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A desintegração do bloco socialista

A abertura que Mikhail Gorbatchov introduziu na União Soviética e a pressão dos povos – em geral, desejosos de acabar com a ditadura do Partido Comunista em seus países – fizeram com que, de junho a dezembro de 1989, subissem ao poder no bloco socialista vários governos reformadores. A desintegração do bloco socialista, a partir desse ano, se deu por várias vias: negociações entre as autoridades e oposição na Polônia, Hungria e Bulgária; revolução popular violenta na Romênia e manifestações de massa pela democracia na Tchecoslováquia e Alemanha Oriental.

O novo Leste europeu

Após 1980, cresceram os descontentamentos na Europa oriental, devido às limitações e dificuldades da economia planificada, além de divergências com relação às determinações impostas por Moscou. No finai de 1989, a região iniciou uma série de profundas transformações graças à Perestroika, que fez com que a União Soviética afrouxasse os laços regionais. Além disso, a população exigia mudanças substanciais, tanto políticas, quanto econômicas. Veja, a seguir, como se deu a transição em alguns dos países do Leste Europeu.
Em junho de 1989, aconteceram eleições na Polônia. No ano seguinte, novas eleições levaram o líder do Sindicato Solidariedade, Lech Walesa, opositor do regime comunista, à presidência. O Partido Comunista húngaro converteu-se em Partido Socialista e a República Popular Húngara transformou-se em república parlamentar. Também na Bulgária os reformadores iniciaram políticas econômicas de choque para se adaptar à nova situação. Na Romênia, um enfrentamento civil terminou com a execução do ditador Ceaucescu e sua esposa. Na Tchecoslováquia, um candidato não comunista, o escritor Vaclav Havel, chegou à presidência (Revolução de Veludo). Posteriormente, o país foi dividido em dois: República Tcheca e Eslováquia. Na RDA, Honecker foi substituído; Krenz decretou a abertura do Muro de Berlim e, pouco depois, Modrow formava um governo reformador. Na Albânia, 'farol do socialismo puro', pressões sociais levaram a reformas. Na Iugoslávia, explodiram antigos problemas étnico religiosos e nacionalistas, gerando violentas guerras civis e a fragmentação do país.

Polônia

Como fruto dos descontentamentos, o sindicato Solidariedade é fundado em 1980 na cidade de Gdansk, reunindo os trabalhadores de um estaleiro chamado Lenin. Sob a direção de Lech Walesa, em poucos meses filiaram-se a ele cerca de 9 milhões de trabalhadores. Seu surgimento colocou em discussão a questão do socialismo democrático, pois ele se opôs ao governo, exigindo maiores liberdades políticas e a eliminação dos privilégios dos burocratas. No ano seguinte, foi declarado ilegal pelo governo.
Somente em abril de 1989, sob influência da Perestroika, é que o sindicato Solidariedade obteve sua legalização. Em junho do mesmo ano, o partido a ele ligado ganhou as eleições gerais. Foi a primeira vez, desde 1945, que se formou um governo não comunista no Leste Europeu. Essas últimas transformações políticas na Polônia, no entanto, foram acompanhadas por reformas econômicas que criaram uma crise de difícil administração. A produção industrial caiu 23% e a inflação chegou a 225% em 1990.

Alemanha Oriental

No final da Segunda Guerra, a Alemanha foi dividida em áreas de influência entre a União Soviética, Estados Unidos, Reino Unido e França. Mais tarde, o setor soviético acabou se transformando na República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) e o restante constituiu a República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental).
Em meio à crise e sob influência das mudanças ocorridas na União Soviética, graças à Perestroika e à Glasnost, a Alemanha Oriental passou por rápidas transformações a partir do início de 1989. A crise política, no entanto, continuava a crescer e muitos alemães orientais fugiam para o ocidente, enquanto cresciam as críticas e as manifestações populares. Num ato que simbolizou a quebra de uma ordem antiga, em novembro, manifestações derrubaram o muro de Berlim, o mais importante símbolo da Guerra Fria.
Em março de 1990, pela primeira vez desde 1945, foram realizadas eleições com a participação de vários partidos, vencidas pelos democratas cristãos. Acelerou-se a reunificação das Alemanhas, completada em outubro. Finalmente , em junho de 1991, Berlim voltou a ser a capital da Alemanha reunificada.

Iugoslávia

A Iugoslávia representa, neste início dos anos 90, uma das regiões mais tensas e violentas do Leste Europeu. O país mergulhou em uma guerra civil cujos desdobramentos poderão adquirir dimensões incontroláveis.
Após 1945, sob o governo de Josep Broz Tito, a Iugoslávia viveu a socialização da economia e a busca de uma harmonia entre as diversas etnias do país. Eram mais de 20 povos convivendo em um espaço territorial menor que o do estado de São Paulo. Limitadamente, entretanto, continuavam a existir manifestações nacionalistas e, com a morte de Tito, em 1980, avolumaram-se os confrontos populares, às greves e os atentados.
Em 1990, nas eleições gerais, os comunistas foram derrotados em quatro das seis repúblicas iugoslavas, mas vencedores em duas outras, Sérvia e Montenegro. Isso lhes permitiu controlar o governo do país, já que nelas vive a maior parte da população iugoslava. Cresceram as lutas nas outras repúblicas e duas delas declararam unilateralmente a independência - a Croácia e a Eslovênia. A Sérvia opôs-se e enviou tropas às repúblicas separatistas, dando inicio à guerra civil. Somente nos primeiros meses de 1991, calcula-se que mais de 5 mil pessoas morreram nos combates entre sérvios e croatas.

Romênia

Governada pelo chefe comunista Nicolae Ceausescu por 25 anos, a Romênia enfrentou grandes agitações políticas em 1989. Diante da evolução e do crescimento de manifestações que exigiam democratização, Ceausescu ordenou que a política secreta atirasse contra manifestantes na cidade de Timisoara (18/12/1989). Deixando milhares de mortos, a repressão motivou protestos por todo o país, ganhando a adesão de parte do exército e levando a Romênia à guerra civil. Em 25 de dezembro, Ceausescu e sua esposa Elena foram presos e fuzilados.
Em maio de 1990, foi formado um novo governo, que organizou eleições livres para a presidência, vencendo o comunista lon Iliescu. Nos meses seguintes, emergiram sucessivos conflitos e descontentamentos devidos à inflação crescente (200% ao ano) e aos baixos salários.

Hungria

Na Hungria, o Partido Comunista mudou de orientação política em outubro de 1989, transformando-se em Partido Socialista. Esse foi o ponto de partida para uma reforma constitucional que culminou com eleições livres pluripartidárias.
Na economia, foi o primeiro país do Leste Europeu a permitir a entrada de capital estrangeiro. Entre fevereiro de 1990 e setembro de 1991, o país recebeu metade dos 4,5 bilhões de dólares de investimentos multinacionais feitos na região. Hoje o setor privado já detém 45% da economia nacional e mais de 180 mil novos negócios privados foram abertos em 1991. Há, entretanto, dados preocupantes, como a inflação que subiu para 28% em 1990 e está estimada em 36% para 1991, além da taxa de desemprego de 5% e da dívida externa, que é de 21 bilhões de dólares.

Tchecoslováquia

Depois de crescentes pressões populares contra o governo comunista, o primeiro-ministro Ladislav Adamac renunciou. Foi então que, em dezembro de 1990, o movimento pró-democracia do Fórum Cívico formou um novo governo pluripartidário de minoria comunista. Foram eleitos para presidir o parlamento e a nação, respectivamente, Alexander Dubcek e Vaclav Havei.
Em janeiro de 1991 tiveram início as primeiras privatizações nacionais e em 1o de outubro houve entrada de capitais estrangeiros. Nessa época foi fechada a maior transação econômica de toda a Europa Oriental: um acordo com a Volkswagen alemã para investimentos de 6,4 bilhões de dólares. Embora as reformas tenham criado quase 1 milhão de desempregados, no final de 1991 o crescimento econômico havia sido retomado. Hoje debate-se o desmembramento do país, com a formação de uma nova federação e a possibilidade de inclusão da Boêmia como uma terceira república.
Nos demais países do Leste Europeu, Bulgária e Albânia, também ocorreram mudanças significativas, que incluem transformações econômicas e democratização. Dentro desse quadro de crise geral da Europa Oriental, foi extinta, em julho de 1991, a maior organização militar do mundo socialista, o Pacto de Varsóvia, o que pôs fim à influência militar soviética na região.
No final do mesmo ano, também foi extinto o Comecon, que realizava a Planificação das relações comerciais entre os países socialistas. Durante 40 anos, esse organismo interligou a economia de seus membros, funcionando sob princípios muito diferentes dos da economia de mercado capitalista e colocando os países do Leste Europeu sob influência da União Soviética. Com seu fim surgiram inúmeros problemas, como a dificuldade de vender seus produtos para os países desenvolvidos por serem de qualidade inferior, sem condições de concorrer com os produtos das modernas indústrias ocidentais.
Uma iniciativa importante para ajudar a resolver as dificuldades dos países do Leste Europeu foi a criação do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), em abril de 1991. Com um capital inicial de 13 bilhões de dólares, sua finalidade é fornecer empréstimos e integrar a economia desses países à área de influência da Comunidade Econômica Europeia.



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