sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

O populismo latino-americano

Em certos países latino-americanos surgiram então, a partir de 1930, regimes populistas: governos fortes e centralizados sob a direção de líderes reformistas, carismáticos, autoritários, com grande apoio popular. Os principais representantes do populismo foram Getúlio Vargas (1930-1945) no Brasil, Juan Domingo Perón (1946-1955) na Argentina e Lázaro Cárdenas (1934-1940) no México.
O Estado populista adotava uma política de conciliação de classes sociais, com o objetivo de alcançar um desenvolvimento econômico autônomo. Também defendia reformas sociais limitadas, para manter o apoio popular.
Durantes os governos populistas, o Estado investiu em indústria de base, com a finalidade de fornecer matéria-prima a energia a baixo custo, para o setor privado. “Mas a industrialização promovida pelo populismo tinha um limite. O mercado consumidor desses países era reduzido, em razão dos baixos salários. Nenhum desses governos procurou ampliar o mercado interno, mediante uma reforma agrária ou uma política de redistribuição de renda.
De qualquer forma, o populismo foi responsável por reformas importantes, como as leis trabalhistas no Brasil.

A crise do populismo

O Estado populista conheceu seu auge até o final da Segunda Guerra Mundial, que novamente beneficiou o desenvolvimento da indústria de substituição de importações na América Latina. Tal desenvolvimento favoreceu uma relativa estabilidade política.
Mas ao final da guerra as exportações latino-americanas de matérias-primas caíram outra vez. Por isso, faltaram divisas para continuar importando as máquinas e equipamento que se destinavam à expansão da indústria. A crise na zona rural, por sua vez, provocou a migração em massa de camponeses para as cidades, obrigando os governadores a fazer grandes despesas com obras de infraestrutura. Isso aumentou a dívida pública, gerando um processo inflacionário crônico, que demonstrou a incapacidade dos governos populistas em promover um desenvolvimento econômico autônomo.
Temendo a radicalização política das classes populares e o “perigo” socialista, as burguesias nacionais, até então beneficiárias dos projetos populistas de industrialização, aliaram-se às velhas oligarquias rurais. E estes dois setores convocaram as Forças Armadas para “manter a ordem”, permitindo que golpes militares liquidassem com o populismo.


quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Paraguai: uma meia democracia


No início da década de 1950, o general Alfredo Stroessner tomou o poder no governo do Paraguai. A ditadura de Stroessner foi a mais longa da América do Sul. O general Alfredo Stroessner liderou um golpe de Estado em 1954 e manteve-se no poder durante 35 anos, até 1989. O apoio dos latifundiários e do governo estadunidense garantiu que fosse candidato único em sete eleições presidenciais consecutivas e, consequentemente, vitorioso em todas elas.

Nesse período, o general foi eleito sucessivamente em eleições fraudulentas, nas quais era candidato único. Seu governo desrespeitou constantemente os direitos humanos, executando prisões extrajudiciais, tortura e assassinato de presos políticos. Como as demais ditaduras da América do Sul, a de Stroessner teve apoio dos Estados Unidos por meio de empréstimos e do envio de agentes treinados em táticas militares e paramilitares de combate e repressão aos movimentos de esquerda.

Em seu governo, a economia paraguaia sustentava-se principalmente por meio de grandes projetos, como a construção da usina hidrelétrica de Itaipu (em parceria com o Brasil) e também negócios ligados a cassinos e contrabando.

Durante a ditadura de Stroessner, o Paraguai vivenciou um crescimento econômico: tanto o setor industrial como o setor de agropecuária se fortaleceram por meio dos investimentos estrangeiros (vindos, especialmente, dos Estados Unidos). Esse crescimento econômico, porém, beneficiou as elites e não alcançou a maioria da população paraguaia. Na verdade, a concentração de riquezas nas mãos de poucos grupos da elite aumentou, juntamente com a desigualdade social. Ao longo do período da ditadura no Paraguai, estudos indicam que somente 1% da população detinha 80% de toda a riqueza nacional. Historiadores consideram que o “crescimento econômico” atenuava, em parte, a miséria em que a maior parte da sociedade vivia.

A partir da década de 1980, o governo de Stroessner foi afetado pelo declínio da economia paraguaia e, em 1989, ele foi deposto por mais um golpe de Estado liderado por um militar, o general Andrés Rodríguez. Mesmo assim, o país iniciou um período de abertura política.

Alfredo Stroessner (à esquerda) e o general Francisco Franco, ditador espanhol, em cerimônia em Madri, Espanha, 1973.

No dia 3 de fevereiro de 1989 caiu a ditadura do general Alfredo Stroessner, no Paraguai, a segunda mais antiga do planeta, até então na época (a primeira era a de Kim II Sung, dirigente da Coréia do Norte desde 1948). Stroessner assumiu o poder através de um golpe de Estado em 1954 e, com o apoio dos latifundiários, classe dominante no país, manteve uma ditadura violenta que por muito tempo conseguiu sufocar a oposição.
Em seu governo, Stroessner destacou-se por transformar o Paraguai – uma economia tradicionalmente agrícola – no paraíso latino-americano do contrabando. Em 1984, 60% de todo o comércio externo do país era ilegal. Nesse mesmo ano, teve inicio uma crise no Partido Colorado, oficial, com a formação de duas alas disputando o poder. A ala “militante” defendia a continuidade de Stroessner no poder, enquanto os “tradicionalistas” eram favoráveis a uma pequena abertura política.
A decisão de Stroessner de passar para a reserva o segundo homem forte do país, o general Andrés Rodriguez, aliado dos “tradicionalistas”, no início de 1989, detonou a crise. Tropas da Primeira Divisão de Cavalaria, leais a Rodriguez, enfrentaram e venceram o corpo de guarda do ditador, que pediu asilo político no Brasil.
O golpe de Estado teve apoio popular, bem como de amplos setores de oposição, que já vinham enfrentando a ditadura por vários anos. Enquanto Stroessner se estabelecia confortavelmente no litoral do Paraná, Rodriguez realizava, em maio de 1989, eleições semilivres para presidência. Semilivres porque os partidos de esquerda, ainda eram clandestinos, foram impedidos de concorrer. Rodriguez foi eleito com grande maioria. Embora o seu partido tivesse ganho as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte (1991), a nova Constituição (1992) proibiu que Rodríguez fosse novamente candidato nas eleições de 1993. Apesar das mudanças, porém, o partido Colorado ainda controlava a vida política e a máquina eleitoral paraguaia, caracterizando um regime onde a democracia havia sido restaurada pela metade.


México, do domínio do PRI a instabilidade

Após a proclamação da independência, em 1821, o México passou por constantes dificuldades econômicas e políticas, com sucessivas ditaduras. Em 1848, na Guerra EUA-México, o país perdeu vasto território para os vizinhos do norte, o que agravou ainda mais a situação. Para completar, ocorreram novas intervenções estrangeiras. Em 1861, por exemplo, franceses, ingleses e espanhóis atacaram o país, para garantir o pagamento da dívida externa. Esse contexto contribuiu para a instalação da ditadura de Porfírio Dias, entre 1876 e 1911.
A ditadura de Porfírio favoreceu a atuação das companhias estrangeiras e a concentração de terras, com a formação de grandes propriedades controladas por poucos mexicanos. Enquanto isso, a miséria e as dificuldades gerais da maioria da população se agravavam. No início do século XX, o México mergulhou em profundas revoltas sociais, em que se destacaram os líderes populares Emiliano Zapata e Pancho Villa.
Em 1911, os revoltosos conseguiram derrubar Porfírio Dias. As lutas camponesas pela reforma agrária, entretanto, continuaram esbarrando nos interesses das elites, culminando com o assassinato de Zapata, em 1919, e de Villa, em 1923.
Somente no governo de Lázaro Cardenas (1934-1940) foram adotadas medidas para a reforma agrária e a nacionalização de empresas estrangeiras. A partir de então, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) passou a controlar a política mexicana conquistando estabilidade política nos anos 1950 e 1960.
Nos anos 1970, para fazer frente às novas pressões populares, o governo mexicano ampliou os gastos públicos e a emissão monetária. Isso provocou aumento da inflação e instabilidade econômica na década seguinte. Somente nos anos 1990 o PRI perderia o controle político mexicano.

A instabilidade mexicana

No México, nos anos 1990, o governo do presidente Andrés Salinas de Gortari, do PRI, adotou diversas medidas para atrair capitais internacionais. Assinou, por exemplo, com Estados Unidos e Canadá, a Nafta, que passou a vigorar oficialmente em 1º de janeiro de 1994. Mesmo com o tratado, esse ano foi marcado por profunda crise econômica, com fugas de capitais do país.
Com 80% das exportações mexicanas dirigidas para os Estados Unidos, graças ao Nafta, a subordinação continuava sendo pesado fardo para concretizar mudanças na área social. Um quadro de miséria e revolta marca a sociedade mexicana, com vários movimentos atuando no país, dentre eles os zapatistas de Chiapas.
Exigindo pão, saúde, educação, autonomia e paz para os camponeses, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) travaram vários enfrentamentos com forças oficiais. Conflitos que provocaram centenas de mortos. No final dos anos 1990, existiam sinais de diálogo entre governo e rebeldes. Mas uma solução para o problema ainda estava longe de ser obtida.
Na área politica predominou a turbulência. Na campanha eleitoral de 1994 ocorreu o assassinato de dois membros do partido do governo, o PRI. Morreu o candidato que estava à frente nas pesquisas eleitorais, Luís Donaldo Colosio, e em seguida o secretário do partido, José Francisco Massieu. As notícias de envolvimento do governo nos assassinato, especialmente de Raúl Salinas, irmão do presidente, junto com escândalos de corrupção, provocaram mais instabilidade à economia mexicana.
Em dezembro de 1994 assumiu a presidência Ernesto Zedillo, candidato vitorioso do PRI. Seu mandato foi abalado por crises econômicas, situação social crítica e continuados escândalos envolvendo membros de seu partido. Nas eleições de 2000, Zedillo não conseguiu fazer o seu sucessor. Venceu Vicente Fox, do Partido de Ação Nacional (PAN); colocava, assim, fim a 71 anos de governo do PRI.
No ano seguinte, no início do governo, Fox destacou a necessidade de buscar acordos comerciais com outros países e blocos econômicos para escapar do atrelamento do México à economia norte-americana.


No Peru, instabilidade política

Desde a independência em 1824, o Peru era controlado por uma elite formada por latifundiários e mineradoras, cujo principal objetivo era garantir a ordem, sobretudo as grandes propriedades e a submissão dos povos indígenas ao trabalho.
Nesse cenário, a questão agrária tornou-se o eixo das lutas sociais no país. Sem solução o problema atravessou décadas. Em 1924, surgiu a Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), com inspiração socialista e forte sentido nacionalista, recebeu crescente apoio popular e forte perseguição, sendo colocada na ilegalidade diversas vezes nas décadas seguintes. Nos anos de 1960, várias organizações camponesas e revolucionárias empreenderam movimentos por quase todo o país.
Em 1963, o governo do presidente Fernando Belaúnde Terry iniciou uma tímida reforma agrária. Em 1968, como em muitos outros países da América Latina, o governo foi derrotado por um golpe militar, liderado pelo general Juan Velasco Alvarado.
Na área econômica foi implantada uma linha nacionalista, que expropriou empresas petrolíferas norte-americanas e implantou a Reforma agrária. Outra medida foi a inclusão dos trabalhadores na gestão e divisão de lucro das empresas peruanas. Sem reverter as desigualdades sociais nem conseguir um grande salto produtivo, o governo de Alvarado foi derrubado por outro golpe de 1975.
Quatro anos depois o poder retornaria aos civis, com a eleição de Belaúnde Terry. Nessa época, o grupo terrorista de orientação maoísta Sendero Luminoso iniciou suas atividades. Em tempos de guerra fria, isso ampliou o conflito entre capitalismo e socialismo no Peru.

Em 1985, para suceder a Terry, assumiu o poder Alan Garcia, do Apra. Seu governo tomou medidas nacionalistas, como a limitação do pagamento da dívida externa e a estatização, sem sucesso, do sistema bancário peruano. No ano seguinte, em meio à hiperinflação, as eleições presidenciais foram vencidas por Alberto Fujimori. Ao assumir o poder, a crise provocada pela ação das organizações guerrilheiras ainda eram intensa no país.

O Peru na era Fujimori

Nos anos 1990, o Peru mantinha o quadro de dificuldades econômicas das décadas anteriores acrescentando os problemas gerados pela política neoliberal. Assim, sob discurso modernizador e abertura do país à economia internacional, permanecia o cenário de acirramento das crises sociais e políticas.
Em 1991, o país sofreu com forte surto epidêmico de cólera enquanto o governo de Alberto Fujimori não conseguiu reverter as altas taxas de desemprego e miséria. Em meio à crise, no ano seguinte. Fujimori pôs fim a estrutura democrática: fechou o Congresso e concentrou em suas mãos todos os poderes. O golpe teve por justificativa o combate a guerrilha, especialmente o Sendero Luminoso e os narcotraficantes.
Racionalizando a maquina administrativa e privatizando estatais, Fujimori conseguiu baixar a inflação. De 7650% ao ano, em 1990, passou para menos de 11% em 1995. Isso contribuiu para ampliar seu prestígio e obter a reeleição. O sucesso nas eleições de 1995, derrotando o ex-secretário-geral da ONU, Javier Pérez de Cuéllar, contou também com a retomada do crescimento econômico, que, depois de forte queda, em 1989 e 1990, atingiu 12,8% em 1994 e 8,6% em 1995.
Problemas sociais, seguidos de desaceleração do crescimento econômico, desgastaram a popularidade de Alberto Fujimori. Para piorar, o crescimento econômico perdeu ímpeto, diminuindo em 1996 em diante.
Decidido a continuar no poder, Fujimori manobrou a constituição para candidatar-se pela terceira vez à presidência do Peru. Em 2000, no primeiro turno das eleições acabou obtendo poucos votos a mais do que o líder da oposição, Alejandro Toledo, da coligação Peru Possível.
Em setembro de 2000, um canal de TV exibiu um vídeo no qual um ex-assessor de Fujimori, Vladimiro Montesinos, subornava opositores. O material impulsionou denúncias, que envolveram todo o governo: fraudes, corrupção, participação em contrabandos de armas, vínculos com o narcotráfico, contas bancárias de milhões de dólares no exterior de ex-membros do governo Fujimori. Em novembro de 2000, o presidente abandonou o país. Aproveitando-se de sua dupla cidadania, anunciou sua renúncia ao cargo no Japão.
Com a fuga de Fujimori, assumiu o governo o presidente do Congresso, Valentin Paniagua, dando continuidade às investigações das irregularidades e os preparativos das eleições presidenciais de 2001, que elegeram Alejandro Toledo.


quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Argentina: democracia e golpes

Ao contrário do Chile, que não conhecia intervenções militares na política há mais de setenta anos, a Argentina viveu muitos golpes militares no decorrer do século XX. No princípio dos anos de 1970, porém atravessava uma fase de democratização, com a volta dos militares aos quartéis e a autorização para que Juan Domingo Perón, exilado desde 1955, voltasse ao país.
Perón retornou em 1973 e foi eleito presidente. Com sua morte no ano seguinte, sua mulher e vice, Isabelita, assumiu o cargo. A diversidade interna do peronismo, que então se mostrava bastante dividido, e o cenário crítico da economia argentina mantinham a situação interna tensa e instigavam os militares a volta à política. Setores da alta burguesia argentina aproximavam-se dos quartéis e, em 1975, já se cogitava a hipótese de um golpe e, em março do ano seguinte, os militares derrubaram o presidente.
Os golpistas denunciavam a falta de projeto político, alertavam para a falta de autoridade e para o risco do comunismo. Apresentavam-se como representantes do conjunto da sociedade argentina, acima das divisões de classe e sem interesses ideológicos ou financeiros.
Assumiram, perante a sociedade argentina, a imagem de árbitros neutros, num discurso semelhante ao que já fora empregado em golpes anteriores. Uma junta militar composta de membro das três armas assumiu o poder e propôs implantar o “processo de Reorganização Sindical”.

A ditadura argentina

No decorrer dos sete anos que dirigiram a argentina, no entanto, nenhum projeto nacional foi desenvolvido, nem o país foi efetivamente reorganizado. A ausência de políticas econômicas clara, a corrupção intensa e os conflitos internos dificultaram os investimentos na produção. O capital estrangeiro fugiu do país e a Argentina iniciou um processo de declínio acelerado. A violenta repressão contra supostos adversários, organizações estudantis e de trabalhadores marcou o regime e instaurou um quadro de terror no país, que resultou em milhares de mortos e desaparecidos. Além disso, há casos de filhos de presos políticos, mortos pela ditadura, que foram adotados, sigilosamente, por famílias ligadas ao regime.
Grupos de resistência armada e a oposição política reagiram ao poder extremo dos governantes. As madres de Mayo iniciaram seus protestos em 1977 e, além de denunciar o desaparecimento de seus filhos, tentavam obter informações e notícias de perseguidos políticos. Em 1982, o regime militar argentino já estava bastante desgastado dentro e fora do país. As notícias de extorsões e de crimes comuns praticados por policiais circulavam e indicavam que os governantes haviam perdido o controle sobre o aparato repressivo, que passara a agir autonomamente, em benefício de seus membros.

A Guerra nas Malvinas

Para desviar a atenção dos argentinos nos problemas internos e manter por mais tempo o regime, o presidente Leopoldo Galtieri invadiu as ilhas Malvinas, no extremo sul do continente americano, em abril de 1982, e reivindicou a soberania argentina sobre as terras. Objeto de disputa entre Argentina e Grã-Bretanha desde o século XVIII, as Malvinas estavam sob domínio britânico desde a década de 1830.
A Inglaterra reagiu e os dois países foram a guerra. Nos dois meses e meio que durou o conflito, parte da sociedade argentina se envolveu com a possibilidade de uma conquista nacional e o apoio ao governo de Galtieri aumentou sensivelmente.
A derrota para a Grã-Bretanha, porém, revelou a fragilidade das forças armadas nacionais e expôs de maneira ainda mais clara a corrupção e o autoritarismo do regime. Pressionado, Galtieri acabou substituído por outros militares, que convocaram eleições para o ano seguinte.
Raúl Alfonsín venceu as eleições e assumiu a presidência no final de 1983, iniciando um novo período de redemocratização argentina. A economia do país estava arrasada, com taxas altíssimas de inflação e moeda desvalorizada. O nível de industrialização regredira durante os anos militares e o nível de tensão social era intenso.
Diferentemente do que ocorreu no Brasil e no Chile, onde os crimes cometidos por representantes dos regimes militares foram anistiados ou esquecidos, a Argentina realizou um longa e profunda investigação, que desembocou em acusações, julgamentos e punições, inclusive a ex-governante, acusados de participação na Guerra Suja, nome que se deu ao terrorismo de Estado desencadeado entre 1976 e 1983. As investigações e os processos revelaram uma grande quantidade de crimes comuns (como tráfico de armas, extorsão de empresários e sequestro de crianças).
A revisão do passado também gerou fortes reações militares. Durante o governo de Raúl Alfonsín, rebeliões lideradas pela extrema-direita militar, os chamados carapintadas, exigiam o fim das investigações e ameaçavam novo golpe de Estado.

A Argentina – planos econômicos e neoliberalismo

A Argentina foi um dos países da América Latina cuja vida política sofreu mais desgastes em função do fracasso de sucessivos planos econômicos assentados nas teorias neoliberais.
Os problemas começaram a se aprofundar ainda no governo de Carlos Menem, eleito em 1989. Para controlar a inflação, o ministro da Economia, Domingos Cavallo, promoveu a abertura do mercado para o comércio internacional e atrelou a moeda argentina ao dólar, conseguindo sucesso temporário, graças ao qual Menem reelegeu-se em 1995. Contudo, a eclosão das crises mexicanas e asiáticas, entre 1994 e 1997, redundou no descontrole da economia argentina.
Com a imagem desgastada, Menem foi sucedido por Fernando de La Rúa, cuja política econômica não conseguiu acabar com o cenário de recessão, marcado por uma onda de falências, pelo desemprego e pela hiperinflação. Em dezembro de 2001, munidos de panelas, os argentinos saíram às ruas promovendo um barulho ensurdecedor em protestos contra o governo. O panelaço (como a manifestação ficou conhecida) desandou em enfrentamentos com a polícias e a decretação do estado de sítio. Contudo, mesmo sob repressão, a “bateção” de panelas continuou, levando à renúncia do presidente.
Diante da grave situação econômica, o presidente interino, Adolfo Saá, decretou a moratória da dívida externa argentina. Sob intensa pressão, foi obrigado a renunciar após uma única semana no cargo. Seu sucessor, Eduardo Duhalde, acabou com o regime de convertibilidade, que atrelava o peso argentino ao dólar, mas não conseguiu driblar a crise: as medidas econômicas de seu governo causaram a fuga de capitais e fizeram crescer o descontentamento, provocando violentos protestos.
A economia argentina só se estabilizou em 2004, no governo de Néstor Kirchner, que num único pagamento cancelou à divida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), libertando a argentina da inspeção e dos planos de ajuda do Fundo, e conseguiu retomar o crescimento da economia nacional.


O Plano Condor

Montada no início da década de 1970, a Operação Condor foi uma ação militar com o objetivo de destruir todos aqueles que eram considerados adversários políticos das ditaduras instaladas na América Latina. Os países participantes foram Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. A ação foi conjunta, financiada com dinheiro, apoio logístico e treinamento oferecidos pelo governo dos Estados Unidos. A troca de informações sobre perseguidos políticos entre os governos militares sul-americanos, já existia desde a década de 1960. Porém, a Operação Condor só foi formalizada em 1975, XI Conferência dos Exércitos Americanos, realizada em Montevidéu, capital do Uruguai. Quem propôs sua criação foi o general Jorge Rafael Videla, comandante do exército argentino que se tornaria chefe do governo militar de seu país.
No decorrer dos anos 1980, quase todos os países da América Latina passaram por processos de redemocratização e poucos mantiveram governos ditatoriais. O retorno à democracia e a divulgação de informações sobre os anos de poder armado permitiram que se desvendasse inclusive a existência de mecanismos de colaboração (como o Plano Condor entre as polícias políticas dos países do Cone Sul), que se ajudavam mutuamente na perseguição e, em muitos casos, execução de adversários políticos. Embora muitos documentos sobre o período ainda não sejam públicos, é possível, hoje, saber como o poder foi brutalmente exercido pelas ditaduras militares e quais foram suas estratégias para controlar o Estado.
Com a Operação Condor, a polícia política de um país podia atuar livremente nos outros países envolvidos, prendendo, sequestrando e torturando pessoas. Um dos episódios mais conhecidos envolvendo a Operação Condor foi o atentado que matou o general Carlos Prats, militar chileno que se exilara em Buenos Aires após o golpe de Estado ocorrido em seu país. Outro caso foi o assassinato do general boliviano Juan José Torres, que governou a Bolívia de outubro de 1970 até agosto de 1971, quando foi derrubado por um golpe de Estado. No Brasil, a Operação Condor permitiu o sequestro do casal de uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Dias, em Porto Alegre.
Documentos liberados nos EUA e a descoberta do chamado “Arquivo do Terror” em Assunção, Paraguai, revelam que o serviço secreto chileno montado em dezembro de 1973, foi estruturado pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) brasileiro. Os encarregados pela repressão política no Brasil ofereceram aos chilenos cursos de planejamento, organização e técnicas de interrogatório – neste caso, ensinaram aos militares chilenos um tipo de tortura chamado “pau de arara”, típico no Brasil.


terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Obama, o presidente negro

Político norte-americano. Estudou Ciências Políticas na Universidade de Colúmbia e Direito na Universidade de Harvard, onde foi o primeiro diretor afro-americano da revista Harvard Law Review. Em 1985, mudou-se para Chicago, onde trabalhou como organizador comunitário nos bairros pobres do sul da cidade e, posteriormente, atuou como advogado em Direito Civil e como professor de Direito Constitucional. Em 1997, tornou-se membro do Senado do estado de Illinois e, em 2004, foi eleito senador dos Estados Unidos em representação do mesmo estado.
Em 4 de novembro de 2008, ocorreram novas eleições para presidente dos Estados Unidos. Em abril, os republicanos já haviam escolhido seu candidato; o Senador John McCain. Em junho, a senadora Hillary Clinton, que disputava com o senador Barak Obama a indicação pelo Partido democrático, desistiu de sua pré-candidatura.
Obama, que então foi escolhido como o candidato democrata, venceu a disputa e se tornou o primeiro presidente estadunidense de ascendência africana e de pele negra. Num país marcado historicamente pela descriminação racial. A data é histórica para o país, cujo histórico de confrontos raciais é grande e as medidas para busca de igualdade, recentes. Quando Martin Luther King foi assassinado, em 1968, Barack Obama contava apenas 7 anos de idade. Sob um frio de -3 °C e diante de um público recorde, o novo presidente fez um discurso duro, no qual disse que a nação precisaria começar o "trabalho de reconstruir a América". Em 2009, foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz por suas ideias terem criado "um novo clima na política internacional".
George W. Bush terminou seu mandato com um dos mais baixos índices de popularidade da história política dos Estados Unidos. Em pesquisa realizada pelo instituto Gallup em setembro de 2008, o índice de aprovação de Bush foi de apenas 27% da população estadunidense. As derrotas republicanas nas eleições de 2006 para o Congresso, e em 2008, para presidência, assinalaram a crise e a derrocada da Doutrina Bush.
A vitória vinha depois de oito anos de governo republicano de Bush, que colocou em prática uma política conservadora, marcada pelo moralismo e o intervencionismo militar. A figura do antigo presidente estava desgastada também pela acusações de violação dos direitos humanos, pela demora no atendimento às vítimas do furacão Katrina (2005) e pela crise econômica de 2008.
Na presidência, Obama buscou reconstruir a posição dos Estados Unidos no cenário mundial por meio de uma política de conciliação e diálogo, com posições bem mais progressistas que seu antecessor. Sob Barak Obama, delineou-se uma nova abordagem da política externa, baseado no reconhecimento dos limites do poder dos Estados Unidos. Uma orientação multilateralista, amparada na busca por consensos no Conselho de Segurança da ONU, tomou o lugar da visão neoimperial da "era Bush". A retirada das forças combatentes do Iraque, concluída em 2011, e a gradual retirada das forças engajadas no Afeganistão acompanharam a mudança de foco da política mundial da hiperpotência.

Obama ordena o fechamento de Guantánamo e proíbe tortura
O presidente americano, Barak Obama, anunciou [...] que vai fechar os campos de detenção de Guantánamo, em Cuba, e as prisões secretas da CIA no mundo, revertendo um dos legados mais polêmicos do governo George W. Bush. Nas quatro ordens executivas que assinou. Obama anunciou também a proibição de tortura de suspeitos de terrorismo sob poder de autoridades americanas. Guantánamo e as prisões da CIA desgastaram a imagem dos EUA no mundo e são consideradas um símbolo de abuso de direitos humanos, detenção sem acusação formal e tortura.
"Em primeiro lugar, posso dizer [...] ", declarou Obama." A mensagem que estamos mandando para o mundo é que os EUA pretendem continuar lutando contra a violência e o terrorismo, de forma vigilante e eficiente, e vamos fazer isso de uma forma consistente com nossos valores e ideais" disse.
Fonte: Patrícia Campos Mello 
www.estadao.com.br



Produção de energia no Brasil

Movimentar máquinas, cargas e pessoas por longas distâncias demanda muita energia. No Brasil, usam-se combustíveis derivados de fontes não r...