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O Processo de Independência do Brasil

Acontecimento político que determinou a separação, em 1822, entre a colônia do Brasil e a metrópole portuguesa, num processo negociado e moderado. Em 7 de setembro de 1822, dom Pedro proclamou a independência do Brasil, na cidade de São Paulo, e regressou ao Rio de Janeiro. Posteriormente, o príncipe foi aclamado imperador, sendo coroado com o título de dom Pedro I, em 1º de dezembro de 1822.

A proclamação da independência marcou a quebra dos laços coloniais. Isso representava o surgimento do Estado nacional brasileiro, no qual foi adotada a monarquia como forma de governo. Esse processo foi diferente do que ocorreu na maioria dos países da América, que se tornaram repúblicas após suas independências.

Tornar o Brasil independente de Portugal era um sonho antigo de muitos brasileiros. Sonharam com a independência os inconfidentes mineiros (1789), os conjurados baianos (1798), os pernambucanos de 1817 e os participantes de outras rebeliões que ocorreram na época em que o Brasil ainda era colônia de Portugal.
Por fim, a independência foi realizada por pessoas que já estavam no poder. O príncipe D. Pedro e os grandes proprietários rurais do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais formavam a liderança brasileira que dirigiu o processo de independência.
Quais eram os principais interesses desses homens?
Primeiro, manter a estrutura de dominação socioeconômica brasileira, baseada no trabalho escravo e na agricultura de exportação de gêneros tropicais.
Segundo, preservar o controle político sobre todo o território nacional. Queriam evitar a fragmentação do território brasileiro.

A regência de D. Pedro

Em 1820, ocorreu uma revolta envolvendo diversos setores da sociedade portuguesa, conhecida como Revolução Liberal do Porto. Os rebeldes formaram uma Assembleia, elaboraram uma Constituição e exigiram que dom João VI voltasse para Portugal. Além disso, pretendiam retomar o monopólio do comércio do Brasil, que desde o tratado de 1810 estava aberto a todas as nações, mas era dominado pelos britânicos, que também ocuparam o Reino de Portugal depois da expulsão dos franceses.
Pressionado, dom João VI voltou para a Europa, mas deixou no Brasil seu filho dom Pedro (1798-1834) como príncipe regente. Insatisfeita com isso, a Assembleia portuguesa também exigiu a volta de dom Pedro.
A aristocracia latifundiária brasileira passa a considerar dom Pedro como a saída para um processo de independência sem traumas.
Ao apoiar dom Pedro, impedem a atuação dos grupos republicanos e abolicionistas e a participação das camadas populares no processo separatista. Apostam que a manutenção da monarquia garantiria a unidade do país, evitando os processos revolucionários separatistas em andamento nas regiões de colonização espanhola. Também evitaria radicalismos e, o mais importante, manteria o sistema escravocrata.
No Brasil, setores da elite se organizaram em torno do príncipe regente e deram-lhe apoio para desobedecer às ordens vindas de Portugal. Surgiu, então, o Partido Brasileiro, que reunia políticos como José Bonifácio e Joaquim Gonçalves Ledo. Eles e outros ajudaram a coletar milhares de assinaturas pedindo que dom Pedro ficasse no Brasil.
A reação contra as tentativas recolonizadoras das Cortes de Lisboa atingiu praticamente todas classes sociais. As pretensões recolonizadoras de Portugal eram evidenciadas em decretos que pretendiam enfraquecer o poder de D. Pedro e forçá-lo a regressar ao país natal.
Os líderes da Revolução Liberal do Porto desejavam o liberalismo para Portugal e o colonialismo para o Brasil. No entanto, o objetivo de recolonizar o Brasil não teve êxito, pois encontrou resistência de fazendeiros e grandes comerciantes que apoiaram dom Pedro e seu projeto político.
Nas Cortes portuguesas, os deputados brasileiros, em minoria (50 em 205), nada podiam fazer. Havia uma divisão muito grande entre os adeptos da independência, de acordo com suas posições políticas e interesses econômicos. Mas, de qualquer maneira, em muitas situações houve unanimidade, o que permitiu o surgimento do Partido Brasileiro ou Partido da Independência, que era formada de uma frente ampla e heterogênea. Os principais representantes destes movimentos de independência era Gonçalves Ledo e José Bonifácio.

Os partidos políticos em formação

A elite agro-exportadora fundou um partido político, o Partido Brasileiro, ao lado de periódicos como o Despertador Brasiliense e o Regulador Brasílico-Luso. Os comerciantes portugueses, concentrados no Nordeste e beneficiados pelo monopólio da Coroa, foram contrários a independência do Brasil. Com o apoio de alguns militares do Reino, eles fundaram o Partido Português. Já a classe média que havia se formado no Rio de Janeiro, composta por funcionários públicos, profissionais liberais, militares e padres, assumiu uma posição mais radical em favor da independência.

Independência Política do Brasil

A presença de D. Pedro no Brasil dificultava as pretensões das Cortes de recolonizar o Brasil. Por isso, sob o pretexto de que o príncipe deveria completar seus estudos na Europa, as Cortes insistiam no retorno de D. Pedro a Portugal.
Em 9 de janeiro de 1822, o regente recebeu uma petição com 8 000 assinaturas solicitando-lhe a permanência no Brasil. D. Pedro respondeu positivamente com as seguintes palavras: "Como é para bem de todos e felicidade da nação, estou pronto, diga ao povo que fico". Este episódio ficou conhecido como o Dia do Fico e marcou a primeira adesão pública de D. Pedro a uma causa brasileira. Ele desrespeitava abertamente as decisões da Corte de Lisboa e as tropas lusas foram obrigadas a voltar para Lisboa.
Algumas medidas prática foram tomadas, tais como:
Em maio de 1822, D. Pedro assinou o Decreto do Cumpra-se, segundo o qual só vigorariam no Brasil as leis das Cortes portuguesas que recebessem o cumpra-se do regente.
Em maio ainda, o príncipe recebia o título de Defensor Perpétuo do Brasil, oferecido pela maçonaria e pelo Senado e Câmara do Rio de Janeiro.
Em agosto, considera inimigas as tropas portuguesas que desembarcassem no Brasil.

O Grito do Ipiranga

Dom Pedro estava em São Paulo, às margens do riacho Ipiranga, quando recebeu de um emissário de José Bonifácio de Andrada e Silva, O Patriarca da Independência, novas ordens vindas de Portugal para que regressasse imediatamente à metrópole. Na tarde do dia 7 de setembro de 1822, quando voltava de Santos, bradou “Independência ou morte”.
O Grito do Ipiranga formalizou a separação política de Portugal. As tropas portuguesas no Brasil não aceitaram a independência, mas foram derrotadas. Dom Pedro foi aclamado Imperador do Brasil, com o título de Dom Pedro I.

Guerra da Independência (1822-1824)

A independência não foi aceita imediatamente por todos. Governadores e comandantes militares portugueses de algumas províncias não aceitaram a separação e resistiram à decisão de D. Pedro. 
Na Bahia, por exemplo, a independência do Brasil é comemorada em 2 de julho de 1823, pois foi apenas nessa data que as tropas portuguesas se renderam. Após a derrota definitiva dos portugueses, o país todo estava sob o comando de dom Pedro I.
Em algumas regiões do Brasil, as elites locais estavam mais ligadas a Portugal do que às demais capitanias, não havendo uma identidade que unisse todos os brasileiros. Nessas regiões, ocorreram guerras para garantir a independência e a unidade territorial do Brasil.
Desencadearam-se lutas em praticamente todo território nacional, principalmente no Pará, Maranhão, Piauí, Bahia e Cisplatina (atual Uruguai), onde o número de comerciantes com interesses vinculados a Portugal era maior. Esses rebeldes foram derrotados por forças populares e militares comandadas por mercenários estrangeiros enviados pelo governo imperial.
Na Bahia, a luta armada pela independência começou quando soldados brasileiros não reconheceram o novo comandante português, coronel Inácio Madeira de Melo. Logo a luta se espalhou pelo Recôncavo Baiano, destacando a liderança de Maria Quitéria no comando de um grupo guerrilheiro.
Em 2 de julho de 1823, as tropas portuguesas de Madeira de Melo foram obrigadas a embarcar para Portugal. Mais ao norte, no Piauí, os portugueses foram derrotados pelos brasileiros.
No Pará a luta foi mais violenta e demorada, pois os portugueses ofereceram maior resistência. As forças brasileiras foram ajudadas pelo mercenário inglês Grenfell, que venceu as tropas portuguesas, mas ao mesmo tempo impediu que se estabelecesse um governo mais popular.
No extremo sul do país, na Província Cisplatina (Uruguai), a expulsão das tropas portuguesas deu-se depois do auxílio das forças britânicas comandadas pelo almirante Lord Cocharane, em novembro de 1823.

Maria Quitéria

Maria Quitéria de Jesus (1792-1853) lutou pela independência do Brasil e, por sua bravura, é considerada heroína nacional. Ela vivia em uma fazenda com sua família no interior da Bahia, na freguesia de São José das Itapororocas (atual cidade de Feira de Santana).
Em 1822, Quitéria quis se alistar para participar da luta contra os portugueses, contrariando seu pai, que afirmava que mulheres não deveriam participar da guerra. Ela não desistiu e pediu ajuda à irmã, Teresa. Para entrar no batalhão, Quitéria se fez passar por homem: cortou o cabelo, vestiu a farda do cunhado e adotou o nome de soldado Medeiros.
Poucas semanas depois, ela foi descoberta. Revelada sua identidade, no entanto, Quitéria não foi expulsa da tropa. Nos confrontos, destacou-se por sua atuação e coragem, sendo promovida ao posto de primeira-cadete em 1823.
Após a vitória, Maria Quitéria foi homenageada em diversas ocasiões. Viajou ao Rio de Janeiro para ser condecorada por dom Pedro I. Recebeu a insígnia dos Cavaleiros da Imperial Ordem do Cruzeiro.
Seu nome foi usado para nomear ruas, praças e avenidas no Brasil. Em 1996, ela foi reconhecida como Patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.

Participação dos negros na independência

No período colonial, grande parte da população do país era constituída de negros escravizados e libertos. Embora lutassem por seus direitos e resistissem à escravidão, eles permaneciam em uma condição subalterna.
Ao final do período colonial, negros livres e escravizados também lutaram pela independência do Brasil. Porém, muitos senhores não queriam que as pessoas escravizadas por eles fossem recrutadas. Na Bahia, os grandes proprietários de terras temiam que a independência fosse interpretada pelos escravizados como uma luta pela abolição.

O Brasil após a Independência

A independência garantiu a autonomia política do país. Porém, isso não trouxe grandes mudanças para a vida dos brasileiros, e a escravidão não só foi mantida como ganhou força, com a ampliação do número de escravizados e a incorporação de novas áreas de plantio com uso dessa força de trabalho.
A organização política do Brasil depois da separação de Portugal diferenciava-se da dos outros países latino-americanos que haviam se tornado independentes aproximadamente no mesmo período. O Brasil adotou a monarquia como regime de governo, enquanto as ex-colônias espanholas adotaram a república. Além disso, o Brasil foi o único país que, ao se tornar independente, passou a ser governado por um membro da família real de sua ex-metrópole.
Apesar do rompimento dos laços políticos e administrativos com Portugal, a situação econômica do Brasil não se alterou, ou seja, continuou dominado pelos grandes proprietários de terras. Além disso, passou a sofrer forte influência econômica do governo da Inglaterra, principal potência europeia na época.
A independência não teve o mesmo sentido para todos os que viviam no Brasil. As tensões relacionadas à escravidão aumentaram. Para muitos escravizados, a independência do Brasil representava um ideal da liberdade que queriam alcançar. Porém, a situação da maioria dos escravizados não mudou depois de ela ser proclamada. Afinal, a independência foi liderada por uma elite de proprietários de terras e comerciantes que também eram senhores de escravizados.
A independência não significou melhoria nas condições de vida da maioria da população, que era formada principalmente por escravos e mestiços. Além de escravizados e senhores, também participaram da construção do Brasil independente outros grupos sociais, como artesãos, pequenos e médios produtores rurais, pequenos e médios comerciantes.
O sistema de trabalho escravo não sofreu alterações, e a participação política restringia-se aos ricos. As lutas pelo estabelecimento de um governo republicano continuaram, o que dificultou a preservação da unidade política do império. Várias revoltas ocorreram em algumas províncias.
O Brasil alcançava sua independência apenas política; em termos econômicos e financeiros, ficaria dominado pelo capital inglês, que imporia acordos que lhe auferissem vantagens.

Hino da Independência

Dom Pedro I adorava música e tocava vários instrumentos musicais. Após a Independência do Brasil, Evaristo da Veiga fez a letra e Dom Pedro I compusera a música do Hino da Independência.

Já podeis da Pátria filhos
Ver contente a mãe gentil
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil
Já raiou a liberdade
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil

Brava gente, brasileira
Longe vá temor servil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil

Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil
Houve mão mais poderosa
Zombou deles o Brasil
Houve mão mais poderosa
Houve mão mais poderosa
Zombou deles o Brasil

Brava gente, brasileira
Longe vá temor servil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil

Não temais ímpias falanges
Que apresentam face hostil
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil
Vossos peitos, vossos braços,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil

Brava gente, brasileira
Longe vá temor servil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil

Parabéns, ó Brasileiros!
Já com garbo juvenil
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil
Do universo entre as nações
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil

Brava gente, brasileira
Longe vá temor servil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a Pátria livre
Ou morrer pelo Brasil



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