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O cangaço na Paraíba

Entre os precursores de Lampião, que infestaram os sertões da Paraíba, deve-se destacar: Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino, Cabeleira e muitos outros.
A sociedade é constituída pelos homens e para os homens. Todos devem participar de seus benefícios e de seus encargos: é o princípio da igualdade perante a lei. E é por desrespeito à lei, ligado aos problemas sociais, que surgem os maiores conflitos. A história registra a atuação de milhares de bandoleiros nos sertões do Nordeste. Poucos, entretanto, chegaram a ser famosos. O Nordeste viveu longos anos de agitação, pelas lutas sangrentas entre soldados(chamados de macacos) e cangaceiros. Ao contrário do que teve muitos cangaceiros, sobressaindo-se apenas dois: Chico Pereira e Osório Olímpio de Queiroga, coincidentemente nascidos na região de Pombal.
Como ninguém nasce cangaceiro, os dois entraram no cangaço para vingar a morte dos seus pais. O primeiro foi assassinado pela Polícia Militar do Rio Grande do Norte, no município de Acari. E o segundo, absorvido na comarca de Pombal, ingressou na PM da Paraíba, tornando-se um oficial respeitado, sensato e equilibrado, reformando-se no posto de coronel. 
Ao contrário do que muitos pensam, Manoel Batista de Morais, o Antônio Silvino, não era paraibano. Nasceu em Afogados de Ingazeiras, em Pernambuco. Viveu muitos anos na Paraíba, morrendo aos 69 anos na cidade de Campina Grande, no dia 9 de outubro de 1944, ainda certo do grande trabalho prestado à comunidade sertaneja, pois ainda ninguém conseguia convencê-lo ao contrário, como afirma o jornalista e escritor Barroso Pontes, autor de quatro livros que tratam do cangaceirismo no Nordeste. 
A história registra a entrada de Antônio Silvino na antiga vila de Pilar, em 1904. abriu a cadeia, soltou os presos e depois foi à loja do Prefeito Napoleão Alves de quem levou duzentos mil réis. Já de saída, descobriu uma barrica de moedas de Níquel e cobre. Ordenou então aos seus cabras que a levassem para fora, afim de distribuir o dinheiro com o povo. Foi um dia de festa. A crônica do Banditismo atesta que Antônio Silvino sempre se mostrou um homem muito generoso.
No verão 1914, Antônio Silvino invadiu a cidade de Mogeiro, na Paraíba. A cerca assolava terrível e levas de flagelados exibiam a sua miséria pelas estradas ressequidas. Silvino, ao apossa-se da cidade , não cometeu nenhuma violência contra pessoas físicas, mais apoderou-se dos gêneros alimentícios estocados no a depois seria preso, quando ferido em combate com a força do então major Teófanes Torres (da Polícia Militar de Pernambuco) numa fazenda do distrito de Frei Miguelino, município de Vertentes onde costumava se acoitar . De fatos como aquele, acontecido na cidade de Mogeiro recheia a história de Antônio Silvino e a sua fama ainda hoje corre pelo mundo. 
Antônio Silvino, Jesuíno Alves de Melo Calado, vulgo Jesuíno Brilhante e Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião, que tiveram atuação na Paraíba, embora este último “não tenha levado boa vida”, em virtude da perseguição do comando militar chefiado pelo coronel Manoel Benício da Silva. 
O escritor Barroso Pontes, por sua vez, informou, que Antônio Silvino foi posto em liberdade no dia 20 de fevereiro de 1937, tendo logo em seguida telegrafado ao ministro José Américo de Almeida: Solicito de Vossa Excelência um emprego federal pelos relevantes serviços que prestei ao Nordeste”. Não se sabe se o emprego foi dado, embora alguns contém que sim.
Antônio Silvino era um homem bonito e cobiçado por muitas mulheres. teve filhos com aproximadamente, quarenta mulheres, durante as suas andanças pelo sertão do Nordeste. 
A história registra que o privilégio do combate ao cangaço coube ao presidente João Pessoa. Se não conseguiu a extinção, é o responsável maior pelo início do combate, feito numa época “em que a transição política impunha novos métodos, sem menosprezar a ação dos autênticos líderes interioranos implantando costumes tanto compatíveis ao tempo, como inaceitável aos nossos dias. 
É ponto pacífico que o mais temido bando de cangaceiros era o de Lampião, com atuação nos Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas , Sergipe e Bahia. Foi também o de maior duração, com vinte anos consecutivos de atuação. 
O segundo, com 16 anos, foi o de Antônio Silvino. Conta a história que Antônio Silvino tinha uma formação diferente de Virgulino Ferreira da Silva. Ao passar por uma localidade e observando irregularidades, por culpa de administradores, chamavam os responsáveis e mandava corrigi-las. 
Como religioso, Lampião sempre foi um homem devotado e respeitador dos dogmas e normas do catolicismo. Amigo íntimo de vigários e padres, o temido cangaceiro fez histórias no Nordeste ao lado do Padre Cícero Romão Batista, vigário de juazeiro do Norte, no Ceará. O capitão Virgulino aliou-se ao padre Cícero para lutar contra a Coluna Prestes, que percorria itinerante o Nordeste, com o objetivo de enfraquecer o poder central.
Quando conheceu Maria Bonita, no sertão alagoano, ganhou de presente da bela mulher uma medalha de Nossa Senhora das Dores, que carregou consigo até a fatídica noite de 28 de julho em Angicos, quando foi emboscado e morto pela volante comandada pelo coronel José Bezerra
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi tragicamente morto no dia 27 de julho de 1938, acredita-se, ainda hoje, que o coiteiro Pedro Cândido, que o traiu tenha se vendido a polícia. Pedro Cândido teria sido encarregado de introduzir, com o auxílio de uma agulha de injeção, um veneno letal nas garrafas de vinho destinadas a Lampião e seu bando. O trabalho foi feito com arte e não provocou nenhum dano as rolhas de cortiça dos vasilhames. 
Jesuíno Brilhante, foi tido e havido como cangaceiro gentil-homem e bandoleiro romântico, morreu em 1879, em consequência  de luta renhida com a volante comandada por um soldado apelidado de Preto o Limão. O fato mais conhecido da vida de Jesuíno Brilhante foi o ataque à cadeia púbica da cidade de Pombal, a 19 de fevereiro de 1874. O bandoleiro liberou todos os prisioneiros que lá se encontravam, inclusive o seu irmão Lucas Brilhante. Dizem que respeitava as mulheres e protegia os pobres. Estes cangaceiros não invadiam somente as cidades do sertão, mas também as da região do brejo.
Jesuíno foi o maior cangaceiro do século XIX, como afirmou o historiador cearense Gustavo Barroso, em seu livro Heróis e Bandidos. Era de família abastada, conservando-se fiel às tradições sertanejas, respeitando o alheio, acatando a honra das donzelas, primando pelo comprimento da palavra empenhada, sendo por isso considerado homem de caráter e sempre exaltado pelas populações sertanejas do seu tempo. As vezes que cometeu assaltos, fê-los no sentido de ajudar alguém, já que dedicava a melhor atenção a pobreza, tudo fazendo para prestar seu apoio aos necessitados.  O imortal paraibano Assis Chateaubriand definia o fenômeno cangaceirismo como sinônimo de virilidade e coragem pessoal, pioneirismo, inovações, impetuosidades e decisões agressivas Dizem que cangaceiros autênticos, reais, o Nordeste só conheceu três: Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e Virgulino Ferreira, o Lampião. 

CANGACEIROS DA PARAÍBA 

Para destacar os principais, que entraram no cangaço, não por vocação, mas por obrigação, que a própria época exigia, destacam-se Francisco Pereira e Osório Francisco Ferreira, ainda jovem, de família conceituada, por força do destino entrou no cangaço, para vingar a morte do pai, barbaramente assassinado.
Seu pai era um homem pacato, fazendeiro honrado, que antes de morrer pronunciou as seguintes palavras: “Vingança não”. Disse diante desse pronunciamento, à família, especialmente os filhos, ficaram num dilema, porque era determinação da própria sociedade, da época, a vingança. Mas resolveram atender o pai. O filho, Chico Pereira, procurou a Polícia, registrou a queixa e insistiu com o delegado para que fosse feita a prisão do assassino do pai, tendo a autoridade policial afirmado: “Chico, a gente solta uma vaca e para achá-la, não é facil, imagine um criminoso perigoso, como este que matou teu pai”. Chico Pereira, desejando dar satisfação à família, pediu uma autorização ao delegado, por escrito. Logo depois encontrou o criminoso, dormindo. Com rara dignidade, mandou que o sujeito acordasse e o levou preso, para a Polícia. Volta para casa e a família ficou satisfeita com o episódio da prisão. Um dia depois o criminoso se encontrava em liberdade. Chico compreendeu que não havia justiça. Chico compreendeu que não havia justiça e se viu na contingência de fazê-la com as próprias mãos. 
Na mesma região de Pombal, registrou-se outro caso, Osório um garoto de poucos meses de nascido, encontrava-se numa rede quando o pai chegou baleado, quando afirmou: “Este gatinho que está na rede vai vingar minha morte”. À medida que ia crescendo, Osório ouvia de outro: a determinação do pai. Ao completar 18 anos, recorreu a justiça da época, o rifle, e matou o assassino do pai e outros que cruzaram seu caminho. Osório Olímpio de Queiroga foi realmente um cangaceiro respeitado. Depois conseguiu absolvição, na comarca de Pombal, e ingressou na Polícia Militar da Paraíba, chegando a coronel e se conduzindo sempre como um militar digno e correto.
O mesmo chegou a ser prefeito de Catolé do Rocha. O problema do cangaceirismo e coronelismo vem, segundo consta, da Guerra Brasil-Paraguai, quando foi fortalecida a guarda nacional e, entre as pessoas recrutadas, eram dadas patentes. Nos séculos passados, no entanto, a Paraíba teve inúmeros grupos de bandidos, que invadiam as cidades, saqueavam o comércio e matavam. As causas principais eram a seca e a fome. No ano de 1887, registraram-se invasões e violências. A polícia nada podia fazer para garantir a vida do cidadão e da propriedade alheia, sempre ameaçadas pelos bandidos. Os jornais da época denunciavam a insegurança nos sertões, sem que qualquer providência tivesse sido adotada para coibir o abuso. José Américo de Almeida, no Livro A Paraíba e seus problemas, relacionou inúmeros grupos de bandidos que agiam impunemente no sertão. O grupo de Jesuíno Brilhante, com atuação no século passado, foi um exemplo. Ele residiu, por alguns anos, na localidade Boa Vista, próxima a Pombal, sem qualquer diligencia da polícia para capturá-lo. Foi dessa maneira que a miséria juntou-se ao terror. Fazendeiros abastados, que poderiam resistir à crise, durante alguns meses, emigraram sem demora, temerosos de assaltos. Em maio do mesmo ano, a cadeia de Campina Grande foi arrombada e muitos indivíduos implicados ao movimento do quebra-quilos fugiram.
Dentro de mais algumas semanas, outros presidiários fugiram, entre os quais o famigerado Alexandre de Viveiros, chefe do levante de 1874. Ainda foi arrombada a cadeia de Mamanguape e, ao mesmo tempo muitos sentenciados caíram fora. José Américo de Almeida conta, também, que, desta maneira, iam-se tornando mais terríveis as correrias com a aquisição de novos profissionais do crime da Paraíba e do Ceará. Ressalte-se a fraqueza das autoridades que permitiam que fossem engrossando os grupos, como o do Calangro, evadido da cadeia do Crato e cabeça dos 60 assalariados de Inocêncio Vermelho: o de Sebastião Pelado, inimigo dos primeiros: e dos irmãos Viriatos, formado de mais de 40 bandidos: e dos Mateus, entre outros. Um desses bandos assaltou duas propriedades em Alagoa Grande.
O senhor Gustavo Barroso, por exemplo, retrata o comportamento de Viriato, um dos principais cangaceiros da época: “O Viriato foi um dos cangaceiros mais célebres, mais rasteiros e mais tortuosos do Cariri. Era um miserável estabanado nos atos, com uma infinidade de predisposições redutíveis ao roubo, ao estupro e ao assassinato. Inventava torturas para as vítimas. Gostava mais de matar às facadas do que de fuzilar, dizia que era “mais barato”. Esse bandido obrigou um fazendeiro de São João do Cariri a casar-se com a irmã de seu compassa Veríssimo. Foi assassinado, de emboscada, no lugar Riachão, o Dr. Vicente Ribeiro de Oliveira, quando voltava da Bahia para reassumir o Juizado de Direito da Comarca de Piancó. Esse crime foi atribuído aos cangaceiros.
Fonte: Capítulos de história da Paraíba - coord. José Otávio de Arruda Mello

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