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Na raiz do Quebra-Quilos

Antecedentes: desavenças entre católicos e maçons

Até 1870 na Paraíba reinava a paz por toda parte entre católicos e maçons onde o clero brasileiro contava com numerosos maçons dentre os mais ilustres da pradaria.

Porém com a realização do concílio do Vaticano que instituiu o dogma da infalibilidade papal que abriu uma luta com o liberalismo que visava a liberdade no campo da moral e o ultramontanismo que defendia com intolerância a autoridade absoluta do papa em matéria de fé. E no ano seguinte ao do concílio, Dom Vital que tinha um temperamento voluntarioso foi nomeado bispo de Olinda onde a Irmandade do Santíssimo Sacramento da igreja matriz de Santo Antônio de Recife contava com um grande número de maçons em seus seios praticando o catolicismo porém devido ao seu modo de agir o bispo de Olinda exigiu da irmandade a expulsão dos maçons para não estar disposto a tolerar semelhante mancomunação, e por não ter sido atendido acabou suspendendo irmandade e interditando a igreja. A irmandade recorreu do ato episcopal para o imperador que levou o assunto a deliberação do conselho de ministro presidido pelo Visconde do Rio Branco que deu provimento ao recurso e mandou levantar o interdito, o qual Dom Vital por estar inconformado não cumpriu o veredicto por entender que a competência para o conhecimento do caso era do poder espiritual e não do temporal e face a sua conduta acabou sendo preso em 2 de Janeiro de 1874 e conduzido ao Rio de Janeiro para responder a um processo por desobediência perante o supremo tribunal de justiça onde apesar de ser brilhantemente defendido pelos seus advogados Zacarias de Gois e Ferreira Viana acabou sendo condenado a quatro anos de trabalhos que o imperador comutou em prisão simples a ser cumprida na ilha das Cobras no Rio de Janeiro e por idêntico motivo foi preso e processado o bispo do Pará Dom Antônio de Macedo Costa.

Com a prisão dos dois bispos que eram inimigos viscerais das sociedades secretas, os padres se inflamaram de zelo apostólico e na Paraíba o Padre Calisto da Nobrega que era vigário de Campina Grande tomou a defesa dos bispos e num sentimento de desforra acabou expulsando da igreja como excomungados os católicos que eram maçons filiados à loja Segredo e Lealdade, e da tribuna da igreja insuflava o povo para que não obedecesse ao governo

E convidou o Padre Ibiapina que era um missionário de real prestígio para abrir missões em sua freguesia e após contamina-se ele começou a pregar aos devotos para que ninguém pagasse os impostos e que não comprasse nem vendesse aos maçons.

A eclosão da revolta do quebra quilos

E no exato momento em que a assembleia provincial da Paraíba pôs em execução a lei que estabelecia o sistema métrico decimal, rebentou o movimento sedicioso que ficou conhecido pela denominação de quebra quilos na feira de Fagundes no distrito de Campina Grande quando o povo se rebelou contra o imposto e espancou o subdelegado e implantou uma nova lei no lugar em Novembro de 1874 e que rapidamente se propagou por vários municípios paraibanos como foi o caso do dia 21 de Novembro quando um grupo armado composto de homens rústicos sob o comando de vários chefes que entraram na vila de Ingá que estava guarnecida por uma força policial que não ofereceu nenhuma resistência aos invasores que aos gritos de morra para os maçons e viva para os católicos.

Eles invadiram a câmara municipal e os cartórios e queimaram alguns papeis e os processos e soltaram os presos da cadeia e quebraram os pesos e medidas do sistema métrico decimal nas casas de comércio.

E neste mesmo dia diversos grupos armados invadiram e assaltaram Campina Grande, Cabaceiras, Pilar, Areia, Alagoa Grande, Alagoa Nova, Bananeiras, Guarabira, São João do Cariri e outros lugares onde se realizavam as feiras utilizando os mesmos estilo de assalto em todos os lugares onde cada grupo tinha um chefe mas que se desconhecia quem era o cabeça do movimento geral que agiram a vontade face ao inesperado do ataque contra a impotência dos destacamentos locais que teve na localidade de Areia que era a principal cidade do interior da Paraíba uma suprema humilhação de sua traição heroica quando uma banda de música saiu a tocar em honra da horda invasora que após muita ponderação desistiram do intento de arrancar do cemitério o cadáver do Doutor Araújo Barros que fora juiz da comarca, porque o corpo de um maçom não podia repousar no campo santo.

E no momento em que o governo provincial da Paraíba ao se sentir impotente para sufocar a sedição que se alastrava por todo solo paraibano e ameaçava penetrar no Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas acabou pedindo ajuda ao governo imperial que para combater a situação de perigo, enviou do Rio de Janeiro uma força de linha sob o comando do Coronel Severiano da Fonseca que chegou em fins de 1874 e que encontrou amortecido e quase acabado o movimento como se cumprida estivesse a missão do movimento, e durante o tempo que permaneceu na Paraíba a força de linha efetuou diversas prisões como pretexto de implantar a ordem, quando muitas das vezes pessoas inocentes foram castigadas para o restabelecimento da ordem. Enquanto isto o chefe de polícia Caldas Barreto percorria o interior com a missão de formar a culpa dos responsáveis pela sedição e contra o Vigário Calisto da Nobrega ele abriu um processo e o pronunciou como chefes do movimento.

Na raiz da revolta e a repressão

Tanto o ronco da Abelha (Ingá, 1852), quanto o Quebra-Quilos, que se irradiará de Fagundes, Campina Grade e Areia, para todo o Nordeste, no período compreendido entre outubro e dezembro de 1874. Inserem-se nesse quadro o mais importante que analisá-los em si mesmo, a procura de presumida causa única para sua deflagração, consiste em pesquisar o que se encontra por trás desses movimentos, formalmente associados à nova lei de Registro Civil no caso do ronco e a institucionalização do sistema métrico decimal, no tocante ao Quebra-Quilos.

As circunstancias de haverem surgidos nessas feiras, como polos de aglutinação política, social e cultural da sociedade da época, evidenciam que os revoltosos reagiam contra dois dos mais odiosos instrumentos da ordem estabelecida. “A centralização asfixiante” do Império e sua “incapacidade de promover reformas. O empobrecimento do Nordeste, a braço de uma crise, que se estendia da Bahia ao Maranhão e a que o algodão não se fazia infenso. Combalido estado das finanças públicas e poderosa carga fiscal que daí derivava. A mentalidade tacanha de presidente de província como Abiahy na Paraíba e Lucena em Pernambuco, que enxergavam na força o único remédio para insatisfações sociais da época donde “pior e mais violenta do que a atuação dos Quebra-Quilos foi a repressão das forças comandadas pelo capitão longuinho, hoje tristemente famoso pelos “coletas de couro”, tortura que se aplicou aos que lhe foram denunciados ou apontados como Quebra-Quilos. Esse oficial caracterizou-se pela utilização, contra os suspeitos, de colete de couro, instrumento de tortura que, molhado e costurado no tórax da vítima, comprimia-o, matando-o por asfixia. Posto diante desses fatos, o governo reagiu com brutalidade. Até canhões foram deslocados para o teatro dos acontecimentos.

E, enfim, o sentido irreversível das transformações em marcha que, racionalmente estruturadas pela burguesia urbana da época – e é daí que advirão o Sistema Métrico Decimal e o Código Civil, o registro civil e o de animais. Recenseamento, numeração de placas das casas e o novo recrutamento – motivarão o protesto inconsciente dos Quebra-Quilos que se encontravam à margem delas e tinham e tinham contra elas reagir porque “O Leviatã”, com suas taxas, seu impostos, sua contabilidade, sua máquina fiscal e sua organização era, na mentalidade primária de homens rudes e à margem da civilização, um mal desnecessário.

A cobrança de impostos era realmente arbitrária e um exagero, uma vez que além dos tributos cobrados pelo Imperador, existiam os impostos cobrados pela administração das províncias e os dos municípios, sem contar com o abuso dos fiscais que se aproveitavam para tirar proveito em razão de seu bolso.

Dentro desse quadro, a ferocidade da repressão aos Quebra-Quilos, é bem típica da mentalidade tacanha de certos setores da classe dominante que, ainda hoje, consideram problemas sociais como casos de polícia. Pessoas inocentes foram acusadas e condenadas à morte, líderes de um movimento sem líderes foram brutalmente assassinados.

A questão faz-se um pouco mais ampla, pois os Quebra-Quilos surgiram na parte mais sacrificada de região que constituía a periferia econômica e social do Império. Nessa os pobres eram os mais penalizados, o que explica a reação desses, por intermédio do que Armando Souto Maior considerou como lutas sociais no outono do Império.

Contra o que voltavam os Quebra-Quilos?

Institivamente, contra o avanço do capitalismo, a serviço do qual se estruturava o Sistema Métrico Decimal. Centralização do Império e incapacidade de promover reformas. Carga fiscal que sobrevinham no rastro da exaustão das finanças públicas. E, enfim, contra a maçonaria que, através de gabinetes como o do Visconde do Rio Branco, no poder de 1871 a 1875, simbolizava estrutura politico social responsável por tudo que inquietava os humildes – escravidão, recenseamento, impostos e recrutamento.


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