A indústria reúne matéria-prima, máquinas e trabalho humano; ela transforma a matéria-prima em produtos elaborados, que serão consumidos pela sociedade. A atividade industrial ocorre especialmente nos espaços urbanos e está atrelada a outros setores da economia, como a agropecuária e os serviços.
Da proibição às primeiras indústrias
Em 1785, enquanto a industrialização era acelerada na Inglaterra, a rainha de Portugal, Maria I,
proibiu a existência de fábricas e manufaturas
no Brasil. No documento em que determinou a
proibição, ela alegava que a atividade industrial
ocuparia a escassa mão de obra disponível, o
que prejudicaria a agricultura e a mineração –
atividades rentáveis para a metrópole. Apenas
tecidos simples de algodão poderiam ser fabricados na colônia, usados para ensacar produtos
agrícolas e para o vestuário de pessoas pobres,
escravizadas ou indígenas.
A proibição foi anulada em 1808, com a chegada da família real. A medida, porém, não foi
suficiente para impulsionar a industrialização.
Ao longo do século XIX, foram criadas indústrias dos setores têxtil, alimentício, metalúrgico, químico, de vestuário, móveis e transportes,
mas grande parte dos produtos industrializados
continuava a ser importada.
Em 1889, o país possuía 903 estabelecimentos industriais – número que seria ampliado
para 3 120 e 13 336 entre 1907 e 1920. O avanço da indústria nas primeiras décadas do século XX foi impulsionado pela formação de um
mercado interno.
A atividade cafeeira e a industrialização
pós o declínio da mineração, o café se tornou um dos mais importantes produtos de exportação do Brasil, ultrapassando o açúcar. O
crescente consumo da bebida na Europa e nos
Estados Unidos estimulou a produção do grão
no país. O cultivo em larga escala de café teve
início no Rio de Janeiro, nas primeiras décadas
do século XIX. A atividade se expandiu pela região do Vale do Paraíba, em São Paulo, chegando ao norte do Paraná em meados do século XX.
O café foi cultivado também no Espírito Santo e
na porção leste de Minas Gerais.
O fim do tráfico de africanos escravizados
(1850) e a abolição da escravatura (1888) foram
fatores que motivaram a transição do trabalho
escravo para o trabalho assalariado. Essa mudança foi fundamental para aumentar a circulação de dinheiro e criar um mercado de consumo
mais amplo para os produtos industrializados.
Parte dos imigrantes europeus que chegavam ao Brasil para trabalhar nas lavouras de café
também possuía experiência na indústria. Assim,
além de compor o contingente de mão de obra
da atividade agricultora, muitos desses trabalhadores foram incorporados como operários nas
indústrias, que começavam a crescer no país.
Gradativamente, a atividade cafeeira estimulou o crescimento de atividades complementares para a exportação desse produto, como a implantação de ferrovias, de serviços bancários, a geração e o abastecimento de
energia elétrica para a iluminação pública e a movimentação de máquinas
de beneficiamento dos grãos. Desenvolveu-se, então, uma rede de cidades e de relações econômicas que constituíram um ambiente propício ao
crescimento da produção industrial.
O contexto internacional
Em 1929, uma crise na bolsa de valores de Nova York deu início a um
período de recessão econômica internacional, reduzindo as exportações
do café brasileiro. Os cafeicultores, então, passaram a investir em outros
cultivos e na indústria.
O envolvimento de países europeus e dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
também impactou a economia brasileira, reduzindo a oferta de produtos
industrializados no mercado. Assim, o setor industrial nacional buscou suprir as demandas do mercado interno, processo chamado de substituição de importações.
O papel do Estado
Durante os governos de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), foram
criadas indústrias de base com o objetivo de fornecer matérias-primas
para outras indústrias e diversificar a produção. São exemplos a Companhia Vale do Rio Doce, com foco na mineração de ferro, e a Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), produtora de aço.
Na presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961), o governo federal
aumentou os impostos para importação de bens de consumo e incentivou
a produção industrial no território nacional. Foi a partir desse período que
importantes indústrias automobilísticas estrangeiras passaram a produzir
na região do ABCD paulista (municípios de Santo André, São Bernardo do
Campo, São Caetano e Diadema).
Bolsa de valores:
instituição onde são
negociados títulos
e ações. As ações
correspondem a
uma parcela de
uma empresa cuja
propriedade é
compartilhada por
um conjunto de
pessoas. Os títulos
são documentos
que representam o
empréstimo de um
bem ou valor e podem
ser emitidos por
governos ou empresas
privadas para arrecadar
investimentos
financeiros.
As empresas foram obrigadas a produzir com uma
quantidade mínima de peças
brasileiras. Isso estimulou a
indústria nacional de autopeças e integrou as empresas
nacionais e multinacionais no
setor automobilístico.
Entre as décadas de 1960
e 1980, o Estado também estimulou a industrialização, investindo na geração de energia
elétrica e na ampliação da rede
rodoviária no país.
Características da industrialização brasileira
Por ter se consolidado ao longo do século XX, a industrialização do território
brasileiro foi classificada como uma industrialização tardia, em comparação aos
países industrializados antigos, como Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos e Japão.
O número de indústrias aumentou de 43 250 em 1939 para 209 617 em 1980. Em
2019, havia 306 mil estabelecimentos industriais no país. Apesar do crescimento,
a indústria brasileira é dependente de tecnologia e maquinário importado até os
dias atuais, principalmente nos setores produtivos que envolvem alta tecnologia.
O processo de industrialização foi impulsionado pela instalação de fábricas de empresas estrangeiras no Brasil. Isso ocorreu principalmente
após a Segunda Guerra Mundial, quando os avanços tecnológicos nas
comunicações e nos transportes, somados às oportunidades de comercialização local e aos custos de produção mais baixos, incentivaram empresas a transferir etapas produtivas para outros países. Devido à atuação
em diversos países, essas empresas são chamadas multinacionais.
Fases da industrialização no Brasil
A atividade industrial no Brasil começou no século XIX. Inicialmente desenvolveram-se indústrias de tecelagem que faziam sacos para embalar matérias-primas que eram exportadas. Depois, ainda no século XIX, empresários brasileiros e imigrantes italianos começaram a instalar indústrias, empregando o conhecimento que traziam consigo.
Foi somente a partir do século XIX, com a expansão da economia cafeeira
na Região Sudeste, que teve início a primeira fase industrial do país. Fatores
determinantes para isso foram a capitalização dos empreendedores nacionais (com dinheiro proveniente das vendas de café), a institucionalização
do trabalho assalariado, a mão de obra imigrante, o aumento do mercado
consumidor urbano, entre outros. Por muito tempo, os bens de consumo
duráveis e os bens de produção, como máquinas e equipamentos pesados,
eram importados.
Foi, porém, a partir da década de 1940, com a construção da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ), que a industrialização do país ganhou impulso. Durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), ocorreu uma mudança significativa na estrutura industrial brasileira. A atividade
industrial intensificou-se com a implantação de indústrias de base (siderurgia,
metalurgia, mecânica, indústria de cimento etc.). Isso reduziu as importações e
estimulou a produção nacional de bens de consumo duráveis. Nessa segunda
fase da industrialização brasileira, a indústria tornou-se um importante setor
da economia, superando o setor agrícola.
No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) iniciou-se a terceira fase
da industrialização brasileira, com o uso de capital externo e o desenvolvimento da indústria de bens de consumo duráveis. Com a
entrada de capital estrangeiro, empresas multinacionais
ingressaram no país. Nessa fase, foram feitos muitos
investimentos e empréstimos a instituições financeiras
para manter o ritmo de crescimento econômico nacional, o que gerou grande endividamento.
Na década de 1950 muitas montadoras de carros se instalaram no Brasil. Com elas, surgiu um polo muito importante de produção industrial no país: o ABCD, abrangendo os municípios paulistas de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema.
O ABCD, além de abrigar montadoras de carros, se tornou sede de muitas outras indústrias de peças utilizadas na montagem de automóveis.
Outro polo industrial importante desenvolveu-se em Minas Gerais, na região que ficou conhecida como Quadrilátero Ferrífero. Empresas estatais e privadas exploram jazidas de minério de ferro.
No Rio Grande do Sul também se encontra um importante polo industrial. Nos municípios de Caxias do Sul e São Leopoldo instalaram-se indústrias metalúrgicas que depois passaram a fabricar máquinas.
A partir da década de 1990, houve um novo processo de distribuição espacial das indústrias pelo Brasil. Os estados do Paraná, de Goiás, do Rio Grande do Sul, de Pernambuco e da Bahia receberam fábricas de transnacionais montadoras de carros e passaram a se destacar na produção automobilística. Já o Ceará passou a abrigar um importante polo de produção de calçados que, além de atender ao mercado interno, exporta para o mundo.
Na década de 1990, o país expandiu as atividades
comerciais. Essa fase ficou marcada pela entrada de
vários produtos estrangeiros (computadores, automóveis, eletrodomésticos, entre outros). Empresas estatais
foram privatizadas, ou seja, deixaram de ser propriedades do governo e passaram a ser empresas privadas.
A partir dessa década, o país ingressou na quarta fase
industrial, marcada pela globalização e abertura econômica, pelo desenvolvimento de tecnologias de telecomunicações, informática, robótica, engenharia genética e transporte.
O setor industrial brasileiro está concentrado nos estados de São Paulo, Minas
Gerais e Rio de Janeiro e também em áreas da Região Sul e do litoral nordestino.
Embora a indústria esteja concentrada em algumas áreas, nas últimas
décadas muitas fábricas se deslocaram para o interior
do país, em busca de mão de obra mais barata e de
incentivos fiscais de governos estaduais ou prefeituras.
Essa mudança na distribuição espacial das indústrias
marca nova fase de desconcentração industrial. A
desconcentração da produção tem modificado expressivamente os fluxos migratórios, por causa da demanda
de trabalhadores.
A concentração industrial no Centro-Sul é um importante elemento para avaliar as desigualdades socioeconômicas entre as regiões brasileiras.
A descentralização industrial, ainda que insuficiente,
foi importante para o desenvolvimento técnico e produtivo de outros municípios e estados do país.