quinta-feira, 5 de outubro de 2023

O governo Lula

A ascensão de Luís Inácio Lula da Silva e a do Partido dos Trabalhadores que ajudou a fundar marca a chegada de uma nova geração ao poder. Iniciando sua vida pública em 1975, como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, SP, Lula disputou várias eleições até vencer em 2002 e se tornar presidente do Brasil.

Um operário na presidência

Operário e sindicalista, Lula tornou-se nacionalmente conhecido por liderar uma longa greve de metalúrgicos em São Bernardo do Campo (SP), em plena ditadura militar. Cofundador, em 1980, do Partido dos Trabalhadores (PT), tornou-se a principal liderança petista, candidatando-se aos principais cargos eletivos do país. Em 1986, foi eleito deputado, conseguindo a maior votação até então para o Legislativo federal.
Concorrendo à presidência em 1989, Lula uniu as esquerdas em torno de sua candidatura. Apesar da derrota, transformou-se no grande líder dos grupos que faziam oposição ao modelo de governo adotado por Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Lula defendia a manutenção das empresas estatais, o não pagamento da dívida externa e o socialismo.
Na campanha à Presidência de 2002, o PSDB, partido do então presidente Fernando Henrique Cardoso, apostou na candidatura de José Serra, ex-ministro da Saúde. Uma vez mais, PT e coligação lançaram a candidatura de Lula.
Após concorrer pela quarta vez ao cargo, Lula venceu as eleições.
A posse de Lula 2003

Durante a campanha eleitoral, Lula assinou a Carta ao Povo Brasileiro, documento no qual se comprometeu, caso eleito, a cumprir todos os acordos feitos anteriormente pelo governo com os credores nacionais e internacionais. Comprometendo-se a combater a inflação, pagar a dívida externa e respeitar a propriedade privada. Com esse discurso mais moderado, Luís Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da República.

Política econômica e social

O governo Lula, iniciado em 2003, adotou uma política econômica semelhante à de seus antecessores, controlando os gastos públicos, pagando as dívidas pontualmente e mantendo a inflação sob controle. As exportações cresceram e o país passou a acumular saldos positivos na balança comercial, incrementando a economia, fazendo cair a taxa de desemprego e aumentando a confiança dos investidores.
No campo social foi lançado o programa Fome Zero, com o objetivo de reduzir as condições de miséria da camada mais pobre da população. O Programa Fome Zero, destinado a beneficiar 44 milhões de pessoas muito pobres que ganhavam cerca R$ 80,00 por mês. Com o objetivo de garantir a todos os brasileiros o acesso a uma alimentação adequada em termos de quantidade, qualidade e regularidade. Entre as ações do Fome Zero destacou-se o programa Bolsa Família, que condicionava o pagamento de um auxílio em dinheiro a famílias carentes que mantêm os filhos na escola. O salário mínimo passou a ser registrado acima da inflação.

principais propostas apresentadas no início do governo:

economia: fazer o PIB (Produto Interno Bruto) crescer pelo menos 4% ao ano; aumentar as exportações; fortalecer o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), instituição por meio da qual o governo apoia as empresas;
educação: pôr fim ao analfabetismo de adultos em quatro anos. Implementar o programa "Escola Ideal" que envolve a valorização dos professores, a reforma dos prédios e a informatização das escolas;
comunicações: implantar Internet nas escolas do Ensino Fundamental. O ministério das comunicações pretende também criar um departamento para registrar e atender às reclamações dos usuários;
trabalho: criar empregos e gerar renda por diversos meios, como por exemplo, o financiamento de cooperativas e de empresas falidas; extinguir o trabalho infantil em quatro anos; unificar os programas de qualificação profissional financiados pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador;
saúde: alterar as normas para reajuste de preços dos medicamentos, especialmente os de uso permanente. O governo quer quebrar ou, ao menos, diminuir o controle quase exclusivo que os grandes laboratórios exercem sobre o setor;
segurança: integrar ações da Polícia Federal, Polícia Rodoviária e Secretaria Nacional Antidrogas, a fim de combater o crime organizado, a prostituição infantil, o tráfico de drogas etc. Utilizar a infraestrutura e os membros das Forças Armadas na implantação dos programas sociais, principalmente no Fome Zero.
Os críticos do modelo seguido por Lula argumentavam que a política anti-inflacionária inibia o crescimento da economia. apontavam também que a carga de impostos era extremamente elevada e que o Estado que não sabia administrar seus gastos. Segundo eles, o governo oferecia serviços precários e não investia o necessário em infraestrutura.
Esse último argumento foi reforçado no final de 2006 quando ocorreu o “apagão aéreo” que consistiu em uma crise que envolveu o controle do espaço aéreo brasileiro, causando atrasos de voos e tumultos nos aeroportos.

O Brasil mais presente no mundo

A política externa do governo Lula empenhou-se em ampliar a participação e a influência do Brasil no cenário internacional, aproveitando a grande vocação do país como produtor e exportador mundial de matérias-primas, alimentos e biocombustíveis.
Foram firmadas alianças estratégicas com outros grandes países emergentes ̶ principalmente China, Índia e África do Sul. Unindo-se a esses países, o Brasil pôde participar de algumas das grandes decisões mundiais, antes privilégio dos países ricos.
Outra ação que marcou essa nova imagem do Brasil no mundo foi o envio de tropas para o Haiti a partir de 2004, liderando a missão ONU que buscava pacificar o país caribenho, convulsionado por uma guerra civil.
A integração do Brasil com a América do Sul, iniciada anos antes com o Mercosul, foi intensificada com a expansão dos investimentos de empresas brasileiras nesses países, atuando em atividades como petróleo, gás, bebidas, siderurgia, cimento e bancos. Essa expansão não esteve, porém, livre de problemas: na Bolívia, grande fornecedora de gás para o Brasil, o governo nacionalizou os recursos naturais em maio de 2006, o que obrigou a Petrobras a vender ao governo boliviano suas instalações naquele país.

Críticas a Lula

Embora os programas do Governo Lula tenham produzido alguns avanços sociais, o modelo de desenvolvimento econômico permaneceu atrelado aos princípios neoliberais, ou seja, prevaleceu a economia de mercado, favorecendo os interesses dos grandes grupos financeiros.
Além disso, a política de privatizações teve continuidade no governo petista e foram feitas concessões de serviços e empresas públicas para o setor privado. Diante de tal cenário político, Lula foi criticado, inclusive por muitos de seus apoiadores. A derrota de candidatos petistas nas eleições municipais de 2004, em especial nas grandes cidades do país, foi interpretada como reflexo do descontentamento de diferentes setores da sociedade com a atuação do PT à frente do Poder Executivo.

Segundo mandato

Lula tomou posse em janeiro de 2003 e, em 2006, concorreu à reeleição, na qual venceu no segundo turno o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, permanecendo no cargo até 2010.
Na campanha eleitoral de 2006, Lula se beneficiou da popularidade obtida com a política de redução da miséria e o controle da inflação. O presidente conseguiu também manter-se afastado dos escândalos que marcaram os últimos anos de seu primeiro mandato. O maior deles envolveu diversos assessores diretos de Lula, acusados de comprar o apoio de deputados federais aliados em votações de interesse do governo. Os pagamentos seriam mensais, o que fez com que o episódio ficasse conhecido como escândalo do “mensalão”.
O julgamento coube ao Supremo Tribunal Federal, que, dos 37 réus, condenou 25, incluindo integrantes da cúpula do partido: José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares e João Paulo Cunha.
O escândalo pouco abalou a popularidade do presidente, que contornou a crise ajustando a equipe de governo e mantendo o crescimento econômico do país. No final do primeiro mandato, em 2005, Lula tinha aprovação popular de 57% da população, segundo pesquisa do Datafolha.
Reeleito, Lula iniciou seu segundo mandato prometendo incrementar o crescimento econômico. Um de seus primeiros atos foi apresentar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um conjunto de propostas de investimentos públicos em rodovias, portos, usinas hidrelétricas, saneamento básico e habitação.
Nos dois mandatos de Lula a economia cresceu a taxas mais elevadas que nos governos anteriores, o desemprego recuou e a pobreza e a miséria foram reduzidas. O governo petista também se destacou na política externa. O Brasil tornou-se uma potência emergente e envolveu-se em ações internacionais, entre as quais a formação do Brics – bloco econômico entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, a criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e o fortalecimento das relações diplomáticas e comerciais com países africanos e árabes.
Esse período de promoção de direitos sociais, estabilidade econômica e destaque na política internacional foi um fator decisivo para a eleição de Dilma Rousseff, candidata à Presidência pelo PT, em 2010. Apoiada por Lula, Dilma obteve 56,05% dos votos válidos, contra 43,95% de José Serra, do PSDB.

O Brasil no Bric

Em 2003, um economista do banco norte-americano Goldman Sachs criou a sigla Bric, formada pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, países que têm demonstrado possibilidades de crescimento, em termos econômicos, e que devem se tornar potências dentro de poucas décadas, o que provocaria uma transformação na ordem econômica internacional e mudaria a correlação de forças internacionais.

Governo Fernando Henrique

O Governo FHC (iniciado em 1995) corresponde ao período da história política brasileira que se inicia com a posse como presidente de Fernando Henrique Cardoso, em 1 de Janeiro de 1995. O período termina em 1 de Janeiro de 2003, quando a presidência foi assumida por Luiz Inácio Lula da Silva.
Fernando Henrique Cardoso, nasceu no Rio de Janeiro no dia 18 de junho de 1931. Professor, sociólogo e político brasileiro formado pela USP (Universidade de São Paulo) e popularmente conhecido como FHC.

Fernando Henrique Cardoso participou da criação do MDB (Movimento Democrático brasileiro) e teve participação decisiva nas diretas já e na eleição no colégio eleitoral. Fernando Henrique Cardoso foi cofundador do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).
Foi senador por São Paulo, Ministro das Relações Exteriores e Ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco, além de ser o “idealizador” do Plano Real.
Fernando Henrique Cardoso conquistou a Presidência da República, e foi presidente por dois mandatos (de 1995 a 1998 e de 1999 a 2003). A política de estabilidade e da continuidade do Plano Real foi o principal apelo da campanha eleitoral de 1998 para a reeleição de FHC. Ele foi reeleito já no primeiro turno.

Eleições e o Governo FHC

Em 1994, Fernando Henrique deixa o Ministério da Fazenda, e se candidata à Presidência da República. Filiado ao PSDB, FHC contou com o apoio do PFL e do PTB, dois partidos considerados conservadores.
As principais promessas de FHC foram: reforma agrária; diminuição das desigualdades entre ricos e pobres; melhoria das condições de alimentação, moradia, educação, e saúde dos brasileiros.
Principais acontecimentos do governo FHC: início das operações do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), cujas bases foram lançadas no governo Collor; fim do monopólio da Petrobrás; privatização de estatais como o Sistema Telebrás, a CSN, a Cia. Vale do Rio Doce, Cias. de Energia; aprovada a reeleição para a Presidência da República, governadores e prefeitos. A aposentadoria deixa de ser por tempo de serviço, e passa a ser por idade;
Após o sucesso do plano real, Fernando Henrique Cardoso foi eleito Presidente do Brasil já no primeiro turno com larga escala de votos e tomou posse dia 1º de janeiro de 1995, sendo reeleito em 1998, tendo nos dois mandatos Marco Maciel, do PFL, como vice-presidente.
A política de estabilidade e da continuidade do Plano Real foi o principal apelo da campanha eleitoral de Fernando Henrique Cardoso e um dos fatores decisivos para sua reeleição em 1998, sendo reeleito no primeiro turno das eleições.
FHC conseguiu sua eleição graças ao apoio do PSDB, do PFL, do Partido Progressista Brasileiro (atual PP) e de parte do PMDB, e conseguiu manter uma estabilidade política durante seus oito anos de governo. Conseguiu a aprovação de uma emenda constitucional que criou a reeleição para os cargos executivos em todos os níveis, tornando-se o primeiro presidente brasileiro a ser reeleito no Brasil, tendo sido acusado, por seus adversários, de comprar os votos de Deputados para sua aprovação.
Tendo formado uma base de sustentação coesa, principalmente através do apoio total do PFL e de parte do PMDB, FHC manteve uma relativa estabilidade política neste período.
O Presidente também dá continuidade ao Plano Real. Ao longo dos meses, promoveu alguns ajustes na economia, como o aumento da taxa de juros, para desaquecer a demanda interna, e a desvalorização do câmbio, para estimular as exportações e equilibrar a balança comercial.
O governo fechou acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo qual obteve empréstimos, fixou metas de crescimento do setor produtivo, comprometeu-se a manter a inflação em baixa e a reduzir o déficit público.
O controle da inflação e a consolidação do real como moeda forte representaram ao país um ambiente econômico mais favorável para obter investimentos nacionais e estrangeiros do setor privado. Além disso, foi o início de um processo de significativa melhoria no nível de renda das camadas mais pobres da população.
Com o plano, o governo controlou a inflação em níveis bastante baixos. Mas surgiram sinais de recessão econômica, como a inadimplência, queda no consumo e demissões em massa. A redução da atividade econômica provocou desemprego nos setores industrial e agrícola. O atraso na implementação da reforma agrária agravou os conflitos no campo.

O neoliberalismo no Governo FHC

O governo de FHC implantou um programa neoliberal que diminuiu a intervenção do Estado nos assuntos econômicos, abrindo espaço para que o mercado e seus interesses norteassem a economia nacional.
Com o objetivo de inserir o país na economia globalizada, o governo efetuou o controle do câmbio; o estabelecimento da livre negociação salarial entre trabalhadores e patrões; a flexibilização das exigências legais para contratação de mão de obra; o estreitamento das relações comerciais no Mercosul; a abertura das bolsas de valores ao capital externo; entre outras medidas.

FHC e as privatizações

Foram privatizadas grandes empresas estatais, como o sistema Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebras) e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), além de bancos e rodovias. As privatizações e o fim do monopólio estatal na exploração do petróleo reforçaram a política neoliberal no país.
O governo e os defensores da privatização das estatais apontavam que, com esse programa, o país teria benefícios: o valor da venda das empresas estatais poderia ser aplicado em diversas áreas; as empresas continuariam a pagar impostos mesmo privatizadas; acabariam as despesas de administração e de manutenção dessas empresas pelo Estado; as empresas poderiam se tornar mais competitivas no mercado, ampliando seus investimentos e gerando empregos.
À época, muitos consideraram que as privatizações representavam a entrega do patrimônio público para a iniciativa privada, uma vez que o valor pago foi muito inferior ao valor real das empresas vendidas e que parte da soberania do Estado foi ameaçada pela perda de controle de setores estratégicos da economia.
Segundo o governo, o dinheiro da privatização seria utilizado para diminuir a dívida pública. Os partidos de oposição ao governo colocaram-se contra a medida, argumentando que em países desenvolvidos havia grande número de empresas estatais lucrativas e que essa situação poderia ser implantada no Brasil.

Programas sociais

Após um primeiro mandato dedicado ao controle da inflação, o segundo Governo FHC promoveu algumas políticas sociais importantes que resultaram, no campo da educação, por exemplo, na redução do analfabetismo e na ampliação do número de crianças nas escolas. Na saúde, o governo autorizou a comercialização dos medicamentos genéricos e lançou um programa de combate e tratamento da aids. Na área social, foram criados os primeiros programas de transferência de renda, como o Bolsa Escola e o Vale Gás.

Persistência da crise econômica

No início do segundo mandato de FHC, em 1999 houve uma forte desvalorização do real, devido a crises financeiras internacionais (Rússia, México e Ásia) que levou o Brasil a maior crise financeira da história, além de aumentar os juros reais e aumentar a dívida interna brasileira.
Nesse período o país começava a viver uma expansão econômica depois de sofrer os efeitos de várias crises internacionais nos anos anteriores. A expansão econômica embrionária, no entanto, trouxe efeitos colaterais sérios, gerados pela ausência de investimento e planejamento em produção de energia no Brasil, que não se organizara para seu crescimento.
Agravada por um longo período de falta de chuvas, tornou-se evidente a falta de previsão e de planejamento no setor de energia elétrica.
Enquanto a energia sobrava em alguns estados, onde chovia muito, como no Rio Grande do Sul, faltava em outros onde não chovia e não havia linhas de transmissão com capacidade suficiente para transferir as cargas e para equilibrar o sistema.
O desequilíbrio entre a capacidade de produção, e sobretudo de distribuição, de energia elétrica e a demanda tornou necessário um racionamento de energia, que atingiu diversas regiões do Brasil, principalmente a Região Sudeste do Brasil, que ficou conhecido como o "escândalo do apagão".
Os grandes destaques brasileiros foram a implantação do gasoduto Brasil-Bolívia, a elaboração de um Plano Diretor da Reforma do Estado, um acordo que priorizaria o investimento em carreiras estratégicas para a gestão do setor público, aprovação de emendas que facilitaram a entrada de empresas estrangeiras no Brasil e a flexibilização do monopólio de várias empresas, como a Petrobrás, Telebrás e etc.
Os salários dos funcionários públicos também não tiveram reajustes significativos, uma forma de evitar a inflação e controlar os gastos públicos.
Ao longo de seu mandato presidencial o crescimento da economia brasileira não foi um dos melhores da história, todavia representou um marco pela estabilização da inflação. Houve um bom avanço durante o primeiro mandato, fruto principalmente do controle da inflação conseguido com o Plano Real (1995-1999). Porém, o erro na condução da política de câmbio e as sucessivas crises internacionais ocorridas na segunda metade da década de 90 rebaixaram a média do índice de crescimento do PIB durante seus dois mandatos.
Defensores do ex-presidente atribuem o crescimento moderado às inúmeras crises internacionais que ocorreram durante seu governo, como a crise do México em 1995, a crise asiática em 1997-98, a crise russa em 1998-99 e, em 2001, a crise argentina, os atentados terroristas nos EUA em 11 de setembro, a falsificação de balanços da Enron/Arthur Andersen, além de, no próprio Brasil, o apagão. Em 2002, a própria eleição presidencial no Brasil, em que se previa a vitória de Lula, causou mais uma vez a fuga de hot-money, elevando o preço do dólar a quase R$ 4,00, devido ao medo do mercado financeiro em aplicar em um país prestes a ser governado por um personagem de passado de esquerda radical.
O fato é que, tendo liberalizado completamente, por sugestão do FMI, o fluxo de capitais externos especulativos de curto prazo no Brasil (hot-money) - que supostamente inundariam nosso país, nos trazendo riqueza e prosperidade, deu-se o oposto: a cada imprevisto que surgia, do outro lado do mundo, fosse ele problemas na Rússia, crises na Malásia, ou a descoberta de um contador corrupto numa empresa dos EUA, a economia brasileira sofria com a retirada abrupta desses capitais internacionais especulativos (hot-money), o que obrigou FHC a pedir, por três vezes, socorro ao FMI .
Para tentar manter investimentos no país, o governo elevou ainda mais as taxas de juros, o que desvalorizou o real e provocou a falência de muitas empresas e o aumento da dívida pública. Com isso, houve redução nos investimentos sociais e com altos níveis de desemprego. O governo também foi atingido por escândalos políticos e financeiros, como as denúncias de corrupção e o favorecimento de empresas nos processos de privatização da Telebras e da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).

Atenção à educação

Fernando Henrique Cardoso prometeu em campanha que seu governo daria atenção especial à educação. Em 1996 foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), conjunto de leis que regulamenta a educação nacional e orienta o processo de ensino e aprendizagem. A medida representou avanços como:
o estabelecimento de princípios da igualdade para acesso e permanência na escola; a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, a arte e os conhecimentos; a valorização da tolerância e do pluralismo de ideias, além da garantia aos povos indígenas do direito à educação bilíngue, isto é, ensino na língua portuguesa e nas línguas nativas. A LDB constituiu um marco para a formulação de políticas públicas educacionais nas décadas seguintes.
Contudo, muitas universidades federais e escolas públicas continuaram a carecer de infraestrutura básica. A baixa remuneração do professorado permaneceu como obstáculo à profissionalização e à formação contínua da categoria.

A emenda da reeleição

Em maio de 1997 grampos telefônicos ilegais publicados pela Folha de S. Paulo revelaram conversas entre o então deputado Ronivon Santiago e outra voz identificada no jornal como Senhor X. Nas conversas, Ronivon Santiago afirma que ele e mais quatro deputados receberam 200 mil reais para votar a favor da reeleição, prometidos pelo então governador do Acre, Orleir Cameli.
Com base nessas conversas a oposição ao governo, liderada pelo PT, passou a acusar o governo federal de ter comprado os votos dos deputados, embora existissem diversos beneficiados com a emenda, uma vez que governadores e prefeitos poderiam ser reeleitos.
O episódio foi investigado na época pela Comissão de Constituição e Justiça - numa investigação que durou poucas horas - e mais tarde foi abordada pela CPI do Mensalão e, em ambas as circunstâncias, não se conseguiu comprovar a compra de votos por FHC.
Após a investigação da CCJ os deputados Ronivon Santiago e João Maia renunciaram ao mandato.

Reforma Constitucional

Em seu primeiro ano de administração, FHC dedicou-se tanto à economia quanto à política. No campo político, esforçou-se para ampliar sua base parlamentar no Congresso Nacional e conseguir a aprovação de suas propostas de Emendas Constitucionais. As reformas foram apresentadas como essenciais à modernização do país e à estabilização e retomada do crescimento econômico. Entre as mudanças aprovadas destacam-se a quebra dos monopólios do petróleo e das telecomunicações e a alteração do conceito de empresa nacional, no sentido de não discriminar o capital estrangeiro. Diversas outras reformas foram discutidas pelo Congresso Nacional, como a da Previdência Social e do estatuto do funcionalismo público, derivando alterações não tão estruturantes. O governo culpa os deputados, que se negariam a retirar privilégios de apadrinhados. Propõe, ainda, o governo, para os próximos anos, reformas tributária, financeira e política. No entanto, os conflitos de interesses entre os deputados impedem que as reformas prossigam com celeridade

Reformulação do perfil da dívida pública

Quando Fernando Henrique Cardoso assumiu a Presidência da República, a dívida pública federal interna e externa somavam cerca de R$ 153 bilhões e as dívidas de estados e municípios permaneciam descontrolados.
No seu governo, a dívida pública do Brasil, que era de US$ 60 bilhões em julho de 1994, saltou para US$ 245 bilhões em novembro de 2002, apesar de Fernando Henrique ter vendido, nos seus oito anos de mandato, patrimônio do Estado - através das privatizacões de empresas estatais - o que gerou para o Tesouro Nacional uma receita de US$ 78,61 bilhões, sendo 95% em moeda corrente).
Até então o governo federal não tinha mecanismos para medir o endividamento total do país. Como medida de contingênciamento, o governo tomou para si as dívidas públicas estaduais e municipais (o que, obviamente, gerou o aumento nominal da dívida pública federal), se tornando credor dos estados e municípios.
Na mesma medida implementou a Lei de Responsabilidade Fiscal, que impede que os prefeitos e governadores endividem os estados e municípios além da capacidade de pagamento. Ao final dos oito anos de mandato, o Estado passa a ter um controle muito mais elaborado das dívidas dos governos federal, estadual e municipal. A lei de responsabilidade fiscal (LRF) caracteriza-se pelo rigor exigido na execução do orçamento público, e limita o endividamento dos estados e municípios e os gastos com o funcionalismo público.
As opiniões a respeito do Governo FHC são divergentes: seus opositores o acusam de corrupção com base em escândalos como o suposto favorecimento de alguns grupos econômicos nas privatizações e pela compra de votos para aprovar a Emenda da Reeleição - embora o real envolvimento do presidente ou de pessoas próximas a ele nunca tenha sido comprovado.
Já seus defensores afirmam que o governo FHC teve pulso firme para impedir que o Brasil quebrasse, como aconteceu com a Argentina, que estabilizou a economia, derrotou a inflação e melhorou áreas de infraestrutura do país com as privatizações, em especial as telecomunicações, que recebeu investimentos de aproximadamente 135 Bilhões de reais e se modernizou rapidamente nas mãos da iniciativa privada.

Desgaste político de FHC

Criticando o fato de a reforma agrária não ser prioridade do Governo FHC, lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organizaram inúmeras ocupações de terras, acirrando os já violentos conflitos rurais no país. Em 1996, na cidade de Eldorado dos Carajás (PA), uma manifestação de cerca de mil trabalhadores rurais sem-terra terminou em violenta repressão por parte da Polícia Militar.
O presidente também passou a ser criticado por não realizar medidas de austeridade nos gastos públicos na proporção necessária, o que dificultou o equilíbrio do orçamento governamental, cujos gastos foram maiores do que a arrecadação.
As soluções para enfrentar o problema geralmente foram paliativas e impopulares, como o aumento de impostos e as novas exigências para obter benefícios da Previdência Social, como o direito à aposentadoria.
Além da privatização, seu governo também houve diversas denúncias de corrupção, como: a compra de parlamentares para aprovação da emenda constitucional que autorizava a reeleição e também o favorecimento de alguns grupos financeiros na aquisição de algumas estatais.
O governo de Fernando Henrique Cardoso teve fim no dia 1º de janeiro de 2003, com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Eleições 2002

Em 2002 foram realizadas eleições para os cargos de Presidente da República, Governadores, Deputados Estaduais e Federas e Senadores. Os candidatos à Presidência da República foram:
Luís Inácio Lula da Silva do PT, tendo como vice o senador mineiro José Alencar do PL; José Serra do PSDB, tendo como vice a deputada capixaba Rita Camata do PMDB; Anthony Garotinho do PSB; Ciro Gomes do PPS, tendo como vice o sindicalista Paulo Pereira da Silva do PTB.
Foram necessários dois turnos para que fosse escolhido o novo presidente do Brasil. No primeiro, Lula e Serra foram os mais votados, passando para o segundo turno. No segundo turno, realizado no dia 27 de outubro de 2002, saiu vencedor Luís Inácio Lula da Silva do PT, com mais de 52 milhões de votos, se tornando o presidente mais votado do país e segundo presidente mais votado na história do mundo.

Governo Itamar Franco

Por três meses, enquanto aguardava o desfecho do impeachment de Collor. Itamar Franco governou temporariamente o país. Em 29 de dezembro de 1992, após a renúncia de Collor, assumiu no plano jurídico, o comando pleno da nação.

Projeta uma imagem oposta à do presidente afastado: simplicidade, tranquilidade e equilíbrio. Logo, porém, revela-se hesitante, dado à atitudes explosivas e populistas. Seu governo é marcado por frequentes trocas de ministros. Em menos de um ano, quatros ministros revezam-se no estratégico Ministério da Fazenda: Gustavo Krause, Paulo Roberto Haddad, Eliseu Resende e Fernando Henrique Cardoso. Este último assume o cargo em 20 de maio de 1993, com carta branca para conduzir a economia do país. 

Itamar Franco empossado

A inflação mantém uma tendência crescente. No final de 1993 o índice acumulado é de 2.708,55%. Em dezembro Fernando Henrique Cardoso anuncia seu plano de estabilização da economia, o Plano Real. Durante o governo Itamar também crescem as denúncias e investigações sobre casos de corrupção no país.

Com reputação de homem honesto e nacionalista. Itamar Franco procurou montar um governo de entendimento nacional. Um governo que agradasse ao mais amplo espectro de correntes políticas. Assim, convidou para compor seu ministério figuras das mais variadas tendências ideológicas, vindas de diversos partidos políticos. O PMDB e o PSDB foram os que receberam o maior número de ministérios. O PT foi o único partido que se recusou a participar do novo governo. Escolhendo pessoas de diferentes partidos para compor seu governo, Itamar Franco procurava se apresentar como um político conciliador e, ao mesmo tempo "independente"

O presidente Itamar recebeu o governo com uma pesada herança de graves problemas socioeconômicos. citando alguns exemplos: a persistência da inflação, com índices mensais de 26%; a altíssima concentração de renda; a recessão econômica e o desemprego: agravamento da fome, afetando metade da população do país, e da indigência que atingia milhões de brasileiros.

O Plano Real e estabilização econômica

A nomeação do senador Fernando Henrique Cardoso para o ministério da Fazenda deu novo fôlego ao governo Itamar. Através de conversas conciliatórias com políticos, empresários e sindicatos, Fernando Henrique foi ganhando a confiança da sociedade. E seu nome começou a ser cogitado para disputar as eleições de 1994.

Alguns meses após assumir o ministério. Fernando Henrique anunciou o Plano Real, que tinha como objetivo acabar com com a inflação e estabilizar a economia. A partir de 1º de julho de 1994, entrou em vigor no país uma nova moeda, o real, em substituição ao cruzeiro real. Diferente dos planos anteriores, não houve congelamento de preços ou confiscos de salários, nem confisco da poupança.

Um dos principais instrumentos de combate à inflação estabelecido pelo plano governamental foi implantado, a partir de março de 1994, com a Unidade Real de Valor (URV), um engenhoso mecanismo de desindexação da economia. A equipe econômica do governo trabalhava com o seguinte diagnóstico: a indexação generalizada (correção monetária de todos os valores) era correia de transmissão do processo inflacionário. pois, se todos os valores da economia forem reajustados pela inflação passada, a inflação futura jamais ficará abaixo da inflação passada.

Acolhido com desconfiança pelas oposições políticas, o Plano Real, porém, foi ganhando o apoio da população. A inflação desabou de quase 50%, em junho de 1994, para índices próximos a 4%, no final de julho do mesmo ano. O ano terminou com inflação semestral de menos de 20%.

Plebiscito

O plebiscito sobre forma (monarquia ou república) e regime de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) previsto pela Constituição de 1988 é realizado no 21 de abril de abril de 1993. A monarquia é defendida por alguns parlamentares de diferentes partidos e, principalmente, pelos membros da antiga família real brasileira. Os principais partidos políticos brasileiros defendem a manutenção da república. Em fevereiro deste ano, o PMDB, PFL e PDT lançam a Frente Republicana Presidencialista, que defende a manutenção do presidencialismo. O PT também apoia o presidencialismo, mas a questão divide seus militantes do partido. O PSDB é o único entre os grandes partidos do país a apoiar em bloco o sistema parlamentarista. Vão às urnas 67,01 milhões de eleitores, 66,06% votam pela manutenção da república e 10,21% pelo retorno da monarquia. O presidencialismo é referendado por 55,45% dos eleitores e 24,65% optam pelo parlamentarismo.

CPI do Orçamento

Em 20 de outubro de 1993 o ex-diretor do Departamento de Orçamento da União, José Carlos Alves dos Santos, denuncia o esquema de corrupção existente na Comissão de Orçamento do Congresso. Acusa 23 parlamentares, seis ministros e ex-ministros e três governadores de Estado de tráfico de influências na distribuição das dotações orçamentárias. Também confessa ter recebido US$ 3 milhões do deputado João Alves (PPR-BA), ex-presidente da Comissão de Orçamento. O deputado é acusado de comandar um esquema de corrupção montado em torno da distribuição das verbas destinadas a subvenções sociais. Também teria intermediado emendas no orçamento para beneficiar algumas das grandes empreiteiras do país. Os deputados que participam desse esquema são chamados pela imprensa de "os anões do orçamento" devido a sua pequena estatura e imensa ganância.


Governo Collor

Com uma carreira política construída no Estado de Alagoas durante os anos da ditadura militar, Fernando Collor de Mello é o primeiro presidente eleito por voto direto desde 1960. Na campanha para as eleições presidenciais de 1989, Fernando Collor de Mello apresentou-se como "Salvador da Pátria", amigo do esporte e inimigos dos "marajás" do serviço público, a quem responsabilizava pela crise financeira do Estado brasileiro.

Toma posse em 15 de março de 1990, para um mandato de cinco anos. Anuncia a chegada da "modernidade" econômica: livre mercado, fim dos subsídios, redução do papel do Estado e um amplo programa de privatização. Já em sua posse, assina 20 medidas provisórias e três decretos relativos à economia e à extinção de órgãos governamentais de cultura e educação. Ato contínuo, decreta o Plano Collor de combate à inflação: extingue o cruzado novo e reintroduz o cruzeiro, confisca o saldo das cadernetas de poupança, contas correntes e demais investimentos acima de 50 mil cruzeiros.

O governo Collor é abalado por uma sucessão de escândalos. Um esquema de corrupção envolvendo o próprio presidente provoca a abertura do processo de impeachment. O presidente é afastado provisoriamente em 29 de setembro de 1992 e em caráter definitivo em 29 de dezembro do mesmo ano.

Marketing presidencial

No governo, Collor mantém o mesmo estilo agressivo da campanha eleitoral. Usa os meios de comunicação para passar uma imagem de vigor, juventude e ousadia. Anda de jet-ski, de submarino, pilota um avião supersônico da Aeronáutica e inspeciona tropas do Exército com roupas de camuflagem. 
Aos domingos, faz cooper com camisetas em que exibe mensagens como "Não às drogas!" ou "O tempo é o senhor da razão".

Os planos econômicos do governo

Assumindo a presidência em março de 1990, Collor herdou dos governos anteriores uma dívida externa elevada e uma inflação galopante. No dia seguinte ao da posse, o novo presidente lançou o Plano Collor, que:

- Bloqueou o dinheiro existente nas contas correntes, cadernetas de poupança e outras aplicações financeiras acima de uma certa quantia, com a promessa de devolução num prazo de 18 meses;

- determinou a volta do cruzeiro;

- elevou os juros, com o objetivo de diminuir o consumo.

Ao mesmo tempo, a ministra da economia Zélia Cardoso de Mello, eliminou taxas sobre as importações, o que provocou a entrada de uma enorme quantidade de produtos estrangeiros, de brinquedos a automóveis.

Retirando o dinheiro de circulação para frear o consumo e abrindo o mercado brasileiro às importações, o governo conseguiu derrubar a inflação para cerca de 10% ao mês, nos primeiros tempos do plano. Em compensação, as vendas no comércio e a produção industrial caíram vertiginosamente. Muitas empresas faliram; outras reduziram os salários e despediram funcionários. Veio à tona a conseqüência mais perversa da política econômica de Collor: aumento do desemprego. Logo nesse primeiro ano do governo Collor (1990), o PIB (Produto Interno Bruto) registrou uma queda de 4,1%, a maior já ocorrida no Brasil.

Com o agravante da crise, o diplomata Marcílio Marques Moreira assume o lugar de Zélia Cardoso no comando da economia (maio de 1991). O novo ministro acelerou o processo de privatização, isto é, de venda de empresas estatais, e conseguiu renegociar a dívida externa, mas a atividade econômica continuou em queda. No final de 1991, a inflação voltou a subir e o governo foi perdendo credibilidade.

A virada neoliberal

Desde o final dos anos 1980, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial defendiam uma política neoliberal para os países da América Latina, que atravessavam um longo período de crise econômica. O projeto neoliberal tinha por objetivo promover a diminuição do papel do Estado na economia, principalmente por meio da privatização de empresas estatais.

O Governo Collor marcou a mudança do modelo de desenvolvimento do Brasil, com base em ideais neoliberais difundidos, sobretudo, a partir dos Estados Unidos. Este projeto tinha como meta promover a modernização e o progresso do país com a abertura do mercado brasileiro ao comércio e aos investimentos internacionais.

Com esse governo, o Brasil adotou a lógica econômica neoliberal, com incentivo à chegada de produtos, tecnologias, empresas e investidores estrangeiros. Houve redução da intervenção do Estado, foram extintos 22 órgãos públicos e privatizadas diversas empresas estatais, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), fundada por Getúlio Vargas nos anos 1940, que foi privatizada no governo de Itamar Franco.

Denúncias de corrupção

No dia 19 de outubro de 1991 o presidente da Petrobrás, Luís Otávio Motta Veiga, pede demissão por ter sido pressionado a fazer uma operação danosa à empresa no valor de US$ 60 milhões. Acusa o empresário Paulo César Farias, o PC, amigo íntimo do presidente e ex-tesoureiro de sua campanha presidencial. A partir daí, outras denúncias vêm à tona. No dia 10 de maio de 1992 a revista Veja publica trechos de um dossiê elaborado por Pedro Collor de Mello, irmão do presidente, sobre o chamado "esquema PC" de corrupção. Pedro Collor afirma que PC é um testa-de-ferro e que o beneficiário da corrupção é o próprio presidente. A Receita Federal investiga os rendimentos de Paulo César Farias e conclui que as declarações de renda do empresário são incompatíveis com seu padrão de vida. No segundo semestre, a primeira-dama Rosane Collor também é acusada de desviar dinheiro da Legião Brasileira de Assistência (LBA) para contas e entidades fantasmas ligadas a seus amigos e familiares.

CPI do PC

A Câmara instaura uma Comissão parlamentar de Inquérito para investigar as denúncias contra PC Farias em 26 de maio de 1992. Parte do esquema PC é desvendado. Ele recebe dinheiro de empresários em troca de favores junto à máquina administrativa. O dinheiro é convertido em dólares e enviado a empresas fictícias em paraísos fiscais. Parte desse dinheiro volta ao país por meio de legiões de contas fantasmas, abertas em diferentes bancos com nomes fictícios. Dessas contas são retiradas somas vultosas para pagamentos irregulares a parlamentares, assessores do presidente e à própria família Collor. A ligação do esquema PC com a Presidência é confirmada por Francisco Eriberto Freire França, ex-motorista de Collor, em denúncias publicada na revista IstoÉ em 28 de junho: empresas de PC fazem depósitos regulares na conta de Ana Acioli, secretária particular do presidente. A CPI apura que a própria secretária paga despesas de Collor e da primeira-dama usando cheques com dois nomes diferentes.
A CPI conclui que, em dois anos e meio de governo, o ex-presidente tenha recebido pelo menos US$ 10,6 milhões só para o custeio de despesas pessoais. Nesse período, o esquema PC teria movimentado recursos na ordem de US$ 260 milhões. O relator da CPI, deputado Amir Lando, estima que os valores apurados representam apenas cerca de 30% do dinheiro realmente manipulado por Paulo César Farias.
As investigações da CPI apontam várias empresas como mantenedoras e beneficiárias do esquema PC: o Grupo Votorantim, as construtoras Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez, Viação Itapemirim, Mercedes-Benz, Vasp, Sharp, Copersucar e o laboratório Laborcel.

Prisão de PC

PC Farias passa a responder a 16 inquéritos na Polícia Federal. É acusado dos crimes de corrupção passiva, formação de quadrilha, falsidade ideológica, coação de testemunhas, supressão de documentos e exploração de prestígio, entre outros. Depois de permanecer 152 dias foragido, PC é localizado e preso na Tailândia em 29 de novembro de 1993. Trazido ao Brasil, é preso no quartel do Batalhão da Polícia de Choque do Distrito Federal, onde aguarda julgamento.

Campanha pelo impeachment

Na medida em que avançam as investigações sobre a corrupção no governo Collor crescem também as manifestações públicas de massa pelo impeachment do presidente. Surge o Movimento pela Ética na Política, reunindo partidos políticos e várias entidades da sociedade civil, como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 13 de setembro, minimizando a indignação popular, Collor convoca a população a apoiá-lo saindo às ruas no dia 16, domingo, vestida de verde e amarelo. No dia esperado, milhões de pessoas em todo o Brasil saem às ruas vestidas de preto, num protesto espontâneo contra Collor e a corrupção instalada no governo.

Caras-pintadas

As mobilizações pela "ética na política" trazem de volta à cena o movimento estudantil, até então em refluxo. A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) organizam animadas passeatas. Os manifestantes pintam o rosto com as cores do país e passam a ser chamados de caras-pintadas. Adotam como hino de "guerra" a música Alegria, alegria, de Caetano Veloso. Um dos hinos do tropicalismo no final dos anos 60, a música volta a fazer sucesso ao ser usada como tema da minissérie Anos rebeldes, da Rede Globo, sobre a juventude nos anos negros da ditadura.

Impeachment

O processo de impeachment do presidente é aberto na Câmara, em 29 de setembro de 1992, com a aprovação de 441 votos, 38 contrários, uma abstenção e 23 ausências. Collor é afastado da Presidência. Instalado na Casa da Dinda, com assessores jurídicos, seguranças, porta-voz e secretário particular, manobra para voltar ao cargo ou, pelo menos, para não ser julgado também pela Justiça comum. 
Momento da abertura do impeachment de Collor
Em 29 de dezembro de 1992, certo de sua derrota no Senado, renuncia. Mesmo assim, é julgado por crime de responsabilidade e condenado por 76 votos a 3 e perde seus direitos políticos por oito anos. O procurador-geral da República, Aristides Junqueira, denuncia o ex-presidente por formação de quadrilha e corrupção. Fernando Collor é indiciado apenas por corrupção passiva.


Governo Sarney

José Sarney assume a Presidência interinamente em 15 de março de 1985. Em 22 de abril, após a morte de Tancredo, é investido oficialmente no cargo. Governa até 15 de março de 1990, um ano a mais que o previsto na Carta compromisso da Aliança Democrática, pela qual chegou ao poder. A expressão "Nova República", criada pelo deputado Ulysses Guimarães para designar o plano de governo da Aliança Democrática, é assumida por Sarney como sinônimo de seu governo. O lema de seu governo, "Tudo pelo social", era mais uma forma de buscar apoio popular. 
José Sarney

Em 10 de maio de 1985 uma emenda constitucional restabelece as eleições diretas para a Presidência e prefeituras das cidades consideradas como área de segurança nacional pelo Regime Militar. A emenda também concede o direito de voto aos analfabetos e aos jovens maiores de 16 anos. Em 1988 é promulgada a nova Constituição do país. Na área econômica, o governo Sarney cria quatro planos de estabilização, com sucesso parcial apenas no primeiro. O governo Sarney faz vista grossa à corrupção crescente.

Economia no governo Sarney

A situação herdada dos governos anteriores exigia mais do que palavras: a dívida externa brasileira chegava à casa dos 105 bilhões de dólares, e a inflação tinha disparado: crescia 18% ao mês, em média. Para enfrentar essa situação, o governo lançou o Plano Cruzado, em 28 de fevereiro de 1986. As principais medias desse plano eram:

a extinção do cruzeiro e a introdução do cruzado; cada cruzado correspondia a mil cruzeiros;

- reajuste do salário mínimo, sempre que a inflação atingisse 20%;

- congelamento dos preços por um ano.

Naquele mesmo dia, em discurso à Nação, o presidente Sarney pediu que cada brasileiro ou brasileira fosse um fiscal dos preços.

Nos primeiros meses do plano a inflação caiu e a popularidade do governo cresceu. Mas isso durou pouco tempo.

Com o aumento do consumo, começaram a faltar mercadorias. Além disso, reagindo ao tabelamento, muitos empresários escondiam produtos para forçar o aumento dos preços; os pecuaristas, por exemplo, negavam-se a enviar bois para o abate, e então faltou carne. Diante da falta de mercadorias, algumas de primeira necessidade, agricultores, pecuaristas, industriais e comerciantes começaram a praticar o ágio - cobrança acima da tabela. Com isso aumentaram as críticas ao plano. Dizia-se por exemplo, que o congelamento tinha sido feito sem a devida correção dos salários, trazendo prejuízos aos trabalhadores.

Apesar de todos esses problemas, o governo manteve os preços congelados e, com isso, garantiu sua popularidade e a vitória nas urnas em 15 de novembro de 1986, quando houve eleições parlamentares e para os governos estaduais. A grande maioria dos governadores, senadores e deputados eleitos pertencia ao PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), do presidente Sarney, ou ao partido dos seus aliados, o PFL (Partido da Frente Liberal).

Vencidas as eleições, o governo Sarney reajustou o preço das tarifas públicas (água, luz, gás), da gasolina, do álcool e de vários outros produtos. Esses reajustes foram muito mal-recebidos pela população, que se sentiu enganada pelo governo; a inflação voltou a subir; e o ministro da área econômica, Dílson Funaro, responsabilizado pelo fracasso do Plano, demitiu-se.

Depois disso, foram lançados dois outros planos: o Plano Bresser (1987) e o Plano Verão (1989), que substituiu o cruzado pelo cruzeiro novo e determinou outro congelamento de preços. Ambos, porém, fracassaram. A inflação disparou, e tornou-se preferível colocar o dinheiro em aplicações bancárias do que investir na produção. Houve queda na atividade econômica e aumento do desemprego. A inflação acumulada chegou a cerca de 950% no final daquele ano.

A inflação brasileira voltou a subir desenfreadamente. A estagnação da economia nacional, com a queda de investimentos, a falta de controle sobre os gastos públicos, a diminuição do poder aquisitivo dos trabalhadores e o crescimento da especulação financeira caracterizaram os anos 1980 como a “década perdida”.

Os brasileiros que até então tinham visto o presente melhor que o passado e depositavam no futuro as expectativas de uma vida melhor perdiam qualquer esperança. Nem mesmo o jargão popular "Brasil, profissão esperança" funcionava para a coletividade. Não havia nada que indicasse saídas coletivas que restaurassem as esperanças de crescimento econômico e garantisse uma mobilidade social. Assim, a partir de 1987, o Governo Sarney entrou em forte declínio, e chegou ao fim marcado pelo fracasso econômico e pelos escândalos de corrupção.

O Governo Sarney buscou ampliar as relações bilaterais e multilaterais com a América Latina, principalmente com a Argentina. Além disso, passou a defender os direitos humanos e do meio ambiente e iniciou uma abertura da economia, sobretudo, por causa da grande pressão dos Estados Unidos.

Novos partidos

A emenda constitucional de 10 de maio de 1985 extingue a fidelidade partidária e abranda as exigências para registro de novos partidos. Isso permite a legalização do PCB e PC do B e o surgimento de grande número de novas agremiações. Em 1988, durante os trabalhos do Congresso Constituinte, o "grupo histórico" do PMDB, liderado por Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro e Pimenta da Veiga, rompe com Sarney e exige o afastamento do PMDB do governo. A proposta não se concretiza e "os históricos" formam o Bloco Independente do PMDB, embrião do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) ou partido dos tucanos, como também é conhecido. O PSDB é criado oficialmente em 26 de junho de 1988.

Constituição de 1988

Para dar base legal ao processo de democratização, os deputados e senadores eleitos em 1986 formaram o Congresso Constituinte, que discutiu e aprovou uma nova Constituição para o país. O Congresso eleito em 15 de novembro de 1986 ganha poderes constituintes. Sob a presidência do deputado Ulysses Guimarães começa a elaborar a nova Constituição em 1º de fevereiro de 1987. É a primeira Constituinte na história do país a aceitar emendas populares – que devem ser apresentadas por pelo menos três entidades associativas e assinadas por no mínimo 30 mil eleitores. Promulgada em 5 de outubro de 1988, a Constituição tem 245 artigos e 70 disposições transitórias. Inclui um dispositivo que prevê sua própria revisão ou ratificação pelo Congresso em outubro de 1993; transfere a decisão sobre a forma de governo (república ou monarquia constitucional) e sobre o sistema de governo (parlamentarista ou presidencialista) para um plebiscito marcado para 7 de setembro de 1993 e, depois, antecipado para 21 de abril de 1993.
A nova Carta fixa o mandato presidencial em cinco anos e a independência entre os três poderes. Substitui o antigo decreto-lei usado nos governos militares pela medida provisória, que perde sua validade se não for aprovada pelo Congresso no prazo de 30 dias. Restringe o poder das Forças Armadas à garantia dos poderes constitucionais. Estabelece eleições diretas com dois turnos para a Presidência, governos estaduais e prefeituras com mais de 200 mil eleitores. Mantém o voto facultativo aos analfabetos e aos jovens a partir dos 16 anos. A Constituição também fixa os direitos individuais e coletivos.

Os constituintes trabalharam um ano e oito meses discutindo os projetos e recebendo sugestões dos diferentes movimentos e grupos sociais. Entre os pontos da Constituição de 1988, cabe destacar:

forma de governo: República Federativa;

regime presidencialista: Previa-se, para 1993, a realização de um plebiscito para saber se os brasileiros escolheriam o presidencialismo ou o parlamentarismo;

relações raciais: o artigo 5º da Constituição definiu o racismo como crime inafiançável e imprescritível, sujeito a reclusão, nos temos da lei. Um crime é inafiançável quando o acusado não tem o direito de pagar fiança para responder o processo em liberdade. É imprescritível quando não perde o efeito depois de algum tempo;

eleições: a votação para presidente, governadores e prefeitos passou a ser direta;

voto: obrigatório para o brasileiros maiores de 18 anos e menores de 70 anos, e facultativo para os analfabetos, para os maiores de 70 anos e para os jovens com 16 ou 17 anos;

povos indígenas: obtiveram direito à posse da terra que tradicionalmente ocupam, cabendo à União demarca-la;

mídia: fim da censura nos jornais, televisão, rádio, cinema.

Direitos do trabalhador

A Constituição de 1988 limita a jornada semanal a 44 horas, estipula o seguro-desemprego, amplia a licença-maternidade para 120 dias e concede licença-paternidade, fixada depois em cinco dias. Também proíbe a ingerência do Estado nos sindicatos e assegura aos funcionários públicos o direito de se organizar em sindicatos e usar a greve como instrumento de negociação, com restrições apenas nos serviços essenciais. Procura ainda dificultar as demissões ao determinar o pagamento de uma multa de 40% sobre o valor total do FGTS nas dispensas sem justa causa.
Entre os diversos pontos da legislação vale destacar:

a jornada semanal diminuiu de 48 horas para 44 horas, e as horas extras passaram a ter um acréscimo superior a 50%;

- o trabalhador demitido sem justa causa passou a ter o direito de receber uma multa correspondente a 40% de seu FGTS, a título de indenização;

- todo trabalhador ganhou o direito a receber como abono um terço de seu salário ao sair de férias;

- os aposentados ganharam o direito de receber um 13º salário;

- o direito de greve foi garantido a todos os trabalhadores, exceto aos que atuam em atividades e serviços considerados essenciais;

- a licença-maternidade foi aumentada para 120 dias e criou-se a licença-paternidade, de 5 dias;

- os trabalhadores domésticos - cozinheiros, arrumadeiras, caseiros - passaram a ter direitos semelhantes aos dos demais.

Em 1989, depois de quase trinta anos sem eleições diretas, os brasileiros voltaram às urnas para escolher o presidente da república.

Corrupção no governo

Em 1º de novembro de 1988 o senador Carlos Chiarelli (PFL-RS), relator da comissão parlamentar do Senado que investiga casos de corrupção no governo federal, denuncia 29 pessoas, entre elas o presidente Sarney e alguns ministros de Estado. São acusados de usar critérios escusos na liberação de recursos públicos e de favorecer determinados grupos privados para a prestação de serviços ao governo federal. O processo é arquivado por pressões do PMDB e do PFL.

Eleições de 1988

As eleições para prefeitos de 15 de novembro de 1988, as primeiras depois do Regime Militar, consolidam o novo quadro político do país. Dos partidos que compõem o governo, o PMDB elege os prefeitos de cinco capitais: Fortaleza, Goiânia, Salvador, Teresina e Boa Vista. O PFL vence em Cuiabá, Maceió, Recife e João Pessoa. O PTB, em Belém, Campo Grande e Porto Velho. O PDS, em Florianópolis e Rio Branco. A grande surpresa é o desempenho dos partidos de oposição: o pequeno PSB, por exemplo, vence em Manaus e Aracaju. O PSDB, em Belo Horizonte, e o PT conquista as prefeituras de Porto Alegre, Vitória e São Paulo. Pela primeira vez na história da capital paulista, uma mulher, Luiza Erundina de Souza, ocupa a prefeitura e passa a gerir um dos maiores orçamentos do país.

Sucessão de Sarney

A primeira eleição direta para presidente após 29 anos é também a mais concorrida da história da República. Participam 24 candidatos. Os mais importantes são Ulysses Guimarães (PMDB), Paulo Maluf (PDS), Guilherme Afif Domingos (PL), Aureliano Chaves (PFL), Ronaldo Caiado (PSD), Roberto Freire (PCB), Mário Covas (PSDB), Fernando Collor de Mello (PRN) e Luís Inácio Lula da Silva (PT). As campanhas realizam grandes comícios, mas é o horário político gratuito nas emissoras de rádio e TV e os debates entre candidatos organizados por redes de televisão que cumprem o papel mais importante de formar a opinião dos eleitores.

Dois turnos

No 1º turno das eleições, em 15 de novembro de 1989, participam 82,074 milhões de eleitores, o equivalente a 88% do eleitorado. Passam para o 2º turno Fernando Collor, com 28,52% dos votos, e Lula, com 16,08%. A candidatura Lula cresce rapidamente com o poio de candidatos derrotados no 1º turno, como Mário Covas, Leonel Brizola, Roberto Freire e Ulysses Guimarães. Duas semanas antes das eleições, Collor divulga no horário eleitoral o depoimento de uma antiga namorada de Lula: ela afirma ter uma filha dele e que, na época da gravidez, teria sido pressionada para abortar. A revelação choca boa parcela do eleitorado e desestabiliza Lula. No debate eleitoral que precede as eleições, ele tem um mau desempenho. Collor vence o 2º turno das eleições, em 17 de dezembro, com 35,08 milhões de votos (42,75%) contra os 31,07 milhões (37,86%) obtidos por Lula. Há 14,4% de abstenções, 1,2% de votos em branco e 3,7% de votos nulos.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Variedade Cultural no Brasil

A palavra cultura tem múltiplos significados. Em sentido amplo, quer dizer toda e qualquer criação humana, material ou espiritual, que distingue os grupos humanos das outras espécies animais. Em outras palavras, cultura é tudo que um grupo social cria e transmite a seus membros pela convivência e pela educação formal e informal. Fazem parte da cultura, portanto, agricultura, fabricação de utensílios, construção de casas, cidades e organização social, língua, normas de comportamento, hábitos, escrita, meios de comunicação, religião, etc.

Em sentido mais restrito, o termo cultura liga-se de modo especial às atividades do intelecto e da sensibilidade humana, aqui incluídos principalmente o saber, as artes e as técnicas. Esses dois significados de cultura são interdependentes, já que todas as atividades da vida social influem na formulação do saber e na produção artística. Assim, todos nós fazemos cultura, isto é, somos agentes sociais e produtores de cultura.
A cultura brasileira destaca-se por sua heterogeneidade, pela mistura de culturas herdadas de diferentes grupos sociais e étnicos. Podemos dizer que há diferentes culturas no Brasil, cujas características variam de acordo com a região do país e sua história. Portanto, a cultura brasileira é formada de singularidades históricas e particularidades regionais.
Entre tantas possibilidades, falaremos das festas populares, dos folguedos, das feiras populares, da música, da literatura, do teatro, da pintura, da arquitetura, do cinema e da televisão.

Folclore

O povo tem manifestações culturais próprias, nascidas das crenças, das lendas, dos hábitos e das tradições. Essas manifestações de cultura popular se expressam nas festas, nas danças, nos festejos religiosos, na literatura de cordel e no artesanato. Ao conjunto dessas manifestações chamamos folclore.
As festas populares variam de região para região, cada uma com suas características próprias, suas cores e suas riquezas de detalhes. No Nordeste temos o pastoril, a chegança, a vaquejada, o reizado, o maracatu, a congada, e o bumba-meu-boi.
Nas regiões de Minas Gerais, Goiás e São Paulo, onde a influência indígena foi marcante, temos o cateretê e o cururu. No Rio Grande do Sul temos a chimarrita e o fandango, danças de origem portuguesa.
Entretanto, hoje em dia as manifestações mais populares e queridas do Brasil são, sem dúvida, o futebol e o carnaval, que contam com amplo apoio dos órgãos oficiais e dos meios de comunicação de massa, como jornais, revistas, rádio e televisão.

As festas do Brasil

A maioria das festas populares do Brasil está ligada ao calendário litúrgico (calendário que registra as datas das festas da Igreja cristã). Assim, a dois grandes ciclos de festas populares. Um, mais significativo no Nordeste, são as festas natalinas, que vão do Natal (25 de dezembro) ao dia de reis (6 de janeiro); o outro abrange as festas juninas: Santo Antônio (13 de junho), São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho).
Dentre as festas juninas do Brasil, destacam-se a de Caruaru, em Pernambuco, e a de Campina Grande, na Paraíba. A festa de São João de Campina Grande é comemorada durante um mês, com fogueiras, danças de quadrilha, fogos de artifício e comidas típicas, como canjica, pamonha, bolo de fubá, etc.
Há outras manifestações características de certos grupos e de certas localidades (Festa do Bonfim, Festa de Iemanjá, Procissão do Círio de Nazaré, etc.). Atualmente, entretanto, como acelerado processo de urbanização, os festejos estão perdendo muito de seu cunho popular, e passam a constituir espetáculos organizados com fins turísticos.
O carnaval, a maior manifestação popular brasileira, mistura folclore, festa, espetáculo e arte, geralmente com grande liberdade de comportamento. Seu sucesso crescente tornou-o uma das imagens marcantes do país.
Trazido pelos portugueses, o carnaval ganhou aspectos diferentes nas cidades brasileiras ao assimilar elementos locais, principalmente da cultura africana. No Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo, escolas de samba desfilam com fantasias e alegorias suntuosas; em Recife e Olinda, blocos de frevo e grupos de maracatu, de origem afro-brasileira, percorrem as ruas; em Salvador, trios elétricos se deslocam pela cidade arrastando multidões. O carnaval de Olinda e Recife também se tornou muito famoso por ser uma festa da qual milhares de pessoas participam durante vários dias.
Foi no carnaval de Salvador, a partir dos anos 1980, que surgiram ritmos como a lambada e a axé music, que se tornaram grandes sucessos nacionais.

Folguedos

Folguedos, autos ou danças dramáticas também estão muito ligados às festas religiosas. Associações chamadas “companhias”, mantidas pelos próprios participantes, organizam os folguedos, nos quais se misturam diversos elementos da arte popular: ritmos, danças, cantos, adornos trabalhados, comidas, bebidas, etc. Ritos africanos misturam-se aos costumes indígenas e as tradições católicas. Dentre os principais folguedos podem ser citados: bumba-meu-boi, fandango, congada, cordões-de-bichos, ciranda, maracatu, Moçambique, vaquejada, capoeira.

Feiras

As feiras e os mercados populares, especialmente os nordestinos são uma mostra da arte popular brasileira. Nesses locais encontram-se os cantores de embolada (poesia oral cantada, fundamentada no improviso), empunhado o pandeiro ou ganzá, compondo rimas e elogiando ou satirizando os assistentes, comidas tradicionais e objetos criativos, como apitos de chamar passarinhos, facas com bainha enfeitada, utensílios feitos de couro e chifre, traçados, folhetos de cordel, cerâmica decorativa ou de uso doméstico, etc.
Na cerâmica, destacou-se um grande artista de feira: Mestre Vitalino (1909-1963), o ceramista mais famoso do Nordeste. Seus pequenos bonecos de barro, vendidos principalmente na feira de Caruaru, em Pernambuco, retratam aspectos da vida nordestina.
Música

A música brasileira apresenta variedade de ritmos e gêneros, graças, sobretudo à diversidade cultural do país. Os gêneros vão da música folclórica à música popular brasileira (MPB), expressão que se tornou conhecida por ocasião dos festivais de música dos anos 1960 das emissoras de TV Record e Excelsior e passou a identificar um tipo de música feita no Brasil. Citamos ainda A música erudita, principalmente partir do inicio do século XX.

Música folclórica e erudita

O lundu, dança africana cheia de meneios e sapateado, antecessora do samba e do maxixe, e a modinha, canção amorosa e sentimental de origem portuguesa, são duas manifestações bastante antigas da música brasileira. Foram cultivadas no século XVII por um dos primeiros compositores populares do Brasil, Domingos Caldas Barbosa. A modinha teve grande aceitação popular no século XIX, ao lado de polcas, valsas e tangos.
Na passagem do século XIX para o século XX, dois nomes merecem destaque: Ernesto Nazareth- que tentou fazer a síntese do folclore urbano com a música erudita – e Chiquinha Gonzaga – que compôs operetas, peças de dança e as primeiras músicas de carnaval.
Um dos compositores mais reconhecidos do Brasil, além de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, é Heitor Villa-Lobos, que para sua criação, buscou inspiração no folclore brasileiro.

Choro e samba

O choro, caracterizado pela improvisação instrumental executada basicamente por violão, cavaquinho e flauta, nasceu por volta de 1870, no Rio de Janeiro.
Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga foram os primeiros compositores do choro. No inicio do século XX, o ritmo passou a ser cantado. A parti da década de 1930, surgiram vários compositores, entre eles Altamiro Carrilho, Zequinha de Abreu (autor de ´´ tico-tico no fubá ´´) e Jacó do Bandolim. Também se destaca Pixinguinha, autor de uma centena de choros e de outros gêneros musicais. “Carinhoso” é uma de suas músicas mais famosas.
O samba, que nasceu no final do século XIX, diversificou-se nos anos 1930, com o surgimento do samba-canção. Foi nessa década que surgiram três dos maiores nomes da música popular brasileira: Noel Rosa, Ari Barroso e Lamartine Babo. Toda uma geração de intérpretes também, apareceu nas décadas de 1930 e 1940: Silvio Caldas, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Mário Reis, Araci de Almeida, Ciro Monteiro, Cármen Miranda, etc.
No fim da década de 1930, as valsas de Zequinha de Abreu, as serestas de Orestes Barbosa e os sambas-canções de Lupicínio Rodrigues também alcançaram sucesso. O baiano Dorival Caymmi e o mineiro Ataulfo Alves são exemplos de compositores da década de 1940.

Bossa nova

No final dos anos 1950, surge um novo movimento musical: a bossa nova, iniciada entre jovens compositores e cantores da classe média da zona sul do Rio de Janeiro. As letras das canções da bossa nova falam do cotidiano, com arranjos elaborados e maneira de cantar contida e intimista.
Em 1958, a gravação de “Chega de saudade”, de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Morais, cantada por João Gilberto, e o disco de Elisete Cardoso, Canção do amor de mais, com composições de Jobim e Vinícius e a participação de João Gilberto, como violonista, marcaram o início da bossa nova.
A bossa nova revelou uma série de compositores e intérpretes: Carlos Lira, Baden Powel, Sérgio Ricardo, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli; cantoras como Nara Leão, Silvinha Teles, Alaíde Costa, Claudete Soares, Elis Regina; conjuntos como Quarteto em Cy, Os Cariocas, Tamba Trio e Zimbo Trio. Em 1963, a dupla Tom Jobim e Vinícius de Morais lançou um de seus maiores sucessos: “Garota de Ipanema “, gravada por inúmeros cantores e conjuntos internacionais, é uma das canções brasileiras mais conhecidas internacionalmente.

Música de protesto

Na década de 1960 surge um movimento de música “de protesto” relacionado à situação política do país. Marco importante nesse movimento é o espetáculo Opinião (1964), de João do Vale e Zé Keti, quando também se revelou a cantora Maria Bethânia, cantando “Carcará”. Jovens da classe média foram os mais típicos representantes dessa tendência: os irmãos Marco e Paulo Sérgio Vale, Geraldo Vandré, Ari Toledo, Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda.
Politicamente engajados com as propostas de esquerda, muitos cantores e compositores faziam de sua arte uma forma de protesto contra a opressão e a ditadura. A música de protesto retratava as crenças por uma sociedade mais igualitária, abordando problemas sociais, econômicos e políticos. Os compositores engajados eram duramente perseguidos pela censura, e muitas de suas canções eram censuradas.
Geraldo Vandré compôs uma música que se tornou um hino contra a ditadura: Pra não dizer que não falei das flores. Geraldo Vandré e Chico Buarque de Holanda eram os alvos preferidos da censura. Em certa época, pra driblar os censores, Chico Buarque usou um pseudônimo, Julinho de Adelaide, e assim teve suas músicas liberadas. Assim mesmo, diante das pressões, ele exilou-se na Itália.

Jovem Guarda

Em 1965 estreou na tevê Record um programa chamado Jovem Guarda, que logo se transformou em sucesso absoluto. Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia dominavam esse cenário do iê-iê-iê. Esse estilo musical era voltado para jovens e estava sob forte influência de algumas bandas estrangeiras, como os Beatles e os Rolling Stones.
Os seus principais representantes foram Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jerry Adriani, Martinha e Wanderléia. Influenciados pelo rock dos Estados Unidos, ficaram famosos sobretudo por lançarem, no Brasil, o iê-iê-iê, uma variação suave de rock.
O movimento Jovem Guarda influenciou a forma de vestir e de falar de grande parte da juventude brasileira daquela década. Muitas gírias foram criadas, como legal, gata, barra-limpa. É uma brasa, mora!, papo-firme, carango, etc.
Os cantores da Jovem Guarda eram famosos e adorados por muitos adolescentes e mesmo adultos. Porém, os setores de esquerda os acusavam de serem alienados, por não se posicionarem contra a ditadura que havia se instalado no país. A intelectualidade e os mais politizados desprezavam as canções de rimas leves que falavam de amor, como na letra Quero que vá tudo pro inferno, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.

Os festivais

A partir de meados da década de 1960, ocorreram festivais de música popular que mudaram o cenário musical do país. Os festivais de música popular organizados pelas emissoras de TV Excelsior e Record, em São Paulo, de 1965 a 1967, revelaram Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, José Carlos Capinan, Elis Regina, entre outros.
Em 1966, Chico Buarque, com “A banda”, e Geraldo Vandré, com “Disparada”, empataram no festival da TV Record. No ano seguinte, Chico Buarque venceu mais um festival da Record com “Roda Viva”. Foi nesse festival que o compositor Caetano Veloso escandalizou o público conservador com sua música “Alegria, alegria”. Umas das atitudes pouco conservadoras teria sido o uso de guitarras elétricas no acompanhamento da música. Outra apresentação polêmica foi a de Gilberto Gil, cantando”Domingo no Parque acompanhado pelos mutantes, de Rita Lee e dos irmãos Arnaldo e Sérgio Dias.
No Festival Internacional da Canção do Rio de Janeiro (1966 a 1972), tiveram destaque Milton Nascimento, Dori Caymmi e Guttemberg Guarabira.
Desses festivais nasceu um outro movimento que marcou a música nacional: o tropicalismo.

O tropicalismo

O tropicalismo foi um movimento artístico liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, que teve sua melhor expressão na música. O movimento tropicalista, no qual se misturam vários gêneros musicais, do tango-dramalhão “Coração materno”, de Vicente Celestino, ao rock inglês, passando pela bossa nova. Combinando instrumentos muito variados – desde o berimbau até as guitarras elétricas – os músicos uniam aspectos da cultura popular brasileira com elementos urbanos e industriais. Eles receberam também grande influência da música internacional e, por isso, muitos críticos os acusavam de alienados e de estar a serviço do imperialismo cultural norte-americano.
Sob a liderança de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rogério Duprat, Tom Zé e outros, o tropicalismo marcou forte presença na música popular brasileira. Inspirado nas idéias do escritor Oswald de Andrade, esse movimento introduziu elementos de culturas estrangeiras e manifestou-se com irreverência e ousadia. O Tropicalismo estava sintonizado com o movimento hippie dos anos 1960.
Caetano e Gil foram vaiados por Alegria, alegria e Domingo no parque, respectivamente, no festival de 1967. No ano seguinte, Caetano Veloso foi vaiado e xingado no Festival Internacional da Canção, com sua música É proibido proibir, não conseguindo terminar a apresentação.
O tropicalismo não se restringiu somente à música. Destacou-se também no teatro (José Celso Martinez com seu grupo Oficina), no Cinema (Gláuber Rocha e outros) e nas artes plásticas (Hélio Oiticica, por exemplo).

Os ritmos dos anos 1990

Nos anos de 1990, a Música Popular Brasileira conheceu uma mistura de ritmos regionais com o rock (de origem negra norte-americana), o reggae (gênero de origem caribenha, sobretudo da Jamaica) e o funk (ritmo dançante originário dos Estados Unidos).
Todos esses ritmos são de origem negra, porém o estilo musical que melhor representa as raízes africanas e que se tornou mundialmente conhecido nos anos 1990 foi o rap. O ritmo surgiu nos Estados Unidos na década de 1970 e faz parte de um movimento social, o hip hop, que reúne o break (dança) e o grafite (pintura nas paredes).
No Brasil o rap nasceu na periferia das grandes cidades, como instrumento de crítica à exclusão social; proliferou rapidamente entre os jovens que vêem no rap a “voz da favela”. Mas o ritmo não está mais confinado a periferia, está também nos comerciais de TV, no cinema, em campanhas eleitorais, nas roupas, capas de revistas, etc.

Literatura

A partir da Semana de Arte Moderna, a criação literária no Brasil foi intensa e vigorosa.
É bem verdade que nem todos os autores seguiram uma mesma linha de idéias, pois se formaram vários grupos com tendências literárias diferentes. Entretanto uma coisa é certa: a grande maioria dos autores apresentava um espírito criativo e renovador.
No final dos anos 50 a literatura brasileira enriqueceu-se com a publicação de Grande sertão: veredas, a obra-prima do mineiro João Guimarães Rosa, e de Gabriela, cravo e canela, do baiano Jorge Amado. A isto soma-se o trabalho poético e vigoroso dos poetas João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes e outros.

Artes plásticas

O movimento modernista também resultou no desenvolvimento criativo dos nossos artistas plásticos, e alguns pintores, escultores e arquitetos tornaram-se mundialmente famosos. Como exemplos, podemos citar: Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Cândido Portinari, Lazar Segall, entre outros.
O ponto inicial do modernismo na pintura foi a exposição de Anita Malfatti em São Paulo, em 1917. A seguir, um dos pintores que mais se destacou foi Candido Portinari (1904-1962), com mais de 4500 trabalhos. Seus quadros evocam cenas históricas e do cotidiano brasileiro.
Com a criação da Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, vários artistas brasileiros tornaram suas obras mais conhecidas do grande público, como Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Cícero Dias, Ademir Martins e outros.
Na arquitetura do século XX, a liberdade de expressão se manifesta nos grandes espaços, abertos e arejados, e nas linhas curvas, que se opõem aos espaços fechados e às linhas retas do estilo clássico. A Catedral de Brasília e o Palácio da Alvorada, também em Brasília, projetados por Oscar Niemeyer, são exemplos da utilização das linhas curvas, que caracterizam a arquitetura moderna. Outro representante da arquitetura moderna é Lúcio Costa, que, em 1960, juntamente com Niemeyer, elaborou o projeto urbanístico de Brasília, ganhando projeção internacional.

Artes cênicas: teatro e cinema

Duas atividades intelectuais que também se desenvolveram consideravelmente, a partir dos anos 40, foram o teatro e o cinema.
O grande inovador do teatro brasileiro foi Nelson Rodrigues, criador de Vestido de noiva, Álbum de família, Anjo negro e outras peças.
No final da década de 50, a temática social passou a ser o centro das atenções de teatrólogos e cineastas, e, nos anos 60, o teatro ganhou nova dimensão com o Teatro de Vanguarda.
Os grandes mestres do teatro e do cinema passavam a retratar os dramas das populações marginalizadas dos morros e das favelas e os da classe operária. Peças como Eles não usam black-tie e outras, encenadas por Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal no Teatro de Arena, em São Paulo, retratavam aspectos da vida operária. O Teatro de Arena, liderado por Guarnieri e Boal, e o Grupo Opinião, no Rio de Janeiro, liderado por Oduvaldo Viana Filho, representavam a vanguarda teatral brasileira.
No final dos anos 1970 surgiram muitos grupos cuja marca era a irreverência e o bom humor, como o grupo carioca Asdrubal Trouxe o Trombone e o grupo paulista Ornitorrinco.
Quanto ao cinema de cunho social podemos destacar os filmes Rio 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos, que retrata a população pobre dos morros cariocas, O grande momento, de Roberto Santos, sobre o bairro operário do Brás, em São Paulo, Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, e Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos, estes dois últimos com temática nordestina.
O mais importante movimento de renovação do cinema brasileiro foi o Cinema Novo, que se desenvolveu a partir de 1958. O Cinema Novo, com o lema criado pelo cineasta Glauber Rocha – uma câmera na mão e uma ideia na cabeça –, propôs-se a realizar filmes baratos, de autores com preocupações sociais e enraizados na cultura brasileira. Os primeiros longas-metragens do Cinema Novo foram: Barravento, de Glauber Rocha; Porto das caixas, de Paulo César Sarraceni; Assalto ao trem pagador, de Roberto Farias; e Os cafajestes, de Ruy Guerra. Em 1998, o filme Central do Brasil, de Walter Salles Júnior, recebeu o Urso de Ouro no Festival de Berlim, além de vários outros prêmios internacionais.

Televisão

A televisão é um dos entretenimentos mais populares entre os brasileiros. Em 1950, pela primeira vez na América Latina, foi ao ar uma transmissão de televisão, emitida pela TV Tupi de São Paulo. Em 1956, os brasileiros assistiram à primeira partida de futebol pela televisão. O jogo era entre Brasil e Itália.
Na década de 1960, a televisão ganhou muita popularidade, principalmente porque introduziu os festivais de música popular brasileira, os programas de auditórios e as telenovelas.
Em 1972 foi inaugurada a televisão em cores. A partir dessa década a TV Globo tornou-se a maior rede de comunicações do país e passou a investir sistematicamente nas telenovelas. Dos autores de telenovelas, um dos mais conhecidos foi Dias Gomes, falecido em 1999. Ele criou personagens capazes de seduzir todos os tipos de público, inovando a linguagem das telenovelas com sátiras políticas. Seus maiores sucessos, entre outros, foram: O Bem Amado, Saramandaia e Roque Santeiro.

Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...