sexta-feira, 20 de maio de 2022

Lev Vygotsky

  


Vygotsky, psicólogo russo (Orcha 1896 – Moscou 1934). Graduou-se em Direito, Filosofia e Medicina pela Universidade de Moscou, fundou o Instituto de Estudos das Deficiências de Moscou, e dirigiu o Departamento de Educação para Físicos e Mentais. Dedicou-se a temas como pensamento, linguagem e desenvolvimento da criança. Teve suas publicações suspensas na antiga União Soviética de 1936 a 1956. Dentre sua obras, destacam-se: Pensamento e linguagem (1934) e A Formação Social da mente.

Vygotsky

O aprendizado é essencial para o desenvolvimento do ser humano e se dá sobretudo pela interação social.
A ideia de que quanto maior for o aprendizado maior será o desenvolvimento não justifica o ensino enciclopédico. A pessoa só aprende quando as informações fazem sentido para ela.

Base Pedagógica:

Segundo Vygotsky, a evolução intelectual é caracterizada por saltos qualitativos de um nível de conhecimento para outro. A fim de explicar esse processo, ele desenvolveu o conceito de ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL, que definiu como a "distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes". 

Ensino/Aprendizagem: 

Vygotsky entende que o desenvolvimento é fruto de uma grande influência das experiências do indivíduo. O significado e a forma de apreender o mundo está de acordo com a individualidade de cada um. Para ele, desenvolvimento e aprendizado estão intimamente ligados: nós só nos desenvolvemos se (e quando) aprendemos. Além disso, o desenvolvimento não depende apenas da maturação, como acreditavam os inatistas. As potencialidades da estrutura biológica humana só se desenvolvem no meio cultural em que haja o estímulo. A ideia de um maior desenvolvimento quanto maior for o aprendizado suscitou erros de interpretação. Uma das ideias errôneas é de que o ensino enciclopédico, do acúmulo de conteúdos apenas é que favoreciam a aprendizagem. As ideias de Vigotsky no entanto postulam que para haver assimilação tem que haver sentido. Isso se dá quando as informações incidem no que o psicólogo chamou de zona de desenvolvimento proximal, a distância entre aquilo que a criança sabe fazer sozinha (o desenvolvimento real) e o que é capaz de realizar com ajuda de alguém mais experiente (o desenvolvimento potencial). Dessa forma, o que é zona de desenvolvimento proximal hoje vira nível de desenvolvimento real amanhã. 

DESENVOLVIMENTO REAL 

É determinado por aquilo que a criança é capaz de fazer sozinha porque já tem um conhecimento consolidado. Se domina a adição, por exemplo, esse é um nível de desenvolvimento real. 

ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL 

É a distância entre o desenvolvimento real e o potencial, que está próximo mas ainda não foi atingido. 

DESENVOLVIMENTO POTENCIAL 

É determinado por aquilo que a criança ainda não domina, mas é capaz de realizar com auxílio de alguém mais experiente. Por exemplo, uma multiplicação simples, quando ela já sabe somar. 

O NOME SOCIOCONSTRUTIVISMO: 

Esse termo (ou, como preferem alguns especialistas, socio-interacionismo) é usado para fazer distinção entre a corrente teórica de Vygotsky e o construtivismo Jean Piaget. Ambos estariam na linha do construtivistas em suas concepções do desenvolvimento intelectual. Ou seja, sustentam que a inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem com o meio. Os dois se opõem tanto à teoria empirista (para a qual a evolução da inteligência é produto apenas da ação do meio sobre o indivíduo) quanto à concepção racionalista (que parte do princípio de que já nascemos com a inteligência pré-formada). Para o ser humano, segundo Vygotsky, o meio é sempre revestido de significados culturais. Por exemplo, o objeto armário (meio) não tem sentido em si. Só tem o sentido cultural) que lhe damos, como ser útil ou inútil, valioso ou não, rústico ou sofisticado e assim por diante. E os significados culturais só são aprendidos com a participação dos mediadores. O fator cultural, básico para Vygotsky, e pouco enfatizado por Piaget, é a diferença central entre os dois teóricos construtivistas. Ambos divergem também quanto à sequência dos processos de APRENIDIZAGEM e de DESENVOLVIMENTO MENTAL. Para Vygotsky, é o primeiro que gera o segundo. Em suas palavras, "o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis". Piaget, ao contrário, defende que é o desenvolvimento progressivo das estruturas intelectuais que nos torna capazes de aprender (fases pré-operatória ou lógico-formal). 

Conhecimento é sempre intermediado 

Para Vygotsky, a vivência em sociedade é essencial para a transformação do homem de ser biológico em ser humano. É pela APRENDIZAGEM nas relações com os outros que construímos os conhecimentos que permitem nosso desenvolvimento mental. Segundo o psicólogo, a criança nasce dotada apenas de FUNÇÕES PSICOLÓGICAS ELEMENTARES, como os reflexos e a atenção involuntária, presentes em todos os animais mais desenvolvidos. Com o aprendizado cultural, no entanto, parte dessas funções básicas transforma-se em FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES, como a consciência, o planejamento e a deliberação, características exclusivas do homem. Essa evolução acontece pela elaboração das informações recebidas do meio.


Pavlov


Ivan Petrovitch Pavlov, fisiologista russo,  nasceu em 1849 em Riazan, uma cidade na Rússia; sendo filho de um clérigo, ele participou do Seminário Teológico local.  Seu interesse foi direcionado para problemas científicos e não para textos sagrados; então, em 1870, ele estudou medicina  na Universidade de Petersburgo graduando-se em 1883. Trabalhou na Alemanha com dois grandes fisiologistas Ludwig e Heidenhain, e de volta à sua terra natal e começou sua pesquisa sobre a atividade das principais glândulas digestivas. Nesse retorno ocupou a cátedra de farmacologia, na Academia Médica Militar (1890), tornando-se, em seguida, professor de fisiologia (1895). Alcançou renome universal por suas pesquisas no terreno da circulação sanguínea, da ação das glândulas digestivas e da formação de reflexos condicionados. 

Pavlov

Em 1904 foi laureado com o premio Nobel por seus seus experimentos  coletados e exibidos na obra "Lições sobre o trabalho das glândulas digestivas" (1897) trabalhos sobre a fisiologia da digestão, embora seu nome tivesse sido imortalizado por seus experimentos sistemáticos de condicionamento de cães e outros animais. Esses estudos, principiados em 1902, inspiraram  e orientaram a psicologia experimental do conhecimento. A partir de 1902, dedicou-se continuamente a estudar uma forma elementar de aprendizagem conhecida como condicionamento clássico. A essência da teoria pavloviana dos processos mentais, complexos tem sua ênfase na experimentação objetiva, e não mais na subjetividade, à maneira da psicologia tradicional, baseada no dualismo corpo-alma supostamente inerente a ela. De 1928 até a data da sua morte, concentrou seus estudos na possibilidade de aplicar os princípios do condicionamento à psicologia clínica.

Pavlov foi um dos principais expoentes da reflexologia russa, cuja difusão ele contribuiu graças a seus experimentos no reflexo condicionado. Ivan Pavlov, em seus estudos sobre a atividade nervosa superior, fez uso do método do reflexo condicionado. Um reflexo condicionado trata-se de um reflexo aprendido, uma resposta a um estímulo que antes não causava nenhuma reação. Este reflexo aprendido é fruto da associação repetida entre esse estímulo, que anteriormente não causava nenhuma resposta, com outro que é capaz de causá-la. Esse aprendizado por associações é chamado de condicionamento clássicoEssa descoberta foi uma grande contribuição de Ivan Pavlov para a teoria da aprendizagem na psicologia, pois mostrava o mecanismo mais básico pelo qual pessoas e animais eram capazes de entender as relações entre estímulos, aprender novas respostas, variar e adaptar sua conduta com base nelas. Portanto, Pavlov introduz e demonstra um dos princípios básicos da teoria da aprendizagem. Os princípios básicos subjacentes ao condicionamento clássico de Pavlov se estenderam a uma variedade de configurações, como salas de aula e ambientes de aprendizado

O experimento mais importante entre estes, foi realizado em alguns cães; ele descobriu que o cão produzia saliva não só quando os alimentos entravam em contato direto com receptores de paladar, mas também na ausência desse fenômeno. A reação do animal ocorreu com a presença das seguintes condições:

- a presença de um estímulo sensorial que, por sua natureza, produz uma resposta; por exemplo, carne na língua do cão: ESTÍMULO INCONDICIONAL.

- a presença de um estímulo sensorial que não necessariamente condiciona essa reação; por exemplo, o som de um sino que por sua natureza não emite saliva: ESTÍMULO NEUTRO

- a apresentação desses dois estímulos (carne e sino) em uma sucessão temporal, até que o estímulo, normalmente não capaz de produzir a resposta (o som), não se torne adequado para dar uma resposta semelhante à do estímulo original: ESTÍMULO CONDICIONADO.

Graças ao condicionamento clássico os indivíduos aprendem; na verdade, suas respostas incondicionais também podem desencadear com uma série de estímulos inicialmente indiferentes. O organismo através da experiência aprende a responder a estímulos aos quais não estava acostumado a responder. Pavlov entendeu que o significado do condicionamento reside no fato de ser funcional à adaptação dos organismos ao seu ambiente. Com essas teorias, ele fez contribuições consideráveis para a psicologia da aprendizagem, embora ele sempre tenha permanecido convencido de que era médico-fisiologista e não psicólogo.


Comenius


Comenius, nome latinizado do humanista tcheco Jan Amos Komensky, nome original de , nasceu em 28 de março de 1592, na cidade de Uhersky Brod (ou Nivnitz), na Moravia, região da Europa central pertencente ao antigo Reino da Boêmia (atual República Tcheca). Escreveu sua obra-prima. A grande didática, em 1638. Suas concepções humanistas e pedagógicas fazem dele um precursor da educação moderna. Com a morte dos pais, vence muitas adversidades e estudou Teologia na Faculdade Calvinista de Herbon (Nassau) onde foi aluno de Alsted e se familiarizou com a obra de Ratke sobre o ensino das Línguas. Começou nessa época a elaboração de um Glossário Latino-Checo no qual trabalhou cerca de 40 anos e que perdeu quando Leszno, cidade em que então vivia (1656) foi invadida por um exército católico e incendiada.

Comenius

    Com 26 anos de idade, regressa à Morávia. Foi professor na sua antiga escola e tornou-se pastor religioso em Fulnek. Assume então o encargo de dirigir as escolas do Norte da Morávia. Mas a insurreição da Boemia, que praticamente dá início à guerra dos 30 anos, vai marcar em definitivo a sua vida.
     A guerra político-religiosa e que foi também uma guerra civil com brutal perseguição aos não católicos, obrigou Comenius a deixar a sua igreja e a entrar em clandestinidade. As perseguições religiosas acentuam-se e Comenius trabalha para ajudar os seus irmãos na fé.

      Expulso da Boemia em 1628, refugiou-se em Leszno, na Polônia. A partir daí, e durante 42 anos, percorre a Europa (não católica) trabalhando sem descanso pelo seu país e pelos projetos científicos e educacionais que o movem. Alimenta e divulga o seu sonho reformista de, por meio da Pansophia, promover a harmonia entre os indivíduos e as nações. Desenvolve então suas principais idéias sobre educação e aprofunda um dos grandes problemas epistemológicos do seu tempo – que era o do método. Escreveu a Janua Linguarum Reserata e a Didactica Magna (1633-38), sempre buscando seus objetivos fundamentais "de uma reforma radical do conhecimento humano e da educação" – unidos e sistematizados numa ciência universal.

      Alguns amigos tentaram fazê-lo sair de Leszno e fizeram chegar o seu trabalho ao conhecimento de Luis de Geer, filantropo sueco de origem alemã. Foram esses mesmos amigos que publicaram uma obra sua, com o título Prodomus Pansophiae, livro esse que mereceu a atenção do próprio Descartes. Em 1641, vai para Londres com a missão de estabelecer algum entendimento entre o Rei e o Parlamento, e fundar um círculo de colaboração pansófica. Aí permaneceu durante um ano.

      Em 1642 recebe um convite de Luís de Geer e do governo de Estocolmo para promover a reforma do sistema escolar da Suécia, onde permaneceu por seis anos, porém, sua missão na Suécia não teve o êxito esperado, pois suas idéias, particularmente as religiosas, não foram bem aceites pelos luteranos suecos. Em 1648 estabelece-se em Elbing, na Prússia oriental, (então território sueco) e escreve o Novissima Linguarum Methodus, publicado em Leszno. Começou nova obra com vistas à reforma universal da sociedade, trabalho este que o autor não chegou a concluir e que era o De rerum humanorum emendatione Consultatio catholica ; sendo que segundo muitos autores esta obra inacabada é a que mostra de modo mais claro a grande consistência entre o seu pensamento filosófico, educacional e social.

     Comenius foi o criador da Didática Moderna e um dos maiores educadores do século XVII; já no século 17, ele concebeu uma teoria humanista e espiritualista da formação do homem que resultou em propostas pedagógicas hoje consagradas ou tidas como muito avançadas. Entre essas ideias estavam: o respeito ao estágio de desenvolvimento da criança no processo de aprendizagem, a construção do conhecimento através da experiência, da observação e da ação e uma educação sem punição, mas com diálogo, exemplo e ambiente adequado. Comenius pregava ainda a necessidade da interdisciplinaridade, da afetividade do educador e de um ambiente escolar arejado, bonito, com espaço livre e ecológico. Estão ainda entre as ações propostas pelo educador checo: coerência de propósitos educacionais entre família e escola, desenvolvimento do raciocínio lógico e do espírito científico e a formação do homem religioso, social, político, racional, afetivo e moral.

     Todos os pesquisadores são unânimes em apontar a Didacta Magna ou A Grande Didacta, como sendo sua obra-prima e sua maior contribuição para o pensamento educacional. Comenius escreveu ainda O Labirinto do Mundo (1623), Didactica checa (1627), Guia da Escola Materna (1630), Porta Aberta das Línguas (1631), Didacta Magna (versão latina da Didactica checa) (1631), Novíssimo Método das Línguas (1647), O Mundo Ilustrado (1651), Opera didactica omnia ab anno 1627 ad 1657 (1657), Consulta Universal Sobre o Melhoramento dos Négocios Humanos (1657), O Anjo da Paz (1667) e A Única Coisa Necessária (1668) entre outros.

  Continuou a ter uma vida bastante atribulada e movimentada, produzindo cerca de 200 títulos, vindo a morrer no dia 15 de novembro de 1670, em Amsterdam.

 Comenius: o Pai da Didática Moderna

    Comenius, uma voz quase solitária em seu tempo, defendia a escola como o "locus" fundamental da educação do homem, sintetizando seus ideais educativos na máxima: "Ensinar tudo a todos", e que para ele (1997, p.95), significava os fundamentos, os princípios que permitiriam ao homem se colocar no mundo não apenas como espectador, mas, acima de tudo, como ator.

   O objetivo central da educação comeniana era formar o bom cristão, o que deveria ser sábio nos pensamentos, dotado de verdadeira fé em Deus e capaz de praticar ações virtuosas, estendendo-se à todos: os pobres, os portadores de deficiências, os ricos, às mulheres.

  Suas concepções teóricas apresentavam consistência na articulação entre suas diversas facetas: do filosófico ao religioso, passando  pela organização e divulgação do saber, pelo processo educativo de todos, e pela reforma da sociedade; mas, nem por isso pode garantir que fossem postas em prática de uma maneira mais ampla ou que obtivessem à sua época  um maior reconhecimento de seus pressupostos inovadores; logicamente no contexto histórico da época e também da trajetória de vida do autor. Não podemos desvincular o que uma pessoa faz, da sua filosofia de vida, seus ideais, sonhos, frustrações e experiências. Sua obra deve ser analisada no contexto em que surgiu: o Renascimento e a Reforma religiosa.

   No que diz respeito à Educação o ideal pansófico evidencia-se no desejo e possibilidades de ensinar tudo e todos. Esta necessidade se forjava e se sustentava na crença de que Deus, em sua infinita bondade, colocara a redenção ao alcance da maioria dos seres humanos, mas para tanto era necessário educá-los convenientemente. Dizendo em outras palavras, para o autor, negar oportunidades educacionais era antes ofender a Deus do que aos homens. A Pansophia constitui uma forma de organização do saber, um projeto educativo e um ideal de vida. Para que se obtenha esse ideal o processo a ser desenvolvido é a Pampaedia , ou educação universal através da qual se conseguirá a reforma global das "coisas humanas" e um mundo perfeito ou Panorthosia.

    Comenius aponta como necessária a constante busca do desenvolvimento do indivíduo e do grupo, pois um melhor conhecimento de si mesmo e uma melhor capacidade de autocrítica levam a uma melhor vida social, assim como deve haver a solidez moral que pode ser conseguida por meio da educação. Para ele, didática é ao mesmo tempo processo e tratado. É tanto o ato de ensinar como a arte de ensinar.

   A arte de ensinar é sublime pois destina-se a formar o homem, é uma ação do professor no aluno, tornando-o diferente do que era antes. Ensinar pressupõe conteúdo a ser transmitido, e eles são postos pela própria natureza: são a instrução, a moral e a religião. O conhecimento que temos da natureza serve de modelo para a exploração e conhecimento de nós próprios. Mas não é a natureza "natural" o exemplo a ser imitado, mas a natureza "social". Sua proposta pedagógica dirige-se sobretudo à razão humana, convocando-a a assumir uma atitude de pesquisa diante do universo e de visão integrada das coisas. Pretendia que o homem deve ser educado com vistas à eternidade, pois, sendo Espírito imortal, sua educação deveria transcender a mera realização terrena.

     Salientava a importância da educação formal de crianças pequenas e preconizou a criação de escolas maternais por toda parte, pois deste modo as crianças teriam oportunidades de adquirir desde cedo as noções elementares das ciências que estudariam mais tarde.

     Comenius defendia a ideia de que a aprendizagem se iniciava pelos sentidos pois as  impressões sensoriais obtidas através  da experiência com objetos seriam internalizadas e, mais tarde, interpretadas pela razão. Seu método didático constituiu-se basicamente de três elementos: compreensão, retenção e práticas. Através delas se pode chegar a três qualidades fundamentais: erudição, virtude e religião, a quais correspondem três faculdades que é preciso adquirir: intelecto, vontade e memória.

 O método deve seguir os seguintes momentos:

   tudo o que se deve saber deve ser ensinado;

  qualquer coisa que se ensine deverá ser ensinada em sua aplicação prática, no seu uso definido;

  - deve ensinar-se de maneira direta e clara;

 ensinar a verdadeira natureza das coisas, partindo de suas causas;

- explicar primeiro os princípios gerais;

ensinar as coisas em seu devido tempo;

não abandonar nenhum assunto até sua perfeita compreensão;

dar a devida importância às diferenças que existem entre as coisas.

     A obra de Comenius constitui-se num paradigma do saber sobre a educação da infância e da juventude, através de uma "nova tecnologia social": a escola. A Didática Magna apresenta as características fundamentais da instituição escolar moderna. Entre elas podemos apontar: a construção da infância moderna já como forma da uma pedagogização dessa infância por meio da escolaridade formal; uma aliança entre a família e a escola por meio da qual a criança vai se soltando a influência da órbita familiar para a órbita escolar; uma forma  de organização da transmissão dos saberes baseada no método de instrução simultânea, agrupando-se os alunos e, não menos importante, a construção de um lugar de educador, de mestre, reservado para o adulto portador de um saber legítimo.

O método único e seus fundamentos naturais

 "não se consegue de uma só semente produzir a mesma árvore? De um só método farei alunos capazes!"

 Eis as razões pelas quais para o autor, o uso de um só método se justifica:

   - o fim é o mesmo: sabedoria, moral e perfeição;

   - todos são dotados da mesma natureza humana, apesar de terem inteligências diversas;

  - a diversidade das inteligências é tão somente um excesso ou deficiência da harmonia natural;

  - o melhor momento para remediar excessos e deficiências acontece quando as inteligências são novas.

Fonte: Didática Magna, Iohannis Amos Comenius, versão para eBook: eBooksBrasil.com


Anísio Teixeira

      Anísio Spínola Teixeira (nasceu em Caetité (BA), em 12 de julho de 1900 - Rio de Janeiro (RJ) 1971) membro de uma família de fazendeiros. Estudou em colégios jesuítas em Caetité e em Salvador. Em 1922, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, no Rio de Janeiro.

Anísio Teixeira

    Diretor de Instrução do Estado da Bahia (1924), diretor do Departamento de Educação (1932), secretário de Educação e Cultura do Distrito Federal (1935), quando, por iniciativa sua, foi instituída a Universidade Do Distrito Federal. Exerceu, em Londres, as funções de conselheiro para o ensino superior, na Unesco (1946-1947). A partir de 1952, diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos(INEP). 

    Dominando completamente a teoria pedagógica de seu tempo, Anísio penetrou com as luzes do seu pensamento, em 40 anos de fecundo trabalho, todos os graus, ramos e níveis da educação brasileira. Condições históricas a ele se aliaram - arguto pesquisador e extraordinário observador que era - para aglutinar em duas etapas a única geração que a ciência pedagógica conheceu no Brasil até aqui.

    Em 1928, estudou na Universidade de Columbia, em Nova York, onde se torna no Master of Arts aluno de John Dewey e de William Kilpatrick. Este estreito e prolongado contato incide não sobre as teorias experimentalistas, herdado dos fisiologistas no primeiro quarto deste século, ou sobre os estudos das funções mentais notadamente a inteligência, e que tanto interessavam a Dewey, mas incide sobretudo na organização da cultura, para daí retirar os subsídios indispensáveis à construção da pedagogia entre nós no Brasil.

   Em 1930 a Revolução traz Anísio Teixeira para o Distrito Federal. O ocaso da República Velha enche brasileiros de esperanças democráticas. Com elas a função social da escola consequentemente se amplia. A escola primária pública, comum e obrigatória mobiliza a elite intelectual de então. O povo bate às portas da escola média e luta com consciência mais larga pelo seu acesso à escola. 

    Em 1931, foi nomeado secretário de Educação do Rio. Em sua gestão, criou uma rede municipal de ensino completa, que ia da escola primária à universidade.

    A experiência na América levou Anísio ao encontro com a cultura brasileira. Nesta fase é que nasce, para nós brasileiros, a ciência pedagógica; e, por assim dizer, pedagogicamente, entre nós, o alvorecer do século XX. Sobrevém o Manifesto da Escola Nova de 1932.

    Em abril de 1935, completou a montagem da rede de ensino do Rio com a criação da Universidade do Distrito Federal (UDF). Ao lado da Universidade de São Paulo (USP), inaugurada no ano seguinte, a UDF mudou o ensino superior brasileiro, mas ela foi extinta em 1939, durante o Estado Novo.

    Em 1935, perseguido pelo governo de Getúlio Vargas, Anísio refugiou-se em sua cidade natal, onde viveu até 1945. Nesse período, não atuou na área educacional e se tornou empresário.

    Em 1946, ele assumiu o cargo de conselheiro da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). No ano seguinte, com o fim do Estado Novo, voltou ao Brasil e novamente tomou posse da Secretaria de Educação de seu Estado. Nessa gestão, criou, em 1950, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador, a Escola Parque.

    As décadas de 50 e 60 vão encontrar um Anísio planejador. Mas, seu postulado social impregnava: era preciso municipalizar o ensino, uma de suas teses mais brilhantes. Era necessário entregar às comunidades os destinos da educação de seus habitantes. Era preciso regionalizar a ciência pedagógica, regionalizar a escola e o currículo escolar, preparando o povo para as tarefas de cuidar de seu destino. Anísio Teixeira participou do Conselho Federal de Educação, e o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) é criado com seus Centros Regionais de Pesquisa Pedagógica em diferentes Estados da Federação.

   Em 1951, assumiu o cargo de secretário-geral da Campanha de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (Capes) e, no ano seguinte, o de diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), onde ficou até 1964.

    No INEP nasceu a ciência pedagógica no Brasil, pois, bem lembra José Reis, em nosso país como na história em geral, a ciência começou fora das universidades, não porém em academias, mas em institutos criados pela visão de grandes governantes. O INEP, sob a liderança e o comando de Anísio Teixeira, foi convertido em verdadeiro centro de pesquisas avançadas de educação, digno das mais notáveis instituições europeias no gênero. Para tanto, o Instituto ficou dotado de quatro grandes divisões: de Estudo e Pesquisas Educacionais, de Estudos e Pesquisas Sociais, de Aperfeiçoamento do Magistério, de Informação, Documentação e Bibliografia Pedagógica. O Instituto fez editar as publicações Revista brasileira de estudos pedagógicos e Educação e ciências sociais, com a colaboração de intelectuais, pedagogos e cientistas brasileiros e estrangeiros, aglutinando poderosos cérebros que possibilitaram, sem dúvida, o pensar a renovação universitária brasileira.

    Implantou pioneiramente a educação pré-escolar com a "Reforma do Distrito Federal" de 1931.

   Apoiou o movimento intelectual de sua época e que nortearam a criação da universidade de São Paulo, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, da Escolinha de Arte do Brasil, da Sociedade Pestalozzi do Brasil, da Fazenda do Rosário, os dois últimos voltados para a criança carenciada.

    Reuniu as escolas primária e média e promoveu a criação do ginásio único e pluricurricular.

  Implantou a pós-graduação para consolidar a função docente em alto nível.

    Anísio foi um dos idealizadores da Universidade de Brasília (UnB), fundada em 1961. Ele entregou a Darcy Ribeiro, que considerava como seu sucessor, a condução do projeto da universidade. Em 1963, tornou-se reitor da UnB. Com o golpe de 1964, acabou afastado do cargo. Foi para os Estados Unidos, lecionar nas universidades de Columbia e da Califórnia.

    Voltou ao Brasil em 1965. Em 1966, tornou-se consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 Obras: Aspectos americanos de educação (1928); Vida e educação (introdução à pedagogia pragmática de Dewey) (1930); Educação progressiva (introdução à filosofia de educação inspirada em Dewey e outros pensadores norte-americanos e ingleses (1932); Em marcha para a democracia (1934). No Estudo que trata da Universidade e liberdade humana (1954), como no livro A educação e a crise brasileira (1956) e no trabalho Educação não é privilégio (1957), defende a necessidade de ajustar a educação à diversidade das condições concretas, fazendo dela um instrumento de mudança e progresso.

     Em  em 11 de março de 1971, trágica morte no Rio de Janeiro, de modo misterioso. Onde o seu corpo foi encontrado no poço do elevador de um edifício no começo da Avenida Rui Barbosa, no Rio. 


GAGNÉ

  


ROBERT MILLS GAGNÉnasceu em 1916 na cidade de Andover Norte, Massachusetts, Estados Unidos e morreu em 2002. Seu trabalho mais conhecido é o livro "Como se realiza a aprendizagem". Recebeu Ph.D. em psicologia no ano de 1940, e lecionou na Universidade de Connecticut, para mulheres, de 1940 a 1949. Foi diretor de pesquisa do laboratório da força aérea dos EUA, e consultor do departamento de defesa. Em 1962 publicou um artigo intitulado "Treinamento militar e os princípios da aprendizagem", teorias que revelar sua linha de pensamento, onde dá especial atenção aos valores dos treinamentos militares.


GAGNÉ

As investigações de Gagné nas bases psicológicas do ensino eficaz conduziram-lhe a acreditar que uma tecnologia ou uma teoria instrutiva deve ir além da teoria tradicional de aprendizagem. Ele teve forte influência sob os processos de aprendizagem e trouxe grandes contribuições para o meio educacional onde ele reflete sobre o papel fundamental da motivação, dos conhecimentos prévios e da rememoração como resposta da aprendizagem numa teoria denominada Teoria da Instrução. Os cinco tipos de aprendizado descritos por Gagné são os seguintes: habilidades motoras, informações verbais, habilidades intelectuais, habilidades e estratégias cognitivas e atitudes.

Em 1968 publicou "Hierarquias de aprendizagem", e quatro anos depois adianta seu trabalho identificando cinco categorias originais de aprendizagem: informação verbal; habilidades intelectuais; atitudes; habilidades motoras e estratégias de raciocínio. Gagné chama de hierarquia de aprendizagem as habilidades mais simples enquanto pré-requisitos imediatos que possibilitam a identificação de outras habilidades muito mais simples das quais são formadas. Isso significa um mapa das habilidades subordinadas a alguma habilidade mais complexa que deve ser aprendida. Como ápice desse estudo, publica em 1972 "Domínios da aprendizagem". O alvo principal da teoria de Gagné é ajudar na instrução em sala de aula. Sua teoria principal é que existem diferentes tipos de aprendizado e que, dependendo das condições ambientais que ocorrem, eles serão ativados um ao outro a qualquer momento. Gagné considerou que o conhecimento é criado devido à inter-relação entre uma pessoa e o ambiente em que ela se encontra. Assim, o ambiente é capaz de produzir mudanças em nosso comportamento, atitudes e pensamentos. Sendo assim, quando nosso ambiente muda, nosso conhecimento também muda.

A respeito de seu trabalho, Gagné disse: "Minha escrita começou com artigos em jornais científicos que relatam estudos da aprendizagem humana. Minha experiência como psicólogo da Força Aérea dos Estados Unidos na segunda guerra mundial influenciou em mim uma atitude positiva para aplicações das teorias do conhecimento da aprendizagem. Durante 25 anos passados eu escrevi os artigos e os livros que tentam interpretar e aplicar as descobertas da pesquisa da aprendizagem, e teoria da aprendizagem, para educar principalmente a aprendizagem. Para Gagné, a aprendizagem é um processo interno visível de mudança nas capacidades do indivíduo e ocorre principalmente na interação do sujeito com o seu ambiente físico, social e psicológico.

 A TEORIA DE GAGNÉ

No pensamento de Robert Gagné, a aprendizagem é um processo que permite a organismos vivos modificarem seus comportamentos de maneira bastante rápida e de modo mais ou menos permanente.

Gagné destacou a importância de uma hierarquia de tipos de aprendizagem que vai da mais simples associação de estímulos à complexidade da solução de problemas.

Sua tipologia ou classificação de tipos de aprendizagem é interessante porque cada tipo exige estratégias de ensino mais adequadas que outras.

 Os tipos são:

 - Aprendizagem de signos

Qualquer coisa que substitui ou indica outra coisa graças a algum tipo de associação entre elas.

- Aprendizagem do estímulo-resposta

- Condicionamento operante"

- Aprendizagem em cadeia

Estabelecimento de associação Estrutura-semântica entre duas palavras.

- Aprendizagem de associações verbais

- Aprendizagem de descriminações múltiplas

Associação de vários elementos envolvendo também suas discriminações.

- Aprendizagem de conceitos

- Aprendizagem de princípios

Um princípio é uma relação entre dois conceitos.

- Aprendizagem de resolução de problemas

Consiste em elaborar um novo princípio combinando princípios já aprendidos.

O significativo destas classificações são aqueles tipos diferentes de aprendizagem que requer tipos diferentes de instrução. Assim, Gagné identifica cinco categorias maiores de aprendizagem: 

- Informação verbal

- Habilidades intelectuais

- Estratégias do cognitivo

- Habilidade motora

- Atitudes

Segundo Gagné não basta ver o comportamento do aprendiz, porém é importante analisar o processo de aprendizagem (modelo de aprendizagem e memória).

A educação não é como um simples veículo transmissor de conhecimentos, mas um processo destinado a provocar uma mudança nas disposições ou capacidades do sujeito. Com caráter de relativa permanência, essa mudança pode consistir no aumento de capacidade de realizações ou ainda numa modificação de atitudes e interesses de valores.

Gagné compartilha dos enfoques behavioristas e cognitivistas em sua teoria, para ele as fases da aprendizagem se apresentam associadas aos processos internos que, por sua vez podem ser influenciados por processos externos. Na aprendizagem, a combinação da nova aprendizagem com uma já aprendida é a forma da solução de problemas. Seria uma forma nova da evolução da aprendizagem. Desta forma, chega-se às estratégias mentais, ao aprender e à pensar.

 

Ovide Decroly

Ovide Decroly, pedagogo belga ( nasceu em Renaix(1871) e morreu em Bruxelas (1932). Suas pesquisas em psicologia infantil levaram-no, como a Maria Montessori, à criação de um novo sistema de ensino primário. Para Decroly, a finalidade da Educação seria preparar a criança para a vida. Daí o lema que indicava: "Escola para a vida". Partindo de tal princípio, defendia a acomodação do ensino aos diversos tipos de evolução, levando-se em conta a constituição pessoal e as exigências do meio. donde a necessidade de testes, a fim de obter-se o máximo rendimento do ensino. As crianças devem ser organizadas em classes homogêneas, e as anormais, reunidas em classes especiais. Alguns professores brasileiros fizeram aplicação do sistema de Decroly, como Lourenço Filho e Abner de Moura.

Ovide Decroly

Suas obras principais são: Casos de psicologia individual e de psicologia experimental (1908); Função de Globalização (1923); Evolução da afetividade (1927); Desenvolvimento da Linguagem (1930).

    Sua obra educacional destaca-se pelo valor que colocou nas condições do desenvolvimento infantil; destaca o caráter global da atividade da criança e a função de globalização do ensino. Como pioneiro da chamada Educação Nova, a pedagogia de Decroly é baseada na noção de centros de interesse, um sistema de conhecimentos reagrupados em torno dos interesses e das necessidades fundamentais da criança, a partir do qual se elaboram estudos temáticos. Outra característica é a abordagem global da realidade concreta e da vida, o que o impulsionou a propor um novo método de leitura "global". Além disso, ele atribuiu grande importância aos jogos educativos e às atividades "naturais" (trabalhos manuais, jardinagem, etc.).

     Suas teorias têm um fundamento psicológico e sociológico e podemos resumir os critérios de sua metodologia no interesse e na auto avaliação. Promove o trabalho em equipe, mas, mantendo a individualidade do ensino com o fim de preparar o educando para a vida. A ausência de ideais religiosos é uma das características de seu modelo pedagógico.

     Como consequência de sua formação tinha a convicção de que somente uma formação científica rigorosa pode ajudar na busca de soluções para os problemas que a humanidade apresenta. Sua proposta contém diversos elementos: um método de análise, uma ética e uma filosofia fortemente impregnadas de cientificismo, influenciado pela corrente filosófica racionalista, especialmente de H. Spencer.

     Postulava que a escola, considerada a instituição humana mais elevada, devia modificar-se de maneira profunda. Sua crítica sobre a escola era bastante severa, já que segundo ele, não cumpria com seus propósitos e para ele o futuro de um povo dependia da organização e influência da escola.

     Para ele, a educação não se constitui em uma preparação para a vida adulta; a criança deve aproveitar sua juventude e resolver as dificuldades compatíveis ao seu momento de vida.

     Como pressuposto básico postulava que a necessidade gera o interesse, verdadeiro móvel em direção ao conhecimento. Essas necessidades básicas do homem em sua troca com o meio, seriam: a alimentação, a defesa contra intempéries, a luta contra perigos e inimigos e o trabalho em sociedade, descanso e diversão. 

     Desse pressuposto deriva sua proposta de organização da escola.

Seu método, mais conhecido como centros de interesse, destinava-se especialmente às crianças das classes primárias. Nesses centros, a criança passava por três momentos:

OBSERVAÇÃO: não acontece em uma lição, nem em um momento determinado da técnica educativa, pois, deve ser considerada como uma atitude, chamando a atenção do aluno constantemente.

ASSOCIAÇÃO: permite que o conhecimento adquirido pela observação seja entendido em termos de tempo e espaço.

EXPRESSÃO: por esse meio a criança poderia externar sua aprendizagem, através de qualquer meio de linguagem, integrando os conhecimentos adquiridos, de maneira globalizadora. A expressão seria a culminância do processo e nela pode-se destacar: Expressão concreta (materialização das observações e criações pessoais; se traduz em desenho livre, trabalhos manuais...).

    Expressão abstrata (materialização do pensamento através de símbolos e códigos convencionais; apresenta-se no texto livre, linguagem matemática, musical...).

      Para ele a atividade globalizadora se exerce de maneira espontânea e permite aquisições como a linguagem, o conhecimento sobre o meio material, vivo e social, assim como a adaptação a uma série de formas de atividades.

    De acordo com *Zabala (p.203, 2002) as justificativas de Decroly baseiam-se em argumentos pragmáticos baseados em sua experiência:

    "A criança é o ponto de partida do método". O fato de partir de uma base biopsicológica e da observação sistemática facilita a percepção de que as diferenças individuais tanto em relação às aptidões, quanto ao tempo de maturação são muito grandes e a origem desse tipo de diversidade encontra-se no próprio indivíduo e no ambiente. Deste modo, a criança é um ser biológico que se adapta evolutivamente às mudanças de seu entorno.

    O respeito à personalidade do aluno. "A educação deve estar para a vida e mediante a vida. A resposta à imobilidade que condena a uma escola passiva é o ensino ativo, que permite ao aluno ou à aluna atuar como o inventor ou o artista, ou seja, fazendo tentativas - ensaios e erros". (Decroly).

    O interesse é a chave de toda a aprendizagem eficaz, mas não qualquer interesse e sim, aquele que advém das necessidades primárias e da manifestação dos instintos.

    A vida como educadora. A eficácia do meio é decisiva. Pelo fato de considerar as aquisições que a criança adquiriu antes de ir para a escola leva Decroly a pensar que a maioria das aprendizagens ocorre de maneira espontânea, pelo contato com o meio imediato.

    As crianças são seres sociais. A escola precisa ser pensada de forma a favorecer o desenvolvimento das tendências sociais latentes na pessoa.

    A atividade mental é organizada em muitos aspectos pela função globalizadora e pelas tendências que predominam nos sujeitos. Decorrem disto as diversas significações que adquirem os objetos, os acontecimentos, etc., para cada pessoa em cada momento de sua vida.

    Concedia muita importância à natureza.

    O principal valor que o preocupava era a liberdade e como conciliar as liberdades individuais com as coletivas.

     Não havia um programa pré fixado. Do ato de comer poderia surgir o estudo da alimentação, a origem dos alimentos, sua classificação, os preços, o preparo, a produção. E, com a curiosidade infantil e o desenvolvimento das crianças, surgiriam noções de geografia, história, ciências, redação, desenho, matemática.

     Decroly não esquece de nada que a escola devesse ensinar à criança; o que ele fez foi transformar a maneira de aprender e ensinar, adequando-as à psicologia infantil. Os exercícios de observação, fundamento das aprendizagens, fazem a inteligência trabalhar com materiais recolhidos pelos sentidos e pela experiência da criança, levando em conta seus interesses. Contrariamente à Montessori, Decroly estimula o uso pela criança de objetos concretos, do mundo real, recorrendo à experiência direta e à intuição. Como Claparède, concedeu amplo espaço ao jogo.

     Não existe uma síntese "doutrinal" reunida por ele do conjunto de suas concepções e princípios educativos ou suas investigações sobre psicologia, o que implica numa certa dificuldade para estudar o conjunto de seus textos.

     Algumas críticas feitas às concepções pedagógicas aqui expostas, apontam que as necessidades básicas postuladas por ele, são as dos adultos, e não a das crianças. E ainda, a de que, o objetivo do trabalho escolar continua sendo a aquisição de conhecimentos predeterminados, pois, os centros de interesse, apenas fariam uma reorganização dos conhecimentos contidos nas matérias escolares, apesar de proporem atividades que vão do empírico ao abstrato e também que deixa de lado a realidade socioeconômica e cultural em que as crianças estão imersas. Alguns autores consideram que o projeto decroliano baseou-se nas preocupações da classe intelectual dirigente de seu tempo: este contexto cultural, social, econômico, político e ideológico constituíram a fundamentação de onde surgiram as bases de quem fundou em 1907, em Bruxelas, a escola de L'Ermitage, com o lema " a escola por e para a vida"


 

Henri Wallon

 


Henri Wallon, médico e psicólogo nasceu na França em 1879. especializou-se em psicologia infantil e lecionou na Sorbonne e em seguida no Collége de France. Antes de chegar à psicologia passou pela filosofia e medicina e  ao longo de sua carreira foi cada vez mais explícita a aproximação com a educação. Sua obra está centrada na noção de desenvolvimento afetivo e intelectual da criança. Wallon foi o primeiro a levar em consideração as  emoções da criança  no contexto da sala de aula. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação individual da criança. Suas Principais obras são: As origens do caráter na criança (1934-1949), Do ato ao pensamento (1942), As origens do pensamento na criança (1945).


 Henri Wallon


    Em 1902, com 23 anos, formou-se em filosofia pela Escola Normal Superior, cursou também medicina, formando-se em 1908.Viveu num período marcado por instabilidade social e turbulência política. As duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45), o avanço do fascismo no período entre guerras, as revoluções socialistas e as guerras para libertação das colônias na África atingiram boa parte da Europa e, em especial, a França. Em 1914 atuou como médico do exército francês, permanecendo vários meses no front de combate. O contato com lesões cerebrais de ex-combatentes fez com que revisse posições neurológicas que havia desenvolvido no trabalho com crianças deficientes. Até 1931 atuou como médico de instituições psiquiátricas. Paralelamente à atuação de médico e psiquiatra consolida-se seu interesse pela psicologia da criança. Na Segunda Guerra atuou na Resistência Francesa contra os alemães, foi perseguido pela Gestapo, teve que viver na clandestinidade. De 1920 a 1937, é o encarregado de conferências sobre a psicologia da criança na Sorbonne e outras instituições de ensino superior. Em 1925 funda um laboratório destinado à pesquisa e ao atendimento de crianças ditas deficientes. Ainda em 1925 publica sua tese de doutorado “A Criança Turbulenta”. Inicia um período de intensa produção com todos os livros voltados para a psicologia da criança. O último livro “Origens do pensamento na criança’, em 1945. Em 1931 viaja para Moscou e é convidado para integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se reuniam com o objetivo de aprofundar o estudo do materialismo dialético e de examinar as possibilidades oferecidas por este referencial aos vários campos da ciência.
    Neste grupo o marxismo que se discutia não era o sistema de governo, mas a corrente filosófica. Em 1942, filiou-se ao Partido Comunista, do qual já era simpatizante. Manteve ligação com o partido até o final da vida. Em 1948 cria a revista ‘Enfance”. Neste periódico, que ainda hoje tenta seguir a linha editorial inicial, as publicações servem como instrumento de pesquisa para os pesquisadores em psicologia e fonte de informação para os educadores. Faleceu em 1962.

A ABORDAGEM DE HENRI WALLON  

 A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social, ou seja, "o ser humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar" (Dantas, 1992). Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na psicogênese da pessoa completa.

Henri Wallon reconstruiu o seu modelo de análise ao pensar no desenvolvimento humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança. Assim, o desenvolvimento da criança aparece descontínuo, marcado por contradições e conflitos, resultado da maturação e das condições ambientais, provocando alterações qualitativas no seu comportamento em geral.

Wallon realiza um estudo que é centrado na criança contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa profundas mudanças nas anteriores. Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por reformulação, instalando-se no momento da passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança.

Conflitos se instalam nesse processo e são de origem exógena quando resultantes dos desencontros entre as ações da criança e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e pela cultura e endógenos e quando gerados pelos efeitos da maturação nervosa (Galvão, 1995). Esses conflitos são propulsores do desenvolvimento.

 Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por Galvão (1995) sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva:

Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de vida. A predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, às quais intermediam sua relação com o mundo físico; Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos. A aquisição da marcha e da apreensão, dão à criança maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-se ao fato de a ação do pensamento precisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental "projeta-se" em atos motores. Como diz Dantas (1992), para Wallon, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor;

Personalismo, ocorre dos três aos seis anos. Nesse estágio desenvolve-se a construção da consciência de si mediante as interações sociais, reorientando o interesse das crianças pelas pessoas;

Categorial. Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior;

Predominância funcional. Ocorre nova definição dos contornos da personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.

Na sucessão de estágios há uma alternância entre as formas de atividades e de interesses da criança, denominada de "alternância funcional", onde cada fase predominante (de dominância, afetividade, cognição), incorpora as conquistas realizadas pela outra fase, construindo-se reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação.

Wallon, deixou-nos uma nova concepção da motricidade, da emotividade, da inteligência humana e, sobretudo, uma maneira original de pensar a Psicologia infantil e reformular os seus problemas. 

Psicogênese da Pessoa Completa 

Wallon procura explicar os fundamentos da psicologia como ciência, seus aspectos epistemológicos, objetivos e metodológicos.
Admite o organismo como condição primeira do pensamento, pois toda a função psíquica supõe um componente orgânico. No entanto, considera que não é condição suficiente, pois o objeto de ação mental vem do ambiente no qual o sujeito está inserido, ou seja, de fora. Considera que o homem é determinado fisiológica e socialmente, sujeito às disposições internas e às situações exteriores.

Psicologia Genética 

A psicologia genética estuda os processos psíquicos em sua origem, parte da análise dos processos primeiros e mais simples, pelos quais cronologicamente passa o sujeito. Para Wallon essa é a única forma de não dissolver em elementos separados e abstratos a totalidade da vida psíquica. Wallon propõe a psicogênese da pessoa completa, ou seja, o estudo integrado do desenvolvimento. Considera que não é possível selecionar um único aspecto do ser humano e vê o desenvolvimento nos vários campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil (afetivo, motor e cognitivo).

Para ele o estudo do desenvolvimento humano deve considerar o sujeito como “geneticamente social” e estudar a criança contextualizada, nas relações com o meio. Wallon recorreu a outros campos de conhecimento para aprofundar a explicação do fatores de desenvolvimento (neurologia, psicopatologia, antropologia, psicologia animal).

Para ele a atividade do homem é inconcebível sem o meio social; porém as sociedades não poderiam existir sem indivíduos que possuam aptidões como a da linguagem que pressupõe uma conformação determinada do cérebro,  haja vista que certas perturbações de sua integridade, privam o indivíduo da palavra. Vemos então que para ele não é possível dissociar o biológico do social no homem. Esta é uma das características básicas da sua Teoria do Desenvolvimento.

De acordo com Dantas (1992) Wallon concebe o homem como sendo genética e organicamente social e a sua existência se realiza entre as exigências da sociedade e as do organismo. 

Manteve interlocução com as teorias de Piaget e Freud. 

Destacava na teoria de Piaget as contradições e dessemelhanças entre as suas teorias, pois considerava esse o melhor procedimento quando se busca o conhecimento. Por parte de Piaget existia uma constante disposição em buscar a continuidade e complementariedade de suas obras. Os dois se propunham a análise genética dos processos psíquicos, no entanto, Wallon pretendia a gênese da pessoa e Piaget a gênese da inteligência.

Com a psicanálise de Freud mantém uma atitude de interesse e ao mesmo tempo de reserva. 
Embora com formação similar (neurologia e medicina) a prática de atuação os levou a caminhos distintos. Freud abandonando a neurologia para dedicar-se a terapia das neuroses e Wallon mantém-se ligado a esta devido ao seu trabalho com crianças com distúrbios de comportamento.

O método adotado por Wallon é o da observação pura. Considera que esta metodologia permite conhecer a criança em seu contexto, “só podemos entender as atitudes da criança se entendermos a trama do ambiente no qual está inserida”.


 

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