente, que se ocupa também com atividades subconscientes e inconscientes. Mas como chegar ao inconsciente? Primeiro Freud tentou a hipnose. Depois estudou os sonhos. Finalmente, descobriu que, quando seus pacientes se deitavam num divã e falavam fazendo associações livres de ideias, acabavam revelando aspectos de sua vida inconsciente.
Os surrealistas levaram para a arte essa proposta de associação livres de ideias, por mais ilógicas, absurdas e irracionais que pareçam, e da exploração dos sonhos. Assim, praticaram uma subversão: a criação artística não mais como atividade racional e lógica, mas como manifestação de um fluxo livre de sensações, intuições e “pensamentos”.
Entre os surrealistas, foram particularmente importantes os pintores espanhóis Joan Miró e Salvador Dalí. Talvez a obra mais conhecida do movimento seja o quadro A persistência da memória, de Salvador Dalí.

O homem que virou inseto: a literatura

A literatura do século XX é classificada pelo crítico Jean Paulhan em dois grandes grupos: “terroristas” e “retóricos”.
Os “terroristas” são aqueles escritores que arremetem contra a linguagem e os temas convencionais, os lugares-comuns, em busca de liberdade e originalidade. É o caso de Franz Kafka, o autor de A metamorfose, novela de 1915 que narra a transformação de um homem em inseto e o impacto que isso causa na família.
É também o caso do romancista e poeta irlandês James Joyce, que em Ulisses, publicado em 1922, em vez de narrar acontecimentos, descreve o fluxo de ideias e associações experimentadas personagem no decorrer de um único dia em uma metrópole.
Já os “retóricos” são os “artistas-oradores”, escritores que procuram uma compreensão mútua com o leitor, sabem que os lugares comuns são o preço pago por uma comunicação bem-sucedida. Entre eles podemos classificar André Gide, Rainer Maria Rilke e T. S. Eliot. A base da literatura dos “retóricos” é sempre uma ideia, um pensamento, um problema.

A pós-modernidade

Para muitos estudiosos a modernidade entrou em declínio com a segunda Guerra Mundial, abrindo-se um novo tempo, o da pós-modernidade.
Essa passagem de um tempo histórico – o moderno – para outro – o pós-moderno – não poderia deixar de afetar as artes. Vamos tentar compreender o que aconteceu.
Simbolicamente, a explosão da bomba atômica em Hiroshima, em 1945, pode ser lembrada como o fim de uma era. Com ela, a fé em que o desenvolvimento industrial e o progresso científico ajudariam a libertar a humanidade – se transformou em seu contrario: ou seja, a consciência de que os poderes criadores proporcionados pelo progresso havia se voltado contra os próprios humanos, ameaçando-os de destruição.
A ideia do artista como alguém à frente de seu tempo, capaz de inventar um mundo de experiências e percepções novas, é uma das forças que nortearam a arte moderna. Mas, se a Segunda guerra e a bomba atômica mostram o lado destrutivo dos seres humanos, a crença no papel dos artistas e de suas criações não poderia se manter igual. É desse sentimento de decepção com a modernidade que surge a pós-modernidade.

A arquitetura pós-moderna

Em 1955, arquitetos italianos se voltam contra o princípio de Bauhaus, “a forma segue a função”: a função passou a obedecer à forma e à fantasia. A ornamentação é revalorizada. Em vez da razão, a emoção. Em vez da pureza, a mistura: barroco, colunas gregas, vidro fumê. A mesma coisa em relação ao design: em vez de móveis práticos, adaptados ao uso, desenhos fantasiosos, com cores chamativas.
Como lembra o poeta e escritor Jair Ferreira dos Santos, na pós-modernidade “os estilos convivem sem choques, as tendências se sucedem com rapidez. Não há grupos ou movimentos unificados, o pluralismo e o ecletismo são a norma”. Assim, são manifestações da arte pós-moderna a pop art, body art, o minimalismo, etc.
Pop art: surge na Inglaterra nos anos 1950 e ganha força nos estados Unidos na década seguinte. É uma reação ao Abstracionismo, voltando à arte figurativa. Mas a inspiração para os objetos retratados é encontrada nas imagens que povoam o cotidiano do cidadão das grandes cidades: retratos de atrizes, histórias em quadrinhos, material de propaganda, produtos industriais.
As fronteiras entre arte e objeto de consumo popular são abolidas. Dois dois principais nomes da pop art são os norte-americanos Andy Warhol e Roy Lichtenstein. O primeiro fez obras como as cinquenta reproduções da foto da atriz Marilyn Monroe, com variações em amarelo, laranja e azul. Quanto a Lichtenstein, ampliaca e modificava as imagens de histórias em quadrinhos, abrindo caminho, assim, para uma aproximação entre quadrinhos e arte, que daria frutos interessantes para os dois lados.
Body art: pintura corporal (body=corpo) ou fotografia de regiões do corpo humano a partir de ângulos inesperados. Uma das características da pós-modernidade é trazer a arte para dentro da vida, misturando-a com as coisas do dia-a-dia. Outra é conceber a arte como algo efêmero. A body art junta essas duas tendências: o suporte da pintura não é mais a tela ou o mural, mas sim o próprio corpo. É também algo que não vai durar muito: no primeiro banho, no primeiro banho a pintura vai pelo ralo.
Minimalismo: a ideia é reduzir a arte a suas estruturas básicas. As esculturas, por exemplo, adotam formas geométricas simples e repetidas. As pinturas se reduzem ao mínimo de cores. As músicas como, as de Philip Glass, são compostas com poucas frases, repetidas várias vezes com pequenas variações de ritmo, ou mesmo sem som algum, como a obra 4 minutos e 33 segundos, de John Cage, inteiramente silenciosa.

A literatura pós-moderna

Na literatura, o pós-modernismo se caracteriza por abandonar as narrativas bem amarradas, com começo, meio e fim, um narrador e personagens bem definidos, um estilo único. Os argentinos Júlio Cortázar, com seu jogo da amarelinha, e Jorge Luís Borges, com suas histórias baseadas nas de outros autores, e o italiano Umberto Eco, autor de O nome da rosa, romance policial situado na Idade Média, são considerados pós-modernos.

Permanência e mudança

Existem, portanto, continuidades e descontinuidades entre a arte moderna e a pós-moderna. A primeira não mais imita a realidade objetiva: tenta criar outra realidade mais intensa, livre e interessante. Já a arte pós-moderna é descrente desse poder de criação e quer misturar-se com as coisas do cotidiano: arte comercial, o próprio corpo, histórias em quadrinhos, prédios a serem embrulhados são os materiais usados na nova estética.
A arte moderna e a pós-moderna relacionam-se intensamente com as máquinas e tecnologias de sua época. Se a fotografia e o cinema são artes modernas criadas por novas máquinas, o mesmo podemos dizer com relação ao uso da informática na arte pós-moderna. A diferença é que a arte moderna oscilou entre a exaltação da máquina, com o Futurismo, e a denuncia da desumanização da vida, com o Expressionismo, ao passo que a arte pós-moderna não acredita que seja desejável exaltar as máquinas e a tecnologia nem lutar contra ela, preferindo brincar e ironizar sobre o assunto.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...