quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Economia na Era Vargas

Em agosto de 1931, durante o governo provisório, Vargas suspende o pagamento da dívida externa. No mesmo ano, reinicia a política de valorização do café e cria o Conselho Nacional do Café. Em 1º de junho de 1933 cria também o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) para coordenar a agricultura canavieira, controlar a produção, comércio, exportação e preços do açúcar e do álcool de cana. Vargas desenvolve uma intensa política de promoção da indústria e intervém fortemente na economia.

Crise da economia cafeeira

A política de valorização do café é mantida durante toda a Era Vargas. Entre 1930 e 1945, o governo chega a comprar e destruir cerca de 80 milhões de sacas de café. A medida, no entanto, alimenta um círculo vicioso pois as repetidas supersafras continuam forçando a queda dos preços do produto no mercado internacional. A crise da cafeicultura estimula a exploração de novos produtos, como frutas, algodão, óleos vegetais e minérios, mas seus rendimentos não conseguem equilibrar o balanço de pagamentos do país. A Segunda Guerra Mundial interrompe as vendas de algodão para o Japão e Alemanha, feitas em grandes volumes até 1939.
Crise no balanço de pagamentos – A redução das receitas com as exportações e o menor afluxo de capitais para o país devido à crise econômica que precede a guerra desequilibram o balanço de pagamentos entre 1931 e 1939. Para contornar o problema, Vargas promove sucessivas desvalorizações da moeda e adota medidas que desagradam aos investidores internacionais: reduz a margem de remessa de lucros, suspende os pagamentos dos juros da dívida externa e recusa-se a pagar parte substancial da dívida pública negociada com os bancos estrangeiros. A redução das divisas e da capacidade de importar favorecem o desenvolvimento da indústria.

Desenvolvimento industrial

Entre 1930 e 1945 o país passa por um surto de desenvolvimento industrial. Na década de 30 o crescimento da indústria é de 125% ao ano, em média, enquanto a agricultura cresce a uma taxa de 20%. Durante a Segunda Guerra o crescimento industrial cai para 5,4% ao ano, mas o setor consegue avançar pela superutilização dos equipamentos já instalados. Nesse período, o Brasil chega a exportar tecidos para a América Latina, África do Sul e Estados Unidos. A expansão industrial continua no pós-guerra e, em meados da década de 50, a indústria supera a agricultura na composição do Produto Nacional Bruto.
Intervencionismo estatal – O governo getulista tem papel fundamental na expansão do parque industrial do país. Ele institui tarifas protecionistas, dá incentivos fiscais às indústrias, amplia o sistema de crédito, controla os preços e estabelece uma política de contenção salarial. O Estado também faz investimentos diretos na ampliação dos setores de energia, transportes e na indústria de base, como a siderúrgica – áreas que não interessam aos capitalistas nacionais porque têm um retorno lento e exigem grandes capitais. Em 1941, com dinheiro público e financiamento do Eximbank norte-americano, Vargas monta a Companhia Siderúrgica Nacional, que só começa a operar em 1946 com a inauguração da usina de Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Em 1942 cria a Companhia Vale do Rio Doce para explorar minério de ferro. No mesmo ano baixa um plano de saneamento econômico, desvaloriza a moeda e substitui o mil-réis pelo cruzeiro.
Dependência externa – A expansão das atividades industriais não diminui a dependência da economia brasileira em relação ao exterior. A maior produção de bens de consumo exige mais importações de bens de capital, matérias-primas e combustíveis. Mantém-se o desequilíbrio do balanço de pagamentos. As emissões de moeda e os empréstimos externos são freqüentes. O resultado é uma inflação constante durante todo o governo Vargas.
Com o aprofundamento da crise do café a partir de 1930 e a política industrializante de Vargas, a burguesia cafeeira passa a dividir o poder com a burguesia industrial em ascensão. As classes médias ampliam sua participação na vida política do país, inclusive com o surgimento do movimento estudantil. A classe operária cresce consideravelmente, mas é controlada pelo Estado por meio dos sindicatos, da legislação trabalhista e da repressão direta. Em 1930 é criado o Ministério da Educação e Saúde. A Constituição de 1934 torna o ensino primário obrigatório e propõe a expansão gradativa dessa obrigatoriedade aos outros níveis de ensino.

Política externa no Estado Novo

Dois anos depois de instalada a ditadura Vargas começa a Segunda Guerra Mundial. Apesar das afinidades do Estado Novo com o fascismo, o Brasil se mantém neutro nos três primeiros anos da guerra. Vargas aproveita-se das vantagens oferecidas pelas potências antagônicas e, sem romper relações diplomáticas com os países do Eixo – Alemanha, Itália, Japão –, consegue, por exemplo, que os Estados Unidos financiem a siderúrgica de Volta Redonda.

Rompimento com o Eixo – Com o ataque japonês à base americana de Pearl Harbour, no Havaí, em dezembro de 1941, aumentam as pressões para que o governo brasileiro rompa com o Eixo. Em fevereiro de 1942 Vargas permite que os EUA usem as bases militares de Belém, Natal, Salvador e Recife. Como retaliação, forças do Eixo atacam navios mercantes brasileiros ao longo da costa. Nos dias 18 e 19 de agosto de 1942, cinco deles – Araraquara, Baependi, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará – são torpedeados por submarinos alemães. Morrem 652 pessoas e Vargas declara guerra contra a Alemanha e a Itália.
Brasil na Segunda Guerra – A Força Expedicionária Brasileira (FEB) é criada em 23 de novembro de 1943. Em 6 de dezembro, a Comissão Militar Brasileira vai à Itália acertar a participação do Brasil ao lado dos aliados. O primeiro contingente de soldados segue para Nápoles em 2 de julho de 1944 e entra em combate em 18 de setembro. Os pracinhas brasileiros atuam em várias batalhas no vale do rio Pó: tomam Monte Castelo em 21 de fevereiro de 1945, vencem em Castelnuovo em 5 de março e participam da tomada de Montese em 14 de abril. Ao todo são enviados cerca de 25 mil homens à guerra. Morrem 430 pracinhas, 13 oficiais do Exército e oito da Aeronáutica.

A CULTURA NA REPÚBLICA VELHA

O fim do século XIX foi marcado, no Brasil, por transformações que acarretaram a queda do Império e o advento da República. Essas rupturas políticas se traduziram em rupturas sociais: a Abolição, a imigração, a introdução do trabalho assalariado, e a nível econômico ocorreu a ascensão da aristocracia cafeeira, a industrialização e a urbanização. Essas transformações tiveram seus reflexos a nível cultural apenas alguns decênios mais tarde.

Assim, podemos identificar, no período da República Velha, dois momentos bastante distintos. No primeiro, tanto a manifestação artística como os comportamentos e modos de vida ainda estavam presos aos padrões vigentes no final do Império. A referência da moda, dos costumes e dos comportamentos era Paris, que naquela época vivia a chamada Belle Époque, um estilo de vida difundido pela burguesia que se apoiava na idolatria da ciência e da técnica, na busca do belo e do prazer. Na Europa, a ruptura ocorreu de forma dramática com a eclosão da I Guerra Mundial. No Brasil, essa ruptura foi mais simbólica com a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo em 1922. Apesar das vaias, da reação negativa do público, em particular dos estudantes da Faculdade de Direito, reduto do conservadorismo, as novas ideias, as novas manifestações artísticas frutificaram nos anos seguintes.

As cidades se modernizam

Na virada do século, a sociedade brasileira ainda respirava os ares de fazenda e de campo, e as cidades tinham aspecto de vilarejos da época da colônia. No Rio de Janeiro, capital da República, que, desde a vinda da Família Real, era o centro político e econômico mais importante do país, havia em 1910 um pouco mais de 900 000 habitantes; dez anos depois a cidade contava com mais de 1 milhão de pessoas. O Rio de Janeiro, apesar de sua beleza natural, possuía becos, cortiços e muito lixo nas ruas; não havia rede de esgoto, o abastecimento de água era precário, os focos de epidemias eram constantes e a população morria de febre amarela, cólera, tifo e tuberculose. No governo de Rodrigues Alves, o Rio ganhou novo aspecto. As ruas foram alargadas, casas derrubadas e a cidade foi saneada. Em 1922, na época da instalação da Exposição Internacional do Centenário da Independência, o centro do Rio já contava com grandes edifícios, cinemas, teatros, cafés e uma fervilhante vida social e intelectual.
Também São Paulo cresceu e se urbanizou nesses decênios. Em 1900, havia na cidade 240.000 habitantes, incluindo um elevado contingente de imigrantes. Também os ricos fazendeiros vieram se instalar em São Paulo, surgindo, assim, os bairros residenciais da elite, como Campos Elíseos e Higienópolis. Em 1917 já existiam mais de 1700 automóveis e várias oficinas de consertos e garagens de aluguel onde se podiam alugar automóveis de luxo. Até 1907, o, Rio de Janeiro liderou a produção manufatureira do país. Em 1920, porém, São Paulo passou à frente: 31,5% da produção do Brasil estava concentrada nesta cidade.

Cotidiano e cultura: esperança de tempos melhores

O início do século XX no Brasil foi marcado por grande entusiasmo, que se refletiu em diferentes setores da sociedade, principalmente nas elites. 
Diversas novidades tecnológicas passaram a fazer parte do cotidiano das grandes cidades, como o telefone, o automóvel, o avião, a iluminação elétrica, o rádio, o refrigerador e o fogão a gás. O cinema foi uma das inovações de mais destaque na época, com filmes estrangeiros sendo exibidos à população.
Assim, artistas europeus e estadunidenses passaram a influenciar a moda e o comportamento dos espectadores brasileiros.

Novos hábitos

Influenciadas por essas novidades e pelo entusiasmo que marcou a entrada do novo século, muitas pessoas começaram a buscar diferentes maneiras de viver e de conviver nos grandes centros urbanos.
Alguns costumes e modismos tornaram-se referência para o estilo de vida das pessoas, sobretudo dos membros da elite, que promoviam festas e bailes com novos tipos de música e dança, como o charleston ou o foxtrote.
Homens e mulheres que procuravam seguir as tendências da moda passaram a usar roupas inspiradas nos figurinos usados pelas estrelas do cinema internacional. Isso influenciou também os cortes de cabelo e a maneira de se maquiar de muitas mulheres.

Movimentos modernistas na arte

Na Europa, desde meados do século XIX, o desenvolvimento tecnológico e as mudanças sociais e culturais influenciaram diversos movimentos artísticos que buscavam romper com os padrões acadêmicos nas artes visuais, na música e na literatura.
Surgiram, então, vários movimentos artísticos de vanguarda, como o Cubismo (1907), o Futurismo (1909), o Expressionismo (1910) e o Dadaísmo (1916). Esses movimentos, também conhecidos como movimentos modernistas, buscavam mais originalidade e liberdade de estilo.
No Brasil, o Modernismo surgiu no início do século XX por meio do contato de artistas brasileiros com movimentos da vanguarda europeia. Esses artistas passaram a defender a ideia de que a arte produzida no Brasil precisava de grande renovação. Por isso, eles ficaram conhecidos como modernistas.
Na arte, buscava-se superar as escolas anteriores, como o Parnasianismo e Simbolismo, e se afirmava uma nova posição irreverente e contestadora que passou a ser chamada de Modernismo. Esta corrente rompia com a métrica e o formalismo estéril dos movimentos anteriores e buscava as feições e formas populares, valorizando o regionalismo.
Esse caráter renovador era apoiado, em parte, pelos setores progressistas da burguesia brasileira, especialmente a burguesia industrial paulista que controlava a imprensa e os espaços culturais, como o Teatro Municipal de São Paulo, onde explodiu a Semana de Arte Moderna.
"Vamos assustar essa burguesia que cochila na glória de seus lucros." Essa foi a intenção dos organizadores da Semana, os irmãos Prado, ricos fazendeiros de café e o pintor Di Cavalcanti.
Nos dias 13,15 e 17 de fevereiro de 1922, jovens artistas e intelectuais reuniram-se no Teatro Municipal de São Paulo para apresentar sua arte, suas ideias e ler seus manifestos.
Foram duramente vaiados e criticados, mas permaneceram firmes, pois confiavam em sua arte. Estavam presentes artistas que seriam posteriormente as maiores figuras da cultura brasileira: os escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade, os pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, o músico Heitor Vila-Lobos, o escultor Victor Brecheret e tantos outros.
Em todos os campos os artistas, que representavam a nova classe intelectual do país, buscavam a ruptura com as tradições acadêmicas, a destruição do espírito conservador e conformista, a atualização da cultura brasileira e a formação de uma consciência criadora nacional. O principal papel do movimento foi fazer ruir as velhas fórmulas culturais, como afirmou Paulo Prado, um dos organizadores da Semana.
Após o escândalo da Semana de 22, alguns artistas e intelectuais se reuniram para formar o grupo Pau-Brasil, apoiando as ideias e orientações políticas de esquerda.
Mas dessa ebulição intelectual também surgiu o Movimento Verde-Amarelo, em 1926, de posições nacionalistas e conservadoras, liderado por Plínio Salgado e Menotti del Picchia, que daria origem ao Grupo Anta, defensor do Integralismo.
Em 1928, Oswald de Andrade, em seu Manifesto Antropofágico, já iniciava a crítica ao Modernismo: “pensamento novo não criamos. Continuou o pensamento velho de importação (...). O grande erro dos modernistas foi esse. A preocupação estética exclusiva”.

A pintura modernista no Brasil

Entre as diversas expressões artísticas do movimento modernista brasileiro, como a literatura e a música, a pintura foi um dos destaques. As pinturas modernistas apresentavam características até então pouco exploradas pelos artistas brasileiros.
Pinceladas ágeis, cores fortes e mais liberdade de formas passaram a ser muito valorizadas pelos pintores modernistas. Observe as pinturas a seguir e procure identificar nelas alguns elementos modernistas.

A Semana de 1922

Para divulgar suas ideias, os modernistas promoveram a Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, na cidade de São Paulo. Esse evento teve a participação de diversos intelectuais e artistas, como os pintores Anita Malfatti e Di Cavalcanti; os escritores Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira; e o músico Heitor Villa-Lobos.
As obras de arte e as demais produções apresentadas nesse evento chocaram muitas pessoas, pois os artistas propunham novas ideias e perspectivas sobre a arte, que eram desconhecidas até então para grande parte do público. Por causa do impacto que ela provocou, a Semana de 1922 é considerada um marco simbólico do movimento modernista brasileiro.
Em Paris, Alberto Santos Dumont voou pela primeira vez, em 23 de outubro de 1906, em um aparelho mais pesado que o ar, o 14 Bis. Foi Santos Dumont também o primeiro a dirigir um carro pelas ruas da cidade de São Paulo, provocando espanto e curiosidade em todos.

Futebol e samba

O foot-ball, esporte inglês, introduzido no Brasil por Charles Miller em 1894, passou a ser cada vez mais popular. Fundaram-se clubes como a A.A. Ponte Preta, em 1900, o Palestra-Itália (Palmeiras) e outros. Em 1919, o Fluminense, fundado em 1902, inaugurou o primeiro grande estádio de foot-ball com capacidade para 18 000 pessoas. Em São Paulo sobem as chaminés, apitam as sirenes, bondes cruzam a cidade e nas ruas se discute o último match. O futebol começava a ser o grande lazer das massas. Suas regras e estilo inglês sofreram transformações e adaptações, saindo dos clubes aristocráticos para as várzeas, praias e subúrbios. Só que comprar uma bola de couro era caríssimo; então, o jeito era improvisar bolas de meias, de pano, para realizar o match ou fazer o gol.
No Rio de Janeiro tornara-se moda a promoção de saraus, onde as conversações e as canções tocadas ao piano eram em francês, e poemas parnasianos ou árcades eram recitados. Os jovens escreviam trovas nos lencinhos de papéis importados, passando-os sorrateiramente às moças na hora do chá. Mas, no morro, um ritmo novo se afirmava; com um gingado estonteante, ia descendo a ladeira e chegando aos salões: o samba. Em 1917, foi gravado o primeiro samba do Brasil: Pelo Telefone. A princípio o samba foi muito combatido por quem queria continuar ouvindo as canções francesas, valsas ou modinhas.
Durante o Carnaval, o morro organizava blocos e grupos que desfilavam pela cidade. Porém, severas proibições restringiam os desfiles das futuras escolas de samba. Também a capoeira era proibida, por causa de seus gestos "obscenos" e jeitos "desengonçados".


O CAFÉ E A REPÚBLICA - ECONOMIA CAFEEIRA

A implantação da economia cafeeira a partir de 1840. Percebemos que um conjunto de fatores favoráveis - como o crescimento das exportações de café, o aumento das taxas alfandegárias pela tarifa Alves Branco, a abolição do tráfico negreiro, a vinda de imigrantes europeus a partir de 1850 - permitiu a urbanização e o lento desenvolvimento da indústria. Esse surto industrial foi, entretanto, efêmero, pois a partir de 1860 a lei Silva Ferraz (anulando os aumentos alfandegários) provocou retração no mercado interno e iniciou uma série de falências dos pequenos setores fabris brasileiros.

Mas um novo surto industrial originou-se a partir de 1870, estendendo-se até os fins do século XIX. Os investimentos exigidos pela Guerra do Paraguai, a manutenção do Exército, o crescente trabalho assalariado e a expansão cafeeira estimularam esse novo surto.
A economia da República Velha De 1889 a 1930, a economia brasileira desenvolveu-se basicamente graças ao acúmulo de capitais oriundos do setor cafeeiro associado aos investimentos estrangeiros. O preço pago foi a manutenção da estrutura latifundiária e da monocultura, que orientavam o tipo de implantação industrial no país. Assim, a indústria brasileira nasceu da fusão de tecnologias importadas com velhos procedimentos herdados do período colonial. Ricos latifundiários dedicados à monocultura cafeeira foram ao mesmo tempo proprietários das primeiras indústrias.

Industrialização regional

Os investimentos estrangeiros predominavam na formação da infraestrutura urbana. Em 1901, capitais ingleses, belgas e franceses instalaram a primeira usina elétrica em São Paulo. Em seguida, em 1904, capitais canadenses e ingleses organizaram a Light Power, que explorou os serviços urbanos de gás, energia elétrica, esgoto, água, transporte e telefone no eixo São Paulo - Rio de Janeiro, enquanto os Estados da Bahia, Paraná, parte de Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul eram abastecidos por outra companhia, também inglesa. Assim, é possível distinguir o crescimento urbano-industrial em diferentes regiões brasileiras, à medida que foram sendo instaladas as infraestruturas das cidades.
O Rio de Janeiro contava com os melhores serviços urbanos por ser a capital da República. E isso permitiu que essa cidade se tornasse a sede do maior parque industrial do país (São Paulo a superou apenas na década de 20).
O crescimento do Rio de Janeiro deveu-se, em primeiro lugar, aos impostos arrecadados pela União e às taxas do comércio de exportação e importação das mercadorias que transitavam pelo porto carioca. Em segundo lugar, figuravam os capitais excedentes da lavoura cafeeira da Baixada Fluminense (Vale do Paraíba), que eram aplicados na indústria.
Somava-se a isso a existência de farta mão-de-obra constituída de ex-escravos que se dirigiam para a cidade do Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida.
Formou-se, assim, um exército industrial de reserva, isto é, um excedente de trabalhadores disponíveis que barateava os custos de produção, pois as fábricas ofereciam baixos salários.
No começo do século XX, o segundo centro urbano do Brasil era Salvador (BA). Por ter sido uma das economias coloniais de maior desenvolvimento do país, a Bahia dispunha de matérias-primas (como algodão e fumo), de capital (originário da economia de exportação) e de trabalhadores livres capazes de assegurar a criação do setor fabril.
Outra cidade nordestina em que a indústria se desenvolveu foi Recife (PE). Lá havia grande quantidade de trabalhadores livres, vindos do interior pernambucano, expulsos do campo pelo processo de modernização dos engenhos de cana-de-açúcar, que se transformaram em usinas.
A existência de matéria-prima (algodão) e de um mercado interno regional (representado pela crescente população urbana) permitiu o surgimento das primeiras indústrias pernambucanas de grande porte: o setor têxtil. A companhia têxtil do grupo Lundgrenn, por exemplo, foi o mais bem-sucedido empreendimento fabril da região, pois conseguiu aliar produção e comércio. A fábrica vendia no atacado e no varejo através da criação de uma vasta rede comercial denominada Casas Pernambucanas.
O caso de Minas Gerais diferencia-se dos exemplos carioca e nordestino. Por sua tradição artesanal, com uma urbanização rápida e dispersa provocada pela economia mineradora do século XVII I , a região mineira abrigou uma infinidade de pequenas fábricas, com capitais e produção reduzidos, que se destinavam ao abastecimento dos mercados regionais. Outra região que passou por um processo de desenvolvimento durante a Colônia e o Império foi o Rio Grande do Sul.
Estruturada em pequenas propriedades agrárias, constituiu um mercado consumidor de camponeses ligados a uma atividade agrícola comercial. Aliada a esse fator de monetarização comercial, a existência de contingentes de imigrantes europeus permitiu o desenvolvimento urbano de pequenos mercados locais destinados à produção artesanal. Eram ferreiros, serralheiros, pedreiros, marceneiros, oleiros, tecelões, alfaiates, charreteiros, moleiros, carvoeiros e outros pequenos empresários que acabaram criando as primeiras indústrias de porte moderno do Rio Grande do Sul.
A capital, Porto Alegre, destacou-se pela diversificação da produção (fábricas de charutos, de alimentos, curtumes, moinhos, tecelagens) em pequenos estabelecimentos. A preocupação predominante dos setores industriais porto-alegrenses era conquistar o mercado local. Uma indústria gaúcha têxtil e de vestuário que se projetou nacionalmente na década de 10 foi a Rener, mas na década de 20 entrou em declínio devido à concorrência das indústrias similares de São Paulo. Nesse processo de industrialização regional, o Estado de Santa Catarina teve um significativo desenvolvimento fabril.
Semelhante à do Rio Grande do Sul, a colonização catarinense baseou-se na imigração europeia, sobretudo a germânica: A produção se destinava a mercados locais constituídos por grande número de pequenos proprietários rurais. A região de Blumenau, em vez de concorrer com as indústrias do eixo Rio-São Paulo, especializou-se num tipo de produção pioneira ligada à malharia, materiais para medicina (gazes, ataduras), tecidos de lã (especiais para os períodos de inverno), porcelana, instrumentos musicais.
Por sua especialização, a indústria Hering (de origem germânica) superou as barreiras regionais, conquistando o mercado do Rio Grande do Sul e de São Paulo na primeira década do século XX.

O café financia a indústria

Esses exemplos fabris enquadram-se no que o economista Antônio Barros Castro definiu como industrialização descentralizada. Impossibilitadas de unificar a circulação de mercadorias em todo o território, devido à precariedade dos meios de transporte, as classes burguesas industriais ligavam-se localmente aos produtores agrários e aos capitalistas ingleses, alemães e norte-americanos. A fragilidade econômica da nascente burguesia industrial do país obrigou os capitalistas regionais a se associarem ao capital internacional, sobretudo britânico.
Com exceção de Santa Catarina, as demais regiões acabariam sofrendo a concorrência do eixo Rio-São Paulo, tendo que se submeter ao controle especialmente dos paulistas. Mas como ocorreu esse processo de liderança econômica da região de São Paulo? A resposta está na economia cafeeira.
A crescente expansão cafeeira, principalmente nos fins do século XIX, permitiu que os grandes fazendeiros paulistas diversificassem suas atividades, investindo em estradas de ferro, em companhias de seguro, em instalações comerciais dos portos brasileiros, na organização de bancos, nos setores industriais têxteis e alimentares.
Visando incentivar a industrialização, Rui Barbosa, ministro da Fazenda do governo do Marechal Deodoro da Fonseca, abriu linhas de crédito para financiar a implantação de fábricas. Para isso o governo teve de aumentar a emissão de papel-moeda, gerando um processo inflacionário.
A facilidade de créditos levou a uma desenfreada especulação com papéis e ações das novas empresas. Essa especulação recebeu o nome de Encilhamento, pois a euforia barulhenta da Bolsa de Valores lembrava o local de apostas do jóquei-clube, quando os cavalos se preparavam para a corrida.
Empréstimos estrangeiros desenvolveram indústrias e cidades Muitas fábricas foram construídas com empréstimos de companhias de exportação e importação estrangeiras sediadas no país que, na maioria das vezes, se associavam aos projetos industriais brasileiros. Muitos capitalistas ingleses investiram diretamente no setor industrial brasileiro: de moinhos de trigo até fábricas de calçados, passando pelas instalações das primeiras usinas de açúcar.
Além destas duas importantes características (associação de empresas nacionais com estrangeiras e investimento estrangeiro na instalação fabril), destaca-se uma outra, inerente ao processo de desenvolvimento capitalista: a concentração de capitais, que exigiu a instalação de infraestrutura (energia, transporte) nas cidades.
As cidades constituíam o fator básico de implantação industrial, pois, ofereciam os serviços necessários à circulação e distribuição de mercadorias e de capital (dinheiro, matérias-primas e máquinas). Todo o sistema comercial e financeiro (armazéns, lojas, bancos, créditos etc.) instalou-se nos centros urbanos.
As cidades eram mercados consumidores imediatos dos produtos fabris, além de fornecerem a mão-de-obra necessária à indústria, devido a sua densidade demográfica.
Nesse sentido, São Paulo apresentou características favoráveis ao impulso industrial. O comércio do café promoveu uma grande concentração de bancos na capital paulista, criando um mercado de capitais. Somado a isso, desenvolveram-se centros de treinamento para o grande contingente de mão-de-obra que afluía para a cidade, constituído principalmente por imigrantes estrangeiros. E o caso do Liceu de Artes e Ofícios e do Instituto de Educandos e Artífices. O escoamento da produção, por sua vez, estava garantido por uma eficiente rede de transportes ligação com o porto de Santos e saídas para o interior e para outros Estados através de ferrovias -, enquanto o crescimento da cidade era assegurado por grandes obras de infraestrutura - pontes e viadutos, rede elétrica e de esgotos etc.
Convênio de Taubaté: a salvação da lavoura A força dos cafeicultores pôde ser comprovada em 1906, quando a produção brasileira de café crescia cada vez mais, porém os preços do produto no mercado internacional estavam em plena queda devido ao excesso de oferta e à valorização da moeda nacional levada a cabo pelo governo para combater a inflação provocada pelo Encilhamento.
Em fevereiro desse ano, os cafeicultores reuniram-se em Taubaté (Vale do Paraíba) para exigir do governo federal medidas que garantissem a valorização do café e a manutenção dos lucros dessa lavoura. O encontro ficou conhecido como Convênio de Taubaté.
Os cafeicultores pressionaram o governo a adotar medidas protecionistas para garantir o preço do café:

- proibição de novas plantações cafeeiras para não diminuir o preço do produto;
- promoção publicitária do produto a nível governamental visando estimular o consumo no mercado externo e interno;
- compra dos excedentes de café pelo governo para criar estoques reguladores que seriam colocados no mercado quando a produção diminuísse, garantindo a estabilidade dos preços;
- empréstimo externo de 15 milhões de libras esterlinas para custear as compras de café feitas pelos Estados.

As medidas beneficiaram os cafeicultores, ao mesmo tempo em que comprometeram o desenvolvimento do país, porque não havia capital para investir em outras áreas. Os efeitos dessa valorização do café foram sentidos em 1909, pois os preços internacionais do produto aumentaram, provocando uma elevação das arrecadações dos setores exportadores e um aumento das importações de bens de consumo (sapatos, chapéus, velas, lonas, betume, óleo de linhaça etc.) e de alimentos (manteiga, óleo, bebidas em geral).

A indústria beneficia a agricultura

De 1906 a 1909 ampliou-se a produção interna de alimentos, o que barateou seu custo, possibilitando que os salários reais fossem preservados. Isso estimulou a acumulação de capitais em dois setores da economia: a agricultura e a indústria."Está com isto definitivamente esclarecido o problema das condições de realização da produção industrial:
indústria e agricultura se apoiam mutuamente criando mercados uma para a outra:' Diante dessas condições, seguiu-se uma euforia que resultou em novo aumento da produção de café entre 1911 e 1913. As consequências puderam ser sentidas a partir de 1914. Houve um aumento da inflação, pois, para cumprir seus compromissos, o governo federal emitiu papel-moeda.

O Movimento Operário Brasileiro

  AS PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES 

Surgiram entre 1850 e 1880, não tinham caráter político, eram instituições que desenvolviam o auxílio mútuo entre os seus membros, nos casos de extrema necessidade como: doenças, enterros, acidentes, etc., a partir da iniciativa exclusiva dos próprios trabalhadores. Atente-se que, essas Associações não representavam uma ferramenta de resistência à exploração patronal. 

LIGAS OPERÁRIAS 

Começaram a surgir a partir de 1870, mais politizadas que as anteriores, deram origem aos primeiros sindicatos operários brasileiros. Objetivavam cobrar direitos, preconizando a greve como instrumento de luta. Deste momento em diante, as reivindicações operárias são: a redução da jornada de trabalho, o aumento salarial e a melhoria das condições de trabalho. 

SINDICATOS 

O termo SINDICATO passa a ser usado com mais, frequência, após o 1° Congresso Operário Brasileiro, realizado em 1906, que sugeriu o seu uso para estabelecer diferença entre as associações de resistência ao patronato das associações beneficentes.

Os sindicatos, em sua maioria, reuniam operários do mesmo ofício: sapateiros, chapeleiros, operários de indústria têxteis, garçons, gráfico, oleiros, vidraceiros, ferreiros marmoristas, etc. Havia, no entanto, sindicatos que reuniam, indistintamente, operários de diversos ofícios e de vários locais de trabalho. Podiam ainda, ser encontrados sindicatos que reuniam trabalhadores do mesmo grupo étnico, como o Círculo Operário Italiano e associações que se definiam pelo quadro de organização técnica de trabalho, como, por exemplo, o Sindicato dos Ferroviários. Esta nova forma de organização teve como principal característica a total desvinculação dos sindicatos de trabalhadores com relação ao Estado. 

Para garantir seus direitos, no início do século XX, muitos trabalhadores passaram a se organizar em sindicatos. Essas associações de trabalhadores atuavam na luta por direitos como regulamentação da jornada de trabalho, salários dignos e melhores condições de trabalho dentro das fábricas.

As maneiras mais comuns de mobilização eram por meio da imprensa escrita; de manifestações, como comícios e passeatas; e de greves, que atingiam diretamente os interesses dos patrões com a paralisação das atividades nas fábricas.

Os sindicatos chegaram a ser perseguidos pelas autoridades policiais, que os viam como organizações que visavam perturbar a ordem, com seus associados sendo considerados “agitadores” e “baderneiros”, muitos dos quais foram presos como criminosos.

Apesar das dificuldades, a atuação dos sindicatos foi importante na conquista de direitos e na regulamentação do trabalho nas fábricas. Direitos como férias e licença-maternidade só foram alcançados por causa da ação dos sindicatos.

Vida de operário

Nas fábricas, os operários enfrentavam condições precárias. Trabalhavam mais de 15 horas por dia, ganhavam baixos salários e não tinham direito a férias. A maioria desses operários vivia em moradias precárias, como cortiços, que consistiam em um conjunto de pequenas casas onde várias famílias tinham, por exemplo, que compartilhar um único banheiro ou um tanque para lavar roupa.

Diante das difíceis condições de vida, as mulheres e os homens operários passaram a lutar por direitos sociais e participação política. Entre as correntes políticas que influenciaram o movimento operário, destacou-se, no início, o anarquismo. Mas havia outras tendências atuantes, como a corrente católica, que procurava afastar o operariado da influência anarquista e socialista, e o sindicalismo revolucionário, que defendia a greve como principal instrumento de luta.

Mulheres operárias, como a tecelã Maria Allés e as costureiras Elvira Boni e Maria Lopes, atuaram no movimento anarquista, protestando contra regulamentos de fábricas e organizando greves para reivindicar melhores condições de trabalho. Suas histórias foram, muitas vezes, apagadas devido ao predomínio de uma perspectiva masculina e das classes dominantes.

O país em greve

Em 1917, os operários conseguiram organizar uma greve geral, que atingiu várias cidades do país e teve a participação de aproximadamente 70 mil trabalhadores. A greve começou em São Paulo e teve a adesão de trabalhadores de outros estados, como Rio de Janeiro, Paraíba, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Durante a greve, no dia 9 de julho, o jovem sapateiro e anarquista José Martinez morreu baleado por tropas do governo. Esse fato ampliou a greve que se estendeu para outras fábricas de São Paulo e de diversas regiões do país.

Entre as reivindicações dos operários e das operárias, estavam: a proibição do trabalho para menores de 14 anos; a abolição do trabalho noturno para mulheres; a redução da jornada de trabalho para oito horas; o aumento de salários; e o respeito ao direito de associação e libertação dos grevistas presos.

Pressionados, o governo e os industriais tiveram de negociar. Concordaram em não punir os grevistas e prometeram aos operários melhores salários e condições de trabalho. Porém, os compromissos não foram cumpridos, provocando novas ondas de greves em 1919 e 1920.

DOUTRINAS SOCIAIS: 

Durante o período em que o movimento operário gozou de total liberdade de associação (República Oligárquica), três correntes disputaram entre si a liderança da classe: Socialista, Anarco-sindicalista.

Liderados por intelectuais pertencentes à classe média, os sindicatos socialistas tiveram pequena penetração nos meios populares, porque defendiam a aliança dos setores médios urbanos ao operariado, como estratégia revolucionária. Suas preocupações centravam-se na divulgação das ideias de Marx e Engels no Brasil. Não acreditavam no sindicato como principal instrumento para a emancipação dos trabalhadores. Por buscarem a transformação gradativa do sistema social existente através da atuação de um partido político, insistiam no alistamento eleitoral e na adoção, pelo imigrante, da cidadania brasileira, necessária para a filiação ao partido socialista e para obter o direito ao voto nas eleições. Ao condenarem a greve como instrumento de luta, distanciavam-se cada vez mais do proletariado. 

ANARCOSINDICALISMO 

Quase sempre associado à presença de imigrantes italianos e espanhóis, foi a corrente de maior prestígio junto à classe operária brasileira da época. Seus líderes eram operários e priorizavam as reivindicações da classe.

Dentre seus princípios básicos destacam-se: a negação da autoridade do Estado ( a liberdade e a igualdade só seriam conseguidas com a destruição do capitalismo e do Estado que o defende), pregavam contra a propriedade privada, pois seria a fonte de todos os problemas da sociedade (destruir a propriedade privada sem destruir o governo burocrático de nada adiantaria, porque os burocratas concentram privilégios e não têm interesse em perde-los) consideravam a associação sindical como a única organização legítima dos trabalhadores (só o sindicato seria capaz de agrupar e solidarizar os operários conscientes, com base em interesses comuns), a ênfase na ação direta como instrumento de resistência ao capital, entendida como greve (geral ou parcial), passando pelo boicote, queda do ritmo de trabalho, produção intencionalmente imperfeita, além das manifestações públicas (passeatas). As greves deveriam constituir um exercício preparatório para a greve geral revolucionária.

O Anarquismo defendia ainda o desenvolvimento de uma cultura operária própria, marcada pela prática de várias atividades, que iam dos piqueniques, passeios e bailes, ao teatro e festivais de todos os tipos.

A atuação sindical se faria através de duas vias: a participação em movimentos coletivos de protesto ou reivindicação e a divulgação dos ideais anarquistas no meio do operariado.

Os ideais comunista no meio sindical teve início com a fundação do Partido Comunista, em 1922, formado por ex-anarquistas, na cidade de Niterói. Inicialmente chamado Partido Comunista do Brasil, depois se denominou Partido Comunista Brasileiro. Sua fundação é reflexo do processo revolucionário desencadeado na Rússia (Revolução de 1917) e da realização da Terceira Internacional Comunista, que tinha por objetivo, dirigir a revolução socialista em todas as partes do mundo.

Condenava as greves sem prévia análise de sua conveniência. Pregava um modelo de estrutura sindical que se completaria com uma central sindical. Em 1928, o PCB fundou a Confederação Geral do Trabalho do Brasil, que reunia cerca de 60.000 de trabalhadores sindicalizados.

Os comunistas defendiam a transformação da luta econômica dos operários em luta política e o centralismo democrático, ou seja, que as decisões fossem tomadas pela direção do Partido, que promoveria a tomada do Estado e instalaria a ditadura do proletariado.

O PCB defendia ainda a sua participação nas eleições e a formação de "frentes únicas", isto é, a sua união com diversos outros setores da sociedade para atender os interesses dos trabalhadores, mesmos que estes tivessem posições muito diferentes dos comunistas.

O PCB sofreu várias oscilações quanto à sua, legalização (foi fechado em 1922 e depois em 1927) Para contornar esta situação, expandiu-se o Bloco Operário para Bloco Operário e Camponês (BOC), que apesar de camponês, não teve nenhuma penetração nas zonas rurais, ficando restrito às grandes cidades. A maior vitória do BOC ocorreu nas eleições de 1928, no Rio de Janeiro com as vitórias de Otávio Brandão (dirigente do PCB) e Minervino de Oliveira (operário marmorista e dirigente da Federação Sindical Regional).

Cultura no Regime Militar

Usar a arte como instrumento de agitação política – caminho apontado pelo Centro Popular de Cultura da UNE no início dos anos 60 – acaba tendo vários seguidores. Os festivais de música do final dessa década revelam compositores e intérpretes das chamadas canções de protesto, como Geraldo Vandré, Chico Buarque de Holanda e Elis Regina. O cinema traz para as telas a miséria de um povo sem direitos mínimos, como nos trabalhos de Cacá Diegues e Glauber Rocha. No teatro, grupos como o Oficina e o Arena procuram dar ênfase aos autores nacionais e denunciar a situação do país. Com o AI-5, as manifestações artísticas são reprimidas e seus protagonistas, na grande maioria, empurrados para o exílio. Na primeira metade dos anos 70 são poucas as manifestações culturais expressivas, inclusive na imprensa, submetida à censura prévia.

Ebulição cultural

A década de 1960 foi culturalmente intensa em todo o mundo ocidental. O ano de 1968, um dos mais agitados, é lembrado até hoje pelos confrontos entre a polícia e os movimentos estudantis e sociais e pela ebulição cultural em países da Europa e nos Estados Unidos.

No Brasil não foi diferente! Foram produzidas obras artísticas marcantes na música, nas artes visuais, no teatro e no cinema. Embora a censura se tornasse cada vez mais dura naquela década, inclusive, com a prática de confisco de materiais considerados “subversivos”, artistas e intelectuais conquistaram espaços para expressar críticas ao regime e denunciar a censura.

Nos festivais da canção, concursos musicais muito populares transmitidos ao vivo por emissoras de televisão, tornaram-se conhecidas as canções de protesto contra o autoritarismo do regime e a favor da exaltação da vida e da dignidade das pessoas pobres do interior do país. Entre essas canções estavam “Arrastão” (1965), de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, e “Procissão” (1966), de Gilberto Gil. A primeira trata da alegria de pescadores diante de uma grande quantidade de peixes, e a segunda reconhece e lamenta a vida dura no Sertão nordestino.

As canções de protesto eram o principal alvo dos censores, mas eles também proibiam a exibição de filmes e novelas que manifestassem críticas aogoverno ou considerados imorais para a época, impediam que os grandes jornais veiculassem artigos de opinião e proibiam a publicação de livros considerados subversivos. Compositores e intérpretes, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Geraldo Vandré e João do Vale, tiveram muito destaque naqueles anos, com canções contra a repressão e a violência da ditadura.

O Tropicalismo

No final da década de 1960, o fenômeno cultural chamado Tropicalismo reuniu diferentes manifestações artísticas. Os tropicalistas queriam revolucionar a linguagem musical, plástica e teatral, além de criticar comportamentos e costumes da época. Eles combatiam a ditadura e mesclavam o popular, o erudito, o regional nordestino e o pop nas diversas formas de expressão.

No teatro, Zé Celso Martinez Corrêa, a frente do Teatro Oficina, incitava o público a se posicionar sobre o regime. Ao montar a peça “Roda viva”, em 1968, com texto e música de Chico Buarque, o grupo foi atacado em São Paulo por membros do Comando de Caça aos Comunistas (CCC).

Outros gêneros musicais

Nesse período, além das músicas de protesto e das inovações do Tropicalismo, outros gêneros musicais fizeram parte do cotidiano cultural do país. Havia a Jovem Guarda, movimento musical voltado ao entretenimento e ao mercado que, com canções leves e dançantes – algumas delas adaptações de sucessos internacionais –, se tornou bastante popular entre a juventude. Os principais expoentes eram Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos.

Outro gênero musical foi o brega ou cafona, que, muito popular de Norte a Sul do país, cujos artistas eram oriundos dos estratos populares da sociedade brasileira. Depreciados pela crítica especializada, eram adorados pelas classes populares por suas músicas românticas que retratavam o cotidiano (relacionamentos, trabalho etc.) dessa população. Além disso, algumas das canções, ao abordar temas como trabalho infantil ou sexualidade, foram percebidas como denúncias das desigualdades e da segregação social existente no cotidiano do país e, por isso, alguns desses artistas foram censurados pela ditadura. Alguns representantes do gênero são Paulo Sergio, Odair José, Nelson Ned e Waldick Soriano.

No Brasil dessa época também se difundiram gêneros da black music estadunidense, como o soul e o funk, muito diferente do funk atual. Nos chamados bailes black, a juventude negra, pobre e periférica, sobretudo do Rio de Janeiro e de São Paulo, encontrou espaços de entretenimento que também eram locais para manifestações contra o racismo, valorização estética, artística e cultural da população negra, assim como denúncias contra o Regime Militar. A expressividade dos bailes e da afirmação e as manifestações pró-orgulho negro geraram grande incômodo entre os militares, que passaram a espionar, investigar e reprimir os eventos.

Por fim, houve sambas-enredo e, sobretudo, canções sertanejas que exaltaram a Ditadura Civil-Militar, seus valores e realizações. Em suas letras destacavam-se o nacionalismo ufanista e a apologia do desenvolvimentismo proporcionados pelo governo militar.

Tropicalismo e iê-iê-iê

Em 1968, ano de efervescência do movimento estudantil, surge o tropicalismo: uma reelaboração dos elementos da cultura e realidade social brasileira à luz da contracultura e do rock'n'roll. Surgem figuras como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato e José Capinam. A revolução musical provocada pelos Beatles e outros grandes grupos de rock internacional também tem sua expressão no Brasil: o iê-iê-iê e a jovem guarda são popularizados pela televisão e afirmam-se junto a uma grande parcela da juventude urbana.

Imprensa alternativa

Durante a ditadura aparecem no Brasil cerca de 150 periódicos regionais e nacionais de oposição ao Regime Militar. Denunciam a tortura, as violações dos direitos humanos, a falta de liberdade, o arrocho salarial e a degradação das condições de vida dos trabalhadores. O marco inicial da imprensa alternativa ocorre em 1969, com O Pasquim. Depois aparecem o Bondinho (1970), Polítika (1971), Opinião (1972), o Ex (1973), entre outros. A partir de 1974, a imprensa alternativa adquire o caráter de porta-voz de movimentos ou grupos da esquerda. Destacam-se os jornais Movimento (1974), Versus (1975), Brasil Mulher (1975), Em Tempo (1977), e Resistência (1978).

Regime Militar – Economia e Sociedade

No início do Regime Militar a inflação chega a 80% ao ano, o crescimento do Produto Nacional Bruto (PNB) é de apenas 1,6% ao ano e a taxa de investimentos é quase nula. Diante desse quadro, o governo adota uma política recessiva e monetarista, consolidada no Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg), elaborado pelos ministros da Fazenda, Roberto de Oliveira Campos e Octávio Gouvêa de Bulhões. Seus objetivos são sanear a economia e baixar a inflação para 10% ao ano, criar condições para que o PNB cresça 6% ao ano, equilibrar o balanço de pagamentos e diminuir as desigualdades regionais. Parte desses objetivos é alcançada. No entanto, em 1983, a inflação ultrapassa os 200% e a dívida externa supera os US$ 90 bilhões.

Recessão

Para sanear a economia, o governo impõe uma política recessiva: diminui o ritmo das obras públicas, corta subsídios, principalmente ao petróleo e aos produtos da cesta básica, dificulta o crédito interno. Em pouco tempo aumenta o números de falências e concordatas. Paralelamente, para estimular o crescimento do PNB, oferece amplos incentivos fiscais, de crédito e cambiais aos setores exportadores. Garante ao capital estrangeiro uma flexível lei de remessas de lucro, mão-de-obra barata e sindicatos sob controle. Extingue a estabilidade no emprego e, em seu lugar, estabelece o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). No final do governo Castello Branco a inflação baixa para 23% anuais. A capacidade ociosa da indústria é grande, o custo de vida está mais alto, há grande número de desempregados, acentuada concentração de renda e da propriedade.

Financiamento interno

Para financiar o déficit público, o governo lança no mercado as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTNs). Estimula a construção civil criando o Banco Nacional de Habitação (BNH) para operar com os recursos captados pelo FGTS. Estabelece também a correção monetária como estímulo à captação de poupança num momento de inflação alta. Ao fazer isso, cria um mecanismo que, na prática, indexa a economia e perpetua a inflação.

Retomada do crescimento

A economia volta a crescer no governo Castello Branco. Os setores mais dinâmicos são as indústrias da construção civil e de bens de consumo duráveis voltados para classes de alta renda, como automóveis e eletrodomésticos. Expandem-se também a pecuária e os produtos agrícolas de exportação. Os bens de consumo não-duráveis, como calçados, vestuário, têxteis e produtos alimentícios destinados à população de baixa renda têm crescimento reduzido ou até negativo.

Milagre econômico

Baseado no binômio segurança-desenvolvimento, o modelo de crescimento econômico instaurado pela ditadura conta com recursos do capital externo, do empresariado brasileiro e com a participação do próprio Estado como agente econômico. O PNB cresce, em média, 10% ao ano entre 1968 e 1973. Antônio Delfim Netto, ministro da Fazenda nos governos Costa e Silva e Garrastazu Medici e o principal artífice do "milagre", aposta nas exportações para obter parte das divisas necessárias às importações de máquinas, equipamentos e matérias-primas. O crescimento do mercado mundial, na época, favorece essa estratégia, mas é a política de incentivos governamentais aos exportadores que garante seu sucesso. Para estimular a indústria, Delfim Netto expande o sistema de crédito ao consumidor e garante à classe média o acesso aos bens de consumo duráveis.

O papel das estatais

Durante o Regime Militar, o Estado mantém seu papel de investidor na indústria pesada, como a siderúrgica e de bens de capital. As empresas estatais crescem com a ajuda do governo, obtêm grandes lucros, lideram empreendimentos que envolvem empresas privadas e criam condições para a expansão do setor de produção de bens duráveis.

Concentração de renda

Em 1979, apenas 4% da população economicamente ativa do Rio de Janeiro e São Paulo ganha acima de dez salários mínimos. A maioria, 40%, recebe até três salários mínimos. Além disso, o valor real do salário mínimo cai drasticamente. Em 1959, um trabalhador que ganhasse salário mínimo precisava trabalhar 65 horas para comprar os alimentos necessários à sua família. No final da década de 70 o número de horas necessárias passa para 153. No campo, a maior parte dos trabalhadores não recebe sequer o salário mínimo.

Crescimento da miséria

Os indicadores de qualidade de vida da população despencam. A mortalidade infantil no Estado de São Paulo, o mais rico do país, salta de 70 por mil nascidos vivos em 1964 para 91,7 por mil em 1971. No mesmo ano, registra-se a existência de 600 mil menores abandonados na Grande São Paulo. Em 1972, de 3.950 municípios do país, apenas 2.638 têm abastecimento de água. Três anos depois um relatório do Banco Mundial mostra que 70 milhões de brasileiros são desnutridos, o equivalente a 65,4% da população, na época de 107 milhões de pessoas. O Brasil tem o 9º PNB do mundo, mas em desnutrição perde apenas para Índia, Indonésia, Bangladesh, Paquistão e Filipinas.

Fim do milagre

A partir de 1973 o crescimento econômico começa a declinar. No final da década de 70 a inflação chega a 94,7% ao ano. Em 1980 bate em 110% e, em 1983, em 200%. Nesse ano, a dívida externa ultrapassa os US$ 90 bilhões e 90% da receita das exportações é utilizada para o pagamento dos juros da dívida. O Brasil mergulha em nova recessão e sua principal conseqüência é o desemprego. Em agosto de 1981 há 900 mil desempregados nas regiões metropolitanas do país e a situação se agrava nos anos seguintes.

Sociedade no Regime Militar

Para neutralizar a oposição ao regime, o governo faz uso de vários instrumentos de coerção. A censura aos meios de comunicação e às manifestações artísticas, principalmente a partir de 1969, tolhem a produção cultural. As prisões, torturas, assassinatos, cassação de mandatos, banimento do país e aposentadorias forçadas espalham o medo. Os setores organizados da sociedade passam a viver sob um clima de terrorismo, principalmente após o fechamento do Congresso Nacional, em 1966. As manifestações públicas desaparecem por quase uma década. Em meados dos anos 70 os estudantes são os primeiros à voltar às ruas em defesa das liberdades democráticas. No final da década ressurge o movimento operário com greves por aumento salarial e um acelerado processo de organização.

Esquerda armada

Parcelas da esquerda brasileira procuram na luta armada um meio de enfrentar o Regime Militar e abrir caminho para a esperada revolução brasileira. Destacam-se: Ação Libertadora Nacional (ALN), liderada por Carlos Marighella, ex-deputado federal e ex-membro do Partido Comunista Brasileiro, morto numa emboscada em São Paulo em 4 de novembro de 1969; Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), comandada pelo ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, morto por uma patrulha militar em Pintada, no interior da Bahia, em 17 de setembro de 1971; e o Partido Comunista do Brasil (PC do B), uma dissidência do PCB, que organiza um movimento guerrilheiro no Araguaia, sul do Pará, no início da década de 70; e o MR-8, uma dissidência do PCB. As organizações armadas fazem assaltos a bancos, sequestros de diplomatas para trocá-los por presos políticos e alguns assassinatos de militares e colaboradores do regime.

Aparato repressivo

O Serviço Nacional de Informações (SNI), criado em junho de 1964, é um dos órgãos centrais do aparato repressivo do Regime Militar. Cada polícia estadual conta com o seu Dops (Departamento de Ordem Política e Social). As Forças Armadas também têm seus órgãos especializados, como o Cenimar, da Marinha, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, é criada a Oban (Operação Bandeirantes) em 1º de junho de 1969. Reúne militares e civis e é financiada por alguns grandes empresários paulistas. A Oban, um dos principais instrumentos de repressão do governo militar, consegue desarticular os grupos oposicionistas através de prisões, torturas e assassinatos. Em maio de 1970 passa a chamar-se Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-Codi.

Terrorismo de direita

O aparato repressivo conta também com grupos extra-oficiais e paramilitares formado por terroristas de direita. Esses grupos são responsáveis por seqüestros de personalidades públicas, artistas e militantes de esquerda, invasão de teatros e casas de show, atentados a bomba em jornais, bancas de revistas, e também por cartas-bomba. Os mais conhecidos são o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) e a Aliança Anticomunista Brasileira (AAB).

Movimento operário

A greve dos metalúrgicos de Osasco, São Paulo, e de Contagem, Minas Gerais, ambas em 1968, são as últimas mobilizações operárias dos anos 60. Dez anos depois, em 12 de maio de 1978, a greve de 1.600 operários da Saab-Scania, na região industrial do ABC paulista, marca a volta do movimento operário à cena política. Em junho, o movimento espalha-se por São Paulo, Osasco e Campinas. Até 27 de julho registram-se 166 acordos entre empresas e sindicatos, beneficiando cerca de 280 mil trabalhadores. Nessas negociações, torna-se conhecido em todo o país o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luís Inácio da Silva, o Lula, que depois incorporaria o apelido a seu nome de registro.

Onda de greves

Os metalúrgicos de São Paulo e Guarulhos, cidade da Grande São Paulo, interrompem o trabalho em 29 de outubro de 1979. No dia seguinte morre o operário Santo Dias da Silva em confronto com a polícia, durante um piquete na frente da fábrica Sylvania, no bairro paulistano de Santo Amaro. As greves por melhorias salariais espalham-se por todos os Estados do país e envolvem várias categorias.

Intervenção nos sindicatos

Em 1° de abril de 1980, os metalúrgicos do ABC paulista e de mais 15 cidades do interior de São Paulo entram em greve por aumento salarial. Em 17 de abril o ministro do Trabalho, Murillo Macedo, determina a intervenção nos sindicatos de São Bernardo do Campo e Santo André. São presos 13 líderes sindicais no dia 19 de abril, e enquadrados na Lei de Segurança Nacional, entre eles Lula. A intervenção é respondida com o crescimento do movimento em apoio à greve. A organização de um fundo de greve mobiliza entidades estudantis, populares e comunidades de base da Igreja. A greve em Santo André prossegue até 5 de maio e, em São Bernardo, até o dia 11. Após vários julgamentos, os processos contra sindicalistas prescrevem em 11 de maio de 1982.

Trabalhadores rurais

Em 15 de maio de 1984 cerca de 5 mil cortadores de cana e colhedores de laranja do interior paulista entram em greve por melhores salários e condições de trabalho. No dia seguinte invadem as cidades de Guariba e Bebedouro. Um canavial é incendiado. O movimento é reprimido por 300 soldados. Morre uma pessoa e 40 ficam feridas. Parte das reivindicações dos bóias-frias é atendida pelo acordo de Jaboticabal, assinado em 17 de maio de 1984 e estendido depois a todos os municípios da área. Greves de trabalhadores rurais espalham-se por várias regiões do país, principalmente entre os canavieiros do Nordeste.

Surgimento da CUT

Com o crescimento das greves, há uma renovação nas direções sindicais. Várias diretorias pelegas são atropeladas por processos grevistas liderados pelas oposições. A organização intersindical é retomada e, entre 21 e 23 de agosto de 1981, é realizada a 1ª Conferência das Classes Trabalhadoras (Conclat), na Praia Grande (SP). Ali é formada a comissão pró-CUT (Central Única dos Trabalhadores), e a entidade é fundada em agosto de 1983. Pela primeira vez no país uma central sindical nacional consegue congregar trabalhadores do campo e da cidade e apresenta uma proposta de organização sindical independente. No entanto, a CUT não congrega todos os setores expressivos do movimento sindical. Ficam de fora as tendências lideradas pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

Anistia

O movimento pela anistia aos presos políticos, banidos e cassados em seus direitos políticos começa na segunda metade da década de 70. Reúne entidades do movimento estudantil e sindical, organizações populares, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), e setores da Igreja. Obtém uma vitória parcial em 1979, com a decretação da anistia aos acusados de crimes políticos. No entanto, a anistia é "recíproca", ou seja, beneficia também os agentes dos órgãos de repressão envolvidos em denúncias de assassinatos e torturas.

Movimentos populares

A partir dos anos 70, a migração campo-cidade fica mais intensa e acelera o processo de inchaço dos grandes centros urbanos. No início dos anos 80, segundo dados do IBGE, 80 milhões de pessoas, ou 67% dos brasileiros, vivem na zona urbana, contra uma população rural de 39 milhões de pessoas. A região Sudeste, rica e industrializada, concentra 44% dos habitantes do país. Capitais do Nordeste, como Salvador e Recife, têm suas populações aumentadas em, respectivamente, 31% e 45%. Esse crescimento das populações urbanas, porém, não é acompanhado de um incremento dos serviços urbanos, como transporte e saneamento básico, além da rede pública de atendimento à saúde e educação. A solução desses problemas são algumas das reivindicações centrais dos movimentos sociais urbanos que surgem no final dos anos 70.

Reivindicações populares

Os movimentos sociais urbanos em geral surgem nos locais de moradia. Reivindicam direitos básicos de cidadania, como abastecimento de água e coleta de esgotos, iluminação, transporte, calçamento, atendimento médico e acesso à escola. Lutam também pela legalização de loteamentos clandestinos, cada vez mais comuns nos bairros de periferia. Em vários momentos, partem para a ação direta. Nos anos 80 há invasões de terrenos e de conjuntos habitacionais em construção em várias capitais e quebra-quebras de ônibus e trens urbanos.

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Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...