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A Revolução Cubana (1959)

Cuba antes da revolução

Cuba conseguiu libertar-se da Espanha em 1898, com um exército comandado por José Martí e composto em sua maioria por ex-escravos que, apesar de portarem facões, vencerem soldados armados de fuzis e baionetas. Do domínio espanhol à tutela norte-americana, Cuba foi disputada desde o século XV. Como colônia espanhola, passou de importante porto à área produtora de açúcar e tabaco.
Apesar de politicamente independente, o país passou a ser quase totalmente dominado pelos norte-americanos. Estes compravam a maior parte do açúcar cubano, o principal produto de exportação da ilha, e se aproveitavam disso para impor sua tutela. Essa dominação foi oficializada em 1901, através da imposição da Emenda Platt, por meio da qual os norte-americanos se reservavam o direito de instalar bases militares no país e de intervir militarmente toda vez que considerassem seus interesses ameaçados. Governos autoritários, corruptos e comprometidos com os Estados Unidos forneceram o meio ideal para a insatisfação nacional e ações radicais no século XX.

A Revolução

Quase toda a riqueza de Cuba estava nas mãos de poucas famílias nativas e de empresas norte-americanas instaladas no país. Enquanto isso, milhões de cubanos alimentavam-se mal, moravam em barracos e viviam de empregos temporários. Os camponeses, por exemplo, tinham trabalho garantido apenas entre dezembro e maio; e a imensa maioria não sabia ler.
Foi nesse cenário marcado por intensa desigualdade social que um grupo de revolucionários, liderado pelo jovem advogado cubano Fidel Castro, iniciou uma luta sem tréguas contra o ditador Fulgêncio Batista (1934-1958). Fidel Castro liderou a luta dos cubanos contra a ditadura de Fulgêncio Batista. Depois do fracassado ataque contra o quartel de Moncada, em 1953, Fidel exilou-se no México, onde criou o Movimento 26 de Julho, cujo objetivo era a revolução nacionalista. Depois de uma tentativa fracassada de chegar ao poder, os revolucionários embrenharam-se na Sierra Maestra e, apoiados pelos camponeses para a guerra de guerrilhas.O apoio camponês foi decisivo para a revolução, conquistada por meio da propaganda, além da proposta de reforma agrária. Entre os guerrilheiros estavam Raúl Castro, irmão de Fidel, e Ernesto "Che" Guevara, médico, revolucionário e líder político.
Em janeiro de 1959, quase dois anos depois de iniciada a guerrilha, Fidel e seus companheiros, entre os quais estava o médico argentino Ernesto “Che” Guevara, conseguiram conquistar o poder, obrigando Batista a fugir do país.

Ernesto "Che" Guevara

O argentino Ernesto "Che" Guevara chegou a ser ministro da Indústria de Cuba, mas defendia a ideia de estender a Revolução Cubana – revolução anti-imperialista – para todo o continente latino-americano. Em 1965, deixou Cuba para organizar guerrilhas na América Latina, defendendo que o guerrilheiro era a vanguarda armada do povo na luta contra a opressão. Encontrava-se na Bolívia, quando foi morto em 8 de outubro de 1967. Deixou suas ideias nas obras A Guerra de Guerrilhas (1960) e O Socialismo e o Homem em Cuba (1965).

A implantação do socialismo

No início, a Revolução Cubana não apresentava uma ideologia clara. No entanto, depois de chegar ao poder, Fidel Castro passou a modificar a estrutura social do país. O novo governo demonstrou seus compromissos com a igualdade e justiça social, propondo a nacionalização dos setores básicos e de empresas estrangeiras, diversificação econômica, o fim do analfabetismo, investimentos na saúde e educação, reforma urbana, proscrição das grandes propriedades improdutivas e sua redistribuição como pequenas áreas e cooperativas controladas pelo Estado. No plano externo, houve o restabelecimento das relações com a União Soviética e demais países do bloco socialista. Aos poucos, Cuba construía o primeiro modelo socialista da América.
As primeiras medidas do novo governo foram:
· a reforma agrária com distribuição de terras a 200mil famílias;
· redução em 50% nos aluguéis, de 25% nos livros escolares e 30% nas tarifas de eletricidade;
· nacionalização de usinas, indústrias e refinarias.

As relações tensas com os EUA e a radicalização política

Os norte-americanos consideraram-se prejudicados por esta última medida. Como represália, deixaram de comprar o açúcar cubano. O governo de Fidel firmou, então, acordos comerciais com os países do bloco comunista, passou a vender o açúcar para eles.
Os EUA reagiram rompendo relações diplomáticas com Cuba em janeiro de 1961. Três meses depois, 1500 homens treinados pela Agência Central de Inteligência (CIA) invadiram a baía dos porcos, no litoral sul de Cuba, com o apoio aéreo dos Estados Unidos. A invasão da baía dos Porcos, em 1961, foi uma tentativa frustrada de invasão, realizada por exilados cubanos, treinados e equipados pela CIA (Agência Central de Inteligência) em Miami, para derrubar o novo regime. A invasão da baía dos Porcos fracassou e centenas de norte americanos foram presos.
Em 1962, ocorreu a “Crise dos Mísseis”, quando o então presidente norte-americanos John Kennedy bloqueou a ilha por mar, ameaçando invadi-la sob a alegação de que os soviéticos tinham ali instalado mísseis nucleares. Tal fato gerou uma grave tensão entre Moscou e Washington, mas o risco de confronto armado e a consciência de suas consequências desastrosas levaram os líderes das duas potências ao entendimento. O conflito foi resolvido por meio de um acordo entre EUA e URSS que determinava a retirada dos mísseis soviéticos, em troca do compromisso de os norte-americanos não invadirem a ilha.
Neste mesmo ano, Cuba foi expulsa da OEA (Organização dos Estados Americanos) sob a alegação de que estava exportando os ideais socialistas para todo o continente. Com isso, os EUA visavam isolar o governo de Fidel Castro. Entretanto, nas décadas seguintes os países latino-americanos foram reatando pouco a pouco suas relações com Cuba.

Aprofundamento revolucionário

Superada a crise dos mísseis, o regime cubano foi lentamente se fechando com o aprofundamento revolucionário, realizando expurgos no Partido Comunista, nova reforma agrária e estímulo à mecanização agrícola e à industrialização. Na política externa, com o objetivo inicial de criar "novos Vietnãs", Cuba colaborou com a luta pela libertação de Angola e da Etiópia. A Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) foi criada em 1967 para auxiliar os movimentos revolucionários, como a Revolução Sandinista e as lutas populares em El Salvador e na Guatemala.

Cuba: um balanço

As maiores conquistas da Revolução Cubana estão no campo da saúde pública, da medicina e da educação.
Na saúde houve enormes ganhos, com uma sensível melhoria nas condições sanitárias da população. A prática da medicina preventiva em todo o território conduziu a uma redução drástica das mortes por tuberculose, malária e tifo – fato comum antes de 1959. A poliomielite foi erradicada graças a vacinação em massa. Foram construídos hospitais-escolas, hospitais especializados e institutos médicos providos de equipes de saúde com sólida formação científica. Foram criadas também muitas clínicas rurais, de tal forma que toda a população passou a ter acesso a atendimento médico hospitalar gratuito. A mortalidade infantil caiu, e a expectativa de vida aumentou bastante – a dos homens é e 74 anos e as mulheres, de 78 (2000).
Quanto à educação, aumentou consideravelmente o número de escolas primárias e secundárias destinadas ao ensino de adultos, bem como o de faculdades. Segundo dados fornecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa de analfabetismo em cuba no ano 2000 era de apenas 3,6%, uma das menores da América Latina.
Já no campo econômico, Cuba continuou dependente das exportações de tabaco, níquel e, sobretudo, de açúcar. Com a extinção da União Soviética, em 1991, a economia cubana foi fortemente abalada, a começar pelo fato de que 80% do petróleo usado em Cuba vinha de lá. Cuba ficou também sem os créditos, as taxas preferenciais para o açúcar cubano, os combustíveis, as máquinas, as peças, a “proteção” e tudo o mais que recebia da União Soviética.
Nas décadas de 70 e 80, o quadro internacional de distensão possibilitou o fim do isolamento cubano. Relações diplomáticas foram restabelecidas com a Venezuela, Panamá, Colômbia e Espanha. Paralelamente, um acordo contra a pirataria aérea foi firmado com o governo norte-americano. A tensão nas relações com os Estados Unidos retornou durante o governo de Ronald Reagan que, em 1985, acolheu milhares de novos exilados cubanos, além de reforçar o embargo à ilha. Fidel adotou uma postura contrária à onda reformista que atingiu o Leste europeu a partir do final da década de 80.
A relação de dependência de Cuba à União Soviética durou até 1991, com o fim do socialismo soviético. Fidel tentou adiar a abertura econômica ao máximo, mas a crise interna e a manutenção do embargo americano o forçaram a adotá-la a partir de 1993, buscando atrair investimentos estrangeiros, porém sem abertura política – como ocorreu na China.
Um dos fatores mais importantes para as dificuldades econômicas de Cuba é o boicote imposto pelos Estados Unidos em 1961, que se manteve mesmo após o fim da União Soviética em 1991. Em 1996, o presidente norte-americano Bill Clinton sancionou a Lei Helms-Burton, que impôs sanções aos países que comercializassem ou investissem em Cuba. Foi uma tentativa de forçar outros países – sobretudo os da Europa – a participarem do boicote comercial contra Cuba.
A partir de 1995, Cuba abriu-se para o turismo, buscando atrair dólares. Também permitiu investimentos externos em alguns setores da economia.



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