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A época do ouro no Brasil

Com a descoberta dos negócios açucareiros e a diminuição dos lucros na colônia americana, o rei e os comerciantes portugueses precisavam encontrar outras fontes de riqueza. A descoberta de jazidas de ouro no final do século XVII foi fundamental para o início de novas atividades lucrativas na colônia.

Com a descoberta do ouro (no atual estado de Minas Gerais) houve uma verdadeira corrida às regiões mineradoras. No início do século XVIII, aquelas áreas, que até então não eram ocupadas, viram-se tomadas por milhares de pessoas. Estima-se que no final do século XVIII eram cerca de 600 mil.
Os mantimentos para a alimentação dessa gente vinham de longe. Primeiro, do Nordeste; depois, do sul da colônia. Na região das minas pouco se plantava, pouco se colhia: procurava-se ouro. Em alguns períodos, apesar da riqueza, foi a fome que imperou.

De quem era o ouro?

A pessoa que encontrava uma mina devia logo comunicar o fato à autoridade da região. Se não o fizesse, era expulsa da colônia ou, às vezes, condenada à morte.
A autoridade local era responsável pela divisão da mina em várias partes, chamadas datas: aquele que a tinha encontrado escolhia sua data antes dos outros; em segundo lugar, o governo escolhia a sua; as outras eram leiloadas entre os interessados. A preferência era por quem tinha mais escravos.
Apesar do rigor da fiscalização, muitos mineradores e comerciantes escondiam e contrabandeavam o ouro. Para reprimir o contrabando, o governo português criou as chamadas casas de fundição. Todo o ouro encontrado devia ser entregue nessas repartições, onde era derretido, transformado em barras com a marca do rei e devolvido ao dono, já com a parte do rei subtraída. Se alguém fosse encontrado com o ouro sem o selo real era severamente punido: perdia todos os bens e podia ser exilado em colônia portuguesas da África.
O imposto sobre a atividade mineradora variou muito ao longo do tempo. O mais freqüente foi o quinto: o governo português ficava com a quinta parte de todo o ouro encontrado, isto é, de cada 100 quilos de ouro que fosse retirados das minas, 20 quilos eram do rei.
Por causa da exploração intensa e do esgotamento das jazidas, a quantidade de ouro extraída foi aos poucos diminuindo. Assim, diminuiu também a quantidade de ouro que cabia ao governo. As autoridades portuguesas determinaram então que o total do quinto não devia ser inferior a 100 arrobas (1500 quilos) por ano. Quando não chegasse a isso, os guardas do rei podiam invadir casas para confiscar bens até totalizar os 1500 quilos estipulados. Era a derrama, que estimulou revoltas contra o governo português.

O processo de trabalho na mineração

Na região mineradora havia vários tipos de minas. As maiores e com mais ouro eram exploradas pelos grandes mineradores, que tinham a seu serviço numerosos trabalhadores, a maior parte escravos. Às vezes, possuíam equipamentos mais aperfeiçoados para lavar o ouro, conduzir a água, etc. Também represavam ou desviavam a água dos rios. Tais minas eram chamadas lavras.
As lavras quase esgotadas, depois de exploradas pelos grandes mineradores, e as minas menores, que tinham pouco ouro, ficavam para os faiscadores. Esse nome veio do fato de, no leito dos rios, a areia e as pedras contendo ouro faiscarem, isto é, brilharem ao sol. Os faiscadores trabalhavam quase sempre individualmente, com poucos recursos e instrumentos simples. Procuravam ouro onde havia menos gente e eram geralmente mineiros livres que trabalhavam por conta própria.
Mas havia também donos de escravos que lhes permitiam trabalhar como faiscadores, desde que entregassem uma quantia fixa de ouro ao senhor, ficando com o restante. Se achassem pouco ouro sofriam castigos; se achassem muito, podiam ter a chance de comprar a própria liberdade. No entanto, a atividade mineradora para os escravos era extremamente árdua. O tempo de vida nas minas era muito curto e a compra de alforria por parte dos escravos, embora possível, não era fácil.
O trabalho do faiscador consistia em recolher a areia do rio ou a terra da mina. O material era colocado na bateia (uma vasilha de madeira) onde era lavado. A areia e a terra, mais leves, eram jogadas fora, enquanto o ouro que é mais pesado, ficava no fundo da bateia, sendo recolhido pelo garimpeiro.

A exploração dos diamantes

Se o governo português fiscalizava com rigor a exploração do ouro, na área dos diamantes o controle foi ainda mais intenso.
As pedras preciosas foram encontradas num lugar ao norte das vilas de ouro mineiras. No início, os mineradores não sabiam que se tratava de diamantes e os usavam como fichas nos jogos de cartas. Quando as pedras foram levadas a Portugal para análise, a Coroa imediatamente ordenou que fossem cobrados na região diamantina os mesmos tributos da extração do ouro.
Por volta de 1734, para combater o contrabando, o governo português demarcou cuidadosamente a área dos diamantes, isolando-a do restante da colônia, e no local formou-se o Distrito Diamantino. O direito exclusivo de explorar as pedras foi cedido a determinadas pessoas, mediante pagamento de um tributo à Coroa.
O contrato com os exploradores durou cerca de 35 anos. Depois disso, a extração dos diamantes passou a ser feita diretamente pela Fazenda Real, um órgão do governo.

Consequências da exploração do ouro

A descoberta do ouro trouxe muitas mudanças para a colônia. Entre elas, destacam-se:
· O eixo da economia deslocou-se do Nordeste para o Sudeste;
· O comércio entre diferentes regiões da colônia se intensificou;
· Nas regiões de mineração, surgiram núcleos urbanos e novos estilos de vida.
Na parte administrativa, o governo português tomou várias medidas para resolver os conflitos surgidos na área da mineração,, assim como para aumentar o controle e a eficiência na cobrança dos impostos. As principais medidas foram:
· Criação da Intendência das Minas, para controlar a exploração do ouro;
· Criação de novas capitanias, como a de São Paulo (1709), a de Minas Gerais (1720), a de Goiás (1744) e a de Mato Grosso (1748), situadas na região do ouro;
· Elevação do Estado do Brasil à categoria de vice-reino (1762);
· Transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro (1763), para que a sede ficasse mais próxima da área das minas.

Transformações sociais

O ciclo da mineração também desenvolveu a vida urbana, pois surgiram cidades, onde se estabeleceram artesãos, comerciantes, pequenos proprietários, intelectuais, padres e funcionários públicos, caracterizando uma camada social intermediária. A riqueza, assim, não ficou concentrada num único grupo social, como acontecera durante a economia canavieira, quando a sociedade era composta basicamente por senhores e escravos. Na economia mineradora, além dos grandes mineradores e escravos, ganhou importância uma nova classe – a classe média, composta por uma população livre e produtiva, que contribuiu para o aumento de riquezas.

Transformações culturais

No século XVIII, como vimos, a colônia portuguesa começava a desenvolver seus centros urbanos. Os filhos de alguns colonos, os mais ricos, passariam então a estudar na Europa, principalmente na Universidade de Coimbra, em Portugal. Voltando à colônia, esses jovens passaram a fazer reuniões nas quais discutiam suas idéias e mostravam uns para os outros textos e poemas que escreviam. Assim, fomentava-se na colônia a produção cultural.
A região das Minas Gerais era o lugar onde melhor se observava o novo dinamismo colonial. Dentre a nova intelectualidade que então se formava, podemos destacar os nomes de Cláudio Manuel da Costa, Basílio da Gama, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga. Tomás Antônio Gonzaga foi o autor do poema amoroso mais famoso escrito no século XVIII no Brasil. Esses jovens intelectuais foram importantes porque, além de terem escrito muitas obras, estavam preocupados com a situação social e política do Brasil. O desenvolvimento da produção cultural na colônia estaria intimamente relacionado com os movimentos de emancipação política, decorrentes em grande parte da complexidade econômica e social que a colônia então assumia.
A riqueza gerada pelo ouro possibilitou na região das minas muito mais do que a formação de um grupo de intelectuais. Extremamente religiosa, a sociedade mineradora produziu um importante conjunto arquitetônico, do qual se destacam as igrejas. Em estilo barroco, muitas delas eram decoradas em ouro.
O nome de maior destaque nesse período foi o de Antônio Francisco Lisboa – o Aleijadinho. Escultor e arquiteto, ele nasceu em Vila Rica (hoje Ouro Preto, MG), em 1730 ou 1738, não se sabe ao certo. Aí viveu até 1814, ano de sua morte. Filho do mestre-de-obras português Manoel Francisco Lisboa e de sua escrava, Isabel, Aleijadinho conviveu com o preconceito racial, comum na sociedade colonial. Em 1777, desenvolveu a hanseníase, doença que deformou o seu corpo. Apesar do preconceito e da doença, tornou-se reconhecido na região das minas como artista de grande talento, sendo requisitado para a realização de planos de igrejas, altares, talhas, esculturas, etc.
Aleijadinho passou sua vida na agitada Vila Rica do século XVIII, no auge do período da mineração. Uma única vez foi ao Rio de Janeiro, onde entrou em contato com as tradições do Barroco e do Rococó. Incorporou então características desses estilos, como a assimetria, o movimento continuo obtido por meio de efeitos de luz, a dramaticidade, o apelo emocional. Dentre seus trabalhos, podemos mencionar: igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto; igreja de São Francisco, em São João Del Rei; conjunto de esculturas de Congonhas do Campo (passos da paixão); conjunto de esculturas dos doze Profetas, no adro do santuário de Bom Jesus de Matosinhos.

As condições de vida na região das minas

A fome, a doença e a morte faziam parte do dia-a-dia dos trabalhadores. O problema da escassez de alimentos era tão grave que chegou, muitas vezes, a atingir até mesmo os grandes proprietários de minas.

Para onde foi o ouro brasileiro?

A maior parte do ouro explorado na colônia foi para a Inglaterra, como pagamento dos produtos manufaturados (tecidos, calçados, ferramentas, louça, etc.) que os portugueses compravam dos ingleses. Com uma economia pouco voltada para a atividade industrial, Portugal importava grande parte dos produtos manufaturados que consumia. Dessa forma, o ouro da colônia passou a fazer parte do capital utilizado pela Inglaterra para se tornar o país de maior produção manufatureira da época.


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