sexta-feira, 9 de agosto de 2024

A organização do trabalho industrial

Até meados do século XVIII, a produção de mercadorias era artesanal ou manufaturada, realizada, muitas vezes, na casa dos próprios artesãos. A indústria têxtil foi a primeira a surgir na Inglaterra. As fábricas receberam teares e máquinas a vapor que empregavam carvão mineral e geravam a energia necessária para mover as fiandeiras e os teares mecânicos. Veja a seção Olhar interdisciplinar.
No final do século XIX, outras mudanças que ocorreram devido ao desenvolvimento tecnológico alteraram o modo de produção industrial. A criação do motor de explosão e a descoberta da eletricidade ampliaram a capacidade das máquinas.
A partir de então, a indústria passou a empregar as novas fontes de energia, como o petróleo e as quedas-d’água usadas para gerar eletricidade.

A organização do trabalho na fábrica

No início da industrialização, crianças também trabalhavam nas fábricas. Os operários tinham de cumprir muitas horas de trabalho e recebiam salários baixos.
Eles tiveram de adaptar-se à passagem de uma vida no campo para uma vida urbana.
Se no campo o trabalho era realizado a céu aberto, nas fábricas ele ocorria em um local fechado, o que permitia controlar as atividades dos trabalhadores. No campo eles produziam o próprio alimento, enquanto nas cidades dependiam de seu trabalho para ter dinheiro e poder comprar comida.
Aos poucos foram criadas formas de organização do trabalho fabril. Vamos conhecer algumas delas: o taylorismo, o fordismo, o just-in-time e as ilhas de produção.

O taylorismo e o fordismo

A organização do trabalho fabril também passou por importantes transformações. No início do século XX, o engenheiro industrial estadunidense Frederick Winslow Taylor (1856-1915) desenvolveu um sistema que ficou conhecido como taylorismo, que dividiu as tarefas no interior da fábrica para aumentar a eficiência.
O taylorismo procurou fazer uma análise científica do trabalho na fábrica retirando o improviso da produção de modo a controlar todas as etapas do processo produtivo.
Henry Ford (1863-1947), outro engenheiro industrial dos Estados Unidos, mudou a organização do trabalho em sua fábrica de carros. Em vez de os trabalhadores se deslocarem pela fábrica para realizar suas tarefas, eles ocupavam uma posição fixa na linha de montagem e trabalhavam sem sair do lugar. As peças passavam em uma esteira rolante e cada trabalhador realizava sua tarefa repetidas vezes: um só encaixava o motor, outro apenas parafusava o motor na carroceria, outro encaixava os bancos, e assim por diante. Essa forma de produzir, que foi chamada de fordismo, diminuiu o tempo de montagem dos automóveis e aumentou a quantidade de produção.
Ford também via o trabalhador de sua fábrica como um consumidor dos produtos que ajudava a produzir na fábrica. Desse modo, garantia-se o mercado consumidor para os produtos.
Com o fordismo, o trabalho se tornou repetitivo e monótono e os operários perderam o controle sobre o processo de produção, o ritmo e os resultados da sua atividade. 

O just-in-time

Na década de 1980, uma forma de administração da produção denominada just-in-time (“bem a tempo”) tornou-se muito popular. Seu criador foi Taiichi Ohno (1912-1990), engenheiro japonês que implantou o sistema em uma fábrica de automóveis em meados da década de 1960.
Com o sistema just-in-time, a fábrica produz apenas o necessário, quando é preciso, o que evita desperdícios. É um método que trabalha praticamente sob encomenda, sem manter grandes estoques, a partir do pedido do cliente. Essa prática é diferente do fordismo, em que primeiro se produzia – e muito – para depois tentar vender o produto.
Além disso, o sistema just-in-time possibilita que os produtos sejam fabricados atendendo às exigências do consumidor. No caso de um ônibus, por exemplo, o cliente pode escolher o tamanho do veículo, os equipamentos opcionais, como ar-condicionado, rádio e acesso à internet, e até a potência do motor. É como se cada um dos ônibus que saem da fábrica tivesse sido produzido sob medida, ao gosto do comprador.

As ilhas de produção

Com o just-in-time, surgiram as chamadas ilhas de produção, onde o trabalho é desenvolvido em equipe. Cada ilha realiza praticamente todas as etapas da fabricação de um produto. Nesse sistema, o trabalhador deve conhecer suas funções e as dos demais colegas da equipe, isto é, todos devem saber realizar todas as tarefas.
O trabalho feito em uma organização de ilhas facilita a comunicação, a integração e a troca de experiências entre as equipes. As ilhas também evitam que as tarefas se tornem monótonas, pois os trabalhadores desempenham diferentes funções. Além disso, permitem aumentar a produtividade industrial e diminuir o número de mercadorias com defeito de fabricação.

As inovações e os trabalhadores

As inovações tecnológicas não param de se expandir no setor industrial, pois a maioria das grandes empresas cria programas para ampliar a capacidade de produção. Desse modo, surgem novas profissões técnicas e de nível superior, enquanto outras desaparecem.
Uma das inovações mais importantes na produção industrial foi a introdução de robôs nas linhas de montagem. Inicialmente, eles foram utilizados apenas para operar em locais que colocavam a vida dos trabalhadores em risco, como ambientes radioativos ou de temperaturas muito elevadas. Aos poucos, porém, acabaram sendo utilizados para desenvolver funções rotineiras nas linhas de montagem. Essa inovação contribuiu para perda de emprego de muitos trabalhadores, que foram substituídos pelos robôs.
A modernização das indústrias gera desemprego, pois consegue aumentar a produção sem ampliar o número de empregados. Atividades que antes exigiam quatro trabalhadores passaram a exigir apenas uma máquina e um operário.
O desemprego causado pelas novas tecnologias – como a robótica e a informática – recebe o nome de desemprego estrutural. Veja o caso dos bancos: antes era preciso ir a uma agência para fazer qualquer tipo de movimentação – sacar dinheiro, pegar talão de cheques. Hoje em dia, um caixa eletrônico possibilita fazer essas atividades sem a presença de um trabalhador.
O mesmo ocorreu na atividade industrial. As etapas de pintura, por exemplo, eram realizadas por trabalhadores. Atualmente, uma placa é imersa na tinta por um robô, sem precisar de contato com trabalhadores. Tanto os países ricos quanto os pobres são afetados pelo desemprego estrutural, um dos mais graves problemas de nossos dias.
Essas mudanças ocorridas na indústria e nos processos de produção alteraram a luta dos sindicatos de trabalhadores em todo o mundo. Antes, buscava-se, principalmente, o aumento dos salários. Atualmente, a grande reivindicação dos trabalhadores passou a ser emprego. Os sindicatos propõem, entre outras medidas, a redução da jornada de trabalho sem a diminuição do salário e a criação de mais empregos.

O surgimento das cidades brasileiras

As cidades brasileiras surgiram de diversas maneiras. Algumas, como Ouro Preto (MG) e a Cidade de Goiás, conhecida como Goiás Velho (GO), surgiram do desenvolvimento de atividades econômicas como a extração de ouro. Elas funcionavam como pontos de abastecimento e apoio para comerciantes e exploradores de pedras preciosas e ouro, que se abasteciam antes de se dirigirem às minas.

Outras, como Salvador (BA) e Recife (PE), cresceram a partir da construção de fortes para proteção contra inimigos. Veja a foto ao lado. Não por acaso estas cidades estão junto ao litoral, que era por onde poderiam surgir inimigos na época.

Algumas cidades do Brasil foram planejadas, isto é, foram desenhadas antes de serem criadas, como ocorreu em Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Goiânia (GO), entre outras. As cidades planejadas cresceram mais que o previsto e hoje apresentam dificuldades semelhantes às das demais, como no deslocamento interno.

As inúmeras situações de ocupação ilegal de terrenos ou mesmo a presença de atividades comerciais em áreas  residenciais confirmam que as normas de controle de ocupação urbana não foram seguidas.

Organização da produção agrícola

No espaço rural ocorre a produção não só de alimentos, mas também de outros itens necessários à vida em sociedade, como matérias-primas (para tecidos e papel, por exemplo) e fontes de energia (como a cana-de-açúcar usada na produção de etanol). O preparo da terra para o cultivo modifica o espaço rural, que está organizado, basicamente, em duas formas: a agricultura familiar e a agropecuária industrializada.

A agricultura familiar

A maior parte da produção de alimentos no mundo vem da agricultura familiar, incluindo no Brasil. A produção é destinada, principalmente, ao abastecimento do mercado interno. São pequenos proprietários que podem empregar máquinas e insumos agrícolas e, em algumas etapas do processo produtivo, como o preparo do terreno e a colheita, contratam mão de obra temporária.
Em unidades produtivas no espaço rural classificadas como minifúndios é realizada a agricultura familiar, que é caracterizada pela produção para o consumo da própria família. Quando ocorre uma produção excedente, ela é comercializada.

A agropecuária industrializada

Com o avanço da tecnologia, espigas de milho imunes a ataques de algumas pragas, vacas capazes de multiplicar a produção de leite e porcos com mais carne e menos gordura tornaram-se possíveis.
Esses são alguns produtos da biotecnologia, desenvolvidos por grandes grupos empresariais que investem na produção agropecuária. Nesse sistema, chamado de sistema agropecuário industrializado, passou-se a programar o destino da produção a partir do momento em que as inovações tecnológicas, como sementes e matrizes para criação de animais, saem dos laboratórios.
Tamanho e peso-padrão tornaram-se palavras-chave para os produtores de frangos, ovos e frutas, por exemplo. A produção agropecuária ficou semelhante a uma fábrica. Através do melhoramento genético as frutas passaram a atender a algumas exigências do consumidor, como uva e melancia sem sementes.
O uso de novas tecnologias tem permitido a expansão dessa atividade para áreas que não eram usadas na agricultura. O espaço rural chegou ao deserto, onde a produção agrícola é alcançada com o uso equilibrado da água, emprego de estufas, irrigação subterrânea e modernos filtros.
Nas estufas a temperatura é controlada automaticamente, garantindo um ambiente adequado para a produção de tomates, pepinos e pimentões.
Os filtros são utilizados para reter fertilizantes químicos contidos em excesso na água, que é drenada dos canais de irrigação das lavouras de legumes e verduras.
As máquinas agrícolas são usadas em diversas etapas da produção. Elas podem preparar o solo para o cultivo, semeá-lo e colher a safra, dependendo da espécie cultivada e do terreno. Por isso, esse sistema agrícola também é chamado de agricultura mecanizada.

Impactos da agricultura industrializada

Em muitos lugares do mundo, é forte a presença da agricultura industrializada, o que na prática resulta em mais produção por área cultivada. Mas o custo desse sistema é elevado, devido ao investimento em biotecnologia, máquinas agrícolas e agrotóxicos.
Os agrotóxicos são aplicados para proteger os cultivos de organismos prejudiciais ao desenvolvimento das plantas. Eles funcionam também como um veneno que mata outras espécies que possam concorrer com as plantas. Parte dos produtos químicos utilizados na agricultura moderna penetra nos solos e pode contaminar a água depositada no subsolo.
A agricultura mecanizada também gera impactos sociais e ambientais. No primeiro caso, ocorre o aumento do desemprego no campo, já que as máquinas substituem muitos trabalhadores rurais, além do uso intensivo de agrotóxicos, que causam doenças em trabalhadores e, se usados sem cuidados, nos consumidores dos produtos.
Os problemas ambientais são muitos, como a perda da biodiversidade pelo desmatamento. Também ocorre a compactação do solo, resultado da presença constante de pesadas máquinas. A erosão também está associada ao uso intensivo do solo, em especial em áreas sujeitas a fortes chuvas, como ocorre em grande parte do Brasil. O transporte de solo pela água, além de retirar seus nutrientes, dificulta o uso de máquinas agrícolas.

Agricultura orgânica, urbana e agroflorestal 

No Brasil existe um movimento que cresce nos últimos anos envolvendo a produção agrícola. Trata-se dos agricultores orgânicos, que buscam se opor ao uso de agrotóxicos e à compra de sementes de empresas multinacionais. Eles usam sementes crioulas, que são resultado da seleção de anos de práticas agrícolas de pequenos agricultores. 
Parte desses agricultores cultiva as sementes ou as compra de outros agricultores que as reproduzem sem uso de intermediários ou de insumos químicos. Em geral, eles estão organizados em movimentos sociais, como o Movimento dos Pequenos Agricultores, que busca reunir agricultores empenhados em manter as práticas tradicionais no campo de modo a resgatar a identidade cultural de seus integrantes. 
Já a agricultura urbana também pode ser entendida como um movimento alternativo de produção agrícola. Ela consiste em cultivar em áreas propícias à agricultura em cidades, como terrenos sem uso, e áreas livres em habitações e condomínios, por meio de hortas comunitárias. O objetivo é oferecer comida saudável à população local. Ela diminui os custos de transporte dos alimentos, que são cultivados em pequena escala sem uso de agrotóxicos e com sementes crioulas.
O sistema agroflorestal (SAF) ou agrofloresta é formado pela introdução de espécies para fins agrícolas em áreas naturais ou em áreas degradadas. Neste último caso, o replantio de árvores é feito associado à plantação de café e banana, por exemplo. Os sistemas agroflorestais diminuem a perda de solo por erosão, evitam a compactação do solo (que costuma ocorrer pelo trânsito de máquinas pesadas) e ainda mantêm a biodiversidade, já que, diferente da monocultura, produzem várias plantas ao mesmo tempo. Outra vantagem é a possibilidade de controle de pragas de modo natural. Um inseto ou lagarta que surge na plantação pode ser fonte de alimento de pássaros, atraídos pela cobertura vegetal. Por fim, a maior presença de árvores garante maior acúmulo de água das chuvas (que penetra mais lentamente no solo) e temperaturas mais amenas. 

Sistemas agrícolas

Há cerca de 10 mil anos que a espécie humana pratica a agricultura. Por isso desde essa época pode-se falar em espaço rural. As terras agrícolas ocupam cerca de 12% da superfície terrestre. Existe uma grande diversidade de produtos cultivados. Eles foram adaptados às condições climáticas e do solo pelos povos originários, que selecionaram as sementes que melhor se adaptaram a essas condições. Portanto, por meio da transformação da paisagem, os povos originários domesticaram animais e introduziram cultivos que ainda hoje são a base da nossa cadeia alimentar.

Nos sistemas agrícolas, a terra, o trabalho, os recursos energéticos e os recursos financeiros estão integrados. Esse conjunto de elementos permite a produção de alimentos.

Rotação de culturas e pousio

Em algumas regiões da América do Sul, do sudeste asiático e da África, por exemplo, várias comunidades tradicionais praticam a rotação de culturas. Nesse sistema, o agricultor usa as terras para cultivar produtos de maneira revezada.
Nos últimos anos, foram desenvolvidos sistemas de rotação de culturas que procuram integrar produtos de modo a usar permanentemente o solo. Contudo, o cultivo deve ser feito em conjunto com uma planta que exija menos nutrientes para que se consiga, ao mesmo tempo, fazer a reposição necessária para aquela terra.
O pousio consiste em deixar o solo sem cultivo por um período, possibilitando que recupere seus nutrientes. Depois de alguns anos de descanso, a área recuperada pelos processos naturais é retomada pelos agricultores para um novo período agrícola.

Agricultura itinerante

A agricultura itinerante é um sistema tradicional, de baixo nível tecnológico, que não exige grande investimento. Nesse sistema, usa-se a técnica da coivara, que é a queimada de uma área de mata para limpar o terreno para o cultivo. Essa técnica diminui a fertilidade do solo e o pequeno agricultor desloca-se para uma nova terra e abandona a anterior. No Brasil, é praticada por povos e comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos, há muito tempo. A produção é destinada para a subsistência e a possível comercialização de excedentes.
A queimada também é praticada por grandes pecuaristas e produtores de soja, mas não está relacionada à agricultura itinerante. Na região Norte do país, extensas áreas da Floresta Amazônica são queimadas ilegalmente com o objetivo de expandir as áreas de produção. A queimada, em ambos os casos, gera problemas ecológicos e ambientais, como a destruição da vegetação nativa, o risco de o fogo sair do controle e avançar pela floresta.

Agricultura em terraços

Na cordilheira dos Andes, na América do Sul, o profundo conhecimento do relevo, do solo e do clima pelos povos originários permitiu que se criasse um sistema de agricultura em terraços (ou em degraus, como também é conhecido), no qual a água das chuvas é retida nas encostas, evitando a erosão. Esse sistema também é encontrado na Ásia. Nos Andes os principais produtos cultivados são a batata e o milho; na Ásia, o arroz.
A agricultura em terraços é decisiva para a sobrevivência das comunidades que descenderam dos povos originários e que atuam como pequenos agricultores andinos. O terreno da região é muito inclinado, e os terraços evitam que os processos erosivos sejam tão intensos e acabam retendo os nutrientes que são transportados pela água, o que resulta em um acúmulo de solo mais rico que o presente nas encostas.

Agricultura irrigada

Os chineses recorreram a métodos próprios para garantir a produção de arroz às margens do rio Yang-tse, também conhecido como rio Azul, região caracterizada por temperaturas elevadas e grande volume de chuvas, desenvolvendo o sistema de agricultura irrigada.
Muitos trabalhadores realizam as tarefas de semear o arroz em canteiros preparados, transplantar as sementes para os arrozais, arrancar as ervas daninhas e, sobretudo, controlar a inundação dos campos para o cultivo das plantas, que precisam manter suas folhas acima das águas.
O sistema de agricultura irrigada também é realizado em outros lugares. Nele há enorme concentração de mão de obra por quilômetro quadrado e pouca terra disponível. Contudo, tal sistema é de alta produtividade e dispensa a necessidade de uso de fertilizantes, pois são naturalmente trazidos pela água com abundância de matéria orgânica. O sistema não somente
acelera o crescimento do arroz como tem garantido, há séculos, duas ou três colheitas por ano em um único terreno.

Agricultura mediterrânea

A agricultura mediterrânea é um sistema agrícola que pode ser encontrado nas áreas ao redor do mar Mediterrâneo. Essas áreas apresentam inverno chuvoso, com temperaturas amenas, e verão quente e seco.
Devido ao longo período com poucas chuvas, a agricultura mediterrânea desenvolveu-se com técnicas de aproveitamento da umidade do solo e pouco uso de irrigação.
O principal produto cultivado é o trigo. Além dele, as oliveiras podem ser encontradas em toda a região mediterrânea, em especial nas áreas mais secas.


segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Crescimento urbano e problemas sociais

O crescimento de muitas cidades ocorreu de forma acelerada. Em alguns casos, essa expansão gerou a conexão entre duas ou mais cidades, não existindo áreas de campo entre elas. A essa conexão de elementos urbanos entre municípios vizinhos dá-se o nome de conurbação

Com a expansão das cidades e a conurbação de vários centros urbanos, foram criadas pela administração pública as regiões metropolitanas, como a de Goiânia – o mapa desta página mostra sua configuração no ano de 2022. Essa forma de organização foi estruturada para melhor integrar os municípios vizinhos, que apresentam intenso fluxo de pessoas entre eles. Na década de 1950, Nova York e Tóquio se tornaram as primeiras megacidades, termo utilizado pela ONU para definir metrópoles, cidades com grande dinamismo econômico-financeiro e que exercem influência em outras regiões, que atingem ou superam 10 milhões de habitantes. Em 2021, já eram 36 megacidades, porém, a maioria delas situada em países em desenvolvimento.

O número total de habitantes em uma cidade exerce influência direta em sua dinâmica e em sua complexidade. São Paulo, a metrópole brasileira com a maior população (cerca de 11 milhões de habitantes em 2021), pode ser usada como exemplo. O principal centro econômico do país se apresenta como um espaço propício para muitas oportunidades de trabalho e, consequentemente, renda para seus habitantes. Indústrias, lojas, bancos, órgãos públicos e a área da construção civil são alguns exemplos de locais que oferecem atividades remuneradas e atraem pessoas que buscam o sustento pessoal e de suas famílias. Porém, no caso de São Paulo, assim como em muitas cidades, a oferta de emprego foi menor que o número de pessoas em busca de uma ocupação remunerada.

A falta de empregos, os baixos salários e a concentração de terras e renda nas mãos de poucas pessoas geraram fortes desigualdades sociais. Trabalhadores passaram a exercer atividades informais, ou seja, sem vínculo trabalhista, e não contribuem para a Previdência Social – o que prejudica a arrecadação de impostos pelo governo e também deixa o trabalhador desprotegido em caso de problemas de saúde, por exemplo. Com remunerações mensais baixas, ou mesmo sem renda, muitas famílias se viram obrigadas a se estabelecerem em áreas inapropriadas ou, em alguns casos, em terrenos ilegais. As desigualdades sociais são facilmente observadas em metrópoles como São Paulo (SP), mas também em outras grandes metrópoles com características tardias de industrialização, a exemplo de Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Recife (PE). As desigualdades sociais geram condições distintas de oportunidades profissionais aos cidadãos. Quando crianças e adolescentes não têm acesso a uma educação de qualidade durante o período escolar, há um comprometimento ao longo de sua carreira profissional, dificultando a disputa por vagas de empregos que exigem maiores qualificações. A exposição à violência e ao crime organizado, a fome e a falta de infraestrutura adequada também são exemplos de problemas sociais presentes em todo o território brasileiro. 

O crescimento das cidades

Desde a formação das primeiras cidades até a Revolução Industrial, no século XVIII, o campo exerceu papel econômico mais importante que o das cidades, mesmo em grandes civilizações. Na Antiguidade, apenas Roma e Alexandria reuniam grandes populações. Nas demais, apesar de haver circulação de pessoas e consumo de mercadorias, a maioria da população residia no campo. Em 1800, apenas dez cidades superavam 100 mil habitantes, enquanto 90% dos indivíduos (o que representava cerca de 87 milhões de pessoas) se estabeleciam no campo. Com o desenvolvimento das máquinas e o surgimento das fábricas, a relação entre campo e cidade foi completamente modificada. Um conjunto de fatores passou a atrair os trabalhadores para as cidades, incluindo a grande oferta de empregos gerada pelas fábricas e outras oportunidades que surgiram em decorrência da modernização das cidades. No início, a expansão das cidades ocorreu no oeste da Europa e nos Estados Unidos. Na sequência, no Leste Europeu e no Japão. O Brasil ampliou suas cidades apenas após a Segunda Guerra Mundial. A industrialização tardia no Brasil provocou um crescimento urbano desordenado e sem o devido planejamento. Entre os anos de 1950 e 1990, as cidades brasileiras triplicaram o número de habitantes. Com o aumento populacional das cidades, a demanda por alimentos ficou cada vez maior. Assim, o campo precisou se modernizar e desenvolver novas técnicas para ampliar a produtividade agropecuária. A mecanização do campo foi a alternativa encontrada pelos grandes proprietários de terras para atender às necessidades do mercado. Esse processo reduziu ainda mais a oferta de empregos, tornando o campo um espaço repulsivo para muitos trabalhadores. O deslocamento definitivo e em massa dessa população do campo para a cidade é chamado de êxodo rural.

As funções do campo e da cidade

Nomadismo e sedentarismo 

Vista aérea de área de cultivo de milho e silos de armazenamento, com cidade ao fundo, em Sertanópolis (PR), 2020. Caçar animais e coletar frutos e sementes foram práticas humanas de sobrevivência durante cerca de 90% da história do Homo sapiens. Essas atividades, apesar de proporcionarem um diferente estilo de convivência em grupo, apresentavam uma relação direta com a natureza. A vida desses grupos humanos dependia das condições naturais dos locais em que viviam, já que não havia conhecimento aprofundado sobre os fenômenos da natureza. Somente por volta de 10000 a.C., alguns grupos humanos começaram a domesticar animais e cultivar plantas. A partir de então, o modo de vida começou a mudar, com alguns grupos humanos deixando de ser nômades para viver de modo sedentário. O domínio de técnicas de cultivo de plantas foi um importante marco na história da humanidade, conhecido como Revolução Agrícola. Com base nele, surgiram os primeiros vilarejos e, posteriormente, as cidades. 

Cidades na Antiguidade 

Com o sedentarismo promovido pela agricultura (com o cultivo de cereais, sobretudo trigo e cevada), as comunidades passaram a se organizar em um estilo de vida que proporcionava o crescimento populacional em escala maior. A domesticação de animais trouxe a condição de explorar, além da carne, o couro e a lã. Como vimos, a fixação de grupos humanos à terra fez surgir os vilarejos e as cidades, com seus próprios modelos de organização social e relação com os demais aglomerados populacionais vizinhos. As primeiras cidades de que se tem registro surgiram na Mesopotâmia (atual Iraque, na Ásia), entre os rios Tigre e Eufrates, região de terras excelentes para a agricultura, chamada de Crescente Fértil. Ur, talvez a cidade mais famosa dessa região, tornou-se conhecida pelos imponentes monumentos edificados. Já a Babilônia, surgida após a queda de Ur, por volta de 2300 a.C., tornou-se a maior cidade do mundo antigo no século VII a.C. Com a formação das cidades e a crescente necessidade de desenvolvimento de técnicas mais eficientes para a agricultura e a pecuária (agropecuária), foram criadas condições ainda mais eficazes para a produção. As cidades passaram a desenvolver equipamentos de infraestrutura mais modernos, com o objetivo de atender ao crescente volume populacional e às necessidades ainda maiores desses grupos humanos. 

Campo e cidade 

Esse limite físico era comum em determinadas civilizações na Antiguidade. Na atualidade, como é possível definir onde termina o campo e onde começa a cidade, já que não existem muralhas dividindo esses espaços? Sabemos que tanto o campo como a cidade são espaços que apresentam paisagens modificadas pela ação humana. Apesar da presença de uma cobertura, em muitos casos, verde, nas regiões em que existem atividades agropecuárias a vegetação original já foi substituída por práticas que levam ao cultivo de vegetais e à criação de animais. Visualizar o campo, para muitos, pode passar a falsa sensação de que o espaço natural está preservado.

Rural e urbano 

 Em um sentido mais amplo, além das atividades exercidas por moradores em idade produtiva no campo e na cidade, surgem os conceitos rural e urbano. Neles está inserido, além do espaço físico, o estilo de vida das pessoas que vivem nessas localidades.

Vimos até o momento que tanto o campo como a cidade assumem funções gerais próprias. Enquanto no campo as atividades ligadas à agropecuária são mais presentes, na cidade, a formação de áreas residenciais, a instalação industrial e a prestação de serviços e comércio são visualmente mais perceptíveis. Porém essa é uma regra que não se aplica a todas as realidades. Apesar de muitos ainda verem o meio rural como atrasado e com pouca tecnologia e o meio urbano promissor e modernizado, essa percepção é falha. Profundas transformações ocorreram nos meios rural e urbano nas últimas décadas. Com o avanço das tecnologias de comunicação, além do estreitamento das redes de transporte, a conexão entre esses espaços ficou ainda mais forte. Enquanto, de um lado, os moradores do campo passaram a absorver hábitos urbanos, como o modo de se vestir, as gírias ao falar e o consumo de produtos comuns em grandes centros, muitos moradores das cidades passaram a cultivar hábitos rurais considerados mais saudáveis, utilizando produtos não industrializados e produzindo hortaliças nos próprios jardins e varandas. Um exemplo dessa maior relação entre campo e cidade está no setor industrial, que, até meados do século XX, se instalava exclusivamente em cidades. Porém, aos poucos, passou a se apropriar também de terras historicamente utilizadas para o cultivo de plantas ou a criação de animais. Esse processo provoca modificações na paisagem e no estilo de vida dos habitantes locais.


Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...